sábado, 28 de maio de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo XV



Sentia a cabeça latejar. A luta interna que o devastava procurava desesperadamente um final. Vivera até o momento sem pensar no que se tornara. As semanas que passou na companhia de Júlia tinham sido como um bálsamo em sua reles existência. Com ela tinha sido o homem que um dia idealizara ser. Aquele que fora sufocado na maldade e na bestialidade de seu pai.
- Espero que dê um fim nesta perra – A rudeza da voz de seu pai despertou-o.
- Por que diz isso? – perguntou apreensivo.
- Ortiz me contou que foi ela que atraiu a CIA até nossa casa.
- Ela foi usada por eles... Ortiz deve saber disso também.
- Foi o que ela disse? E você acreditou? – perguntou exalando um riso baixo e rouco – Pobre Lito...
- Confio nela. Logo que a conheci coloquei um detetive para segui-la. Sei exatamente quem ela é. A CIA deve tê-la seguido também quando souberam que estávamos namorando.
- Você fala como um adolescente idiota. Será que me enganei com você, Lito? – avaliou-o por baixo das sobrancelhas grossas – Pensei que daria uma boa lição nela e poria um fim nisso, mas pelo que vejo, a vadia brasileira trabalhou bem... – E exibiu, cínico, os dentes amarelados pelo cigarro. – Será que terei que acabar o serviço por você?... Não será tarefa desagradável, pois ela é bem bonitinha...
- Não ouse se aproximar dela, nem se refira a ela dessa maneira. Ela não é uma das mujeres com quem você costuma andar. – ameaçou.
Por instantes o General pestanejou, em vista da ferocidade contida nas palavras e no olhar de Miguel. Sabia do que seu filho era capaz, pois já presenciara a descarga de violência sobre aqueles que se colocavam como empecilho diante dele ou que não obedeciam as suas determinações. Também sabia que tinha sido um bom professor. Por isso, engoliu o sentimento de humilhação e procurou desviar do assunto.
- Não vim até aqui para brigar com você. O que fará com ela não me interessa. Tenho certeza que o seu bom senso lhe dirá. Vim para pensar em nossos próximos passos. Ortiz me disse que estava com tudo sobre controle, mas eu não confio na argúcia do nosso amigo.
- Talvez devessemos repensar em mudar as operações de país e investir mais na fachada da empresa de importação e exportação, até as coisas se acalmarem.
- Você tem razão... – Neste ponto não tinha como discutir com seu filho. Ele era um bom estrategista. Seu problema era ainda ser suscetível às emoções, mas o tempo daria conta deste pequeno defeito...


