Levantei mais cedo que o de costume. Na sala, surpreendi-me ao ver Erik já sentado numa das poltronas, pensativo e preocupado.
- Bom dia! O que houve? Má noite de sono? – perguntei.
- Bom dia, Paul. Para dizer a verdade, ainda não consegui dormir.
- Como assim? O que aconteceu?
Por um momento, durante o relato de Erik, pensei se ainda não estaria dormindo e tendo um pesadelo. Custava a crer que tudo aquilo houvesse acontecido. Meu assombro foi maior quando ele contou do envolvimento da senhora Emma e pude ler a sua carta.
- Que história! É inacreditável! Você devia ter me avisado do bilhete. Eu poderia tê-lo ajudado. Você poderia estar morto a estas horas e ninguém saberia. O miserável podia conseguir o seu intento.
- Ontem, por um momento, pensei que não fosse vê-los nunca mais. Foi quando Emma me salvou. Preciso saber o que aconteceu a ela depois que saí de lá. Talvez ela esteja precisando de ajuda. Aquele tiro disparado... Os jornais certamente não darão notícia alguma a respeito, pelo menos hoje. Ainda é cedo.
- Talvez se eu fosse até a polícia notificar o desaparecimento de nossa governanta? Certamente eles informariam alguma coisa.
- Não, Paul. Eles vão achar muito estranha a sua preocupação só porque a governanta faltou um dia. De qualquer forma, acho que logo irão bater a nossa porta ao descobrir que ela trabalhava aqui. Não...
- E, se eu for até Whitechapel , como quem não quer nada. Próximo ao endereço da tal Polly já devem estar comentando o que aconteceu. Se alguém perguntar o que estou fazendo lá, posso dizer que fui comprar algumas ferramentas para a nossa oficina. Um de nossos fornecedores mora lá, lembra? O senhor Nichols?
- É. Quem sabe você tem razão. Eu posso ir também.
- Acho melhor não.
- O que os meus dois cavalheiros estão cochichando aí na sala?
Levei um susto ao ouvir a voz de Catherine. Ainda não decidira se era o momento de contar-lhe sobre aquela tragédia toda. Olhei para Erik, sem saber o que fazer. Ele acabou por decidir.
- Bom dia, querida. Estávamos definindo quem faria o café da manhã, já que a nossa governanta não está em casa.
- Como assim? Será que ela saiu para fazer compras e esqueceu o café? Ela não está no quarto?
- Já verificamos. A cama nem está desfeita.
A sineta da porta da frente tocou naquele instante. Prontifiquei-me a atender.
Deparei-me com uma rapariga magra e alta, de nariz adunco, cabelos ruivos e um sotaque irlandês ao falar:
- Bom dia, senhor. Meu nome é Mary Ann Shell e vim a pedido da senhora Emma Chapman para substituí-la temporariamente. Tenho experiência no trabalho doméstico e trago referencias. Erik e eu nos entreolhamos. Realmente Emma tinha planejado tudo para não sentirmos a sua falta.
- Bom dia, Mary Ann. Por favor, entre. Paul ... – chamado por Cathy, dei-me conta que estava obstruindo a passagem para a entrada da moça.
- A senhorita sabe o que aconteceu com a senhora Emma e o que significa exatamente este “temporário” a que se referiu? – perguntou Catherine, preocupada.
- Não, senhora. Ela me procurou ontem à tarde e pediu-me para oferecer meus serviços até ela voltar, mas não falou nada sobre o motivo ou por quanto tempo seria. Nós nos conhecemos quando trabalhávamos na casa da baronesa de York. Reencontramos-nos a cerca de um mês. Ela estava tentando me ajudar a conseguir um emprego.
- Está bem, Mary Ann. Venha comigo. Vamos conversar sobre o seu trabalho “temporário”. Vou mostrar-lhe a área de serviço e seus aposentos. Por aqui, por favor.
Catherine e Mary Ann desapareceram ao atravessarem a porta da cozinha.
