sábado, 25 de agosto de 2012

O Vampiro de Edimburgo - Capítulo XVIII

by Kodama e Fantin


Pensei ter ouvido um grito quando chegávamos ao prédio de Dominic. As luzes estavam acesas e, logo ao entrar, percebi que algo estava errado. Leonora ainda se encontrava sem sentidos e Nathanael a levou para o quarto.  Correu para a sala ao ouvir meu urro de dor e revolta e me encontrou de joelhos diante do que seria a metade da asa de um anjo. Uma parte da asa de Ariel, ainda com seu sangue fresco. A mutilação ocorrera há poucos minutos, mas não havia sinal dela ou de seu algoz. O desespero e a sensação de impotência logo deram lugar à raiva e à vontade de matar. A primeira vítima foi a mesa de centro, que estava  mais próxima. Vidro e madeira voaram  aos pedaços sobre o tapete da sala. O sangue gotejou de meu punho fechado. Nathanael aproximou- se para tentar me acalmar e por pouco não recebe um soco violento.
–  É exatamente isso que ele quer; que você fique puto da vida e perca a noção de tudo.
–  Ariel... O que ele fez?!! Aquele miserável! Vou achá-lo nem que tenha de ir ao Inferno.
–  Ele não pode levá- la para lá. É contra as regras milenares. Você sabe disso. Os anjos tem o direito de escolha e só podem ir para lá por vontade própria. Portanto, temos que esperar.
–  Esperar o quê? Que ele a mande em pedaços  pelo correio?
Eu sabia que a perda de parte da asa não a levaria a morte, mas podia imaginar  a dor que ela sentira e isso era enlouquecedor.
–  Kolchak vai procurá-lo. O valor do resgate de Ariel é a sua alma. Pode ter certeza que ele a manterá viva até conseguir o que procura.
–  Como pode ter tanta certeza disso que está falando?
–  Confie no que eu lhe digo.
–  Nathanael... Você está sabendo de algo mais e não quer me dizer... Está diferente...
–  Estou apenas sendo sensato.
–  Não posso ficar sentado aqui  simplesmente esperando! – exclamei raivoso.
A porta da frente se abriu levando nossos olhares em sua direção. Yesalel soltou um grito de horror quando percebeu a origem da mancha branca que chamou sua atenção aos pés de Kyle.
–  O que está acontecendo aqui? – exclamou Dominic surpreendendo-se com uma pequena explosão de  luz sobre o carpete da sala, como se um cristal acabasse de ser pulverizado.
–  Ariel... Ela foi levada. – Olhei para baixo a procura do membro mutilado, mas ele sumira.
–  Já se desvaneceu. – explicou Nathanael, lembrando que isso sempre acontecia a qualquer parte de um anjo que fosse separada de seu corpo, minutos após o ocorrido.
–  O que desvaneceu?
Kyle contou rapidamente o quadro que tinham encontrado no apartamento pouco antes dele chegar.
–  Então foi tudo uma armação para nos afastar daqui... – constatou Dominic estarrecido.
–  Como assim? – perguntei.
–  Recebi um falso chamado do Tribune. – contou Dominic. – A voz era a de Elliot, o editor, me chamando para comparecer ao jornal com urgência. Quando chegamos lá, não havia ninguém. Liguei para o Elliot, que me jurou que não havia feito ligação alguma para mim.
–  Parece que o sequestro da Leonora também fez parte do show para me atrasar na chegada aqui. – conclui.
–  Mas como eles podiam saber que você estava vindo para cá?
De repente,  me dei conta que eu não estava a caminho da casa deles.  Angus fizera um desvio... Angus?!!
O barulho de motor partindo em alta velocidade cortou minha linha de raciocínio. O motor de um  Mercedes. O meu.
–  Leonora!
Corri até o quarto onde ela deveria estar deitada. A janela que dava para a saída de incêndio estava escancarada e o ar gelado deslocava as cortinas desordenadamente.
–  Ela também foi levada! – gritou Dominic tão logo percebeu.
