quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte final)

As duas primeiras semanas em Paris pareceram intermináveis e tristes. Depois da primeira noite, em que, após acomodar Victor em sua cama, chorou durante várias horas relembrando as revelações de Cássia e a cena que presenciara no quarto de Robert, decidiu que começaria uma nova vida. Vida... Era uma palavra nova em seu vocabulário. Buscava abafar seus medos em relação ao futuro, receios de como seria tentar ser humana, se Victor conseguiria adaptar-se à nova alimentação... Ao lado de todas estas incertezas, descobrira um grande amigo em Cyro Zimbro. Até então ele não passava de um marchand, que raramente via pessoalmente, e que a ajudava com a exposição e a venda de suas telas. Este seu trabalho agora seria muito conveniente, pois seria destas vendas que tiraria o seu sustento e o de Victor, como qualquer pessoa normal. Às vezes tinha a impressão que Cyro conhecia a sua verdadeira natureza, mas era discreto o suficiente para não incomodá-la com perguntas intrometidas a respeito de sua decisão de morar na capital francesa. A primeira vista era um homem estranho, calado, de idade indefinida. Talvez algo em torno de 50 e 60 anos. Não era muito alto para os padrões masculinos, tinha cabelos pretos e lisos, cortados bem curtos, um olhar manso em olhos castanho-claros, um nariz aquilino, sobre uma boca de lábios finos, que raramente sorriam. Não tinha certeza de sua nacionalidade, mas falava em francês sem sotaque algum. Mas nos últimos dias tinha demonstrado tal diligência com Luísa, que se tornara uma presença que lhe transmitia segurança. Talvez estivesse projetando nele o pai que não tivera. Aquele que lhe fora arrancado tão prematuramente...
Logo que começou a tentar modificar o tipo de alimentação, foi invadida por cólicas terríveis, dor de cabeça, náuseas e fraqueza geral. A sensação de “fome” a perseguia, sem nunca conseguir realmente satisfazê-la. Sabia muito bem o que seu organismo exigia e tentava não pensar sobre isto nem demonstrar suas dificuldades para o filho. Felizmente, com Victor o quadro era diferente. Ele parecia estar se adaptando facilmente à dieta vegetariana imposta pela mãe. Não se queixava, apesar de às vezes aparentar certa fraqueza. No geral parecia um pouco mais corado que antes. Silenciosamente, ela torcia para que ele pudesse ter uma vida normal como qualquer menino comum da sua idade. Talvez por ser muito jovem e com uma genética mais humana que hematófaga, ele conseguisse se adequar aos novos hábitos. Envolvida com tantas mudanças e preocupações, sobrava pouco tempo para pensar em seus próprios sentimentos. À noite, no silêncio do apartamento, sem as constantes perguntas, choramingos e risadas de Victor, seus pensamentos voavam para Robert e as lágrimas voltavam a rolar em sua face. Pensava que talvez tivesse sido precipitada em relação a ele. Já sabia que Lisa era sua amiga e, certamente, em algum momento, tinham tido alguma “história” juntos. Ela não era ingênua a ponto de descartar este fato. Entretanto, tinha acreditado em Robert quando ele falou que Lisa e ele tinham representado, naquela noite no hotel, estar mais envolvidos para despertar ciúmes nela. Porém, durante a cena que vira no quarto, eles não sabiam da presença dela. No fundo tinha esperança de estar enganada e que, no desespero em que estava, seus olhos tivessem lhe pregado uma peça. Mas preferia não pensar mais nisso. Talvez o melhor fosse continuarem como antes. Ele tinha a carreira dele e uma mulher - vampira e um filho certamente o atrapalhariam, refletiu com amargura.


Se fosse possível o silêncio fazer eco, isto é o que se ouviria entre as paredes do castelo de Mircea. Cássia sentia o peso da eternidade em suas costas, como nunca sentira antes. Pensava muito em Luísa, desde que ela partira, levando o pequeno Victor. Compreendia a revolta que desencadeara em sua filha adotiva ao contar sua verdadeira estória, mas isto não a impedia de sentir falta da sua presença, de suas conversas, do seu carinho. Talvez um dia as coisas pudessem voltar a ser como antes. Um dia... Cerca de uma semana depois daquele dia de revelações, a equipe de Will Fetter partira para Londres, a fim de continuar o trabalho de produção do seu filme. Juntamente com eles, seguiram Robert, que prometera encontrar Luísa e conversar com ela. Esperava conseguir convencê-la a ficar com ele. Acreditava que poderia explicar o mal entendido ocorrido. Disse que a amava muito e que faria de tudo para tê-la junto a ele. Estas declarações do humano a fizeram admirá-lo um pouco mais e perceber alguns dos motivos que levaram Luísa a apaixonar-se por ele. Contudo, a ausência que mais sentia era a de Arnold. Ele viajara de volta para a Grécia três dias depois da saída de Luísa, com a promessa de que voltaria o mais breve possível, trazendo os romenos sobreviventes da época em que Vlad declarara a extradição de seus oponentes. O orgulho e um certo medo os mantivera afastados todos estes séculos, mas agora, com o convite da última descendente da nobre família e o aval de Arnold, que certificara-se da falta de hostilidade contra eles, poderiam voltar a viver junto às suas raízes. À família Tepes ainda pertenciam muitas terras, que eles poderiam ocupar e refazer suas existências. Com Arnold, também se foram Eric e Cristopher, levando consigo Gabriele e Monique, respectivamente. Obviamente Lana também os acompanharam rumo à Grécia, onde planejariam o seu futuro como casais. Era uma nova geração de sua espécie, que ela tanto sonhara nas horas em que acreditava que tudo estava acabado. À exceção de sua relação com Luísa, tudo parecia estar se encaminhando para uma boa resolução. Arnold não prometera nada. Os dias que passaram juntos foram inesquecíveis, mas ela preferia não nutrir falsas esperanças de tê-lo ao seu lado. Toda sua família estava em Santorini. Sabia que seria difícil para ele uma mudança tão radical, já que ela sentia o mesmo em relação a si mesma. Não conseguiria viver longe de seu castelo, sua terra, suas lembranças. Por isso, não ousou pedir-lhe tamanho sacrifício ... O verão logo chegaria ao fim e os ventos frios do norte voltariam a castigar a região. Sentada numa confortável cadeira no terraço da mansão, com o entardecer num céu encoberto por nuvens e alguns tênues raios de sol brigando entre elas para despejar um pouco de seu derradeiro brilho sobre os campos e matas, Cássia fechou os olhos e suspirou resignada com sua situação de solitária.
Não saberia dizer quanto tempo ficou assim até que despertou de suas divagações ao sentir-se observada por alguém. Como num sonho, forçou-se a abrir as pálpebras pesadas e, diante do que viu, sentiu-se transportada a outro sonho.
- O que faz a minha bela dama solitária a dormitar aqui ao relento?
Só então percebeu que a noite já caíra e que tinha pego no sono. Ou será que ainda estava sonhando e imaginando que Arnold estava à sua frente, com um lindo sorriso, brincando com ela?
- Arnold? – perguntou sonolenta.
- Quem mais você estava esperando? Será que tenho algum rival que desconheço, competindo por seu amor? – dizendo isso rindo, ajoelhou-se diante dela e continuou, com expressão apaixonada e mais séria – Não consigo mais ficar longe de você. Estes últimos dias de separação foram uma tortura para mim. Espero que você permita que eu fique...
Cássia sorriu e dobrou-se para frente, com a mão estendida até tocar o rosto dele e ter certeza de que a imagem a sua frente não era apenas fruto da sua mente angustiada.
- Eu estava esperando por você... Apenas por você. Quanto a ficar aqui... É o que mais desejo desde que o vi partir.
Ao ouvir estas palavras e ver o fulgor no olhar de Cássia a buscá-lo, Arnold levantou-se, enlaçando-a pela cintura e forçando-a a levantar-se também, enquanto a trazia para junto de si e buscava seus lábios, que prontamente o receberam sedentos do seu gosto.
- Tive medo que não voltasse a vê-lo.
- Quando disse que haviam vários romenos exilados querendo voltar às suas origens, incluí a mim mesmo. Ainda tinha algumas dúvidas sobre este retorno e se era isso que eu queria realmente, mas depois que a conheci minha certeza consolidou-se. Só preciso do seu aceite para ficar.
- Ainda tem dúvidas se o quero? – perguntou Cássia sedutoramente.
- Preciso me certificar muito bem disso...
- Se quiser posso assinar uma autorização para você – murmurou, aproximando sua boca dos lábios de Arnold, mais uma vez – Posso assinar aqui de novo?
Ele sorriu, lembrando da primeira vez em que a beijara.
- Sem dúvida alguma.
Qualquer tristeza que amargurasse o espírito de Cássia foi esquecida ao perder-se no beijo e nos braços de Arnold Paole.