Bryan pensou ter visto luzes ao longe. O lusco-fusco do entardecer atrapalhava um pouco a visão da estrada de chão batido, mas, segundo a orientação de Isabel, sabia que devia estar próximo ao sítio. Ansiava chegar logo, pois o medo de que algo pudesse ter acontecido à Júlia aumentava a cada minuto da viagem. As distâncias e as dificuldades do caminho pareciam maiores e o tempo escoava muito rapidamente. Quando viu o portão feito com troncos rústicos de madeira escurecida e a placa onde se podia ler claramente: Propiedad Privada - Ingreso Prohibido, respirou aliviado. Chegara ao seu destino. Estacionou o Smart numa pequena clareira junto à estrada. Seguiu a pé, para não denunciar sua presença, mantendo-se escondido entre as árvores que margeavam o caminho até a moradia. Surpreendeu-se ao ver uma modesta construção térrea, que não devia ter mais que duzentos e cinquenta metros quadrados de área. Apenas um carro estava estacionado ao lado da casa. Reconheceu o Civic vermelho que o levara até o consulado americano naquela tarde. Andou mais um pouco e descobriu um segundo veículo, uma caminonete Jeep de cor cinza deixada dentro de um velho celeiro nos fundos do terreno. Pelo aspecto geral, a família não andava frequentando muito o local. Ou ele era mantido assim para não levantar suspeitas sobre o proprietário. De qualquer maneira, a preocupação de Bryan aumentou ao perceber a presença de mais pessoas na casa além de Miguel e Júlia. Viu uma luz que provavelmente seria de um dos quartos. Sorrateiramente aproximou-se para poder espiar pela janela, sem perceber que uma sombra o seguia. Foi então que sentiu o cano frio de uma pistola em sua têmpora direita.
- Fique bem quieto e, devagar, me entregue sua arma sem se virar – disse a voz monocórdica do guarda-costas que acompanhara o General até o sítio.
Bryan reconheceu que a apreensão em que se encontrava ao pensar no que podia ter acontecido à Júlia fez com que ficasse distraído e caísse naquela armadilha. Já não era mais o mesmo. Três anos afastado de missões de resgate como aquela serviram para deixá-lo descuidado. Ergueu as mãos, mostrando que estava desarmado. Sem confiar muito na demonstração, o brutamonte passou a revistá-lo, sem deixar de mirar o cano da arma em sua cabeça. Acabou por achar a pequena Beretta que levava escondida em seu coldre de tornozelo e a reteve. Quando achou que estava desarmado, mandou que ele andasse até a entrada principal. Na fração de segundos em que o homem distraiu-se pensando no que faria a seguir, quando o General o visse com o prisioneiro, Bryan estacou repentinamente e desferiu uma violenta cotovelada no seu estômago. Dobrado sobre si mesmo devido à dor, na sequência, foi abatido por uma braçada poderosa na nuca, o que acabou por deixá-lo desacordado. Satisfeito com sua performance, Bryan pensou que afinal não estava tão destreinado assim. Tratou de tirar o homem dali e levá-lo até o celeiro, onde o amordaçou e amarrou com cordas que lá encontrou. Tomou a pistola do infeliz, e voltou a esconder a sua no tornozelo. Não queria mais surpresas com armas de fogo. Remexeu nos bolsos a procura de documentos e alguma arma extra. Além de sua identificação, ainda encontrou uma faca e um celular. Verificou outra vez os nós das cordas, apertando-os um pouco mais para sua segurança. Olhou em volta. Não podia admitir ser surpreendido por outro “gorila” como aquele. Destruiu o celular sob o peso de seu pé e jogou a faca no mato logo atrás do celeiro Mais alerta que nunca, rumou para a casa mais uma vez. Voltou à janela onde estava quando o seu agressor surgiu e conseguiu ver através de uma fresta da persiana de madeira a silhueta de Júlia. Seu coração bombeou mais forte. Ela estava viva! Com cautela, foi até a frente e observou o interior da sala principal. Lá, pode ver os dois homens, pai e filho conversando. Não pareciam muito satisfeitos, falando e gesticulando muito. Decidido a retirar Júlia dali sem chamar a atenção dos dois e só então avisar a CIA, deu a volta na casa a procura de uma porta lateral por onde pudesse adentrar. Descobriu uma janela entreaberta na área de serviço. Esgueirou-se por ali e avançou, seguindo o som das vozes discutindo na sala. No corredor da área íntima viu luz junto ao assoalho, sob a porta de um dos quartos. Júlia devia estar ali. A chave estava na fechadura. Girou-a lentamente para evitar barulho e empurrou a porta com cuidado. Sufocou o nome dela na garganta, aliviado por vê-la aparentemente sem ferimentos, e fechou a porta rapidamente, colocando o dedo indicador sobre os lábios para pedir-lhe silêncio. Júlia estava paralisada num dos cantos do cômodo. Quando o viu, teve vontade de gritar de alegria, mas calou-se a pedido dele. Quando o viu abrir os braços para recebê-la, correu para ele e sentiu todo o seu pavor controlado até então explodir em mudas e transbordantes lágrimas.
- Calma, meu anjo... – sussurrou ele ao seu ouvido, abraçando-a – Logo estaremos longe daqui. Venha comigo.
Sem conseguir emitir um som sequer, assentiu com a cabeça e passou a obedecê-lo. O calor do corpo de Bryan em torno do seu a fez sentir-se segura. Sua vontade era repousar a cabeça sobre o peito amplo e forte e ali manter-se aninhada para sempre. Porém, logo se deu conta que ele agia como um profissional. Arma em punho, cuidadoso ao reabrir a porta do quarto, olhando para os lados. Era óbvio que ele continuava em sua missão e ela apenas fazia parte disso. Provavelmente estivesse ali apenas por sua consciência culpada. Certamente não tinha sido levado por qualquer outro motivo que não fosse o cumprimento do dever. Precisava acalmar-se e parar de chorar como uma tola sentimental. Seguiu-o, colada a ele, conforme sua orientação. Encaminharam-se para os fundos, onde ele a ajudou a pular pela janela. Segundos depois corriam na escuridão da noite rumo às árvores da estrada sem trocar  palavras. Logo ouviram um grito vindo da casa.
- Júlia! – Era a voz de Miguel. Ele ouvira um barulho e fora até o quarto, descobrindo a fuga. 
- Corra, Júlia – exclamou Bryan angustiado por terem sido descobertos. Precisavam chegar ao carro na estrada antes que Miguel os alcançasse.
O estampido de um tiro ecoou nas sombras e novamente puderam ouvir a voz de Miguel desesperado.
- Não atire! Pode feri-la!
O General estava de arma em punho tentando mirar a dupla de fujões.
- Seu idiota! Eles estão escapando. São duas testemunhas contra nós – Dito isso, correu na direção do celeiro onde estava seu carro. Lá descobriu o capanga ainda desacordado. Praguejou e chutou o homem, voltando a atenção para o Jeep estacionado. Miguel não teve alternativa a não ser ir atrás do pai para evitar que ele machucasse Júlia. Não conseguia pensar em outra coisa. Conhecia bem o General e como ele agia ao se sentir ameaçado.
Bryan e Júlia conseguiram alcançar o Smart. Entraram rapidamente e, mal ele havia dado a partida no motor, viram os faróis da camionete de Vasquez aproximando-se velozmente, ainda no caminho vicinal do sítio.
- Coloque o cinto! – gritou para ela, enquanto colocava o seu próprio.
Bryan acelerou, levantando grande quantidade de poeira devido ao movimento rápido dos pneus, manobrando habilmente para fora do nicho em que se encontrava. Logo estavam na estrada de chão batido, na direção contrária à Santa Cruz de La Sierra, em meio a escuridão, onde só os faróis dos carros iluminavam a estrada. Se ao menos pudesse contar com a ajuda da Agência, pensou. Infelizmente eles tinham sido bem claros quanto a isso. Ele estava sozinho nessa empreitada. Sentia Júlia tensa, encolhida no assento ao seu lado, olhar abatido no rosto marcado pelas lágrimas já secas e a mãos crispadas sobre o colo. Queria dizer-lhe palavras de carinho e conforto, mas naquela hora era impossível. Esperava que sobrevivessem àquela situação para que pudesse expressar todo o amor que redescobrira ao seu lado e todo o terror que passara ao imaginar que poderia perdê-la.  Esperava que ela o perdoasse e entendesse as circunstâncias que o levaram a fazer tudo que fizera.
Sem uma sinalização adequada e dirigindo com os faróis desligados para despistar seus perseguidores, Bryan não conseguiu desviar-se a tempo de um grande buraco que surgiu repentinamente. O carro sacudiu com violência. Um dos pneus dianteiros estourou e, como era de esperar, o carro perdeu o controle. Apesar da tentativa de Bryan em manter o curso, não conseguiu evitar a derrapagem, e a consequente capotagem no barranco lateral da estrada. Por sorte o carro rodou apenas uma vez, parando estacionado sobre as quatro rodas, com alguns amassos na lataria.
Imediatamente alerta, Bryan olhou para Júlia e viu que um filete de sangue escorria de sua testa. Precisava tirá-los dali e procurar um esconderijo no mato a sua volta. Conseguiu abrir a sua porta e correr para o lado oposto. Com alguma dificuldade conseguiu abrir o lado de Júlia e examiná-la.
- Júlia! Você está me ouvindo?
- S-sim...
- Consegue se mexer?
- Acho que sim – respondeu começando a mexer os braços e as pernas.
- Temos que sair daqui antes que Vasquez nos alcance. Venha!
- Estou indo... – levantou-se e sentiu uma ligeira tontura, sendo imediatamente segura pelos braços de Bryan. Passou a mão na testa, pois sentia dor, e viu que havia sangue – Oh, meu Deus... Estou sangrando...
Bryan retirou-a do carro e, carregando-a nos braços, levou-a para fora. Pode ouvir o som de pneus freando.
- Pare aí, cabrón. – ecoou a voz áspera de Vasquez, o General. – Você não tem para onde ir. – continuou, apontando a arma na direção deles. Miguel apareceu logo atrás com expressão ansiosa.
- Júlia! – desesperou-se ao vê-la com sangue no rosto – Ela está bem? – dirigiu a pergunta à Bryan.
- Cale-se, seu inútil! – ordenou seu pai antes que houvesse uma resposta à pergunta de Miguel.
A luz vinda da camionete dos Vasquez iluminava o local onde eles haviam se acidentado. Bryan podia ver apenas as silhuetas dos dois homens, parcialmente cego pelo poderoso facho dos faróis de milha contra o seu rosto.
- Largue-a e levante as mãos bem alto onde eu possa vê-las – ordenou rudemente o General.
Com cuidado, sem afastar os olhos de seus captores, Bryan foi abaixando-se até poder soltar Júlia sobre a relva, aos seus pés. Levantou-se lentamente, após certificar-se que ela estava bem.
- Olhe, o seu problema é comigo, Vasquez. Ela foi apenas um instrumento para chegar até vocês – falou duramente, sentindo uma dor tão aguda no peito como se um punhal estivesse sendo cravado ali. Não queria que o outro soubesse o quão importante ela era para ele. Isso poderia significar a sobrevivência de Júlia. Pode sentir a imediata reação dela, contraindo-se junto às suas pernas, afastando-se discretamente dele.
- Mesmo que ela tenha sido apenas uma marionete para a CIA, acabou por ver e ouvir demais...
- Eu cuidarei dela! – interrompeu Miguel.
- Infierno! Cállate! – vociferou o pai – Você não está em condições de decidir nada.
No meio dessa discussão familiar, Bryan apurou os ouvidos e ouviu o ronco de um motor aproximando-se e logo, espantado, ouviu um som semelhante ao de uma metralhadora vindo do céu negro e estrelado.
- O que está acontecendo? – Júlia conseguiu dizer erguendo os olhos para cima.
- O que está acontecendo é que vocês vão morrer – esbravejou o General apontando a arma para Júlia.
Miguel reconhecendo que seu pai não hesitaria em atirar, lançou-se sobre ele. O estrondo do tiro eclodiu abafado pelo corpo de Miguel e pelo barulho ensurdecedor das hélices do helicóptero que se aproximava. Aproveitando o instante, Bryan pegou a arma que tinha em seu tornozelo e apontou para o assassino, antes que este pudesse reagir. Atirou, ferindo-o no braço direito, fazendo-o soltar imediatamente a arma. Soza surgiu inesperadamente vindo da estrada, seguido por Isabel que soltou um grito desesperado ao ver o irmão cair no chão, ao lado de Júlia.
- Miguel! – gritaram as mulheres quase em uníssono.
Este foi o último som que Miguel ouviu antes de seus sentidos emudecerem para sempre.

(continua...)


