sábado, 23 de abril de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo XI

Em tempo: Tem MEME no final desta postagem



Miguel começou a ficar nervoso com a reunião de Júlia e o tal Bryan. O que estariam tramando, perguntava o seu lado desconfiado, mas ao mesmo tempo pensava numa maneira de desculpar-se com a mulher que amava. Por que ele tinha que agir assim? Nos negócios sempre tinha a cabeça fria e no lugar, porém nas questões que envolviam sentimentos, uma zona em que não costumava aprofundar-se, pois tinha medo do que poderia encontrar lá, sempre perdia o controle e acabava por fugir do problema ou cometer erros como o que ocorrera agora. Não queria ser violento como o pai, mas quando perdia a cabeça ou se sentia traído, não conseguia se dominar. Júlia ia ter que entender seus motivos. Ela entenderia... Caso contrário já tomara suas providências para que ela ficasse mais tempo ao seu lado para que pudessem se entender. Só a deixaria ir embora quando estivesse tudo acertado entre eles.
Não conseguindo mais se conter, rumou para o gabinete, porém antes que alcançasse a porta, esta se abriu e o desagradável maricón saiu de lá.
- Oi! A Jú quer falar com você... Espero a sua compreensão... – disse em voz baixa, franzindo os lábios com ar de perro (cão) rejeitado.
Miguel olhou-o com visível desagrado e asco e entrou no gabinete, fechando a porta atrás de si.
- O que esse sujeito tanto conversou com você?
- Antes de mais nada, Senhor Miguel Vasquez, estou esperando por um pedido de desculpas pela maneira com que me tratou. Meu rosto ainda dói e meu braço provavelmente vai apresentar um brutal hematoma no lugar onde o apertou – Não saberia dizer de onde tirara a coragem para enfrentá-lo, pois o medo daquele subitamente estranho e suas ações ainda a apavoravam. Mesmo assim conseguiu interpelá-lo com a cabeça altiva e a voz firme. Talvez saber que Bryan estava próximo contribuía para essa audácia.
- Carinho, - olhou com ternura e arrependimento – me perdoe, mas ponha-se no meu lugar e como agiria se soubesse que estava sendo traída...
- O problema, para começar, é o fato de ter colocado alguém para me seguir, caso contrário não teria como saber o que aconteceu. Ter feito isso prova que nunca confiou em mim – queixou-se.
- Está bem. Tem razão, mas não o coloquei para vigiá-la e sim para cuidar de você. – Mentiu com voz aveludada, lembrando da triste figura do detetive que contratara e que não tinha nem de longe o perfil de um guarda-costas – Tinha medo que alguém pudesse sequestra-la por ser minha namorada. Por que acha que esta casa é tão vigiada? – Ela não poderia resistir a esses argumentos, pensou. Era sua chance de limpar sua imagem.
- Nunca fui tão humilhada por alguém como fui por você hoje, Miguel. – afirmou com profunda mágoa – Acho que os oito meses que se passaram não foram suficientes para conhecê-lo. E eu achei que o conhecia. Estou muito decepcionada... – pensou no que Bryan lhe contara a respeito de Miguel ser suspeito de contrabando e dele ter sido designado a investigar essa suspeita. Tornou a ficar com medo. Custava a acreditar que pudesse ter se enganado tanto com o homem a sua frente. Apesar de o investigador ter surgido há menos tempo em sua vida, de maneira inexplicável, sentia que podia confiar mais nele que em Miguel.
- Júlia... Sinto muito. O que posso fazer para provar que a amo? Já lhe pedi perdão.
- Para começar, tenho um pedido a lhe fazer – Encontrou a força e a ocasião para fazer o que tinha combinado com Bryan.
- O que quiser, carinho...
Como ele consegue ser tão doce, como se nada tivesse acontecido? Quem é realmente essa pessoa que espanca e depois passa a ser o mais terno e apaixonado dos homens? perguntou-se Julia antes de responder.
- É sobre aquele pobre coitado que saiu daqui agora... – Tinha que ser convincente e manter a ilusão de que Bryan não oferecia nenhum risco de colocar um par de chifres na sua cabeça, apesar de ser isso que ele merecia. – Ele me contou que conheceu um homem que acabou por roubar tudo que ele tinha. Roupas, dinheiro e até o passaporte.
- Hijo de la puta! – vociferou para espanto de Júlia. – Como foi acontecer de conhecer este sujeito? – Não podia acreditar no que estava acontecendo. – Por que ele não foi ao consulado resolver esse problema. É lá que os turistas devem ir quando tem este tipo de problema. Ele é americano, não?
- O coitado ficou tão desesperado e... desiludido, que resolveu recorrer a mim. Ele é uma boa pessoa. – Deveriam homenageá-la com um Oscar de interpretação, pensou. – Não sei o que o seu “vigia” disse sobre mim, mas o que aconteceu foi que o avião em que estávamos teve uma pane e teve que descer em Curaçao. Não havia acomodações para todos e acabaram me colocando no mesmo quarto que ele. Eu fiquei furiosa, mas quando percebi que ele era...assim... permiti a divisão do apartamento.
- Espero que ele seja mesmo um maricón, pois se eu descobrir que ele está nos enganando... Não terei dúvidas em acabar com ele.
- Ainda não acredita em mim?
- Acredito que pode haver uma chance de você também ter sido enganada. Tem alguma coisa nele que me deixa, digamos... Atento.
- Nunca pensei que você fosse tão desconfiado e ...vingativo.– Pelo menos ele pensava na possibilidade dela ter sido enganada o que lhe dava alguma vantagem.
- Teremos bastante tempo para que você me conheça melhor e veja que sou o homem perfeito para você, Júlia.
Ela sentiu um calafrio atravessar seu corpo sob o olhar frio lançado por Miguel. Não tinha certeza se gostaria de conhecê-lo ainda mais a fundo do que já tinha conhecido nesta última hora.
- Vamos ver, Miguel. Você terá que me convencer sobre isso... Por enquanto, só lhe peço que dê abrigo ao Bryan até ele poder ajeitar suas coisas e ter condições de ir para um hotel.
- Não temos o costume de deixar pessoas estranhas ficarem em nossa casa, mas por você eu farei uma exceção – disse enquanto aproximava-se dela e a envolvia nos braços.
Paralisada, lembrando o ataque que sofrera antes, deixou-se envolver e aceitou o beijo que ele depositou em seus lábios numa tentativa de selar a paz entre eles. Miguel não chegou a perceber que Júlia continuava na defensiva e que não correspondeu ao seu gesto de carinho, pois nunca se dera ao cuidado de prestar atenção no sentimento das mulheres com quem se relacionara. O relacionamento acabava quando elas expressavam o que sentiam por ele verbalmente. E nunca acabava muito bem, pois ele jamais admitia uma rejeição.
- Então vai deixá-lo ficar? – perguntou com voz trêmula, que o fez pensar que ela ficara excitada com o beijo.
- Sim, carinho. Ele pode ficar. No máximo dois dias, até conseguir outro lugar para ficar – designou magnânimo, orgulhoso pela maneira como estava conseguindo reconquistar a confiança de Júlia
- Obrigada, Miguel. Vou dizer a ele... – antes que terminasse de falar, ele a beijou novamente. Dessa vez com ímpeto maior, provocando-lhe certa repugnância. Só conseguiu amenizar a terrível sensação porque lembrou do beijo de Bryan naquela mesma sala, minutos antes.
- Júlia, mal posso esperar para tê-la completamente... Assim que casarmos – disse com o desejo ardendo em sua boca e em seus olhos.
-Vou até lá dar a boa notícia a ele... – Ela não conseguiu contestar as palavras dele, pois tinha medo de sua reação e agora só pensava em fugir dali. Bendisse o fato de nunca ter ido para a cama com ele, graças a, que lhe parecia agora, doentio recato de preservá-la. Repentinamente sentiu-se enganada por todos. Envolvida num enredo indigesto em que ela era ludibriada pelos dois únicos homens que realmente a tinham interessado na vida. Bryan também a enganara com a sua conversa de funcionário público, quando na verdade, era um agente usando-a para chegar até seu suspeito. Segurando as lágrimas e engolindo essa torrente de sentimentos contraditórios que a acometiam, saiu a passos rápidos na direção da sala, onde Bryan conversava animadamente com Isabel, sob o olhar aparvalhado de Rosário. Essa visão a fez recuperar o ânimo e poder chegar até eles.
- E então? Meu irmão recuperou o bom senso?
- Eu expliquei o que aconteceu com o Bryan e ele permitiu-o ficar por dois dias aqui.
- Não acredito! Sério? Que bom! – exclamou Isabel.
- Comporte-se, Isa – ordenou sua mãe e retirou-se na direção da cozinha.
- Que maravilha, Jú! Tenho que ir lá para agradecer – disse Bryan animadamente afetado.
- Se eu fosse você ficava aqui. Ele não foi com a sua cara. Está fazendo isso por mim.
- O que é o amor, não? – comentou sarcástico.
- Pelo menos ele está tentando me agradar... – disse ferina, encarando-o. Ele acabou por desviar o olhar e Isabel notou o mal estar entre eles, apesar de não falar nada, como seria de seu feitio.
- Bry, posso chamá-lo assim? – perguntou, mas continuou sem esperar pela resposta – Vou mostrar o seu quarto. – Levantou-se rapidamente chamando pelo nome uma das criadas da casa e ordenando para que ela arrumasse imediatamente o outro quarto de hóspedes. – Venha comigo. Precisaremos ver algumas roupas para você. Pena que as minhas não servirão, pois seu número é um pouco maior... hahaha!
Bryan sorriu meio sem jeito, enquanto Júlia forçou-se para não cair na risada, imaginando-o com as roupas de Isabel. Logo ele se recuperou e voltou a assumir o papel que escolhera para salvar a brasileira.
- Que pena, não? As suas roupas são divinas, Isa – disse exagerando um pouco na entonação esganiçada.
- Vou pegar alguma coisa escondida de Bryan ou do General – cochichou Isabel.
- Não vai arrumar briga por minha causa, garota.
- Que nada. Miguel tem tanta roupa que nem vai sentir falta.
- Serviremos o almoço em quinze minutos – adiantou Rosário, surgida repentinamente.
- Que maravilha! Estou morrendo de fome! – exclamou ele enquanto seguia atrás de Isabel escada acima.
Júlia seguiu pouco depois. Precisava ficar sozinha e pensar em tudo que tinha acontecido naquele final de manhã. Voltou a sentir vontade de chorar imaginando-se traída por aqueles dois. Nenhum deles merecia sua atenção. Só pensava agora em sair dali, voltar para casa o mais rápido possível e esquecer que conhecera Miguel e Bryan. As lágrimas rolaram soltas então, deixando desaguar toda a mágoa que se contorcia em seu coração naquele momento. Então, ouviu uma batida na porta. Pensou que fosse Isabel. Secou os olhos, fungou o nariz e foi abrir a porta. Era Bryan.

