quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Sabor do Amor

Oi, prá quem estiver me lendo hoje. Sei que ando em falta com meu blog. Coisas de quem trabalha, cuida de casa, marido e dos filhos. Acho que a maioria sabe o que é isto, ou faz uma vaga idéia. Também andei numa fase pouco inspirada para escrever. Por isso tenho colocado meus antigos textos, que grande parte de minhas amigas já conhecem. Além da falta de inspiração, como já falei antes, existe o fator tempo. Mas prometo que logo logo vou começar a colocar novidades por aqui...Espero. Por hoje, só prá não cair no esquecimento total, vou colocar o meu primeiro conto de amor, onde começou esta mania de escrever histórias de amor com pitadas de pimenta. Prá variar, o personagem masculino é "vocêssabemquem"...rsrsrs.
Beijos!





O Sabor do Amor

Lá estava eu, Laura, a caminho daquela agência de empregos famosa em Nova York, para tentar colocação como cozinheira em algum apartamento chique da Big Aple. Brasileira, filha de uma carioca e de um americano, graças ao meu passaporte americano consegui escapar daquela vida sem perspectiva no Brasil. Infelizmente nada aconteceu como eu havia planejado. Com um diploma de advogada nas mãos, nada consegui profissionalmente. O mercado de trabalho difícil, cercada por colegas inescrupulosos, desilusões amorosas acumulando-se... Nada mais me prendia àquele lugar. Começaria do zero, onde ninguém me conhecesse. Quem sabe algo de bom pudesse acontecer? Graças ao amor pela culinária, adquirido desde cedo vendo minha mãe dedicar-se aos seus quitutes, resolvi colocar estas habilidades em prática na nova profissão. Provavelmente a maioria de meus conhecidos ia dizer: "Coitada! Não conseguiu vencer na carreira e foi ser empregadinha nos Estados Unidos. Que decadência!". Talvez, mas é um modo de recomeçar.
Cheguei no horário combinado com a secretária da agência. Fui recebida com um grande sorriso e um efusivo parabéns, que eu achei meio desproporcionais para a ocasião. Logo, fui encaminhada para a sala da dona da agência, onde fui informada de que começaria a trabalhar no apartamento de um ator escocês, chamado Arthur McCain. Ele estava à procura de uma cozinheira e quando soube que havia uma brasileira para a função, nem quis olhar outros currículos. Portanto, o cargo era meu e deveria iniciar no dia seguinte.
Nunca havia ouvido falar deste ator. Não era muito chegada em cinema. Na agência me disseram que ele havia feito muito sucesso com um filme sobre guerreiros espartanos. Já fiquei imaginando a figura. Algum tipo cheio de si, com músculos saltando para todo o lado, querendo uma cozinheira exótica para mostrar aos amigos. Enfim, alguém insuportável, que provavelmente nem saberia distinguir carreteiro de risoto. Bem, desde que pagassem em dia, estes detalhes não me importavam. Ainda bem que eu não precisaria dormir no emprego. Talvez, com o bom salário que ele estava oferecendo, eu pudesse alugar um apartamento melhor do que a peça onde estava morando desde que chegara há um mês.
Depois de uma boa noite de sono, levantei cedo, coloquei meu melhor vestido e prendi o cabelo em um rabo de cavalo. Ao olhar no espelho, o conjunto era agradável: herdara de minha mãe o corpo roliço, boas medidas, os cabelos escuros, levemente ondulados. De meu pai, a pele mais clara e os olhos azuis. É, até que eu não era feia. Naquela manhã, particularmente, estava me sentindo muito bem. "Vamos lá, enfrentar a fera".
Fui até o endereço. Era um prédio de apartamentos antigo, mas muito chique, próximo ao Central Park. De cara, já fiquei sabendo que havia uma entrada para os empregados. O que fazer? Era isso que eu era, não é mesmo? Lá me fui para o elevador dos fundos. Subi até o 9º andar e toquei a campainha. Fui atendida por uma senhora, que se apresentou como Dolores, provavelmente mexicana, muito simpática, que me fez entrar e pediu que eu esperasse, pois o secretário do Mr. McCain estava a minha espera para falar dos detalhes da minha contratação. Enquanto aguardava, comecei a admirar o que seria o meu local de trabalho. A cozinha era linda, com eletrodomésticos todos brancos, com uma bancada de mármore negro ao centro, onde eu poderia me divertir, preparando meus melhores pratos. Ainda não imaginava as outras utilidades daquela bancada. O chão era todo quadriculado, como um tabuleiro de xadrez, com lajotas pretas e brancas. Parecia coisa de revista. Ele deve ter gastado uma fortuna só com esta cozinha. Imagina o resto da casa! Estava louca para conhecer. Pelo menos o decorador tinha bom gosto. Duvidava que tivesse havido algum palpite do morador.
Depois de esperar mais de 45 minutos, o tal secretário apareceu, apresentando-se como Mr. Anthony. Era um tipo meio afetado, que falava de com sotaque britânico.
_ Bem, senhorita... Laura. É isso mesmo? - nem pediu desculpas pela demora, o grosso - Quero que a senhorita saiba que Mr. MacCain é uma pessoa muito ocupada, que não deve ser incomodado com assuntos banais. Ele, neste momento se encontra filmando em Londres, mas deve retornar dentro de três dias. Ele anda cansado de ter que comer em restaurantes ou em casas de amigos, por isso ele a está contratando. O que queremos é o trivial, sem grandes requintes. Uma comida caseira, conforme ele solicitou. Ele gostou de saber que a senhorita é brasileira, pois ele admira muito a culinária do seu país. Espero que a senhorita esteja preparada para tal função. Pode preparar uma lista do que vai precisar e mandaremos alguém comprar.
Aí, tive de interrompê-lo:
_ Eu gostaria de fazer as compras eu mesma, pois é importante escolher produtos de qualidade. Não gostaria de delegar esta função a alguém que não conhece nada de culinária.
Parece que o Mr. Anthony gostou de meu interesse e aceitou meu pedido. Combinamos que eu teria um cartão de débito, claro que teria um limite de despesas, mas que eu teria liberdade para fazer as compras ao meu modo. A minha semana teria 6 dias com uma folga semanal. Provavelmente no domingo. O salário seria aquele acordado com a agência.
- Mais alguma dúvida, senhorita Laura?
- Não, Mr. Anthony. Está tudo claríssimo. Assim que o Mr MacCain chegar, estarei à sua inteira disposição. Espero que ele goste de meus quitutes.
- Também espero, Srta. , para o seu próprio bem.
Nossa, que coisa mais assustadora para se dizer. Será que ele era tão exigente, este Mr. MacCain? Teria que aguardar ainda três dias para conhecer o meu patrão. Já sentia um pouco de ansiedade. Calma, Laura. Não pode ser tão terrível.
No dia seguinte, fui às compras. Pedi para entregar no prédio do Mr. MacCain. Enquanto aguardava a entrega, pedi à Dolores para conhecer o resto do apartamento.
Era lindo. Parecia um sonho. Muito bem decorado, com peças de antiquário, misturado a peças modernas. Muito aconchegante. O quarto principal era de cinema. Só podia, não?

