sexta-feira, 27 de julho de 2012

O Vampiro de Edimburgo - Capítulo XV

by Kodama e Fantin

Encontrei-a no salão principal a minha espera. Dispensei Angus e me aproximei dela curioso para saber o que tinha a me dizer. Tão logo sentiu minha presença, ergueu a cabeça e me olhou altivamente. Ainda assim podia perceber o receio em seus olhos e um ligeiro tremor percorrendo seu corpo. Lutava contra a tentação de agarrá-la e fazê-la minha de uma vez por todas.
- Então... Queria falar comigo? Pensei que não me tolerasse e que não fosse querer me ver nunca mais a sós, depois do nosso último encontro na torre e de sua fuga inesperada.
Ela desviou o olhar e deu alguns passos para longe de mim.
- Fiquei assustada...
- Assustada? Ou arrependida?
- Eu não vim para falar sobre nosso último encontro, Kyle.
Ela realmente parecia perturbada.
- Então,  diga qual o motivo desta... "reunião"?
Tentei nova aproximação, mas ela esquivou-se mais uma vez.
Fiquei em silencio, aguardando sua  resposta.
- Estou preocupada com... esses ataques. Hoje eu pude ter uma ideia do que eles são capazes.  Nunca pensei que pudesse ter tanto medo.
Sua sinceridade me comoveu.
- Eles não tinham a intenção de matá-la; apenas assustá-la e deixá-la viva para me contar.
- E quanto a Dominic? Não fosse por Yesalel, ele teria morrido.
- Talvez eles soubessem que Dom teria ajuda. Tudo é possível.
Um novo mal estar me atingiu e ela, infelizmente, o percebeu mais uma vez.
- Há quanto tempo...  não se alimenta? – disse preocupada.
- Você me alimentou por último... Tem medo que eu tente me matar novamente? – respondi irritado.
- Você tem que estar preparado para enfrentar esses demônios...
- Por que quer me ajudar? Será a sua boa ação do dia? Tem medo que eu procure Leonora ou ... está com ciúmes de que eu procure outra mulher para me saciar? – Ela estremeceu e logo se mostrou indignada.
- Ciúmes? De onde tirou essa? Óbvio que não quero que procure Leonora para saciar seu apetite nem quero ver outra pobre humana sofrer em suas mãos... Mesmo sabendo que isso é algo involuntário de sua parte. – terminou por dizer, atenuando um pouco a força das palavras.
Não me contive e a cerquei.
- Até hoje não ouvi queixa de nenhuma das "pobres humanas ". Pelo contrário, elas pareceram bem satisfeitas. –  disse em tom baixo junto ao seu ouvido.
Observei sua respiração paralisar à minha proximidade.
- Não seja vulgar...
- Quer experimentar e julgar por si mesma?  – perguntei sarcástico.
Vê-la confusa e tímida atiçava ainda mais meu lado animal. Precisava saber até onde ela iria antes de se oferecer em "sacrifício".
Sua mão descansou sobre meu peito, pressionando-o, numa vã tentativa de me afastar, enquanto seus olhos fugiam dos meus. Um calor abrasador partiu daquele toque e espalhou-se por meu corpo.
- Por que insiste em ser desagradável?
- Foi apenas uma proposta. – declarei com  um falso sorriso.
- Por que continua com esse joguinho? Sei que você  não é assim.
Seu olhar direto me desarmou.
- Você não precisa se preocupar por mim. Vou continuar vivendo como sempre vivi até hoje. 
- Não existe outra maneira de conseguir o... sangue?
Soltei-a e me afastei cabisbaixo.
- No início, eu me recusei a matar para conseguir alimento, como Angus me orientara. Tentei beber sangue de animais, obtê-lo através de sangrias em humanos hipnotizados... Nada acalmava minha fome. Certa noite, pensei em sair a caça e matar um ser humano. Foi quando uma mulher surgiu, inexplicavelmente, aos portões do castelo. Convidada a entrar  por Angus, que viu nela minha primeira vítima, ficou a minha espera como se soubesse que poderia me servir. Ela era jovem e muito bela e, apesar de não querer, meus novos instintos me levaram a cortejá-la e seduzi-la. Durante o ato sexual, enquanto ela gozava, a mordi,  a despeito do receio de acabar com sua vida. No entanto,  percebi que ela não precisava morrer e que, depois de saciado, eu tinha o poder de cicatrizar suas feridas e fazê-la esquecer do momento final do ato. Apenas o prazer alcançado era mantido em sua memória e minha verdadeira natureza permanecia ignorada. 
Dei um sorriso de escárnio e  me virei para olhar sua expressão de nojo depois de meu relato. Porém, onde pensei que veria piedade e repulsa, encontrei conivência e ternura. Foi a vez dela se aproximar e tocar meu rosto.