Enquanto isso, dentro do gabinete, Miguel falava através do telefone interno da casa, com Garcia, o chefe de seus seguranças.
- Quero que fique de olho nele. Qualquer movimentação suspeita me avise.
Desligou ao ouvir um ruído na porta. Virou-se e ficou surpreso com a presença de sua mãe. Ela estava com expressão preocupada e logo ele imaginou qual seria o problema.
- Ola, mãe. Está incomodada com algo?
- Você sabe que sim.
- Então me diga para que eu possa tranquilizá-la.
- É sobre essa moça, Júlia. Eu sei que você bateu nela. Por quê? Ela me parece ser uma boa pessoa e não merece ser tratada como uma qualquer. Não se comporte como seu pai, Miguel.
- Eu não sou meu pai.
- Às vezes tenho minhas dúvidas... Só quero lhe avisar que não permitirei qualquer tipo de agressão a essa moça dentro de minha casa. Ela não é uma das prostitutas baratas que seu pai costumava arranjar para sair com você.
- Eu sei disso, mãe. O que aconteceu foi um engano. Soube que ela tinha ficado no mesmo quarto que esse sujeito que está aí na viagem para cá. Eu só não sabia que ele era... desse jeito que você viu. E ainda não estou bem certo a respeito dele.
- Você a trouxe para cá para firmar um compromisso. Diz que gosta dela, mas a trata com violência na primeira vez que a vê em sua própria casa? Não foi esta a educação que te dei. Parece que os ensinamentos de seu pai estão prevalecendo.
- Já pedi para não me comparar ao meu pai – falou com rudeza – Eu sei muito bem o que estou fazendo e não preciso de seus conselhos. .
- Assim eu espero, Miguel, para o seu próprio bem – falou resignada, voltando-se para a saída. Ele já não era mais o seu menino, dócil e carinhoso. O General conseguira usurpar a alma do seu Miguel.
- Mãe... – Chamou-a tardiamente. Saíra sem escutá-lo. Não gostava de discutir com ela. Sua mãe sempre dava um jeito de fazê-lo sentir-se mal, tratando-o como se ainda fosse aquele moleque fracote e indefeso. Por ela ainda continuaria na barra de sua saia. Não fora graças a ela que conseguira obter a atenção e o respeito do pai. Fora por suas próprias ações e não admitiria ser controlado por mais ninguém. Nem por ela nem por seu pai.

(continua...)


Como podem ver, o "pobre" Miguel é meio maluco. Também com um pai daqueles... Coitadinho. Devem imaginar que ele não só era rejeitado pelo pai mas também deve ter apanhado muito. Infelizmente as crianças, depois de adultas, acabam repetindo o padrão a que foram sujeitadas, com algumas exceções.
Quero que saibam que estou adorando os comentários e espero que eu esteja conseguindo mesmo mostrar o outro lado do vilão. Se estiver sendo chata, por favor, me avisem. Acho que é o segundo vilão em que tento aprofundar nas razões dele de ser. O primeiro foi a Glória de "Coração Atormentado". Sou da opinião que ninguém nasce talhado para a maldade. São as circunstâncias, genética, criação e oportunidades( más), que criam nossos "monstros" e, infelizmente, eles existem. Muitas vezes sinto pena de algumas crianças que me são levadas ao consultório, imaginando o que será delas dentro de alguns anos, levando em conta o meio onde estão sendo criadas.
Também quero dar as boas vindas ao Luiz Fernando(acho que não tinha feito isso ainda...), do blog "Sonhando no Tempo"( http://sonhandonotempo.blogspot.com/), que mantém juntamente com a minha querida amiga Léia, e que também está acompanhando o "Romances ao Vento". É um prazer ter um novo amigo, sensível e apaixonado, como ele.
Bem, por fim, gostaria de desejar a todos uma Feliz Páscoa, compartilhada com todos aqueles que os amam, parentes e amigos.
Até o próximo capítulo!
Beijos!


MEME

Em tempo! Recebi um meme (não sei bem o que quer dizer, mas como foi a Aline que mandou, vou fazer...kkkk). Aqui vai.
Recebi da Aline Kodama de Papéis Avulsos .
Tem regras:

1) Levar o banner do desafio;
2)Linkar quem te marcou;
3) Marcar 5 blogs e avisá-los;
4) Responder as perguntinhas:

1 - Gostaria de ser um vampiro e viver eternamente?
Só se o vampiro que me transformasse fosse lindo, gostoso, realmente a fim de mim. a ponto de se vincular e eu, claro, estivesse apaixonada por ele...Complexo, não?...kkkkk
2 - Se fosse um vampiro, como gostaria de ser chamado?
Estes dias descobri como seria o meu nome de vampira: Musette d'Angoulême
Diz que significa beleza  e sedução. Tudo a ver comigo, não?...kkkk

3 - Qual a idade que gostaria de ter para sempre?
35 anos
4 - Qual seria a sua aparência?
Linda, é claro. Morena, cabelos longos e negros,de olhos escuros com raios dourados, magra, mas curvilínea, cintura fina e pernas longas. Quer mais? Precisa?
5 - Seria do bem ou do mal?
Do bem, mas poderia ser malvadinha de vez em quando se alguém merecesse.
6 - Viveria entre humanos ou preferiria ser solitário?
Se eu tivesse o meu gato vampiro, ia viver só com ele ou onde ele quisesse.
7 - Viveria de sangue ou seria "vegetariano"?
Acho que precisaria viver de sangue, como todo o vampiro, mas não precisava ser coletado in natura. Podia vir como leite, em embalagens "longa vida". Que tal?
8 - Qual o seu vampiro de ficção favorito?
Todos os da Irmandade da Adaga Negra, Violanti D'Arco (de Fetiche) e, claro, o Gerard Butler em Drácula 2000 (o filme não é grande coisa, mas ele está divino)
9 - Qual o seu livro sobre vampiros favorito?
Irmandade da Adaga Negra e aquele que a Aline disse que está sendo escrito...rsrsrs
10 - Assiste seriados sobre vampiros atualmente?
Já assisti a True Blood e gostei muito. Atualmente, não.
11 - Indique um filme sobre o assunto.
Drácula, de Bram Stocker, pois é de alta qualidade. Outros, são os da trilogia "Anjos da Noite" ou Underworld, com a Kate Beckinsale (que atuou nos dois primeiros).
12 - O que acha da saga crepúsculo?
Uma comédia ótima.
13 - Qual o vampiro mais lindo da atualidade?
Ao vivo - Gerard Butler... Na minha imaginação - O Revhenge da IAN
14 - Qual o casal mais lindo?
Zsadist e Bella
15 - Prefere um anjo ou um vampiro?
Um anjo caído, transformado em vampiro. Um dia vcs entenderão...Não é , Aline?...rsrsrs
16 - Preferiria namorar um lobisomem ou um vampiro?
Não gosto de homem peludo. VAMPIRO!
17 - Se fosse um vampiro namoraria um humano?
Por que não?
18 - Se os vampiros existissem se apaixonaria por um?
Depende do vampiro. Se for o Gerry Butler ou parecido com ele...SEM DÚVIDA!
19 - Se fosse um vampiro seria vingativo?
Não sou vingativa como humana. Não acredito que mudaria muito a minha índole se transformada.
20 - Seria belo ou um monstro?
Nada menos que belíssima. Só assim para me tornar vampira. Caso contrário, continuo humana e feiosa.
21 - Qual poder gostaria de ter?
Voar e ler pensamentos
22 - Conseguiria ficar longe de sua família?
Considerando que não tivesse filhos, não teria problemas. Sorry, mamy e papy...
23 - Se vivesse eternamente, o que gostaria de fazer nesse tempo todo?
Viajar, viajar, viajar...
24 - Em quais lugares moraria?
Adoraria viver na Europa, num castelo, tendo a opção de ir e vir para outros lugares.
25 - Teria coragem de transformar alguém em vampiro?
Só se a pessoa quisesse.
26 - Qual seria seu pior inimigo (ser sobrenatural)?
Não consigo imaginar. Se a história de Ward fosse considerada, seriam os Lessers.

Indico:
Doce Encanto
Ops!
Mulheres Românticas
Meu Livro Rosa Pink
Irmandade da Adaga Negra 
Pronto!