Nathanael desmaterializou- se instantaneamente. Saltei do terceiro andar onde estava e, caindo de pé sobre o asfalto da rua, corri com um louco, tentando alcançar Angus.  Com sorte ele a estava levando para o mesmo esconderijo onde Ariel estava.
Como Nathanael tinha sido eficiente evitando o rapto de Leonora, na primeira vez, eles se utilizaram do espião que tinham plantado no castelo de Malachy  há quase mil anos... Como eu nunca suspeitei dele? Ele estava lá o tempo todo, fingindo fidelidade, dando informações ao meu respeito àqueles desgraçados.
Ainda podia ver a traseira do Mercedes, quando um raio luminoso caiu bem a minha frente, cegando- me por alguns segundos. Não acreditei no que vi e tive que esfregar os olhos para certificar-me de que não era uma miragem ou algum outro truque de Kolchak para retardar nosso encontro.
–  O que pensa que está fazendo? – gritei furioso com o espectro que barrava minha passagem.
–  Evitando que aja como um tolo. – disse Samuel.
–  O que você tem a ver com isso? Saia da minha frente!
–  Nathanael vai velar por elas.
–  O quê? Velar por elas? Elas estão em sério perigo! Nathanael não tem como protegê-las estando sozinho.
–  As aparência enganam. ... Já devia ter aprendido essa lição durante sua longa existência aqui na Terra.
–  O que você tem a ver com tudo isso que está acontecendo? É algum tipo de complô entre os dois reinos e eu fui escolhido para bobo da corte?
–  Eu não menosprezaria tanto o seu papel... – disse ele com olhar enigmático.
–  Samuel... Este jogo de rato e gato já perdura dez séculos! Por que só agora vocês resolveram aparecer? É o final de jogo e a cavalaria se apresenta na última hora?
–  Parece que está começando a entender. – Seu rosto não transparecia qualquer sinal de escárnio.
–  Você sabe para onde eles as levaram?
–  Tenho uma boa ideia.
–  Então me diga e eu irei até lá agora.
–  Tudo a seu tempo...
–  Do que está falando, Samuel?
–  Agora falta pouco... Paciência.
Avancei contra ele, com a raiva eclodindo em meu peito. Queria pegá-lo e sacudi-lo até conseguir a explicação para a sua maldita aparição e pelas palavras  emprestadas de uma charada sem graça. Acabei com as mãos vazias e a mente atordoada. De repente, lembrei! O rastreador do carro! Corri de volta até a casa dos MacTrevor e pedi o computador de Dominic emprestado. Em poucos minutos, acessei os dados na empresa de segurança e consegui a localização do veículo. Ele havia estacionado em uma rua na parte nova da cidade, não muito longe de onde estávamos. Dominic – não consegui convencê-lo a ficar em casa com Yesalel –  e eu seguimos imediatamente para lá. Era um edifício de alto gabarito, residência de alguns conhecidos da população abastada de Edimburgo. A Mercedes estava abandonada diante do prédio, com as chaves na ignição, o que achei estranho. O porteiro tentou barrar nossa entrada, mas com o controle de sua mente consegui que ele me dissesse para onde Angus tinha levado Leonora. Subimos até a cobertura. Arrombei a porta com um chute e mergulhamos na escuridão do apartamento. Estávamos na sala principal. Da entrada era possível ver as luzes de Edimburgo através de um janelão, como o que eu possuía em meu escritório. Estava em um dos esconderijos de Kolchak. Um gemido chamou nossa atenção, vindo de um dos ambientes na parte íntima da casa. Ariel?!
Ao mesmo tempo, saímos a procura da fonte do lamento e encontramos Leonora, caída sobre uma cama, num dos quartos. Apenas uma fraca luz do abajur ao lado do leito a iluminava. Não havia outros móveis.
- Verifique se ela está ferida, enquanto eu vou dar uma olhada por aí. – ordenei a Dominic, que estava evidentemente abalado. Yesalel se mantinha ao seu lado.
