- Eu já sabia de tudo isto. Charles contou-me de seu vício pelo jogo, sua falência e sua má reputação entre as famílias daqui. Ele foi muito sincero comigo. Jurou que se arrependeu de tudo e que está mudado.
- Mas, Catherine, você não o ama. Porque insistir neste relacionamento?
- O que você sabe sobre isto? Quem disse que eu não o amo?
- Cathy. Eu a conheço muito bem e sei por que está fazendo isso – Paul abrandou o tom de voz.
- O que você sabe, Paul? – não conseguia mais disfarçar minha tristeza.
- Você está apaixonada por outro homem e nós sabemos muito bem quem é ele.
Não fiquei surpresa ao ouvir aquelas palavras, mas não consegui segurar as lágrimas.
- De que me adianta este amor se ele não é correspondido?
- Você já conversou com Erik?
- Já! E ele demonstrou claramente que me considera apenas como amiga. Assim, decidi direcionar meus sentimentos para quem me quer.
- Você tem certeza disso?
- Paul, não me atormente!
- Não quero atormentá-la, minha querida, só quero que dê mais uma chance a ele. Erik já sofreu muito, pelo que sei, e tem medo de não poder fazê-la feliz. Por isso tem se esquivado. Converse com ele.
Senti minhas esperanças renovarem-se. Teria Paul conversado com Erik a meu respeito?
Neste momento, ouvimos a porta da frente abrir-se. Era ele que chegava em casa, com aspecto triste e abatido. Senti meu coração encher-se de carinho e uma vontade enorme de abraçá-lo.
Paul e eu encerramos nosso assunto.
- A isto chamamos de pontualidade britânica, Erik. Chegou na hora do jantar! – Paul falou em tom de brincadeira. Nem parecia que até a pouco estávamos falando de algo muito sério. Não sei como ele conseguia fazer isso.
- Como você havia me pedido, meu amigo.
Neste instante, a porta da sala de jantar abriu-se e a inexpressiva, porém competente, senhora Emma surgiu.
- Senhores, o jantar está servido.
Durante o jantar podia-se ouvir apenas a voz de Paul, contando seus casos divertidos, tentando animar os ânimos dos “demais” presentes, que só contribuíam com muxoxos para a conversação. Às vezes podia sentir os olhos de Erik a seguir meus mínimos movimentos, mas assim que o encarava, ele desviava rapidamente.
Encerrada a refeição, ninguém parecia disposto a conversar ou a ouvir um pouco de música.
Paul acabou por dizer que ia sair para dar uma volta e perguntou se Erik não gostaria de acompanhá-lo, ao que recebeu uma resposta negativa. Referiu que estava muito cansado e pretendia recolher-se mais cedo.
- Bem, então vou eu. Catherine, terminamos a nossa conversa depois.
- Claro.
- Então, boa noite para todos – disse, já cruzando a soleira da porta de casa.
Assim que a porta fechou-se, Erik deu-me boa noite e subiu para o seu quarto no sótão. Eu não consegui dizer nada. Continuava aflita para falar-lhe. Talvez eu devesse abrir meu coração para ele de forma mais clara. Porque ele achava que não poderia fazer-me feliz?
Fiquei um bom tempo na sala, aflita com meus pensamentos, dedilhando um pouco ao piano, criando coragem para falar com ele. Finalmente, decidi-me. Não havia porque esperar mais.
Subi as escadas que levavam aos aposentos no sótão. Nunca tinha ido até lá, apesar da curiosidade de conhecer o lugar onde ele se refugiava nos momentos de solidão. Fiquei parada diante de sua porta alguns minutos, temerosa do que estava por vir. Bati, a princípio sem muita força no punho. Como não obtivesse resposta, lancei a mão fechada com mais vontade. Ouvi movimento no interior da peça até que a porta se abriu. Lá estava ele, com sua camisa branca aberta até metade do peito, mostrando seu tórax forte e amplo, deixando-me quase sem fôlego. Oh! Como eu queria recostar minha cabeça sobre ele, escutar e pronunciar palavras de amor.
- Catherine! O que faz aqui?
- Erik. Eu... Eu gostaria de conversar com você mais uma vez. Acho que fiquei nervosa hoje pela manhã. Gostaria que me perdoasse pelas coisas que falei.
- Não há nada a perdoar, Catherine. Olhe, vou me arrumar e já desço para conversarmos na sala.
- Não! Podemos conversar aqui?