Beijos!!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo X



Júlia acordou tarde naquela bela e ensolarada manhã. Sentia-se recuperada. Apesar de suas preocupações, o sono viera fácil e revigorante, graças a exaustão em que se encontrava. Pelo horário, imaginou que perdera o café. Vestiu-se e desceu até a sala. Lá estava Dona Rosário, aparentemente a sua espera.
- Buenos dias – cumprimentou-a sem emoção. Júlia pôs-se a imaginar o quanto aquela mulher teria sofrido para chegar àquele estado de inanição emocional, restando como resquícios só o medo do marido e do filho mais velho.
- Buenos dias! Perdão por ter acordado tão tarde, mas é que não havia dormido muito bem nos últimos dois dias. – Talvez fosse impressão, mas notou certo ar de compreensão e bondade transparecer no rosto precocemente envelhecido.
- Tem alguém a sua espera no gabinete.
- Miguel? – Infelizmente não foi bem alegria o que sentiu ao saber que finalmente veria o homem por quem até alguns dias atrás imaginava estar apaixonada. Ao invés disso, engoliu em seco, sentindo uma forte opressão no peito. Tentou afastar essa sensação, lembrando daquele rapaz gentil e bem humorado que sempre aparecia com um ramalhete de flores e palavras de amor a cada novo encontro. Muito provavelmente ele não mudara... Talvez a mudança tivesse ocorrido com ela...
De cabeça erguida e respirando fundo, andou apressadamente até a sala onde conversara com Isabel na noite anterior. Abriu a porta e sorriu ao ver a figura imponente de Miguel sentado atrás de sua escrivaninha. Ao vê-la, ele levantou-se. Não houve retribuição ao sorriso recebido, mas isso não impediu que Júlia caminhasse em sua direção para abraçá-lo.
- Miguel... – parou momentaneamente ao notar que ele continuava parado e fitando-a friamente. – O que houve? Por que está me olhando assim?
Antes que pudesse ouvir qualquer explicação, sofreu uma inesperada agressão. A mão de Miguel cortou o ar entre eles e foi direto ao seu rosto, extraindo-lhe um grito de dor e deixando um amargo gosto de sangue na boca. Antes que pudesse cair para trás com a violência da bofetada, foi segura por uma mão férrea, que estrangulou seu braço e a puxou para frente.
Incrédula e sentindo as lágrimas turvando sua visão, pode ver a expressão colérica do “desconhecido” que a segurava.
- Por que fez isso comigo, Júlia? Pensou que eu não descobriria? Pensou que me faria de corno e ficaria por isso mesmo? – esbravejou.
- Do que você está falando?
- Ainda por cima se faz de sonsa! O homem com quem você dormiu em Curaçao! Quem era ele? Há quanto tempo são amantes? – Ele a sacudia como se fosse uma folha de papel.
Júlia não conseguia raciocinar direito ainda abalada com o tratamento recebido. Estava confusa, tentando lidar com a dor física e o assombro pelo ataque sofrido.
Uma batida forte na porta o fez desviar a atenção por alguns segundos, afrouxando o nó em torno do braço de Júlia.
- Vá embora! – gritou exasperado.
Não obedecendo ao comando, a porta se abriu e Isabel apareceu.
- O que pensa que está fazendo, Miguel? Solte-a!
- Saia daqui, Isa, se não quiser levar o seu quinhão também!
- Acho melhor você se acalmar. A Júlia tem uma visita e não ficará nada bem se ela presenciar esta cena dantesca.
- Visita? Que visita? – grunhiu, enquanto Júlia também arregalava os olhos imaginando que aquilo devia ser uma manobra de Isabel para evitar o pior, afinal quem a visitaria ali? Até porque não dera o endereço para ninguém...
- Segundo ele, é quem dividiu com ela o quarto em Curaçao. Aliás, que desperdício... – complementou com pesar.
- O quê? O sujeito teve a coragem de vir até aqui?
- Bryan? – sussurrou Júlia entre surpresa e aflição.
- É esse o nome do cachorro que não vai sair daqui vivo? – sibilou raivoso, pegando algo de dentro de uma gaveta da mesa que colocou no bolso do casaco. Júlia estremeceu ao ver que era um revólver.
- Miguel! Não faça isso! Não aconteceu nada! Ele é só um amigo! – conseguiu expressar-se ao prenunciar uma tragédia ao mesmo tempo em que pensava o que estaria fazendo Bryan ali.
- Amigo? Vamos ver! – Tornou a pegá-la pelo braço e praticamente arrastou-a até a sala.
- Júlia, minha querida! – soou a voz estranhamente efeminada assim que entraram na sala – Tudo bem? Esse é que é o seu “bofe”? Ele é mesmo um gato, menina! Você deve ser o famoso Miguel. Ai, essa mulher não parou de falar o seu nome o tempo todo em que ficamos juntos... Muito prazer... Bryan, mas, prá você, apenas Bry... – e ofereceu a mão desmunhecada lançando um olhar lânguido para Miguel.
Não fosse a dor provocada pelo corte em sua boca, teria desatado a rir, apesar de sua posição precária. Bryan atravessou a sala na direção deles, vestindo um jeans e uma camiseta muito justa de cor preta. Os cabelos estavam jogados para trás pelo uso de uma tiara forrada por um tecido com estampa que imitava pele de onça.
- Você é o cara que ficou com ela em Curaçao?
- Com certeza! – disse revirando os olhos.
Miguel explodiu numa gargalhada, deixando todos perplexos a sua volta.
- Júlia, por que não me falou que ele era um maricón?
- V-você não me deu tempo de falar... – a raiva pelo ato cometido por Miguel começava a surgir, renovando-lhe as forças para reagir contra ele.
- Maricón não, por favor! Gay é uma palavra mais adequada... – arremedou Bryan com voz esganiçada e revirando os olhos. – O que foi isso na sua boca, Jú? – perguntou enquanto controlava a vontade de partir para cima do calhorda que a machucara.
- Não foi nada. – Miguel impediu que ela respondesse, voltando a ficar sério – Ela ficou tão emocionada quando me viu que tropeçou e bateu com o rosto na mesa do gabinete. Não foi, meu bem?
Amedrontada, apenas acenou com a cabeça confirmando o incidente, mas, no íntimo, aflita para subir logo ao seu quarto, pegar suas coisas e fugir dali o mais rápido possível, aproveitando a chegada de Bryan. Jamais imaginara que Miguel pudesse reagir daquela maneira, sem ao menos dar-lhe uma chance de defesa. Afinal a tese de Bryan se confirmara. Ele colocara alguém para segui-la. Teria sido apenas uma desconfiança ou Bryan sabia de alguma coisa a mais e não falara abertamente. Já não sabia o que pensar. O mundo virara de pernas para o ar e ela não via uma saída para escapar daquela loucura.
- Como conseguiu chegar até aqui e o que deseja de minha noiva? – indagou, pegando Júlia pelo braço novamente, agora de forma mais gentil.
- Ex - futura - noiva – disse ela entredentes de forma que só ele escutasse, provocando imediata reação dele que voltou a aplicar grande força na mão que a segurava.
- Pois é... Liguei para a Júlia para saber se tudo tinha corrido bem na sua chegada e ela me deu o endereço para o caso de eu precisar de alguma ajuda.
- Ora, mas que gentil... – falou com sarcasmo – E você está precisando de ajuda, meu caro?
- Que bom que perguntou, Miguel – respondeu em tom íntimo provocando visível asco no outro.
- É que aconteceu uma coisa muito chata e... Será que eu poderia falar a sós com a Júlia? Não consigo explicar o que houve na frente de tanta gente... – referindo-se à mãe e à irmã de Miguel e mais dois empregados presentes.
Após alguns momentos de vacilação, Júlia foi liberada para conversar com seu amigo, no mesmo gabinete onde poucos minutos antes enfrentara a fúria de Miguel. Ainda estava com as pernas e mãos trêmulas quando entrou no gabinete acompanhada por Bryan.
Tão logo entraram, ele fechou a porta, fez sinal com o dedo indicador sobre o lábio para que ela permanecesse em silêncio e passou a movimentar-se rapidamente entre os móveis, analisando cada canto do ambiente, gavetas, objetos, como quadros, vasos e o telefone. Dirigiu especial atenção para o computador que se encontrava aberto sobre a mesa, logo perdendo o interesse ao vê-lo desligado. Júlia a tudo observava com curiosidade e início de irritabilidade, esperando por uma explicação coerente para o que estava acontecendo.
- Bryan, o que está fazendo aqui e que história é essa de dizer que é gay? – cochichou com impaciente indignação.
- Acho que podemos falar aqui... cochichando, por favor.
- Por quê? O que significa tudo isso?
- Eu vim para ajudá-la a escapar daqui. Soube que você estava em dificuldades. Ele provavelmente iria matá-la de pancada se eu não aparecesse desse jeito.
- C-como você soube que ele estava me batendo?
- Está com o seu celular, não está?
Ela colocou a mão no bolso da calça folgada que vestia e tirou o aparelho de lá.
- Sim, mas o que tem a ver? Ele está desligado...
- Nós colocamos uma escuta nele, por isso sei tudo que está acontecendo com você.
- Nós?
- Olhe, não temos muito tempo para explicações. Nós vamos continuar esse teatro até eu poder pegar o que quero daqui e levá-la embora.
- Pegar o quê? – falou cada vez mais confusa.
- Depois eu explico, Júlia. Preste atenção. Miguel é um homem perigoso. Ele precisa acreditar na nossa história para podermos sair ilesos daqui. Você vai dizer que eu fui assaltado por um homem com quem saí e ele levou todo o meu dinheiro e minha bagagem. Não tenho como pagar um hotel, por isso vim para cá ficar com minha “amiga”. Prometo que sairemos daqui ainda essa noite. Confirme tudo que eu disser. Confie em mim.
- Como vou confiar num homem que agiu como um cafajeste comigo, desapareceu sem dar explicação alguma e agora aparece, se dizendo gay, falando que colocou uma escuta no meu telefone e que está me vigiando também??
Não conseguiu continuar seu discurso, pois Bryan saltou sobre ela, cingiu-a nos braços e colou os lábios sobre os dela, provocando-lhe susto e dor, devido ao machucado na boca, que logo se desvaneceram em um agradável torpor. O calor incitado pelo desejo que surgiu do contato com aquele corpo grande e quente que a envolvia a fez esquecer-se de tudo, ao menos naquele momento. Quando se afastaram, Bryan a olhou com carinho e determinação e disse:
- Confie em mim. É a nossa única chance de sair daqui com vida. Se não quiser mais olhar para a minha cara depois, tem todo o direito.
Atordoada entre o desejo e o medo, resolveu ao lado de quem ficaria.
- Está bem. Diga o que precisamos fazer.