Estava ansiosa. Acabara de deixar Victor na escola infantil que existia próxima ao apartamento onde estavam morando. Tinha visto o receio em seus olhinhos, mas logo a coragem que era característica de sua personalidade tomou posse e ele juntou-se aos novos colegas da mesma idade. Andava se queixando da separação de Lana, tristonho, sem saber o que fazer com a saudade que sentia de sua parceira de aventuras. Isto tinha sido uma das causas que tinham levado Luísa a procurar um lugar com crianças da idade dele, com quem pudesse brincar. Outro motivo era a introdução de seu filho na sociedade dos humanos, da qual pretendia fazer parte. Suas esperanças de que isso pudesse tornar-se realidade aumentava a cada dia, com o cessar de seu mal-estar e a crescente adaptação à nova dieta alimentar. Ainda tinha suas crises de “fome”, mas já eram menos frequentes e mais brandas.
Preparava-se para ir à galeria para falar com Cyro a respeito do aluguel de um pequeno estúdio onde pudesse trabalhar em suas telas, já que no apartamento não tinha espaço suficiente para isso, quando se surpreendeu com o toque da campainha. Cautelosa, foi até a porta e perguntou quem era. Na falta de resposta, permaneceu tentando escutar algum movimento, quando novo toque se deu, estremecendo-a. Armou-se de ânimo, empertigou-se e abriu a porta com presteza. Ao verificar que o dono do chamado em sua entrada era Robert, tentou voltar atrás e fechar a porta com a mesma presteza com que a abrira, mas não conseguiu, pois ele evitou a ação interpondo seu braço e o pé esquerdos na abertura.
- Luísa, nós precisamos conversar – clamou enquanto os olhos brilhavam dentro de uma expressão de quase desespero – Por favor, deixe-me entrar – suplicou.


Diante daquele olhar de súplica, nos olhos azul-esverdeados que ela tanto amava, as forças para lutar contra ele logo se esvaneceram e ela acabou por afastar-se da porta, permitindo que ele entrasse.




Sua vontade era de tomá-la em seus braços e declarar o quanto sentira a sua falta e o quanto a desejava, mas conteve-se, com medo de ser repelido e acabar com qualquer chance de reconciliação. Com a permissão de Luísa, entrou na sala modesta, mas aparentemente confortável, e ficou esperando por ela para sentar-se em uma das duas poltronas que havia ali. Porém o convite para tal não foi feito e ele permaneceu de pé. Ela parecia mais magra, mas com um leve rubor nas maçãs do rosto.
- Como você me encontrou aqui? – perguntou em tom nervoso.
Robert, antes de responder, olhou em torno a procura de Victor, o que foi notado por ela.
- Victor não está. Por favor, fale logo a que veio e saia – disse com voz enfraquecida.
- Estou a procura de vocês desde que me abandonou em Mircea sem explicação alguma. Cássia nos contou sobre a conversa que manteve com você e imagino o que você deve ter sofrido com as revelações dela. Por que não me procurou? Eu já estava praticamente recuperado do incidente com o lobo e não havia motivo para negar o meu consolo numa hora difícil como esta. Eu queria estar ao seu lado para tentar minimizar o seu sofrimento... Só queria entender por que fugiu de mim também.
Luísa engoliu em seco e quase esqueceu o motivo que a levara à atitude que a afastou de Robert diante daquela declaração.
- Eu o procurei, Robert. Eu o procurei e o encontrei na cama, nos braços daquela mulher, aos beijos – disse com repentina raiva contida.
- O quê? Luísa, você devia estar meio cega pelo seu desgosto para ver uma cena como esta – exclamou surpreso, mas comprovando suas suspeitas – Naquele dia, Lisa foi me visitar, pois soube do acidente. Você deve ter chegado na hora em que ela se despedia e debruçou-se sobre mim para me dar um beijo de amiga, no rosto. Tente lembrar bem do que viu. Você imaginou uma cena romântica entre nós que não existiu.
Notou que ela vacilou por alguns instantes e aproveitou-se disso para aproximar-se e pegar na sua mão.
- Luísa, tem que acreditar em mim. Por favor... – falou enquanto começava a levar sua mão aos lábios.
Prontamente, ela retirou a mão dentre as dele e recuou.
- Pode ser que eu tenha me enganado no que pensei ter visto, mas aquilo serviu para que eu enxergasse que é impossível mantermos um relacionamento. Você tem a sua carreira, tem a sua liberdade para ter todas as mulheres normais que quiser... Não precisa ficar preso a mim. Eu permitirei que veja o seu filho quando quiser. Não o usarei para mantê-lo junto a mim – despejava aquelas palavras sem conseguir olhá-lo nos olhos, pois sabia que não conseguiria dizer tudo sem fraquejar se o encarasse.
Robert mais uma vez tentou a aproximação e, antes que ela recuasse novamente, segurou-a pelos ombros e falou carinhosamente:
- De onde você tirou estas idéias ridículas de liberdade e de obrigação de ficar com você por causa do Victor? Luísa, eu te amo. Mesmo não lembrando quem você era, depois que forjou a minha perda de memória, eu continuei a amá-la todos estes anos, nos resquícios de minhas lembranças daqueles dias na Grécia. O que eu preciso fazer para que você acredite em mim? A minha vida só valerá à pena daqui em diante se você estiver ao meu lado, Luísa.
Ela finalmente ergueu a cabeça na direção dele, buscando a confirmação de suas palavras em seu olhar. E ela encontrou o que procurava no brilho apaixonado de seus olhos.
- É a primeira vez que você diz que me ama...
- Então será a primeira das milhares de vezes que vou repetir, para que você não esqueça nunca: “Eu te amo”... – disse ternamente, rodeando a cintura dela com os braços, beijando-a com paixão e sendo correspondido plenamente.
Foram interrompidos pelo som insistente do celular de Robert. Ele afastou-se de Luísa sorrindo e disse:
- Acho que esqueci de alguém me esperando lá embaixo – falou ao atender o telefone – Oi, Lisa.
- Lisa?? – exclamou Luísa com evidente e desgostosa surpresa.
- Está tudo certo... Quer falar com ela?... Está bem – respondeu a sua interlocutora e ofereceu o aparelho para que Luísa pudesse falar.
Ela o pegou hesitante e acabou por colocar em posição de escuta.
- Alô?
- Luísa, minha querida! Fico muito contente que vocês tenham se acertado finalmente. Eu vim junto para o caso de ter de dar o meu testemunho sobre qualquer mal-entendido que tenha acontecido entre nós. É preciso que você saiba que ele está realmente apaixonado por você e que eu estou muito feliz com isso. Desculpe se interrompi alguma coisa, mas achei que ele havia esquecido de mim e realmente preciso voltar para o hotel correndo, pois o Will ficou de me pegar para almoçarmos juntos logo mais.
- Obrigada, Lisa...
- Adeus, Luísa, e cuide bem do moço aí ao seu lado.
- Adeus... – despediu-se e logo ouviu o clique e o silêncio do outro lado.
- O que ela falou? – perguntou Robert curioso.
- Disse para eu cuidar de você - disse sorrindo e entregando o celular de volta ao proprietário – Ela também falou que ia sair para almoçar com Will.
- Pois é. Sabe-se lá como, mas em meio a várias discussões, acabaram por descobrir pontos em comum e resolveram tentar, digamos, se conhecer melhor. Inacreditável, não? – disse rindo – Mas, voltando ao nosso assunto, referente àquela parte da sua conversa com a Lisa, sobre cuidar bem de mim. Que tal começar agora? – insinuou com um sedutor sorriso, mas parou subitamente, como se tivesse lembrado de alguma coisa – E o Victor? Ele não está mesmo em casa?
- Não... Ele está na escolinha do bairro... Tenho muito que contar sobre estes últimos dias.
- Depois você me conta. Agora quero matar a saudade... – falou com a voz enrouquecida pelo desejo e, ávido, buscou a boca de Luísa.
Aliviada por saber que estava enganada a respeito de Robert e mais confiante em seu futuro junto a ele, agarrou-se ao seu pescoço e perdeu-se naquele beijo, como se fosse a primeira vez. Perdeu-se na volúpia que experimentava toda vez que ele a tocava, quando aquelas mãos percorriam seu corpo, arrebatando-a para um mundo só deles, onde os problemas se diluíam e só o prazer era presente. Ele a possuiu ali mesmo na sala, com urgência, ansioso por unir-se a ela mais uma vez, numa necessidade que crescia a cada instante, a cada dia, e que provavelmente nunca teria fim. Era algo mais que o simples desejo carnal. Era o levitar, o retorno ao lar, o conforto, o fim da procura...