Brincadeira. A cama era um convite. Kingsize, com um dossel maravilhoso, todo de madeira entalhada, envelhecida, com tapetes, cortinas e edredon com cores quentes. Quem fez a decoração estava pensando nas loucuras que poderiam ser feitas naquela “alcova”. Será que o meu patrão saberia como fazer uso de tudo aquilo ou ele seria um tipo afetado e sem graça como o seu secretário? Laura, pára de pensar bobagem. Tão cedo eu não queria saber de nada disso, depois de ter conhecido tantos canalhas, acho que tinha ficado vacinada contra este tipo de coisa. Paixão era algo distante para mim, no momento. Queria tocar minha vida sem atrapalhações. Talvez um dia, muito distante.
No meu segundo dia de trabalho, resolvi fazer alguns congelados, que poderiam facilitar as coisas, no caso de Mr. MacCain pedir alguma refeição fora de hora. Deixaria algumas coisas já encaminhadas para esperar a chegada dele no dia seguinte. Comecei a preparar algumas quiches, que poderiam servir como acompanhamento ou como lanche. Estava distraída, trabalhando na bancada, cantarolando e rebolando (me sentia muito bem cozinhando), quando ouvi um barulho atrás de mim. Pensei que fosse Dolores e pedi que ela me alcançasse a manteiga que estava na geladeira ao seu lado. Ouvi seus passos, a porta abrindo e fechando. Já estava agradecendo com um grande sorriso, quando vi uma grande mão masculina segurando o pacote de manteiga. Virei rapidamente, assustada com aquela presença estranha, quando me deparei com um homem alto, - ele devia ter 1,90m, pelo menos - cabelos ligeiramente grisalhos, que iluminavam o seu rosto, olhos azuis esverdeados profundos, que pareciam ver a minha alma e mais alguma coisa, e uma boca de tirar o fôlego. Soltei um tipo de grunhido, pois não conseguia encontrar a voz. Ele só me olhava como se estivesse se divertindo com o meu estado, com um meio sorriso irônico. Quando consegui me refazer um pouco, consegui perguntar quem era ele e o que estava fazendo na minha cozinha. Ele largou a manteiga sobre a mesa e disse:
- “Eu é que deveria perguntar o que uma mulher linda e desconhecida está fazendo na “minha” cozinha”.
Depois de alguns segundos, caiu a ficha. Seria ele o Mr. MacCain?? Não era possível! Eu estava perdida. Tinha sido pega cantando, rebolando e, ainda por cima sendo grosseira com ele, no primeiro contato. Adeus emprego. Todos meus planos iam por água abaixo. Fiquei aguardando um sonoro "Goodbye, miss". Mas, ele caiu na risada. Fiquei indignada!
- Se você pudesse se olhar no espelho agora saberia por que estou rindo. Parece que você viu uma assombração. Desculpe estar rindo de você. Deixe me apresentar: Arthur.
Arthur???, pensei.
- Mr. MacCain??? - disse.
- Por favor! Não me chame de Mr. MacCain. Sinto-me com 300 anos de idade. Isso é coisa daquele meu secretário . Me chame de Arthur, por favor. Então você é a nova cozinheira? _ _ Sim - disse eu com a voz meio trêmula - O Mr. Anthony falou que o senhor - e ele me olhou de forma irônica de novo - quer dizer, você, chegaria só amanhã.
- É, mas as filmagens terminaram mais cedo e eu resolvi antecipar a viagem de volta. Fui recompensado, pois acabei tendo uma surpresa muito boa.
Seu olhar parecia cobrir todo o meu corpo, tirando cada peça , uma por uma, até eu me sentir completamente nua. Devo ter ficado vermelha, pois ele deu mais um sorrisinho sarcástico e falou:
- Seja bem vinda ao meu humilde lar. Acho que vamos ser grandes amigos. Vou descansar um pouco, pois a viagem durou mais de 15 horas, com espera em aeroporto e tudo o mais. Peça para a Dolores me acordar em torno de 19 h, ou você mesma pode fazer isto, se quiser. Vou jantar em casa hoje, portanto, mãos à obra, querida.
- O Sr., sorry, você tem algum pedido especial?
- Me surpreenda, ahn... Qual é o seu nome? Perdão por não ter perguntado antes.
- Laura.
- Então, Laura, você escolhe o que vou comer, ok? Até mais.
Assim que ele saiu do meu campo de visão, parecia que o chão estava se abrindo abaixo de mim. Aquele homem era de perder o fôlego e, eu trabalhava para ele. Ouvi uma risadinha vindo do outro canto da cozinha. Era Dolores!
- E aí, minha linda, conheceu o patrão? Parecia que você ia desmaiar a qualquer minuto. Não deixa ele reparar, porque senão você está perdida.
- Como assim?? - perguntei.
- Um hombre como este não deixa uma mulher bonita como você passar incólume.
- Dolores, por favor, não me assusta! É o meu primeiro emprego por aqui e você fica me pondo minhocas na cabeça. Estou vacinada contra homens deste tipo. Comigo ele não vai conseguir nada. Ele que vá posar de galã para as deusas de Hollywood.
- Está certo , então. Não está mais aqui quem falou. Na verdade, ele é um amor de pessoa. Você vai descobrir isto logo, logo. Mas cuide bem do seu coraçãozinho. Não quero vê-la machucada, minha rica.
Resolvi não pensar mais nisso e fui tocar minha cozinha para preparar o jantar para o Mr. MacCain. Dei o recado dele para Dolores e fui pensar no cardápio para logo mais.
O jantar já estava quase pronto quando me dei conta de que eram 19 h e a Dolores ainda não havia ido chamar Arthur. Lembrei-a do fato e ela me pediu o favor de acordá-lo, pois ela estava muito ocupada com seu serviço. Fiquei chateada de ter que entrar no quarto, mas não havia alternativa. Bati na porta, mas não obtive resposta. Esperei um pouco e resolvi entrar. O quarto estava na penumbra. Era Verão, por isso ainda entravam alguns raios de sol através das cortinas. Quando olhei para a cama pude ver os contornos de Arthur. Ele estava completamente nu, virado de bruços, agarrado ao travesseiro. Era possível ver o contorno de seus ombros fortes, os músculos dos braços, bem torneados, o torso largo, que terminava numa onda suave em direção às nádegas, arredondadas, firmes. Como o corpo de um homem podia ser tão belo. Saí do meu devaneio quando ele se mexeu e falou com voz rouca:
- É você, Dolores?
Não conseguia responder. Estava paralisada. O que ele ia pensar ao me ver ali parada vendo-o naqueles "trajes"? Quando notei que ele ia levantar-se, saí quase correndo, mas antes ainda pude perceber o esboçar de um sorriso. Acho que ele percebera que era eu. Cretino! Ainda por cima ria de mim e da situação constrangedora em que me meti. Homens!! Voltei para a cozinha, aonde cheguei ofegante e pálida, depois de passar do rubor à incandescência. Dolores perguntou algo, mas antes que eu pudesse entender a pergunta e responder, ele apareceu na porta trajando um robe de seda verde escuro, que realçava ainda mais os seus olhos.
- Da próxima vez, bata na porta, por favor.
- Mas, eu bati - oops, eu havia sido flagrada. Que furo! Ele me olhou com, aquele sorrisinho irritante, como que dizendo "Te peguei!" Ai, que ódio!
- O jantar já está pronto?
- Quase.
- Então vou tomar um banho agora. Você pode me esperar?
- C-claro!
- Ótimo!
Tão logo ele se virou, Dolores disse que já tinha acabado seu serviço e que seus netos a estavam esperando.
- Como?Você vai me deixar aqui, sozinha com este maníaco?
- Querida, ele não é um maníaco. Você é que tem de se controlar. Vai dar tudo certo, está bem? Um ótimo final de semana para você!
- O que?? Amanhã você não vem?
- É a minha folga , meu bem. A sua é domingo. Não podemos tirar folga no mesmo dia, esqueceu? Não se preocupe. Vai dar tudo certo.
Virou-se e foi arrumar suas coisas para sair e me deixar a mercê daquele... Oh, Deus! O que eu faço??
Depois de meia hora de pânico, comecei a me acalmar, pensando porque a demora neste banho. Após 1 hora e quase perda total do meu jantar, resolvi entrar na sala e ver onde ele estava. Talvez estivesse esperando ser chamado. A mesa já estava posta na sala de jantar. Quando estava saindo da cozinha, me choquei com ele, que vinha entrando. Como quase caí para trás, ele me segurou pela cintura e me puxou contra o seu corpo. Senti o chão faltar sob meus pés. Ele me agarrou com mais firmeza e perguntou:
- Você está bem?? Desculpe, mas não vi que você estava entrando na sala. Eu a machuquei? - disse ele, realmente preocupado.
- Não, imagina. Foi só o susto.
- Puxa, não sabia que já andava assustando menininhas por aí. Dever ser a idade chegando.
- Não foi isso que eu quis dizer! Ah! Deixa prá lá. Pode me soltar, por favor?
Ela o empurrou, tocando em seus braços e sentiu seus músculos retesados, sem falar no perfume que aquele homem exalava por cada poro. Isto não podia estar acontecendo. Eu não vou cair em tentação, não!
Depois de alguns segundos, ele me soltou com delicadeza e pediu desculpas, novamente.
Parecia ter ficado surpreso com a minha reação de repúdio ao seu contato. Provavelmente, pensou que eu me largaria em seus braços e ...
- Vi que a mesa foi colocada na sala de jantar. Eu gostaria de comer na cozinha, se você não se importar. Não gosto de jantar sozinho.
- Mas??
- Algum problema?
- Claro que não. Vou colocar a mesa aqui.
- Você já jantou?
- Não, eu costumo jantar mais tarde, em casa.
- Tem alguém te esperando? Namorado, marido...??
- N-não!
Porque eu não calava a minha boca. Caí em outra armadilha. O que ele tinha a ver com a minha vida pessoal?
- Então, janta comigo?
- Não, obrigada pelo convite, mas estou sem fome.
- Mas, ao menos, pode me fazer companhia? Ainda não tivemos chance de nos conhecer. Vamos conversar um pouco? - disse ele com um olhar tão terno e suplicante, que eu não tive como resistir.
- Está bem. O que você quer saber? Chegou a ler o meu currículo?
- Acho que você deve ser muito mais do que o que está escrito em algumas folhas de papel, não?
- A minha vida não tem nada de interessante, ao contrário da sua.
- Como você veio parar aqui, como cozinheira? Você não parece uma pessoa humilde.
Com aquela conversa mansa, acabei contando que tinha feito Direito no RJ. Quando ele soube disto, vi um brilho naqueles olhos verdes.
- Sério?? Que coincidência! Eu também, lá em Glasgow!
A partir daí, nossa conversa começou a fluir de uma maneira tal, que parecia que já nos conhecíamos há muito tempo. Muitas coisas, sentimentos e decepções, tínhamos em comum. Quase chorei quando ele me contou sobre o seu pai, que ele acabou perdendo poucos anos após seu reencontro, a luta para mudar sua vida e afastar-se da bebida. Eu fui percebendo uma pessoa diferente daquela que eu tinha imaginado. Uma pessoa sensível, determinada e muito amorosa.
Quando vimos, já haviam se passado quase duas horas e estávamos rindo de nossas experiências. De repente, parecia que o mundo tinha parado e não havia mais ninguém. Nossos olhares se cruzaram e um calor foi tomando conta de mim. Ele tocou na minha mão, que estava próxima à dele, e uma onda de eletricidade percorreu meu corpo.
- Parece que temos muito em comum, Laura. Além de linda você também é uma pessoa maravilhosa.
Ele foi se aproximando, aos poucos, me hipnotizando com aqueles olhos. Ah! Aqueles olhos... Quando me dei conta a sua boca estava muito próxima da minha. Tentei ir para trás, mas senti seus braços me envolvendo, fortes, mas muito docemente, até que seus lábios tocaram os meus, suavemente.
Meu corpo reagiu como nunca. Senti que flutuava. Senti seu abraço forte e a pressão sobre os lábios aumentou. Senti sua língua penetrando minha boca. Aí, não conseguia mais resistir. Comecei a abraçá-lo, também, como se quisesse fundir nossos corpos. Suas carícias passaram da minha nuca, descendo pelas minhas costas, chegando ás nádegas. Todo o meu corpo reagia como se fosse uma usina nuclear a ponto de explodir. Ele começou a desabotoar minha blusa, com cuidado, sempre me olhando com uma paixão que eu nunca tinha visto nos olhos de nenhum outro homem. Todo meu corpo se contraía de prazer. Comecei a abrir o zíper do moleton que ele vestia, até vislumbrar aquele peito másculo, o abdômen de músculos bem definidos. Comecei a beijá-lo, desde o pescoço, descendo aos poucos em direção ao ventre. Ele gemia de prazer. Num rompante, ele jogou tudo que estava sobre bancada no chão. Nem o barulho de pratos quebrando nos tirou daquele êxtase. Segurou-me nas nádegas, me colocando sobre a bancada fria. Podia sentir sua ereção e vibrava ao imaginar ele me penetrando. As carícias continuavam cada vez mais intensas. Ao longe ouvi uma campainha, insistente e irritante. Senti ele se afastar, parecendo irado com aquela interrupção.
- Droga! - ele disse - Vou ter de atender a porta, senão ela vai ser derrubada a qualquer instante.
Lançou-me um olhar muito terno, como se pedindo perdão por ter interrompido aquele momento. Vi que ele estava meio sem jeito, ainda com o rosto afogueado, mas pediu-me que me arrumasse. Custei um pouco para me refazer de tudo que tinha acontecido, um momento de loucura maravilhoso, que havia sido cortado daquele jeito. Não sabia se estava triste ou se agradecia por não ter ido adiante. Afinal havíamos nos conhecido naquele dia. As coisas estavam acontecendo rápido demais.
Ele se recompôs após alguns minutos. A campainha continuava insistentemente a tocar. Pensei "quem será este maluco?"
Pediu-me que esperasse e que não fosse embora. Entrou na sala e foi abrir a porta da entrada.
- Oi, meu amor! Soube que tinhas voltado de Londres hoje e resolvi vir até aqui para conversarmos um pouco.
Era uma voz de mulher, espalhafatosa, vulgar. Seria a namorada dele? Meu sangue começou a ferver.
- E precisava tocar a campainha daquele jeito! Olha, Roxane! Tem que aprender a ter mais educação. Eu podia estar dormindo, podia não estar em casa.
- Eu sabia que você estava em casa. O seu porteiro disse que seu carro estava na garagem, por isso subi. Não vai me convidar para entrar, Sr. Educado??
- Claro, entre - disse ele em voz baixa.
Naquele momento, não resisti e olhei para dentro da sala, na direção deles, e vi uma morena, com uma blusa vermelha, muito decotada, dando um beijo na boca de Arthur. Aquilo me fez sentir traída. O ciúme parecia corroer meu peito como ácido, queimando, até levar lágrimas aos meus olhos.
- Laura!!
Ele havia me visto. Mas saí correndo para os fundos, consegui pegar minha bolsa e alcancei a porta de serviço rapidamente. Ainda o ouvi gritando meu nome, mas ele não veio atrás de mim. Ficou com aquela louca. Deviam se merecer! Uma onda de ódio substituiu tudo de bom que eu havia sentido antes. Não conseguia parar de chorar. Peguei o primeiro táxi livre que passou e fui para casa, sentindo como se a morte estivesse me seguindo. Sentia raiva de mim mesma por ter sido tão estúpida por ter cedido ao charme dele. Acreditei que ele pudesse ser diferente dos outros. Mas, como sempre, fora enganada!
Cheguei em casa e me atirei na cama já quase sem forças de tanto me maldizer.
No meio da madrugada, já um pouco mais calma, depois de pensar em não voltar nunca mais naquele apartamento, consegui raciocinar melhor. Não, eu não deixaria de ir trabalhar no dia seguinte. Afinal, ainda era o meu emprego. Talvez até pudesse processá-lo por abuso sexual. Aqui nos EUA isto era muito comum. Ora! Que idéia mais absurda, Laura. Eu nunca teria coragem de fazer isto, principalmente com ele. Apesar de tudo, por mais que eu negasse, acho que estava apaixonada. Parecia impossível. Nunca acreditei em paixão fulminante, mas era o que estava acontecendo comigo. Pena que a ilusão de ser correspondida tinha durado tão pouco. Um dia!!! Não dava para acreditar como eu tinha me entregado tão fácil. Ele devia estar dando risada com aquela bruxa até agora, com pena da pobre empregadinha. Mas eu ia dar a volta por cima. Ia me fazer de louca e continuaria meu trabalho como se nada tivesse acontecido. Oh! Deus! Será que eu conseguiria?
No dia seguinte, depois de tomar um banho, fiz uma maquiagem leve, que pudesse esconder as olheiras da noite não dormida, coloquei uma calça jeans e uma blusa branca, para dar a impressão de "tudo bem". Será que eu enganava alguém assim?
Peguei meu metrô e fui ver se ainda tinha um emprego. Fui obrigada a tocar a campainha da entrada de serviço, pois não haviam me dado uma cópia da chave. E eu quase já tinha me entregue para o patrão... Pára de pensar assim sua, débil mental!
Toquei por três vezes, rezando para que a porta não se abrisse e eu desse de cara com ele. Quando a porta foi aberta, quem estava a minha frente era o Mr. Anthony.
- Bom dia, Srta Laura. Algum problema? Está um pouco atrasada.
- Bom dia, Mr Anthony, e desculpe pelo atraso, mas não tive uma boa noite.
- Parece que só eu acordei bem hoje. Mr. MacCain também acordou com uma cara péssima. Deve ser a troca de fuso horário.
- Ele está? - peguntei com voz quase inaudível.
- O quê? Ah! Sim...Quer dizer, não. Ele teve de ir a um encontro com um produtor, para discutir a participação em um filme. Talvez não volte para almoçar, mas eu estarei morrendo de fome. Recebi elogios à sua comida e quero provar também. Não lembro se comentei antes, mas no dia da folga da Sra. Dolores, a Srta. fica encarregada de arrumar o quarto do Mr. MacCain, e de dar alguma ajeitada na casa. Algum problema com isto?
- Não, é claro! Posso começar imediatamente.
- Ok! Mãos à obra, então.
Larguei minha bolsa e fui dar uma olhada no resto da casa. Parecia tudo tão arrumado como sempre. Sem sinais de orgias sexuais pelo caminho. Por falar nisso, a louça quebrada na noite anterior havia desaparecido e a cozinha estava impecável. Duvido que tivesse sido o Mr. Anthony que houvesse se dado a este trabalho, muito menos a maluca escandalosa da Roxane...Urgh!!
Entrei no quarto e também não havia sinal de nada. Será que ele não tinha transado com ela? Sobre a mesa de cabeceira estava um aparelho celular. Olhei para os lados e , como não havia ninguém olhando, resolvi bisbilhotar e ver as ligações recebidas e discadas. Poucos segundos depois senti braços musculosos me abraçando por trás, como querendo me prender para evitar minha fuga.
- Que bom que você achou o meu celular. E que bom que o esqueci para poder voltar e te ver assim tão curiosa.
Fiquei sem palavras. De novo, pega em flagrante. Só consegui dizer:
- Perdão - secamente e tentei me desvencilhar daqueles braços tão confortantes. Tentei me virar para fugir daquele olhar, mas só consegui ficar mais próxima dele, agora, de frente.
- Porque você fugiu daquela maneira ontem à noite? Eu pedi que me esperasse.
O seu rosto e o calor que exalava da sua boca me acariciavam os cabelos e a testa. Comecei a sentir o peso diminuir. Estava fraquejando de novo.
- Achei que você estava precisando de privacidade com a sua namorada.
- Ela não é minha namorada! Sua tolinha. Por isso saiu daquele jeito, chorando feito criança?
- Eu não estava chorando.
- Ah! Estava sim, porque dava para ouvir os seus soluços de longe. Não tinha motivo algum para isso.
- Eu sei o que vi. Vocês se beijando!
- Você quer dizer “ela me beijando”. A Roxane não passa de uma velha amiga, muito maluca, que vive querendo falar dos seus próprios problemas, sem levar em conta se o ouvinte está ou não interessado. Quando ela se deu conta que estava atrapalhando, foi embora logo em seguida. Ela não é má pessoa.
- Não sei se dá para acreditar em você, depois do que aconteceu.
- Olha, eu estou atrasado para o meu compromisso. Me espere, por favor, para a gente conversar. À tarde, depois do almoço devo estar de volta. Combinado?
- Acho que sim.
- Olha prá mim.
Quando ergui meus olhos, ele colou seus lábios contra os meus e todas as minhas forças de defesa caíram no mesmo instante. Ele era irresistível!
Assim que ele saiu, tentei me recompor. Arrumei o quarto e voltei para cozinha, onde tentei me concentrar no almoço de Mr. Anthony. Este, continuava por lá, largando as “penas” ao telefone. Ao menos, cozinhar era uma coisa que me fazia muito bem. Ali eu conseguia descarregar as tensões.
A manhã passou sem mais sobressaltos. Era um dia muito quente. Este verão em NY estava prometendo. Servi o almoço para o secretário em torno de 12 h, pois ele disse que teria um compromisso no início da tarde. Depois de ouvir altos elogios para a minha salada de camarões e o suflê de queijo, ele saiu. Arrumei a cozinha e comecei a ficar ansiosa com a volta de Arthur. Ele disse que voltaria depois do almoço com o produtor, mas já eram 14 h, e nada. O sono começou a incomodar. Eu não dormira nada naquela noite passada. Por fim, não resisti ao ar mais fresco na sala principal e resolvi sentar em uma das amplas poltronas confortáveis que haviam por ali. Acabei pegando no sono.
Pareciam ter passado poucos minutos, onde tive sonhos terríveis onde a tal Roxane aparecia acariciando e beijando o Arthur na minha frente e os dois rindo de mim. Horrível. Acordei assustada. Estava deitada na cama dele, só de calcinha e sutiã. Quando virei o rosto, vi que Arthur estava deitado ao meu lado, vestindo só uma cueca branca, de olhos fechados, como se estivesse dormindo. Levei um susto. Como eu tinha ido parar ali? Será que eu ainda estava sonhando? Sem pensar mais, fiz uma tentativa para levantar, mas imediatamente senti aquela mão me agarrando com força, mas gentilmente, me puxando de volta para a cama.
- Aonde você vai? Fica aqui do meu lado. Estou adorando te ver assim, tão linda e frágil.
- Como eu vim parar aqui?
-Quando eu cheguei em casa, você estava dormindo tão tranqüila, mas desconfortável, lá na sala, que pensei em trazê-la para cá. Eu também estava com sono, pois passei uma noite péssima. Aliás, por sua causa. Assim, pensei que poderíamos dormir juntos.
- Mas precisava tirar minha roupa e ficar só de cueca??
- Olha, com o calor que está fazendo, dormir de calça jeans e suada, não é nada confortável. Eu, você já sabe que não gosto de dormir vestido. Fiz muito em ficar de cueca. Mas, se quiser, posso tirar ela agora mesmo - disse ele com aquele ar sarcástico e um sorriso de menino travesso.
- N-não - disse eu, sentindo o rubor subindo à face.
- Você está com medo de mim?
- Não, estou com medo de mim e do que estou sentindo.
- Olha, também acho que as coisas entre nós estão acontecendo muito rápidas. Isto nunca me aconteceu antes. Está sendo uma loucura. Uma loucura deliciosa.
- Arthur, eu...
- Eu sei que precisamos nos conhecer melhor, por isso pensei que a gente podia sair para dançar hoje à noite. O que você acha?
Aquela situação era completamente absurda. Nós dois deitados na mesma cama, quase pelados e conversando. Comecei a ficar excitada, o que não era nada bom. Ele acariciou meu rosto e , como se tivesse lido meus pensamentos, falou:
- Vou tomar um banho frio. Está muito quente. Não quer vir junto?
Aquela pergunta fez meu coração disparar e uma corrente de eletricidade disparou por todo meu corpo. Aquele sorriso malicioso nos seus lábios. Eu tinha de resistir... Será?
- Está bem. Não vou forçar a situação. Fique a vontade, mas pense no meu convite...Em dançar... O outro convite também está de pé.
Ele se aproximou, deu um beijo muito doce no meu rosto e eu tive de me conter para não pular nos seus braços.
Levantou-se e foi tirando a única peça de roupa que cobria aquele corpo lindo e viril. Foi para o banheiro e ligou o chuveiro. Em alguns segundo a minha "usina nuclear" estava novamente prestes a entrar em colapso. Laura, o que ele vai pensar de você? Controle-se! Sabe do que mais? Controlar o quê? Estou louca por ele, nunca mais vou ter um homem como este na minha frente, não sou nenhuma menininha inocente. O que estou fazendo deitada aqui? Azar se nada der certo, se eu for sofrer mais tarde, se o mundo acabar... Exploda-se!
Levantei da cama e, ainda vacilante, cheguei até a porta do banheiro e fiquei espiando. Ele me viu.
- Venha! - disse ele me estendendo aquele braço magnífico.
Cheguei mais perto e ele me puxou para dentro da banheira, estilo romano, sobre a qual o chuveiro jorrava uma água deliciosamente gelada, e começou a me beijar. Suas mãos passaram a percorrer todo meu corpo e, sem pressa, foi tirando minha roupa íntima. Aí, perdi a noção de onde estava. Só sentia a presença daquele corpo rijo, forte, suas mãos em meus seios, que logo foram substituídas pelos lábios. Ah! Eu poderia morrer naquele momento. Ele me virou de costas e passou a me acariciar os seios e o ventre. Ondas de prazer, contrações... Eu nunca tinha sentido nada igual.
Ele continuava na ânsia de conhecer cada milímetro do meu corpo. De repente, ele me virou novamente e, me levantou pelas nádegas até o seu quadril, fazendo com que eu enlaçasse sua cintura com minhas pernas. Eu já estava completamente enlouquecida, quando o senti me penetrando, com força, quase selvagem. Um misto de dor e prazer foi tomando conta de mim. Agarrei-me em seu pescoço e passei a gemer, quase a gritar. As sensações que vieram depois são indescritíveis. Fomos ao orgasmo juntos. Perdi a noção de tudo. Depois disso, uma paz e um relaxamento tal foi tomando conta de mim, que fiquei com medo de cair. Mas, ele continuava me segurando. Foi afrouxando aos poucos aquele abraço e me colocando suavemente no chão. A água continuava correndo, como um bálsamo por nossos corpos exaustos. Então, ele me beijou. O beijo mais doce do mundo.
- Agora podemos tomar o nosso banho. Quer que eu passe o sabonete em você?
Depois daquele banho demorado, surgiu a dúvida de como eu ia vestida para a balada com ele.
- Querida, nós estamos em NY. Aqui nós podemos comprar o que quisermos, a hora que quisermos.
- Mas, eu tenho roupa apropriada... Só que em casa.
- E onde é a sua casa?
Aí, fiquei com vergonha de dizer que era no subúrbio e que eu levava pelo menos 30 minutos de metrô para chegar lá. Acho que ele sentiu que eu havia ficado sem jeito e disse que não tinha problema nenhum. Já estava decidido. Eu ia ganhar uma roupa nova para dançar!
Pegou o telefone e fez algumas ligações, enquanto eu preparava uma omelete para nós, pois estávamos famintos. Em menos de 30 minutos, recebemos a visita de uma jovem senhora, chamada Emmy, que tinha uma loja na 5ª Avenida. Ela levou uma mala com várias peças, sendo que uma delas era um vestido verde, maravilhoso, com um grande decote na frente, uma faixa mais larga na cintura e uma saia plissada, o que dava um movimento lindo ao vestido. Como era a peça mais cara, fiquei com vergonha de escolhê-lo. Novamente, ele leu meus pensamentos e resolveu que aquela era a roupa ideal para o que queríamos. Fui experimentar e ele caiu como uma luva em mim. Quando surgi na sala, Arthur deu um grande sorriso de aprovação. Logo dispensou a mulher, com um "gordo" cheque e voltou-se para mim.
- Laura, você está tão deslumbrante que já estou quase desistindo de sair - disse. Aproximou-se, foi me envolvendo com o seu abraço, aqueles olhos incendiados pelo desejo e começou a me beijar. Consegui afastá-lo, com alguma dificuldade, pois eu também já estava quase caindo em tentação e disse:
- Arthur, acho melhor a gente sair. Se continuarmos deste jeito, logo não vai sobrar nada de nós. Você mesmo tinha dito que precisávamos de um tempo para nos conhecer melhor, lembra? Além do mais, estou precisando sair e dar uma arejada. Desde que vim para esta cidade, não saí nenhuma vez. Acho que vai ser fascinante conhecer a noite de NY com você.