(continua...)


Aqui está como prometi. Sei que foi um capítulo mais curto, mas dá para perceber que nos próximos teremos um pouquinho mais de agitação.
Vou tentar postar o 11º capítulo até o domingo, como presente de Páscoa para minhas leitoras fiéis.
Beijos, minhas queridas!

sábado, 16 de abril de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo IX

- Se essa garota realmente não tem nada a ver com esse pessoal, ela está metida numa grande enrascada – comentou o agente Soza com o seu superior na missão de vigiar a casa e a namorada de um contrabandista quando a ligação do celular de Júlia foi interrompida.
Bryan não respondeu. Estava preocupado demais para comentar alguma coisa. Não gostara nada do tom de voz de Miguel. No entanto a voz de Júlia parecia tão inocente e alheia ao perigo a que estava se expondo, que ficou difícil de controlar o ciúme e a raiva daquele homem que a conquistara e que poderia machucá-la de todas as formas.
- Olhe! Elas estão saindo do café – indicou Soza.
- Não as perca de vista! – ordenou Bryan.
- Você acha mesmo que é importante segui-las? Parece que o “peixe grande” só volta amanhã. Podíamos descansar um pouco e voltar a vigiar a casa de manhã bem cedo – argumentou enquanto aguardava o Smart pink dar a partida.
Bryan sentiu-se incomodado com a atitude desleixada do policial que fora designado para seu auxiliar em Santa Cruz.
- Se quiser ir para casa, vá. Eu vou continuar atento aos movimentos dos suspeitos – disse referindo-se a Júlia e à casa dos Vasquez altamente vigiada.
O agente sorriu debochado e continuou:
- Parece que essa Júlia fisgou alguém...
Bryan lançou um olhar tão gélido e intenso que o sorriso do homem murchou e ele desviou os olhos para a rua.
- Desculpe. É que estou um pouco cansado. É a segunda tocaia que faço esta semana. Não vejo minha namorada há mais de quinze dias. Já sinto a cabeça doer com os prováveis chifres que estou levando. Aliás, é o que tem me acontecido nos três últimos relacionamentos que tive – contou desanimado.
- Tudo bem se quiser descansar e voltar ao amanhecer – falou mais compreensivo.
- Mas se o meu chefe souber, vai me matar.
- Eu sou seu superior agora. Ninguém vai saber se eu não disser.
- Se surgir algum problema...
- Eu ligo. Não se preocupe. Vamos atrás delas agora. Na primeira oportunidade, me dê a direção e desça do carro. Ok?
- Ok!
Tão logo se certificaram que as mulheres estavam voltando para casa, Bryan assumiu o controle do carro e deixou Soza conforme o combinado. Pensou que provavelmente o colega tivesse razão a respeito da volta do noivo de Júlia, e que nada aconteceria naquela noite, mas ele não lhe passava pela cabeça deixá-la sozinha naquela mansão junto com possíveis contrabandistas e assassinos. Desde que ela partira de Curaçao estava sendo mantida sob vigilância. Ele viajara para Santa Cruz num avião particular, pois achou que era melhor cortar o mais cedo possível qualquer vínculo remanescente daquela estadia no Caribe. Já a tinha prejudicado o suficiente no momento em que levou Miguel a suspeitar dela. Sentiu-se o pior ainda quando foi informado sobre alguns relacionamentos amorosos do “empresário”. Além de humilhar as mulheres com quem andava, costumava ser violento. Apesar de nunca ter havido queixa policial formalizada, os investigadores da Bolívia conseguiram levantar a ficha extra-oficial do rapaz, com informações obtidas em boates e motéis. Pensar que esse psicopata pudesse ferir Júlia de alguma maneira despertava todos os seus instintos assassinos. Apesar de saber que não tinha a menor chance com ela, não conseguia tirá-la do pensamento. Jamais permitiria que algo acontecesse a ela. Quando viu o Smart atravessar os portões da “fortaleza” seguiu em frente para não despertar suspeitas. Deu a volta na quadra e estacionou em uma rua transversal de onde podia avistar a casa e ter distância suficiente para permitir a escuta do que ocorria lá dentro. Sabia que Júlia nunca se separava de seu celular, provavelmente um hábito adquirido em sua profissão. Por isso mesmo colocara a escuta no aparelho, em Curaçao, enquanto ela dormia, além do localizador de chamadas e do sensor de movimento que tinham sido colocados no aeroporto.

- Por onde vocês andavam! – exclamou a senhora Vasquez ao ver a filha e a namorada de seu filho entrando.
- Relaxa, mamita!
- Seu irmão está furioso com a saída de vocês...
- Já falamos com ele. Não se preocupe.
- Desculpe, senhora Vasquez, se a deixamos aflita...
- Você não tem idéia de como Miguel fica quando não é obedecido – sua voz deixava transparecer ...medo?
- Já falei que não tem por que se preocupar, mamita. Miguel só está preocupado com sua amada e provavelmente com ciúmes por eu ter sido a primeira a mostrar a cidade para ela.
- Dios te escucha, mi hija. Dios te escucha...
- O jantar está pronto?
- Sim. Estava apenas esperando por vocês.
- Venha, Júlia. Vamos nos aprontar para o jantar.
Enquanto subiam a escadaria que dava para seus quartos, Júlia perguntou num sussurro para Isabel:
- Por que sua mãe tem tanto medo de Miguel?
- Não é medo – mentiu – Acho que ela quer evitar desentendimentos entre vocês.
- Tem certeza?
A jovem parou no alto da escadaria e olhou compadecida para Júlia.
- Depois do jantar conversamos. Vá se preparar e nos encontramos daqui a pouco, está bem? – falou Isabel temerosa de perder a amiga. Estava feliz pela perspectiva de ter uma cunhada como Júlia. Tinha esperanças que ela pudesse modificar seu irmão, já que parecia ter atingido seu coração. Ela lembrava o brilho diferente que observara nos olhos de Miguel quando ele falou sobre a namorada para a mãe. Talvez ele pudesse se tornar um homem melhor que seu pai... Talvez essa fosse sua única chance...


Não fosse a alegria de Isabel durante o jantar com a senhora Vasquez, o silêncio seria o único som que Júlia teria ouvido. A mulher não lhe dirigiu a palavra uma só vez. Perguntou-se se ela seria daquelas mães possessivas que não admitiam dividir o filho com mulher alguma. Qual seria a história dela? Será que casara por amor? Como seria sua relação com o marido, que até agora não se apresentara? Porque parecia sempre tão triste e distante? Essas perguntas ocupavam o imaginário de Júlia, enquanto sondava o ambiente que Miguel havia prometido que seria o seu lar. E por que ele não aparecia? Que estaria acontecendo? Talvez Isabel pudesse solucionar as dúvidas que a preocupavam. Não bastasse isso, seus pensamentos insistiam em fugir para Bryan e seu sumiço repentino. O que teria acontecido com ele? Tornara-se tão repugnante para ele que resolvera evitá-la a ponto de perder o avião?
- O jantar estava uma delícia, senhora Vasquez.
- Pode me chamar de Rosário, por favor.
Surpresa com a oferta de alguma intimidade sorriu agradecida, porém nenhuma palavra mais foi dita.
Quando terminaram a refeição, pediu licença e seguiu atrás de Isabel para o gabinete onde Miguel costumava trabalhar, ler ou despachar suas ordens aos funcionários da empresa dos Vasquez, conforme informou por sua irmã. Era um ambiente sóbrio, com mobília de madeira escura e estofados em couro vermelho. Atrás da grande mesa e da poltrona de espaldar alto havia um quadro que retratava Dona Rosário e seus filhos, onde Miguel era um jovem de seus vinte e cinco anos e Isabel deveria ter no máximo 12.
- É aí atrás desse quadro que o Miguel esconde seus segredos... – cochichou Isabel.
- Como?
- O cofre dele está ali atrás. Não acha original? – comentou irônica, provocando um súbito interesse em alguém que prestava sonolenta atenção a poucos metros dali.
- Eu só estava admirando a beleza da pintura. É Dona Rosário e vocês dois, não? E o seu pai?
- Ele não gosta de aparecer em retratos. Deve ser algum tipo de superstição.
- Como é o seu pai, Isabel?
O rosto suave e frequentemente alegre tornou-se pálido e ressentido.
- Não tenho boas coisas a dizer sobre ele, como você já pode imaginar pelo que contei antes. Ele é um homem muito grosseiro. Se minha mãe parece mais como uma sombra nessa casa é graças a ele. A cada ano ela piora. Em minhas lembranças, quando eu tinha meus cinco ou seis anos, ela ainda sorria e brincava comigo. Eu sou a única que ainda o enfrento, mas confesso que às vezes tenho muito medo de que ao invés de uma cinta de couro ele queira usar uma arma.
- Isabel... Que horror! Tem certeza que não está exagerando?
- Quem dera eu estivesse...
- E Miguel? Ele não a defende?
- Ele pouco está em casa. Olhe, vamos mudar de assunto?
- Eu estou apenas tentando conhecer um pouco da família da qual penso em fazer parte... – falou sem muita convicção.
- Eu sei, mas... Só quero que saiba que Miguel é melhor que meu pai. Ele ainda consegue amar, diferente do General.
- General?
- É como chamamos meu pai. Ele é um militar aposentado, mas ainda prefere ser reconhecido por sua última patente... Mas como eu estava dizendo, Miguel ainda tem um coração...
- Ainda? – Começava a duvidar se realmente conhecia seu namorado. Teria ele bancado uma farsa até ali.
- Sei que ele gosta muito de você. Pude perceber isso desde a primeira vez em que ele falou seu nome – Tinha que parar de falar sobre isso ou perderia a futura cunhada e amiga. Podia ver a dúvida de Júlia em seus olhos.
- Eu também acho isso, mas nos conhecemos há muito pouco tempo...
- Por isso você está aqui. Tenho certeza de que quando ele chegar tudo vai ficar mais claro. Agora, me conte sobre o Rio de Janeiro. Morro de curiosidade de conhecer esta “cidade maravilhosa”...
Infelizmente a conversa que tiveram girou mais em torno das curiosidades de Isabel a respeito do Brasil e da viagem dela a Nova Iorque que sobre a família da qual fazia parte. Ela parecia evitar falar sobre o irmão ou seu pai. Com medo de magoar a jovem, não teve coragem de aprofundar-se naquele tema.
Cansada e finalmente vencida pelo sono, Júlia não demorou muito para agradecer o passeio pela cidade, dar boa noite e retirar-se. Tinha que recompor-se para a chegada de Miguel.
Enquanto Júlia se recolhia, Bryan acionava um de seus contatos. Ia precisar de apoio para fazer o que estava planejando. Não podia perder a oportunidade de descobrir e, quem sabe, desbaratar o negócio dos Vasquez. Já previa que o dia seguinte seria movimentado e perigoso.