- Aqui? Acho que não fica bem uma moça solteira conversar no quarto de um homem, a sós. O que Paul ia pensar?
- Não me importa o que os outros pensam. Você me conhece. Além do mais, eu confio em você como cavalheiro, que sei que é. Posso? – disse, já fazendo menção de invadir o cômodo.
Ele me olhava intensamente, quando recuou, deixando-me entrar. Não fechou a porta, deixando-a entreaberta, respeitosamente.
- Por favor, já que é assim, entre.
Fui caminhando em passos lentos, observando todos os detalhes, tentando decifrar nas pequenas coisas os segredos daquele homem que eu tanto desejava. Não havia nada em especial. Parecia um dormitório convencional, masculino e organizado. Nenhuma revelação escondida. Comecei a falar sem encará-lo, de costas para ele, para não perder a coragem.
- Erik, vim aqui para... Quero te dizer que não o considero apenas como amigo ou irmão, como você falou hoje pela manhã. O que sinto é mais do que isso. O que preciso saber com certeza é se o que me disse hoje sobre seus sentimentos em relação a mim são apenas fraternais ou...
Achei que não estava conseguindo ser clara o suficiente, quando senti a sua aproximação atrás de mim e o calor de seu corpo muito próximo ao meu. Sua mão forte segurou meu braço, forçando-me delicadamente a virar-me de frente para ele, de forma que podia sentir a sua respiração ofegante em minha face.
- Catherine, eu a amo... Muito.
Pensei que meu peito fosse explodir de felicidade. Teria mesmo ouvido aquelas palavras?
- Ah, Erik, como eu sonhei em ouvir isso de você.
Minhas pernas tremiam e meu coração palpitava de emoção. Aproximei-me mais um pouco dele, oferecendo meus lábios para o beijo tão esperado, mas ele afastou-se bruscamente, como que fugindo de mim.
- O que houve? - perguntei surpresa com a sua reação.
- Catherine, isso não pode dar certo. Eu a amo demais para condená-la a uma vida com um homem como eu. Você não me conhece, não sabe de meu passado, que é tão desfigurado quanto meu rosto. Se você pudesse ver minha face e saber das coisas terríveis que já fiz, o seu amor deixaria de existir.
- Você acredita que eu seja tão fútil e que o meu amor seja superficial a ponto de desvanecer-se por sua aparência sem a máscara ou por saber de seus erros passados, dos quais você continua se penitenciando até hoje, castigando-o a viver solitário, sem direito a amar? Erik, meu amor, você precisa deixar estes medos de lado e olhar em frente. Olhar para mim. Dar-me uma chance de fazê-lo feliz. Esqueça tudo o mais.
Aos poucos fui reaproximando-me dele, como se tentasse acalmar um animal acuado e medroso, até conseguir enlaçar meus braços em torno de seu dorso, abraçando-o com força. Senti seu corpo relaxando e passando a envolver-me carinhosamente. Levantei minha cabeça, de forma a olhá-lo diretamente e disse:
- Por favor, me beije.
Finalmente, vi a sua aproximação, os olhos verdes, muito ternos, brilhando de desejo, olhando-me intensamente, sua boca tocando meus lábios e a sensação de sublimação ao sentir o seu gosto. O tempo deixara de existir naquele momento. O paraíso realmente existia e não era só uma balela dos crentes. Beijamos-nos muitas vezes. As palavras pareciam desnecessárias. Até, que terminamos por permanecer apenas abraçados, compartilhando o calor confortável de nosso amor.
- Erik, deixe-me ver o seu rosto sem a máscara, para afastar esse seu medo bobo de que eu vou deixar de amá-lo ao vê-lo sem ela.
- Não! Não...
- Por favor... Fique de olhos fechados se não quiser ver a minha expressão, mas deixe-me tirá-la. Esqueça o que quer que tenha acontecido no passado.
Aos poucos fui vencendo a sua resistência, aproximando minhas mãos de seu rosto, fazendo-o fechar as pálpebras e acariciando sua face. Quando o senti mais relaxado, comecei a retirar a máscara com delicadeza, até expor o seu lado direito. Ao ver o motivo de sua maior dor e humilhação, meu coração encheu-se de ternura. Ele ainda permanecia de olhos fechados, como uma criança à espera de punição. Comecei a beijar suavemente cada centímetro de suas marcas, revoltada por não ter a capacidade de removê-las com o toque de meus lábios. Talvez meu carinho pudesse cicatrizar a sua alma e fazê-lo esquecer de todas as humilhações pelas quais passou devida aquela fatalidade. .
