sexta-feira, 16 de março de 2012

O Corsário Apaixonado - Capítulo XX ( Final)


Ao perceberem que os cavaleiros não estavam ali amigavelmente, os empregados presentes se dispersaram, correndo na direção da casa. O monge e o Dr. Hall se colocaram atrás do altar.
- Valentina! Pai! Levem a Ana para dentro de casa! – gritou Crow prevendo o motivo do ataque inesperado.
- Não, Crow! Vou ficar aqui mesmo! – gritou Ana.
- Não discuta! Esse é um assunto meu!
- Não pense que só porque casamos já pode mandar em mim!
Com sua espada em punho, Crow lançou um olhar de apreensão para Brett, que junto a Bald e Liam já se encontravam em posição de luta. Apesar de armados, estavam em minoria. Os primeiros soldados desmontaram e partiram com as espadas empunhadas para cima deles, sendo recebidos com resistência. A luta iniciou e o som dos metais quebrou a harmonia que estivera pairando ali até poucos momentos antes. Valentina puxou Ana para trás do altar, cochichou algumas palavras e a deixou relutante junto ao médico e ao sacerdote, que observava chocado e medroso o cruzar das lâminas. Assim que viu a amiga segura, saltou na retaguarda dos guardas da rainha, atacando-os furiosamente com golpes em suas costas. Não fosse o vestido nupcial que dificultava seus movimentos e o que Tina lhe havia dito, Ana a teria acompanhado no ímpeto de ajudar seu marido e os amigos, que estavam em temível desvantagem. Timothy, apesar de não estar armado, ainda sabia como usar os punhos numa boa luta corpo a corpo.
De repente, e antes que surgissem feridos graves de qualquer dos lados, uma voz bradou fortemente ordenando que o ataque fosse interrompido. Era Arthur, do alto de sua montaria, que chefiava a missão de prender Crow.
A luta se arrefeceu, como se um balde de água fria tivesse sido jogada por sobre os combatentes.
- Vejo que interrompi sua cerimônia de casamento, Nigel, e isso me deixa com pesar ainda maior pelo que sou obrigado a fazer hoje. – falou Arthur com expressão de visível tristeza. – Infelizmente não posso lhe dar um prazo maior para permanecer junto a sua esposa, mas lhe prometo que, dessa vez, a justiça será feita... Por ordem de Sua Majestade, Rainha Elisabeth I, será preso e levado para julgamento e condenação ou... liberdade.
Ana surgiu a sua frente e se atirou de joelhos diante de Arthur.
- Você não pode fazer isso! Não pela segunda vez! Ele quase morreu naquela prisão antes! Se não tivesse fugido... – Ana não conseguia encontrar palavras que pudessem demover Arthur de sua incumbência, pois no fundo sabia, assim como Crow, que ele apenas cumpria o seu dever. – Não pode fazer isso! – terminou por dizer antes de romper em choro.
- Calma, Ana... – disse Crow, levantando-a do chão e abraçando-a. – Não adianta mais lutar. Estamos em desvantagem.  Não quero que ninguém seja ferido por minha causa.
- Nigel... O que vai ser de você? De nós?
- Ana, seu tio está a caminho daqui para acompanhá-la até Londres. – observou Arthur. – Garanto que Nigel terá seu julgamento muito em  breve.
Brett e seus dois companheiros permaneciam em guarda, mas logo acabaram abaixando suas espadas ao perceberem que Crow havia cedido.
- Eu deveria dar ordem de prisão a vocês três também – continuou a falar, apontando para os piratas que ainda o olhavam  ameaçadoramente. –, mas, na última vez fiz um acordo com Nigel para que vocês fossem poupados da prisão, para que pudessem acompanhar Lady Ana. Espero que nosso trato ainda esteja de pé, Nigel.
Crow segurou Bald pelo braço quando notou que ele estava pronto para empunhar a espada novamente, irritado com a conduta de Arthur.
- E está. Deixe-os voltar ao Highlander em paz. – confirmou.
- Dessa vez, eu vou com você, Crow! – afirmou Brett.
Ao ouvir aquela afirmação, Valentina sentiu seu coração dilacerar-se, mas segurou o grito de dor dentro do peito. Sabia o quanto Brett era devotado a Crow. Ele sabia que Ana e ela estavam sob a proteção de Sir Lodwick e de Sir Boyle, portanto sentia-se livre para acompanhar o amigo em seu destino, fosse ele qual fosse.
- Brett, você não precisa fazer isso... – disse Crow.
- E você acha que eu vou perder a oportunidade de conhecer pessoalmente a rainha? – respondeu irônico.
- Você poderá perder a vida, meu amigo...
- Ainda assim acho que valerá a pena. – voltou a falar, dessa vez em tom mais sério olhando cumplicimente para Crow.
Virou-se para Valentina, que correu a abraçá-lo.
 - Brett...
- Nós vamos voltar. – consolou-a enquanto a apertava entre os braços, lutando contra a dor de deixá-la ali, mas sabendo que ela entenderia sua opção.
- É melhor partirmos logo. Temos uma longa jornada de volta à Londres. – advertiu Arthur, parecendo desconfortável com a situação.
Três dos guardas, que acabavam de recuperar-se do embate, avançaram agressivamente sobre os prisioneiros, mas foram seriamente repreendidos por seu comandante.
- Mas são piratas, senhor... – ousou desafiar um dos homens, recebendo um olhar frio e duro de Arthur.
Ressentida, Ana o olhou com indignação.
- Não vai acorrentá-los? – perguntou irônica, com a voz tensa e cheia de raiva contida.
- Não, senhora... Não há necessidade disso – respondeu subitamente envergonhado. – Estes homens estão se entregando sem resistência.
Desviando o olhar da face feminina revoltada, terminou por ordenar aos seus comandados.
- Arranjem montaria para eles e tratem-nos com respeito.
Timothy chamou um de seus servos e mandou-o buscar dois bons cavalos. Aproximou-se do filho, demonstrando no olhar toda a tristeza de seu coração.
- Eu cuidarei da sua esposa, meu filho. Estaremos esperando por você.
- Conto com você, pai... E obrigado por tudo. – disse comovido.
Depois de beijarem suas mulheres, montaram nos cavalos e partiram escoltados por Arthur e seus guardas.