(continua...)
Pelo menos agora sabem que o Bryan está cuidando da nossa heroína de longe. O clima continua tenso e a pobre da Júlia já começou a desconfiar que Miguel não é a pessoa que ela pensava conhecer bem. Deu prá notar que ele tem problemas, coitadinho, todos relacionados com esse pai horroroso. Será que a Isabel tem razão e que ele pode ser um homem diferente do pai?
O capítulo X já está no forno e prometo que com certeza ele deve estar "indo ao ar" na próxima terça-feira.
Como sempre, agradeço os comentários das minhas leitoras queridas que eu amei.
Beijos a todas e até terça.

sábado, 9 de abril de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo VIII



- Señor! Seu filho está chegando – comunicou o homem de roupa camuflada.
- Está sozinho? – perguntou secamente movimentando-se em direção à porta do novo escritório de operações localizado a mais de uma centena de quilômetros do antigo, que já não era mais seguro.
- Sim, General V. – respondeu prontamente, desviando-se do caminho de seu chefe.
De onde estava podia ver alguns homens a limpar o terreno que daria lugar a uma pista de pouso improvisada. Apesar de aguardar ansioso a chegada do filho mais velho, nada em sua expressão demonstrava esse sentimento. Sua face continuava dura e impassível.
A camioneta preta e suja de lama parou em frente ao General V, como ele era conhecido entre seus homens.
- Lito! – exclamou ao ver o homem moreno, alto e forte, com traços muito semelhantes aos seus, descer calmamente do Land Rover, trajando um elegante terno italiano, totalmente inadequado para aquelas bandas.
Nos olhos do General mal transparecia o orgulho de pai, pois como antigo militar, se acostumara a esconder suas emoções do mundo exterior. Além disso, fora criado rigidamente, aprendendo que os homens de verdade não choravam ou demonstravam seus sentimentos abertamente.
Lito era o seu orgulho, apesar de nunca ter dito isso ao filho. Quando pequeno o rejeitava por achá-lo muito magro e lerdo. O apelido de Miguelito era usado pela mãe e jamais por ele. Ao fim da puberdade, Miguel já era um rapaz forte o que chamou a atenção de Vasquez. Levou-o a um cabaré para sua iniciação sexual e, sempre que possível mostrava através de atos e palavras suas idéias chauvinistas a respeito da inferioridade das mulheres. Mostrou a ele como seria útil fazer a faculdade de Direito e, acabou por revelar a verdade sobre a origem de sua riqueza. Miguel, sempre reservado, acatava as determinações do pai, pois finalmente encontrara a maneira de agradá-lo, depois de tantas rejeições.
Há cerca de 15 anos, já aposentado do exercito, Vasquez assumira plenamente o que antes era apenas um extra em suas rendas. O contrabando de armas sempre fora um bom investimento com alto retorno, especialmente quando se tinha habilidade e os conhecimentos certos para esse tipo de comércio. Tratou de eliminar os antigos “cabeças” e assumiu a liderança com promessas de ampliação para além da fronteiras sul-americanas. Com o tempo, a ganância o levou a um namoro com o tráfico de drogas e a prostituição. Atualmente, o “namoro” transformara-se num rentável negocio que perfazia cerca de metade do seu faturamento anual, o que não era pouco. Tão logo Lito, “codinome de guerra” imposto ao filho numa referência ao apelido antigo, terminou a faculdade, foi introduzido nos negócios escusos da família. A despeito de algumas rusgas, o rapaz era um comerciante arguto e um grande negociador. Vasquez sempre o mandava na frente para iniciar negociações, tanto para a compra como para a venda de armas. Como tinha facilidade com línguas estrangeiras, passou a ser decisiva a sua colaboração nos contatos na América do Norte, na Europa e, ultimamente, no Oriente Médio. Jamais pensou em chegar tão longe. Onde havia disponibilidade de “máquinas” ou formação de guerrilhas, lá estava Lito em negociações para comprar ou vender com as melhores condições possíveis. Entretanto, nos últimos meses, um fato revelara-se preocupante. Lito arranjara uma mulher. Tinha medo que essa “distração” colocasse em risco todo o império que construíra. Era uma brasileira que ele conhecera numa de suas inúmeras viagens ao Brasil para tratar do abastecimento de grupos ligados ao tráfico de drogas, aliás uma parceria importante e bastante satisfatória, pelo menos até o momento. Miguel nunca ficara tão interessado em alguém. Tinham tido várias discussões sobre o assunto, já que seu filho a queria para casar. Já não bastasse a rebeldia de sua indesejada filha Isabel, que insistia em enfrentá-lo, com sua vida social intensa e amizades duvidosas, agora seu primogênito vinha com essa novidade. Como regra ele nunca tinha tido amigos, apenas aliados. Seu casamento fora arranjado pelo pai e tinha sido um erro desde o início. Se podia ter a mulher que quisesse, para que casar? Esperava que o filho pensasse assim, mas pelo visto se enganara. Tinha medo que esses relacionamentos dos filhos pudessem levar a infiltrações perigosas. Sabia que seu grupo há um bom tempo chamava a atenção de investigadores internacionais, como a CIA e o FBI. Um dos sinais desse fato fora a recente descoberta de um agente infiltrado, de nome Juan, que conseguira enganá-lo por um bom tempo, até que um de seus homens descobriu que ele o estava traindo e fora responsável pela denúncia de mais de um carregamento de armas. Por sorte recuperara grande parte da última carga e punira o traidor com a morte.
- General – cumprimentou o pai com formalidade, como sempre fazia diante dos homens que trabalhavam para eles.
Entraram no pequeno e simples escritório para conversar.
- Então, Juan nos traiu? – indagou preocupado.
- Depois de dois anos, o safado se revelou. Felizmente ele nunca conseguiu ter acesso a informações vitais da nossa “empresa”. Apesar disso, conseguiu nos dar um belo prejuízo. Certamente foi ele que nos denunciou nas outras duas vezes.
- Temos que passar a ter mais cuidado com quem contratamos.
- E com quem levamos para a cama – advertiu-o rudemente.
Miguel sentiu o sangue ferver. Depois dos últimos relatos do detetive que colocara para vigiar Júlia, temia que o pai tivesse razão. Contudo, não via motivo para responder que ainda não compartilhara o leito com ela. Desde que conhecera Júlia acreditou que ela era diferente das mulheres com quem estava acostumado a sair. Antes dela, eram todas descartáveis. Sempre teve em mente que quando encontrasse a mulher certa a preservaria até o casamento. Essa situação já estava se tornando difícil de sustentar, por isso vinha fazendo de tudo para apressar esse casamento... Agora se sentia duramente traído ao saber que ela fora vista em Curaçao acompanhada por outro homem, inclusive compartilhando o mesmo quarto e provavelmente o mesmo leito.
- Já lhe pedi para não se intrometer em minha vida pessoal – afrontou-o ameaçadoramente, coisa que excepcionalmente fazia, levado pela raiva em reconhecer que a opinião de seu pai a respeito das mulheres era uma regra sem exceções.
- Se essa vida pessoal interferir em meus negócios, deixará de ser pessoal e passará a ser assunto meu. Pense nisso antes de agir pensando com sua cabeça do meio das pernas.
- Não tenho muito tempo - Preferiu mudar de assunto. -  Tenho que voltar logo para Santa Cruz.
- Pensei que ficaria por aqui. Tenho que ir a La Paz para terminar o assunto “Juan”.
- Mas não disse que ele está morto?
- A mulher dele está lá, no La Siesta – afirmou com um franzir malicioso nos lábios, mencionando o cabaré de sua propriedade – Pretendo “entrevistá-la” e obter mais informações sobre quem estava por trás do Juan.
Miguel sabia exatamente como acabaria essa “entrevista”, mas preferia não pensar nisso.
- Melhor falarmos sobre a nova fonte e os novos compradores que consegui.
- Excelente. Conte como foram as negociações.
Ódios e temores foram esquecidos temporariamente por assuntos considerados mais importantes.