Espero que me perdoem pela demora em postar este capítulo, mas é que passei uma semana bem difícil, tratando de uma lombalgia (é a idade...) tenebrosa que me derrubou na segunda-feira. Desde então, fiquei sedada com todo o tipo de analgésicos, anti-inflamatórios e relaxantes musculares. Lógicamente que minha "destreza" mental também ficou abalada, tirando-me completamente a inspiração para escrever este capítulo. Só hoje consegui, então sem dores, terminar e publicar... Finalmente.
Agora falta pouco para o término. Como sempre, espero que estejam gostando e curtindo a ação do romance.
Beijos a todas e obrigada pela audiência e pela paciência (como sempre...)!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo XIV (complementação)

(continuação do capítulo anterior)

- Miguel... Você não é assim... Onde está o homem doce e romântico que eu conheci lá no Rio? Não acredito que você estivesse fingindo... – Júlia tentava chamá-lo a razão.
- Eu também pensei que a conhecia... – disse, parando seus movimentos para despi-la, sem conseguir olhar para ela.
- Eu ainda sou a mesma pessoa. Vim para conhecer a sua família, lembra? Eu ia casar com você... – Parecia que suas palavras estavam tendo efeito, por isso continuou – Quero conversar com o Miguel que me fazia rir... Aquele que me mandava flores para o escritório e despertava inveja em todas minhas colegas... O homem que me deixava o pelo de punta...
Quando lhe pareceu que Miguel ameaçava esboçar um sorriso, a porta do quarto se abriu violentamente. Um homem de aspecto ameaçador, muito parecido com Miguel, não fossem os cabelos grisalhos, algumas rugas e manchas de pele provocadas pela idade e pela exposição excessiva ao sol. Miguel levantou-se da cama assustado e não pareceu melhorar ao ver quem invadira sua intimidade.
- General! O que faz aqui?
- Ortiz avisou-me que nossa casa estava sob vigilância da CIA, por isso decidi vir para cá. Vi o seu carro. Onde está o Gomez? – então lançou um olhar malicioso para a mulher que vira deitada e atada à cama. – Quis privacidade para brincar um pouco, Lito?
- Sim... Quer dizer... Houve um engano... – respondeu reticente.
- Engano? Ela não me parece um engano. Parece ser muito adequada para uma boa brincadeira. Será que posso participar do joguinho?
Júlia quase deixou de respirar. Estava paralisada de terror com a entrada do, provavelmente, seu ex-futuro sogro, de quem já ouvira a própria filha falar mal.
- Não! – exclamou com raiva contida – Ela é minha noiva!
- Ohh... É assim que se diverte com sua noiva, Lito? – contraiu a boca com sarcasmo – As coisas mudaram muito desde o meu tempo... – gargalhou e virou-se para a porta, ordenando com rispidez – Acabe com isso e venha até a sala. Temos muito que conversar.
Assim que ele bateu a porta, Miguel parecia transtornado. Olhou para Júlia, pensou por uns momentos e andou na direção da guarda da cama. Começou a desatar os laços que prendiam seus pulsos. Apesar do alívio ao sentir-se livre das cordas, ela não falou nada, pois ainda tremia de pavor. Quando terminou de soltá-la, ele sentou-se novamente na beira da cama e disse com firmeza.
- Júlia, para o seu próprio bem, fique quieta e não saia daqui. Vou soltá-la, mas não fuja, a não ser que aconteça alguma coisa comigo. Não deixe aquele homem que acabou de sair tocar em você. Entendeu?
- S-sim.
- Júlia... Eu não queria que nada disso acontecesse. Achei que poderia mudar de vida se tivesse você ao meu lado, mas percebi que fui fundo demais e me tornei um monstro igual a ele. – falou apontando com o queixo o local por onde seu pai havia saído.
- Não, Miguel... Você não é um monstro... Sei que não. – Agora sentia piedade por ele, apesar de tudo pelo que havia passado em suas mãos nas últimas horas. Seus sentimentos por Miguel eram confusos, mas percebera que o melhor a fazer era relembrar o seu passado juntos para ter alguma chance de escapar dali inteira.
- Você não tem idéia das coisas que fiz para conseguir a atenção dele. De repente, tudo isso agora me parece tão hediondo... – Seu olhar pareceu perder-se em meio a horrores inimagináveis – Queria a atenção de um pai. Neguei o que ele era e, na tentativa de buscar seu amor, imitei-o em tudo. Quando me dei conta que ele jamais teria a capacidade de amar, nem mesmo a um filho, pois não tinha sequer um coração, já era tarde e o mal tomara conta de mim e de minhas ações. E o pior... Eu passei a gostar da vida que levava. Afinal o sangue falava mais alto. Foi então que a conheci...
- Lito! – soou o grito áspero vindo da sala.
- Não tente fugir, Júlia. Assim que possível a levarei daqui. – afirmou antes de sair ao encontro de seu pai.

(continua no próximo capítulo...)

Como eu tinha dito no post anterior, eu publiquei o capítulo incompleto para não fugir do prazo que eu mesma estabeleci para as postagens. Pretendo postar o capítulo XV até este final de semana.
Acabei ficando com pena do Miguel. Sei que ele não é nenhuma flor, mas acho que ele se deu conta que estava errado agindo daquela maneira com a Júlia. Afinal, com ela, pode revelar o seu lado bom, que apenas a Isabel e, talvez sua mãe, tenham vislumbrado algumas vezes. Será que ele vai continuar bonzinho ou o General que existe dentro dele vai se manifestar novamente?
Aguardem...
Beijos!

domingo, 15 de maio de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo XIV



Isabel emprestou o seu carro a Bryan e seguiu com Rafael para o departamento de polícia local, onde entregariam as provas contra o General para o superior dele, o Capitão Ortiz, e pediriam reforço para dar cobertura à Bryan. Rafael não entendia por que a viatura com os homens da CIA não estava mais em vigília quando Bryan chegou à mansão. Achou aquilo estranho, mas resolveu não comentar com ele para não preocupá-lo ainda mais. Certamente seu comandante se encarregaria de fazer isso.
Dirigiu até o centro de Santa Cruz, chegando ao prédio da Polícia Federal onde funcionava a Fuerza Especial Contra el Narcotrafico (FECN). Foram diretamente ao gabinete de Ortiz.