Já eram 23 horas quando ele parou o seu carro em frente ao night club "Gypsy Tea", na 33W. O manobrista abriu minha porta, ajudando-me a sair e logo em seguida pegou as chaves com Arthur . Passamos por uma enorme fila e chegamos à porta de entrada, onde um monstruoso e carrancudo porteiro vigiava a entrada. Ao ver meu acompanhante, abriu-se em gentilezas e nos fez entrar, para desespero da "massa" que ficou para trás. Lá dentro, a música vibrava em alto volume. A decoração era em tons de roxo e laranja, com muitos neons. Atordoante! Comecei a pensar se teria sido boa idéia vir até aqui para nos conhecermos melhor. Ali não era um local muito apropriado para se manter um diálogo íntimo. De qualquer forma, já havia reparado que Arthur adorava a noite. Havia me apaixonado por um noctívago como eu. Sempre adorei sair à noite e dançar até não agüentar mais. Nos últimos tempos, a busca por trabalho, amores frustrados e a ida para os EUA, tinham abafado este meu lado.
Logo, comecei a sentir um certo desconforto devido aos olhares invejosos para mim e de sedução para ele, principalmente das mulheres presentes. Fui em frente, como se não fosse comigo. Arthur também me pareceu um pouco acanhado com este clima. Mas, ia distribuindo cumprimentos e sorrisos para todos.
Eu não imaginava que ele era tão conhecido assim. Acho que só eu era o "bicho do mato".
Assim que sentamos e fazíamos os pedidos de duas Cocas bem geladas, duas mulheres muito maquiadas e bem arrumadas, praticamente se jogaram sobre a mesa, com sorrisos encantadores. Falaram algo no ouvido dele. Logo em seguida surgiram, Deus sabe de onde, guardanapos de papel e caneta, que imediatamente foram colocados na frente dele para que os autografassem. Parecia que eu era invisível. Elas tentavam seduzi-lo na minha frente. Que ódio!
Quando finalmente, depois de sermos "atacados" por mais quatro mulheres e dois homens (!), fomos para a pista de dança. Aí, senti que éramos só nós dois. Ele me olhava dentro dos olhos, de um jeito que me derretia toda. Sempre que a música permitia, ele dava um jeito de me enlaçar e colar-me junto ao seu corpo. Estava me divertindo muito.
Paramos um pouco, para descansar e beber um refrigerante, quando vi Roxane aproximando-se da nossa mesa. Logo atrás, vinham dois casais. Foram chegando e cumprimentando efusivamente. Notei que as mulheres me ignoraram e os homens quase me comeram com os olhos. Não gostei daquela sensação. Roxane se jogava sobre Arthur de forma exagerada. Quando dei por mim, eles estavam conversando animadamente, como se eu não estivesse ali. De repente, ouvi Roxane me apresentando para os demais, como a nova cozinheira do Mr. MacCain. Todos caíram na risada! Para mim, foi o estopim. Porque ele não havia nos apresentado? Será que estava com vergonha de mim? Senti as lágrimas brotando e resolvi sair dali. Não fugi, para não dar o gosto de fazer um escândalo. Saí andando em direção ao toalete feminino, sem olhar para trás. Antes de chegar lá, duas mãos me agarraram com firmeza e fui obrigada a encarar aqueles olhos verdes.
- Onde você vai? - me perguntou.
- Vou ao toalete, não está vendo?
- E estas lágrimas?
- Deve ser a fumaça de cigarro. Odeio cigarro! - disse eu, exatamente para magoá-lo, pois este era um vício do qual ele ainda não conseguira se libertar.
- Não seja boba! Venha aqui! Vou te apresentar ao pessoal.
- A Roxane já fez este favor. Não ouviu? Acho que está na hora de me retirar. Aliás, já deve ser domingo e estou iniciando a minha folga de domingo.
- Laura, não me faça perder a paciência. Já te falei que a Roxane não é boa de cabeça!
- Me parece que ela sabe muito bem como humilhar alguém - disse eu, fazendo força para engolir o choro e a vergonha que sentia naquele momento. Porque ele não me defendera daquela megera?
- Eu vou com você. Ainda temos muito que conversar.
Dizendo isto, ele me segurou gentilmente pelo braço e começou a caminhar em direção ao grupo de amigos. Entrei em pânico. Não queria ser exposta mais uma vez, nem ficar frente a frente com aquela Roxane. Mas, não tive como escapar.
- E aí, Arthur!! Vamos nos divertir então? - perguntou um dos homens.
- Infelizmente, não. Estamos um pouco cansados e vamos embora. Voltei aqui para corrigir uma grave falha minha, que foi não apresentar a minha noiva, a Srta Laura - disse ele com um sorriso. Notei um desconforto neles, mas principalmente na Roxane, que parecia ter engolido um sapo venenoso.
- Como assim, noiva? Você não nos falou nada antes! Que história é esta?
Comecei a recuperar o meu humor, minha auto-estima e a confiança naquele homem, por quem estava perdidamente apaixonada.
- Queríamos manter tudo em segredo. Sabe como é o nosso meio. Cheio de paparazzis e curiosos. Nos conhecemos quando estive no Brasil, no início deste ano, e ficamos muito apaixonados. Não é mesmo Laura?
- É mesmo, Arthur - falei com a cara mais feliz do mundo.
- Bem, pessoal, foi um prazer rever vocês, mas vamos aproveitar nossa noite de uma maneira mais interessante. Até mais! Vamos, meu amor.
Dizendo isto, passou seu braço direito sobre meus ombros, enquanto eu o abraçava na cintura, e saímos. Íntimamente, eu dava pulos de alegria, só de lembrar a cara da Roxane.
Deixamos o Gypsy Tea e, enquanto esperávamos o carro, não consegui parar de olhar para ele, aquele homem poderoso, que parecia um rei, tão lindo, elegante e gentil, que tinha, num instante, feito com que eu esquecesse de toda a vergonha pela qual tinha passado.
- Se não parar de me olhar deste jeito agora, vou ser obrigado a fazer amor com você aqui mesmo - falou, com aquele sorriso maroto de sempre.
- Arthur, eu não sei o que dizer ou fazer para te agradecer o que aconteceu lá dentro. Claro, que sei que a estória de noiva foi uma desculpa, mas você conseguiu me fazer muito feliz e confiante.
- Quem disse que aquilo foi estória? Eu nunca falei tão sério na minha vida. Aliás, eu nunca estive tão apaixonado.
Neste instante, o carro chegou. Ele abriu a porta para eu entrar e foi para o volante.
- Então, futura Mrs. MacCain, vamos para casa?
- Com certeza, meu amor!
Nos beijamos e partimos para mais uma noite de amor, das muitas que se seguiriam a partir daquela.
Hoje, faz um ano que estamos juntos. Já consigo conviver com os constantes avanços das fãs e de colegas de trabalho, dominando o ciúme. Sei que ele é meu e de ninguém mais. E como dizia o nosso poetinha: "Que seja eterno enquanto dure..."

FIM


Isto é que é amor-relâmpago, não? Já pensaram se fosse assim na vida real?... Que maravilha! Mas não acho que seja impossível. Difícil é achar alguém que nos cause esta paixão à primeira vista e que corresponda igualmente. Mas não custa sonhar...
Se alguma de vocês já tiver tido uma experiência semelhante, comente e conte. Quem sabe isto não dá um romance?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Um Sonho de Férias