Após ter sido acomodada em um confortável quarto com vista para o jardim dos fundos da propriedade, tão belo como o da frente, guardou suas roupas no armário. Estava tristonha devido a fria acolhida da mãe de Miguel. Ansiava pela chegada dele para sentir-se mais segura, apesar de ainda ter em mente o estranho comportamento dele ao telefone em Curaçao. Lembrou da insinuação que Bryan fizera sobre alguém a estar vigiando. Se isso fosse verdade e Miguel soubesse que ela estava com um estranho, dividindo um apartamento no hotel, o que não pensaria? Principalmente depois de ter negado quando ele perguntou se estava sozinha. Subitamente temeu a reação de Miguel. Ele acreditaria se ela dissesse que nada havia acontecido, se ela própria não acreditava nisso? Essas idéias já a colocavam em estado de pânico, quando ouviu uma batida suave na porta que a fez estremecer.
- Pode entrar...
Para sua surpresa, uma jovem com cerca de 20 anos, tez bronzeada, cabelos pintados de louro, formas roliças, e grandes olhos escuros, entrou sorridente.
- Então você é a famosa Júlia?
- Famosa? Eu? – sentiu-se relaxar um pouco.
- Pensei que meu irmão jamais fosse ter uma namorada. Já estava ficando preocupada.
- E você ? Quem é?... Desculpe perguntar, mas...
- Ele não falou sobre mim? Aquele crápula! Sou irmã dele!
- Sinto muito, mas não me lembro de ele ter mencionado uma irmã.
- É bem coisa de homem. Mulheres não são importantes... – falou com alguma tristeza na voz, para logo voltar a sorrir e continuar – Meu nome é Isabel e espero que sejamos amigas. Sempre senti falta de ter uma irmã e agora, se formos cunhadas, vou realizar meu sonho.
Júlia correspondeu ao sorriso acolhedor de Isabel e seu jeito falante, sentindo-se aliviada com a presença e o calor irradiado pela jovem.
- Que bom, Isabel. Nem sabe como fico feliz em conhecê-la. Acho que sua mãe não gostou de mim.
- Minha mãe é assim mesmo. Não é má pessoa, mas já sofreu muita coisa e se tornou um pouco amarga. Com o tempo vai aprender a lidar com ela – aproximou-se de Júlia e deu-lhe um inesperado beijo na face – Que tal irmos passear? Ou já conhece a nossa cidade?
- Não, é a primeira vez que venho aqui.
- Então está resolvido. Vamos fazer um city tour antes do jantar. No caminho podemos conversar. Estou curiosíssima para saber como é o meu irmão namorando.
Júlia ruborizou, mas concordou com a simpática e imprevista “cunhada”. Pegou sua bolsa e seguiu Isabel.
- Mãe! Vou sair com a Júlia. Voltamos para o jantar – gritou com a mãe que orientava uma das empregadas da casa na sala de jantar.
- Isabel! Não faça isso. Miguel recomendou que... – contrapôs aflita quando foi interrompida pela filha.
- Depois me acerto com o Miguel.
- Senhora Vasquez, se o Miguel voltar peça que ligue para o meu celular. Não devemos demorar. – Passou-lhe pela cabeça que ainda nem sabia o primeiro nome de sua anfitriã.
Praticamente carregada por Isabel, que lembrava um furacão, foi levada até um simpático Smart pink estacionado na entrada da casa e delicadamente jogada lá dentro.

Apesar do tamanho diminuto do carro, seu interior era confortável. Pode ver de relance o motorista que a buscara no aeroporto correndo até elas, mas chegando tarde demais. Isabel deu a partida, acelerou rapidamente e abanou uma das mãos para ele, dando um “tchauzinho!” jocoso, deixando-o parado no lugar onde antes estivera o carro, com cara de pouquíssimos amigos.
- Agora me conta tudo! – exigiu Isabel dirigindo em alta velocidade pelas ruas pouco movimentadas do bairro onde morava.
- O que quer saber? – perguntou rindo do modo como a moça se dirigia a ela.
- Tudo! Como é o Miguel na cama?
- Isso é pergunta que se faça, Isabel? – repreendeu-a pasma.
- Ora! Vocês estão quase noivos, não? Ele lhe põe “los pelos de punta”?
- Como? – Não conhecia este termo em espanhol.
- Ele lhe faz sentir arrepiada?... Excitada, com tesão...
- Na verdade... S-sim... – respondeu e se pegou lembrando da tarde na praia com Bryan.
- Ama ele?
- Acho que sim... – Por que Bryan voltava a sua mente dessa maneira inconveniente?
- Como acha? Quando se ama não se tem dúvidas, mulher! – riu divertida por sentir que deixara Júlia sem jeito. – És tímida? Vai ver que foi isso que chamou a atenção de Miguel.
- Não sou tímida. É que esse é um assunto um tanto íntimo para falar assim.
- Entendi. Não confia em mim.
- Não é isso, Isabel. É que mal nos conhecemos e...
- Certo. Tem razão. Às vezes deixo as pessoas chocadas com esse meu jeito. Na maioria das vezes falo sem pensar... Já apanhei muito por causa da minha língua... – disse em tom de mágoa.
- Apanhou? Como assim?
- Meu pai... Ele não aceita esse meu jeito de ser. Sou a famosa ovelha negra da família.
- Quando pequena, meu pai às vezes me dava umas palmadas se eu o desobedecia... – falou solidária.
- Palmadas? Quando pequena? – riu sarcástica – Não, minha amiga... A última vez que meu pai me repreendeu foi há duas semanas com sua cinta de couro. Ainda tenho as marcas nas coxas.
Júlia ficou muda de horror, sem encontrar as palavras necessárias para consolar Isabel. Miguel nunca falara sobre o pai. Será que ele concordava com essa violência?
- Bem, mas não vamos falar desses assuntos desagradáveis. Como vocês se conheceram?
Sentindo pena de Isabel, começou a contar o que ela pedia. Sua nova amiga a levou para conhecer os principais pontos turísticos de Santa Cruz e depois pararam em um café, aparentemente frequentado pelos jovens da alta sociedade cruceña. Chegou a esquecer do cansaço em que estava por ter dormido pouco nas duas últimas noites. Conversaram sobre vários assuntos, além de saciar a curiosidade de Isabel. Só não tivera coragem de tocar no assunto de maior interesse aparente de sua jovial cunhada. Ela própria achava difícil de acreditar que um homem saudável e viril como Miguel, que dizia amá-la muito, até agora tinha evitado fazer amor com ela. Chegara a duvidar da paixão que ele dizia sentir, mas ele argumentava que a queria como esposa e não como mera diversão. Depois de algum tempo não discutiu mais o assunto, colocando a culpa disso nas crenças religiosas dele e da família. Nunca comentara sobre este fato com qualquer amiga ou mesmo com seu pai. Não faria isso com a irmã dele.
- Agora acho melhor voltarmos antes que o Garcia e seus capangas venham atrás de nós.
- Quem?
- Aquele docinho que serve como motorista. Deve ter sido ele quem a trouxe do aeroporto até a nossa casa. Ele tem uma cicatriz cobrindo o lado esquerdo do rosto.
- Ah, sei... Você falou em capangas?
- São os nossos seguranças. Meu pai vê perigo em tudo.
- Mas pelo que vejo você não usa nenhum guarda-costas.
- Ele desistiu de tentar me impor aqueles gorilas. Além do mais, ele raramente está em casa.
- E a sua mãe?
- Ela, ao contrário dele, nunca sai de casa. Vive reclusa como uma freira, rezando e pedindo sabe-se lá o quê para seus santos e santas. Só fica agitada quando meu pai está em casa.
- Ela deve gostar muito dele – disse compreensiva, arrancando um riso nervoso de Isabel.
- Eu diria que o que ela sente é medo e não amor.
Antes que Júlia pudesse argumentar sobre os prováveis sentimentos da sogra, o celular tocou.
- Júlia! Onde você está? – a voz não expressava exatamente preocupação.
- Miguel? Você já chegou?
- Não. Ainda não, mas liguei para casa e minha mãe disse que você tinha saído com a Isabel.
- Pois é... Por que nunca me falou da sua irmã? Ela é um amor.
- Volte já para casa. Devo estar de volta amanhã e não quero que você saia mais.
- Ela me trouxe para conhecer a cidade... Precisamos conversar, Miguel.
- Também acho – disse secamente – Volte para casa e amanhã conversaremos – continuou em tom mais ameno, como se tivesse percebido que a estava assustando.
- Está bem. Já estávamos nos preparando para voltar. Sua mãe deve estar nos esperando para o jantar.
Miguel chegou a sentir um aperto no peito ao ouvir a voz doce de Júlia e pensar que tudo que o encantara nela pudesse ser falso.
- Boa noite, Júlia. – despediu-se controlando a intensidade da voz, com o punho esquerdo fortemente fechado, como se ali se concentrasse sua raiva contra a possibilidade dela ser uma vadia como todas as outras.

(continua...)