Saíram do apartamento cerca de duas horas depois de seu reencontro, alertados por Cyro Zimbro que telefonou para Luísa, preocupado com sua demora em encontrá-lo no local onde seria o seu novo estúdio. Robert a acompanhou. Queria conhecer este misterioso marchand que a acolhera de forma tão paternal, conforme ela lhe contara entusiasmada. No fundo ficara com ciúmes e queria confrontá-lo e saber se esta amizade era totalmente desprovida de outras intenções. Também estava ansioso com a segunda parte de seu passeio. Eles buscariam Victor na escola e contariam que ele era seu pai.
Lá estava ele, Cyro Zimbro, em frente a um prédio antigo, no Boulevard Saint-Michel, no Quartier Latin, próximo ao Museu de Cluny. Após as apresentações, subiram no elevador antigo, mas restaurado e seguro para o uso, e foram levados ao quarto andar. Lá ficava a ampla sala, com uma magnífica vista do Boulevard, dos jardins de Cluny e dos telhados de Paris, que tornavam o local bastante agradável. Cyro parecia animado, dentro do possível, e já parecia ter determinado onde seriam colocadas as telas prontas, de forma a ter uma pequena exposição disponível a possíveis compradores ou expositores interessados, e onde seria o melhor recanto para Luísa pintar. Tinha uma cozinha rudimentar, mas com o essencial para preparo de pequenos lanches e café, se ela tivesse necessidade de ficar mais tempo por lá.
- O meu problema, Cyro, é o econômico. Não sei se terei recursos suficientes para pagar um estúdio deste tamanho, nesta região de Paris. Imagino que o preço seja muito elevado.
- Isto não é problema, minha amiga – afirmou, antes que Robert pudesse interferir, propondo responsabilizar-se por estes gastos – Este imóvel também é meu e claro que estou disposto a emprestá-lo pelo tempo que for necessário. Assim que você for famosa, o que acredito não deve demorar muito, e puder pagar um aluguel, aí conversaremos novamente.
Robert começou a desconfiar de tantas gentilezas.
- Creio que o senhor já fez muito por Luísa – interveio Robert, sob o olhar reprovador dela – Mas, como seu futuro marido, posso perfeitamente arcar com estas despesas iniciais.
Cyro sorriu, compreendendo o temor de Robert.
- Não se preocupe. O que estou propondo não é disfarce de nenhum interesse escuso, senhor Robert. Luísa é uma grande pintora. Sei que no momento em que dedicar-se mais a este seu dom, venderá facilmente toda a sua produção artística. Não faço nada mais do que minha obrigação como marchand, com amplo interesse comercial, e também como amigo. Além disso, existem mais pontos em comum entre nós, que podem explicar a minha simpatia para com esta bela jovem – Neste instante ele olhou diretamente para Luísa e continuou - Eu conheço vários artistas que tem origem semelhante a sua, minha cara, se é que me entende. Creio que o senhor Robert também saiba a que estou me referindo.
- Confesso que tinha uma ligeira desconfiança quanto a isto, Cyro. Você também é um... Vampiro? – perguntou Luísa agradavelmente admirada.
- Eu era um vampiro, Luísa. Sou o que você está tentando se tornar. Um ex-vampiro, ou pelo menos, alguém que já não é mais hematófago. Somos muito poucos espalhados pelo mundo. Não é algo comum e, até bem pouco tempo, era algo muito mal-visto pelos membros de nossa espécie. Claro que apenas alguns transformados, conseguem este retorno ao estado humano. Muitos morrem tentando. Descobri que isto poderia ser viável ao estudar uma antiga sociedade, originada no Egito, que atualmente tem sede na Espanha, e cujos membros descendem de vampiros. Um dia poderemos conversar mais sobre isto. Só quero que saiba que é possível e, pelo que tenho observado, você tem grandes chances de conseguir, bem como Victor. Como vê, senhor Robert, sou inocente de suas desconfianças.
- Fico mais tranquilo com estas suas explicações, senhor Zimbro.
- Mas, então? Gostou da minha oferta?
- Claro. Negócio fechado – confirmou Luísa.
- Eu ainda assim prefiro pagar a parte de Luísa, se o senhor não se ofender.
- Não há problema algum, se Luísa concordar.
Ela apenas escutou e não quis discutir com Robert na frente de Cyro. Conversariam mais tarde sobre aquela pequena interferência.
- Já está na hora de buscar o Victor – lembrou – Amanhã nos falamos, Cyro. Muito obrigada por tudo – despediu-se, depositando um beijo no seu rosto, sendo retribuída da mesma forma.
- Até amanhã, Luísa.
Robert notou que ela não gostara muito do modo como ele se intrometera junto a Cyro, mas já sabia como contornar esta situação. Não queria que ela ficasse devendo nada para ninguém, nem mesmo para um simpático vampiro humanizado.
Chegaram ao prédio onde funcionava a escolinha de Victor exatamente na hora da saída. Enquanto Luísa conversava com a professora sobre como tinha sido a sua adaptação ao novo ambiente e aos coleguinhas, aconteceu algo inesperado. Ao ver Robert ao lado da mãe, Victor correu em sua direção e o abraçou nas pernas. Emocionado, Robert o levantou no colo e o beijou.
- Você não está mais machucado? – perguntou o garoto enquanto buscava algum sinal de machucadura em Robert.
- Não, Victor. Estou muito bem e feliz em ver você – respondeu com a voz embargada.
- E eu, não ganho um beijo? – perguntou Luísa com um pouco de ciúmes, mas comovida com a atitude carinhosa do filho, que esticou o pescocinho para oferecer os lábios para um beijo na face da mãe, sem aventar a hipótese de sair do colo de Robert.
- Vocês têm um filho muito inteligente e carinhoso. Parabéns! – disse a professora com expressão embevecida.
Luísa e Robert trocaram olhares cúmplices de satisfação.
- Onde nós vamos? – perguntou alegremente o menino.
- Vamos para casa. O Robert e eu temos uma coisa para contar a você.
- É surpresa?
- Talvez, e acho que você vai gostar do que vai ouvir – respondeu Luísa, olhando para pai e filho com orgulho e uma enorme sensação de felicidade.