 
Três semanas haviam se passado, quando finalmente a porta da cela foi aberta e Arthur Greenville surgiu com um sorriso promissor estampado na face.
Brett, com a barba por fazer, levantou-se do catre em que estava sentado e avançou rápido e ameaçador sobre o antigo companheiro, sendo impedido por Crow, de aspecto igualmente desleixado.
- Você chama isso de breve? – vociferou Brett, lutando contra as mãos de Crow. – Disse que o julgamento seria feito logo depois da prisão e já se passou quase um mês!
- Sinto muito, Brett, mas existem coisas as quais não posso evitar. A vontade da Rainha é soberana e só me resta acatá-la. – disse, tentando manter-se calmo diante da reação do pirata.
- O que veio fazer aqui? – indagou Crow não menos irritado.
- Vim para levá-los até a Rainha. O julgamento será hoje.
Um véu de alívio desceu sobre os rostos dos prisioneiros. Apesar de terem sido tratados com um pouco mais de consideração do que na prisão anterior de Crow, o cerceamento de sua liberdade por si só era um doloroso castigo.
- Agora? – perguntou Brett, desvencilhando-se dos braços de Crow e adotando uma atitude menos agressiva.
- Antes eu os levarei para que possam lavar-se e trocar de roupa.
- A Rainha vai chegar tão perto de nós assim? – perguntou Crow com sarcasmo.
- Quem pode saber? Sua Majestade às vezes pode ser bastante imprevisível. – respondeu Arthur com igual ironia.
- Teve notícias de Ana e de Valentina? – perguntou Crow, agora com mais seriedade e interesse.
- Elas estão bem.
- Estão aqui em Londres? Já sabem do julgamento? – voltou a perguntar ansioso.
- Eu mandei recado...  – começou a responder, mas sem olhar Crow nos olhos, o que não era seu hábito. – Não sei dizer se chegarão a tempo.
- A tempo? A tempo de quê? De nos verem sendo levados para a forca? – questionou Brett em nova onda de irritação.
- Calma, Brett... – ponderou Crow. – Vamos logo com isso, então.

Depois de preparados para o encontro com a soberana inglesa, Crow e Brett foram levados até o Palácio de Westminster. Algemados, atravessaram o Tâmisa a bordo de um grande barco, vigiados por guardas armados.
O Antigo Palácio de Westminster

Ancoraram junto ao deck de onde podiam ver o pórtico que os levaria ao pátio lateral do palácio. Lá ficava a edificação da corte de justiça onde seriam julgados. Tão logo desembarcaram, foram guiados através do grande largo até a lateral do prédio e levados a uma antessala do tribunal. Podiam ouvir o burburinho provocado pela assistência e pelos convidados que aguardavam a chegada da rainha. Alguns instantes depois puderam perceber que a espera chegara ao fim quando o silêncio ocupou a grande sala de audiência e apenas o farfalhar de saias foi ouvido. Era a rainha Elisabeth e suas damas de companhia que haviam chegado.
- Que entrem os prisioneiros e seja iniciado o julgamento. – disse uma voz masculina anunciando o início dos trabalhos.
Westminster Hall (ao fundo ficava o trono da Rainha)

Visão atual do grande salão

Crow e Brett ainda algemados foram introduzidos no recinto. Era uma ampla sala, que media aproximadamente vinte metros de largura por setenta de comprimento. Ao fundo, destacava-se o trono, onde se encontrava sentada Sua Majestade. Nas laterais, alguns integrantes da nobreza cochichavam entre si, mas logo silenciaram novamente para observar os homens  que seriam julgados logo a seguir. Havia menos pessoas no salão do que tinham imaginado. Certamente a boa acústica do pavilhão fizera ampliar o som das conversas. O teto inclinado parecia abobadado, graças ao magnífico trabalho em madeira em forma de arcos que adornavam toda a extensão superior. Ali  pendiam dez grandes e austeros candelabros de ferro polido. A suntuosidade do local intimidou os piratas. O meirinho, colocado em um discreto púlpito próximo ao trono, abriu um documento e leu em voz alta o nome completo dos réus.
- Nigel Thomas Lodwick, vulgarmente conhecido como Capitão Crow, comandante do navio Highlander, e Brett John Preston, imediato do mesmo navio. Aproximem-se!
Percebia-se que aquele não seria um julgamento comum. Isso logo se tornou óbvio quando eles foram colocados perante Elisabeth, que os olhou com aparente escárnio. 
Elisabeth I
(Judi Dench)