Finalmente ele abriu os olhos.
- E então? Não desistiu de mim ainda?
- Você ainda não me conhece o suficiente para saber como eu sou teimosa? Não vai ser uma “marquinha de nascença” qualquer que vai me fazer abdicar de você.
Agora eu conseguira arrancar um sorriso de meu amado.
- Catherine, você não existe.
- Existo sim e vai ser muito difícil se livrar de mim. Pode contar com isso.
Mais uma vez nossos lábios se encontraram e o desejo começou a tomar conta de nossos corpos. Minha vontade era de entregar-me naquele momento, mas Erik, como um “gentleman”, não permitiu, afastando-me docemente.
- Precisamos falar com Paul, antes de qualquer coisa, para contar o que está acontecendo. Não acha?
- Infelizmente, você tem razão, meu amor. Acho que podemos esperar.
Ouvimos um barulho na escada. Erik correu para ver quem era e, ao desencostar a porta, deparou-se com a senhora Emma, que soltou um grito de horror ao vê-lo. Imediatamente cruzei a porta e a segurei, tentando fazê-la voltar ao normal.
- Emma, Emma! Calma! Não se assuste, por favor.
Aos poucos ela foi recuperando alguma cor ao rosto normalmente pálido.
- Perdão, senhor Erik. Perdão! Eu nunca tinha visto o senhor sem sua máscara. Sinto muito, sinto muito – estava quase chorando, mas mostrava-se, não mais amedrontada, mas compadecida por seu patrão – Eu vim até aqui para saber se ainda precisava de algo. Eu não queria incomodá-los. Longe de mim...
- Não se preocupe, senhora Emma. Fique tranquila. Não é a primeira vez que eu desperto esta reação em alguém. Por isso uso esta máscara - falando isto, recolocou seu “disfarce” mais uma vez.
- Perdoe-me por minha reação. Em nada vai mudar o apreço que tenho pelo senhor. De forma alguma.
- Obrigado, mas pode ir dormir agora. Nós não precisamos de mais nada. A senhorita Catherine também já estava se retirando para os seus aposentos. Se Paul precisar de alguma coisa quando chegar, ele mesmo pode arrumar.
- Obrigada e boa noite, senhor. Boa noite, senhorita.
- Boa noite, Emma.
Assim que ela desapareceu nas curvas da escada, me virei para Erik, mas não notei nenhuma expressão de mágoa pelo ocorrido. Apenas um sorriso. Um sorriso apaixonado.
- Você está bem?
- Surpreendentemente, sim. Em outros tempos eu ficaria totalmente alquebrado com esta reação, mas hoje, agora, levei foi um susto com o grito que ela deu. O que a vizinhança vai pensar?
- Ah, meu querido, que bom que você reagiu assim. Se quiser, posso ficar aqui mais um pouco com você.
- Nada disso. A senhorita vai recolher-se ao seu quarto agora mesmo. Amanhã teremos de estar bem dispostos para anunciar nossa decisão, de ficarmos juntos, para Paul. Além do mais, você terá de dispensar o “pobre” do senhor Charles Palmer. Esqueceu?
- Oh! É mesmo. Já tinha esquecido dele. Ele ficou de ir à loja. Assim, Paul estando presente, vai ser mais fácil, espero.
Lancei-me em seu pescoço, procurando seu beijo mais uma vez.
- Assim fica difícil de resistir a você – disse, correspondendo com paixão ao meu oferecimento. Depois disso, pegou-me pelos ombros, virando-me em direção ao corredor e empurrando-me de leve.
- Vou precisar levá-la para o segundo andar ou...
- Se quiser me acompanhar até meu quarto, eu apreciaria muito – falei, sedutoramente.
- Cathy, Cathy... Sou um cavalheiro, mas não sou de ferro. Não fique me tentando.
- Está bem, desculpe. Realmente eu não estou me comportando adequadamente. O que você vai pensar de mim?
- Não vou pensar nada. Vá dormir, meu amor.
Após um beijo depositado suavemente em minha fronte, ficou observando-me descer a escadaria, em direção ao meu quarto. Quase não sentia meus pés no chão. Restava-me aguardar ansiosamente o momento em que não precisaríamos nos separar nunca mais.
- Mas, Catherine, você não o ama. Porque insistir neste relacionamento?
- O que você sabe sobre isto? Quem disse que eu não o amo?
- Cathy. Eu a conheço muito bem e sei por que está fazendo isso – Paul abrandou o tom de voz.