- Que eficiência, não? Ela parece que previa não poder voltar tão cedo.
- Pobre Emma.
- Erik, que tal tomarmos café na cafeteria próxima à joalheria. Depois eu sigo para Whitechapel e você me aguarda na loja, entretendo a Catherine até a minha volta. Teremos que contar tudo a ela, mas será melhor que eu tenha mais esclarecimentos do que aconteceu. O que acha?
- Combinado. Vou avisar Cathy e já volto.
O movimento nas proximidades da rua Durward, 55 parecia normal. Ao chegar mais perto, percebi alguns bisbilhoteiros tentando olhar para dentro da casa, através das janelas. Como qualquer fuçador, aproximei-me e perguntei a um homem careca e mal vestido o que havia acontecido.
- A “mocinha” que morava aí foi assassinada pelo amante. Parece que a polícia chegou a tempo de evitar que ele matasse uma outra mulher que viu o crime – ele falava sem me olhar, com os olhinhos miúdos e curiosos a tentar ver algo mais do que já sabia.
- E o amante? – perguntei, quase cochichando.
- A polícia matou. Os mortos ainda estão lá dentro esperando para serem levados.
Então achei ter encontrado a explicação do por que da curiosidade. Apesar de a morte ser algo muito próximo no dia a dia daquelas pessoas, ainda assim exercia uma fascinação mórbida sobre elas. Pareciam pensar: “Desta vez, escapei...”.
- Sabe o que houve com a mulher salva?
- Acho que a polícia levou.
Como ele continuasse com o olhar perdido além das vidraças da janela, segui meu caminho, em passo acelerado, para afastar-me logo dali. Já conseguira todas as informações que queria. O importante é que Emma não havia sido morta.
Assim que foi possível encontrar um coche liberado, voltei para o nosso bairro, com grande alívio, por sair daquelas ruas insalubres e mal freqüentadas.
Catherine estava apresentando nossos mostruários de broches de filigranas de ouro para um cliente, quando cheguei. Cumprimentei-os e fui direto para a oficina, ao encontro de Erik, que certamente estaria aflito aguardando minhas notícias.
- E então, Paul? O que conseguiu?
- Parece que o tiro que você ouviu foi dado pela polícia e acabou matando o nosso amigo. Emma foi levada. Certamente para esclarecimentos. Ela deve aparecer assim que puder.
- Então, só nos resta esperar - a voz de Erik parecia aliviada.
- Esperar o quê?
- O cliente já foi? – perguntei, meio sobressaltado com a interjeição inesperada de Cathy.
- Já! Esperar o quê? O que vocês estão me escondendo? Desde hoje pela manhã estão de segredos e cochichos. O que está havendo? Podem começar a contar.
- Acho melhor você sentar-se. Não é uma história muito agradável – falou Erik, enquanto deslocava uma cadeira para que ela pudesse acomodar-se melhor e ouvir o nosso relato.
Ao terminar, Catherine parecia em choque.
- Eu não estou me sentindo bem. É inacreditável. Nós estávamos em contato com um assassino perigoso e nem sabíamos.
Notei que Erik pareceu desconfortável com aquela declaração de Catherine. Eu desconfiava que ele tivesse eliminado alguém na França, mas não tinha certeza. De qualquer forma, certamente ele teria tido os seus motivos. Podia imaginar o seu medo de perder Cathy, principalmente ao ouvi-la falar daquela maneira.
- Quer que eu a leve para casa? – perguntou ele, visivelmente preocupado com a reação dela.
- Não, Erik. Pode deixar. Vou sozinha. Acho que vou caminhar um pouco. Encontro vocês na hora do almoço.
- Tem certeza?
- Claro, meu amor. Não se preocupe - disse isso e levou a mão para acariciar o rosto dele.
- Nos vemos no almoço, então – falou, retribuindo com um beijo na mão carinhosa.
Ela arrumou-se e saiu logo em seguida.