Ela permaneceu sentada, passeou o olhar sobre a plateia e tomou a palavra.
- Estamos aqui hoje para julgar os crimes cometidos por esses piratas, que tem atacado covardemente navios ingleses e saqueado nossos tesouros. Graças à competência do nosso valoroso Comandante Arthur Greenville, que capturou esses temíveis larápios, nossos mares encontram-se mais limpos atualmente.
Com dificuldade, Crow conseguiu manter-se calado, ouvindo as acusações da soberana. Sabia que seria imperdoável qualquer  interferência naquele momento. Restava-lhe apenas ouvir.
- Capitão Crow! Dê um passo à frente! – continuou impassível.
Crow foi empurrado pelo guarda, que o mantinha vigiado, antes que pudesse obedecer. Teve que conter o ímpeto de esmurrá-lo. Cerrando os dentes, postou-se diante de sua juíza e curvou-se em respeitosa reverência.
- Capitão Crow ou... Nigel Thomas Lodwick... O senhor é acusado de praticar pirataria. Saqueou inúmeros navios. Espanhóis, portugueses, holandeses e... Ingleses.  A abordagem desses últimos é UM dos motivos de sua prisão e presença em nosso tribunal no dia de hoje. O senhor se apropriou de forma acintosa e indevida de valores que não eram seus. Tem algo a dizer em seu favor?
Crow percebeu uma ponta de sarcasmo na pergunta de Elisabeth e resolveu responder da mesma forma.
- Minha senhora... Posso garantir que os valores de que me apropriei tinham sido adquiridos de maneira igualmente indevida de carregamentos espanhóis e portugueses que retornavam do Novo Mundo. Como dizia um antigo comandante, Sir Francis Drake, "ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão ".
- Ousa chamar meus súditos de "ladrões"?
- Eu sou um súdito seu, minha senhora. Seria eu uma rara exceção?
- O senhor não acha que está sendo exageradamente irreverente e inoportuno diante de sua rainha? – perguntou com um brilho divertido no olhar.
- Perdão, majestade. – desculpou-se baixando a cabeça respeitosamente. –  Não foi essa a minha intenção. Apenas fazia a minha defesa, já que não conto com um bom advogado.
- Consta que o senhor, não contente em levar os baús com ouro inglês, também dedicava uma atenção especial às joias das damas que porventura estivessem a bordo, provocando constrangimento e terror entre as pobres mulheres. Nega essa acusação?
- Posso garantir, majestade, que as damas a que se refere doaram de bom grado seus pesados adereços, que pareciam incomodá-las  excessivamente devido ao peso em seus lindos pescoços, orelhas e dedos. Apenas lhes prestei um favor, minha senhora, e todas elas pareceram muito agradecidas na ocasião.
Elisabeth cobriu a boca com a mão, tentando disfarçar o sorriso que aflorou ao ouvir o comentário irônico de Crow, lembrando as descrições acaloradas feitas por algumas de suas damas que tinham tido a oportunidade de conhecer pessoalmente o sedutor e belo pirata em ação.
Rapidamente, tornando a assumir uma postura séria, voltou a falar.
- Soube que fez parte da marinha real e foi um jovem e respeitado oficial durante quase três anos, quando desapareceu misteriosamente. É filho de um bom homem, Sir Timothy Lodwick. Confirma isso?
- Sim, majestade.
- Não tem nada a dizer sobre os motivos que o levaram a mudar sua vida tão radicalmente?
- Não, majestade. – respondeu pesaroso.
 Não adiantaria falar sobre o que acontecera sob o comando de Drake, pois certamente ele seria acusado de injúria, já que o homem estava morto e não poderia se defender.
- É uma pena que não possa me esclarecer essa questão...  – disse olhando-o  pensativa, parecendo admirada com sua negativa. – Entre as acusações, uma me deixou estarrecida. Há o relato de que o senhor raptou e tirou a pureza de uma jovem inglesa de família nobre.
Crow olhou-a surpreso ao ouvir tal declaração.
- Posso garantir, majestade, que essa acusação não tem fundamento. Isso jamais aconteceu.
- Não pode negar tal fato, já que tenho testemunhas  do ocorrido e não há como defender-se.
- Testemunhas?
A um gesto de Elisabeth para o meirinho, esse elevou a voz mais uma vez.
- O tribunal solicita a presença de Sir Edmond Boyle e sua sobrinha, Lady Ana Boyle, Duquesa de Villardompardo.
Ouviram-se inúmeros sussurros entre os presentes. Crow virou-se, com expressão atônita diante da convocação, imaginando o que estaria acontecendo. Que tipo de denúncia era aquela e como  Ana poderia testemunhar contra ele? Ansioso e incrédulo com o que estava ocorrendo, viu Ana e o tio aproximarem-se do púlpito onde estava o meirinho, ficando a poucos metros de onde ele estava. Por trás deles, viu Valentina com olhar apreensivo. Não conseguia distinguir se ela estava assim pelo que viria a seguir ou se pela magnificência do local em que estavam. Apesar de tudo, Ana parecia tranquila, olhando-o amorosamente. Teve a impressão que o tio a estava segurando para evitar que ela corresse para seus braços.
- Majestade...
- Cale-se, Capitão Crow, ou serei obrigada a mandar retirá-lo deste tribunal sem julgamento.
Brett e ele se entreolharam com o mesmo olhar de pasmo, mas permaneceram quietos.
Voltando-se para tio e sobrinha, Elisabeth dirigiu a palavra a eles.
- Sir Edmond Boyle, meu fiel súdito e grande amigo... Lady Ana... – cumprimentou-os com uma pequena reverência, que foi correspondida com um curvar de corpo respeitoso de Edmond, enquanto Ana ajoelhava-se e abaixava a cabeça.
- Não há necessidade disso, minha cara, principalmente considerando o seu estado... – completou olhando para Crow com desaprovação e continuando seu discurso. – É verdade, minha menina, que este pirata que aqui está aproveitou-se de sua inocência?
- Sim, majestade... – confirmou, corando pela resposta que tinha sido obrigada a dar.
Sentia seu coração quebrar-se por dentro;  não por vergonha de estar declarando em público suas intimidades, mas por consternação ao ver Crow acorrentado e indefeso.
- Aproxime-se, minha jovem... Tem algo a dizer sobre este ser inescrupuloso?
Ana liberou-se do braço de seu tio e aproximou-se deles.
- Sim, majestade. – disse, esforçando-se por despregar os olhos de Crow e voltando-se para a Rainha. – Perdoe-me por contrariá-la, senhora, mas  o seu réu nada tem de inescrupuloso. Este homem, um pirata, foi quem me resgatou na França, onde eu vivia há dez anos, depois de ter sido abandonada, ainda criança, em um bote, com minha mãe, à deriva, por Sir Francis Drake, para que morrêssemos. Sir Drake foi o responsável pela morte de meus pais.
A surpresa do público com a declaração de Ana foi tamanha que o meirinho precisou gritar para que as vozes de indignação fossem acalmadas.
- Continue... – solicitou Elisabeth que não pareceu surpresa com a declaração de Ana.
- Majestade, este homem e seu imediato, o senhor Brett, juntamente com a tripulação do Highlander, foram os responsáveis pela minha volta à Inglaterra e ao lar de meu tio, Sir Edmond. E foi por este homem que me apaixonei e a quem me entreguei de livre e espontânea vontade.
- É verdade que espera um filho dele?
Crow empalideceu. Sentiu o pulsar de suas artérias retumbando  na fronte e a respiração ameaçou falhar.
- Sim, majestade, e com muito orgulho e felicidade, pois esta criança – disse levando a mão ao ventre ainda pouco aparente – não poderia ter melhor pai nesse mundo.
- Crê realmente no que diz?
- De todo o coração, majestade.
Após alguns segundos de suspense, Elisabeth, virou-se para Crow,  inclinou-se ligeiramente e, em voz baixa, audível apenas para aqueles que estavam muito próximos, ela confidenciou:
- Você é um homem de muita sorte, Lodwick, por ter amigos como Arthur Greenville, Sir Edmond Boyle e ser amado tão generosamente por essa jovem.
Levantando-se do trono, de cabeça erguida, olhando para a audiência, deu sua sentença.
- Considerando o passado de bons serviços destes homens na Marinha Real, antes de se tornarem piratas, seu ato de resgate da jovem sobrinha de meu leal e devotado, Sir Edmond Boyle, e sua entrega espontânea para a justiça real, darei meu veredicto...
O ar parecia mais pesado dentro de Westminster Hall, enquanto todos aguardavam a palavra de Sua Majestade. Após uma pausa de efeito, ela continuou.
- Sentencio Nigel Thomas Lodwick a entregar seu navio, o Highlander, juntamente com toda sua tripulação, à Marinha Real, a fim de prestar serviço combatendo os inimigos da Coroa. Brett John Preston será designado como novo comandante responsável pela embarcação e deverá reportar-se, ainda hoje, ao capitão Arthur Greenville para receber sua primeira missão.  O senhor Nigel Lodwick, por sua vez, deverá cumprir suas obrigações para com lady Ana Boyle de Villardompardo, oficializando seu matrimonio, com minha benção, e sendo um bom marido e pai dedicado da criança que gerou. Caso essa sentença não seja cumprida, a pena para os acusados será a morte. – Depois de lançar um olhar benevolente aos réus e à Ana, ordenou:  – Que estes homens sejam libertados imediatamente!
Os guardas, que antes os mantinham sob vigilância, obedeceram prontamente a ordem real, abrindo os grilhões e retirando as correntes.
Controlando o ímpeto de se abraçarem, Crow, Brett e Ana ajoelharam-se diante da Rainha, em demonstração de respeito e agradecimento. Com um leve aceno de cabeça e um disfarçado sorriso,  Elisabeth se retirou seguida por seu séquito de damas.
Assim que o cortejo desapareceu por uma das portas atrás do trono, os olhares de Ana e Crow cruzaram-se. A uma larga passada dele e Ana estava erguida em seus braços, rodopiando em meio aos seus amigos. Depois de um longo beijo, que amenizou um pouco a saudade sofrida, ele pareceu lembrar-se da revelação feita pela rainha a respeito de seu herdeiro e colocou-a no chão com cuidado, continuando a abraçá-la.
- Ana, pode me dizer o que aconteceu aqui? Ainda estou tonto com  esse julgamento e em saber, pela boca da rainha, que vou ser pai!? É realmente verdade isso?
- Dentro de seis meses, segundo o Dr. Hall.
- Quando você soube? – perguntou desconfiado.
- No dia em que desmaiei na casa de seu pai.
- Mas o Dr. Hall não me disse nada...
- Eu pedi para que ele e Tina mantivessem segredo. Você já estava com problemas demais para se preocupar. Eu não queira ser mais um.
- Vocês jamais seriam um problema para mim, meu anjo. – confessou comovido e beijou-a ternamente.
- Que tal se sairmos daqui antes que a nossa soberana mude de ideia? Vocês sabem como ela é... – sugeriu Brett já engatado em Valentina.
Nesse momento, surgiram  Arthur e Timothy caminhando rapidamente na direção deles.
Crow e o pai se abraçaram emocionados.
- Nem sei como lhe agradecer, Sir Boyle – disse Timothy ao deixar o filho para cumprimentar efusivamente o tio de Ana.
- Parece que nossa ação deu certo, senhor. – regozijou-se Arthur, apertando a mão de Boyle.
- Não tinha como dar errado. Nossa rainha é uma pessoa justa, apesar do que as más línguas falam dela.
- Afinal, foram vocês que intercederam por nós perante a rainha? – perguntou Crow não contendo sua alegria de ter Ana junto a si mais uma vez e com a certeza de que agora não se separariam nunca mais.
- Conversando com você, quando se recuperava na casa de Sir Lodwick, e lembrando que Sir Edmond Boyle era tio de Ana, ofereci-me imediatamente para entrar em contato com ele. Não há ninguém na corte que não saiba dos laços de amizade e respeito que unem a rainha e Sir Boyle. Graças a ele, consegui uma audiência com Sua Majestade e pude contar em detalhes, a história do ataque de Francis Drake ao navio de Ramon, apesar de saber que havia uma autorização real para que eles chegassem à Inglaterra em paz. Como testemunha ocular, contei como Nigel, na época, foi torturado por tentar ajudar Eleanor e Ana, e de sua indignação por servir a um capitão tão impiedoso, o que o fez abandonar a Marinha e seguir por outros caminhos.
- O que corroborou para que ela cedesse aos nossos pedidos de clemência foi, principalmente, saber da mentira de Drake. – comentou Edmond – Quando soube o que de fato tinha acontecido com minha irmã e sua família sob as mãos dele e não nas de um pirata, como ele relatou mentirosamente para todos nós, Elisabeth ficou revoltada ao sentir-se ludibriada. Sorte a dele de estar morto.
- A história de Ana também a comoveu... – emendou Arthur. – Quando ela soube que Crow, juntamente com Brett, foi responsável pelo retorno de Ana à casa de Sir Boyle e que ele se entregou espontaneamente para cumprir suas penas e voltar a ser um homem sem  dívidas com a lei e merecedor de Ana, ela ficou comovida. Tentou disfarçar, mas pude perceber que tais atitudes a tocaram.
- Não sei como agradecer a vocês por todo esse empenho em nos ajudar. – falou Crow.
- Faça minha sobrinha feliz e já me sentirei perfeitamente bem pago. – disse Edmond.
- E eu pensando mal de você, Greenville... – comentou Brett envergonhado.
- Eu também desconfiaria, meu amigo. – anuiu Arthur dando uma palmada amigável nas costas de Brett. –  Mas prometemos a rainha manter sigilo sobre como seria o julgamento de vocês... Com o histórico de abordagens e saques que vocês tinham, ela queria que vocês sofressem um pouco e pensassem que não se livrariam da forca...
- Bem, Capitão Greenville, estou pronto a receber suas ordens. – lembrou Brett, abraçado à Valentina.
- Acha que não teremos problemas com a tripulação?
- Creio que não...
- Brett e eu daremos a notícia e certamente eles aceitarão bem a ideia de continuar navegando no Highlander sob a proteção da rainha. – abonou Crow.
- Que tal irmos até minha casa para comemorarmos as boas novas? – convidou Arthur.
Do lado de fora do prédio do tribunal encontraram Bald e Liam com caras fechadas e tristes, que logo foram desfeitas ao avistarem Crow e Brett livres. Foram comunicados da resolução real, que afinal viera de encontro com o que Crow já conversara com os homens em Eleuthera, pouco antes do rapto de Ana.  Bald fez um muxoxo e um sacudir de ombros.
- Não gosto muito da ideia de ter uma mulher mandando em mim, mas tendo minha cabeça no lugar e continuando a navegar no Highlander... Acho que posso viver com isso... – terminou de dizer com uma piscadela de olho.
- Se ela não interferir na minha cozinha... – disse Liam brincando.
- Vamos sentir a sua falta, capitão... – complementou Bald para surpresa de Crow, que nunca ouvira tal sentimentalismo do velho marujo.
- Também vou sentir falta de vocês, mas quem sabe... – falou Crow, rodeando a cintura de Ana, puxando-a contra si e colocando as mãos espalmadas sobre seu ventre. – ... Ana não me libere para um passeio de vez em quando.
- Só se eu puder ir junto...
- Vai ser ótimo ter uma companhia feminina prá variar. – disse Valentina, que até então tinha se mantido calada saboreando a sensação de alívio ao ter Brett e Crow sãos e salvos.
- Quem disse que você vai navegar conosco? – indagou Brett arqueando a sobrancelha.
- EU disse, meu capitão. Nem pense em me proibir e ir contra as ordens da rainha.
- Valentina... – censurou Brett.
- Eu faço parte da tripulação agora e, segundo Sua Majestade, todos terão que servi-la.
Antes que Brett pudesse objetar, ela pendurou-se em seu pescoço e selou sua boca com um beijo.
- Acho que ele acabou de ser convencido. – comentou Ana sorrindo.