Passaram-se quase doze meses. Londres preparava-se para a pré-estréia do novo filme de Will Fetter, que deveria iniciar uma nova febre a respeito do mistério que sempre envolvera o tema em questão: os vampiros. Muitos dos famosos ônibus de dois andares londrinos carregavam os cartazes de “O Mistério do Castelo de Mir”, celebridades chegavam de vários pontos do mundo para a premiere e os comentários da imprensa eram os mais elogiosos possíveis, levando em conta o talento do diretor e do elenco. A expectativa era grande entre o público e a crítica.
“Na noite de ontem, sobre o tapete vermelho, com fãs barulhentos afastados por cordões de isolamento dos dois lados, chegou Will Fetter de mãos dadas com a atriz coadjuvante, Lisa Weber, confirmando o que os fofoqueiros de plantão já alardeavam há algumas semanas. Eles estão noivos e planejando seu casamento para logo depois de terminarem seus compromissos nas várias estréias da película em diferentes países. Pouco depois, foi a vez de Eric Paole chegar acompanhado da bela ruiva que passou a ser presença obrigatória ao seu lado nos últimos tempos. Dela só sabemos o primeiro nome: Gabriele. Como sempre, este ator tem conseguido manter sua privacidade, conservando sua vida particular fora da mira dos paparazzi. Logo atrás deles, seguia um terceiro casal, não tão conhecido do grande público, formado por Cristopher Stoltz e sua noiva Monique. O ator dedica-se mais ao teatro ultimamente, mas segundo alguns críticos que tiveram a oportunidade de assistir a uma prévia do filme, seu trabalho está impecável. Ele será, segundo algumas fontes, o segundo casamento da mulher que estava ao seu lado, e que já é mãe de uma menina de cinco anos. O desfile de atores e artistas das mais variadas categorias continuou. Entre estes, mas bem menos famosos, a condessa Cássia Tepes e seu marido, Arnold Paole, reconhecidos por alguns como tendo sido convidados pelo diretor Fetter, em agradecimento a cessão para filmagem das áreas externas e internas do Castelo de Mircea, na Romênia, de propriedade dos Tepes. Ao final do desfile, um aumento do tumulto se fez quando o ator principal, Robert Neville e, para tristeza da maioria de suas fãs, sua esposa, a artista plástica Luísa Neville, desceram da limusine preta. Entre acenos e sorrisos, sua linda mulher o cedeu para os autógrafos e aproximação do público presente, como sempre foi seu costume e motivo de torná-lo tão admirado e querido por suas admiradoras. Comentava-se que ela teria sido sua namorada antes da fama e com ele teria tido um filho. Logo após, despediram-se e adentraram ao teatro. Ao final da sessão, entre aplausos e cumprimentos, todos seguiram para a magnífica festa que os esperava nos salões de um famoso hotel da capital do Reino Unido”. Este foi apenas um dos relatos jornalísticos que fizeram parte da cobertura do lançamento do filme de Will Fetter, e que saiu na principal coluna de um dos grandes jornais de Londres.

Após a festa, Robert e Luísa seguiram para o seu apartamento londrino, onde haviam deixado Victor aos cuidados de uma babá. Ao chegar, enquanto Luísa dispensava a jovem “nany”, Robert foi até o quarto do menino, que dormia. Enquanto o observava com carinho, Victor abriu os olhos de leve e perguntou com voz arrastada:
- A festa já terminou?
- Já, Victor. Mamãe e eu já estamos de volta. Pode dormir tranquilo – disse em voz baixa, acariciando-lhe a cabeça, tentando tirar-lhe dos olhos os cabelos rebeldes.
- Que bom... Boa noite, pai – murmurou, sorrindo de leve, já de olhos fechados.
- Boa noite, meu filho – respondeu orgulhosamente enternecido, pensando em como pudera viver até então sem estes pequenos prazeres domésticos, como ver a expressão de paz de seu filho dormindo ou encontrar a mulher que amava a esperá-lo com um abraço depois de um dia de trabalho...
Luísa ficou observando os dois através da porta entreaberta.
- Querido... Ele dormiu? – sussurrou.
- Sim... – respondeu e estendeu o braço, acenando-lhe com a mão para que ela se aproximasse deles.
Ela pegou a mão que lhe acenava e abraçou Robert com o braço livre, juntando-se a ele para admirar o filho.
- Ele não é lindo? – perguntou Robert contemplativo.
- Tendo o pai que tem, só podia ser assim – cochichou ela no seu ouvido.
- Podemos considerar uma pequena parcela da mãe também... – considerou, apertando as mãos dela em torno de seus ombros um pouco mais forte.
- Pequena? – indagou dando-lhe um tapinha repreensor no ombro e sorriu.
- É, talvez um pouquinho mais... – tentou manter o ar sério – Eu diria meio a meio.
- Melhor... Já dispensei a babá.
- Ótimo. Melhor parar de babar aqui e ir para o quarto. O que acha?
- Vamos.
Saíram fazendo um mínimo de barulho para não atrapalhar o sono do pequeno.
Enquanto Robert foi ao banheiro, Luísa aproveitou para vestir a camisola nova que comprara na tarde anterior. Pensava em como a vida tornara a sorrir-lhe em tão pouco tempo. Às vezes pensava estar sonhando acordada ao ver Robert ao seu lado, brincando com o filho ou simplesmente conversando assuntos corriqueiros da vida doméstica. Sentia necessidade de dividir sua felicidade com todos aqueles que lhe eram ou tinham sido importantes na sua existência. Não havia mais espaço para rancores antigos. Além disso, por mais que tentasse, não conseguia deixar de gostar de sua “mãe adotiva”, Cássia. Afinal, ela a protegera durante todos aqueles anos, inclusive do homem que tanto amava, o Conde Victor.
- Não sei por que você ainda perde tempo vestindo camisola – a voz rouca de Robert chegou ao seu ouvido quando se sentiu agarrada carinhosamente por trás, despertando-a de seus pensamentos.
- Você não gostou desta? – resmungou.
- Ela é muito bonita, mas pessoalmente acho mais lindo o “recheio” dela – cochichou e passou a beijá-la no pescoço.
- Combinei de encontrar-me com Cássia e as meninas, amanhã, no hotel onde estão hospedadas para conversarmos. Acho que vai ser bom... – contou com voz entrecortada pelos arrepios provocados pelos beijos e carícias dele.
- Tenho certeza disso – concordou num cicio sem parar os carinhos.
- Monique convidou Victor para passar uma temporada com eles na Grécia. Lana morre de saudades dele.
- Concordo... – disse com voz impaciente, já baixando as alças da camisola, que acabou por cair sobre o tapete da suíte.
- Você nem está prestando atenção ao que eu digo... – reclamou divertida, virando-se de frente para ele.
- Estou sim... Mas agora estou mais interessado em outro tipo de conversa...
Dizendo isso, selou os lábios de Luísa com um beijo apaixonado, enquanto a elevava nos braços e a levava para a cama.

Três dias depois voltaram para Paris, onde mantinham residência fixa, num luxuoso apartamento próximo ao Champ de Mars. Luísa continuava a trabalhar em seu estúdio no Boule Miche, como chamavam os franceses ao Boulevard de Saint-Michel, confirmando a intuição de Cyro Zimbro, a respeito de seu sucesso como pintora. Cada vez mais raramente sentia a “fome”, necessitando do fluído artificial criado e oferecido por Paole para facilitar a sua transição.
Robert continuava fazendo sucesso com seus filmes e em sua produtora, já podendo dar-se o direito de passar mais tempo junto à família.
Victor passaria as próximas férias com Lana, na Grécia, a convite de Cristopher e Monique, que esperavam mais um filho para breve.
Gabriele decidira esperar um pouco mais para engravidar. Eric ainda viajava muito devido aos inúmeros compromissos de trabalho. Infelizmente, não conseguiam ficar por muito tempo em sua residência em Santorini, onde eram vizinhos de Cris e Monique. Mesmo assim sentiam-se felizes e completos.
Cássia e Arnold desfrutavam de boa e calma vida à sombra dos Cárpatos, entre a nova comunidade criada em suas terras. Ele desenvolvera um laboratório num dos recintos do castelo, onde persistia em suas pesquisas científicas.
A vida continuava. A espécie mantinha-se resguardada. Humanos e vampiros, vivendo lado a lado, sem conflitos, como fora o sonho do fundador do clã grego, antecessor de Arnold Paole, e deste próprio.


