sábado, 15 de agosto de 2009

Erik - Capítulo XV

Já havia se passado algumas semanas da abertura de nossa filial, quando Paul resolveu viajar para Dover para avaliar o andamento dos negócios em nossa matriz e o desempenho de Samuel. Até agora parecia que os negócios iam bem por lá, também. Eles mantinham correspondência semanal e os depósitos no banco continuavam sendo creditados normalmente. De qualquer forma, ele aproveitaria para levar algumas peças novas e pegar encomendas.
Neste período, um jovem de aparência nobre, apresentou-se como Sir Charles Palmer, filho do falecido Duque de Devonshire. Surgiu na joalheria, aparentemente interessado em nossa ourivesaria. Porém, seu real interesse, passou a ser Catherine. Ele passou a visitar-nos regularmente, sem nunca levar nada. Apenas conversava com ela, que começou a corresponder àquela corte. Cada retribuição em sorrisos dela, mais parecia um murro em meu peito. Lutava contra este sentimento, mas ele era mais forte que eu. Passei a vigiá-los atentamente. Precisava ter certeza de que ele não a magoaria de alguma forma.
Tão logo Paul voltou de sua viagem, o senhor Charles apareceu mais uma vez, muito cativante, apresentando-se como admirador de sua irmã e convidando-os para um baile que ocorreria dali a três dias. Como o baile era público, ele não teria como evitar o meu comparecimento. Sim. Ele já me conhecia. Todas vezes que ele visitava Catherine, eu arranjava um modo de aparecer e amedrontá-lo um pouco com minha presença. O que não era difícil. Era uma maneira de fazê-lo respeitá-la. Tinha certeza de que ela saberia defender-se de qualquer ataque canalha, mas não custava dar uma ajuda extra. Já o surpreendera uma vez tentando insinuar-se mais que o devido e, por pouco não a tocara, em busca de maior intimidade. Ao ver-me, recuara. Naquela ocasião, eu sofrera com o olhar recriminador de Catherine que, para meu infortúnio, começava a gostar da companhia do senhor Charles.
Aqueles três dias, antes do grande acontecimento, pareciam ter deixado Catherine ensandecida. Provou inúmeros vestidos até conseguir um que a satisfizesse. Após muito insistir e quase enlouquecer o irmão, conseguiu que emprestássemos um lindíssimo colar da coleção mais cara da joalheria, todo em diamantes e safiras.
No dia do baile, quando ela surgiu na sala, quase perdi o fôlego. Provavelmente ela notou, pois esboçou um sorriso orgulhoso naquele seu belo rosto, mostrando os dentes perfeitos e as covinhas graciosas nos cantos da boca.
O senhor Charles ficara de nos encontrar no palácio de eventos. Assim que chegamos ao local tentei manter-me o mais discreto possível. Sabia que já era conhecido, não mais tão temido, mas ainda considerado uma figura estranha e pouco sociável. Fiquei surpreso quando Catherine pediu-me para ser seu par na primeira dança. Tentei recusar, achando que talvez ela quisesse fazer ciúmes em seu cortejador. Comentei que não sabia dançar bem, mas, como sempre, os seus argumentos não me deixaram escolha e ela saiu vencedora. Era bom vê-la tão alegre, o que chegou a contagiar-me. Há muito não me divertia. Não daquela maneira.
- Viu, senhor Erik Bell? É só observar os dançarinos a sua volta, seguir o ritmo e ninguém perceberá que não estamos acostumados a frequentar salões de baile.
- A senhorita é muito lisonjeira. Por enquanto estou apenas cuidando para não pisar em seus pés.
- É tão bom vê-lo sorrindo. Isto é tão raro.
- Então tentarei sorrir mais vezes para agradá-la.
Não lembrava ter me sentido tão a vontade alguma vez na vida. Esta sensação de bem estar durou pouco, pois mal a dança encerrou-se, Charles surgiu a cortejar Catherine escandalosamente. Tratei de voltar a minha discrição de sempre, sem deixar de observá-los. Ela parecia muito à vontade na sua companhia. Quanto a ele, tive a impressão de que seus olhos tinham dificuldade em desviar-se do colar que adornava o lindo pescoço de Catherine. A música, a dança, a movimentação alegre das pessoas e a sedução do duque enfeitiçavam-na, afastando-a de mim. Até Paul parecia estar flutuando, buscando uma companhia feminina. Ele também se sentia só. Já não bastavam mais as companhias da irmã e de seu sócio. Ele começava a sentir a necessidade de ter uma família, com esposa e filhos. De repente, pensei que talvez estivesse chegando a hora de afastar-me deles. Ter meu próprio lugar, minha casa. Eu me acomodara naquela situação, por sentir-me finalmente levando uma vida familiar quase normal, a qual eu nunca tivera oportunidade de ter antes. Mas chegara a hora de compreender que eles não eram a minha família. Eu ainda era um intruso, querendo viver na sombra de outros.