- O que está fazendo aqui, Soza? – perguntou seu superior. – E com... Esta senhorita?
- Esta é Isabel Vasquez e ela está colaborando conosco mediante uma única condição.
- Condição? Ela não está em condições de exigir nada, meu caro.
- Senhor – interferiu Isabel – Só quero que poupem meu irmão e que lhe dêem o direito de ter uma segunda chance. Ele foi manipulado por meu... Pelo General. O único responsável pelos negócios escusos é ele e não meu irmão.
- As evidências mostram que os dois estão enterrados até o pescoço com as acusações. – disse, analisando-a. – Por que eu confiaria em você?
- Por que tenho comigo provas suficientes para uma prisão perpétua para o General e só as entregarei se tiver a certeza de que meu pedido de clemência para Miguel será considerado.
Ortiz franziu o cenho, olhou enigmaticamente para Isabel e Rafael e, finalmente rompeu o silêncio.
- Está bem. Temos um trato. Agora me dê as provas de que está falando.
Rafael e ela se entreolharam e, após um assentimento de cabeça dele, Isabel abriu sua bolsa, retirou um pen drive e colocou-o nas mãos de Ortiz.
- Tem cópia disso? – perguntou ele a Isabel.
- Não.
Ele contraiu a boca num estranho sorriso.
- Aguardem um momento, por favor.
Assim que Ortiz deu as costas, Isabel voltou-se para Rafael com expressão preocupada.
- Eu já vi esse homem antes...
- Dizem que ele costuma circular nas altas rodas aqui de Santa Cruz.
- Não... Eu já o vi conversando com meu pai, em nossa casa. Já faz algum tempo...
- Com o seu pai?
- Tem certeza de que ele é confiável?
- Se não for, agora é tarde, pois você acabou de entregar a única cópia das provas contra o seu pai para ele.
- Quem disse? – disse ela remexendo na bolsa e retirando outro pen drive semelhante ao que confiara a Ortiz – Na minha família aprendemos a ser desconfiados desde o berço – referiu com um sorriso encantador nos lábios. – Que tal irmos embora daqui?
- Acho que está se precipitando. Tenho certeza que o Capitão Or...
Mal completara sua frase, dois guardas entraram na sala e solicitaram que os dois os acompanhassem. Rafael ficou em alerta.
- Onde está o Capitão? Ele pediu que o esperássemos aqui.
- Temos ordens para levá-los.
- Para onde?
Sem responder a pergunta, avançaram contra os dois para cumprir suas ordens à força.
Rafael colocou-se na frente de Isabel.
- Não vamos a lugar algum com vocês. Quero ver o Capitão agora!
- Pois ele mandou detê-los e é isso que faremos. Estamos apenas cumprindo ordens, Soza. É melhor que venham conosco em paz.
- Deter-nos? Como assim? Estou em cumprimento de meu dever...
Os homens partiram para cima de Rafael que reagiu contra o iminente ataque, jogando-se contra um dos homens, enquanto o outro partiu para prender Isabel. Esta lançou a bolsa contra a cabeça do militar fazendo-o tontear.
- O que carrega nessa bolsa? – indagou ele, ainda grogue com a pancada.
- Pedras! – respondeu e imediatamente deu outro golpe antes que o homem pudesse recuperar-se. Desta vez ele desmaiou.
Enquanto isso Rafael ainda lutava a socos e pontapés contra seu oponente. Isabel ao ver que o agente estava em dificuldades e em franca desvantagem, abaixou-se, procurando pela arma que o desacordado a seus pés devia ter. Logo descobriu o coldre na sua cintura e sacou a pistola. Levantou-se e fez mira.
- Pare com isso agora ou eu atiro! – gritou, paralisando quase que instantaneamente a luta.
- Moça, cuidado com essa arma. Você pode se machucar... – disse o soldado com o olho inchado por um dos socos recebidos de Rafael.
Ela destravou a pistola, preparando-se para atirar, diante do espanto dos dois homens.
- Eu fiz curso de tiro e meu alvo agora é você. – falou séria apontando para a cabeça do milico.
Aproveitando a distração do outro, Rafael pegou sua própria arma, que havia caído no chão durante a luta e deu-lhe uma coronhada violenta, deixando-o fora de combate definitivamente.
- Isabel, vamos. Rápido! – Enquanto via se o caminho estava livre fora da sala de Ortiz, quis esclarecer uma dúvida. – É sério que fez curso de tiro?
- Não, mas era a única maneira de fazê-lo parar para pensar um pouco.
Ele fechou os olhos, sorriu e agradeceu a Deus por ainda estar vivo e pela rapidez de raciocínio de Isabel.
- E as pedras na bolsa? É verdade?
- Por que você acha que ele está desmaiado até agora? – Lançou um olhar para onde tinha deixado o militar caído e viu um movimento – Ohoh... É melhor irmos, pois o efeito da pedrada já está passando.
Saíram pelo corredor em passos acelerados, sem correr para não atraírem muita atenção. Pelo jeito não havia nenhum alerta sobre os dois. Logo alcançaram a rua e correram até o Corolla cinza de Rafael.
- Para onde vamos agora? – perguntou Isabel aflita.
- Para o consulado americano. Temos que entrar em contato com a CIA, antes que o Ortiz coloque toda a polícia da cidade atrás de nós. Sabe-se lá o que ele pode inventar.
Entraram no carro, Rafael ligou o carro e partiram a toda a velocidade para o consulado.


Bryan dirigia como um louco pela estrada de chão batido que levava até o sítio indicado por Isabel. Mesmo sabendo que Isabel e Soza entrariam em contato com a polícia local, ele decidiu ligar para a Agência. Comunicou sobre todos os acontecimentos até o momento e sobre a sua suspeita de haver algum espião infiltrado. Soube que a van da CIA que vigiava a casa de Vasquez tinha sido atacada e fora encontrada num terreno baldio, com os agentes mortos. Já tinham um suspeito por esta armadilha e estavam empenhados em pegá-lo. Bryan mais uma vez foi repreendido por sua ação atual e avisado de que estaria sozinho nesse resgate.
- Sem problemas. Esse é mesmo um assunto pessoal. – respondeu ao seu superior no outro lado da linha e desligou.
Não conseguia evitar a comparação do que ocorrera três anos antes com o que estava acontecendo agora. Perdera sua esposa para um bando de terroristas. Ela também trabalhava para a Inteligência e ambos estavam envolvidos com o mesmo caso. Usaram-na como refém para realizar uma troca de prisioneiros. Na tentativa de resgatá-la, ela foi ferida mortalmente. Os assassinos foram presos e mortos, mas isso não foi suficiente para estancar o sofrimento, o imenso vazio e a sensação de culpa que deixaram marcas profundas no íntimo de Bryan. Agora, mais uma vez via-se envolvido com um maluco tentando roubar-lhe a única mulher que conseguira reacender a chama em seu coração, adormecida há três anos. Dessa vez não permitiria que a história se repetisse.



Não conseguia sentir os braços ou as pernas. Pareciam dormentes. A boca estava seca e com um terrível gosto amargo. Olhou a sua volta tentando reconhecer onde estava. Sentia-se como se estivesse de ressaca e muito confusa. Miguel...Onde estava ele? Lembrava que tinham saído a passeio. Ele chegou a levá-la até a Catedral de San Lorenzo, um dos principais monumentos históricos de Santa Cruz. Já a tinha visto por fora quando passeou com Isabel, mas Miguel fez questão de descer e visitá-la por dentro.