 – Talvez tenha sido uma maneira que o Senhor encontrou para não cometer atrocidades através de seu anjo caído. – explicou.
Fechei os olhos, inebriado pelo carinho de seus dedos finos a contornar minha face.
- As primeiras rugas já estão aparecendo... Por que resiste tanto a minha ajuda? – continuou.
- Por que não é só o seu sangue que eu quero. – Abri os olhos e segurei seu queixo delicado. – Eu quero você por inteiro. – declarei antes de cobrir-lhe a boca com um beijo nada doce.
- O que pensa que está fazendo? – disse, quando nossos lábios se afastaram, com uma voz muito doce e fraca demais para parecer ser contra o que estava acontecendo. – Está usando algum tipo de controle mental sobre mim, Kyle?
- Nenhum tipo de controle, minha querida. Você está aqui por sua livre e espontânea vontade e eu vou  lhe mostrar como eu costumo saciar minha sede. Hoje não precisará cortar seu pulso.
- Não quero que me mostre nada, Kyle Sinclair ou Elyk, seja lá quem for! – esperneou ruborizada, tentando afastar-me sem a força que eu sabia que ela era capaz de ter se realmente tivesse a intenção de me manter longe.
- Então, diga que não me quer... – sussurrei em seu ouvido.
- Você ama Leonora... Por que está fazendo isso comigo? – disse em  tom  lacrimoso.
- Eu não amo Leonora... De onde tirou essa ideia? Se não quiser que eu continue,  não use outra fêmea como escudo. Basta dizer que me odeia e eu me afastarei para sempre.
Vi seus olhos dourados pousando sobre os meus, tornando mais difícil cumprir o que acabara de propor.
- Eu não odeio você...
Eu podia ouvir o descompasso acelerado de seu coração próximo à inércia do meu, quando seus braços envolveram  meu pescoço.
- Ariel... – Afundei naquele abraço tão esperado,  mergulhei o rosto entre os seus cabelos, aspirei seu perfume  e tive uma sensação de paz  há muito esquecida.
Voltei-me para beijar-lhe a boca e a vi de olhos fechados e lábios entreabertos, pronta para me receber.  Elevei-a do chão e senti seus braços apertarem-se ainda mais sobre mim.
- Acho que precisaremos de mais privacidade para continuar essa conversa...
- Aonde pensa que vai me levar? – perguntou com ar maroto.
Mal tive tempo de responder e nos materializamos em meus aposentos.
Diante da minha surpresa, ela falou ternamente:
- Você pensou... Eu apenas segui seu desejo... Além disso, não podemos demorar muito ou  logo ficará fraco demais.
- Ainda tenho tempo de sobra e força suficiente para não decepcioná-la...
- Assim espero...
O desejo explodiu entre nós. Enovelados um ao outro, caímos sobre a cama. Entre carinhos ansiosos, nossas vestes desapareceram. O mundo e tudo o que pudesse haver  ao nosso redor, deixou de existir. Ariel explorava meu corpo com volúpia e me permitia degustá-la ávido. Suas formas delicadas eram delineadas pelas palmas de minhas mãos enquanto, de sua boca, eu ouvia gemidos e suspiros deliciosos. O êxtase estava muito próximo, quando a senti estremecer e  regozijar-se entre meus braços. Vi suas fulgurantes asas se abrirem e não pude resistir mais. Penetrei-a profundamente e inundei-a com meu orgasmo. Senti as infames presas crescerem em minha boca e tive medo de assustá-la. No entanto, num ato de extrema confiança, ela jogou a cabeça para o lado, oferecendo sua jugular a minha sede. Não ouvi lamento, nem observei dor em sua face ao perfurar a pele alva e fina. Consternado, deliciei-me com a doçura de seu néctar até saciar minha infeliz necessidade. Quis me afastar, após lamber o ferimento que provocara,  mas fui detido por seu abraço.
- Eu o decepcionei?
- Não gostei de feri-la dessa maneira e imaginei que não me quisesse mais por perto.
- Você não me feriu... E não quero que se afaste... A não ser que não me queira mais, agora que está saciado.
Indignado com suas palavras, deitei-me sobre ela e pressionei seu corpo sob o meu, mostrando fisicamente que meu desejo por ela ainda não se extinguira.
- Ainda tem dúvidas?
- Nenhuma... – respondeu com um meio sorriso, enquanto me tocava, rijo entre suas coxas.
Não precisava de nenhuma outra sinalização para voltar a acariciá-la e tomá-la novamente. Dessa vez,  eu a possuiria com calma, estendendo o prazer ao máximo, saboreando cada ínfimo momento. Ali, ao seu lado, um sentimento muito forte renascia em mim e, apesar disso me assustar,  não o podia negar. Queria apenas viver mais uma vez o que um dia me fora negado.