Já passava da meia noite e o baile começava a perder sua força. Foi difícil para Paul convencer Catherine a despedir-se e sair um pouco mais cedo. Ao subir no coche, o cansaço finalmente a venceu, fazendo-a adormecer ao meu lado, repousando sua cabeça em meu ombro. Sentia aquele perfume que me inebriara na primeira vez que a vi, vindo de seus cabelos. Podia ver o arfar de seu peito e a suave curvatura de seus seios adentrando o decote do vestido. Paul logo adormeceu também, pois não estava acostumado a vida noturna. Com o balanço da carruagem, Catherine escorregou e precisei segurá-la, aconchegando-a em meus braços. Poderia ficar assim o resto da noite.
Ao chegarmos em casa, acordei Paul e encarreguei-me de levar sua irmã até o quarto, enquanto ele chamava a senhora Emma para ajudá-la a vestir-se para dormir. Carregando-a sem muito esforço, subi as escadas e coloquei-a deitada na cama, observando-a em seu sono profundo e sentindo sua doce e cálida respiração em meu rosto.
Na manhã seguinte, apesar de ser um domingo, dia de folga do trabalho, Paul acordara, tomara seu café e seguira para a loja, onde resolvera adiantar alguns trabalhos pendentes. Catherine acordou mais tarde e pediu o seu café na cama. Ao descer, perguntou por Paul.
- Ele não consegue ficar longe da joalheria. Parece o meu pai. Gostou da festa, senhor Erik? – falou com sorriso zombeteiro – Não o vi dançando com mais ninguém. Não se interessou por nenhuma jovem?
- A senhorita deveria dizer: “nenhuma jovem interessou-se pelo senhor?” – respondi, retribuindo seu sorriso.
- Porque acha que ninguém se interessaria pelo senhor?
- Quem gostaria de ser cortejada por alguém de rosto disforme, usando uma máscara para disfarçar seu infortúnio.
- Acho que alguém que pudesse ver o homem atrás da máscara. Não acredito que a aparência externa de uma pessoa justifique sua personalidade ou seu caráter.
- Mas as pessoas em geral não pensam desta maneira. É mais fácil desprezar o grotesco e considerá-lo maléfico. Já sofri muito com este preconceito. Hoje em dia já não me revolto com as expressões de horror que os outros possam lançar por minha aparência. Também sei que nem todos pensam assim. Por isso estou aqui, conseguindo viver minha vida. Não fosse por pessoas como o seu irmão, eu já estaria morto.
Este não era de meus assuntos preferidos, portanto fiz menção em levantar-me e sair.
- Se me der licença, senhorita Catherine, acho que vou atrás de Paul, para ver se não precisa de ajuda.
- Por favor, Erik. Eu gostaria que me chamasse apenas de Catherine ou Cathy, como preferir.
- Como quiser.
- Antes de sair, poderia saber sua opinião a respeito de um pedido que recebi, antes de falar com Paul?
Gelei ao pensar que tipo de pedido ela havia recebido e o porquê de querer saber minha opinião antes de Paul.
- Fico lisonjeado com tamanha confiança – tentei gracejar, sem muita convicção.
- É sobre Charles Palmer. Ele quer frequentar nossa casa. Gostaria de saber o que você acha disso?
Sentia ansiedade nas palavras e um olhar doce e suplicante de Catherine. Minha vontade era dizer que não, mas precisava liberá-la para viver sua vida. Talvez aquele fosse o homem certo para ela. Ele poderia dar-lhe tudo que precisava. Eu continuaria a observá-lo, mas não podia evitar o inevitável.
- Como seu amigo, Catherine, acho que vai ser bom para você. Já está na hora de pensar no seu futuro. Charles parece ser um bom partido. Pode contar com o meu apoio, se isto for importante.
- Amigo? Então eu não passo de uma amiga.
- Aluna? Irmã? Como você preferir. Saiba que tenho grande apreço por você. Só quero que seja feliz, Catherine.
Lágrimas pareceram brotar de seus olhos azuis brilhantes, mas logo ela respirou fundo e olhou-me com expressão magoada.