- O que você sabe, Paul? – não conseguia mais disfarçar minha tristeza.
- Você está apaixonada por outro homem e nós sabemos muito bem quem é ele.
Não fiquei surpresa ao ouvir aquelas palavras, mas não consegui segurar as lágrimas.
- De que me adianta este amor se ele não é correspondido?
- Você já conversou com Erik?
- Já! E ele demonstrou claramente que me considera apenas como amiga. Assim, decidi direcionar meus sentimentos para quem me quer.
- Você tem certeza disso?
- Paul, não me atormente!
- Não quero atormentá-la, minha querida, só quero que dê mais uma chance a ele. Erik já sofreu muito, pelo que sei, e tem medo de não poder fazê-la feliz. Por isso tem se esquivado. Converse com ele.
Senti minhas esperanças renovarem-se. Teria Paul conversado com Erik a meu respeito?
Neste momento, ouvimos a porta da frente abrir-se. Era ele que chegava em casa, com aspecto triste e abatido. Senti meu coração encher-se de carinho e uma vontade enorme de abraçá-lo.
Paul e eu encerramos nosso assunto.
- A isto chamamos de pontualidade britânica, Erik. Chegou na hora do jantar! – Paul falou em tom de brincadeira. Nem parecia que até a pouco estávamos falando de algo muito sério. Não sei como ele conseguia fazer isso.
- Como você havia me pedido, meu amigo.
Neste instante, a porta da sala de jantar abriu-se e a inexpressiva, porém competente, senhora Emma surgiu.
- Senhores, o jantar está servido.
Durante o jantar podia-se ouvir apenas a voz de Paul, contando seus casos divertidos, tentando animar os ânimos dos “demais” presentes, que só contribuíam com muxoxos para a conversação. Às vezes podia sentir os olhos de Erik a seguir meus mínimos movimentos, mas assim que o encarava, ele desviava rapidamente.
Encerrada a refeição, ninguém parecia disposto a conversar ou a ouvir um pouco de música.
Paul acabou por dizer que ia sair para dar uma volta e perguntou se Erik não gostaria de acompanhá-lo, ao que recebeu uma resposta negativa. Referiu que estava muito cansado e pretendia recolher-se mais cedo.
- Bem, então vou eu. Catherine, terminamos a nossa conversa depois.
- Claro.
- Então, boa noite para todos – disse, já cruzando a soleira da porta de casa.
Assim que a porta fechou-se, Erik deu-me boa noite e subiu para o seu quarto no sótão. Eu não consegui dizer nada. Continuava aflita para falar-lhe. Talvez eu devesse abrir meu coração para ele de forma mais clara. Porque ele achava que não poderia fazer-me feliz?
Fiquei um bom tempo na sala, aflita com meus pensamentos, dedilhando um pouco ao piano, criando coragem para falar com ele. Finalmente, decidi-me. Não havia porque esperar mais.
Subi as escadas que levavam aos aposentos no sótão. Nunca tinha ido até lá, apesar da curiosidade de conhecer o lugar onde ele se refugiava nos momentos de solidão. Fiquei parada diante de sua porta alguns minutos, temerosa do que estava por vir. Bati, a princípio sem muita força no punho. Como não obtivesse resposta, lancei a mão fechada com mais vontade. Ouvi movimento no interior da peça até que a porta se abriu. Lá estava ele, com sua camisa branca aberta até metade do peito, mostrando seu tórax forte e amplo, deixando-me quase sem fôlego. Oh! Como eu queria recostar minha cabeça sobre ele, escutar e pronunciar palavras de amor.
- Catherine! O que faz aqui?
- Erik. Eu... Eu gostaria de conversar com você mais uma vez. Acho que fiquei nervosa hoje pela manhã. Gostaria que me perdoasse pelas coisas que falei.
- Não há nada a perdoar, Catherine. Olhe, vou me arrumar e já desço para conversarmos na sala.
- Não! Podemos conversar aqui?
- Aqui? Acho que não fica bem uma moça solteira conversar no quarto de um homem, a sós. O que Paul ia pensar?
- Não me importa o que os outros pensam. Você me conhece. Além do mais, eu confio em você como cavalheiro, que sei que é. Posso? – disse, já fazendo menção de invadir o cômodo.
Ele me olhava intensamente, quando recuou, deixando-me entrar. Não fechou a porta, deixando-a entreaberta, respeitosamente.
- Por favor, já que é assim, entre.