(continua...)

Espero que tenham gostado do encontro entre a Ariel e o Kyle. Sei que o capítulo ficou mais curtinho, mas talvez tenha uma complementação mais tarde. Só não queria deixar de postar hoje, início do final de semana.  Um grande beijo para minhas comentaristas da semana, Nadja e Aline, e a todos que vieram ler a continuação desse romance.
Não posso deixar de comentar aqui, também, algo que está acontecendo há várias semanas e, falha minha, ainda não comentei. É sobre o empenho da Carolina Lopes, do Blog Cantinho da Carolina, que, desde o mes de Junho está promovendo o sorteio de livro O Corsário Apaixonado.  Quero aproveitar para convidar os leitores do blog que ainda não estão participando que corram ao Cantinho e participem (é só clicar na frase sublinhada, acima). O sorteio será no dia 4 de Agosto, portanto ainda dá tempo de concorrer. E mesmo que não ganhem, terá valido a pena conhecer o Cantinho da Carolina, que está sempre recheado de novidades literárias.O meu eterno agradecimento a essa querida blogueira e amiga.
Termino aqui a minha postagem semanal, enviando todo o meu carinho e o desejo de um ótimo fim de semana.
Beijos!! 



sábado, 21 de julho de 2012

O Vampiro de Edimburgo - Capítulo XIV

by Kodama e Fantin

Estava pronta para acompanhar Dominic ao jornal, quando Nathanael surgiu com um chamado telepático.
- Ariel, o chefe quer falar com você.
- O quê? Agora? O que ele quer? Por que não entrou em contato direto comigo?
- Não sei lhe dizer. Parece ser importante.
- Fique de olho naqueles dois, por favor,  – falei referindo-me a Dominic e a Leonora.  – enquanto vou a Central dos Guardiões.
- Não! Ele quer vê-la nas colunas de Calton Hill.