Mais uma manhã esplendorosa se iniciava em mar aberto. Ainda tinha o perfume suave de Ana impregnado em sua pele misturando-se ao cheiro do mar que a brisa suave trazia no ar. Levantara-se silenciosamente para não perturbar o seu sono depois de mais uma noite de amor. Já era possível perceber um aumento discreto em seu ventre, mas seu desejo só fazia aumentar a cada dia que passavam juntos. E não era apenas o desejo sexual. Sentia o inesgotável prazer de tê-la ao seu lado, necessitá-la em sua cama apenas para sentir o calor de seu corpo, aconchegar-se em suas curvas, conversar sobre a aventura que tinham pela frente e sobre como seria  o pequeno ser que em breve embalariam em seus braços. Às vezes sentia toda essa felicidade como um sonho. Em questão de poucas semanas sua vida voltara a ter um sentido que jamais experimentara. A descoberta desse amor, onde e com quem parecia tão pouco provável, o reencontro e a reconciliação com seu pai... Tantas peças de um quebra cabeças que finalmente se encaixavam, apaziguando seu espírito. Ficara feliz com a indicação de Brett para o comando do Highlander, bem como de sua união com Valentina.  Sabia o quanto ele apreciava a vida no mar e o quanto ficaria infeliz se não pudesse mais navegar naquele navio. Apesar de parecer relutante em aceitar a presença de Tina nas missões que receberiam dali em diante, sabia que no fundo ele estava satisfeito em tê-la ao seu lado, corajosa e companheira.
Absorto em seus pensamentos, nem viu a figura delgada, de longos cabelos avermelhados, vestida como um rapaz, chegando por trás, estreitando  sua cintura com os braços e encostando a cabeça em suas costas.
- Dou uma moeda de ouro por seus pensamentos...
Ele se virou para encarar a sua doce razão de viver,  envolveu-a nos braços e beijou suavemente seus lábios.
- Estava pensando em você...


