- O que quer aqui?
Bryan empurrou-a com delicadeza para trás, deu mais uma olhada no corredor e fechou a porta.
- Percebi que está chateada comigo e com razão...– Logo notou a umidade sob os olhos vermelhos e se aproximou - ... Andou chorando?
- Não ouviu na sua escuta? – insinuou magoada, fugindo das mãos que tentavam alcançá-la para consolar. – Não me toque. Não precisa tentar me conquistar para conseguir mais informações sobre o seu “suspeito”.
- Júlia... – conseguiu segurar seus braços e forçá-la a olhar para ele – Eu não tentei conquistá-la para obter informações. – falou incisivo – Eu realmente fiquei atraído por você. Por favor, acredite em mim.
- Por que devo acreditar em você e não em Miguel? Quem me garante que você não é algum bandido querendo roubá-lo e inventou essa história toda para chegar aqui e abrir o cofre para roubá-lo.
Ele a soltou e olhou-a entristecido.
- A opção é sua... Gostaria de tê-la conhecido em outra situação e não tenho desculpas para ter agido como agi. É o meu trabalho. Não estava nos meus planos gostar de você.
Ela engoliu em seco ao ouvir aquilo.
- Eu acredito em você – disse alguns longos segundos depois, com a voz trêmula – Só que precisa entender a confusão em que está minha cabeça com as revelações que você me fez e por estar descobrindo que o homem que eu pensava amar está se revelando outra pessoa completamente diferente daquela que achei que conhecia.
- Júlia... – sussurrou, lutando contra a vontade de abraçá-la. Precisava esfriar a cabeça e pensar apenas na missão que tinha pela frente. Se ele falhasse, isso poderia ser mortal, da mesma forma que tinha sido para Juan. Tendo conhecido a ficha de Miguel, ou Lito, como era conhecido entre seus “funcionários”, temia pela segurança de Júlia. O cara era um psicopata. Mesmo que ele a considerasse inocente nessa história toda, não demoraria a se revelar como o mau caráter que era. Tinha que descobrir as provas para incriminá-lo e enviá-lo para a prisão o mais rápido possível.
Ambos sofreram um sobressalto quando ouviram a batida forte na porta. Júlia hesitante andou até a porta,
que abriu com um falso sorriso nos lábios. Então, para seu alívio, deparou-se com uma das empregadas da casa.
- Senhorita. O almoço está servido...
- Já vou. Obrigada. – Fechou a porta e virou-se para Bryan – É melhor descermos antes que Miguel venha pessoalmente nos chamar.
Soza tinha acabado de engolir o último pedaço de seu almoço, um sanduíche de frango, e estava a postos observando ao longe a casa dos Vasquez, ligado por uma escuta a van de apoio que se encontrava em outra rua transversal. Fora enviada ao local pelo comando para dar cobertura ao maluco do Phillips que resolvera entrar na casa, a despeito de todas as negativas de seus superiores. Ele acabara por convencê-los, na noite anterior, que precisavam invadir o cofre de Miguel Vasquez para conseguir as provas necessárias para trancafiá-lo na cadeia. Isso acabou com o seu descanso e com a esperança de continuar seu último relacionamento. Mal havia chegado à casa da namorada, com um pedido de desculpas, quando foi chamado a retornar. O que recebeu dela foram uma porta na cara e a ordem de não aparecer mais por lá. Ainda bem que não estava tão apaixonado assim, pensou. Deu de ombros e voltou para sua tocaia. Já se passavam quatro semanas desde que recebera o encargo de vigiar a mansão. Tinha apenas uma folga de 12 horas a cada três dias, quando era substituído por um colega. Até Phillips passar a acompanhá-lo naquele trabalho, como supervisor, nada tinha sido detectado de anormal, a não ser o excesso de vigilância, o que era esperado no caso de milionários como aqueles. A única coisa que tornava a sua tocaia menos chata eram os momentos em que a linda jovem, dona do Smart pink, saia através dos portões. Depois da primeira semana ela notou a sua presença e, sempre que passava por ele, abanava ou jogava um beijo. Pensou em avisar o comando, mas ela parecia inofensiva. Além do que, nenhum dos “gorilas” que cuidavam da segurança da casa tinha aparecido para tirar satisfações sobre a sua presença ali. Agora sabia que ela se chamava Isabel e era irmã do “mafioso”.