Colunas de Calton Hill


Calton Hill era uma das colinas em pleno centro de Edimburgo, de onde se podia ter uma bela vista panorâmica da cidade. A acrópole ou as colunas, às quais Nathanael se referira, são na verdade um monumento inacabado - originalmente chamado de "Monumento Nacional". Iniciado em 1816, um ano após a derrota de Napoleão em Waterloo, ele foi concebido para ser uma réplica do Parthenon, em Atenas, como um memorial para aqueles que morreram nas Guerras Napoleônicas. O que será que Samuel queria falar comigo para escolher um local tão inusitado, quando tínhamos locais mais reservados em nossa própria dimensão? Intrigada, me despedi de Dominic. Havia se passado mais de uma semana da viagem à Praga e nenhum outro imprevisto ocorrera até então. Aparentemente Damian e Kyle estavam unidos e atentos em relação à segurança de Dominic e de Leonora, mas mesmo assim eu ainda me preocupava, pois sabia que o outro lado não desistiria tão fácil de uma empreitada que já durava quase mil anos. Além de tudo isso, outra apreensão tirava meu sossego. Alimentar Kyle. Desde nosso último encontro no jardim de Cathella, não havíamos ficado a sós novamente. Sabia que mais cedo ou mais tarde ele começaria a sofrer com a falta de alimento e, só de pensar que ele teria que seduzir uma mulher para conseguir sangue, minhas vísceras ameaçavam enovelar-se. Já andava zonza de tanto pensar em como poderia oferecer-me como "refeição", sem parecer oferecida ou... Apaixonada... Seria isso? Teria Samuel descoberto meus sentimentos por Kyle e queria me repreender? Antes que ele me fizesse qualquer censura, eu inverteria o jogo. Ele escondia alguma coisa e eu precisava saber o que era. Talvez eu conseguisse espremer o meu velho chefe e esclarecer um pouco do mistério que girava em torno da história de Kyle.
As imensas colunas surgiram a minha frente, impávidas contra o tempo, erguendo seu olhar sobre a capital da Escócia. A vista impressionante era admirada por uns poucos turistas  naquele  momento. Os minutos se passavam e eu a espera de um chamado ou de uma discreta aparição do meu superior. Quando tentei entrar em contato com Samuel, estranhamente, não consegui. O mesmo aconteceu quando tentei me desmaterializar e ir até a sede dos Guardiões para tirar satisfações. Era como se um campo de força impedisse meu deslocamento ou o de minhas ondas cerebrais. Só então percebi que aquilo poderia ser uma espécie de armadilha. Repentinamente, uma nuvem escura cobriu a área de Calton Hill. Não havia mais sinal algum de humanos, até que uma sombra escura tomou forma cerca de uns duzentos metros de distancia de onde eu estava. Logo, outra sombra a seguia... E outra, e mais outra... As sombras começaram a tomar forma. A pior forma possível. Agora não tinha mais dúvidas sobre quem armara aquilo. Eles pareciam pertencer à minha espécie, porém suas asas eram negras e pequenos chifres apontavam entre os cabelos negros e desgrenhados. À medida que se aproximavam  pude ver melhor seus rostos e expressões. Uma sensação de medo insano tomou conta de meu ser quando notei as presas brancas sobressaindo-se de suas bocas. Eram vampiros!!
Queria correr, gritar, mas não conseguia. O pânico tomava conta de mim. Sentia como se estivesse presa a uma teia, pronta para ser massacrada e incapaz de fugir. Abri minhas asas e cobri meu corpo com elas. Fechei os olhos e esperei. Esperei pelo fim...





Combinara com Elliot, meu editor no Tribune, a entrega das laudas da minha última reportagem semanal a respeito de Sinclair. Estava atrasado e meu chefe estava indignado, pois o artigo deveria ser publicado no dia seguinte. Apesar de tudo que estava acontecendo eu tinha um compromisso com o jornal, além de esse ser o meu ganha-pão. Elliot estava plenamente satisfeito com meu trabalho e  isso já me garantira um emprego fixo naquele jornal.
Leonora já tinha saído para ir à aula. Terminei de tomar meu café e saí para pegar minha scooter no pátio interno do nosso prédio. Mal saíra do beco e acelerava para me dirigir ao centro quando um homem bem vestido surgiu a minha frente obrigando-me a dar uma tremenda freada. Por pouco não perco o controle da motocicleta e vou de encontro ao  muro na lateral da rua. Para meu espanto, o desgraçado sorria. Parecia achar graça de quase ter sido atropelado.
- Bela moto, meu jovem! – Saudou-me o estranho de feições exóticas e sotaque provavelmente originário dos Balcãs, pois lembrava muito o modo de falar de um amigo albanês.  –  E que freios, não?
- O senhor está bem?
- Estou ótimo! – respondeu encarando-me com aquele sorriso fake no rosto anguloso.
- O senhor me perdoe. Estou com pressa. Não devia estar correndo tanto...
- Siga em frente... Por favor...
Dizendo isso, saiu lentamente da frente da scooter,  sempre me olhando. Aquela presença parecia exalar um mau agouro, por isso dei um aceno com a cabeça e acelerei para longe do homem.
Como se estivesse sendo acompanhado por uma sombra, aquele sorriso diabólico não deixava minha mente. Por duas vezes, no percurso, esses pensamentos me distraíram  e, por um triz, não  me jogaram contra os automóveis  que trafegavam a minha volta.
Quando entrei na The Moud,  a avenida que liga o Centro Histórico ao novo centro, precisei frear um pouco devido ao aclive presente. Entretanto o freio não respondeu e a moto continuou acelerando, caindo rapidamente na direção da movimentada Princes Street . Por uma fração de segundos vi o meu fim na porta de um grande caminhão de uma rede de lojas da cidade que atravessava exatamente naquela hora a rua logo abaixo. Apertando desesperadamente o freio, sem resposta alguma, fechei os olhos e pensei em Yesalel. Senti meu corpo voar  e ouvi o som do choque de ferragens ao longe. Logo veio a sensação da queda. Uma queda estranhamente lenta e que acabou amortecida  por algo macio em minhas costas. Tive medo de abrir os olhos e verificar que morrera. Porém, as vozes começaram a surgir a minha volta, preocupadas, curiosas e surpresas.
- Você está bem?
- É um milagre!
- Olhem só o estado em que ficou a scooter!
Certo de que no céu não ouviria esse tipo de comentários, elevei as pálpebras lentamente e vi uma dezena de rostos os mais variados pairando sobre mim.
- Alguém chamou a ambulância?
- Não é preciso... – falei, fazendo um pouco de esforço para me levantar do solo gramado onde caira. Aos poucos fui verificando que não tinha nada quebrado ou ferido.
- A polícia já está aí! – gritou alguém.
- Está bem, filho? – perguntou a voz conhecida. Vi o belo e preocupado rosto de Yesalel.
- Yesalel? O que está fazendo aqui?
- Ouvi o seu chamado e consegui chegar a tempo...
Afinal, descobri que era bom ter um anjo como namorada.
- É melhor que a ambulância chegue logo! Ele está delirando! – gritou alguém.