Apesar da densa penumbra era possível perceber que os únicos móveis que decoravam  o lugar estavam na sala e no quarto onde Leonora havia sido deixada. Nada nem ninguém mais havia ali a não ser peças vazias.  Já perdera as esperanças de encontrar Ariel, quando uma luz repentinamente acesa chamou minha atenção.  Ela filtrava-se sob uma das portas do longo corredor. Aproximei-me com cautela e logo meus sentidos captaram a presença de Kolchak ou de alguém enviado das profundezas do Inferno. Quando levei a mão à maçaneta para entrar no cômodo, a porta se abriu sozinha e silenciosa, deixando entrever mais uma ampla e desocupada sala. Como única decoração, uma parede coberta por espelhos. A porta, atrás de mim, fechou-se com tal força que senti o chão tremer. Mais uma das brincadeiras de mau gosto de Kolchak. Ele adorava um teatro.
- E então, Elyk? Pronto para ser nosso aliado?
A voz surgiu juntamente com a imagem do miserável, a sorrir, no reflexo do espelho. Um sorriso de sátira. Tive ganas de quebrar tudo, mas precisava saber onde estava Ariel.
- Sinceramente, você ainda tem alguma esperança? – respondi forçando uma frieza que já não possuía.
- Eu sou muito perseverante... Além disso, estamos com alguém muito importante em nosso poder, que nos ajudará a resolver essa disputa de séculos.
Nesse momento,  uma nova imagem formou-se na parede espelhada. Era Ariel, com as mãos acorrentadas acima da cabeça, dentro de uma espécie de cela, com a asa direita mutilada e manchada de sangue. Enquanto me despedaçava por dentro, mantive o olhar firme e os pés presos ao chão.  Notei que ela respirava, apesar de inconsciente. A raiva, que seguiu a dor diante daquela dilacerante visão, fez meus caninos se protraírem e quase quebrei a mandíbula, tal a força com que a cerrava.
- Estou impressionado com seu controle, meu caro... Acho que não conseguiria mantê-lo  se a tivesse ouvido chorar, implorando por sua vida.
- Não adianta se esconder atrás desse espelho, Kolchak. Quando eu puser minhas mãos em você... – Não queria ouvir sua mentiras apelativas.
- Você sabe o que tem que fazer para mantê-la viva! O seu Criador o expulsou, jogou-o no limbo, para viver como um animal que precisa caçar humanas para alimentar-se de seu sangue. Você era o Seu melhor guerreiro e foi essa a sua recompensa? Pense, Elyk! Meu Mestre terá um lugar de destaque para você. O ano de 2012 será o ano de nossa vitória. Todas as previsões já feitas na Terra serão confirmadas.  Um novo mundo será criado a imagem e semelhança de meu Mestre.  Junte-se a nós e terá o poder e o reconhecimento que nunca lhe foi dado por Deus. Fora isso, como bônus, Ariel será sua, bem como quaisquer outras  fêmeas que você desejar... Leonora, por exemplo...
Ao ouvir aquele discurso, a náusea tomou conta de mim.
- Vou matar você...
- Se ainda fosse  um anjo guerreiro e possuísse sua espada celestial, talvez você conseguisse seu intento. Infelizmente, Ele tirou tudo isso de você. -  Sua risada de vitória corroeu meus ouvidos, enquanto eu via a imagem de Ariel perder-se nos estilhaços do espelho que se desintegrava na minha frente.
- Você tem até o entardecer de amanhã para tomar sua decisão e salvar sua amada Ariel.
Ditas essas palavras, a voz emudeceu  e a sala mergulhou em profunda escuridão. Senti minhas forças esvaírem-se e caí sobre meus joelhos. Fechei os punhos sobre o peito e expulsei o grito de dor, revolta e impotência que se agarrava em minha garganta. O sequestro de Leonora, a traição de Angus, Nathanael e a aparição de Samuel pedindo paciência. As palavras de Kolchak ressoavam em minha mente... Eu tinha sido expulso e abandonado. Não no limbo, mas no Inferno. Por que lutar contra algo que já era a minha realidade?
Estava preso na escuridão da sala e de meus pensamentos, quando a luz surgiu às minhas costas, trazendo respostas às minhas tortuosas dúvidas.
- Elyk, você vai vencê-lo.
Era a voz de Damian.
 