FIM




Espero que tenham gostado do final deste romance vampiresco. Aceito críticas e sugestões, como sabem. Mais uma vez agradeço às minhas leitoras e colaboradoras queridas, que continuam me incentivando nesta minha tentativa de compor estórias romanticas que façam minhas leitoras sonhar.
Aproveito este final, para desejar um FELIZ NATAL e UM ANO NOVO MARAVILHOSO para todos. Pretendo voltar à "luta", no início do ano, com novas criações. Podem aguardar. Este se tornou o meu vício e, infelizmente, pretendo continuar torturando, a quem desejar ser torturado, com meus romances.
Felicidades,sonhos realizados, muito amor, saúde e paz neste ano de 2010. É o que desejo de coração para todos. Beijos!!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 13)

Os clarões dos relâmpagos começavam a cortar os céus no alto dos Cárpatos. A nova tempestade de verão já estava próxima. A brisa suave tornava-se mais impetuosa, forçando os pinheirais a curvar-se sobre a floresta, com grande agitação de seus galhos, e lançamento de maior número de pinhas ao chão. Apesar das mudanças bruscas do clima na região, a vida no imponente castelo parecia estar voltando ao normal.
Paole acabara de sair rumo à cidade, depois de ter feito a segunda parte de seu tratamento em Robert. As crianças já brincavam nos jardins, sob os cuidados de Monique, que observava de longe o trabalho de Cristopher, com uma expressão sonhadora no rosto. Will Fetter resolvera rodar algumas cenas de Lisa e de Cris, até poder contar novamente com seu astro principal, Robert.
Cássia chamou Luísa para conversar em uma sala íntima junto aos seus aposentos. Queria privacidade para tocar no assunto delicado que teria de expor, depois de tantos anos em que mantivera aqueles fatos lamentáveis desconhecidos de Luísa.
- Confesso que fiquei surpresa com o seu comentário no final da noite passada. Não sabia que guardava um segredo sobre o meu passado. Sempre pensei que fosse filha de sua irmã, Carina, e de um dos nobres descendentes de Vlad, que perdeu a vida antes de eu nascer. Dessa forma eu seria uma vampira pura, como citou Paole. Se isto não é verdade, então quem sou eu, Cássia? E por que a mentira a respeito de minhas origens?
- Luísa, espero que entenda meus motivos para esconder-lhe esta verdade por todo este tempo. Na realidade, eu não pretendia contar-lhe estes fatos em nenhum momento de sua vida. Mas, agora muitas coisas mudaram, além do que ocorreu com seu... Com Robert. Se eu não falasse a verdade naquele momento em que Arnold solicitou um doador, o tratamento de Robert seria inútil e a verdade acabaria por aparecer de qualquer forma. Além disso, sei que está pensando em unir-se ao pai de Victor e estes esclarecimentos poderão facilitar a sua escolha
- Você está me assustando, Cássia, com todo este rodeio. Afinal, quem são meus pais e por que este mistério todo?
Com visível apreensão e voz trêmula, Cássia falou.
- Tudo aconteceu no final do século dezenove. Naquela época procurávamos ser mais discretos, atacando apenas aos marginais e malfeitores que aparecessem na aldeia, o que era muito bem recebido pelos aldeões. Foi quando Lucca, o irmão mais novo de Victor, precisando urgentemente de “alimento”, precipitou-se ao escolher sua vítima. Acabou por atacar um velho bêbado que ameaçava algumas mulheres com um pedaço de madeira. Ele esperou que o homem ficasse sozinho e o atacou. Infelizmente, o filho estava a sua procura para levá-lo para casa e acabou por ver tudo. Depois de enterrar o pai, passou a procurar Lucca para chantageá-lo, pedindo dinheiro. Quando Lucca negou-se a ceder à chantagem, foi pego numa emboscada nos arredores da vila e morto com uma estaca no coração. Ao saber, Victor enlouqueceu e partiu em busca de retaliação. Ainda tentando demovê-lo da idéia, o acompanhei até a cabana que ficava nos limites da cidade. Era noite e tudo estava às escuras. Ensandecido e com fome de sangue e vingança, atacou o assassino de Lucca e sua mulher, que começou a gritar desesperada ao ver o que estava acontecendo. Ele não queria deixar testemunhas, como seu irmão o fizera. Depois de tudo acabado, antes de sairmos, ouvi um choro fraco, vindo de um dos cantos do quarto, de dentro de um pequeno berço de madeira. Era um bebê, com apenas alguns dias de vida. Uma menina...
Neste ponto, a expressão horrorizada de Luísa chegou ao seu ponto máximo. Começou a sacudir a cabeça lentamente, como se isso pudesse espantar as terríveis palavras que acabava de ouvir.
- Eu nunca pude ter filhos – Cássia continuou – Quando a vi ali, tão indefesa... Victor não queria. Disse que você cresceria e se vingaria dele e esta estória não teria fim. Depois de muito eu insistir, ele permitiu, mas com a condição de que eu a transformasse numa de nós e a criasse como uma vampira legítima. E foi isso que eu fiz. Você não tinha a mínima chance de sobreviver ali...
Luísa ainda tentava absorver a história de sua família. Lembrou de como era tratada friamente por Victor, por mais que tentasse agradá-lo. Anos de mentira... Não podia negar que Cássia tinha tido boas intenções e que a criara como criaria uma filha. Sempre se mostrou sua amiga... De repente, um lampejo de dor nublou sua expressão.
- Cássia... Você participou ativamente da morte de meus... deles?
- Tudo aconteceu muito rápido... – titubeou.
- Participou? – perguntou mais rispidamente.
Sem conseguir encará-la, Cássia baixou os olhos numa atitude de aquiescência.
Luísa sentiu o peito petrificar e as pernas adormecidas não conseguiam reagir a qualquer estímulo ou ordem para levá-la para longe dali. Sentia-se presa dentro de si mesma. Não sabia mais o que pensar ou o que fazer com os sentimentos que se emaranhavam numa rede tortuosa em sua mente. Lembrou das tantas vezes que tentara agradar ao “tio”, da lealdade para com Cássia e seu clã, do dia em que colocou o nome de Victor em seu próprio filho... Os assassinos de seus pais... A cabeça latejava e a visão estava turva. Tinha que sair dali. Pensou em seu filho e em Robert. Eles eram a sua esperança de vida nova.
Como um autômato, foi saindo da sala sem pressa. Cássia permaneceu muda, respeitando a dor de Luísa, mas inquieta com sua reação e com as ações que resultariam daquela revelação.
Encaminhou-se para o quarto onde Robert estava. Precisava do seu conforto, do seu carinho. Não contaria nada do que soubera a pouco, mas tentaria decidir com ele o que fariam dali em diante, agora que nada os impedia de viverem suas vidas. Quando se aproximava da porta, ouviu uma risada feminina, já sua conhecida. Vacilou entre entrar ou não. Sem fazer barulho, abriu a porta e sentiu suas forças esvaírem-se de vez. Robert encontrava-se deitado, com Lisa sobre ele, a abraçá-lo e compartilhando um apaixonado beijo. Pelo menos foi o que Luísa interpretou no momento. Nem mesmo Roberto era confiável. Mal o conhecia. Esta era a verdade. Amara a um homem que conhecera durante uma viagem de seis dias e dedicara-se a sua lembrança por tanto tempo que conseguira enganar-se tolamente a respeito do seu amor. Ele certamente mudara e o fato de lembrar-se do que acontecera há quatro anos não lhe assegurava nada além de desejo carnal. Fragilizada e sentindo-se traída por todos, correu para fora do aposento. Precisava fugir dali. Ir para algum lugar onde pudesse ficar a sós com seu filho e pensar no que faria a seguir. Tudo o que considerara até hoje como um esteio para sua vida, desaparecera como fumaça diante de seus olhos. Não conseguia confiar em mais ninguém, a não ser nela mesma.
Arrumou uma mala com algumas peças de roupa, chamou Victor e contou a Monique que faria uma viagem.
- Mas o que está acontecendo, Luísa? Para onde vocês vão?
- Para bem longe daqui – respondeu sem olhar a amiga.
- Olhe para mim, Luísa, e me diga que está havendo?
Ela vacilou por alguns instantes, imaginando se deveria dar alguma explicação para Monique, que sempre foi sua amiga, mas sentiu que não conseguiria falar sobre o seu sofrimento naquele momento e continuou seus preparativos.
Acompanhada pelo menino perplexo e alarmado com as estranhas atitudes da mãe, Luísa pegou seu carro e partiu sem olhar para trás. Pingos de chuva grosseiros começavam a pipocar sobre a estrada íngreme e um agradável cheiro de terra molhada e de pinho infestou o ar.