- Paul, precisamos conversar.
- Sim?
- Quero pedir a mão de Catherine. O anel já está pronto?
- Acho que mais um dia e acabo. Porque a pressa?
- Depois da noite de ontem, quando pensei que não ia vê-la nunca mais, decidi definir a nossa situação o mais rápido possível.
- Ótimo! Como hoje é sábado e não atendemos à tarde, vou fazer hora extra e terminar o seu anel de noivado. Poderemos comemorar amanhã. O que acha?
- Muito bom – apesar do sorriso nos lábios, notei certa insegurança em sua voz.
Aliás, não via a hora de terminar aquele bendito anel. O desenho de Erik era muito peculiar e ficaria muito bonito feito em ouro e inúmeros brilhantes. Ele gastara uma pequena fortuna só com o material de confecção. Representava o símbolo do infinito, o “oito deitado”. Eu nunca tinha ouvido falar em tal simbologia, mas achei muito interessante pelo significado que a jóia teria. O corpo do “oito” seria formado por cinco hastes de ouro, com pouco mais de 1,0 milímetro cada, uma ao lado da outra, e pequenos brilhantes incrustados ao longo destas. Tudo isto soldado a aliança de ouro com três milímetros de espessura, de forma que, quando colocada no dedo da dama, o símbolo permaneceria deitado, transversalmente as falanges. Daria um efeito lindo na mão de qualquer mulher. Neste caso, na de minha irmã. Ele me fez prometer que não faria nenhum outro igual a este, o que era uma pena, pois se os cavalheiros mais abastados soubessem da simbologia inerente à aliança, nenhuma noiva ou amante deixaria de ganhar uma igual. Mas, tinha dado a minha palavra. Talvez daqui a alguns anos ele mudasse de idéia.
Não tínhamos muitos amigos com quem compartilhar aquele momento tão especial, por isso o noivado de Erik e Catherine resumiu-se a uma comemoração a três. Conseguimos manter tudo em segredo, até o momento em que Erik pediu a palavra, após o jantar, quando estávamos na sala, com a futura noiva a preparar-se para sentar ao piano.
- Querida, antes de começar a tocar para nós, tenho um pedido importante a fazer a Paul.
- O que seria este pedido, meu caro? – perguntei, simulando surpresa.
- Desde que vim para este país, tive a sorte de conhecer duas pessoas excepcionais. A primeira
foi Paul, que demonstrou ser, desde o início de nossa amizade, um homem de caráter, honrado de grande coração e que tem sido o irmão que nunca tive. Mais tarde, veio Catherine, que me deixou, a princípio, exasperado, por sua aparição inesperada – disse isto com um sorriso jocoso – e, mais tarde, enfeitiçado por sua beleza e vivacidade, às quais não resisti e acabei me apaixonando.
Foi na direção de Catherine, que já estava com os olhos marejados, pegou-lhe a mão e a beijou. Só então falou, dirigindo um olhar intenso e carinhoso para ela:
- Paul, tenho a honra de pedir a sua irmã, Catherine, em casamento.
- Erik, ter você como amigo e sócio tem sido uma grande honra. Agora, tê-lo como cunhado e irmão é a realização de um desejo há muito idealizado. O seu pedido está mais que aceito.
- Catherine, com este anel quero, não só materializar o meu pedido, mas demonstrar a extensão de meu amor por você.
Com estas palavras e um olhar probo e apaixonado direcionado a sua noiva, colocou a aliança em sua mão direita. Ela já não conseguia represar as lágrimas, que passaram a correr calmamente em seu rosto.
- Erik, ela é linda... Foi você que desenhou?
- Esta forma representa o infinito na matemática. Nas suas mãos, representará o quanto eu a amo.
- Ah, meu amor, te adoro!
- Pode beijar a noiva. Faz de conta que não estou aqui. Aliás, vou buscar a champagne que adquiri especialmente para esta ocasião.