Em Eleuthera, reencontraram Didier sóbrio e satisfeito, surpreendentemente disposto a continuar vivendo na ilha. No período em que, segundo ele próprio, fora "abandonado", encontrara consolo nas palavras e companhia de Cora.  Com sua bondade e bom senso, a mulher acabou por conquistar o coração do velho e rabugento ladrão, que decidiu parar de beber e passou a auxiliar nas tarefas da casa e ajudá-la nos cuidados com as crianças.
Após uma semana nas Caraíbas, Crow e Ana embarcaram como passageiros comuns num navio mercante na ilha de San Domingo, colônia espanhola, onde Brett secretamente os deixou para que pudessem partir para a Espanha onde iniciariam sua nova vida.
Em Villardompardo, foram recebidos com grande alegria por Don Esteban que logo se tornou um bom amigo de Nigel. Com seus conselhos a respeito da administração do ducado, então oficialmente reconhecido pela Igreja como pertencente à Ana e seu marido, Nigel tornou-se um exímio administrador, dobrando em pouco tempo o patrimônio da família. Meses depois da chegada do casal, nascia Eleanor, uma linda menina de cabelos cacheados e negros como os do pai e olhos dourados como os da mãe.
Quanto ao capitão do El Tiburón, Castilhos, souberam, tornou-se corsário sob as ordens de Filipe, rei da Espanha.
Após o final da guerra anglo-espanhola, em 1604, Eleanor, então com cinco anos completos, viajou com os pais e seus dois irmãos, de um e três anos, para a Inglaterra. Foi a bordo do Highlander, ainda sob o comando de Brett, em sua última viagem sob as ordens da Marinha Real, que a pequena atravessou o oceano para conhecer o avô, Timothy, e o tio-avô, Edmond.
Ao deixar o comando do navio, depois de cumprir lealmente sua missão como corsário da rainha Elisabeth e de seu sucessor, James I, Brett e Valentina fixaram-se em Eleuthera como produtores de algodão, criando seus dois filhos em terra firme e dando continuidade ao trabalho com os menores abandonados iniciado por Hawke.
O tempo de guerra e aventuras marítimas chegara ao fim, ao contrário das histórias de amor que ali nasceram. Essas continuariam a prosperar nos corações de Nigel e Ana e de Brett e Valentina.