Parece que o filme de terror da Júlia continua se armando, não é meninas? Muito obrigada pelos comentários e recados, queridas. Confesso que até eu já estou ficando com pena da minha heroína. Pior é que ainda vai piorar... oopss! Falei... rsrsrs...
Gostaram? Comentem. Não gostaram? Critiquem. O destino da Júlia , do Bryan e do Miguel ainda está sendo escrito. Nossa! Profundo, não?
Hoje estou meio engraçadinha, mas juro que a minha semana não foi nada engraçada. Estava com medo de não ter tempo de escrever para postar hoje. Porém, contudo, todavia, entretanto... Consegui.
Este capítulo serviu para mostrar bem onde a pobre Júlia está se metendo. O próximo promete ser bem movimentado, até porque o Bryan deve voltar a ativa.
Beijos!!

sábado, 2 de abril de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo VII




Não trocaram palavra alguma durante o trajeto entre Cas Abao e Willemstad. O clima de constrangimento só era atenuado pela música reggae que vibrava no rádio do táxi e pelos comentários do motorista sobre o tempo e sobre os passeios que poderiam fazer se ficassem mais tempo na ilha. Chegaram ao hotel e Bryan disse que ficaria na recepção para tentar conseguir alguma informação sobre o vôo deles. Confusa e aborrecida pegou o elevador e subiu para a suíte.
Júlia se maldizia, envergonhada por seu comportamento. Imaginava o que Bryan deveria estar pensando dela? Uma mulher compromissada, em viagem para conhecer a família de seu futuro marido, que se joga nos braços de um homem que mal acabara de conhecer. O pior é que nem podia falar mal dele, pois agira como cavalheiro, tomando a iniciativa de se afastar quando as coisas começavam a ficar fora de controle. Fora do controle dela! Não conseguia entender o que estava acontecendo. Eram as férias. Definitivamente, as férias. Não estava acostumada com isso. Nada para fazer, sol, mar... Se aquele maldito avião não tivesse apresentado a tal pane, isso jamais teria acontecido. Já teria chegado a Santa Cruz, encontrado com Miguel, conhecido sua família e... Voltado para o Brasil. Noiva ou não. Já não tinha mais certeza de nada.

Bryan não entendia como chegara àquele ponto. Ele tinha sido encarregado de tirar informações de uma suspeita. Para isso precisava aproximar-se dela. Não ter um caso com ela. Alguns ex-colegas seus certamente diriam que os fins justificam os meios, mas depois de conhecer Júlia melhor, já não pensava nela como suspeita ou cúmplice de algum criminoso. Ela parecia mais inocente que um anjo de presépio, mas seus superiores pareciam não acreditar nisso. Agora ele temia que a tivesse exposto a um grande risco. Se o noivo dela fosse quem pensavam que era, ela estaria correndo perigo de vida depois de ter sido vista com ele. O infeliz não confiava nela. Tinha colocado um detetive em seus calcanhares. Um detetive comum, mas alguém que a mantinha sob vigilância. A polícia local, a pedido da CIA, detivera o homem sob alegação de terem recebido uma denúncia de pedofilia contra ele. Atarantado com a prisão inesperada, acabou por contar que estava em Willemstad a serviço de um conterrâneo muito rico, que o contratara sete meses antes para “ficar de olho” na namorada, já que precisava viajar muito. Com todas as despesas pagas, estava morando no Rio de Janeiro para vigiá-la e agora a seguira para Nova Iorque, chegando até ali. Ou era um noivo muito zeloso e apaixonado, ou um ciumento doentio ou desconfiava que ela pudesse ser alguma agente disfarçada. E, nos últimos dois casos, Júlia correria perigo...
Tomou um banho, vestiu-se e estranhou que Bryan ainda não tivesse voltado. Pensava em descer para falar com ele, talvez jantarem juntos, quando tocaram a campainha do apartamento. Sem perceber, sorriu. Ele deve ter esquecido o cartão para entrar ou não quer me pegar desprevenida. Sempre cavalheiro...
- Br... – o nome dele morreu em seus lábios quando viu um rapaz em uniforme de mensageiro do hotel a sua frente.
- Buenas, señorita – cumprimentou-a. Pediu permissão para entrar e pegar a bagagem do senhor Phillips.
- De quem?
- Señor Bryan Phillips.
O rapaz informou que o gerente conseguira outro quarto para o senhor Phillips graças a uma desistência e que ele já estava acomodado, apenas aguardando sua bagagem.
- Por que ele mesmo não veio pegar suas coisas?... – indagou a si mesma, subitamente triste. Sentia-se como se tivesse sido apunhalada pelas costas. “Ele não teve coragem de vir até aqui e me encarar? Será que se sente tão mal assim com o que aconteceu ou ficou com nojo de mim?”
- Puedo obtener las maletas del señor Phillips, señorita?
- C-claro. Só um momento – disse desconcertada, esquecendo do seu espanhol, olhando a sua volta para localizar a maleta de Bryan. Sua bagagem estava aparentemente pronta para ser levada. Verificou no banheiro e no armário do quarto, mas nada dele estava à vista. Era como se ele já houvesse preparado tudo previamente, na sua ausência e antes do encontro imprevisto na frente da loja, no centro da cidade. Perturbada, apontou para o rapaz onde deveria pegar sua carga.
- Gracias, senõrita.
Depois que o funcionário saiu, Júlia sentiu um enorme e inexplicável vazio por dentro. Acontecera o que ela queria desde o início. Ter um quarto só para si, sem um companheiro indesejado. Indesejado?... Sentou-se na beira da cama, sentindo-se a pior pessoa do mundo. Olhou para o celular e pensou em Miguel. Lá fora o sol já tingia os prédios da cidade e o mar de tons vermelho-alaranjados. Mais uma noite se iniciava e ela sentia-se terrivelmente sozinha no seu segundo dia de férias.
Esperou inutilmente que Bryan aparecesse, até o ponto em que, não aguentando mais, foi ao banheiro, fez uma maquiagem leve e saiu do quarto, decidida a informar-se sobre o vôo e jantar no próprio hotel. Assim o fez. Na recepção a informaram que às 6 horas da manhã seguinte seria feito o traslado ao Aeroporto de Curaçao de onde o avião partiria às 8 horas rumo à Santa Cruz. Estranhamente, Júlia não ficou tão feliz com a notícia recebida. Agradeceu e foi até o grande salão de jantar. Escolheu uma mesa discreta, pediu uma água mineral com gás e serviu-se timidamente e sem vontade do farto bufê oferecido. Não viu Bryan no saguão ou por ali. Estaria ele se escondendo para não encontrá-la? Agora começava a se irritar com a atitude dele. Afinal, eram adultos e deviam conversar sobre o que rolara entre os dois. Ou não?

Já estava na segunda dose de uísque. Não podia exagerar, pois tinha que acordar cedo para pegar o avião. Perguntava-se por que tinha assumido aquele compromisso ao invés de continuar na tranquilidade do emprego burocrático que conseguira após ter sido desligado da CIA, há três anos, logo após perder Karen e tornar-se um perigo para si próprio. Após um ano de terapia acomodou-se a situação estável em que fora colocado enquanto a sensação de culpa e o desejo de seguir a esposa eram apaziguados. Agora, precisavam da ajuda dele para desbaratar a quadrilha de traficantes de armas que lançava seus braços para fora da América Latina e começavam a expandir negócios em países destinados às guerrilhas crônicas e golpes políticos e em outras áreas do crime organizado. Em parte, o desejo de sentir a adrenalina em seu corpo mais uma vez definira a aceitação do serviço. Fora acordado que não ficaria na linha de frente. Faria parte da equipe de coleta de informações e tática. A designação para aquele trabalho se originara graças aos seus conhecimentos neste setor de venda ilegal de armas e por ter ligações com agentes locais. Agentes como Juan Castillo, um amigo dos velhos tempos. Infelizmente, soubera, pouco depois de chegar à Curaçao, que ele fora eliminado ao ser descoberto como agente infiltrado na quadrilha. Uma perda lastimável. Mais um que se perdia naquelas guerras anônimas da Inteligência americana... Ainda não tinham certeza absoluta do envolvimento do noivo de Júlia naquela sujeira. Ou ele era muito esperto ou realmente era apenas um pacato empresário boliviano. Jamais imaginou que fosse envolver-se emocionalmente com “a suspeita”, e agora temia por sua segurança. Pelo menos convencera o chefe das operações a afastá-lo dela, convencendo-o de que ela era inocente, mas que precisava continuar sob vigilância, pois poderia levá-los a novas informações. Seria difícil suportar seu olhar caso ela soubesse o motivo de tudo o que estava acontecendo de inesperado em sua viagem, inclusive o relacionamento dos dois. Isso o estava incomodando mais do que deveria. Através dela já tinham conseguido o número do celular privado de Miguel e buscavam por ligações que pudessem comprometê-lo. Júlia poderia ser seguida à distância através dos rastreadores que tinham sido colocados no próprio celular dela, na bolsa de mão e na mala, por ocasião da revista no aeroporto John F. Kennedy. Sorriu de leve ao lembrar o esbarrão que dera nela para trocar o cartão de embarque. Calculou mal o choque, machucando-a sem querer. Tinha merecido aquela cabeçada no queixo. “Que mulher!”, lembrou a expressão de fúria e indignação de sua “suspeita”.
Júlia terminou seu jantar e foi caminhar pelo porto. Imaginava que ver e ouvir as ondas do mar acalmaria suas incertezas. Nada funcionou e voltou para o hotel, resolvida a dormir mais cedo. Na recepção, inutilmente, perguntou se tinha algum recado, na esperança de saber notícias de Bryan. Decepcionada, passava pela área onde ficava o bar quando pensou em tomar uma margarita. Contraiu os lábios frente a esse pensamento, lembrando melancólica da noite anterior. Brindaria sozinha e talvez encontrasse o sono mais cedo. Adentrou o ambiente onde a iluminação dava ênfase ao local onde se encontrava o barman, cercado pelos mais variados tipos de garrafas, em tamanhos, formas e cores, expostas em prateleiras espelhadas. Logo viu a figura solitária sentada em frente ao balcão, pensativa e segurando na mão um copo vazio. Por alguns instantes ficou temerosa de aproximar-se, pensando no que diria a ele. Talvez não precisasse dizer nada. Apenas sentar ao seu lado e deixá-lo tomar a iniciativa. Foi o que fez.
O olhar dele fez disparar sua pulsação, mas se manteve calada, encarando-o.
- Espero que esteja feliz agora – disse ele com voz rouca.
- Assim como você deve estar também por não precisar dividir o apartamento mais uma noite com uma estranha – sua voz revelava uma carga de mágoa maior do que ela desejava expor.
- Não era isso que queria? Além do mais, está a poucas horas de encontrar seu noivo, a família dele e começar a aproveitar devidamente suas férias.
Não sabia por que sentia subitamente vontade de chorar, mas segurou-se. Não queria demonstrar nenhum tipo de fraqueza diante dele. Não naquele momento. Virou-se para o atendente do bar e já ia pedir uma margarita, quando mudou de idéia.
- Una copa de champán, por favor. – tentou manter a voz firme, mas ela acabou por sair trêmula.
Enquanto esperava seu pedido, se forçava a manter os olhos grudados nos movimentos do barman, evitando a observação atenta de Bryan sobre ela.
- Júlia...
Ouvir seu nome naquela voz a fez engolir em seco. Continuou a se fazer de distraída, como se isso fosse possível, com a visão da taça de cristal sendo preenchida pelo líquido âmbar claro, repleto de minúsculas bolhas, diante de si.
- Desculpe não ter voltado para avisá-la sobre a mudança do quarto – continuou em tom baixo – Achei que seria melhor assim, principalmente depois do que aconteceu... na praia. Foi algo de momento... Sabe como é... Sol, mar, uma linda mulher ao lado...
Diante de tais palavras, ela virou-se, segurando a taça ao nível de seus olhos como fazendo um brinde.
- Não se preocupe em dar desculpas. – Entornou o champanhe de um só gole e continuou – Entendo perfeitamente o que aconteceu, pois o mesmo se passou comigo. Fico mais tranquila em saber que você pensa da mesma forma e que o que aconteceu foi só uma experiência de momento, totalmente equivocada. Seria impensável eu ter um caso com um homem que mal conheço, ainda mais tendo alguém maravilhoso como meu noivo a minha espera. Não acha? – De onde conseguira a coragem para dizer tais palavras não sabia. Elas simplesmente saíram de sua boca com a maior frieza.
- Que bom, Júlia... Que bom que pensa assim... – arrematou sentindo uma estranha dor aguda no centro do peito.
- Bom... Então... Boa noite. Até amanhã! – despediu-se com um fio de voz, largando a taça vazia sobre o balcão, sentindo a cabeça girar, e saindo dali o mais rapidamente possível, antes que ele pudesse ver a expressão de desilusão que já não suportava esconder atrás da máscara de leviandade.
Apesar da vontade de correr dali, manteve o andar firme e em velocidade calculada para não parecer que estava fugindo. Mas era exatamente isso que estava fazendo.
- Otra dosis, por favor – pediu ao barman evitando acompanhar a saída de Júlia. “É melhor assim. Que ela pense que sou um canalha... Talvez eu seja mesmo...”, pensou com o cenho franzido.
“Como fui idiota! Pensar que ele... É óbvio que seria só uma aventura!”, repreendia-se duramente por achar que podia estar acontecendo algo mais entre os dois e que a atração que sentia por Bryan era mais que um simples desejo físico. Agora tinha certeza que para ele isso era totalmente verdadeiro. Pelo menos tivera a compostura de resguardá-la e não avançara além daquele beijo... “Aquele beijo”... Abriu a porta da suíte, entrou e a fechou com mais força que a devida, causando um estrondo alto que ricocheteou pelos corredores. O melhor era arrumar suas coisas para a viagem do dia seguinte. Seguiria o roteiro original que começara em Nova Iorque. O que aconteceu fora um mero acidente de percurso perfeitamente esquecível.