Catedral de San Lorenzo

Interior da Catedral
- Que tal casarmos aqui? Já pensou com ficaria linda toda decorada com rosas brancas e você entrando através desta nave indo ao meu encontro no altar? – fantasiou ele.
- Miguel... Teremos que conversar melhor a esse respeito. Muita coisa aconteceu nas últimas horas e você sabe disso.
- Nada vai atrapalhar meus planos, carinho. Você será minha... De uma maneira ou de outra. – afirmou fitando-a com olhar frio, num tom de voz cortante.
Júlia tremeu ao lembrar aquele ponto do passeio. Ficara preocupada quando ele a fez ajoelhar-se ao lado dele, diante do altar, e sussurrou algumas palavras incompreensíveis, como se estivesse rezando. Quando terminou, ajudou-a a levantar-se e deu-lhe um casto beijo na testa. Depois disso, foram até o carro e ele lhe disse que queria mostrar o sítio de sua família, que não era muito longe dali. Poucos metros adiante, estacionou o carro em uma rua deserta e pediu que ela saísse, pois queria mostrar-lhe algo. Ingenuamente, foi até onde ele estava. Enquanto tentava localizar o prédio para onde ele apontava, sentiu algo contra o rosto, uma forte pressão e um cheiro acre que lhe queimou as narinas.
Ele a havia sequestrado..., concluiu apavorada. Tentou mexer-se, mas reparou que estava com as mãos atadas por cordas nas laterais da cama sobre a qual estava deitada. Uma súbita náusea surgiu e seu estômago pareceu retorcer-se. Não saberia dizer se aquela ânsia era causada pelo pânico ou pelo clorofórmio usado para dominá-la. Respirou fundo várias vezes e tentou controlar o enjôo. Seus movimentos voltavam aos poucos e ela passou a sacudir os punhos, numa tentativa de afrouxar os nós que a prendiam.
- Já acordou, carinho? – a voz, antes aveludada, soou áspera e maliciosa, quando Miguel entrou no quarto.
- Por favor, Miguel, me desamarre. Por que está fazendo isso? Onde nós estamos?
- Eu já tinha dito a você. Estamos no sítio de minha família. Passaremos a nossa lua-de-mel aqui.
- O quê? – Ele enlouquecera?, pensou.
- Lembra que fomos a Igreja? Então... Estamos casados e agora poderemos realizar todos nossos desejos...
- Você enlouqueceu? Não estou casada nem nunca casarei com você!
- Agora é tarde... Deveria ter pensado nisso quando resolveu me trair com aquele agente da CIA.
- Eu não o traí com ninguém. Eu nem sabia que ele era um agente ou que você era um contrabandista! Vocês dois me usaram! Quero ir embora daqui! – Não resistindo mais a pressão, desatou a chorar desesperadamente. Além do medo de morrer naquele lugar desconhecido, longe de seu pai, chorava por sentir seu coração em frangalhos, enganada duplamente e levada aquela situação humilhante por dois homens sem escrúpulos. – Por favor, Miguel... Se você realmente me amava como dizia, me solte... Por favor... – implorou soluçando.
- Eu a amava sim, Júlia. – seu tom agora era de mágoa. – Queria casar com você, ter filhos, lhe dar tudo que você desejasse... Até descobrir sua traição. Descobrir que estava num complô para me destruir.
- Miguel, eu não sabia de nada. Juro! A CIA me usou para chegar até você sem eu saber. Tem que acreditar em mim.
- Agora não importa mais, carinho. O que importa é que estamos aqui, só nós dois e que você finalmente será minha.
Como um animal a espreita de sua presa, Miguel começou a acercar-se da cama, lentamente, como se sentisse prazer em provocar medo em Júlia.
- Se você permitir, posso ser bem carinhoso. Caso contrário... – os lábios se contraíram com escárnio.
Ele sentou-se na cama ao lado dela e levou a mão esquerda até seu rosto, afagando-a, enquanto a outra se espalmou contra o seu pescoço e começou a descer até os botões de sua blusa, arrancando-lhe um grito de repulsa.
- Não se atreva a me tocar! Eu quero sair daqui! – gritou corcoveando sobre a cama, tentando atingi-lo com as pernas livres.
- Só depois que tivermos nossa primeira noite de amor, carinho.


(continua...)


Oi!  Não queria terminar este capítulo nesse ponto, mas como tenho tentado colocar um capítulo a cada semana, hoje era o limite do prazo. Pretendo continuar escrevendo e finalizá-lo antes do fim de semana que vem, se conseguir racionalizar bem o meu tempo livre (e a inspiração estiver comigo...rsrsrs).
Aqui entre nós, eu não queria fazer o Miguel tão mau, mas ele resolveu perder a razão totalmente...Tadinho!? Será que o Bryan vai conseguir chegar a tempo?
Bem, sinto deixar vocês no meio dessa situação horrorosa com a Júlia, mas prometo que logo volto e resolvo isso...
Beijos!!








domingo, 8 de maio de 2011

Dia das Mães e Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo XIII



Inicio essa postagem com este vídeo com texto da Danuza Leão, na voz da Fernanda Montenegro. Achei lindo e faço dele a minha homenagem singela para todas as mamães ou, melhor ainda, para todas nós, mulheres do mundo, pois todas carregamos dentro de nós essa semente de amor incondicional.
UM FELIZ DIA DAS MÃES!


Agora, compartilho com vocês o 13º capítulo do meu romance. Espero que gostem...





Cerca de uma hora antes do encontro de Isabel e Soza, fora servido o almoço na mansão dos Vasquez. Apesar das tentativas de entabular uma conversa agradável por parte de Isabel, parecia que a tensão dos convivas, provocada pelo antagonismo entre Miguel e Bryan, era mais que evidente. O clima indigesto só foi temporariamente quebrado pelo aviso de um telefonema para o anfitrião, que deu um beijo na mão de Júlia e foi atender no gabinete. Depois de um tempo, que pareceu bastante longo, voltou à mesa com a notícia de que o pai voltaria para casa no dia seguinte. Em qualquer outro lar a volta do chefe da família depois de quase um mês de ausência provocaria regozijo entre os familiares. Porém, os Vasquez não pareciam ser uma família de padrões normais, já que nem mesmo seu primogênito, que seguia seus passos, demonstrou alegria ao saber da novidade. Rosário e sua filha mais pareciam ter recebido o anúncio de um falecimento. Quebrando o silêncio, minutos depois, Miguel dirigiu-se a Júlia.
- Que tal sairmos para que eu possa mostrar a cidade a você? – disse com voz aveludada lembrando o antigo homem que a encantara no Rio.
- Ontem a Isabel me levou para conhecer os pontos turísticos... – objetou Júlia.
- Vou levar você para conhecer outros lugares igualmente interessantes e que tenho certeza que Isabel não chegou a mostrar – interrompeu-a asperamente, não deixando dúvidas de que seu convite era uma ordem. – Além disso, podemos deixar o “Brad” na embaixada... – Errou propositalmente o nome de seu convidado.
- Bryan... sweet – corrigiu o próprio, suavizando com ironia no adjetivo. No fundo, ele não estava gostando do tom daquela conversa.
- Ah, sim. Bryan... Pois é. Enquanto levo minha noiva para passear, você tenta resolver o seu impasse no consulado americano. O que acham?
- É uma grande idéia, Mi! – Sentia prazer em irritar seu anfitrião.
- Miguel, por favor – retificou sem esconder que Bryan estava conseguindo seu intento..
- Está bem, Miguel. Vou adorar conhecer a cidade com você – concordou Júlia docemente, apesar de em seu íntimo continuar a temer a personalidade ambivalente de seu namorado. Não queria que os dois homens se engalfinhassem aos pés da mesa, o que aconteceria em breve se continuassem a trocar comentários.
- Estava com saudades, carinho... – falou colocando sua mão sobre a dela e olhando-a com amabilidade e algo mais que ela não conseguiu definir e que a fez arrepiar-se.
Este gesto fez Bryan contrair-se em ciúmes, de tal forma que acabou por morder a língua juntamente com o tenro pedaço de carne de cordeiro que acabara de colocar na boca. Por outro lado estava aliviado por Miguel ter decidido deixá-lo na embaixada, pois lá poderia planejar melhor sua ação para abrir o cofre do gabinete sem ser descoberto. Entrara na “fortaleza” sem um plano definido, pois quando ouviu Miguel maltratando Júlia, não pensou em mais nada a não ser em protegê-la. Por sorte durante a noite tivera a idéia maluca de passar-se por homossexual, o que livraria Júlia da suspeita de infidelidade e possivelmente facilitasse sua entrada na casa. Acabara por interromper a folga de Soza, pedindo-lhe que lhe trouxesse uma tiara e uma camiseta dois números menores do que usava normalmente. Preferiu nem perguntar aonde o policial conseguira aqueles artigos, principalmente depois de ver a estampa da tiara.
Logo após a sobremesa, Isabel pediu licença e disse que teria que sair para resolver “uns problemas”.