                               F I M



Como podem ver, chegamos ao final do meu romance pirata. Gostaria muito de saber o que achararam, por isso espero ansiosa seus comentários. Demorei para postar pois estava tendo dificuldade em colocar tudo que se passava na minha cabeça sobre o futuro dos personagens. Inclusive, comecei a escrever um outro final, onde Castilhos é quem seria o responsável pela viagem de Ana e Nigel de volta à Espanha, e todos os problemas que poderiam advir desse fato. No entanto, acabei optando por esse final mais simples. Acho que foi o final mais difícil de escrever de todos os meus romances, por isso demorei a postar. Escrevi e reescrevi várias vezes e, ainda agora, não sei se fiquei plenamente satisfeita. Por isso, a sua opinião é muito importante e determinante para que eu decida publicá-lo no futuro. 
Muito obrigada a todos meus queridos amigos e amigas que acompanharam essa aventura, pacientemente, durante todos esses longos nove meses (uma gestação!!), com seus comentários incentivadores e pelo carinho recebido, aqui no blog e nas redes FB e Twitter.
Voces são a razão de eu continuar a escrever.
Nadja e Lucy, minhas comentaristas muito amadas, presentes na última postagem, um enorme beijo no coração de voces. Espero que saibam o quanto são especiais para mim. 
Ainda não tenho ideia de quando voltarei. As inspirações andam esvoaçando por aqui, mas ainda não resolvi qual delas vai me prender nos próximos meses...rsrsrs.
Até o próximo romance!
Beijos carinhosos a todos!

domingo, 4 de março de 2012

O Corsário Apaixonado - Capítulo XX (1ª parte)

- Então, Dr. Hall? O que houve? Ela está bem? – perguntou Crow apreensivo, após uma longa e desesperadora espera diante da porta do quarto em que Ana, acompanhada por Valentina, havia sido colocada para a avaliação do médico.
- Foi apenas um mal estar passageiro. Ela precisa se alimentar melhor e dormir algumas horas.
- Tem certeza que não é nada grave, doutor? – perguntou Crow notando um comportamento estranho no médico, o que o perturbou. – Ela tem alguma moléstia grave? Por favor! Preciso saber!
- Já disse que ela está bem. Precisa apenas de repouso e boa alimentação. Se duvida – disse Hall com discreta irritação. –, pode certificar-se por si mesmo.
Afastou-se da porta, dando espaço para Crow entrar no quarto, indicando a passagem com a mão.
- Desculpe, doutor... Não pretendia duvidar do senhor...
Apesar de sua angústia pelo ocorrido com Ana, devia muito ao Dr. Hall, tanto por sua dedicação durante o período em que estivera doente, como pelo fato de não tê-lo denunciado às autoridades. Claro que isso também  podia ser explicado pela antipatia que o médico, adepto do Puritanismo, nutria pela Rainha Elisabeth, sua política e os boatos a respeito de seus amantes. De qualquer forma, Crow não se sentia no direito de duvidar do diagnóstico desse homem. O certo é que estava muito perturbado com o desmaio de Ana e isso, provavelmente, estava fazendo com que imaginasse o pior.
- Eu o entendo... Parece gostar muito dela...
- Sim... Gosto...
- Quer um conselho? – indagou em voz baixa, respondendo sem esperar a afirmação de Crow – Faça dela uma mulher honesta enquanto tem chance.
- É o que pretendo fazer. – respondeu com um meio sorriso, achando aquele conselho um tanto fora do contexto. Provavelmente descobrira que ela já não era mais virgem e soubera quem tinha sido o responsável. Como bom puritano, certamente o médico não tinha visto essa situação com bons olhos.
- Faça isso...
- Obrigado, doutor.
Após um breve aceno de cabeça, se despediu e andou em direção às escadas.
Não se contendo mais, Crow entrou no quarto. Encontrou Valentina pedindo que Ana não se levantasse da cama, sem sucesso.
- Sente-se melhor? – perguntou cuidadoso. – Porque não segue o conselho de Valentina e fica deitada. O Dr. Hall acabou de que precisa de repouso.
- Foi só um ligeiro mal estar. Já passou... – falou com um sorriso tímido. – Estou me sentindo bem agora.
- Ela não tem se alimentado direito – adiantou-se Tina – Bem que eu falei...
- Tina... Será que pode nos deixar a sós? – pediu Ana delicadamente.
- Claro! Que tolice a minha... Vocês têm muito a conversar... Vou ver se o cabeça-dura do Brett já melhorou o seu humor.
Parecia preocupada ao sair do quarto, apesar do sorriso estampado na face.
- O que há com a Tina? – perguntou ele estranhando os modos da amiga.
- Acho que dei um susto em todos vocês... Desculpe... – respondeu aproximando-se dele.
- Foi realmente apenas um mal-estar passageiro? – acariciou-lhe a face com o dorso da mão direita.
- Não foi isso que o Dr. Hall lhe disse? – replicou trançando os braços em torno da cintura dele.
- Sim, mas... – hesitou, mas correspondeu ao abraço.
- Ele parece ser um bom doutor... Foi ele que cuidou de você, não? Parece ser confiável. – continuou aproximando ainda mais o corpo ao dele.
- Não tenho dúvidas disso... A senhorita, por acaso, está tentando me seduzir? – terminou por murmurar quando ela roçou os lábios em sua boca.
- Talvez...
- Que eu saiba, o Dr. Hall lhe recomendou repouso...
- Tudo que eu preciso é você, meu corsário.
Ele sorriu, sentindo o desejo invadir-lhe o corpo e a mente.
- Ainda quero saber o que aconteceu durante esse tempo em que estivemos separados...
- Depois... Agora me beije...
Esquecido momentaneamente de tudo que acontecera, Crow não conseguiu mais controlar seu desejo. Haviam passado demasiado tempo afastados, cercados de incertezas e pelo medo de nunca mais poderem ter um ao outro. As palavras já não eram necessárias. O diálogo era entre seus olhares, transbordantes de paixão e saudade. Crow a ergueu nos braços sem pensar em nada mais, a não ser saciar aquela inesgotável ânsia de senti-la junto a si, fundindo-se ao seu corpo e a sua alma. Deitou-a sobre a cama como se colocasse uma relíquia sobre um altar, acariciou seu rosto, analisando cada detalhe com a ponta dos dedos, enquanto ela, de olhos fechados, estremecia  ao seu toque. Continuou a carícia com os lábios ao longo do pescoço, beijando de leve a pele acetinada, descendo até onde a camisa masculina se encontrava abotoada. Delicadamente abriu um por um dos botões, desvendando as formas arredondadas sob o pano grosseiro, fazendo-a arquear e gemer ao sugar seus mamilos rijos pela excitação. As mesmas mãos que despiram as barreiras de tecido, desvendando-a aos seus olhos extasiados, agora percorriam espalmadas suavemente através das curvas delicadas de seu corpo.  Ao tocar a parte interna das coxas, onde ela pulsava e se umedecia numa carência exigente, levou-a a um estremecimento completo, e ele ouviu seu nome sussurrado entre gemidos. Sorrindo e lutando para controlar um pouco mais sua própria necessidade crescente, Crow persistiu, beijando o montículo em forma de V, coberto pela discreta penugem avermelhada e, mais uma vez, excitando-a ao passar a língua sobre os úmidos lábios íntimos. Levantou-se, terminou de se despir e se deitou sobre ela com cuidado. Ao senti-lo, Ana elevou as pernas e enlaçou-o na altura do quadril, surpreendendo-o agradavelmente. Ela o puxava para dentro de si como se ele fosse uma parte importante de seu corpo a qual precisava que retornasse  à sua origem com urgência. Temendo machucá-la, penetrou-a lenta e profundamente. Estava de volta ao paraíso quando a sentiu jogar-se contra ele, em busca do êxtase. Com movimentos cada vez mais rápidos e intensos, levou-a a um novo orgasmo. Cobriu sua boca com um beijo acalorado antes que ela gritasse seu nome mais uma vez e pouco antes dele próprio atingir o clímax.