Assustou-se quando o telefone tocou na mesa de cabeceira. Agradeceu o aviso da telefonista que ligara para lembrar que o traslado ao aeroporto sairia em 45 minutos e desligou em meio a um bocejo. Tinha a sensação de que pegara no sono poucos minutos antes do telefonema, o que era real. Sonolenta lançou um olhar para o sofá abandonado e um inesperado vazio tomou conta de seu íntimo. Levantou, se arrastou até o banheiro e tratou de fazer a higiene e se vestir para pegar seu vôo logo mais. Desceu ao salão de café e, como no dia anterior, ficou a procura de Bryan quase sem se dar conta disso. Inexplicavelmente ele não se encontrava e tampouco apareceu no ônibus onde os passageiros foram colocados para a ida ao aeroporto. “Será que ele não acordou?” Queria evitar pensar nele, mas seu cérebro não parecia concordar com seus comandos. Um absurdo sentimento de abandono se configurou quando o último passageiro entrou no avião, a porta foi fechada pelo comissário de bordo e Bryan não apareceu.

Santa Cruz de la Sierra

Após seis intermináveis horas, foi anunciada a chegada à Santa Cruz de La Sierra pela voz do comandante. Mais uma vez ele pediu desculpas pelo incidente, enfatizando que fora alheio à vontade da tripulação e da empresa e que esperava que isso não impedisse que os passageiros voltassem a utilizar os serviços da American Airlines. Júlia sentia-se muito cansada, apesar de ter conseguido dormir um pouco, mais por exaustão do que pelo conforto da poltrona. Conseguira seu assento no corredor, mas assim que percebeu que nenhum outro passageiro sentaria ao seu lado, tratou de buscar a poltrona ao lado da janela e esticou as pernas sobre os dois assentos vazios. Agora, esperava a fila andar para poder pegar sua bagagem de mão e descer do avião.
Resolvidos os trâmites legais na imigração, encaminhou-se para a área de desembarque no saguão do aeroporto de Viru-Viru.
Saguão do Aeroporto de Viru-Viru

 Procurou em vão por Miguel. Quando já estava desanimando e religava o celular esquecido na bolsa, deparou-se com um sujeito de terno preto e gravata cinza, de estatura mediana, troncudo, cabelos pretos, um rosto que lembrava as estátuas da Ilha da Páscoa e uma cicatriz que iniciava no supercílio esquerdo, descia pelo maxilar superior, poupando o olho, chegando a comissura labial do mesmo lado. Seu aspecto era assustador. Ele carregava uma pequena placa com o seu nome: Júlia Monteiro. Provavelmente era uma espécie de guarda-costas. Miguel devia precisar de funcionários daquele tipo para se proteger contra sequestradores ou marginais de toda espécie que deviam rondar a família, tendo em vista o seu patrimônio. Aspirou profundamente, criou coragem e apresentou-se ao seu comitê de boas vindas.
- Buenas tardes, señor. Soy Júlia Monteiro.
- Buenas tardes, señorita. – cumprimentou-a sem mostrar os dentes, pegando as malas e gesticulando para que o seguisse. – Ven conmigo…


Obediente, andou atrás dele até chegarem a um Hummer cinza no estacionamento pago.

 O centro da cidade mais populosa da Bolívia ficava a 17 quilômetros de Viru-Viru. As grandes avenidas, prédios altos e modernos que contrastavam com catedrais da era colonial e a movimentação das ruas surpreenderam Júlia. Pensando na possibilidade de morar por lá, a idéia não era tão absurda. Talvez pudesse até trabalhar como advogada em algum escritório da metrópole, pois a perspectiva de não fazer nada não lhe agradava nem um pouco.

Imagens de Santa Cruz de la Sierra
Notou que começavam a afastar-se do centro. O medo começou a se manifestar. Não tinha pedido nenhuma identificação para o “monstrengo” que dirigia sem qualquer comunicação verbal. E se fosse um sequestrador que soubera da sua chegada e pediria um resgate para Miguel? Melhor era se acalmar e esperar a chegada ao seu destino. O que ocorreu logo. O Hummer adentrou um bairro residencial de luxo e circulou até chegarem diante de um alto muro de pedra que circundava todo um quarteirão. Câmeras e guaritas de segurança pareceram identificar o veículo e o motorista, permitindo a abertura do imenso portão de ferro que assinalava a entrada da propriedade. Sabia que Miguel era de família abastada, mas jamais imaginara o quanto. Ficou ainda mais boquiaberta quando vislumbrou a mansão no centro do terreno, em meio a jardins, com direito a fontes e caramanchões, com as mais belas e coloridas flores que já vira.
O Hummer parou diante do que deveria ser a porta principal e onde se encontrava uma senhora idosa e bem vestida. Seria a mãe de Miguel? Controlando o nervosismo, saiu pela porta que o motorista, descendente direto das rochas da Ilha da Páscoa, lhe abriu.
Colocou seu melhor sorriso no rosto e dirigiu-se gentilmente a velha senhora, perguntando-se onde estaria Miguel. Não chegara de viagem ainda?
- Buenas tardes, señora. Eu sou Júlia...
- Eu sei quem é você. Infelizmente meu filho não pode vir para recebê-la, mas prometeu não demorar. Venha comigo.
Sua voz era monótona e fria. Não devia ter mais que 50 anos, mas as rugas em sua face, as papuças sob os olhos, denunciando noites mal dormidas em excesso, a postura encurvada, como se o peso dos anos fossem maiores do que o corpo podia suportar, e os olhos tristes, com uma tristeza sem fim que transbordava do olhar cansado, lhe davam a aparência de uma idade mais avançada. Quais seriam as próximas surpresas que a aguardavam?
- É um prazer conhecê-la, Sra. Vasquez – disse tentando uma aproximação física que foi rechaçada, pois a mulher virou-se, evitando o seu toque.
- Deve estar cansada da viagem. Vou mostrar seu quarto para que descanse até a hora do jantar.
- Miguel está na cidade? Ele falou comigo há dois dias e disse que estava na Europa...
- Ele está chegando, não se preocupe. – respondeu sem se voltar para a pretensa futura nora, continuando a conduzi-la pelos suntuosos ambientes da casa.
Diante daquela recepção, rezou para que Miguel chegasse logo e afastasse suas incertezas de uma vez por todas.

(continua...)


Bem, agora vocês já podem ver em que enrascada a nossa amiga está se metendo, não? Espero que tenham gostado deste capítulo.
Um beijo enorme para todas(os) e até mais!!