- Não sei sobre o seu passado, Erik, mas acredito que você tenha sido tão machucado em seu coração que ele transformou-se em pedra. Não é possível que você não perceba o que venho tentando lhe dizer. Toda a sua sensibilidade foi transferida para folhas de desenho, para uma mesa de trabalho e para coisas materiais?
- Não estou entendendo, Catherine – tentei disfarçar, mantendo-me impassível externamente, mas com o coração encolhendo-se no remorso por falar-lhe daquela maneira.
- Está bem, Erik. Eu não vou obrigá-lo a tomar nenhuma atitude. Talvez eu tenha me equivocado com você. Perdoe-me por esperar encontrar algo mais do que educação e amizade por trás desta máscara.
Eu não conseguia articular nenhuma palavra. Minha vontade era beijá-la e abraçá-la no momento em que vi as lágrimas correndo por sua face amada.
Ela virou-se e saiu correndo para trancar-se em seu quarto. Por sorte, Paul não estava em casa para presenciar aquela cena.
Saí para a rua, transtornado, sem destino, apenas com as últimas palavras de Catherine nos pensamentos. Tentava me convencer de que estava fazendo o melhor para ela.
Depois de muito andar, acabei por entrar em um café no centro da cidade e sentei-me num lugar mais reservado. Fui pinçado de meu desespero pelo som de vozes próximas, sendo que uma delas me era bem conhecida.
- E, então, Charlie? Como vão os negócios? Algum projeto em vista? – disse o homem, soltando uma gargalhada logo em seguida.
- Vá rindo, vá rindo. Saiba que estou em vias de finalizar uma grande jogada.
- Posso saber qual?
- Algo muito rentável e bastante agradável, eu diria.
- Ah! Então posso esperar receber o dinheiro que me deves?
- Calma, meu amigo. Creio que não deverá demorar muito. Prometo que lhe pagarei com juros e correção monetária.
- Humm... Então deve ser um negócio muito interessante. Se for, também quero participar. Não deve ser um novo “golpe do baú”, já que todas as jovens herdeiras do país conhecem a sua fama de nobre falido à procura de um belo dote.
- Nem todas, nem todas.
- Quem é a otária desta vez?
- Não quero que fale de minha futura noiva nestes termos, Ethan.
- Está bem. Então, quem é a “felizarda”?
- Uma jovem encantadora, com futuro muito promissor e extremamente agradecida a mim por salvá-la da solteirice. Digamos que ambos farão um belo negócio. Ela ganha um marido elegante, um suposto título de nobreza, e eu fico algumas milhares de libras mais rico.
- Você quer dizer menos pobre. Sim, porque você não tem uma libra em seus bolsos. Não fosse aquela pobre prostituta que lhe dá os míseros centavos que ela consegue em suas noites por aí, por estar apaixonada por você, não sei em que sarjeta estaria caído.
- Isto são meros detalhes, meu caro, que não devem ser lembrados, pois logo serão passado.
- Então, que tal um joguinho esta noite, para comemorar?
- Quem sabe amanhã, quando terei uma resposta definitiva de minha “amada” – falou sir Charles Palmer, Duque de Devonshire em meio a uma sarcástica risada.
Senti minhas têmporas latejarem e o estomago embrulhar ao ouvir aquele diálogo asqueroso. Tive de segurar-me para não me lançar sobre aquele rato de esgoto e esmurrá-lo até a morte. E pensar que eu acabara de lançar Catherine em seus braços. Tinha que reverter aquela situação imediatamente. Precisava esfriar a cabeça e pensar. Esperei que Charles e o tal de Ethan fossem embora.
Quando saí do café, estava atordoado, mas decidido a contar a Paul sobre o que acabara de ouvir. Deixaria para ele resolver a melhor saída daquela situação. Não tinha certeza se isto seria suficiente. O sujeito era da pior espécie possível.

Um comentário:

  1. LEDs, first developed in the early 1960s, produce light
    by moving electrons through a semiconductor. Consumers "going green" have already begun switching out their incandescent bulbs for
    compact fluorescents, which are miniature full-sized fluorescents.

    Just as a powerful river conists of small drops
    moving in the same direction, society can help itself along through offering these grants and incentives to
    people complacent with the familiar, inefficient incandescent bub.



    Look into my blog - LED Stehleuchten

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