Seguindo a prescrição do Dr. Hall, de boa alimentação, passeios curtos pela manhã, para se beneficiar do exercício e dos raios de sol, que se tornavam cada vez mais raros, Ana não apresentou nenhum outro episódio de desfalecimento. Apesar de saberem que a situação de Crow continuava pendente e perigosa, tentavam aproveitar ao máximo os momentos que tinham a seu dispor no presente. Na noite seguinte à chegada de Ana, Crow decidiu seguir o conselho do Dr. Hall, mesmo tendo seu futuro incerto ou, talvez, exatamente por isso. Afinal, ele tinha lhe tirado a castidade e, caso ele viesse a perecer, pelo menos ela seria uma jovem viúva  e não uma "perdida". Teria chance de refazer sua vida na Espanha ou na Inglaterra, casada com outro homem. Essa ideia lhe provocava intensa repulsa e só de pensar nisso seu peito doía como se tivesse sido atacado por um marrete direto no coração; mas precisava pensar dessa forma.
O pedido foi feito diante de seu pai e de seus amigos durante o jantar. A surpresa e a felicidade demonstradas por Ana enquanto ouvia as palavras ditas por Crow, muito sério e emocionado, provocou o surgimento de lágrimas rolando livremente em seu rosto.  Foi abraçada e beijada pelo noivo, enquanto recebiam os alegres cumprimentos das testemunhas presentes.
Tendo em vista que o prazo dado por Arthur se extinguiria  muito em breve, decidiram ter uma cerimônia simples, com a presença de um monge que lhes daria a benção e lavraria o registro de casamento, oficializando a união.
- E o vestido de noiva? – perguntou Tina, que já se assumira como madrinha. – Não pode haver casamento sem um vestido de noiva.
- Não é necessário, Tina... – tranquilizou-a Ana. – O que realmente importa, eu já tenho. – disse olhando para Crow com um sorriso inebriado.
- Acho que posso resolver esse problema – intrometeu-se Timothy com olhar cúmplice, provocando surpresa em Crow. – Não se preocupem com esse detalhe.
Timothy guardara o vestido de noiva de sua esposa por muitos anos. Agora ele seria novamente usado para um momento de felicidade, dessa vez para o seu filho. Tinha certeza que sua esposa, onde estivesse, ficaria muito orgulhosa deles.
Três dias depois, se emocionaria ao ver Ana vestida com a roupa que o comovera muitos anos antes, quando viu a mãe de Crow naquele traje, andando em sua direção pelas mãos do sogro.
Diante de um altar improvisado, no jardim da mansão dos Lodwick, Crow, ansioso, aguardava a chegada de sua noiva, vestido como um fidalgo, mantendo a sua rapieira, trazida por Brett do Highlander, onde a deixara por ocasião de sua prisão, embainhada na cintura. Levava a cabeleira negra presa  à nuca com uma discreta fita preta. O monge estava atrasado e isso o estava incomodando. Passava constantemente os dedos sobre o punho da espada. Jamais pensara ficar tão nervoso por causa de uma cerimônia à qual nunca dera importância. Olhou o amigo que permanecia ao seu lado, recebendo de volta uma piscada de olho reconfortante. Isso o fez lembrar que  Brett e Valentina tinham voltado a entender-se e do alívio que sentia ao ver  a alegria voltar aos olhos de sua "irmãzinha ".  Após muitos rodeios, seu amigo confessara a Tina o motivo de seus receios em se tornarem um casal e o porquê de se considerar indigno de seu amor, algo que Crow já sabia, mas nada contara por respeito à vontade de Brett. Contou-lhe, após muita insistência dela, que seu pai era um marginal e extremamente violento. Procurava sua mãe apenas quando precisava de dinheiro para gastar nos bares da cidade. Quando não obtinha nenhum valor, espancava-a.  A pobre mulher trabalhava grande parte do dia para um mestre pisoeiro (tintureiro), lidando com água, tintas e tecidos, em condições totalmente insalubres na beira do Tâmisa, e o pouco que ganhava mal dava para sustentar a ela e ao filho pequeno. Certo dia, farta da exploração pelo marido inútil, se negou pela última vez a dar o que o miserável pedia. Foi espancada até a morte na frente de seu filho único, então com dez anos. Esse fato marcou definitivamente a vida de Brett, que se viu jogado nas ruas, após a prisão e enforcamento do assassino de sua mãe, acabando por levar uma vida na marginalidade. Tornou-se um jovem revoltado, que acreditava ter herdado a má índole do pai. Seu maior temor, depois que conheceu Crow, era não conseguir controlar seu gênio e acabar por machucar a quem não merecia. Quando sentiu que se apaixonara por Valentina e que era correspondido, ergueu mil barreiras e desculpas para afastá-la. Dona de uma personalidade forte e teimosa como o raio, o medo de feri-la durante uma discussão mais exacerbada ou tirar sua vida era grande demais para permitir-se amá-la como um homem normal.
- Quando você apareceu no meio daquele bosque,  desobedecendo nosso trato...  – relembrou Brett.
- Já disse que não fiz nenhum trato com você. – insistiu Valentina.
- Na minha cabeça havíamos feito uma combinação de que você esperaria até a minha volta... Quando a vi, só conseguia imaginar os riscos por que tinha passado e fiquei furioso com a sua atitude irresponsável, arriscando a sua vida e a de Bald. Naquele momento juro que tive vontade de lhe dar uma surra.
- Foi a primeira vez que sentiu essa vontade? – ela brincou – Jurava que essa ideia já tinha lhe passado várias vezes pela cabeça.
- Não brinque com isso, Tina... A imagem de meu pai espancando minha mãe me assombrou mais uma vez e...
- Querido... – ela pegou em sua mão e a levou de encontro ao rosto – Sei que jamais seria capaz de uma coisa dessas.
- Como pode saber? – disse encarando-a com um triste olhar.
- Brett... Há quantos anos nos conhecemos? Quantas vezes você levantou sua mão contra mim ou contra qualquer outra mulher? Você é um ladrão, um pirata... Isso ninguém pode negar... – disse isso com expressão brejeira. – Mas essa é uma situação que pode mudar, ao contrário do seu caráter. Você é um homem bom, gentil, carinhoso e...
- E...? – indagou já com a face menos contraída.
Valentina se acercou dele, passando os braços a sua volta e puxando-o contra si, encarando-o com  ar muito sério.
- E eu te amo, seu bobo... – Colocou-se na ponta dos pés e roçou seus lábios nos dele.
- Ah, Tina... Te amo também, minha maluquinha. – declarou, sentindo como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. Envolveu sua nuca com as mãos e a beijou com paixão.