Aquela foi uma noite inesquecível para todos nós. O casamento ficou combinado para o final do ano, o que seria em dois meses.
- Bom dia! O que houve? Má noite de sono? – perguntei.
- Bom dia, Paul. Para dizer a verdade, ainda não consegui dormir.
- Como assim? O que aconteceu?
Por um momento, durante o relato de Erik, pensei se ainda não estaria dormindo e tendo um pesadelo. Custava a crer que tudo aquilo houvesse acontecido. Meu assombro foi maior quando ele contou do envolvimento da senhora Emma e pude ler a sua carta.
- Que história! É inacreditável! Você devia ter me avisado do bilhete. Eu poderia tê-lo ajudado. Você poderia estar morto a estas horas e ninguém saberia. O miserável podia conseguir o seu intento.
- Ontem, por um momento, pensei que não fosse vê-los nunca mais. Foi quando Emma me salvou. Preciso saber o que aconteceu a ela depois que saí de lá. Talvez ela esteja precisando de ajuda. Aquele tiro disparado... Os jornais certamente não darão notícia alguma a respeito, pelo menos hoje. Ainda é cedo.
- Talvez se eu fosse até a polícia notificar o desaparecimento de nossa governanta? Certamente eles informariam alguma coisa.
- Não, Paul. Eles vão achar muito estranha a sua preocupação só porque a governanta faltou um dia. De qualquer forma, acho que logo irão bater a nossa porta ao descobrir que ela trabalhava aqui. Não...
- E, se eu for até Whitechapel , como quem não quer nada. Próximo ao endereço da tal Polly já devem estar comentando o que aconteceu. Se alguém perguntar o que estou fazendo lá, posso dizer que fui comprar algumas ferramentas para a nossa oficina. Um de nossos fornecedores mora lá, lembra? O senhor Nichols?
- É. Quem sabe você tem razão. Eu posso ir também.
- Acho melhor não.
- O que os meus dois cavalheiros estão cochichando aí na sala?
Levei um susto ao ouvir a voz de Catherine. Ainda não decidira se era o momento de contar-lhe sobre aquela tragédia toda. Olhei para Erik, sem saber o que fazer. Ele acabou por decidir.
- Bom dia, querida. Estávamos definindo quem faria o café da manhã, já que a nossa governanta não está em casa.
- Como assim? Será que ela saiu para fazer compras e esqueceu o café? Ela não está no quarto?
- Já verificamos. A cama nem está desfeita.
A sineta da porta da frente tocou naquele instante. Prontifiquei-me a atender.
Deparei-me com uma rapariga magra e alta, de nariz adunco, cabelos ruivos e um sotaque irlandês ao falar:
- Bom dia, senhor. Meu nome é Mary Ann Shell e vim a pedido da senhora Emma Chapman para substituí-la temporariamente. Tenho experiência no trabalho doméstico e trago referencias. Erik e eu nos entreolhamos. Realmente Emma tinha planejado tudo para não sentirmos a sua falta.
- Bom dia, Mary Ann. Por favor, entre. Paul ... – chamado por Cathy, dei-me conta que estava obstruindo a passagem para a entrada da moça.
- A senhorita sabe o que aconteceu com a senhora Emma e o que significa exatamente este “temporário” a que se referiu? – perguntou Catherine, preocupada.
- Não, senhora. Ela me procurou ontem à tarde e pediu-me para oferecer meus serviços até ela voltar, mas não falou nada sobre o motivo ou por quanto tempo seria. Nós nos conhecemos quando trabalhávamos na casa da baronesa de York. Reencontramos-nos a cerca de um mês. Ela estava tentando me ajudar a conseguir um emprego.
- Está bem, Mary Ann. Venha comigo. Vamos conversar sobre o seu trabalho “temporário”. Vou mostrar-lhe a área de serviço e seus aposentos. Por aqui, por favor.
Catherine e Mary Ann desapareceram ao atravessarem a porta da cozinha.
- Que eficiência, não? Ela parece que previa não poder voltar tão cedo.