(continua...)

Bem, estamos quase chegando ao gran finale da nossa história. Puxa, dessa vez até eu fiquei com pena do Kyle... Tadinho... Acho que fomos muito duras com ele... Mas parece que ele terá uma boa ajuda nessa batalha. Vamos ver no próximo capítulo.
Mais uma vez quero agradecer o apoio das minhas queridas comentaristas, Nadja, Léia, Dioceli e da minha parceira, Aline. Quero dizer que estou ansiosa por esse final e pela alegria que acompanha o desfecho de cada romance. 
Até a próxima! Um excelente final de semana e um super beijo para todos!
 

sábado, 18 de agosto de 2012

O Vampiro de Edimburgo - Capítulo XVII

by Kodama e Fantin


Kolchak não me procurara mais. O prazo terminaria em dois dias. Sentia-me de mãos atadas, aguardando o bote final. Apesar disso, sentia-me animado e capaz de reagir a qualquer ataque daqueles demônios. Meus sentimentos por Ariel eram a causa dessa mudança. Eu não podia mais negar, que após tantos anos de solidão e crença de que jamais amaria outra pessoa, aquele anjo  apossara-se do que restava de meu coração insensível e trouxera vida onde só havia cinzas. O mais estranho era eu não sentir aquilo como uma substituição. Minha impressão, por mais loucura que pudesse parecer,  era que Cath estava de volta. Seus gestos, suas expressões, seus carinhos eram por demais semelhantes. No início, sentia-me culpado por pensar numa estando com a outra, mas com o passar das noites, decidi imaginar que, talvez, após tanto tempo, Ele havia se compadecido de mim e enviado aquele anjo para amenizar meu sofrimento.  Um anjo muito especial... Por outro lado, o medo de que Kolchak e seu mestre viessem a desconfiar dessa relação aumentava a cada dia.  Esse pensamento me torturava cada vez que Ariel não estava sob minha vista. Já não sabia mais o que pensar. Não aguentaria perder o meu amor mais uma vez.
Já era início da noite quando terminei meu trabalho no escritório e pedi a Angus que me levasse para Malachy.  Notei que ele tomara um caminho diferente do habitual e que estávamos há duas quadras do novo edifício dos MacTrevor.  Inesperadamente, vi Leonora,  ladeada por dois rapazes de boa aparência, vestidos elegantemente.  Conversavam animadamente. Ela parecia encantada com a companhia deles.  Poderiam ser colegas de turma, mas algo chamou minha atenção. Seus olhos. Talvez eu estivesse um pouco neurastênico com a história de Kolchak, mas pude perceber uma dose de maldade em suas expressões. Nathanael a estava acompanhando e não estava com cara de melhores amigos.
- Angus! Pare aqui, por favor.
- Não posso estacionar aqui, senhor.
- Não me importa. Pare! Vou descer!
Quando o carro finalmente parou, em meio a buzinas e palavras de indignação dos outros motoristas, notei os olhares dos dois jovens fixos em mim. Não havia surpresa ou temor, apenas malícia, como se eles estivessem a minha espera. Todos meus sentidos ficaram alerta e corri na sua direção. Foi quando percebi a mão de um deles mover-se sob o casaco de lã e o brilho de uma adaga surgir. Ele queria demonstrar que era uma ameaça real.  Leonora foi puxada abruptamente para uma ruela escura pelo outro. De alguma maneira eles conseguiram afastar Nathanael e correr com ela jogada sobre os ombros de um deles. Os gritos de pavor da jovem MacTrevor ecoavam em meus ouvidos. Nathanael desapareceu de meu campo de visão. Ainda podia ouvir o choro no labirinto de ruas antigas a minha frente quando uma nuvem escura surgiu e Kolchak materializou-se.
- Onde vai com tanta pressa? Alguém pegou sua queridinha?
- Suas brincadeiras já estão me irritando, Kolchak.
- As brincadeiras já estão no fim, Kyle Sinclair. Depende de você que elas não se tornem fatais. Você é o único que pode parar com isso antes que algumas vidas importantes para você  sejam ceifadas. Venha comigo e assuma o seu lugar ao lado do nosso Mestre.
- Para onde você a levou?
- Ainda não chegou a hora, mas a manteremos...
Ele não chegou a terminar sua frase, pois um clarão muito forte tomou conta do quarteirão inteiro, como se uma caixa de força tivesse explodido, assustando-o.
Atrás dele, surgindo em meio à penumbra, em pleno ar, Nathanael segurava Leonora desmaiada em seus braços.
- Parece que seu teatrinho acabou. – disse ao babaca.
A expressão de contrariedade de Kolchak era evidente, mas logo mostrou o seu sorriso de escárnio mais uma vez. Devia ser difícil  para o demônio dar o braço a torcer.
- Este foi mais um aviso. Talvez o último.
Dito isso, desapareceu.
- Como ela está? – perguntei a Nathanael.
- Não está ferida. Desmaiou antes que eu os alcançasse.
- Você liquidou os dois?
- O que você acha?
- Uma grata surpresa. No meu tempo, os guardiões não tinham tanto poder.
- Ando treinando para mudar de nível. Do modo como o mundo terreno vai,  anjos guardiões estão sendo treinados para serem guerreiros.
- Essa é a causa das queixas da Ariel?
- Em parte, sim.
- Por que não disse a ela?
- Porque não devo satisfações dos meus atos a ninguém.
- De qualquer forma, obrigado.
- Apenas cumpri o meu dever.
Pela forma como ele carregava Leonora cuidadosamente junto ao corpo, eu diria que sua atitude era mais que um simples dever, mas calei-me, agradecido pela ajuda inestimável.
Uma buzina solitária chamou minha atenção. Era Angus que me aguardava junto à calçada, dentro do carro.
- Posso lhes dar uma carona? – perguntei.
- Sem dúvida. Não seria bom assustar Dominic materializando-me dentro do  apartamento com ela nos braços.