Quando finalmente sentei na poltrona daquele avião, jurei que ia deixar para trás todos os problemas, decepções e tristezas dos últimos meses. O fim de uma relação de quase 10 anos não é fácil. Nunca foi... Não sei como sobrevivi tanto tempo. Ainda bem que a separação tinha sido amigável. Não por ele, mas por mim, já que a traída tinha sido eu. No final das contas, eu saí ganhando, libertando-me daquele tirano. Agora, estava livre para fazer o que eu realmente sempre desejei: viajar. Graças a Deus, consegui a minha licença para tratar de assuntos pessoais por seis meses e ia gozar das minhas economias de quase 10 anos como bem entendesse. "Seu dinheiro é para os seus alfinetes", como ele dizia. Neste caso, até que ele foi muito bom, já que não me deixava gastar um centavo do que eu ganhava, o que não era tão pouco. Ah! Já estava eu gastando o meu rico tempo ocioso, pensando naquele grosso. Chega! Agora ia curtir minhas férias.
Já estava tudo acertado. Ao chegar a Londres, eu pegaria outro avião, que me levaria direto para Glasgow. Lá teria um carro me esperando para realizar um dos meus grandes sonhos que era conhecer a Escócia. Antigamente, eu sonhava em pegar uma mochila e sair pedindo carona. Agora, com 35 anos, eu já estava meio velhusca para ficar de dedão apontando para o além, na beira de uma estrada. Teria um pouco de mordomia, mas o espírito de mochileira seria o mesmo.
Depois do jantar, tomei um Dramin e, em cerca de 30 minutos o sono começou a chegar. Só acordei na manhã seguinte, com a movimentação dos outros passageiros que iam aos toaletes para se arrumar, antes do café da manhã.
Logo depois das aeromoças retirarem as bandejas, o comandante deu o aviso que estávamos chegando à Londres. A temperatura era de 10ºC. Estávamos em Novembro, ainda outono por lá, mas já estava ficando bem frio. Que bom! Adorava o frio. Se tivesse sorte, naqueles próximos meses, ainda veria muita neve.
Eram 07h30min, quando desembarcamos no Aeroporto de Heathrow. O meu vôo para Glasgow só sairia às 19h15min. Portanto, teria um bom tempo para dar uma chegada ao centro de Londres e respirar um pouco do ar britânico. A última vez que tinha estado por lá, há mais ou menos cinco anos atrás, era verão e a cidade estava linda, as pessoas alegres, os pubs repletos, com as pessoas na calçada, curtindo o calor, que é tão raro por aquelas bandas.
Graças ao meu passaporte italiano, conseguido por ser bisneta de italiana, não precisei ficar aguardando na fila dos sul-americanos. Como cidadã européia, tinha meus privilégios.
Tinha pouca bagagem. Assim que atravessei a área da alfândega, procurei um armário para guardar meus pertences. Munida só de minha bolsa, com o passaporte e dinheiro, fui em busca do Heathrow Express, que me levaria para o centro de Londres em 15 minutos. Viva o sistema de trens da Europa!
Passeei o resto da tarde, revendo aqueles monumentos maravilhosos: Trafalgar Square, o Big Ben, o Parlamento... Obras de tirar o fôlego. Às vezes me beliscava para ver se não estava sonhando. Eu, sozinha, em Londres, sem nada para me atormentar, sem relógio. Minha única preocupação era voltar ao aeroporto, a tempo de pegar o avião para Glasgow. Que delícia!
Depois de 1:30 hora de viagem, chegamos à Glasgow.
Peguei minha bagagem, fui até o balcão da National Rent A Car para saber se estava tudo certo com o meu carro e que horas eu poderia pegá-lo no dia seguinte. Fui informada de que o meu KA seria liberado a partir das 10 horas do dia 12 de Novembro.
Peguei um táxi e fui até o endereço do hotel que a agência de turismo tinha reservado, próximo ao aeroporto. Como ele ficava meio longe do centro da cidade, resolvi me acomodar, tomar um banho e dormir cedo. No dia seguinte, depois de pegar o carro, daria uma volta para conhecer a cidade. Esperava conhecê-la com calma, na volta do meu tour escocês.
No dia seguinte, recuperada pela boa noite de sono, fechei minha conta e peguei um novo táxi em direção ao Glasgow Airport, para pegar o meu carrinho.
Fiquei surpresa ao verificar que até GPS tinha naquele mini carro. Assim não me perderia, pensei. Depois de ouvir todas as explicações do simpático escocês da National, coloquei minhas coisas no banco de trás e tomei o volante. Saí da garagem sem problemas, apesar da mão inglesa. Já tinha dirigido lá da outra vez. Era só manter a atenção na sinalização. Aí resolvi ligar o GPS, conforme as explicações do manual que estava no porta- luvas. Até o centro da cidade tudo correu às mil maravilhas, com a voz metálica feminina instruindo todos os meus passos. Tão logo entrei no centro de Glasgow, a coisa começou a ficar confusa. Eu não sabia exatamente para que ruas me dirigir, por isso "ela" não podia me ajudar, como antes. Desliguei o aparelho e segui observando as placas nas ruas. As cidades européias são extremamente bem sinalizadas. Não há como se perder.
Parei para comer alguma coisa leve, antes de partir da cidade.
O meu plano inicial era ir direto para Edimburgo, mas em vista do horário - já eram 17h quando encontrei a saída da cidade - resolvi passar a noite numa cidade próxima, da qual haviam me falado muito bem, chamada Paisley. Ela ficava exatamente para o lado oposto à Edimburgo, mas estava distante de Glasgow menos de 40 km. Como deveria anoitecer ali pelas 19h, achei que poderia chegar cedo para pegar um hotelzinho simpático e conhecer a cidade à noite. Peguei a rodovia, indicada pelas placas. Nem lembrei de ligar o GPS. Acabei pegando uma estrada vicinal, que parecia encantadora, quando, de repente, o carro começou a engasgar. Não é possível, pensei. O carro acabou de sair da garagem, é novíssimo, baixa quilometragem. Acabei parada, no meio de uma estrada praticamente deserta, sozinha e me sentindo a pessoa mais azarada do mundo. Isto devia ser praga do Aírton. Que raiva!
Tentei me acalmar e recostei-me no banco do carro, de olhos fechados, tentando achar uma saída daquela situação. Acho que acabei cochilando.
Acordei assustada com batidas no vidro do carro. No meio do susto, não conseguia nem descer o vidro nem abrir a porta. Depois de alguns segundos, lembrei onde eram os controles das fechaduras e abri a porta. Ao lado do carro, com olhar questionador, estava um homem alto, levemente grisalho, uma barba que apenas lhe sombreava o rosto e dois olhos de um verde azulado que faiscavam. Perdi, momentaneamente, o dom da fala.
- Você está se sentindo bem? Pode falar?
- S-sim, estou bem. Obrigada. Devo ter cochilado.
- Pensei que estava passando mal. Você não deveria ficar parada nesta estrada, a essa hora. Pode ser perigoso.
- Desculpe, por tê-lo assustado. É que o meu carro enguiçou e eu estava pensando o que ia fazer. Devo ter pegado no sono. Eu cheguei de viagem, do Brasil, ontem e ainda não devo ter me acostumado com o fuso horário.
- Brasil?? Sério? Olha, eu não entendo nada de mecânica e já está ficando noite. Acho melhor te dar uma carona até Paisley e amanhã você manda guinchar o seu carro. Ele é alugado, não? É só entrar em contato com a locadora, ainda hoje, possivelmente, e eles terão de dar um jeito.
- Por favor, eu não quero incomodar - disse, porém adorando a idéia de ser ajudada por aquele homem charmosíssimo.
- Vai ser um prazer, Srta...?
- Marina. Meu nome é Marina.
- Marina - disse ele com aquele sotaque escocês delicioso - Belo nome, Srta. Marina - falou com um sorriso largo, encantador.
Ela saiu do carro e sentiu o olhar dele percorrer todo o seu 1,70 m de alto a baixo. Sentiu-se ruborizar e viu que ele havia notado, apesar da luminosidade de final de tarde. Ele deu um sorrisinho malicioso e perguntou pela sua bagagem.
- Está no banco de trás do carro.
- Só isso?
- Aí tem o básico. Pretendo comprar alguma coisa durante a viagem.
- Ah, sim. Então, vamos?
Tão logo deu a partida, começou a fazer perguntas:
- Você é do Rio de Janeiro?
- Não sou de Porto Alegre, uma capital do sul do país, bem diferente do Rio.
Comentei sobre minha cidade. Ele parecia muito interessado em tudo o que eu dizia. Contei que era pediatra, que trabalhava em Saúde Pública e que conseguira uma licença longa para poder viajar. Ele pareceu ler meu pensamento e disparou uma pergunta:
- Alguma decepção amorosa?
- Como você adivinhou? - disse eu, surpresa com a pergunta.
- Para uma bela mulher como você, estar viajando sozinha pela Europa, sem noção de quando voltar, não fica difícil de imaginar.
Ele deve ter notado que as lágrimas logo brotariam de meus olhos, apesar do meu sorriso amarelo.
- Desculpe, eu não queria te ofender ou magoar. Se você não quiser falar sobre isto.
- Não, é que é muito recente e... Desculpe, mas eu mal o conheço, nem sei o seu nome e você já está sabendo de detalhes da minha vida sentimental.
- Perdão, Marina. O meu nome é Thomas Gallagher, mas pode me chamar de Tom. Assim me chamam os amigos.
- Você mora aqui em Paisley ou só está de passagem?
Ele abriu um largo sorriso, com um misto de surpresa.
- Já fui de Paisley. Agora trabalho entre Londres e Los Angeles. Quem ainda mora aqui é minha mãe e meu padrasto. Vim passar alguns dias aqui, fugindo do trabalho, para matar as saudades. Prometi à minha mãe que estaria aqui no dia do meu aniversário.
- Sério? Quando é o seu aniversário?
- Amanhã.
- Oh! Parabéns, então. E eu atrapalhando a sua volta para casa. A sua mãe vai querer me linchar quando souber que eu atrasei a chegada do filho pródigo.
- De maneira alguma. Tenho certeza de que a Janet vai adorar você.
- Como assim???
- Acabei de decidir que você vai para a minha casa hoje. Já estamos quase chegando lá e, tenho certeza de que será bem vinda. Pode segurar o queixo e fechar a boca. Já está decidido - e caiu na risada, de um jeito tão simpático e jovial, que não tive como contra argumentar.
- Tem certeza de que não vou atrapalhar?
- Tenho certeza que não - disse ele lançando um olhar reconfortante.
Senti que podia confiar plenamente naquele homem. Apesar de um pouco ansiosa, me sentia segura ao seu lado. Não nos falamos mais, até a chegada na linda casa estilo vitoriano onde Janet morava. Ao fundo, podiam-se ver as montanhas e uma extensa vegetação. O jardim era muito bem cuidado.
Ele chegou buzinando feito um menino, com a felicidade estampada no rosto.
Uma senhora de cabelos grisalhos, um pouco cheinha, simpaticíssima, saiu correndo de dentro da casa, gritando:
- Thomas, Thomas, meu filho querido!
Tom abriu a porta do carro e saiu na direção dela. Tão logo a alcançou, a levantou no ar com um abraço efusivo. Beijaram-se muito. Não deviam se ver há muito tempo.
Achei aquela cena tão linda . Não estava acostumada a ver um filho tão carinhoso. Aírton sempre foi muito frio em relação aos pais. Mais um ponto para o meu salvador.
Resolvi sair do carro, de fininho para não atrapalhar aquele momento de encontro maternal, mas logo senti o olhar de Janet, já me analisando.
- Tom, querido, que surpresa é esta? Não diga que criou juízo e resolveu arranjar uma boa moça para casar e ter filhos? Venha cá, meu bem. Não se acanhe!
- Mãe, esta é Marina - disse ele, todo sorridente, sem nem fazer menção de desfazer o mal entendido da mãe.
- Marina... Meu filho recuperou o bom gosto, aleluia! Ela é italiana? - perguntou, sem tirar os olhos de mim.
- Não, mãe. Ela é brasileira.
Aí, senti um olhar muito sutil de reprovação, mas que logo se transformou num sorriso.
- Meu filho sempre teve uma quedinha pelo Brasil. Seja bem vinda, minha filha. Vamos entrar.
Então me senti na obrigação de desfazer o mal entendido, antes que a situação tomasse proporções maiores.
- Desculpe, Sra. Janet, mas está havendo um equívoco aqui. O seu filho e eu nos conhecemos a pouco, lá na estrada. Eu estava perdida, com meu carro enguiçado e ele se ofereceu para ajudar. Ele realmente foi um amor. Gostaria que a senhora soubesse que estou muito lisonjeada com seus elogios e que esteja livre para aceitar-me na sua casa esta noite ou não. O Tom me convidou para ficar, mas eu posso perfeitamente me hospedar num hotel. Não quero dar trabalho algum. Por favor, fique à vontade.
- Minha filha, - disse ela me cortando a fala - o que o Tom resolver, está resolvido. Claro que você fica. É uma pena saber que este filho ingrato ainda não me arranjou uma nora decente.
Dizendo isto, deu um puxão de orelha no filho e seguiu para dentro de casa, gritando para que entrássemos, pois estava ficando frio e não queria ninguém doente naquela semana.
Tom pegou as minhas duas maletas e, passando o braço ao redor de meus ombros, sorrindo, me disse, em tom bem baixo para a mãe não ouvir:
- Podia ter deixado ela na ilusão de que teria uma nora – dizendo isto, apertou-me contra si.
- Você é louco? Onde já se viu enganar a pobre senhora?
- Estou brincando. Você está certa. Vamos lá enfrentar as feras!
“Feras?”, pensei. Comecei a ficar preocupada.
A casa tinha uma decoração muito alegre e aconchegante. Poltronas e sofás com estampas florais, inúmeros porta retratos com fotos de família espalhados por todo o lado. Quase podia me sentir em casa. Logo, fui apresentada ao padastro de Tom e aos seus irmãos mais velhos, Mary e Carl. Todos muito simpáticos e acolhedores. Fui levada, por Janet, ao quarto de hóspedes, no segundo andar.
- Querida, fique à vontade. Tome um banho e relaxe. Sinta-se como se estivesse em casa, está bem?
- Nem sei como agradecer, Sra. Janet.
- Eu sei. Seja amiga do meu filho e tente colocar um pouco de juízo na cabeça dele.
Não soube o que responder.
O quarto era espaçoso, no mesmo estilo da sala, com estampas florais nas cortinas e na colcha sobre a cama. Tudo parecia um sonho, do qual eu ia acordar em breve. Que loucura! As coisas acontecendo tão rápido que eu não estava conseguindo assimilar os acontecimentos. Na porta do armário, havia um grande espelho de corpo inteiro, onde pude ver a minha imagem refletida. Até que eu não estava mal, apesar dos cabelos ligeiramente desgrenhados. A imagem era de uma mulher jovem, aparentando menos de 30 anos (as mulheres da minha família sempre pareciam mais jovens do que realmente eram), corpo bem proporcionado, com seios fartos e quadris arredondados. O rosto anguloso, com olhos negros, levemente amendoados e uma boca carnuda, bem desenhada. Minha avó dizia que eu seria a cara da Sofia Loren. Coitada da Sofia... De qualquer jeito, até que, no geral, eu estava bem. Espere aí! O que eu estou pensando com esta análise toda? Marina, Marina... Não invente moda! Você mal saiu de uma roubada e já está pensando em bobagens.
Com um desconhecido, ainda por cima. Mas, que ele era um pedaço de mau caminho, era. Sem dúvida. Eu deveria ser que nem algumas amigas, recém-separadas, que só pensavam em curtir a liberdade, sem grandes preocupações. Porém, eu sempre fora mais introvertida. Era só olhar para trás e imaginar porque mantive um casamento infeliz por quase 10 anos, até não agüentar mais. Uma covarde, isto sim! Sabe que mais? Vou tomar um belo banho e relaxar um pouco antes do jantar. Chega de pensar besteiras. Deve ser o cansaço devido à diferença de fuso horário.
Quando abri a porta do quarto, quase cai para trás. Dei de cara com Tom, seminu, vestido apenas com uma toalha amarela pequena, que ele segurava para não cair, lindo como um deus bárbaro, na porta do banheiro.
- Oi, Marina! Estava indo tomar banho. Não quer ajudar a economizar água e vir junto? - dizendo isto, soltou uma gargalhada.
- Estou brincando. Não precisa ficar nervosa. Se você desmaiar, vou ser obrigado a soltar esta toalha para ajudá-la.
Devo ter ficado vermelha em todos os tons possíveis e imagináveis, para ele sorrir do jeito que sorriu.
- Prometo não demorar, ok? Você deve estar precisando dar uma relaxada também, não?
Dizendo isto, entrou no banheiro e fechou a porta, sem trancá-la.
Mas que tipo mais convencido! Mas ele bem que pode. Ai, ai, ai... Te segura, Marina!
Fiquei distraída no meu quarto, imaginando a água do chuveiro escorrendo por aquele corpo malhado, quando, repentinamente, bateram na porta:
- O banheiro está livre, milady!
- Obrigada - foi só o que consegui dizer.
Tomei meu banho e me preparei para o jantar. Vesti um conjunto de malha esportivo, branco, que realçava o bronzeado discreto que eu adquirira antes da viagem. Já estavam todos prontos para jantar, inclusive ele. Senti o olhar de admiração de Tom, ultrapassando o moletom e fazendo com que me arrepiasse toda.
Tudo transcorreu tranqüilamente. Todos estavam muito alegres. Fiquei sabendo qual a profissão de Tom. Senti-me completamente idiota, pois nunca tinha ouvido falar dele. Há muito tempo não freqüentava as salas de cinema. Porém, ele não pareceu ficar chateado. Pelo contrário, parecia aliviado.
Logo após a sobremesa, notei que ele se retirou da sala de jantar e foi para os fundos da casa. Não soube dizer com certeza, mas Janet me olhou, como que pedindo que eu fosse atrás dele. Ainda fiquei por ali alguns instantes e fui ao encontro dele.
Havia uma pequena varanda, atrás da cozinha, toda envidraçada, com cadeiras estofadas, reclináveis. Em uma delas, estava Tom, pensativo, olhar distante, uma ruguinha deliciosa no meio da testa e a boca fazendo um beicinho, que atraía para um beijo. Fiquei algum tempo contemplando aquela visão, tão lindo e perdido em pensamentos, com medo de tirá-lo daquele transe. Mas, de repente, ele percebeu a minha presença e disse:
- Que perfume bom que você está usando. Venha sentar aqui e apreciar o meu cartão postal predileto.
Sentei na poltrona ao lado da sua e percebi o que ele queria dizer. Diante de nós, à luz da lua cheia, podíamos vislumbrar uma paisagem linda com as montanhas ao fundo, digna das Highlands.
- É, realmente, é uma vista linda de se ver, ainda mais com este luar. Tom, eu vim te agradecer por tudo que você fez por mim hoje e desejar uma boa noite.
- Por favor, fica aqui comigo. Vamos conversar um pouco. Por favor?
Como que hipnotizada por aquele olhar, tornei a me sentar. Só a luz do luar iluminava a saleta. Tudo parecia um sonho.
- O que você quer conversar?
- Por exemplo, o que ou quem a fez fugir para cá?
- Não quero estragar a noite com este assunto.
- É bom desabafar, Marina. Além do mais, depois do nosso encontro no corredor, já somos praticamente íntimos - disse ele dando uma risada gostosa. Tive de rir também, meio encabulada.
Acabei contando como havia me enganado com o Aírton, de como ele se transformou depois do casamento, as humilhações, traições. Enfim, tudo que tinha levado ao fim da nossa relação. No final, senti que não conseguia mais segurar as lágrimas, chorando por mim, por tudo que eu tinha suportado naqueles anos e, principalmente, pelo medo que sentia de "encarar" um novo relacionamento.
Tom levantou-se da cadeira e pôs-se de joelhos na minha frente. Começou a afagar meus cabelos. Foi se aproximando, devagar, e quando dei por mim, ele estava secando minhas lágrimas com beijos suaves, por todo o meu rosto. Meu corpo reagiu, como se uma brisa quente o percorresse. Minhas mãos passaram a acariciar os seus cabelos sedosos, suas orelhas e sua face. Do rosto, ele passou a beijar meu pescoço. Seus braços fortes enlaçaram minha cintura e me puxaram contra ele. Uma de suas mãos abria o zíper do meu moletom, enquanto a outra descia pelas minhas costas, me apalpando com força e sofreguidão. Quando seus lábios estavam próximos aos meus seios, ouvimos uma voz, aproximando-se: - Crianças, vocês estão aí?
Como dois adolescentes pegos em flagrante, rapidamente nos afastamos e tentamos nos recompor. Ela entrou na varanda, a tempo de notar nosso mal estar. Deu um sorriso malicioso (tal mãe, tal filho) e falou:
- Marina, querida, estão ligando da National para avisar que vão rebocar o seu carro e querem saber onde devem entregar o novo veículo.
Àquela altura, eu não sabia de mais nada. Até tinha esquecido que tínhamos ligado para a locadora e estávamos esperando o retorno.
- Mãe, por favor, diga a eles que a Marina não vai querer o novo carro, no momento, porque resolveu ficar em Paisley alguns dias. Quando ela estiver pronta para reiniciar a viagem, ela entrará em contato.
- Tom, não. Eu não posso ficar aqui. Além do mais tenho um contrato com eles, podem me cobrar multa... Sei lá.
- Marina, em primeiro lugar, você quer ficar aqui, sim. Você acabou de me dizer isto, agora mesmo - falou em tom mais baixo, lançando um olhar de súplica - Segundo, eles é que devem ter medo de um processo depois de lhe darem um carro com falha mecânica, que a deixou na mão nas primeiras horas após ter saído da garagem. Portanto, já está resolvido. Não se preocupe mais com isso. Mãezinha, você pode fazer este favor por nós?
- Claro, meu filho! Ele está certo, Marina. Vai ser muito bom tê-la aqui conosco estes dias. Ainda mais que amanhã será um dia especial, de festa, pelo aniversário do meu caçula. Disse isto e saiu rapidamente para responder o telefonema.
- Vocês estão armando um complô contra mim, isto sim - falei, já recuperada do flagrante e dos argumentos de Tom, sorrindo divertida. Aos poucos o meu medo estava sendo substituído por uma vontade enorme de ficar ali, ao lado daquele homem encantador e da sua simpática família.