- Pobre Emma.
- Erik, que tal tomarmos café na cafeteria próxima à joalheria. Depois eu sigo para Whitechapel e você me aguarda na loja, entretendo a Catherine até a minha volta. Teremos que contar tudo a ela, mas será melhor que eu tenha mais esclarecimentos do que aconteceu. O que acha?
- Combinado. Vou avisar Cathy e já volto.
O movimento nas proximidades da rua Durward, 55 parecia normal. Ao chegar mais perto, percebi alguns bisbilhoteiros tentando olhar para dentro da casa, através das janelas. Como qualquer fuçador, aproximei-me e perguntei a um homem careca e mal vestido o que havia acontecido.
- A “mocinha” que morava aí foi assassinada pelo amante. Parece que a polícia chegou a tempo de evitar que ele matasse uma outra mulher que viu o crime – ele falava sem me olhar, com os olhinhos miúdos e curiosos a tentar ver algo mais do que já sabia.
- E o amante? – perguntei, quase cochichando.
- A polícia matou. Os mortos ainda estão lá dentro esperando para serem levados.
Então achei ter encontrado a explicação do por que da curiosidade. Apesar de a morte ser algo muito próximo no dia a dia daquelas pessoas, ainda assim exercia uma fascinação mórbida sobre elas. Pareciam pensar: “Desta vez, escapei...”.
- Sabe o que houve com a mulher salva?
- Acho que a polícia levou.
Como ele continuasse com o olhar perdido além das vidraças da janela, segui meu caminho, em passo acelerado, para afastar-me logo dali. Já conseguira todas as informações que queria. O importante é que Emma não havia sido morta.
Assim que foi possível encontrar um coche liberado, voltei para o nosso bairro, com grande alívio, por sair daquelas ruas insalubres e mal freqüentadas.
Catherine estava apresentando nossos mostruários de broches de filigranas de ouro para um cliente, quando cheguei. Cumprimentei-os e fui direto para a oficina, ao encontro de Erik, que certamente estaria aflito aguardando minhas notícias.
- E então, Paul? O que conseguiu?
- Parece que o tiro que você ouviu foi dado pela polícia e acabou matando o nosso amigo. Emma foi levada. Certamente para esclarecimentos. Ela deve aparecer assim que puder.
- Então, só nos resta esperar - a voz de Erik parecia aliviada.
- Esperar o quê?
- O cliente já foi? – perguntei, meio sobressaltado com a interjeição inesperada de Cathy.
- Já! Esperar o quê? O que vocês estão me escondendo? Desde hoje pela manhã estão de segredos e cochichos. O que está havendo? Podem começar a contar.
- Acho melhor você sentar-se. Não é uma história muito agradável – falou Erik, enquanto deslocava uma cadeira para que ela pudesse acomodar-se melhor e ouvir o nosso relato.
Ao terminar, Catherine parecia em choque.
- Eu não estou me sentindo bem. É inacreditável. Nós estávamos em contato com um assassino perigoso e nem sabíamos.
Notei que Erik pareceu desconfortável com aquela declaração de Catherine. Eu desconfiava que ele tivesse eliminado alguém na França, mas não tinha certeza. De qualquer forma, certamente ele teria tido os seus motivos. Podia imaginar o seu medo de perder Cathy, principalmente ao ouvi-la falar daquela maneira.
- Quer que eu a leve para casa? – perguntou ele, visivelmente preocupado com a reação dela.
- Não, Erik. Pode deixar. Vou sozinha. Acho que vou caminhar um pouco. Encontro vocês na hora do almoço.
- Tem certeza?
- Claro, meu amor. Não se preocupe - disse isso e levou a mão para acariciar o rosto dele.
- Nos vemos no almoço, então – falou, retribuindo com um beijo na mão carinhosa.
Ela arrumou-se e saiu logo em seguida.
- Paul, precisamos conversar.
- Sim?