- Bem, meu querido, agora que vi que você está melhor que eu, vou voltar para o hotel e aguardar a hora em que Will vai poder rodar as cenas em que atuamos juntos – disse Lisa, despedindo-se de Robert alegremente, depois de lhe dar um abraço e efusivo beijo na bochecha – Trate de recuperar-se logo, pois não poderei suportar mais que alguns dias para encerrar minha participação neste fim de mundo. Não consigo ficar muito tempo longe da civilização. Você sabe como é, não?
- Não se preocupe. Devo retornar dentro de mais um dia, segundo o meu médico.
Despediram-se. Pensou em Luísa. Havia adormecido ao seu lado e quando acordou ela não estava mais. Estava ansioso sobre como se apresentaria a Victor como seu pai. Apesar de estar encantado com a idéia de ter um filho, sentia-se estranho e com medo da grande responsabilidade a assumir tão inesperadamente. Mas sabia que contaria com Luísa ao seu lado e isso lhe dava toda a coragem de que necessitava.

Logo a notícia da “viagem” de Luísa espalhou-se pelo castelo e seus moradores. Robert estava atônito, sem saber o que pensar. Queria uma explicação que não conseguiam lhe dar. Ela não deixara nem uma carta ou bilhete de despedida esclarecendo sua partida. Arnold Paole impediu que ele se levantasse para partir em sua perseguição. Ainda faltava a última transfusão, que só seria realizada na manhã seguinte, para a sua plena recuperação. Só então estaria liberado para fazer o que bem entendesse.
À noite, a pedido de Cássia, todos se reuniram no salão principal, incluindo Robert, que foi liberado da cama, depois de prometer que não faria grandes esforços. Com o apoio de Arnold, para quem já contara a história de como conhecera Luísa com lágrimas nos olhos, revelou aos demais presentes o que presumia fosse a causa da fuga da mãe de Victor e os motivos que a levaram a esta revelação tão tardia. Gabriele e Monique já desconfiavam da origem humana de Luísa, mas não imaginavam como havia ocorrido sua transformação.
- O que me surpreende é o por quê dela não ter falado nada comigo – reclamou Robert, ainda perplexo com o ocorrido.
- Tem certeza de que não aprontou nada com ela, Robert? – perguntou Monique.
- Claro que não! – sobressaltou-se – Por que está dizendo isso?
- Porque eu a vi saindo do seu quarto contendo as lágrimas hoje à tarde, antes de arrumar suas coisas e partir.
- Mas eu... Será que ela viu Lisa e pensou...? Não é possível...
- O que foi que aconteceu? – indagou Gabriele.
- Lisa, a atriz que trabalha conosco no filme, e é minha amiga de muitos anos, foi me fazer uma visita hoje à tarde, pois soube do acidente através do Eric. Será que Luísa a viu no quarto e ficou com ciúmes?
- Vocês se beijaram, nesta despedida?
- Sim... Mas um beijo no rosto, de amigos.
- Considerando a fragilidade em que ela devia estar depois do que ouviu de Cássia, é possível que ela os tenha visto e entendido mal a situação – ponderou Monique.
- Eu preciso encontrá-la. Ela deve estar desesperada com tudo isto que ficou sabendo. Se ainda por cima está imaginando que a traí, então a coisa deve estar sendo ainda mais difícil.
- Calma, Robert. Você tem que terminar a sua recuperação. Tenho certeza que Luísa não vai fazer nenhuma loucura. Pelo que Cássia me contou sobre o modo de ser dela e pelo fato de estar com o filho, acredito que ela não fará nada que possa prejudicar o menino ou a ela própria. Provavelmente está tentando fugir e esconder-se, até conseguir colocar as idéias no lugar. Creio que todos aqui vão querer ajudar a encontrá-la – tentou tranquilizá-lo, Paole.
- Logo terminaremos as filmagens e poderemos procurá-la juntos – disse Eric, que olhou para Cris, obtendo a sua anuência silenciosa com um gesto de cabeça.
- Tenho um palpite para podermos começar as buscas – disse Monique, com expressão iluminada, como se acabasse de lembrar de algo muito importante chamando a atenção imediata de Robert e Cássia – Deixem comigo. Amanhã mesmo vou entrar em contato com uma pessoa que certamente poderá nos ajudar a chegar até Luísa.
- Quem? – exclamou Robert ansioso.
- Não se preocupe. Assim que tiver alguma novidade, eu aviso. Trate de se recuperar e terminar o seu trabalho, para depois correr atrás dela. Conheço a Luísa muito bem e sei que não precisamos nos preocupar com reações que ponham em risco sua vida e, muito menos, a de Victor.


Olhou para Victor que dormia tranquilamente na poltrona ao seu lado. Logo estariam chegando para começarem uma vida nova, longe daqueles que a tinham magoado. Sua maior preocupação era a respeito de sua sobrevivência. Já ouvira falar sobre a possibilidade de readaptação da alimentação nos casos de humanos transformados em vampiros. Algumas lendas falavam sobre vampiros que, quando afastados de suas regiões de origem, teriam conseguido tornarem-se humanos após algum tempo. Nunca tentara nada, pois não tinha dúvidas sobre suas origens. Agora poderia testar esta teoria e, quem sabe, ter uma vida normal junto à sua raça original. O mesmo valeria para Victor, que já demonstrara desde cedo suas tendências para uma dieta mais “saudável” em termos humanos.
Tentou dormir um pouco, mas o barulho dos motores do avião a incomodavam excessivamente. Não queria pensar em mais nada do que tinha ocorrido em Mircea. Tentava afastar aqueles pensamentos martirizantes de sua mente, para que Victor não percebesse sua agonia. Havia dito a ele que fariam um grande e belo passeio por um lugar belíssimo, conseguindo animá-lo um pouco e tirar a tensão de seu rostinho. Antes de dormir ainda perguntou por Lana, sua companheira inseparável, de quem gostava muito e de quem não queria ficar afastado por muito tempo. Sabia que com o tempo ele esqueceria tudo aquilo. Ainda era pequeno e logo se readaptaria às mudanças.
Finalmente chegaram. Um carro já os esperava na entrada do aeroporto para levá-los ao apartamento que Zimbro havia conseguido para acomodá-los. Ele tinha sido muito discreto e extremamente eficiente em sua ajuda à Luísa. Não fez nenhuma pergunta e imediatamente tratou a ida dela para Paris e sua hospedagem em um apartamento de sua propriedade que se encontrava para alugar. Sentiu-se segura por poder contar com um bom amigo como ele. No dia seguinte começaria a providenciar o seu estabelecimento na cidade, que passaria a ser o seu novo lar. Ainda sentia uma dor intensa em seu peito, mas pensava em Victor e no seu futuro. O apartamento ficava numa agradável ruela na Île de Saint Louis, no terceiro andar de um dos vários prédios antigos, com vista para o Sena. Pegou a chave com a zeladora, conforme tinha sido orientada por seu amigo, e respirou fundo ao entrar e sentir-se protegida do mundo lá fora. A decoração era simples e funcional, mas de bom gosto. Colocou Victor para dormir novamente, desfez as malas, colocou uma roupa confortável e foi para a janela admirar a iluminação que irradiava de Notre Dame, localizada a poucos metros da margem em que estava. Pensou ironicamente que talvez tivesse escolhido a cidade certa para ir. Esperava sinceramente que a cidade-luz lhe devolvesse a vontade de viver e que iluminasse os seus caminhos dali para frente.