O telefone tocou.
- Alô? – atendeu Dominic. – Como? A essa hora?... Tudo bem... Não há problema. Já estou indo.
- O que houve? – perguntou Yesalel preocupada, pois não conseguira entender o que a voz do outro lado dizia.
- Era o Elliot, meu editor. Quer que eu o encontre lá no Tribune. Parece que surgiu um problema com um dos outros jornalistas e ele precisa que eu ajude a fechar a edição matutina.
- Muito estranho...
- O quê? O Elliot? Ele é meio estranho mesmo...
- Não quis dizer isso. Estranho eu não conseguir ouvir o que ele estava falando.
- Ainda bem. Já lhe disse que você se intromete demais nas minhas coisas?
- Seu bobo!
- Acalmem-se, crianças! – disse entediada. – Eu vou com você, Dom.
- Eu também vou. – disse Yesalel.
- Por favor, meninas. Não briguem por mim. – interferiu Dominic com cara de gostoso.
- Só porque tem duas guardiãs agora está se achando. – brinquei.
- É como eu digo... É chato ser gostoso.
- Aproveite enquanto pode. Não sei por quanto tempo mais eu poderei ficar aqui. Logo devo ser indicada para outro humano.
Na mesma hora a expressão de Dominic se nublou em tristeza, enquanto Yesalel fechava os olhos, arrependida de ter feito tal comentário.
- Estou preocupado com  a Nora. Já era tempo de ter voltado de seu curso. – falou enquanto pegava seu casaco.
- Nathanael está com ela. – afirmou Yesalel.
- Ainda não sabemos ao certo se podemos confiar nele. – disse com leve desapontamento.
- Eu não tenho dúvidas. Ele jamais faria mal para Leonora.
- Como pode ter tanta certeza assim? – perguntei curiosa.
- Por que eu já o vi velando o sono dela.
- E?
- Lembrei-me de quando eu velava o sono de Dom... – respondeu olhando amorosamente para ele.
- Você não está dizendo que...? – perguntei estupefata.
- Ainda bem que a Nora não pode vê-lo. – suspirou aliviado Dominic.
- Por enquanto.
- Como assim, por enquanto? – indagou.
- Alguns membros desse clã passam a ver seus guardiões após os dezoito anos.
- Tá brincando! Só o que me faltava ter um cunhado anjo.
- Algum problema com a nossa raça? – perguntou Yesalel se fazendo de ofendida.
- Nenhum, minha santinha. – respondeu dando-lhe um beijo rápido na bochecha. – Já decidiram quem vai comigo ou vão tirar no palitinho?
- Eu fico para esperar por Leonora. Se eles não chegarem logo, irei atrás deles. – Eu também estava preocupada com a demora
- Ok, então. Até mais.
Ao vê-los saindo juntos, logo meu pensamento voejou para Kyle. Tínhamos combinado um novo encontro em Malachy. Estava imaginando se ele já estaria a caminho de casa, quando senti uma presença sinistra dentro do apartamento. Voltei-me e assustei-me ao perceber que não estava só. O homem descrito por Dominic no dia de seu acidente estava parado no meio da sala de estar  me encarando com um sorriso obsceno. Minha primeira reação foi fugir dali o mais rápido possível. Algo naquela figura me causava arrepios de pânico.
- Bela Ariel... Finalmente nos encontramos pessoalmente.
- Se é quem eu estou pensando, não tenho nenhum prazer em conhecê-lo.
- Você tem sido um obstáculo aos meus objetivos, sabia?
- Não sei sobre o que você está falando.
- Você foi enviada apenas para desviar o foco de Kyle e diminuir a força de nossa barganha. Seu Criador, como vocês o chamam, tentou nos enganar, mas só fez aumentar nossas chances de sucesso.
- O que quer dizer com isso?
- Agora não importa. E não tente se desmaterializar,  minha querida. De qualquer maneira não conseguiria... Tenho algum poder sobre essa sua capacidade. Lembra de nossa pequena demonstração lá em Calton Hill?
Eu estava a ponto de perder o controle devido ao medo intenso que me invadia. Ele começou a avançar sobre mim e eu estava paralisada, exatamente como no encontro que ele acabara de citar.
- Nós vamos dar um passeio, minha doce  Ariel.
- De nada vai adiantar  usar esse tipo de estratégia com Kyle. Ele jamais se passará para o seu lado.
- É o que veremos, além disso, pouco me importa  a sua opinião. Deixaremos uma lembrança para o seu amante que certamente tirará qualquer dúvida quanto ao lado que ele deve escolher.
Amante!? Como ele pode saber? Mal tive tempo de objetar. Ele avançou sobre mim ferozmente, desta vez mostrando a forma vampírica em que eu o conhecera um milênio atrás.  Naquele instante, a verdade ficou mais que clara do que nunca e não tive mais dúvidas sobre a minha origem.  Kolchak jogou-me no chão de bruços aproveitando-se da minha inabilidade temporária de sair da forma sólida. A dor que senti foi indescritível e meu grito foi abafado pela mão asquerosa sobre minha boca. Desmaiei ao perceber o que ele fizera.

(continua...)