- Quero pedir a mão de Catherine. O anel já está pronto?
- Acho que mais um dia e acabo. Porque a pressa?
- Depois da noite de ontem, quando pensei que não ia vê-la nunca mais, decidi definir a nossa situação o mais rápido possível.
- Ótimo! Como hoje é sábado e não atendemos à tarde, vou fazer hora extra e terminar o seu anel de noivado. Poderemos comemorar amanhã. O que acha?
- Muito bom – apesar do sorriso nos lábios, notei certa insegurança em sua voz.
Aliás, não via a hora de terminar aquele bendito anel. O desenho de Erik era muito peculiar e ficaria muito bonito feito em ouro e inúmeros brilhantes. Ele gastara uma pequena fortuna só com o material de confecção. Representava o símbolo do infinito, o “oito deitado”. Eu nunca tinha ouvido falar em tal simbologia, mas achei muito interessante pelo significado que a jóia teria. O corpo do “oito” seria formado por cinco hastes de ouro, com pouco mais de 1,0 milímetro cada, uma ao lado da outra, e pequenos brilhantes incrustados ao longo destas. Tudo isto soldado a aliança de ouro com três milímetros de espessura, de forma que, quando colocada no dedo da dama, o símbolo permaneceria deitado, transversalmente as falanges. Daria um efeito lindo na mão de qualquer mulher. Neste caso, na de minha irmã. Ele me fez prometer que não faria nenhum outro igual a este, o que era uma pena, pois se os cavalheiros mais abastados soubessem da simbologia inerente à aliança, nenhuma noiva ou amante deixaria de ganhar uma igual. Mas, tinha dado a minha palavra. Talvez daqui a alguns anos ele mudasse de idéia.
Não tínhamos muitos amigos com quem compartilhar aquele momento tão especial, por isso o noivado de Erik e Catherine resumiu-se a uma comemoração a três. Conseguimos manter tudo em segredo, até o momento em que Erik pediu a palavra, após o jantar, quando estávamos na sala, com a futura noiva a preparar-se para sentar ao piano.
- Querida, antes de começar a tocar para nós, tenho um pedido importante a fazer a Paul.
- O que seria este pedido, meu caro? – perguntei, simulando surpresa.
- Desde que vim para este país, tive a sorte de conhecer duas pessoas excepcionais. A primeira
foi Paul, que demonstrou ser, desde o início de nossa amizade, um homem de caráter, honrado de grande coração e que tem sido o irmão que nunca tive. Mais tarde, veio Catherine, que me deixou, a princípio, exasperado, por sua aparição inesperada – disse isto com um sorriso jocoso – e, mais tarde, enfeitiçado por sua beleza e vivacidade, às quais não resisti e acabei me apaixonando.
Foi na direção de Catherine, que já estava com os olhos marejados, pegou-lhe a mão e a beijou. Só então falou, dirigindo um olhar intenso e carinhoso para ela:
- Paul, tenho a honra de pedir a sua irmã, Catherine, em casamento.
- Erik, ter você como amigo e sócio tem sido uma grande honra. Agora, tê-lo como cunhado e irmão é a realização de um desejo há muito idealizado. O seu pedido está mais que aceito.
- Catherine, com este anel quero, não só materializar o meu pedido, mas demonstrar a extensão de meu amor por você.
Com estas palavras e um olhar probo e apaixonado direcionado a sua noiva, colocou a aliança em sua mão direita. Ela já não conseguia represar as lágrimas, que passaram a correr calmamente em seu rosto.
- Erik, ela é linda... Foi você que desenhou?
- Esta forma representa o infinito na matemática. Nas suas mãos, representará o quanto eu a amo.
- Ah, meu amor, te adoro!
- Pode beijar a noiva. Faz de conta que não estou aqui. Aliás, vou buscar a champagne que adquiri especialmente para esta ocasião.
Aquela foi uma noite inesquecível para todos nós. O casamento ficou combinado para o final do ano, o que seria em dois meses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!