Fui caminhando em passos lentos, observando todos os detalhes, tentando decifrar nas pequenas coisas os segredos daquele homem que eu tanto desejava. Não havia nada em especial. Parecia um dormitório convencional, masculino e organizado. Nenhuma revelação escondida. Comecei a falar sem encará-lo, de costas para ele, para não perder a coragem.
- Erik, vim aqui para... Quero te dizer que não o considero apenas como amigo ou irmão, como você falou hoje pela manhã. O que sinto é mais do que isso. O que preciso saber com certeza é se o que me disse hoje sobre seus sentimentos em relação a mim são apenas fraternais ou...
Achei que não estava conseguindo ser clara o suficiente, quando senti a sua aproximação atrás de mim e o calor de seu corpo muito próximo ao meu. Sua mão forte segurou meu braço, forçando-me delicadamente a virar-me de frente para ele, de forma que podia sentir a sua respiração ofegante em minha face.
- Catherine, eu a amo... Muito.
Pensei que meu peito fosse explodir de felicidade. Teria mesmo ouvido aquelas palavras?
- Ah, Erik, como eu sonhei em ouvir isso de você.
Minhas pernas tremiam e meu coração palpitava de emoção. Aproximei-me mais um pouco dele, oferecendo meus lábios para o beijo tão esperado, mas ele afastou-se bruscamente, como que fugindo de mim.
- O que houve? - perguntei surpresa com a sua reação.
- Catherine, isso não pode dar certo. Eu a amo demais para condená-la a uma vida com um homem como eu. Você não me conhece, não sabe de meu passado, que é tão desfigurado quanto meu rosto. Se você pudesse ver minha face e saber das coisas terríveis que já fiz, o seu amor deixaria de existir.
- Você acredita que eu seja tão fútil e que o meu amor seja superficial a ponto de desvanecer-se por sua aparência sem a máscara ou por saber de seus erros passados, dos quais você continua se penitenciando até hoje, castigando-o a viver solitário, sem direito a amar? Erik, meu amor, você precisa deixar estes medos de lado e olhar em frente. Olhar para mim. Dar-me uma chance de fazê-lo feliz. Esqueça tudo o mais.
Aos poucos fui reaproximando-me dele, como se tentasse acalmar um animal acuado e medroso, até conseguir enlaçar meus braços em torno de seu dorso, abraçando-o com força. Senti seu corpo relaxando e passando a envolver-me carinhosamente. Levantei minha cabeça, de forma a olhá-lo diretamente e disse:
- Por favor, me beije.
Finalmente, vi a sua aproximação, os olhos verdes, muito ternos, brilhando de desejo, olhando-me intensamente, sua boca tocando meus lábios e a sensação de sublimação ao sentir o seu gosto. O tempo deixara de existir naquele momento. O paraíso realmente existia e não era só uma balela dos crentes. Beijamos-nos muitas vezes. As palavras pareciam desnecessárias. Até, que terminamos por permanecer apenas abraçados, compartilhando o calor confortável de nosso amor.
- Erik, deixe-me ver o seu rosto sem a máscara, para afastar esse seu medo bobo de que eu vou deixar de amá-lo ao vê-lo sem ela.
- Não! Não...
- Por favor... Fique de olhos fechados se não quiser ver a minha expressão, mas deixe-me tirá-la. Esqueça o que quer que tenha acontecido no passado.
Aos poucos fui vencendo a sua resistência, aproximando minhas mãos de seu rosto, fazendo-o fechar as pálpebras e acariciando sua face. Quando o senti mais relaxado, comecei a retirar a máscara com delicadeza, até expor o seu lado direito. Ao ver o motivo de sua maior dor e humilhação, meu coração encheu-se de ternura. Ele ainda permanecia de olhos fechados, como uma criança à espera de punição. Comecei a beijar suavemente cada centímetro de suas marcas, revoltada por não ter a capacidade de removê-las com o toque de meus lábios. Talvez meu carinho pudesse cicatrizar a sua alma e fazê-lo esquecer de todas as humilhações pelas quais passou devida aquela fatalidade. .
Finalmente ele abriu os olhos.
- E então? Não desistiu de mim ainda?
- Você ainda não me conhece o suficiente para saber como eu sou teimosa? Não vai ser uma “marquinha de nascença” qualquer que vai me fazer abdicar de você.
Agora eu conseguira arrancar um sorriso de meu amado.
- Catherine, você não existe.
- Existo sim e vai ser muito difícil se livrar de mim. Pode contar com isso.