- E então, bonitão? O que você faz aí parado?
Soza deu um pulo no assento do carro, batendo com a cabeça no teto e deixando cair o copo de isopor com café em sua roupa. Por sorte ele já estava frio.
- O quê? Ai!... - gemeu com a dor na cabeça, pois batera na parte dura do capô.
Ela soltou uma risada tão gostosa que até o fez esquecer da dor.
- Desculpe se o assustei... O café estava quente?
- N-não... É... Você me assustou.
- Você é um dos policiais que vigia a nossa casa, não?
- C-como? Não, claro que não. Que casa? – respondeu confuso, procurando uma desculpa para sua presença ali. – Qual é a sua casa?
- Vai dizer que não sabe? – estreitou as pálpebras com ironia – Está bem. Entendo que é o seu trabalho. Pode me dar uma carona?
- O quê? – exclamou mais surpreso ainda.
- Meu carro ficou sem gasolina e preciso ir até um posto para comprar combustível – explicou, mostrando um pequeno galão na mão direita. Sem esperar por sua resposta, deu a volta no carro e entrou sem acanhamento, sentando-se ao seu lado – Vamos?
- Olhe aqui, senhorita... Eu estou a trabalho, como você mesma falou.
- Vigiando a minha casa.
- Não... Sou detetive particular e estou vigiando aquela casa... Ali – disse apontando para outra mansão que ficava no quarteirão defronte a “fortaleza” onde ela morava.
- Sério? Por quê?
- Não lhe interessa – tremeu ao sentir os grandes e curiosos olhos negros sobre ele. –Quer fazer o favor de sair? Está atrapalhando meu trabalho.
- Se você é detetive, trabalha por conta própria, não?
- Sim. – afirmou categórico, mantendo a mentira que conseguira improvisar.
- Então pode dar um tempinho e ajudar uma pobre garota indefesa a buscar combustível, não? – dizendo isso se virou de frente para a rua, como que aguardando a partida do carro.
Ele não sabia o que fazer. Ela era desconcertante, além de muito atraente. Talvez o melhor a fazer fosse fazer o que ela queria para não levantar suspeitas.
- Onde você mora? – fez-se de rogado, elevando a sobrancelha esquerda.
Ela sorriu de um jeito cativante.
- Vai dizer que não sabe?
- Se mora onde eu acho que mora, você deve ter muitos “auxiliares” que podem ajudá-la no seu problema de falta de combustível.
Isabel encarou-o séria, deixando-o encabulado.
- Como é o seu nome? – perguntou abruptamente.
- Por que quer saber? – O instinto de defesa quanto a sua identidade falou mais alto.
- Já nos conhecemos há quase quatro semanas e ainda não sei o seu nome.
- Nos conhecemos?
- Ora, tenho-o cumprimentado diariamente neste período, apesar de você se fazer de sonso e olhar para o outro lado.
- Rafael. – acabou por dizer esboçando um meio sorriso. Ela era adorável, apesar de ser irmã de quem era. Saberia algo sobre o trabalho ilegal do irmão ou do pai?
- Muito prazer. Isabel – Surpreendeu-o sapecando-lhe um beijo na bochecha. – Vamos?
Enquanto Rafael Soza dirigia até o posto de combustível mais próximo, era atentamente observado por Isabel, coisa que começava a deixá-lo nervoso.
- Ficou algum resto do frango do meu almoço estampado na minha cara? – perguntou irritado, olhando-a de soslaio.
- Não. – ela respondeu rindo – Por que?
- Não gosto que fiquem me analisando enquanto eu dirijo.
- É que estou pensando o que leva uma pessoa a ter um trabalho como o seu.
- O que tem ele?
- Ora, ficar bisbilhotando a vida dos outros.
Sentiu que ela estava implicando com ele, provavelmente a procura da verdade, pois parecia inteligente o bastante para não cair na história de detetive inventada por ele.
- É um meio de ganhar a vida.