Assim que Janet deu as costas, Tom avançou em minha direção. Fui envolvida por aqueles braços magníficos e pude sentir a sua respiração, enquanto ele cheirava meus cabelos e beijava minha testa.
- Como você cheira bem. Estou ficando louco por você, sabia?
Fui sentindo as pernas fraquejarem, quase me entregando de novo aquelas carícias, quando consegui forças, Deus sabe de onde, para afastá-lo, delicadamente, antes que aquilo se tornasse irreversível.
- Tom, acho que estamos indo rápido demais. Nós mal nos conhecemos. Também estou ficando louca por você e isto está me assustando.
Aqueles olhos verdes me olhavam de um jeito. Minha vontade era me jogar nos seus braços e transar ali mesmo, à luz do luar.
- Você diz isso, mas o seu olhar diz outra coisa, Marina. Mas eu respeito os seus temores. Eu posso esperar pelo seu sinal verde. Temos alguns dias pela frente para nos conhecermos melhor. Então, vamos só conversar mais um pouco?
- Está bem, só conversar.
Conseguimos ficar mais de duas horas conversando, conseguindo controlar o desejo, sabe-se lá como. Tom era muito brincalhão e conseguimos dar boas risadas enquanto ele contava fatos pitorescos da sua vida e situações difíceis, das quais ele tinha se safado. Senti que poderia passar o resto da vida ouvindo aquela risada, vendo os trejeitos que ele fazia com a boca, enquanto falava , ouvindo aquele sotaque levemente chiado no meu ouvido e sentindo a virilidade emergente a cada movimento de seu corpo. Eu estava ficando irremediavelmente perdida de amor.
Com dificuldade, tivemos que encerrar nossa conversa. Gentilmente, me acompanhou até a porta de meu quarto e, após um “boa noite” com voz rouca, me beijou a boca com suavidade. Esperou que eu entrasse e se recolheu.
Tive dificuldade em acordar na manhã seguinte, pois ficara muitas horas pensando em tudo que estava me acontecendo. O medo de sofrer ainda era um fantasma que eu tinha de eliminar.
A movimentação na casa era grande. Ouvia, com freqüência, a voz de Janet ordenando alguma coisa. Parece que o almoço de aniversário estava sendo preparado em grande estilo. Resolvi levantar, apesar da preguiça, vestir meu robe e ir ao banheiro para me lavar. Dei uma ajeitada no cabelo e abri a porta com cuidado, verificando se o corredor estava livre, e saí na ponta dos pés. Quando estava alcançando a porta , ouvi um sonoro "Bom dia!". Era Tom! Quase tropecei com o susto. Ele não podia me ver naquele estado, com os olhos inchados, totalmente desalinhada. Um horror!
- B-bom dia!
Entrei correndo no banheiro e fechei a porta com mais força do que desejava. O que ele vai pensar? Nem dei os parabéns! Bem, nem tinha cabimento fazer isto com estes olhos remelentos e hálito horrível. Nunca mais ele ia querer saber de mim. Calma! Depois que estiver recomposta, vou até ele para felicitá-lo. Que idade será que ele está fazendo? Pergunto ou não? Acho que vou perguntar para Janet.
Com milhares de pensamentos estúpidos passando pela mente, consegui tomar outro banho, escovar os dentes, passar uma maquiagem leve e pentear os cabelos.
Agora, tinha de passar pelo corredor novamente. Abri a porta, torcendo para que ele não estivesse por ali. Parece que estava tudo calmo. Corri para o meu quarto e fechei a porta rapidamente. Quando me virei, soltei um grito ao verificar que Tom estava recostado na cama, me olhando com olhar divertido.
- T-Tom, o que você está fazendo aqui??
- Vim receber minhas felicitações pelo aniversário - falou com aquele sorriso maroto estampado no rosto.
- Você não podia esperar que eu me arrumasse? Por favor, saia daqui, agora, Sr. Thomas Gallagher.
Foi só o tempo de me virar para abrir a porta e ele saltou da cama, me pegou nos braços, passando as mãos por todo o meu corpo e me deu um beijo de tirar o fôlego.
- Estava com saudades. Passou bem a noite?
- Péssima! Você consegue tirar o sono de qualquer uma.
- Qualquer uma não me interessa. Só você.
Suas mãos continuaram a me acariciar, até que meu robe foi aberto. Ele me jogou sobre a cama e começou a me torturar com seus beijos. Eu sentia latejar cada músculo do corpo. Eu já estava tentando tirar a camiseta dele, quando, novamente, a voz de Janet alcançou nossos ouvidos:
- O almoço já está quase pronto. Preparem-se! Thomas!! Onde está você?
Parece que ela sabia exatamente o momento de nos interromper. Nos olhamos decepcionados, ambos sorrindo amarelo.
Não tivemos alternativa, além de nos ajeitarmos e nos despedirmos.
- Vou te esperar lá embaixo. Não demora.
Me deu um beijo rápido, esperou um momento para que pudesse voltar ao normal e saiu cabisbaixo.
Depois de tentar escolher alguma coisa jovial para colocar, no meu "vasto" guarda roupa de viagem acabei escolhendo uma calça de lã marrom e uma blusa de malha marfim, com decote em V, que valorizava meus seios. Estava com visual jovem e sensual. Será que o decote não estava demais? Será? Chega de dúvidas! Afinal, eu não tinha grandes escolhas. Breve, eu teria de comprar algumas roupas novas.
Vamos lá, e seja o que Deus quiser.
Entrei na sala de jantar, que estava toda decorada com balões coloridos e uma faixa de "FELIZ ANIVERSÁRIO, THOMAS". Dei bom dia para todos. Fui até o aniversariante, desejei feliz aniversário e lhe dei um beijo fraternal no rosto, recebendo de volta um sorriso irônico e um muito obrigado.
- Infelizmente não pude comprar nenhum presente para você. Mas depois dou um jeito nisto.
Ele se abaixou e falou sussurrando no meu ouvido:
- Meu presente é você!
Mais uma vez, me arrepiei toda.
Sentamos todos, sendo que Tom ficou sentado ao meu lado e Janet, com a ajuda de Mary, passou a trazer os pratos. O almoço estava ótimo. A comida escocesa já estava fazendo parte da minha lista das prediletas. Já não estava me sentindo como "uma estranha no ninho”. Cerca de duas horas depois, todos satisfeitos com a sobremesa deliciosa (uma receita caseira da avó de Tom), resolvi ajudar a tirar a mesa e oferecer-me para lavar a louça.
Enquanto conversava animadamente com Janet e Mary e ajudava a secar a louça, senti que Tom me observava à distância, se deliciando com a cena familiar. Mais uma vez, me senti em casa.
Quando tudo já estava arrumado, Tom entrou na cozinha e perguntou se eu não gostaria de dar uma volta. Estava uma tarde mais quente. A temperatura de 20º naquela época do ano tinha de ser aproveitada. Havia poucas nuvens no céu. Talvez mais tarde chovesse, mas naquele momento ainda havia um sol brilhando com intensidade.
Saímos pelos fundos, em direção ao campo. Ele pegou minha mão e, como um casal de namorados, seguimos por uma trilha. Ele foi me contando sobre a sua infância, sobre as travessuras com os irmãos, sempre com aquele bom humor que lhe era peculiar.
Já devíamos ter caminhado uns 2 km, quando chegamos a um pequeno lago. Estava tão lindo e agradável que resolvemos nos sentar e apreciar a vista.
Ele sentou-se com as pernas dobradas e os cotovelos apoiados sobre a relva, olhando perdido em lembranças, sério e, novamente, com aquela ruguinha entre as sobrancelhas. Ele parecia tão frágil, que tive vontade de abraçá-lo. Ao invés disso, perguntei no que estava pensando.
- Estava lembrando a minha adolescência. Eu tinha tantos problemas, a falta de meu pai, um vazio tão grande. Eu fugia para cá, me deitava neste mesmo lugar e ficava olhando para o céu, tentando esquecer.
- Tom, agora tudo isto ficou para trás.
Não resisti à tentação. Me inclinei em direção ao seu rosto e o beijei. Senti seus braços me envolvendo, seus lábios devolvendo meu beijo com força, sua língua penetrando a minha boca, ansiosamente. Perdi a noção de tudo. Nossas mãos seguiam ávidas, explorando um ao outro. Comecei a sentir pingos de chuva sobre nós. Nem havia notado que o sol tinha sido encoberto por nuvens cinzentas e que o tempo estava virando. Nada importava. Num instante, ele arrancou minha blusa e meu soutien, e passou a me beijar o colo, mordiscando meus mamilos e fazendo meu corpo estremecer. Pedi que tirasse a camisa e, logo pude encher meus olhos com a visão daquele tórax poderoso, seus braços malhados sem exagero. Fiz com que ele se deitasse e tomei o comando das carícias, fazendo uma deliciosa viagem pelo seu corpo, com as mãos e a boca, palpando e beijando cada milímetro daquele ser amado. Ouvia seus gemidos de prazer, me excitando cada vez mais. A esta altura, a chuva caía forte, refrescando a incandescência que sentia. Nos amávamos frenéticamente, então. Seu corpo molhado contra o meu só aumentava o prazer, até chegar a satisfação completa, que se prolongou por alguns minutos. Então, caímos exaustos sobre a grama molhada. Eu nunca tinha experimentado uma sensação como aquela. Não poderia haver felicidade e paz maior que a que eu sentia naquele momento.
Sentindo frio e completamente molhada, me abracei a Tom. Senti um calor gostoso me possuindo. Ele se levantou e me ajudou a ficar de pé. Tentei cobrir-me com as mãos, envergonhada, ao que ele sorriu deliciado e disse:
- Não precisa encabular. Você está linda assim, nua e molhada. Vamos pegar nossas roupas e sair daqui. Conheço um lugar onde podemos nos abrigar.
Corremos nus pelo campo. Era uma situação completamente insólita para mim. Chegamos a um velho barracão de madeira. Lá dentro, por incrível que pareça, havia lenha, fósforos, varas de pescar, linhas e anzóis e uma pequena prateleira com cobertores e toalhas.
- Meu padrasto tem mantido isto aqui como antigamente.
- O que é isto aqui?
- Construímos este galpão há muitos anos atrás, Carl e eu, para servir de refúgio durante nossas pescarias no verão. Muitas vezes vínhamos à tardinha e passávamos a noite aqui, conversando e contando casos e estórias de terror. Já tinha até esquecido disto... Bem, agora é nosso refúgio - disse ele se aproximando de mim e me abraçando com ternura, tentando me proteger do frio. Ruborizei e ele soltou uma risada.
- Depois de tudo que aconteceu, você ainda fica ruborizada? Você não existe!
- Não é todo dia que uma coisa destas nos acontece, sabia? Olha em que situação você me meteu.
- Eu meti? Quem me atacou na beira daquele lago, foi a senhora.
Ele tinha razão. Resolvi ficar calada, mas notei que ele estava se divertindo muito com tudo aquilo.
- Cubra-se com esta toalha, enquanto tento acender uma fogueira.
Ele pegou uma espécie de gamela de ferro fundido que estava num canto, jogou umas toras de madeira e um pouco de álcool, que também estava na prateleira, e ateou fogo. Logo tínhamos uma pequena lareira improvisada no centro do barracão. Estendeu dois cobertores no chão.
- Vamos estender as roupas perto do fogo e torcer para que elas sequem, senão vamos ter que ficar um bom tempo por aqui - disse maliciando.
Tom colocou uma toalha em torno da cintura e sentou-se sobre o cobertor.
- Vem prá cá, vem - me chamou.
Meio sem jeito, mas já com aquele calorão começando a subir pelo peito, sentei ao seu lado.
- Para a gente se esquentar melhor você tem que ficar bem pertinho de mim... Assim...
Dizendo isto, me puxou para junto dele. Foi como se um pavio de um barril de pólvora tivesse sido aceso. Minha toalha foi desprezada para algum canto do galpão e as carícias tiveram início. Suas mãos percorriam novamente meu corpo, que respondia com tremores de prazer. Desta vez me possuiu como um selvagem, mordendo e apalpando com força. Eu respondia igualmente, quase cravando minhas unhas nos seus braços, costas e nádegas. Nos amávamos com frenesi, como dois insanos. Chegamos ao orgasmo juntos e mais uma vez caímos naquela sensação boa de relaxamento e luxúria, esquecidos de tudo do mundo exterior. Ficamos abraçados um bom tempo, ouvindo apenas as batidas descompassadas de nossos corações. Agora, eu entendia o que era sentir prazer. Queria aquele homem só para mim, o resto da vida. Seria capaz de qualquer coisa para ficar com ele. Acho que acabamos por pegar no sono, curtindo o calor de nossos corpos.
Acordamos algum tempo depois, já com o fogo quase apagando e a escuridão tomando conta daquele dia. A temperatura começara a cair. As roupas já estavam quase secas.
- Tom, acho que temos de voltar. Bem que eu gostaria de parar o tempo aqui, neste momento, neste lugar, mas...
- Você está certa. O pessoal vai começar a ficar preocupado. Vamos nos vestir e voltar. Se bem, que por mim, eu ficaria aqui, fazendo amor com você a noite toda - dizendo isto, me olhou muito sério e me beijou. Um beijo apaixonado, longo e arrebatador.
Lentamente, nos obrigamos a sair dali e tomar o caminho de volta, pensando em que desculpa daríamos pela nossa ausência até aquela hora. Já passava das 20h.
Deixamos de nos preocupar com explicações, quando fomos recebidos alegremente por Janet, dando olhares de quem sabia o que tinha acontecido. Fez-me sentir envergonhada. Imagina o que ela devia estar pensando "essas brasileiras não tem jeito. Mal conhecem um homem e já vão logo se deitando com ele... Uma vadia". Já devia estar com a minha reputação totalmente enlameada junto àquela família. Será que o Tom não estava pensando da mesma forma? Oh, não! Porque eu não tinha resistido? Agora era tarde demais. Não, não, não... Não pense assim, Marina. Deixa de ser boba. Ele já me conhece o suficiente para saber que tudo aconteceu sem planejamento. Não tenho culpa de ele ser tão sedutor. Não tinha como resistir.
Melhor parar de pensar besteiras e ir direto tomar um banho.
Como que lendo meus pensamentos, Janet falou:
- Vão logo tomar um banho quente, antes que peguem uma pneumonia. Um de cada vez, por favor! - complementou, tão logo viu Tom me abraçando e se dirigindo às escadas.
- O que é isso, mãe? Que história é essa?
- Vamos, Thomas! Eu sou sua mãe e te conheço muito bem. Dê uma folga para que ela possa respirar! Vá, meu bem. Tome o seu banho sossegada que eu o seguro um pouco por aqui.
Com esta ordem, segurou no braço dele e disse:
- Nós precisamos conversar.
Pronto! Agora ela teria a conversa que acabaria com todas as minhas chances de tê-lo junto a mim. Eu devia começar a preparar minhas malas e meu coração para o fim daquela aventura amorosa. Sabia que era bom demais para ser verdade. Fui para o banheiro, segurando o choro.
Saí do banho e entrei no quarto, com esperança de que ele estivesse me esperando como da última vez. Fiquei desapontada ao ver que o quarto estava vazio. Certamente, a conversa com a mãe já frutificara e ele havia começado a esfriar comigo, antes de chegar ao fim da linha. Com um aperto no coração, terminei minha arrumação e desci para a sala de jantar. Para minha surpresa, ele já estava pronto, de banho tomado, junto com os pais, aparentemente, me aguardando. Notei a ausência de Mary e de Carl. Provavelmente tinham decidido ir embora, para não ter que conviver mais tempo com alguém promíscua, como eu. Oh, meu Deus, em que situação eu me metera. Sempre fui uma pessoa tão certinha, sem deslizes e agora, de repente, seria considerada uma devassa, logo por pessoas a quem passara a admirar tanto. Que vergonha!
- O que houve, Marina? Você andou chorando? – perguntou Janet. Olhei para Tom, que estava me olhando preocupado e disse:
- Não! Foi um pouco de sabão que caiu nos meus olhos e eles ficaram irritados - menti.
Durante todo o jantar, Tom não tirava os olhos de mim, tentando me sondar porque eu estava tão distante, não participante das conversas. Tanto Janet como o marido continuavam simpáticos como sempre. Criei coragem e perguntei sobre os dois irmãos ausentes. A resposta, claro que uma desculpa, foi de que eles tinham retornado a Glasgow para retomar o seu trabalho, pois estávamos em plena quarta feira e eles tinham conseguido escapar por um dia, apenas para poderem rever o irmão e participar da festa de aniversário. Qualquer um teria aceitado isto como um fato normal, mas eu só conseguia enxergar aquilo como uma bela desculpa para não precisarem cruzar seus olhares com o meu. Tudo havia se virado contra mim. Não conseguia pensar de outra forma. Quem me dera estivesse enganada.
Depois daquele jantar torturante, resolvi ir até a saleta envidraçada da noite anterior. Hoje não havia a luz do luar. Tudo parecia tão triste. Fiquei ali sentada, pensando se Tom viria para conversar e colocar um ponto final naquele nosso "afair". Poucos minutos depois, senti a sua presença e o seu perfume preenchendo todo o vazio do ambiente e do meu coração. Ele contornou minha cadeira e, mais uma vez, se ajoelhou diante de mim, me olhando daquele jeito que me deixava louca e onde eu queria me perder para sempre.
- O que está havendo? Porque você andou chorando?
- Eu já disse que não estava chorando. Foi sabonete nos olhos.
- A quem você acha que engana? Porque você não diz que está com saudades daquele seu ex-marido? Que me usou para passar o tempo e agora se deu conta do engano!
Ele demonstrava mágoa e raiva na voz.
_ O quê? Não! Você está entendendo tudo errado! - disse, admirada com a reação dele.
- Ah, é? Então me explique porque andou chorando? Porque quase não falou durante o jantar? Porque a indiferença?
- Eu pensei que você não ia me querer mais. Que eu era só mais um caso. Uma mulher fácil, sozinha, liberada, em busca de uma aventura - falei ,tentando engolir o choro.
- Mas, de onde você tirou uma idéia destas? Depois de tudo que aconteceu conosco? Como pôde pensar que eu seria canalha a este ponto?
- Quando chegamos do lago e a sua mãe quis conversar com você. Pensei que ela ia te pedir prá me mandar embora. Eu vi como ela nos olhou quando chegamos. Até entendo, que ela, como mãe, esteja protegendo o filho e o seu lar de uma provável oportunista.
- Marina, sua bobinha! - disse isto, já me abraçando. Uma sensação reconfortante foi tomando conta de mim, mas, ainda não conseguia acreditar que eu estava errada.
- Mas que conversa foi esta que Janet teve com você, afinal!
- Quer mesmo saber?
- Claro que quero!
- Marina, eu nunca havia trazido mulher alguma nesta casa, desde que saí de Paisley há anos atrás. Nem seria capaz de fazer isto, em consideração a meus pais. Minha mãe sabe disso. Tanto que ela demonstrou sua animação quando chegamos. Lembra?
- Lembro... Mas você não me trouxe até aqui como namorada. As coisas foram acontecendo, sem controle, depois.
- Pode parecer loucura, mas quando te vi naquele carro, de olhos fechados, sozinha, frágil e linda, senti algo que nunca tinha sentido antes. Quase tive certeza de que você era a mulher dos meus sonhos, Depois, conversando e vendo o seu jeito de ser, me encantei ainda mais. Se dá para acreditar em amor à primeira vista, acho que foi isto que aconteceu comigo. Marina, eu já tive várias mulheres, mas acredite, nenhuma provocou as reações que você provoca em mim. Eu estou apaixonado por você, pode acreditar. Estava ficando louco pensando que pudesse te perder - dizendo isto, segurou minha cabeça, próxima à sua e me beijou. A princípio, com ternura, passando a um beijo ansioso, como se quisesse sugar minha alma. Ahhh! De novo aquele calor gostoso foi tomando conta de todo meu corpo e a alegria de saber que eu estava errada foi se transformando em puro desejo. Fomos perdendo a noção de onde estávamos e logo estávamos fazendo amor sobre os tapetes da pequena sala, sem nos importar se alguém pudesse chegar naquele momento. Ainda bem que isto não aconteceu. Nos amamos loucamente, sem sermos importunados.Nossos corpos, mais uma vez, fundiam-se como se fossem um só. Mas, agora tínhamos a certeza de que aquela não seria a última vez , e sim, a primeira do início de uma relação sólida, cheia de amor e desejo.

FIM




Nos romances a gente pode imaginar que uma paixão como esta possa existir. Eu realmente acredito que é possível, caso contrário não escreveria sobre isto. Talvez não seja muito comum, talvez seja raríssimo, mas a gente pode acreditar no que quiser, não é mesmo?

Este foi o segundo romance que escrevi depois de pegar esta mania de escrever. Vão notar que ele foi dedicado a um ator em especial, do qual sou grande fã. Aliás, tenho muitos textos dedicados a ele, pessoa pela qual tenho grande admiração, não só por sua beleza e charme, como por sua personalidade, seu carinho para com as fãs, sua força de vontade e dedicação extremada à sua carreira. Com uma história de vida muito peculiar, ele já conquistou milhares, talvez milhões, de fãs no Brasil e no mundo. Várias comunidades no Orkut e diversos blogs são dedicados a ele. Meu blog não tem exatamente esta intenção, até porque acho que os existentes em homenagem a ele são excelentes, como os de minhas queridas amigas Ly, Pati, Rose, Tânia e Paty, entre outros.
Mas não posso deixar de falar deste grande homem e ator, que é fonte de inspiração para os protagonistas masculinos de meus romances. Quem sabe um dia ele não protagoniza de verdade um destes romances, não? Como eu sempre digo, sonhar é preciso...