Mais uma vez nossos lábios se encontraram e o desejo começou a tomar conta de nossos corpos. Minha vontade era de entregar-me naquele momento, mas Erik, como um “gentleman”, não permitiu, afastando-me docemente.
- Precisamos falar com Paul, antes de qualquer coisa, para contar o que está acontecendo. Não acha?
- Infelizmente, você tem razão, meu amor. Acho que podemos esperar.
Ouvimos um barulho na escada. Erik correu para ver quem era e, ao desencostar a porta, deparou-se com a senhora Emma, que soltou um grito de horror ao vê-lo. Imediatamente cruzei a porta e a segurei, tentando fazê-la voltar ao normal.
- Emma, Emma! Calma! Não se assuste, por favor.
Aos poucos ela foi recuperando alguma cor ao rosto normalmente pálido.
- Perdão, senhor Erik. Perdão! Eu nunca tinha visto o senhor sem sua máscara. Sinto muito, sinto muito – estava quase chorando, mas mostrava-se, não mais amedrontada, mas compadecida por seu patrão – Eu vim até aqui para saber se ainda precisava de algo. Eu não queria incomodá-los. Longe de mim...
- Não se preocupe, senhora Emma. Fique tranquila. Não é a primeira vez que eu desperto esta reação em alguém. Por isso uso esta máscara - falando isto, recolocou seu “disfarce” mais uma vez.
- Perdoe-me por minha reação. Em nada vai mudar o apreço que tenho pelo senhor. De forma alguma.
- Obrigado, mas pode ir dormir agora. Nós não precisamos de mais nada. A senhorita Catherine também já estava se retirando para os seus aposentos. Se Paul precisar de alguma coisa quando chegar, ele mesmo pode arrumar.
- Obrigada e boa noite, senhor. Boa noite, senhorita.
- Boa noite, Emma.
Assim que ela desapareceu nas curvas da escada, me virei para Erik, mas não notei nenhuma expressão de mágoa pelo ocorrido. Apenas um sorriso. Um sorriso apaixonado.
- Você está bem?
- Surpreendentemente, sim. Em outros tempos eu ficaria totalmente alquebrado com esta reação, mas hoje, agora, levei foi um susto com o grito que ela deu. O que a vizinhança vai pensar?
- Ah, meu querido, que bom que você reagiu assim. Se quiser, posso ficar aqui mais um pouco com você.
- Nada disso. A senhorita vai recolher-se ao seu quarto agora mesmo. Amanhã teremos de estar bem dispostos para anunciar nossa decisão, de ficarmos juntos, para Paul. Além do mais, você terá de dispensar o “pobre” do senhor Charles Palmer. Esqueceu?
- Oh! É mesmo. Já tinha esquecido dele. Ele ficou de ir à loja. Assim, Paul estando presente, vai ser mais fácil, espero.
Lancei-me em seu pescoço, procurando seu beijo mais uma vez.
- Assim fica difícil de resistir a você – disse, correspondendo com paixão ao meu oferecimento. Depois disso, pegou-me pelos ombros, virando-me em direção ao corredor e empurrando-me de leve.
- Vou precisar levá-la para o segundo andar ou...
- Se quiser me acompanhar até meu quarto, eu apreciaria muito – falei, sedutoramente.
- Cathy, Cathy... Sou um cavalheiro, mas não sou de ferro. Não fique me tentando.
- Está bem, desculpe. Realmente eu não estou me comportando adequadamente. O que você vai pensar de mim?
- Não vou pensar nada. Vá dormir, meu amor.
Após um beijo depositado suavemente em minha fronte, ficou observando-me descer a escadaria, em direção ao meu quarto. Quase não sentia meus pés no chão. Restava-me aguardar ansiosamente o momento em que não precisaríamos nos separar nunca mais.
Querida(o)s leitora(e)s
Sei que muita gente já leu este meu texto, mas se por ventura houver algum novo leitor, eu gostaria de saber sua opinião. Por isso, deixe seu comentário. Estou me sentindo muito só neste blog imenso...
Já estou escrevendo um novo texto para quando terminar a postagem do Erik. Assim, não se verão livre de mim por muito tempo... rsrsrs.
Beijos a todos!
Minha Autora favorita ñ se sinta só nesse ""blog imenso""... serve eu? rss
ResponderExcluirEntendo as leitoras q deve está prestes ou entraram súrto diante dessa continuação impecável e mereçedora do nosso eterno Érick.
Bjkas no seu coração