Mais uma semana que se foi e mais um capítulo que nos aproxima do final dessa história de amor meio angelical e meio vampírica. Beijos muito carinhosos para as minhas comentaristas do último post, Nadja, Leia e Dioceli, que sempre fazem a minha alegria e me incentivam para a próxima postagem.
Queria deixar um beijo e um abraço especial para a minha parceira nessa história, a Aline, que, para quem não sabe, foi a criadora da Ariel e do Dominic.

Muuuuuuito obrigada a todos que continuam me visitando, lendo essas loucuras que escrevo e comprando meus livros. Amo voces!
Até a próxima postagem!




sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O Vampiro de Edimburgo - Capítulo XVI

by Kodama e Fantin


(continuação do capítulo XV...)

Enquanto isso, num luxuoso apartamento no centro da cidade...
- Então,  meu amigo, tem certeza disso que está me dizendo? – perguntou Kolchak.
- Não sou seu amigo. – respondi aborrecido.
- Ora, ora... Ainda guarda algum rancor contra sua situação?
- Não, senhor. – menti.
- Não importa. Graças à sua informação poderemos alcançar mais facilmente nosso objetivo.
- Se já não precisa mais de meus serviços, devo voltar.
- Será bem recompensado.
- Tenho certeza disso..., senhor.
- Você tem sido muito útil aos nossos objetivos.
- É só isso, senhor? – disse servilmente como ele certamente desejava.
- Pode ir. Mantenha-se alerta e use o telefone que lhe dei para avisar sobre qualquer mudança  nos planos de nosso futuro aliado, o senhor Sinclair.
A gargalhada mórbida ainda ecoava em meus ouvidos depois de eu já estar afastado quilômetros daquele maldito lugar.




Capítulo XVI


Eu caminhava através de pequenas ruelas de terra, entre cabanas simples feitas de barro e palha. Crianças corriam e brincavam, mulheres faziam suas tarefas domésticas sorriam  a minha passagem. Homens de rústicos  kilts conversavam, enquanto cuidavam da manutenção de suas armas ou das próprias residências, consertando paredes ou janelas. Era uma sensação estranha e ao mesmo tempo muito familiar. Eu conhecia realmente cada uma daquelas pessoas e me sentia em casa. Então, de repente, uma sombra negra cobriu o sol e começaram os gritos. Minha felicidade perdeu-se  entre as expressões de pavor nos rostos conhecidos. Tentei fugir, voltar para casa, procurar alguma segurança que subitamente me fora arrancada. Senti a escuridão me cercar, quando garras seguraram meus braços e prenderam meu corpo, elevando-me ao céu escuro. Apenas um nome veio a minha mente e o grito que se achava preso em minha garganta fechada pelo pânico libertou-se do espasmo:
- ELYK!!!!!!!!