Beijos!

sábado, 16 de maio de 2009

LUTO


Hoje estou aqui, não para postar um romance, mas sim uma notícia muito triste que recebi. A perda de uma amiga muito querida, Paty Esber, que partiu repentinamente deste mundo. Ainda estou muito abalada e as palavras me fogem. Só a tristeza consegue ocupar o meu coração e a minha mente. Paty era uma querida amiga, a quem eu conhecia apenas virtualmente. Várias vezes ensaiamos um encontro, que nunca se realizou e que agora não tenho mais esperanças que ele ocorra. Ao menos nesta vida... Antes de entrar neste mundo que é a Internet, sempre ouvia falar de seus perigos e dos cuidados que precisava ter para evitar suas armadilhas. Jamais pensei que exatamente aqui eu encontraria tantos amigos, com tantas afinidades e desejos em comum. Pessoas de almas lindas, corações abertos, distribuindo carinhos, dando apoio nos momentos difíceis. Nunca me senti tão querida e amada por um amigo real, como sinto com meus amigos "virtuais". Virtual...Palavra curta e técnica demais, que não consegue expressar a extensão deste relacionamento. A Paty era uma dessas amigas lindas que tive o grande prazer de conhecer e conviver "virtualmente" por um curto período desta vida, mas que com certeza deixou uma marca definitiva em meu coração. A ti, minha querida, deixo aqui o meu pesar pela tua partida tão precoce, imprevista e trágica. Onde quer que estejas, que sintas o meu afeto. O pensamento de todas nós, tuas amigas, está contigo neste momento, e tu estarás para sempre em nossos corações. Muita luz e paz para ti, Paty. Quando olharmos novamente o céu, sei que teremos mais uma estrela brilhando por lá...

domingo, 3 de maio de 2009

Meu Doce Vampiro

Românticas de plantão! Retorno hoje para colocar mais um conto para sua apreciação. Ele foi escrito antes de começar esta onda de estórias sobre seres noturnos, a quase dois anos atrás. Sempre fui apaixonada pela figura do Drácula. Claro que pelo Drácula tipo Gerard Butler ou Stephen Moyen e não por Bela Lugosi ou Cristopher Lee...rsrsrs...se é que me entendem.
Antes de colocar o meu conto, quero deixar registrado aqui o aniversário da minha querida amiga Cássia, que foi comemorado no dia 1º de Maio. Ela é uma dessas pessoas especiais que vieram ao mundo para iluminar a vida da gente. Aliás, nesta estória a seguir, não foi à toa que uma das personagens levou o seu nome. Foi uma pequena homenagem a esta minha grande amiga.
Agora deixo com vocês o meu pequeno romance vampiresco.


Cruzeiro para as Ilhas Gregas
Saída : dia 16 de Junho às 15 horas
Local: Veneza, Itália
1º dia
Chegamos na hora do embarque. Procuramos nossas cabines. Havíamos combinado de ficar isoladas umas das outras para não haver brigas. Era importante mantermos nossa privacidade. Nunca se sabe o que pode acontecer numa viagem como esta. Sempre ouvira falar da Grécia e de suas ilhas paradisíacas e, agora, poderia vê-las de perto. Sempre fui atraída pelo mar. Uma aventura e tanto. Havia me preparado muito bem para esta viagem. Seria muito bom conviver com pessoas estranhas, de interesses e nacionalidades diversos. Quem sabe conhecer alguém interessante? Vivia muito só. Sentia falta de um amor. Quem sabe... O navio partiu. Muitos risos e vivas. A alegria era contagiante.Logo mais, à noite, estava programado um grande jantar. Todos estavam convidados. As próximas noites seriam de lua cheia. Seria muito agradável passear a luz do luar naquele convés, observando o mar e suas ondas.Após o jantar inaugural, houve o convite para irmos ao cassino ou participar da balada que ocorreria no night club náutico. Separei-me de minhas amigas e resolvi ir ao deck 4, matar minha vontade de ficar longe da multidão. Não estava acostumada com tanta agitação.
O deck estava vazio. Apenas uma cadeira estava ocupada. Curiosa e silenciosamente, me aproximei para ver quem era. Então eu o vi. Deitado, relaxadamente na espreguiçadeira, estava um homem muito interessante. Ele parecia ser alto, forte, cabelos negros revoltos, certamente com alguns grisalhos, que podiam ser vistos por causa do reflexo lunar, olhar perdido. Como alguém como ele estava só? Perdi a noção do tempo em que fiquei observando-o. Era um belo exemplar de macho. Logo, ele percebeu a minha presença e perguntou:
_ Está procurando alguém?
_ Estava. Mas acho que já achei - disse, tentando ser engraçada.
Imediatamente me arrependi de minha sinceridade. Ele pareceu sorrir, na penumbra.
_ Posso sentar ao seu lado? - perguntei.
_Claro! - ele respondeu, parecendo um pouco surpreso com o meu pedido._Espero que você não seja nenhuma repórter ou fofoqueira de plantão. È?
_Não! Por quê? Quem é você? - perguntei curiosa.
_Ainda bem! - respondeu aliviado. _ Desculpe, mas é que sou ator e apesar de estar começando a ter um pequeno sucesso, os paparazzi já começaram a perseguição. Por isso vim para cá. Sabia que a esta hora não haveria ninguém por aqui. Pelo jeito, me enganei.
_ Me ocorreu a mesma idéia. O pessoal está agitado demais, lá dentro. Resolvi aproveitar a noite de maneira mais tranqüila, vendo este luar lindo sobre o mar.
_ Fique à vontade, por favor. Faça de conta que eu não estou aqui.
_ De maneira alguma. Adorei que você estivesse aqui - disse eu, não conseguindo frear a língua. Não sabia o que estava acontecendo comigo.
_ Podemos conversar? Se você quiser, é claro - continuei, naquela sinceridade enervante.
_ Você é sempre tão direta assim?
_ Nem sempre. Parece que hoje resolvi perder totalmente a vergonha. Se eu continuar desse jeito, por favor, chame um médico ou alguém para me colocar uma camisa de força ou uma focinheira. Ele soltou uma gargalhada gostosa.
_ Fique claro, que eu só quero conversar, se me entende. Não pensei em nada mais - menti.
_ Vamos conversar, então! Por onde começamos?
_ Você está aqui a lazer ou a trabalho?
_ As duas coisas. Eu estava estudando um roteiro, aqui na Itália, quando surgiu a oportunidade de fazer algumas fotos publicitárias, utilizando a área do navio e a paisagem de algumas ilhas onde faremos paradas. Fora isso, sempre ouvi falar da beleza deste país, a Grécia. Então, resolvi aceitar o convite e unir o útil ao agradável. Portanto, durante o dia vou estar meio ocupado e você terá dificuldade em me ver perambulando por aí. Mas, à noite, pretendo aproveitar a calma das áreas externas do navio, para relaxar. Minha vida, ultimamente, tem sido uma loucura. E, você? Já falei bastante de mim.
_ Não tenho nada de especial para contar. Estou aqui com algumas amigas, que praticamente me forçaram a entrar neste passeio. Não costumo ser tão extrovertida como hoje. Provavelmente, vamos nos encontrar muito neste convés, pois ele acaba de ser eleito o meu local predileto neste navio - "Porque eu não calava a boca?" - Bem como o horário. Prefiro a noite ao dia - continuei.
_ Eu também. Se possível, viveria só à noite. Ela é muito mais interessante. Hoje está sendo uma prova disso.
Achei ter vislumbrado um estranho brilho em seus olhos, que, por sinal, pude perceber que eram de um lindo verde azulado.E, assim, passaram-se horas, enquanto a lua mudava de posição no veludo do céu, e Robert (este era o nome dele) e eu conversávamos. Em um certo momento, as luzes do convés acenderam-se por alguns instantes e eu pude ver aqueles olhos de safira faiscarem , enquanto examinavam meu corpo de alto a baixo. Senti como se minhas roupas tivessem sido arrancadas num segundo e, isto, me fez estremecer. Sentia-me extremamente atraída por aquele homem. Tive medo. Isto não era possível!
_ Bem, acho que está ficando tarde. Podemos nos encontrar amanhã? - perguntei, já fugindo de meus temores, com um pouco de vacilo na voz e já me levantando da cadeira onde estava.
_ Com certeza - disse ele, colocando-se imediatamente de pé e vindo em minha direção. Aproximou-se, chegando seus lábios muito próximos aos meus e desviando no último instante, para depositar um beijo suave em minha face direita.
_ Vai ser um prazer voltar a vê-la - disse, sorrindo.
_ Até amanhã, falei com voz trêmula. Podia sentir o seu calor através das roupas, atiçando meu desejo.
_ Boa noite, Robert.
_ Boa noite, Luísa.
Naquela noite, uma inquietação foi tomando conta de mim. O que estava acontecendo? Robert parecia não sair da minha cabeça. Só consegui pegar no sono ao clarear do dia.