Com o cenho franzido e uma incômoda opressão no peito, Bryan viu Júlia partir com Miguel para o seu passeio turístico. Entrou no prédio do consulado e foi diretamente para o escritório da CIA que funcionavam no subsolo do prédio. Lá foi recebido pelo responsável pela operação que o esperava com a ótima notícia de que Juan, antes de ser descoberto, tinha enviado material com fotos que comprometiam Miguel e seu pai junto ao contrabando ilegal de armas. Parece que ele previra que seu disfarce não demoraria a ser descoberto. Contudo ainda lhes faltava documentação que comprovasse que eles eram os responsáveis pelo negócio, saber os contatos deles na Bolívia e em outros países e as ramificações de seus negócios. Sabiam da existência de uma fábrica onde eles produziam a coca e a maconha para serem comercializadas no exterior, além de possuírem vários bordéis em La Paz e no Paraguai onde suspeitavam do comércio de mulheres para prostituição. Bryan falou de sua preocupação com a segurança de Júlia, mas seus temores não eram compartilhados pela Agência. Foi orientado a abandonar a casa assim que tivesse os documentos em mão. Receberia cobertura dos homens que estavam vigiando a casa. Soza, que fazia parte da polícia local estaria esperando com sua viatura a postos para levá-lo embora dali.
Munido de equipamento para abrir qualquer que fosse o tipo de cofre e de uma arma de pequeno porte, mas com alto poder de fogo, saiu do consulado. Imaginava que a homofobia dos seguranças de Miguel os manteria a uma boa distância. Eles já o haviam revistado, quando não carregava nada além de sua performance, ao chegar na casa pela primeira vez. Agora, certamente não pensariam em revistá-lo de novo, com medo de receberem uma cantada do convidado de seu patrão.
Pegou um táxi e foi direto para a mansão. Comprovou a presença de Soza, que estava em seu posto de tocaia. Ao chegar confirmou suas suspeitas a respeito dos seguranças. Os dois responsáveis pela portaria torceram o nariz ao vê-lo retornando e nem aludiram uma revista.
A casa estava em silêncio. Miguel ainda não voltara e Rosário estava descansando, conforme informou a empregada que o atendera. Não viu Isabel, pois provavelmente ela ainda não voltara para casa. Bryan percebeu dentro destas circunstâncias a oportunidade ideal para verificar o cofre. Assegurou-se que nenhum vigia se encontrava no interior da casa e, assim que se viu sozinho, foi direto para o gabinete. Dirigiu-se diretamente para o quadro que mostrava o sóbrio retrato da família, logo atrás da grande e antiga escrivaninha. Certificou-se de que não havia detectores de movimento ou alarme externo. Ficou surpreso ao ver que era um simples cofre de residência, sem maiores aparatos de segurança. Com um pequeno detector de segredo que recebera na Agência, conseguiu facilmente abri-lo. Revirou os papéis no interior da caixa, mas não achou nada que pudesse complicar pai ou filho. Precisava de mais tempo para procurar no resto da casa. Tinha certeza que poderia encontrar por ali os documentos de que necessitava para prender a dupla. Quando acabou de ajeitar o quadro na parede, a porta do gabinete se abriu e Gomez entrou com cara de pouquíssimos amigos. Nos poucos segundos que teve, entre o ruído da porta e a entrada do segurança Bryan colocou-se diante da estante de livros como que a procurar um exemplar para leitura.
- Ai, que susto! – Falou espalhafatoso, enquanto colocava a mão sobre o peito – Tudo bem? Talvez você possa me ajudar a achar algo para ler. – disse piscando os olhos para o carrancudo, que continuou a olhá-lo fixamente sem demonstrar intenção de responder – É... Talvez você não possa me ajudar – finalizou como se estivesse desconsolado.
Gomez movimentou-se em sua direção e, sem aviso, pegou-o pelo pescoço.
- Você vem comigo – disse a voz gutural. Apesar do rosto continuar impassível, a cicatriz que o marcava parecia mais saliente que nunca.
- Ei, o que é que há, amigo? – indagou Bryan com a voz quase inaudível pela compressão em suas cordas vocais.
- Não sou seu amigo e tenho ordens para levá-lo.
- Levar para onde?
Diante da ferocidade com que estava sendo atacado, Bryan não teve outro jeito senão combater seu oponente. Com um soco poderoso, que atingiu em cheio o fígado do brutamontes, iniciou-se uma luta ferrenha entre os dois homens. Quando menos esperava Bryan foi atingido por um gancho de direita que o fez sentir o gosto de seu sangue. Ainda um pouco tonto com a violência do punho pegou uma pesada cadeira e mirou a cabeça de Gomez, acertando-a em cheio. O troglodita parecia feito de pedra pois pareceu mal ter sentido o impacto do móvel. Logo voltou a atacar o americano, jogando-se sobre ele com as mãos novamente em seu pescoço, tentando sufocá-lo. Enquanto lutava desesperadamente para respirar debatendo-se, viu caído no chão ao seu alcance uma pesada estatueta de bronze que provavelmente fora arremessada ali durante a luta. Juntando suas últimas forças, pegou o objeto e golpeou duramente Gomez na cabeça. Os dedos em sua garganta afrouxaram-se e o “monstrengo” caiu sobre Bryan desfalecido. Isabel surgiu com seus grandes olhos arregalados na entrada do gabinete, que agora estava semidestruído.
- Oh, Dios mio! – entrou correndo, desviando dos móveis e livros caídos – Está ferido?
- Não... Foi apenas uma discussão por divergências pessoais – Apesar de surpreso, tentou gracejar enquanto se livrava do peso sobre seu corpo.
- Puxa, Bryan... Até que para um gay você é bem forte...
Ele se levantou sentindo o corpo dolorido e imaginando como agiria em relação a Isabel, mas logo ela voltou a falar.
- É melhor sairmos logo daqui antes que o “fofinho” acorde. O Soza está esperando lá fora.
- O quê? – exclamou.
- Eu sei quem são vocês. Não posso explicar agora, pois logo isso aqui vai encher de outros “gorilas”. Vamos sair antes que eles descubram que o chefe deles foi abatido por um maricón.
Isabel olhou pela abertura e, como não visse ninguém, fez sinal para que Bryan a seguisse. Ainda confuso com a interferência da garota, seguiu-a pelos fundos da casa. Como se nada houvesse acontecido, foram até o estacionamento e entraram no Smart. Com facilidade e um aceno passaram pelos seguranças. Ao passarem pela rua onde Soza estava estacionado, ela fez um sinal e ele passou a segui-los. Quando já se encontravam a uma boa e segura distância da “fortaleza”, Isabel estacionou o carro e virou-se para Bryan.
- Você precisa ajudar a Júlia. Ela está correndo perigo.
- Como assim?
- Quando voltei para casa, antes de vocês saírem, ouvi Miguel conversando com Gomez e dando instruções para que ele o pegasse assim que retornasse. Falou que o deixaria no consulado para não levantar suspeitas da CIA. Então ele disse que estaria esperando Gomez no sítio que temos no Chaco, a alguns quilômetros daqui. Falou que “Júlia e você teriam o tratamento que mereciam” – ao dizer essas palavras, os olhos de Isabel turvaram-se e ela teve dificuldade em prosseguir falando. Respirou fundo e continuou – Sei que deve estar se perguntando por que estou ajudando vocês. Meu motivo principal é o meu desejo de que o General seja preso e que joguem as chaves da cela no fundo do mar. Eu ainda tinha esperanças que meu irmão pudesse ser salvo, mas o que ele está pretendendo fazer com Júlia e com você me mostrou que ele tem poucas chances de se recuperar sem um tratamento.
- Como ele soube da minha ligação com a CIA? – perguntou aflito.
- Deve ter algo a ver com o telefonema que ele recebeu durante o almoço, pois notei a mudança de atitude dele depois daquilo. Pensei que o motivo fosse a volta do General, mas o convite para o passeio me fez desconfiar de algo mais.
Nesse instante Soza surgiu esbaforido na janela do Smart.
- Está ferido? – Preocupou-se ao notar o hematoma que começava a surgir na face e o corte no lábio inferior de Bryan.
- Nada de mais...
- E então? Já explicou para ele o que vamos que fazer? – dirigiu-se a Isabel.
- Eu tenho as provas que incriminam o General. – afirmou ela – Quando soube que ele estava voltando decidi tomar uma atitude. Conto com o auxílio de vocês para dar um fim no sofrimento de minha mãe.
- Soza, que história é essa?
- A Isabel, por motivos pessoais bastante plausíveis, quer nos ajudar. Ela está disposta a nos entregar as provas contra o pai caso ajudemos o irmão.
- Quero que me garantam que não vão matar o Miguel. Ele também é uma vítima e precisa se tratar. Ele não é mal...
- Está bem, Isabel. – interrompeu-a nervoso e ansioso por ir atrás de Júlia – Já entendi. Prometo que farei de tudo para não feri-lo, mas me diga como eu chego nesse sítio.
- Você não é gay, não é? E está gostando da Júlia...
- Isso não interessa agora. Me diga como encontrá-la, por favor.
- Isabel, pense no quanto Miguel pode machucar a Júlia assim como seu pai machucou sua mãe e você. – disse Soza persuadindo-a a revelar mais rapidamente o local para onde Júlia fora levada. Sabia e entendia da sua resistência por causa do irmão.
As lágrimas e o sofrimento no rosto da jovem voltaram a surgir provocando a mortificação no coração de Soza, que ouvira a descrição sumária dos tormentos provocados pelo monstro que era Vasquez, o General.
- Desculpe. – disse Isabel com voz entrecortada – Eu não quero que nada de mal aconteça a Júlia. Ela é uma ótima pessoa... Vou lhe dizer como encontrá-los.
Pegou um bloco de anotações de dentro do porta-luvas e, enquanto fazia um pequeno mapa detalhando como chegar ao sítio da família, Soza continuou a explicar seu plano. Pretendia levar o material incriminador até o seu chefe da polícia, conforme as ordens que recebera, que se encarregaria de entregá-los à CIA.
- Por que não entrega diretamente ao pessoal que está no outro furgão vigiando a casa? Eles podem fazer isso, pois são da Agência.
- Tenho que cumprir minhas ordens.
- Está bem. – Voltou o olhar para o mapa que Isabel lhe oferecia e passou a dar atenção às suas explicações.
Na cabeça de Bryan, além da preocupação em partir imediatamente, estava a curiosidade em saber o teor do telefonema que Miguel recebera e quem teria dado informações sobre ele. Suspeitava de alguma traição. Contudo, não havia muito tempo para isso agora. O importante era correr para chegar a tempo de impedir que aquele psicopata fizesse algum mal a Júlia.