- Ariel! Ariel!
Acordei banhada em suor frio, apavorada com as imagens que ainda eram vívidas diante de meus olhos. Lutava contra os braços que insistiam em me abraçar com força e agitava as pernas numa tentativa de libertar-me daquele pesadelo.
- Acorde! Acorde, Ariel! – Identifiquei a voz conhecida.
Aos poucos fui me acalmando e senti meu rosto ser direcionado até encontrar um par de olhos verdes penetrantes e perplexos. Finalmente parei de lutar e comecei a relaxar naquele abraço confortante.
- O que houve? Você está bem?
- Era tão real...
- Você chamou meu verdadeiro nome... de novo.
- O quê?
- Chamou por Elyk.
- Eu estou com medo...
- Foi apenas um pesadelo... – disse ele tentando me consolar, colando seu corpo mais fortemente ao meu.
- Pareceu mais que um simples pesadelo... Era quase como uma... horrível  lembrança.
- Lembrança? Tem a ver com o ataque que sofreu ontem?
- Não... – neguei ainda confusa com os sentimentos e sensações que começavam a aflorar em uma memória até então perdida.
Olhei mais uma vez dentro de seu olhar inquiridor e preocupado e decidi que não deveria assustá-lo com minhas incertezas.
- Talvez... – continuei, cedendo as suas suspeitas e encobrindo a angustiante verdade. – Não sei... É melhor eu ir embora.
- Tem certeza que está bem? – Ele continuava me segurando entre seus braços, sem intenção de soltar-me tão cedo. – Está escondendo alguma coisa de mim... Por que?
- Não estou escondendo nada. – desviei os olhos para os pés da cama. – Preciso ir, cuidar de Dominic, além de ficar de olho em Nathanael. Hoje vou pegar aquele safado e dar uma prensa nele.
- Agora está falando como a Ariel que eu conheço. – disse sorrindo.
- Como eu estava falando antes? – Queria bater com a cabeça na parede depois de lançar essa pergunta idiota no ar.
Notei certa tristeza cobrir sua expressão e soube imediatamente o que ele pensou. Não esperei por sua resposta, se é que ele teria coragem de falar. Não queria lhe dar a chance de pensar demais naquele assunto ou deixá-lo sentir-se culpado por estar pensando em seu antigo amor depois do que acontecera entre nós. Eu precisava esclarecer a mente e conversar  seriamente com Samuel sobre minhas suspeitas antes de falar sobre isso com... Elyk. De repente, esse nome soava muito melhor em meus ouvidos e cordas vocais do que Kyle.
- Você estava  apavorada e isso não é comum na Ariel que conheço –  Segurou meu queixo e beijou meus lábios suavemente. Ele se saíra muito bem da saia justa.
- Eu o amo... – Aquilo saiu tão naturalmente que o pegou de surpresa.
- Há tanto tempo não ouço uma declaração como essa...
- Mentiroso! Aposto que centenas de mulheres devem ter dito isso ao longo destes séculos.
Ele tornou-se sério, apesar da minha tentativa de troçar como meio de defesa.
- Nenhuma falou de maneira tão terna e verdadeira como você.
O modo como ele me olhou naquele instante me fez arrepiar. No fundo, eu ansiava ouvir a mesma declaração de sua boca, mas sabia que ele ainda se encontrava preso ao seu passado, ao seu amor e que seria pedir demais um  eu te amo também. De uma maneira ou de outra, não fiquei chateada, pois podia sentir seus sentimentos por mim, sem necessidade de palavras ditas ou escritas.
- Bem, essa é a hora em que me retiro.
Levantei-me apressadamente, sacudi aas asas e vesti meus trajes o mais rapidamente possível.
- Ariel... – Ele levantou e caminhou em minha direção, completamente nu, numa visão que me fez estremecer, reacendendo mais uma vez  meu desejo. Céus! Era atraente demais ver aqueles músculos em funcionamento só pelo simples movimento de caminhar.
- Que tal se vestir? Andar por aí desse jeito vai acabar com meu senso de responsabilidade para o resto da vida.
Ele sorriu sensualmente e me abraçou mais uma vez. Senti o corpo amolecer  e todo o bom senso desaparecer da cabeça.
- Tenha cuidado...
- Não se preocupe. Terei.
- Não quero que Kolchak perceba que existe alguém mais importante para mim e por quem eu seria capaz de ...
- Ssshhhh... – Cobri seus lábios com um beijo para calar seus medos e esconder meu sorriso de satisfação pela demonstração de carinho. – Ele não vai saber. E nós, vamos pegá-lo.
- Assim eu espero.
Resistindo a tentação que parecia não querer me largar, afastei-o de mim e me desmaterializei. Precisava encontrar Nathanael.



Nathanael
- Eu não lhe dei recado algum, Ariel. Desde quando Samuel manda recados para seus subordinados através de outros? Você foi enganada por alguém se passando por mim.
- Não é possível! Eu ouvi claramente a sua voz em minha mente dizendo que Samuel queria um encontro em Calton Hill.
- Sinto muito que isso tenha acontecido com você, mas é claro que esses demônios querem prejudicá-la e colocá-la contra mim.
- Se eles têm esse poder de fazer-se passar por um de nós, estamos perdidos.
- Talvez seja algo relacionado a você. Eu sempre a achei meio diferente mesmo. – disse Nathanael com aquele seu jeito sarcástico e peculiar de senhor sabe-tudo.
- O que está querendo dizer? Que tenho a cabeça fraca? – Ele sempre conseguia me tirar do sério. Logo agora que eu começava a acreditar que ele mudara e que poderia nos ajudar.
- Já que pergunta, acho sim. Basta ver  o que anda fazendo em suas horas de folga. – disse isso me lançando um olhar de repreensão cheio de sarcasmo, referindo-se provavelmente ao meu encontro com Kyle... Espere aí! Como ele poderia saber?
- Não sei a que está se referindo.
- Não sabe mesmo, santinha?
- Não sei e também não lhe interessa o que faço além de meu trabalho.
- Está bem. Não se fala mais nisso. – afirmou com aparente resignação.
- Você está tentando mudar de assunto. Estávamos falando de uma possível mudança de lado por sua parte e não sobre mim.
- Já disse que não fui eu quem a chamou.
- Você anda muito estranho ultimamente, Nathanael.
- Eu diria o mesmo de você, minha cara. E o motivo do seu comportamento estranho tem nome.
- E qual é o nome do seu? – Estava indignada com suas indiretas.
- Sinto que esteja pensando mal de mim... Cuidado, garota,  pois  pode  haver "outros" que saibam o que está acontecendo. Isso os colocaria em vantagem.
Nisso ele tinha toda a razão. Eles poderiam me usar contra Kyle e conseguir seu intento.