2º dia
Acordei muito tarde, com a garganta seca. Corri para o frigobar para beber algo com urgência. Fazia calor. Eu esquecera de ligar o ar condicionado. Assim que matei a sede, tratei de me lavar e coloquei uma roupa leve. Precisava falar com as outras, saber como havia sido a noite. Encontrei Cássia em sua cabine. Também acabara de acordar. Logo chegaram Monique e Gabriele. Todas queriam saber o que eu andara fazendo naquela noite Tinha encontrado alguém interessante? Elas não tinham achado ninguém. Falei que, como a noite estava linda, havia ficado no convés, tomando um banho de luar.
_ Sozinha???
_ Não exatamente, mas... Bem, encontrei alguém para conversar...
_ Aahh!! Então você teve mais sorte que nós três – disse Monique.
_ Que bom, Luisa. Você anda precisando conhecer outras pessoas - falou Cássia.
_ Meninas, parece que estamos chegando a Athenas, no Porto de Piraeus. Vamos ficar aqui todo o dia de hoje. Só partiremos amanhã, pela manhã. Dizem que a cidade é linda. Estou curiosa para conhecer todos os pontos históricos e seus monumentos. Vamos? - disse Gabriele, animadíssima.
_ Claro! Vamos lá - falei, agradecendo aos deuses gregos pela mudança de assunto. Passamos o resto do dia explorando a famosa cidade grega, conhecendo todos os recantos possíveis e as histórias locais. Foi um final de tarde muito enriquecedor.Voltamos para o navio, no início da noite, indo cada uma para suas respectivas cabines, nos preparar para a noitada. Comecei a ficar ansiosa com a possibilidade de encontrar com Robert. Será que ele estaria no deck, como no dia anterior? Era mais uma noite de luar, com vista para um mar prateado e céu aveludado coberto de estrelas. Hum... Eu estava ficando romântica demais. Precisava me cuidar. Isto não era nada bom...
Após o jantar, a maioria dos convivas desembarcou em terra, em busca de mais diversão. Tratei de dar uma desculpa e consegui com que as meninas fossem para Athenas, sem mim.Fui para o convés. Lá chegando, para minha grande decepção, não o encontrei.Fiquei distraída, encostada no parapeito do navio, olhando as pequenas ondulações criadas pelo mar, ao bater de encontro ao casco. Estava tudo tão calmo. Por muito tempo fiquei ali, sentindo a brisa suave acariciar o meu rosto, observando as luzes ao longe. De repente, estremeci, ao sentir uma presença, que inundou todos os meus sentidos, aproximando-se de onde eu estava.
_ Boa noite - disse aquela voz, já conhecida, bem próxima ao meu ouvido.
Novamente podia sentir o calor que emanava dele através das roupas. Sorrindo, virei-me e quase bati no seu peito. Ele estava muito próximo. Os olhos, agora azuis, brilhando e um maravilhoso sorriso estampado nos lábios.
_ Estava a minha espera?
_ Você é um pouco convencido, não? Só porque estou aqui, não quer dizer que estava te esperando - mentir, para dissimular meus verdadeiros sentimentos, estava se tornando um hábito desagradável.
_ Bem, eu posso ir para o outro lado do convés ou para outro deck, se preferir, e deixá-la a sós com seus pensamentos.
_ Não! Claro que não. Por favor, fique. Desculpe a grosseria. Será bom ter companhia para conversar um pouco.
_ Você não quis desembarcar para se divertir um pouco?
_ E, você? Porque não quis ir?
_ Porque estava cansado de falsos sorrisos para as fotos. Muita gente em volta. Estava querendo ficar fora do agito. E, você?
_ Eu desembarquei à tarde e já tive agito o suficiente por hoje. Minhas amigas são mais animadas que eu e foram curtir a noite em terra. Então, passaram-se alguns minutos, sem nos falarmos, apenas olhando as luzes de Athenas, ao longe, quando senti o seu olhar pousar sobre mim. Novamente, uma agitação interior tomou conta de mim.
_ Você está linda sob esta luz. Dá vontade de te beijar...Antes que eu pudesse falar qualquer palavra de rejeição, ele me virou contra si, tão rápida e suavemente, que eu não pude evitar a sua boca em meus lábios entreabertos. Um beijo doce e terno, que fez meu coração derreter e meu corpo estremecer de prazer. Seus lábios foram descendo para o meu pescoço, onde ele se deteve por algum tempo, na linha da jugular. Um pensamento absurdo passou por minha mente. Seria ele um vampiro? O gosto pela solidão, pela noite, o beijo no pescoço. Não, não era possível. Que bobagem! Lá continuava ele, beijando e acariciando, com sua língua, a minha zona erógena preferida. Senti como se fosse desfalecer. Enquanto isso, suas mãos passeavam por minhas costas, cintura, chegando às nádegas, querendo conhecer cada detalhe de minhas curvas. Tentei, sem muito ímpeto, afastá-lo de mim, mas o feixe de braços fortes parecia apertar ainda mais, impedindo meus movimentos. Estava perdendo as forças para lutar contra aquele turbilhão de sensações. Fiquei com medo de perder a razão e o controle completamente. Isto poderia ser desastroso para a nossa relação. Nisso, senti ser elevada do chão. Ele me carregava no colo, rumo a uma espreguiçadeira escondida na escuridão. Lá, me deitou, com todo cuidado e com as mãos ávidas começou a desabotoar minha blusa e a abrir o zíper de minha calça. Meus lábios e minhas mãos também passaram a procurá-lo, na tentativa de despi-lo e deslizar naquele corpo atlético, rijo e tão viril. Quase já não conseguia pensar em nada, quando um resto de razão lampejou em meu cérebro. Consegui aos poucos recuperar as forças e, passei a rejeitá-lo, com as mesmas mãos e braços que antes o procuravam.
_Pare! Por favor! Pare! Robert! Não! - e o repeli com força.
_ O que há com você? Uma hora me quer e na seguinte me repele como se estivesse com nojo de mim?
_Por favor, Robert! Entenda-me! Eu não posso fazer isso! Um dia vou poder te explicar e você vai entender...
_ Então me explica agora! Você é casada? Tem alguma doença contagiosa? É louca???
Rompi em prantos e, tentando ajeitar minhas roupas, fugi. Fugi para longe daquele que eu mais desejava. Eu não tinha o direito de fazer isto. Um dia, ele entenderia.Voltei correndo para minha cabine e lá fiquei chorando e me maldizendo até muito tarde.
3ºdia
Nosso terceiro dia em alto mar. Novamente acordara tarde. Aquela sede terrível, ferindo minha garganta. Depois de saciá-la, fui ao banheiro passar uma água no rosto para limpar as muitas lágrimas secas que rolaram por minha face, na noite anterior. Sentia-me exausta, pesada, sem vontade de continuar minha jornada. O que eu poderia fazer? Eu não podia ter me apaixonado. Mas ele era maravilhoso, irresistível, diferente de todos que eu já conhecera. Eu poderia viver a eternidade junto a ele. Provavelmente ele não ia gostar desta idéia. Talvez fosse melhor não vê-lo mais. É! Talvez esta fosse a solução! Enquanto estava afundada em pensamentos, minhas companheiras invadiram a cabine, ordenando que eu me arrumasse para visitar a próxima ilha, onde estaríamos atracando, em cerca de 1 hora. A Ilha de Mykonos. Não tive coragem de contar nada do que acontecera na noite passada. Resolvi esquecer um pouco minhas tristezas e admirar as paisagens que tanto eu aguardava conhecer antes daquele homem aparecer na minha vida. Agora, tudo parecia uma bobagem.Com algum esforço, tentando disfarçar meu verdadeiro humor, consegui me vestir e sair da cabine, para misturar-me à multidão que procurava descer até onde estavam as lanchas que nos levariam até a ilha.
Mykonos era uma típica cidade grega, daquelas vistas em fotos de turismo. À beira de um mar de azul fosforescente, com suas lindas construções de arquitetura cicládica, casas brancas, com belas bouganvilles a emprestar um colorido vivo às moradias. Vários pelicanos podiam ser vistos na praia ou, simplesmente pousados, descansando ou procurando a próxima refeição, junto ao pequeno cais, onde as lanchas nos desembarcavam. Fomos informados que teríamos cerca de duas horas para conhecer e aproveitar os atrativos da ilha. Alguns partiram direto para a compra de bugigangas, lembranças de viagem. Outros, como eu e minhas amigas, saímos a andar pelo vilarejo. Conseguimos um pequeno guia mirim, que prometeu nos mostrar os pontos mais pitorescos, em um mínimo de tempo e preço. O garoto não devia ter mais que 14 anos, de pele muito bronzeada, cabelos e olhos negros, corpo esguio e ágil. Era muito simpático e bem humorado. Foi assim, que conhecemos Mykonos. Pelas mãos de um menino, chamado Eros. Eram 16 horas, quando nos despedimos dele, já no porto. Pagamos pelos seus serviços e agradecemos pela sua simpatia e alto astral. O navio partiria logo mais, rumo a mais uma ilha - a Ilha de Rhodes, muito conhecida por ter abrigado o famoso Colosso de Rhodes. Um monumento magnífico, considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo, que representava o deus grego do sol, Hélios. Sua estátua servia como farol na entrada no porto de Rhodes, com uma altura de, mais ou menos, 30 metros, toda feita em bronze. Pena, que ela havia sido jogada nas profundezas do mar por um terremoto, apenas 55 anos após sua conclusão. Já de volta ao navio, não pude deixar de pensar em Robert. Não o vira em lugar algum. Tinha esperança de vê-lo em alguma locação, fazendo fotos ou, simplesmente, passeando. Mas, não. Infelizmente, não.
Chegaríamos a Rhodes só no dia seguinte. Uma nova noite estaria se iniciando logo mais. Minhas amigas estavam tentando me convencer a ir ao night club. Queriam dançar. Por fim, acabaram me fazendo prometer que eu ia me divertir com elas. O que eu poderia perder? O objeto do meu desejo, certamente não apareceria por lá. Talvez, este fosse o melhor para nós dois. Eu o esqueceria e tudo ficaria bem. Nosso cruzeiro logo chegaria ao final. Só restavam mais três noites de navegação. Eu tinha de resistir. Só um pouco mais. Após o jantar, juntas, fomos conhecer um pouco daquele navio suntuoso. Era uma pequena cidade flutuante. Além das cabines, restaurantes (eram quatro, ao todo), cassino e night club, ainda havia as lojas (roupas, perfumes, artesanato, livros, revistas), a biblioteca, o spa (com sauna, jacuzzi, sala de massagens), pista de patinação e até, um mini-golfe. Sem falar das piscinas (eram três, sendo que uma era térmica). Por algumas horas, fiquei distraída com tantas futilidades. Era divertido ver a "fauna" que ocupava os diversos decks. Gente estranha, dos mais diferentes gostos e tamanhos. O grupo de americanas idosas, espalhafatosas e coloridas. Os espanhóis, muito elegantes, com suas esposas muito maquiadas e falantes. Os árabes, muito sérios, acompanhados por mulheres de burka, parecendo tristes. Seriam? Um grande circo armado só para a diversão desta gente toda. Já passava das 23 horas. Tomamos o rumo em direção à música alta e estridente. Como podiam chamar aquilo de música? Apesar disso, a batida forte exigia uma reação do corpo, que insistia em gingar naquele ritmo louco. Entramos no grande salão. Estava começando a receber um grande número de pessoas. Fui me sentindo cada vez mais angustiada, com vontade de sair, correr para longe de tudo aquilo. Conseguimos uma mesa quase dentro da pista de dança. Ali, ficamos as quatro, tentando conversar em meio àquela zoeira toda. Passei a olhar na direção da entrada do clube, pensando em fugir, quando , inesperadamente, ele surgiu, fazendo com que tudo mais que nos rodeava ficasse em estado de animação suspensa. Parece que ele estava à procura de algo ou de alguém. Um arrepio subiu pelas minhas costas, chegando à nuca. Sentia alegria, desejo, medo. Emoções confusas, que me deixaram paralisada.
_ O que você tem, Luisa? - perguntou Cássia.
_ Nada! Não se preocupem comigo.
Enquanto isso, ele já notara a minha presença, também. Passou a mover-se em direção à nossa mesa, com os olhos fixos nos meus. Chegou em alguns segundos na minha frente. Cumprimentou minhas amigas, que se entreolharam admiradas com aquele estranho, e falou:
_Vamos dançar? - ao dizer isto, o rosto sério de antes, abriu-se num sorriso que escondia uma súplica. Chegava a ser hipnótico. Não permitia que eu oferecesse alguma recusa.
_ Eu tenho como negar? - perguntei, com a voz embargada.
_ Não - falou, já me oferecendo a mão firme.
_ Então, vamos.
Assim que levantei, senti seu braço rodear minha cintura, puxando-me contra o seu corpo. Pensei que fosse cair. Porém, com firmeza, ele me levou até o centro da pista e começou a dançar a romântica música, que, como por encanto, começou a tocar. Repentinamente, toda a zoeira de antes, desapareceu, dando lugar a uma melodia suave e lenta. Senti seu corpo colar no meu, sua respiração quente afagando a pele de meu rosto, seu olhar penetrante querendo devassar minha alma. Sentia flutuar nos seus braços. No meio deste devaneio, ouvi a sua voz rouca dizer:
_Precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem à noite. Não consigo tirar você da minha cabeça.
_ Por favor, não pare de dançar agora. Quero aproveitar ao máximo este momento. A gente conversa mais tarde. Eu prometo. Vamos ficar assim, dançando até tudo o mais desaparecer. Deixa-me sonhar um pouco...
_Isto não precisa ser um sonho. Pode ser uma realidade bastante duradoura.
Pousei minha mão sobre seus lábios, impedindo sua fala e disse:
_ Apenas dance comigo, por favor - supliquei, fechando os olhos e me abraçando à ele como uma náufraga agarrada ao seu salva-vidas.
Aqueles passos pareceram durar uma infinidade no tempo. Queria que aquela sensação prazerosa durasse o resto de minha vida. Como eu poderia resistir? Quando as músicas românticas acabaram, tentei retornar à realidade, olhando para a mesa onde as meninas estavam sentadas. Senti o olhar de aprovação que elas lançavam para Robert. Sem dúvida, ele era um magnífico exemplar.
_ Vamos sair daqui - falou, já me levando para fora do salão.
_ Aonde nós vamos?
_ Para algum lugar mais tranqüilo, onde possamos ficar mais à vontade para conversar.
Quando dei por mim, estávamos indo em direção às suítes de luxo do transatlântico. Logo, estava entrando em seu apartamento, me sentindo um pouco apreensiva. A decoração era de muito bom gosto, além de parecer confortável. A cama era extremamente convidativa. Mais do que devia. Nem parecia que estávamos em pleno mar aberto. Havia até uma grande sacada, com vista para o mar. As cortinas e os vidros estavam abertos, o que deixava a lua à vontade para entrar por ali, sem timidez.
_ Podemos sentar na sacada, lá fora? Gostaria de ver o mar, enquanto conversamos.
_ Claro! Como você quiser.
Lá , nos sentamos, em confortáveis poltronas reclináveis. Agora, eu não tinha como escapar. Estávamos frente a frente. Eu teria de encará-lo e abrir meu coração. Eu contaria a mais pura verdade ou tentaria mantê-lo afastado de meus problemas? Era um momento muito difícil. Tinha de achar uma saída. Até onde eu poderia chegar naquele romance insólito?
_ Luisa, antes que você fale, quero que saiba algumas coisas. Estes últimos três dias foram muito confusos para mim. Tenho experimentado sensações desconhecidas até agora. Já conheci muitas mulheres, mas nenhuma mexeu comigo como você. Não sei bem o que está acontecendo, mas você exerce um poder sobre mim, que me tira a razão, me provoca e me excita de uma forma, que não sei explicar. Não sei se isso pode ser chamado de amor, paixão ou desejo. O que sei é que, o que quer que você tenha a me dizer ou a esconder, enfim, nada importa. No momento o que eu quero é ter você junto a mim, fazendo amor, conversando ou simplesmente sentada ao meu lado, admirando o oceano. Não importa, realmente. A única coisa que preciso saber é o que você sente em relação a mim. Ontem, me pareceu que você sentia repulsa. Se for isso, se você não quiser mais a minha presença por não gostar ou por asco, por favor, diga. Eu não a incomodarei mais. Nossa estória acaba aqui.
_ Robert, como você pode pensar uma coisa dessas. Não há como eu não ficar atraída por você. Desde que o vi, a atração física foi inevitável. Depois, conhecendo-o melhor, conversando, a atração foi se transformando em algo mais profundo, algo, que tenho certeza, vou carregar comigo pelo resto de meus dias. Amor? Não sei. Eu nunca conheci este sentimento antes. Por isso, assim como você, me é difícil definir o emaranhado de sentimentos que tenho experimentado nos últimos dias. O porquê de eu rejeitá-lo ontem? Para protegê-lo. No fundo, para proteger a nós dois.
_ Como assim? O que você quer dizer com isso? Robert, eu tenho uma "doença" rara, que pode ser contagiosa. Tenho medo que eu possa transmiti-la a você. Por isso, me afastei ontem. Não quero magoá-lo de forma alguma.Você me é muito caro. Não posso imaginar te causando qualquer malefício, por menor que seja.
_ Mas, esta doença pode levar à morte? É transmissível sexualmente? Que danos ela pode causar? Você me parece completamente normal. Você não está tentando me enganar com este jogo? Está?
_ Não, de forma alguma! Como te falei. É uma "doença" rara, com alguns danos metabólicos, que podem provocar reações desagradáveis no organismo. Ela pode ser transmitida através do contato com o sangue. Não há transmissão sexual.
_ Então não há problema! Nós podemos tomar cuidados para evitar ferimentos e é só. Não teremos risco algum. Além disso, se por acaso acontecer a contaminação, posso perfeitamente conviver com os sintomas. Basta olhar para você e ver que eles não podem ser tão horríveis assim.
_ Ainda assim, acho ...
_ Luisa, pare de fugir de mim com estas desculpas. Caso contrário, vou achar que não me quer realmente.
Dizendo isso, saiu de sua cadeira e veio aproximando-se de mim, como um gato, de mansinho, chegando devagar, tocando minhas mãos, aproximando sua boca de minha testa. A partir daí, seus lábios passaram a explorar toda a minha face, beijando meus olhos, o nariz, as maçãs do rosto, a linha do maxilar, indo até as orelhas e voltando, até chegar à boca, que já aguardava ansiosamente por seus beijos. Ele vencera. O desejo era mais forte. Eu optara pela meia verdade, pelo menos por enquanto, até me decidir como resolver aquela situação. Não queria mais lutar contra meus sentimentos. Me entregaria, sem mais preocupações. Talvez eu estivesse sendo muito rígida comigo mesma. Ah... Aqueles beijos... Não me deixavam raciocinar ... Faziam-me vibrar como um diapasão, esquecendo quaisquer regras, incertezas, seja lá o que for.
Novamente, senti ser içada da cadeira.
_ Desta vez, você não vai fugir. Vai? - disse ele, carregando-me em seus braços, em direção ao quarto.
As luzes foram apagadas. Apenas o luar inundava o ambiente com seus raios. Ver o seu corpo sob aquela luz sobrenatural provocava ainda mais meu desejo. Agora, eu só pensava em abraçá-lo, mantê-lo junto a mim, explorando seus músculos, senti-lo de todas as formas. Seus cabelos macios, o odor que exalava de seus poros, como um afrodisíaco poderoso, os pêlos de seu tórax, das coxas e pernas, de seu sexo, fazendo cócegas deliciosas, aumentando ainda mais o meu prazer. Nossas mãos eram ávidas, despertando suspiros e gemidos sem fim. Tudo em mim se preparava para recebê-lo, para chegar ao momento máximo de sublimação. Coração acelerado, arrepios em ondas, músculos tensos, êxtase total, como eu nunca sentira antes. Depois, o cair num abandono, quase perda total dos sentidos. Um relaxamento, uma paz sem igual. Apenas a noção de estar junto a ele, sentindo seu suor, o calor de seu corpo cansado e sua respiração ofegante. Nada mais importava. Agora, estava resolvida a viver aqueles momentos da forma mais intensa possível. Ali, ficamos por várias horas, retomando as carícias tão logo retornavam nossas forças. Fizemos amor por toda a noite, até que o dia amanheceu. Por fim, caímos sonolentos e exaustos.

4º dia
No final da manhã fomos acordados pelo som da sirene do navio, avisando que estávamos chegando a um novo porto. Era a ilha de Rhodes. Estava cansada, com aquela sensação de fraqueza habitual da manhã, a garganta seca, queimando. Precisava urgentemente ir à minha cabine. Olhei para o lado. Robert parecia estar dormindo. Seu corpo bronzeado e tão perfeito quase me fazia esquecer o mal estar. Tinha vontade de voltar a beijá-lo inteiro. Não! Eu tinha que sair dali rápido para não correr riscos. Fui tentar me levantar, sem acordá-lo. Ao fazer isto, senti sua mão agarrar meu braço, com firmeza.
_ Aonde você pensa que vai? - falou docemente com a voz rouca.
_ Tenho de ir à minha cabine, agora.
_ Por quê? Vamos tomar café juntos. Estou morrendo de fome - disse, com um sorriso malicioso.
_ Por favor, Robert... Preciso tomar minha "medicação", com urgência. Não estou me sentindo bem.
_ Oh! Desculpe. Eu não sabia... Você não me falou em medicações antes. Quer que eu vá com você? Talvez precise de ajuda. Você está muito pálida, mesmo.
_ Não. Obrigada, querido. Eu prometo que volto. Não vou fugir. É que realmente preciso ir.
_ Hoje eu tenho o dia livre. Podemos passear juntos em Rhodes. O que acha?
_ Mas, é claro! Volto logo, pronta para sairmos.
_ Então, fico te esperando - falou, puxando-me para beijar-me. Esquivei-me um pouco e o beijo tocou-me a face. De um pulo, me desvencilhei de suas mãos e sai correndo pelo quarto, vestindo minhas roupas rapidamente e cruzando a porta da cabine, rumo ao corredor.Precisava chegar logo. Tinha medo do que pudesse acontecer caso não me "medicasse", logo.
Lá chegando, já com alguma dificuldade, corri para o frigobar. Logo em seguida, já recuperada, saciada a sede intensa, tratei de tomar um banho e vestir-me para reencontrar Robert. Sentia-me muito feliz. Enquanto estava perdida em devaneios amorosos, ouvi a batida na porta. Eram minhas amigas. Assim que abri, elas invadiram o quarto e foram logo querendo saber como tinha sido a minha noite. Pelo jeito elas também tinham tido sorte. Estavam muito agitadas._ Luisa, acho que vamos realizar os nossos planos. Estamos tentando nos manter na linha, como o combinado. E, você? Como foi a sua noite? – perguntou Monique.
_ Você está muito estranha... Nós vimos o homem com quem você saiu ontem à noite. Nada mal... Por acaso está se apaixonando? - indagou Gabriele.
_ Não! Claro que não! - menti.
_ Você sabe que isto seria um problema, não?- disse Cássia.
_ Eu sei. Não se preocupem. Eu sei cuidar de mim.
_ Temos certeza disso. Ou pelo menos, tínhamos, até ver o seu escolhido.
_ Eu já disse! Não se preocupem comigo, está bem? Por favor!
_ Está certo! Não vamos incomodá-la mais com este assunto.
_ Olhem. Eu combinei de ficar com ele hoje à tarde. Provavelmente, não vou poder vê-las até o final do cruzeiro. Quero aproveitar o máximo que puder ao lado dele. Por favor, me entendam e não façam mais perguntas.
_ Fique tranqüila. Nós também não deixaríamos de aproveitar um monumento daqueles -disse Gabriele, maliciosamente.
_ Vamos, meninas! Agora é cada uma por si, até o final, ok? A gente se vê assim que possível. Até mais, Luisa. Cuide-se! - falou Cássia, já se dirigindo para a saída.
_ Obrigada, garotas! Até!
Assim que fiquei sozinha , novamente, tratei de terminar de me arrumar e saí ao encontro de Robert. Ele me aguardava em sua cabine. Já havia tomado seu banho e me esperava tomando seu café, enrolado apenas em uma toalha.
_ E então, melhorou? Já está com uma aparência ótima. Venha aqui... Sente-se e coma alguma coisa - disse ele, me examinando dos pés a cabeça.
_ Não, obrigada. Eu já me alimentei. Pensei que você já estaria vestido para podermos descer à ilha e passear. Mas, estou vendo que não está com muita pressa - maliciei, pousando os olhos gulosos em seu corpo. Senti aquela onda de desejo tomando conta de mim, mais uma vez. Não era possível ficar frente a frente com ele sem desejar possuí-lo.
_ Não, não estou com a mínima pressa de conhecer Rhodes. Nós teremos bastante tempo para fazer isto mais tarde - dizendo isso, levantou-se, em minha direção e me envolveu num abraço delicioso, começando a beijar-me pelo pescoço. Dali em diante, perdemos a noção de tempo mais uma vez e a chance de conhecer a ilha de Rhodes. Por uma ótima causa, eu diria. Depois daquela tarde de luxúria, já tendo zarpado rumo a outro destino, nos restou relaxar e aproveitar aqueles bons momentos juntos. Tudo corria às mil maravilhas, como um sonho que eu gostaria que nunca acabasse. Já à noite, resolvemos sair para jantar e dançar um pouco. Cada minuto ao seu lado era um bálsamo para minha alma e, ao mesmo tempo, ia tornando uma futura separação mais difícil. Tentava não pensar nisso. Queria esquecer tudo. Quem eu era, dos planos , da minha tristeza... Queria apenas viver aquela paixão enquanto fosse possível. Ainda restavam três dias e duas noites em que eu poderia tê-lo só para mim.