(continua...)
 




Gostaram? Parece que ainda vai demorar para que a Júlia possa ficar com o Bryan. Será que eles vão conseguir ficar numa boa depois de tanta mentira e confusão? Aguardem os próximos capítulos...rsrsrs.
Eu e os seriados de antigamente... Obrigada pela paciência de todos vocês.
Beijos!!


domingo, 1 de maio de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo XII



- O que quer aqui?
Bryan empurrou-a com delicadeza para trás, deu mais uma olhada no corredor e fechou a porta.
- Percebi que está chateada comigo e com razão...– Logo notou a umidade sob os olhos vermelhos e se aproximou - ... Andou chorando?
- Não ouviu na sua escuta? – insinuou magoada, fugindo das mãos que tentavam alcançá-la para consolar. – Não me toque. Não precisa tentar me conquistar para conseguir mais informações sobre o seu “suspeito”.
- Júlia... – conseguiu segurar seus braços e forçá-la a olhar para ele – Eu não tentei conquistá-la para obter informações. – falou incisivo – Eu realmente fiquei atraído por você. Por favor, acredite em mim.
- Por que devo acreditar em você e não em Miguel? Quem me garante que você não é algum bandido querendo roubá-lo e inventou essa história toda para chegar aqui e abrir o cofre para roubá-lo.
Ele a soltou e olhou-a entristecido.
- A opção é sua... Gostaria de tê-la conhecido em outra situação e não tenho desculpas para ter agido como agi. É o meu trabalho. Não estava nos meus planos gostar de você.
Ela engoliu em seco ao ouvir aquilo.
- Eu acredito em você – disse alguns longos segundos depois, com a voz trêmula – Só que precisa entender a confusão em que está minha cabeça com as revelações que você me fez e por estar descobrindo que o homem que eu pensava amar está se revelando outra pessoa completamente diferente daquela que achei que conhecia.
- Júlia... – sussurrou, lutando contra a vontade de abraçá-la. Precisava esfriar a cabeça e pensar apenas na missão que tinha pela frente. Se ele falhasse, isso poderia ser mortal, da mesma forma que tinha sido para Juan. Tendo conhecido a ficha de Miguel, ou Lito, como era conhecido entre seus “funcionários”, temia pela segurança de Júlia. O cara era um psicopata. Mesmo que ele a considerasse inocente nessa história toda, não demoraria a se revelar como o mau caráter que era. Tinha que descobrir as provas para incriminá-lo e enviá-lo para a prisão o mais rápido possível.
Ambos sofreram um sobressalto quando ouviram a batida forte na porta. Júlia hesitante andou até a porta,
que abriu com um falso sorriso nos lábios. Então, para seu alívio, deparou-se com uma das empregadas da casa.
- Senhorita. O almoço está servido...
- Já vou. Obrigada. – Fechou a porta e virou-se para Bryan – É melhor descermos antes que Miguel venha pessoalmente nos chamar.