- Você já prendeu alguém? – Mais uma pergunta inesperada.
- Detetives particulares não prendem ninguém.
- Olha, Rafael... Você é uma gracinha, mas não precisa mentir para mim. Eu sei que você é da polícia e está rondando a minha casa por causa dos negócios de meu pai.
Ele quase freou o carro, mas conseguiu manter a calma aparente e entrar no posto de gasolina que surgira momentos antes. Estacionou e virou-se para Isabel.
- Você tem uma imaginação bem fértil, menina... – disse debochado. – Vou conseguir a sua gasolina e voltaremos para sua casa.
Ela o segurou pelo braço antes que ele saísse.
- Não me chame de menina. – A entonação de sua voz deixara de ser pueril e a expressão tornara-se mais dura – Eu não preciso de gasolina. Queria apenas falar com você e dizer que meu irmão não tem nada a ver com isso. São negócios do meu pai. Meu irmão é advogado e ganha sua vida honestamente. Diga aos seus superiores que prendam o velho. Ele deve estar chegando em breve. Aliás, vai ser um favor que vocês fazem a minha família prendendo aquele miserável.
Rafael comoveu-se com desespero evidente principalmente nas últimas palavras de Isabel. Por que a raiva contra o pai? Será que ela realmente acreditava que o irmão era inocente?
- Isabel, eu já disse que ...
- Eu sei o que você disse e não acreditei em uma só palavra. Também sei que o Bryan é um de vocês. Eu posso ajudá-los desde que não façam nada contra meu irmão.
Rafael ficou surpreso com a afirmativa sobre Bryan e admirou a perspicácia dela. Pensou um pouco. Uma ajuda de dentro, nesse caso seria muito bom. Contudo, até onde poderia confiar nessa garota? Ter uma quedinha por ela não era o suficiente para por em risco a missão. Olhou-a atentamente, como se fosse possível sondar sua mente e, só então, resolveu arriscar um pouco.
- Isabel, não sei exatamente a respeito de que você está falando, mas pelo que pude entender você entregaria seu pai à justiça desde que seu irmão fosse inocentado?Não que eu tenha algo a ver com essa história, mas fico curioso sobre os motivos que fazem uma filha odiar o próprio pai.
Isabel jogou a cabeça para trás, descansando-a no encosto de couro para a cabeça, fechou os olhos e soltou um suspiro tristonho.
- Eu entendo que você não queira abrir o jogo comigo, pois não pode confiar, pois sou filha do bandido... Mas vou lhe contar os meus motivos. Talvez isso o faça acreditar no que digo.
(continua...)
Gostaria de me desculpar por ter demorado tanto a escrever esse post, mas minha semana foi péssima. A inspiração para terminar de escrever esse capítulo e conseguir definir o enredo até o final (que eu ainda não tinha definido - coisas de novelista...rsrsrs) veio só na quarta-feira. Daí a escrever foi por pura falta de tempo e probleminhas como filhos resfriados, imposto de renda (que é claro, como a grande maioria dos brasileiros, deixamos para a última hora) e otras cositas más, como diria a Isabel.
Falando em Isabel, respondendo tardiamente à Nadja, que perguntou num comentário em 16 de Abril se o nome tinha a ver com a Isabel Allende, eu direi que sim. Pensei neste nome lembrando daquela grande figura.
ADOREI os comentários do XIº capítulo. Obrigada à Cris, Taty , Aline e Léia ( que sempre me deixam o astral nas nuvens com seus elogios), ao Luiz Fernando ( que não precisa agradecer pela propaganda mais que merecida de seu blog) e à Leitora (ou Brih), que aceitou tão simpaticamente o meme que lhe enviei.
São palavras como essas que me colocam para cima e me dão ânimo para continuar.
Sobre Pelo de Punta - confesso que quando comecei a escrevê-la imaginava uma história de ação e com muitas cenas hot entre a Júlia e o Bryan. Porém, como já falei antes, algumas vezes o roteiro sai fora de controle e parece que os personagens tomam as rédeas da ação. É mais ou menos o que está acontecendo aqui. Espero que continuem acompanhando esse meu delírio em meio a agentes da CIA, policiais e contrabandistas, prometendo que não vou deixar o romance entre a Júlia e o Bryan morrer. Aliás, até estou pensando em colocar um segundo casal na jogada...rsrsrs... Mas só um pouquinho.