Nem acredito que estou conseguindo postar mais este capítulo do meu romance. Esta foi uma semana muito movimentada do lado de cá, mas estou aqui para cumprir o minha meta de pelo menos postar um capítulo por semana. Prometo que agora falta pouco para terminar. Como sempre, agradeço à paciêcia das minhas leitoras e por seu estímulo através dos recados e comentários.
Mil beijos a todas!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 12)

O dia amanheceu ensolarado, mas algumas nuvens acinzentadas começavam a concentrar-se sobre as montanhas, ameaçando acabar com o brilho da manhã. Provavelmente a chuva viria com a tarde. O pesadelo da noite já era passado. Monique observava a filha dormindo, em sua cama, imaginando o susto pelo qual ela tinha passado. Lana era uma criança curiosa e aventureira, mas ainda indefesa. Talvez passasse a ser mais prudente depois daquele incidente. Sorriu ao lembrar que Victor, logo que foram trazidos para casa, ainda tentara eximi-la da culpa pela fuga para protegê-la. Tão pequeno e tão corajoso. Já era um cavalheiro. Mas Lana assumira a sua participação no ocorrido. Não esperava que fosse diferente. Ela conhecia muito bem sua filha. Faziam uma dupla e tanto aqueles pequenos. Mas desta noite tirariam uma lição e passariam a pensar melhor em suas atitudes e nas conseqüências de seus atos. Pelo menos é o que Monique esperava.
- Ela dormiu? – indagou a voz grave atrás dela, na abertura da porta do quarto.
- Sim – respondeu ligeiramente sobressaltada.
Cristopher aproximou-se da cadeira ao lado da cama onde ela estava sentada. Ele podia ver a sua silhueta delgada na penumbra do aposento, com o rosto sereno, a cuidar do sono da filha. Sentiu um aperto no coração. Sentimentos estranhos o envolviam e insistiam em mantê-lo ao lado dela. Colocou a mão sobre o seu ombro, num gesto de apoio e carinho.
- Você está bem? – perguntou.
- Estou. Obrigada – assentiu, colocando sua mão sobre a dele instintivamente, por breves segundos, e retirando-a rapidamente, ao conscientizar-se de seu ato. Sentia-se bem ao lado dele, mas ainda ficava apreensiva. Além disso, não era o momento de pensar nestas coisas agora. Precisava dar atenção maior a Lana.
- Não quer dar uma volta para espairecer um pouco? – perguntou, aumentando levemente a pressão de sua mão sobre o ombro dela.
Monique suspirou e levantou-se, lançando mais um olhar para Lana, que dormia tranquilamente. Seria bom caminhar para relaxar.
- É... Talvez seja uma boa idéia – decidiu.
Cristopher mostrara-se amigo e estivera ao seu lado enquanto acalmava Lana e Victor, ajudando-a a conversar com os dois e apoiando-a na repreensão proporcionada. Apesar dele ser quase um estranho, percebeu em si uma segurança e um conforto que nunca sentira ao lado de alguém. Era uma sensação nova e muito curiosa. Agora, andavam lado a lado, numa cumplicidade silenciosa. Aos poucos Monique ia relaxando e aproveitando melhor a companhia de Cris. Foram caminhando até o terraço de onde se vislumbravam as montanhas e o bosque. Ficaram olhando ao longe, ambos procurando entender o que acontecia entre eles. A primeira a falar foi Monique.
- Acho que devo desculpas a você pela forma que o tratei no outro dia.
- Não me lembro de nada que você tenha feito que necessite de pedido de desculpas.
Ela sorriu e o olhou, tendo que estender o pescoço para cima, devido a grande estatura de Cristopher.
- Bem, já que não lhe devo desculpas, quero que aceite o meu agradecimento por ter ficado ao meu lado durante os últimos acontecimentos. Não que eu não pudesse dar conta sozinha, – falou para mostrar-lhe que era uma pessoa independente – mas foi bom poder contar com uma figura masculina ao lado. Nunca soube o que é isso, mas foi bom.
- Figura masculina ao lado... – ele gargalhou – Fui reduzido a uma figura masculina. Ninguém nunca tinha me definido assim.
- Desculpe – ela reagiu, sentindo que podia tê-lo magoado por não saber como expressar-se – Não queria ofendê-lo. – De repente sentiu-se uma estúpida por ter dito o que disse.
Ele pegou sua mão que estava sobre o balcão de mármore e segurou-a com suave pressão, num contato que a fez estremecer. Ela o olhava preocupada.
- Não me ofendeu. Eu entendi o que você quis dizer, Monique.
- Foi uma noite muito intensa. Muitas informações, mudanças de planos, o incidente no bosque,... Ainda estou processando tudo – ela continuou, olhando para seus próprios pés.
- Eu entendo... Só quero que você saiba que pode contar comigo para o que precisar... Mesmo que seja só para ter uma “figura masculina” ao seu lado – tornou a rir da imagem que Monique tinha criado para ele.
Finalmente ela o encarou, sorrindo e disse:
- Se for ficar zombando de mim, pode ir embora.
Foi a vez de ele ficar sério e olhá-la intensamente.
- Não quero ir embora... Sei que mal nos conhecemos, mas desde que a vi tem sido difícil tirá-la da cabeça. Até hoje sempre me senti como um estrangeiro em todos os lugares por onde passei. Isto parece estar mudando... Desde ontem. Assim como Paole, tornei-me vampiro contra a vontade... – a voz embargada o forçou a uma pausa, denunciando que aquele fato de sua vida ainda o perturbava muito – Mas, não quero incomodá-la com este assunto.
Monique percebendo a necessidade dele em expor esta experiência, puxou-o pela mão até o banco de pedra que estava próximo a eles.
- Venha, Cristopher – disse conduzindo-o e sentindo uma grande ternura pelo homenzarrão a sua frente. Queria ouvir a sua estória e, quem sabe, atenuar seu sofrimento – Conte-me como foi.
- Tem certeza? – disse arqueando uma das sobrancelhas e colocando um meio sorriso nos lábios.
- Absoluta. Tempo é o que não me falta – tranquilizou-o sorrindo – Além disso, adoro estórias de vampiros – disse num sussurro, provocando mais um sorriso. De repente, o grande e forte vampiro desfazia-se de sua armadura de invencibilidade, despindo sua alma para ela, o que a tocou profundamente.
Cristopher, a princípio um pouco inseguro, passou a contar sua história, como nunca havia contado a ninguém antes. Nascera em 1916, em Neu-Ulm, uma cidade da Baviera, cortada pelo Rio Danúbio. Teve uma infância alegre, filho de um professor de alemão e uma dona de casa, que gostava de plantar rosas no pequeno jardim nos fundos de sua casa, até que a ascensão de Adolf Hitler ao poder trouxe a guerra. Jamais tinha ouvido falar em judeus, discriminação de raças ou que seu povo pudesse ser superior a outros. Quando foi convocado para o exército, viu lágrimas nos olhos do pai, que era contra as idéias do novo governo nazista. Após um breve treinamento, no final de 1941, foi enviado com um grupo de oficiais e alguns soldados para a Grécia, onde a ocupação fora bem sucedida, mas estavam necessitando de ajuda para conter os movimentos de resistência que começavam a surgir. Lá, precisou controlar seus impulsos para sair em defesa de inocentes e resistir à visão das atrocidades praticadas por seus conterrâneos. Foi numa viagem à Santorini em que, não suportando a violência com que trataram a uma família de pescadores, exigindo a comida que eles não tinham e assediando a mulher e a filha, partiu na defesa deles. O oficial em comando era um homem ignorante e violento. Quando um reles soldado, como Cris, se opôs às suas ordens e enfrentou-o, indignou-se de tal maneira que, depois de ordenar aos outros que o surrassem covardemente e fazer um sumário julgamento de insubordinação, tendo como testemunhas seus colegas de uniforme, concluiu a sua pena com um disparo certeiro no coração de Stoltz, com sua Luger. Deixaram-no para morrer no local e foram embora, deixando o pescador e sua família livres da truculência do facínora nazista, mas com um moribundo em mãos. Por sorte, ou por azar, um dos curiosos ilhéus, que apareceu para ver o que estava acontecendo, fazia parte do clã de vampiros da ilha. Naquela época, Paole mal começara suas pesquisas, apesar de já ser um grande estudioso das artes médicas. Assim que ele soube do ocorrido, mandou que levassem o soldado para sua casa. Lá, antes que o coração atingido perdesse sua força completamente, ele decidiu transformar o rapaz num igual a eles.
- No início, revoltei-me – continuou Cris – Não conseguia entender por que ele fizera aquilo comigo. Só com o tempo e conhecendo melhor as idéias de Paole, fui me convencendo de que a minha nova vida podia ser muito produtiva. Tornei-me amigo de Eric, sobrinho de Paole, que acabou por me influenciar com o seu entusiasmo pelo teatro. Fomos juntos para a Inglaterra para estudar as artes cênicas, no final da década de 80. Com os trabalhos surgindo, acabamos seguindo cada qual para o seu lado, nos encontrando esporádicamente. Agora tivemos esta oportunidade de trabalhar juntos. Sempre que posso vou à Grécia para visitar Paole, que acabou se tornando minha família. Depois que ele descobriu o sangue artificial as coisas se tornaram mais fáceis para nós. Hoje, só tenho a agradecer a ele por ter me transformado.
Cristopher parecia aliviado ao final de sua estória, como se tivesse espantado alguns fantasmas que ainda o assombravam.
- Fico contente que você tenha encontrado o seu caminho e aceitado bem sua transformação... Caso contrário não estaríamos aqui, juntos, conversando sobre isso – Sua voz refletia total sinceridade e prazer ao citar a palavra “juntos”, o que foi percebido por ele.
Uma agradável sensação de intimidade, percebida em seus olhares, aproximou-os ainda mais e, quando Monique já cedia seus lábios para um beijo, foram bruscamente interrompidos pela saudação de Will Fetter, que acabara de chegar à mansão. Afastaram-se rapidamente, mas em seu íntimo sabiam que aquele momento seria apenas adiado. Will já tinha sido avisado por Eric sobre o que acontecera e vinha para fazer uma visita ao amigo. Teria que interromper as filmagens, já que Robert atuaria na maioria das próximas cenas. Aproveitaria para filmar paisagens e ângulos diferentes do castelo. Ainda não desistira de convencer Cássia a deixá-lo filmar dentro da fortaleza. Talvez tivesse sorte agora que ela tinha hospedado um de seus atores principais.
- Cris! – gritou. Era seguido de perto por Lisa, que ficara muito preocupada com a notícia do acidente – Pensei que você tivesse voltado com Eric - falava ofegante depois de uma rápida corrida num lance de cinco degraus para o terraço. Só então se deu conta da presença de Monique.
- Bom dia, senhorita.
- Bom dia – respondeu ela, levantando-se do banco - Cris, é melhor eu ir. Lana pode acordar. Nos falamos depois.
- Está bem – aquiesceu, dando-lhe um beijo rápido na face – Até mais.
Assim que ela desapareceu através da porta de vidro que dava acesso aos salões do castelo, Lisa não conseguiu esconder o comentário malicioso.
- Parece que todos estão se arranjando por aqui, menos eu. Será que não tem nenhum conde perdido e solteiro neste castelo?
- Infelizmente, minha cara, não será aqui que vai encontrar o seu príncipe encantado – disse Will – Que eu saiba, o único homem que habita esta casa tem apenas quatro anos de idade.
- Quem sabe o seu “príncipe” não esteja bem ao seu lado e você apenas ainda não o descobriu, Lisa? – disse Cris em tom zombeteiro.
- Posso tomar isto como uma oferta pessoal, Cris? – indagou, lançando um olhar sedutor para ele.
- Estou me referindo ao Will aqui. Sei que ele morre de amores por você – respondeu tentando conter a gargalhada que subia por sua garganta e dando um abraço afetuoso no diretor, que lançou uma olhada raivosa para Cristopher e desvencilhou-se de seu abraço.
- Nem que ele fosse o último homem da face da terra. O máximo que eu permito é que ele me dirija nos seus filmes. No mais, quero distância desta careca – troçou Lisa um pouco mais.
Will continuou mudo. Estava indignado por estar sendo alvo da gozação daqueles dois.
- Vocês se amam e não sabem. É isso que eu acho – afirmou Cris, reforçando sua teoria sobre o casal.
- Para mim chega desta conversa inútil – explodiu Will - Vim aqui para ver o meu amigo enfermo. Depois vou começar o meu trabalho, que é para isso que atravessei o mundo, e não para ouvir babaquices! Ei, vocês aí! – gritou para alguns técnicos que chegavam com alguns equipamentos, e saiu pisando duro na direção deles, aparentemente indignado com o rumo da conversa de Cris.
Lisa caiu na gargalhada, juntamente com seu colega.
- Você não presta mesmo. Dizer estas coisas para ele. É bem capaz dele nos cortar de todas as cenas do seu filme.
- Impossível. O Will é um velho turrão, mas é boa pessoa. Ele sabe que estamos de brincadeira.
- Espero que sim... Mas me conte exatamente o que aconteceu com o Robert. Fiquei muito preocupada com ele.
Enquanto Cris contava a versão oficial do ocorrido, Luísa deixava o quarto de Robert para que ele descansasse. Depois de alguns beijos e troca de palavras de amor, ele acabou por dormir sob os carinhos dela. Mesmo com o ótimo resultado do “tratamento”, houvera uma perda muito grande de sangue e ele ainda estava fraco. Dirigiu-se para os seus aposentos, onde Victor dormia. Lembrou de Cássia e da conversa que ainda ficara pendente, mas, definitivamente, precisava descansar antes de enfrentar algo que temia fosse desagradável. Antes de deitar, foi obrigada a saciar sua sede no frigobar escondido no cômodo. Estava curiosa para provar o tal sangue artificial criado por Arnold Paole. Seria um alívio não depender mais de bancos de sangue. Deitou-se ao lado de Victor e conseguiu dormir quase que imediatamente.