Soza tinha acabado de engolir o último pedaço de seu almoço, um sanduíche de frango, e estava a postos observando ao longe a casa dos Vasquez, ligado por uma escuta a van de apoio que se encontrava em outra rua transversal. Fora enviada ao local pelo comando para dar cobertura ao maluco do Phillips que resolvera entrar na casa, a despeito de todas as negativas de seus superiores. Ele acabara por convencê-los, na noite anterior, que precisavam invadir o cofre de Miguel Vasquez para conseguir as provas necessárias para trancafiá-lo na cadeia. Isso acabou com o seu descanso e com a esperança de continuar seu último relacionamento. Mal havia chegado à casa da namorada, com um pedido de desculpas, quando foi chamado a retornar. O que recebeu dela foram uma porta na cara e a ordem de não aparecer mais por lá. Ainda bem que não estava tão apaixonado assim, pensou. Deu de ombros e voltou para sua tocaia. Já se passavam quatro semanas desde que recebera o encargo de vigiar a mansão. Tinha apenas uma folga de 12 horas a cada três dias, quando era substituído por um colega. Até Phillips passar a acompanhá-lo naquele trabalho, como supervisor, nada tinha sido detectado de anormal, a não ser o excesso de vigilância, o que era esperado no caso de milionários como aqueles. A única coisa que tornava a sua tocaia menos chata eram os momentos em que a linda jovem, dona do Smart pink, saia através dos portões. Depois da primeira semana ela notou a sua presença e, sempre que passava por ele, abanava ou jogava um beijo. Pensou em avisar o comando, mas ela parecia inofensiva. Além do que, nenhum dos “gorilas” que cuidavam da segurança da casa tinha aparecido para tirar satisfações sobre a sua presença ali. Agora sabia que ela se chamava Isabel e era irmã do “mafioso”.
- E então, bonitão? O que você faz aí parado?
Soza deu um pulo no assento do carro, batendo com a cabeça no teto e deixando cair o copo de isopor com café em sua roupa. Por sorte ele já estava frio.
- O quê? Ai!... - gemeu com a dor na cabeça, pois batera na parte dura do capô.
Ela soltou uma risada tão gostosa que até o fez esquecer da dor.
- Desculpe se o assustei... O café estava quente?
- N-não... É... Você me assustou.
- Você é um dos policiais que vigia a nossa casa, não?
- C-como? Não, claro que não. Que casa? – respondeu confuso, procurando uma desculpa para sua presença ali. – Qual é a sua casa?
- Vai dizer que não sabe? – estreitou as pálpebras com ironia – Está bem. Entendo que é o seu trabalho. Pode me dar uma carona?
- O quê? – exclamou mais surpreso ainda.
- Meu carro ficou sem gasolina e preciso ir até um posto para comprar combustível – explicou, mostrando um pequeno galão na mão direita. Sem esperar por sua resposta, deu a volta no carro e entrou sem acanhamento, sentando-se ao seu lado – Vamos?
- Olhe aqui, senhorita... Eu estou a trabalho, como você mesma falou.
- Vigiando a minha casa.
- Não... Sou detetive particular e estou vigiando aquela casa... Ali – disse apontando para outra mansão que ficava no quarteirão defronte a “fortaleza” onde ela morava.
- Sério? Por quê?
- Não lhe interessa – tremeu ao sentir os grandes e curiosos olhos negros sobre ele. –Quer fazer o favor de sair? Está atrapalhando meu trabalho.
- Se você é detetive, trabalha por conta própria, não?
- Sim. – afirmou categórico, mantendo a mentira que conseguira improvisar.
- Então pode dar um tempinho e ajudar uma pobre garota indefesa a buscar combustível, não? – dizendo isso se virou de frente para a rua, como que aguardando a partida do carro.
Ele não sabia o que fazer. Ela era desconcertante, além de muito atraente. Talvez o melhor a fazer fosse fazer o que ela queria para não levantar suspeitas.
- Onde você mora? – fez-se de rogado, elevando a sobrancelha esquerda.
Ela sorriu de um jeito cativante.
- Vai dizer que não sabe?
- Se mora onde eu acho que mora, você deve ter muitos “auxiliares” que podem ajudá-la no seu problema de falta de combustível.
Isabel encarou-o séria, deixando-o encabulado.
- Como é o seu nome? – perguntou abruptamente.
- Por que quer saber? – O instinto de defesa quanto a sua identidade falou mais alto.
- Já nos conhecemos há quase quatro semanas e ainda não sei o seu nome.
- Nos conhecemos?
- Ora, tenho-o cumprimentado diariamente neste período, apesar de você se fazer de sonso e olhar para o outro lado.
- Rafael. – acabou por dizer esboçando um meio sorriso. Ela era adorável, apesar de ser irmã de quem era. Saberia algo sobre o trabalho ilegal do irmão ou do pai?
- Muito prazer. Isabel – Surpreendeu-o sapecando-lhe um beijo na bochecha. – Vamos?
Enquanto Rafael Soza dirigia até o posto de combustível mais próximo, era atentamente observado por Isabel, coisa que começava a deixá-lo nervoso.
- Ficou algum resto do frango do meu almoço estampado na minha cara? – perguntou irritado, olhando-a de soslaio.
- Não. – ela respondeu rindo – Por que?
- Não gosto que fiquem me analisando enquanto eu dirijo.
- É que estou pensando o que leva uma pessoa a ter um trabalho como o seu.
- O que tem ele?
- Ora, ficar bisbilhotando a vida dos outros.
Sentiu que ela estava implicando com ele, provavelmente a procura da verdade, pois parecia inteligente o bastante para não cair na história de detetive inventada por ele.
- É um meio de ganhar a vida.
- Você já prendeu alguém? – Mais uma pergunta inesperada.
- Detetives particulares não prendem ninguém.
- Olha, Rafael... Você é uma gracinha, mas não precisa mentir para mim. Eu sei que você é da polícia e está rondando a minha casa por causa dos negócios de meu pai.
Ele quase freou o carro, mas conseguiu manter a calma aparente e entrar no posto de gasolina que surgira momentos antes. Estacionou e virou-se para Isabel.
- Você tem uma imaginação bem fértil, menina... – disse debochado. – Vou conseguir a sua gasolina e voltaremos para sua casa.
Ela o segurou pelo braço antes que ele saísse.
- Não me chame de menina. – A entonação de sua voz deixara de ser pueril e a expressão tornara-se mais dura – Eu não preciso de gasolina. Queria apenas falar com você e dizer que meu irmão não tem nada a ver com isso. São negócios do meu pai. Meu irmão é advogado e ganha sua vida honestamente. Diga aos seus superiores que prendam o velho. Ele deve estar chegando em breve. Aliás, vai ser um favor que vocês fazem a minha família prendendo aquele miserável.
Rafael comoveu-se com desespero evidente principalmente nas últimas palavras de Isabel. Por que a raiva contra o pai? Será que ela realmente acreditava que o irmão era inocente?
- Isabel, eu já disse que ...
- Eu sei o que você disse e não acreditei em uma só palavra. Também sei que o Bryan é um de vocês. Eu posso ajudá-los desde que não façam nada contra meu irmão.
Rafael ficou surpreso com a afirmativa sobre Bryan e admirou a perspicácia dela. Pensou um pouco. Uma ajuda de dentro, nesse caso seria muito bom. Contudo, até onde poderia confiar nessa garota? Ter uma quedinha por ela não era o suficiente para por em risco a missão. Olhou-a atentamente, como se fosse possível sondar sua mente e, só então, resolveu arriscar um pouco.
- Isabel, não sei exatamente a respeito de que você está falando, mas pelo que pude entender você entregaria seu pai à justiça desde que seu irmão fosse inocentado?Não que eu tenha algo a ver com essa história, mas fico curioso sobre os motivos que fazem uma filha odiar o próprio pai.
Isabel jogou a cabeça para trás, descansando-a no encosto de couro para a cabeça, fechou os olhos e soltou um suspiro tristonho.
- Eu entendo que você não queira abrir o jogo comigo, pois não pode confiar, pois sou filha do bandido... Mas vou lhe contar os meus motivos. Talvez isso o faça acreditar no que digo.

(continua...)
 
 

Gostaria de me desculpar por ter demorado tanto a escrever esse post, mas minha semana foi péssima. A inspiração para terminar de escrever esse capítulo e conseguir definir o enredo até o final (que eu ainda não tinha definido - coisas de novelista...rsrsrs) veio só na quarta-feira. Daí a escrever foi por pura falta de tempo e probleminhas como filhos resfriados, imposto de renda (que é claro, como a grande maioria dos brasileiros, deixamos para a última hora) e otras cositas más, como diria a Isabel.
Falando em Isabel, respondendo tardiamente à Nadja, que perguntou num comentário em 16 de Abril se o nome tinha a ver com a Isabel Allende, eu direi que sim. Pensei neste nome lembrando daquela grande figura.
ADOREI os comentários do XIº capítulo. Obrigada à Cris, Taty , Aline e Léia ( que sempre me deixam o astral nas nuvens com seus elogios), ao Luiz Fernando ( que não precisa agradecer pela propaganda mais que merecida de seu blog) e à Leitora (ou Brih), que aceitou tão simpaticamente o meme que lhe enviei.
São palavras como essas que me colocam para cima e me dão ânimo para continuar.
Sobre Pelo de Punta - confesso que quando comecei a escrevê-la imaginava uma história de ação e com muitas cenas hot entre a Júlia e o Bryan. Porém, como já falei antes,  algumas vezes o roteiro sai fora de controle e parece que os personagens tomam as rédeas da ação. É mais ou menos o que está acontecendo aqui. Espero que continuem acompanhando esse meu delírio em meio a agentes da CIA, policiais e contrabandistas, prometendo que não vou deixar o romance entre a Júlia e o Bryan morrer. Aliás, até estou pensando em colocar um segundo casal na jogada...rsrsrs... Mas só um pouquinho.
Antes que eu me esqueça, PARABÉNS PELO DIA DO TRABALHADOR!
Beijos a todos vocês que me acompanham, comentando ou simplesmente lendo minhas invenções.
Até mais!