Por que eu não conseguia controlar aquele desejo insano? Só podia ser a fome mais uma vez a me atormentar.  Ariel conseguira aquecer meu coração morto e sua simples presença me provocava sensações semelhantes as que eu tivera com Cathella. Sentimentos que eu considerava extintos para sempre, voltavam a me atordoar e a me fazer desejar alguém novamente. A atração física era evidente entre nós. Inegavelmente seu corpo reagia ao meu...  Podia sentir seu desejo aflorar a cada encontro,  mas isso não significava a possibilidade de qualquer outro tipo de sentimento...
- Senhor... – Era a voz de Angus a me fazer voltar à realidade dentro de meu gabinete em Malachy.
- O que foi?
- Os demônios estão de volta, senhor?
- Por que pergunta, Angus?
- Por que sinto a presença deles rondando o castelo mais uma vez.
- Você está certo... Eles estão de volta.
- Se eu puder ajudá-lo, senhor, pode contar comigo.
- Muito obrigado, Angus. Você tem sido um amigo fiel ao longo desses penosos anos.
- Tenho uma dívida com o senhor.
- Você sabe que não há dívida alguma e que é livre para fazer o que quiser.
- O senhor é muito generoso...
Nesse instante, o telefone tocou.
Angus rapidamente atendeu a extensão que havia ao lado da entrada do jardim. Depois de algumas poucas palavras,  me chamou.
- É o senhor Damian.
Preocupado, corri para atendê-lo.
- Acho que eles atacaram  novamente, El... Kyle.
- Leonora?!
- Não. Dominic. Graças a Yesalel, ele foi salvo da morte.
- Onde ele está?
- Num serviço de emergência. Estou aqui com ele.
- Me dê o endereço que estou indo para aí. 
- Melhor não. Ele está bem agora.
- Mas como aconteceu?
- Ele perdeu os freios enquanto andava em sua moto... Ele já está sendo liberado pelo médico. Vou levá-lo para casa agora. Encontre-nos lá.
Os acidentes tinham recomeçado. Era sempre assim. Que falta de imaginação!
Segui para o apartamento dos MacTrevor. 