Na cidade, Eric havia se despedido de Will e de Lisa, depois de contar-lhes o ataque sofrido por Robert durante a noite. Quando entrou em seu apartamento, já encontrou Gabriele deitada languidamente, nua, de bruços, com os cotovelos cravados na superfície da cama, enquanto os braços e as mãos, entrelaçadas sob o queixo, apoiavam a cabeça. Sabia que ela o aguardaria ali, mas não esperava encontrá-la tão à vontade...
- E então? Tudo resolvido? – ela perguntou naturalmente.
- A princípio sim.
- Ainda bem que Cássia e o seu tio se acertaram quanto à vinda dos romenos exilados para cá.
- Acho que eles se acertaram além de nossas expectativas. Você notou? – perguntou enquanto tirava a camisa, sem tirar os olhos dela ou conseguir evitar o desejo que já avançava sobre seus sentidos, cegando qualquer razão existente.
- Impossível não notar. Nunca tinha visto Cássia daquele jeito. Espero que eles se dêem realmente bem.
- Como nós? – perguntou ao sentar na cama e começar a acariciá-la com a ponta dos dedos. Percorrendo um caminho invisível através de seu dorso nu, provocou-lhe um gemido de prazer e um relaxamento da posição em que estava, fazendo-a deixar cair a cabeça sobre os braços, totalmente entregue ao seu carinho.
Seus dedos continuavam pela estrada imaginária, subindo a suave elevação gerada pelas nádegas de pele lisa e firme, descendo pelas coxas e pelas longas e bem torneadas pernas. Respirações acelerando, Eric começou a virá-la de frente, delicadamente, enquanto ela, de olhos fechados, esperava ansiosamente pelo que viria a seguir. Logo ele estava sobre ela, ajoelhado na cama, tendo os quadris arredondados entre suas coxas, explorando os seios macios, de mamilos engurgitados, com a boca, beijando-os e umedecendo-os com a língua. Gabriele arqueou o corpo, jogando seu púbis contra o dele, buscando o prazer que ele tinha a lhe oferecer. Eric envolveu suas costas num abraço, elevando-a, até que os seios fossem comprimidos contra o seu tórax. Sua boca aconchegou-se na lateral do pescoço alongado, beijando e mordiscando, arrancando gemidos e palavras de amor. Agarrada a ele, com as mãos espalmadas, Gabriele acariciava o dorso amplo e as nádegas fortes, já sem consciência de onde estava. Apenas o queria dentro dela o mais urgentemente possível. Não resistindo mais, ele a penetrou com ânsia e firmeza, até atingirem o máximo prazer. Apetites saciados, deixaram-se levar pelo agradável relaxamento remanescente e dormiram abraçados, sem perceber que o tempo começava a virar e que, logo, a chuva voltaria a varrer as ruas de Mircea, regar os campos da região e lavar as muralhas do castelo, no alto da colina.

Como disse a minha amiga Cris, este romance está parecendo seriado americano, que passa na TV um episódio a cada semana. De certa forma é o que outras de minhas amigas queridas tinham sugerido posts atrás. Mas espero sinceramente que estejam gostando da trama, dos atores "convidados" a estrelar a estória e da maneira como estou escrevendo. Vocês sabem que adoro elogios, mas também adoraria críticas construtivas. Quero mais uma vez agradecer os comentários e todo o carinho de vocês.

Beijos!! E até breve!

PS: Para quem não viu, fiz um update na postagem anterior, onde deixei as fotos das crianças, Victor e Lana.