No entanto, nada articulei e dei de ombros. Apesar de tudo, não conseguia acreditar que ele fosse um traidor.
E ele se foi.




Dominic, agora empregado e com um salário fixo, decidiu alugar um apartamento maior, apesar de simples, onde pudesse alojar confortavelmente sua tríade familiar. Não precisaria dormir mais na sala e Damian teria um quarto só para ele quando viesse visitá-los. Preferia continuar com seus planos anteriores às ameaças de Kolchak e não pensar muito no assunto. Yesalel agora era presença constante na nova residência. Parecia mais segura e sem medo de reprimendas por assumir seu amor por Dominic, principalmente depois que salvara sua vida. Sentia que sua presença ali , ao lado dele, era uma espécie de reforço contra os ataques do exército de Lúcifer..
A cada dia terminado sem incidentes era um alívio para todos nós.  No entanto, passei a notar que o mundo a nossa volta parecia estar mais endiabrado que o normal. Catástrofes e acidentes inexplicáveis aconteciam com mais frequência, a violência urbana era corriqueira, como se o poder do Mal se tornasse a cada instante mais forte. 
O prazo dado por Kolchak à Kyle estava passando rapidamente. Damian viajara novamente, sem dar explicação plausível alguma, dizendo que logo estaria de volta. Procurei falar com Samuel, mas ele aparentemente não queria falar comigo. Os flashs em minha memória continuavam a acontecer, mesmo acordada, reunindo as peças de um terrível quebra-cabeça, deixando-me mais agoniada e cheia de questionamentos a cada dia. Minhas tentativas de evitar  Kyle,  por medo de deixar  transparecer minhas descobertas e atrair a atenção de quem não devia, vinham se mostrando infrutíferas e nos encontrávamos quase todas as noites.  No íntimo, sabia que além do Criador, apenas Samuel poderia confirmar minha suspeita e explicar o por quê do que estava acontecendo.


(continua...)


Boa noite, meus queridos!
Alguns devem ter notado que demorei a postar (pelo menos espero que sim...rsrsrs!). Graças a Deus e ao meu maridinho muito amado, consegui escapar por cinco dias abençoados da loucura em que anda a minha vida. Assim, isolada de tudo,com acesso a internet reduzidíssimo e sem celular, pude me dedicar a difícil e deliciosa arte do não fazer nada.... Ou quase nada, pois, obviamente, separei várias horas para o meu lazer predileto: escrever. Com isso, o nosso romance conseguiu algumas várias páginas a mais, quase chegando ao seu fim.
Hoje quero agradecer às minhas comentaristas muito amadas: a Cris, uma grande amiga, gaúcha de coração baiano e que me acompanha desde o início dessa mania de escrever; a minha parceira muito querida, Aline; a doce Carolina, do Blog Cantinho da Carolina, que tem feito um trabalho maravilhoso de divulgação do Corsário e do blog Romances ao Vento; a Dioceli, uma pessoa encantadora e futura mamãe(PARABÉNS!!!!!); e as minhas anjinhas de plantão, Léia e Nadja.
Também quero dar os parabéns para a Camila Oliveira da Silva, sorteada com o livro O Corsário Apaixonado (promoção do Cantinho da Carolina, que citei na última postagem).
Antes de encerrar, queria compartilhar com todos os leitores desse blog um fato que ocorreu nessa semana e que me deixou super feliz: a estréia do  Confusões de Um Viúvo no site da Livraria Cultura, cujo link está lá no alto da página, ao clicar a capa do livro. Quero deixar aqui o meu sincero e profundo agradecimento à APEDEditora.
Este romance agora tem página lá no Facebook (aprendi contigo, Léia ;) ).
Mais uma nota importante: A minha grande e querida amiga,  Tânia, acaba de estrear a coluna SEXTA ENVENENADA no blog As Envenenadas pela Maçã, onde ela fala sobre os seus personagens masculinos preferidos nos romances que  . Adivinhem que está na última postagem feita hoje? O Daren, de Um Amor no Deserto. Além disso, a Tânia prestou uma homenagem belíssima e emocionante aos meus romances, ao blog e a mim, tanto na sua coluna envenenada como no seu outro blog  GBTBS. Vale a pena conferir! Já me rasguei em agradecimentos e emoção e ainda acho que não foi nem nunca será suficiente. Beijos, Tânia amada!
Bem, acho que não esqueci de nada... Ah!Gostaram do Nathanael, meninas? Uma gracinha, não? :)
Desejo a todos um fim de semana danado de bom!
Beijinhos!!