- Kolchak! Foi ele! A descrição do homem que o abordou corresponde exatamente a dele.
Se eu tivesse a minha espada... Se eu ainda fosse um ... – pensei alto. O gosto amargo da maldição que me foi imputada me fez calar.
Dessa vez Dominic saíra ileso. Sabia que aquele tinha sido apenas mais um sinal. O prazo ainda não terminara. Mesmo que eu acabasse com a existência de Kolchak certamente seu mestre enviaria outro de seus comandados para continuar me ameaçando. O que eu não conseguia entender era o porquê de tal insistência. Por que eu? Já demonstrara inúmeras vezes que não aceitaria me unir aquele bando de demônios. Mesmo depois de tudo que eu sofrera por causa de minha sina imposta pelo Divino, não poderia encarar o Outro Lado com bons olhos. Jamais poderia seguir ordens que pudessem prejudicar a vida humana além do que já ocorria. Era visível o avanço do Mal sobre a humanidade a cada ano. Não seria eu um auxiliar para aquele bando de demônios rancorosos conseguirem dominar os homens completamente.
Ariel apareceu com seus grandes olhos aflitos junto a Dominic. Ela parecia apavorada.
Ao vê-la, pude sentir que Damian controlou-se para não esbravejar e pedir uma explicação para sua ausência junto ao filho, devido a presença de Leonora na sala, mas seu olhar inquisidor foi suficiente para fazê-la corar. Protetoramente, coloquei-me ao seu lado.
- Ela não tem culpa, pai...
- Culpa de que? Eu não tenho nada a ver com isso!  - saltou Leonora ao ouvir a afirmação de Dominic, pensando que ele se referira a ela.
- Ele não está falando de você, querida. – tranquilizou-a o pai.
- Então, de quem ele está falando?
- Da minha mecânica. –  respondeu.
- Desde quando você leva a moto para uma mulher  consertar? – perguntou  maliciosa.
- Acho melhor você ir fazer as suas coisas, Leonora. Eu estou bem. Por favor... Deixe-nos a sós. – impacientou-se Dominic.
Assim que Leonora deu as costas, após um muxoxo,  percebi que Ariel tremia.
- O que aconteceu, Ariel? – perguntei abraçando-a e, felizmente, não sendo rechaçado.
- Eles me atacaram... – disse ela balbuciando, como se estivesse sob o efeito de uma droga.
- Quem?
- Vampiros... Eles surgiram em bando... Quando pensei que estava tudo acabado... Eles desapareceram como por encanto. – continuava falando reticente e com olhar vítreo.
- Como?? – perguntei surpreso.
Só então ela me olhou e pareceu voltar à lucidez, pois me empurrou assustada. Apesar dessa reação, segurei-a e exigi que ela explicasse o que acontecera. Ela começou a chorar e acabou por afundar a cabeça em meu peito,  parecendo exausta e perdida. De repente, levantou a cabeça e olhou ao seu redor.
- Por que estão todos aqui? O que aconteceu? – indagou, olhando na direção de Dominic.
- Primeiro, conte o que houve com você.  Por que deixou Dominic sozinho? – Quis saber Damian.
- Nathanael disse que nosso superior, Samuel, queria falar comigo. Achei estranho, principalmente ao saber o local que ele escolhera para esse encontro...
- E o que aconteceu? – perguntei.
- Fui até Calton Hill e esperei que ele aparecesse.  – Sua voz era tremula. – Foi quando aqueles demônios surgiram do nada. Por um momento,  pensei ter visto um grande clarão, como se um raio tivesse cortado os céus... Mas, como estava de olhos fechados, pode ter sido apenas minha imaginação. Então, eles desapareceram da mesma forma que haviam surgido.
- O que acha disso, Kyle? – quis saber Damian.
- Acho que foi mais um aviso. – respondi.
- Mas por que eu fui o alvo dessa vez? – perguntou Ariel confusa.
- Não foi você... Foi Dominic. – afirmei.
- O quê? Dom foi atacado?
- Sim... Era para parecer um acidente de moto, provocado por uma falha nos freios.
- E...?
- O tal Kolchak falou comigo antes do acidente, fazendo-se passar por um pedestre distraído. Yesalel surgiu no último momento e me salvou... – completou Dominic, que até então permanecera calado. – Alguém armou para afastá-la de mi, Ariel.
- Nathanael? Não pode ser... – disse ela pesarosa.
- Ele anda meio estranho ultimamente. Você mesma reclamou que ele tem se afastado de Leonora com muita frequência. – lembrou Dominic.
- Ele pode ter sido enganado também... – defendeu Ariel.
- O importante é que nada de ruim aconteceu a qualquer um de vocês dois. – proferiu Damian.
- Tem de haver uma maneira de acabar com isso de uma vez por todas. – disse irritado.
Já cansara dos ardis  que aquele maldito lançava mão para  obrigar meu recrutamento em seu exército. Ameaçar Ariel com vampiros! Tentar matar Dominic! Nunca antes ele fora tão incisivo. O que havia de diferente dos séculos anteriores?
- Que eu saiba existe um prazo para acabar com tudo isso e ele se encerra em duas semanas. É certo? – Damian tentava  racionalizar o que não tinha razão.
- Sim... – respondi. – Se é que podermos confiar na palavra de Kolchak.
- Então... Temos apenas que resistir mais um pouco e ficarmos atentos às armadilhas. Pode ser que tenhamos um traidor próximo a nós...
Senti uma leve tontura,  que tentei esconder dos demais. Ariel me olhou como se tivesse percebido alguma coisa.
- Preciso ir agora. – Não queria que mais alguém percebesse minha infame necessidade.
- Eu também tenho um assunto importante para tratar. -  disse Damian.
- E Leonora?  - perguntei. Senti Ariel retesar os músculos e fiquei curioso com tal reação.
- Farei com que fique em casa.  Também ficarei de olho em Nathanael  – Damian olhou ao redor. –  que, por sinal, está novamente desaparecido.
 - Posso ficar aqui, com Dom? – A voz de Yesalel surgiu muito timidamente de um canto da sala fazendo que todos se virassem para ela.
- Depois do que aconteceu hoje,  por mim, você não sai do lado de Dominic nunca mais. – Assim que formulou tal desejo, Damian olhou para Ariel. – Espero que não se chateie com minhas palavras,  Ariel. Todos nós sabemos quem estamos enfrentando e que quanto mais ajuda nós tivermos, melhor.
- Eu entendo...
Soltei Ariel. Pensei ter notado certa relutância da parte dela.
- Preciso conversar com você. – Ela sussurrou para mim quando segurou meu braço, retardando meu afastamento.
- Há mais alguma coisa que tenha acontecido e não quis dizer?
- Não... Não é sobre... Isto é... – Então ela conseguiu me encarar  e dizer o que a preocupava. – É sobre você. Sei que está... precisando de ajuda.
- Vou para Malachy... Quer ir junto?
- Eu o encontro lá. – convidou-se,  lindamente tímida.
Imbecilmente, quase senti meu coração inerte disparar com a iminência de nosso encontro. Parti  logo depois de ver Ariel desmaterializando-se.