Os minutos pareciam se passar muito lentamente naquele altar. Crow voltava a rever os novos planos de vida que reestruturara em acordo com Ana. Deixara para trás a ideia de entregar-se a justiça inglesa, aparentemente corrompida. Eles voltariam como marido e mulher à Espanha e lá ele se passaria por um comerciante  irlandês. Ela tomaria posse de suas terras e títulos e viveriam lá até que a guerra chegasse ao fim. Não lhe agradava muito a ideia de viver às custas da esposa, apesar dos argumentos dela mostrarem que ele seria o legítimo dono de tudo que era seu, além de tornar-se o administrador das propriedades de Villardompardo, algo que estava sendo feito por Esteban atualmente. Logo após a cerimônia, eles partiriam  ao encontro do Highlander.  Já convencera Brett a assumir seu navio e a administração dos bens de Hawke juntamente com Tina, como ele próprio fizera até então.
Finalmente o monge que realizaria o casamento chegou, sendo levado por Brett até o altar onde estava Crow. Esse, por sua vez, deixou de lado toda a ansiedade que experimentara durante aqueles longos minutos, ao avistar Ana no lindo vestido de veludo azul claro (N.A.: cor que representava a pureza da noiva na Idade Média).  Com delicados bordados no decote e na barra das mangas e da saia, a vestimenta era complementada por um singelo e curto véu branco sob o qual estavam presos os cabelos ruivos de Ana num coque.  Trazia nas mãos o rosário de coral que pertencera também à mãe de Crow. Segurando o braço de Timothy, foi conduzida por ele ao altar. Tina não conseguiu evitar uma lágrima e passou a apertar com ainda mais força a mão de Brett. Assim, na presença de Sir Lodwick, Brett, Tina, Liam, Bald, Dr. Hall e alguns poucos empregados, Crow e Ana tornaram-se marido e mulher.
Ainda estavam sendo cumprimentados, quando sentiram um ligeiro tremor sob os pés. Cerca de vinte cavaleiros, vestidos com as cores do reino, acabavam de invadir a propriedade, dirigindo-se ameaçadoramente em sua direção.
(continua...)


Parece que ainda não foi dessa vez que o nosso casal conseguiu encontrar a paz para viverem seu grande amor. Paciencia... O que será que vai acontecer agora? Será que o Arthur  Greenville vai mesmo fazer essa sacangem com os amigos, prendendo o Crow? Espero que estejam gostando da minha história. Eu disse no início que estava iniciando esse romance por pura diversão, pois sempre adorei os filmes de piratas e, entre os  temas para escrever, este era um dos meus preferidos. Acho que os piratas ainda mexem com a imaginaçao da gente (vide o sucesso da recente série Piratas do Caribe) e quando o pirata é alguém como o Capitão Crow... (suspiro).
Um super beijo para as minhas comentaristas do último post, Nadja e Rudy.
Espero voces na continuação desse capítulo! Até mais!
Beijos à todos!

PS: O problema com o acento circunflexo do meu PC continua...