Antes que eu me esqueça, PARABÉNS PELO DIA DO TRABALHADOR!
Beijos a todos vocês que me acompanham, comentando ou simplesmente lendo minhas invenções.
Até mais!
Oiiii Rô!!!
ResponderExcluirEstou empolgadíssima com o romance amiga, fico numa tensão quando Bryan e Júlia estão juntos nessa casa, parece que a qualquer momento vai entrar um bandido e flagrar os dois, mas não vejo a hora de eles se "entenderem", rsrsrs.
Amei a homenagem à Isabel Allende, ela é mesmo uma grande mulher e a sua Isabel, assim como a homonageada, tem uma personalidde forte e é uma mulher destemida.
Então quer dizer que os personagens estão pegando as rédeas? Acho que isso é típico dos grandes escritores.
Por falar em grandes escritores, quando você pretende publicar outro livro? e qual será? Adoro todos os teus romances, mas tenho uma verdadeira paixão por "Um Amor no Deserto", suspiro só de lembrar, rsrsr.
Beijos amiga e que a tua semana seja mais tranquila!
Nadja! Muito obrigada pelo comentário. Como sempre fico contentíssima em saber que as minhas aventuras estão agradando. Obrigada principalmente pelo "grandes escritores".Quem me dera...rsrsrs
ResponderExcluirQuanto a próxima publicação, pode ter certeza que será "Um Amor no Deserto", pois tb é um dos meus preferidos. Só está faltando uma pequena revisão e resolver um problema com o meu Office que não está editando em PDF. Não sei o que houve. O meu computador já teve que ser formatado umas quatro vezes esse ano e a cada vez fica com um probleminha. É fogo.
Agradeço pelos votos de uma semana mais tranquila. Tomara, pois nesta última quase entrei em surto.
Beijos,querida!
Que felicidade!!!!!
ResponderExcluir"Um Amor no Deserto" em livro!!!
Vai vender muiiiiiitoooo.
Beijos!
Olá! Rosane, estou achando ótima essa sua história. Nem precisa agradecer os cometários, sao frutos de verdadeira admiração e vc merece!
ResponderExcluirFico feliz em saber q vc vai publicar de novo. Uma pena minha total falta de grana, pois gostaria de comprar TODOS de uma só vez. Ainda nem pedi o meu da promoção para enviar para a CArla. E nem o dela, falando nisso... Como vc disse no meu blog, estou realmente precisando benzer... Ando louca de vontade de continuar e curiosidade sobre nosso bebê, mas com os problemas, tá difícil, né?! Bjão!
Oi Rô!
ResponderExcluirEu que tenho que agradecer, por sempre estar escrevendo essas histórias ótimas!!! Animou minha segunda. Claro que me deixou SUPER curiosa, ainda mais sobre esse novo casal que está aparecendo?, e em saber que teremos cenas hots! -rsrsrs adooroooooo.
Eu estou muito aflita - é essa a palavra - para saber como eles vão fugir sem o Miguel ver e principalmente, como o Bryan vai conseguir acessar o cofre. Já que a Júlia saber onde fica o mesmo! rsrsrs
Amando!!
Bjos
Olá,
ResponderExcluirSerá que eu vou conseguir? rsrsrs
Mas acho que não é pra tudo isso não
Olha eu escrevo pensando nela mesmo, no dia a dia
aí junto com uma música as coisas flui.
Mas não sei como agradecer o seu prestígio...
Sempre estarei tentando postar alguns poeminhas hehe
Beijos
Rosane pode puxar minhas orelhas, peço desculpas pela domora de manifestar em seu Blog, pois assim como vc eu tb estava com probleminhas familiares.
ResponderExcluirMas agora sacudindo a poeira voltei contudo pra continuar navegando nas estórias mais envolventes que já li...
Diga-se de passagem gosto da Isabel e quero um final lindo pra ela, caso ela ñ vire a casaca... kkk
* * *Beijiskiss* * *