(continua...)



Finalmente, depois de três infindáveis semanas, consegui voltar a escrever a continuação de nosso romance. Graças a Deus e aos bons fluídos emitidos pelos amigos, a situação de minha mãe estabilizou-se e ela se encontra em franca recuperação. Ainda há muito trabalho pela frente, mas o astral encontra-se mais elevado e confiante. Gostaria de agradecer por todas as palavras gentis e de consolo que recebi de todas as formas e que, sem dúvida, foram fortes motivadores para manter a esperança de que tudo iria melhorar e seguir em frente. Muito obrigada pelo carinho das minhas comentaristas amadas: Dioceli, Rapha, Aline ( a minha querida co-autora), Léia, Lucy e Nadja. Amo voces!
Esperamos voltar ao ritmo de postagem de antes e poder contar, sem longos intervalos, a história do nosso vampiro escocês.
Apesar de já ter passado da meia noite, ainda dá tempo de desejar um FELIZ DIA DO AMIGO a todos os frequentadores desse blog.
Todo o meu amor para voces!
Beijos!!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ausência

Oi, meus amigos queridos e leitores do blog,
Venho hoje aqui, pois me sinto na obrigação de dar uma satisfação a respeito da minha ausência e falta nas postagens do atual romance. Como já havia dito anteriormente, estou com alguns sérios problemas de saúde em minha família. O familiar é a minha mãe e, como responsável, tenho estado muito ocupada em seu tratamento e nas complicações, devido a sua  idade avançada, que tem ocorrido ultimamente. Sei que entenderão meus motivos e gostaria que soubessem que tenho sentido uma grande falta de escrever e dar continuação a esse romance que iniciei em conjunto com a minha querida Aline Kodama. Gostaria também de agradecer às amigas que, sabendo das minhas dificuldades, enviaram seu carinho e suas orações. Muitíssimo obrigada!
Espero que tudo se resolva em breve, da melhor e mais feliz maneira possível, e que eu possa retornar e dar continuidade a história do Kyle e da Ariel.
Um grande beijo a todos!