5º dia
Mais um dia em que acordávamos juntos. Desta vez, eu conseguira guardar na geladeira da sua cabine, sem ele perceber, o responsável pelo meu bem estar. Assim, logo cedo, verificando que ele dormia profundamente, levantei-me e pude tratar-me adequadamente. Joguei o frasco fora, para que ele não desconfiasse de nada e voltei ao calor da cama, em seus braços. Desta vez, conseguimos nos levantar um pouco mais cedo, e resolvemos dar uma trégua para aquela paixão. Vestimos-nos e fomos para o deck, de mãos dadas, observar a chegada à Ilha de Creta. Ficaríamos ali por pouco tempo. O suficiente para poder visitar as ruínas do Palácio de Knossos, um famoso sítio arqueológico da era Minóica. A lancha nos levou até o porto de Heraklion, capital da ilha. Lá descemos e pegamos um táxi. As ruínas eram belíssimas. Mais um lado positivo de Robert. Ele também admirava a arte, tinha bom gosto e era muito culto. Isto não me facilitava em nada. Ele parecia não ter nenhum defeito, nada errado, nada que pudesse me decepcionar. No final da manhã, tivemos que voltar, pois o navio partiria mais uma vez. Agora, em direção a sua última atração - a Ilha de Santorini - um dos locais mais procurados por sua beleza natural. Lá poderíamos ver um vulcão submerso, as praias de areia preta e as belas construções cicládicas à beira do mar azul. Passeamos como um casal de namorados por todo o navio. Fizemos uma parada para Robert almoçar. Ele estranhou que eu não quisesse comer. Realmente, eu não estava com fome. Ele resolveu não insistir.
_ Luisa, infelizmente, vou ter que trabalhar naquelas fotos que te falei. A equipe que está comigo quer aproveitar a beleza das praias desta ilha e tirar as últimas fotos.
_ Tudo bem. Você vai estar livre à noite? - perguntei, sem esconder minha decepção por não poder ficar mais tempo ao seu lado.
_ Sim, é claro... Olha, tive uma idéia! Quem sabe você não vem comigo? Não há nada que impeça você de assistir a sessão de fotos. Até vai ser muito mais agradável para mim que você esteja presente. O que acha?
_ Eu adoraria! - falei mais animada - Mas, não quero atrapalhar o trabalho de vocês.
_ Você não atrapalharia nada, nem que quisesse. Então, está certo. Vamos lá falar com o pessoal da equipe.
De repente, ele parecia um garoto travesso que acabara de roubar um doce. Puxou-me pela mão, levando-me pelos corredores do navio, até a sala de jogos, onde se encontravam o fotógrafo e sua equipe. Logo na entrada, pude notar uma grande quantidade de espelhos, estrategicamente colocados, para ampliar o ambiente. Eu odiava espelhos! Pedi a Robert para aguardá-lo na porta do salão. Ele estranhou a minha inesperada crise de timidez, mas foi conversar com William, o fotógrafo. Muito educadamente, Will, como gostava de ser chamado, veio até meu encontro, com grande simpatia, para cumprimentar-me.
_ Então é você a responsável pelo sumiço do meu amigo aqui? E também pela alegria dele, pelo que vejo. Nunca o tinha visto tão entusiasmado. Isto é muito bom para as fotos. Portanto, você está oficialmente convidada para ver o nosso trabalho. Conseguimos locações belíssimas para fotografar. Quem sabe você não se anima a posar para a minha máquina?
_Não, obrigada! Imagina! Não me dou muito bem com máquinas fotográficas - falei, tentando persuadi-lo a esquecer aquele convite absurdo.
_ Você parece ser fotogênica. Porque não tentamos? - insistiu.
_ Não! Você não vai querer me fotografar... - falei, olhando firmemente para ele.
Ele demorou alguns instantes para falar, mas quando o fez, mostrou que eu conseguira meu intento.
_ Ok! Fique tranqüila. Não vou fotografá-la. Está encerrado o assunto.
Depois daquele encontro, fomos aguardar a chegada ao porto de Santorini. Mais uma vez teríamos que pegar uma lancha até terra firme. A ilha era muito linda, vista ao longe. Realmente as areias das praias eram mais escuras que as demais que havíamos visitado.Fomos até o local combinado para encontrar a equipe de Will e lá desembarcamos, longe da massa humana dos passageiros comuns. Já havia uma van confortável nos aguardando, que nos levou até a praia de Perissa, cercada pelas montanhas, cheia de guarda-sóis à beira mar e com aquela areia grossa, escura. Ela era linda. Certamente fariam belas fotos, ainda mais tendo o Robert como modelo. Era impossível que elas não ficassem excelentes.Lá, montaram uma pequena cabine, onde ele poderia trocar de roupa. Ele tinha razão de ficar cansado com aquelas sessões. Ficar posando, simulando sorrisos e poses variadas, debaixo daquele sol quente, trocando várias vezes de roupas. Não era nada fácil. Ainda bem que havia os guarda-sóis na praia, onde pude me refugiar do sol intenso, apesar de já ser quase final de tarde. Contudo, foi muito divertido. Robert mantinha o bom humor, fazendo caretas , dizendo besteiras e contando piadas. Era impossível ficar séria diante dele, enquanto trabalhava. Em algumas poucas horas, o sol já estava se escondendo atrás das montanhas, ficando impossível fotografar. Começaram a desmontar tudo e Will dispensou Robert. Talvez aproveitassem o sol da manhã, no dia seguinte. Ele que estivesse preparado para acordar cedo, falou Will, piscando o olho direito, com sorriso de alcoviteiro, para nós dois. Seriam as últimas fotos da campanha da Burberry e do Armani. Já estavam com um bom material para ser apresentado à agência. Certamente seriam lindas campanhas. A van nos deixou no centro, próximo ao porto, para que ficássemos a vontade para escolher os nossos próximos passos.
Dali, pegamos um táxi e fomos para o vilarejo de Fira, onde nos informaram que encontraríamos um grande número de restaurantes e casas noturnas, com boa música grega e lugares românticos. Escolhemos um local bem animado, onde estaria o músico mais famoso do local, George Papalexis, tocando seu bouzouki, um instrumento semelhante ao violão, mas que tinha aquele som característico da música grega, parecido com um bandolim. Foi uma noite muito divertida, em que dançamos muito, cantamos e participamos da tradicional quebra de pratos. Antes de quebrá-los, tínhamos de escrever todas as coisas ruins que nos afligiam, nos pratos, para que elas não nos atormentassem mais.
Depois de tudo, resolvemos dar um passeio pela praia, para aproveitar a linda noite enluarada. A praia estava deserta àquela hora. Claro que, em determinado momento, andando abraçados por ali, o desejo voltou a nos envolver. Como se estivéssemos dominados por uma febre, começamos a nos beijar com intensidade, quase com violência, insaciáveis, buscando um ao corpo do outro, como se eles ainda fossem desconhecidos. Quanto mais que eu o tocava, mais o queria. Arrancamos nossas roupas e deitamos na areia de toque grosseiro. Sentia minha pele ser arranhada e isso só provocava mais o meu prazer. Era maravilhosa a sensação de estar fazendo amor numa praia deserta, com aquela luz prata banhando tudo a nossa volta. Ele me enlouquecia de prazer com seus toques nos locais mais insólitos de meu corpo. Ele tinha muita experiência, sem dúvida. Quando terminamos, ficamos deitados, lado a lado, abraçados, olhando para o céu, onde as constelações se exibiam ostensivamente, como se fossem milhares de olhos brilhantes a nos espiar, testemunhas do nosso amor.Depois de algum tempo, resolvemos voltar para o porto, para embarcar numa das lanchas que faziam o caminho de volta para o navio, durante toda a noite.Tínhamos que descansar um pouco.
Tentei convencer Robert a dormirmos em nossas respectivas cabines, mas ele não gostou da idéia. Falei sobre minha "medicação" da manhã, do meu mal estar, que ele tinha de acordar cedo e que eu não queria atrapalhá-lo. Mas não teve jeito. Acabamos resolvendo que ele dormiria na minha cabine, naquela noite.
6º dia
Acordamos abraçados, como se fossemos um casal apaixonado, de muitos anos, daqueles que tem o prazer de simplesmente dormir juntos, só para sentir o calor um do outro. Ele foi muito discreto, não mostrando interesse em ver que tipo de remédio eu utilizava pela manhã. Fingiu que dormia. Só depois de sentir que eu estava recuperada do mal estar matutino, levantou-se, dando-me um beijo carinhoso antes, e foi para o banheiro arrumar-se. O seu celular tocou. Era Will, para saber onde ele andava, pois queriam descer logo à ilha para começar a nova sessão, aproveitando aquela luz divina da manhã. Ele teve de sair correndo. Ainda me perguntou se não queria ir junto, mas confirmei que ficaria para descansar um pouco. Não lhe disse que precisava daquelas horas para pensar a respeito de nosso futuro. O nosso tempo estava se esgotando. Isto ia me deixando cada vez mais ansiosa e angustiada. Pensar em deixá-lo, agora, estava sendo uma tortura para mim.
Passei a manhã vagando pelo navio, olhando Santorini ao longe, imaginando onde ele estaria fotografando, pensando sobre nós. Aproveitaria ao máximo nossas últimas horas juntos ou o "convidaria" para ficar comigo para sempre. Era uma escolha difícil. No início da tarde, Robert retornou de Santorini. Do deck, onde estava, pude vê-lo chegando na lancha, de porte altivo, bronzeado, forte, magnífico como um rei. Ao me ver, abanou-me, estampando seu mais belo sorriso, de derreter até o mais gelado dos corações.Veio ao meu encontro, ávido por meus beijos. _ Estava morrendo de saudades... E você?
_ O que acha? - falei, afagando seus cabelos e dando-lhe um beijo prolongado.
_ Estava pensando.Você gosta de sauna a vapor?
_ O quê? Como assim? - perguntei surpresa.
_ Eu pensei que seria interessante. Foi uma fantasia que me ocorreu. Quer tentar?
_ Com você, qualquer coisa é bem vinda.
_ Então, vamos! A esta hora, todos devem estar aproveitando as praias de Santorini, imagino eu. Teremos privacidade total.
Dizendo isto, praticamente me arrastou para a área do spa do navio. Ele acertara. Não havia ninguém interessado em fazer sauna àquela hora. Assim, ela era toda nossa. Tiramos nossas roupas e colocamos os roupões brancos, que eram oferecidos aos usuários da sauna. Lá dentro, sozinhos, nos livramos deles e passamos a nos abraçar e beijar loucamente. O vapor e o calor deixavam nossos corpos transpirarem muito e isso fazia nossas mãos escorregarem livremente, numa onda de prazer sem igual. Jogamos os roupões sobre o piso e logo estávamos deitados ali, nos amando freneticamente. Era uma sensação inigualável. Parecia que nossos corpos sublimavam-se, tornando-nos um só. Aquela mistura de suores e secreções, beijos e toques, gemidos de prazer...Ahh... O mundo poderia acabar ali, que eu morreria feliz.
Ficamos por algum tempo, mas o calor passou a ficar sufocante. Resolvemos sair e tomar uma ducha. Nos "divertimos" mais um pouco durante o banho. Assim que terminamos, Robert pegou toalhas. Enrolou-se em uma delas e com a outra, passou a secar-me, aproveitando-se um pouco mais de meu corpo, o que era uma delícia. Estávamos nos abraçando e rindo como adolescentes, quando, subitamente senti que ele esfriou. Neste instante, pude notar a existência de um grande espelho na parede do banheiro. Ele me olhou e voltou os olhos para o seu reflexo no espelho, que estava sozinho, abraçando um vazio.
_ Luisa, o que é isso? Algum tipo de brincadeira? - falava totalmente aparvalhado.
_ Eu tenho pensado em te contar tudo, mas não estava tendo coragem. Você ia achar que eu era maluca. Por favor, não tenha medo. Eu vou te explicar.
_ Explicar o quê? Como você consegue este efeito no espelho. Claro que é um truque de óptica! Ou você vai me dizer que é uma vampira? - ele me olhava totalmente desconcertado.
_ Oh, Robert! Por favor, vamos sair daqui e ir para um lugar mais tranquilo para podermos conversar. Este maldito espelho precipitou as coisas.Vou te explicar tudo. Ele parecia petrificado. Tive de ajudá-lo a vestir-se. Saímos dali e fomos direto para a sua cabine. Lá chegando, sentamos na grande varanda. Fiquei fitando o mar e pensando como seria a melhor maneira de lhe contar toda a verdade.
_Robert, antes de qualquer coisa, quero que você saiba que tudo que aconteceu entre nós foi maravilhoso. Você me deu os momentos mais felizes de toda a minha existência. Eu estou realmente apaixonada por você, apesar de não ter esse direito. A verdade é que... sou uma vampira. Uma das últimas da minha espécie. Nós temos sido destruídos ao longo dos anos. Que eu saiba, só restaram minhas três companheiras de viagem e eu.
_ Elas também são...? Você deve estar brincando comigo! Isto não existe!
_ Eu sabia que seria difícil para você acreditar nessa história toda, por isso estava evitando contar. Deixe-me terminar. Neste tempo todo, de tentativas para sobreviver, tentamos buscar uma maneira de conviver mais "adequadamente" com os humanos. Há alguns anos começamos a deixar de nos alimentar diretamente da fonte, se você me entende. O surgimento de bancos de sangue facilitaram esta nossa mudança de hábito. Foi uma maneira de ficarmos mais civilizados e, assim facilitar o nosso convívio entre vocês. Talvez esta seja uma das únicas coisas que ainda nos torna diferente - o nosso tipo de alimentação. Sei que isto vai ser muito difícil de você aceitar. Já estou preparada para tudo.
_ Mas... e a luz do dia... Não é letal para vocês?... Deus, o que eu estou falando!
_ Sobre os vampiros terem aversão à luz solar? Isto é apenas uma lenda. Uma bobagem. Nós preferimos a noite, como eu já havia lhe dito antes, não? Mas podemos perfeitamente viver durante o dia.
_ Eu ainda não acredito que estamos tendo esta conversa! Parece uma loucura total!
_ Me pergunte o que você quiser. Mas por favor, não me olhe deste jeito, como se eu fosse um monstro.Comecei a sentir um grande vazio dentro de mim, como se o chão faltasse sob meus pés. O que não estaria se passando na cabeça dele? Não podia imaginar Robert pensando em mim como algo grotesco, asqueroso. Eu não suportaria esta rejeição.Passaram-se alguns minutos, até que ele conseguiu olhar dentro dos meus olhos. Senti sua expressão suavizando-se, voltando a ser aquela de antes.
_ Luisa, mesmo que tudo que você está me dizendo seja verdade, eu não tenho como negar o que já sinto por você. Nada pode mudar este fato. Para mim, você vai continuar sendo uma mulher excepcional, de quem estou gostando demais.
Dizendo isso, me abraçou forte e pousou seus lábios nos meus.
_ Você tem certeza que não vai me morder? - disse rindo, maliciosamente.
_ Absoluta!
Não conseguimos evitar o desejo que novamente assumia a direção de nossos atos. Estava feliz por ele ter entendido. Pelo menos, aparentemente. Achei que seria mais difícil. Provavelmente ele estava me amando de verdade, o que tornava mais difícil o que eu teria de fazer, em breve. Depois de cerca de uma hora de amor intenso e já vencidos pelo cansaço, voltamos a conversar. Ele ainda tinha dúvidas. Como eu havia dado abertura, ele passou a perguntar:
_ E a questão do sangue? As doenças todas que podem ser transmitidas? - perguntou momentaneamente preocupado.
_ Nós somos imunes às suas doenças. Lembre que somos de outra raça. Não me pergunte como. Mutação genética, desígnios de Deus? Não sei dizer como fomos criados, tão parecidos com os humanos, mas com esta ligação com os mamíferos hematófagos. De qualquer forma você está protegido destas doenças transmitidas pelo sangue. Não precisa se preocupar. Tenha certeza que se eu soubesse que poderia prejudicá-lo de alguma forma, me afastaria de você.
_ E, se você quisesse me transformar num vampiro? Poderia? Ele tinha chegado ao ponto que eu mais temia.
_ Poderia. Você gostaria de ser transformado?- perguntei para sondá-lo.
_ Talvez. Se isso fosse imprescindível para viver com você, talvez. Você gostaria?
_ Você daria um belo vampiro, meu amor. Um doce vampiro. Mas não é uma escolha muito fácil. Eu entenderia se você recusasse.
_ Então, me conte sobre a sua vida. Como é? Provavelmente, há muitas diferenças entre a ficção e a realidade, pelo que você está me falando. Ainda não estou muito certo do que está acontecendo. A verdade é mirabolante demais.
_ Eu sei. Imagino que seja muito difícil. Para mim está sendo nada fácil ter esta conversa com você. Não foi fácil reconhecer que estava apaixonada por alguém que não pertence a minha espécie. Apesar de já ter ocorrido muita miscigenação ao longo dos anos e ser este o motivo para termos adquirido alguns hábitos e gostos semelhantes aos seus, ainda somos seres que tendem para a reclusão, que tendem a evitar a luz do dia, que preferem o luar, além de sermos obrigados a conviver com esta maldição alimentar - tentava falar coisas que o dissuadissem a se tornar um igual a mim, mas parecia que nada tirava o brilho do seu olhar.
_ E a longevidade? É verdade que os vampiros podem viver eternamente? Qual a sua idade? - perguntou muito curioso.
_ Se você pensa que vou lhe contar a minha idade, está muito enganado. Isto não é pergunta que se faça a uma dama. Onde está a sua educação? – falei, tentando brincar com a situação.Ele riu, mas não desistiu de obter uma resposta mais clara. Ele era humano e a curiosidade era algo inerente à sua espécie.
_ A imortalidade é apenas lenda. Somos mortais e podemos viver bem mais que nossos amigos morcegos e muito mais que vocês. Eu diria que isto não é uma boa coisa. Se fossemos imortais, provavelmente já teríamos dominado o mundo. Você não acha? E aí, não estaríamos tendo esta conversa. Também temos uma reprodução difícil e uma grande mortalidade entre os mais jovens. Por isso, estamos em quatro representantes apenas. Como você pode ver, não é uma vida muito fácil.
_ Na ficção, falam que os vampiros teriam poderes, como controlar a mente, transformar-se em animais...
_ Como você disse, é ficção - menti, convincentemente. Ele não precisava ficar mais excitado do que estava com esta conversa. Resolvi mudar o rumo do assunto e, para isso, levantei da cama e comecei a me vestir.
_ Hei! Onde você pensa que vai?
_ Estou pensando em sair um pouco. Ainda temos algumas horas antes de partir para Athenas. O que você acha de conhecermos o resto da ilha, passear nas praias. Pelo menos foi para isso que vim da Romênia. O meu interesse inicial era a história grega - menti mais uma vez - até você aparecer e me desviar do caminho do conhecimento. Ele riu e pareceu concordar com a idéia de passarmos o resto da tarde passeando por Santorini. A beleza da ilha merecia isto.Depois de prontos, mais uma vez desembarcamos. Fomos conhecer a famosa cratera submersa, que podia ser vista do alto de um mirante. Ao final do dia, pudemos vislumbrar um pôr do sol magnífico, que banhou as praias com seus raios dourados. Já era noite, quando voltamos para o navio. Pude ver, à distância, Gabriele e Monique, também passeando com seus "namorados". Onde andaria Cássia? Ela era a mais recatada de nós. Porém, eu tinha certeza de que ela tinha achado alguém e estaria se "divertindo", neste momento. Resolvemos que, naquela última noite dançaríamos, até muito tarde e só então iríamos para a cabine de Robert.A muito custo, nos separamos para nos preparamos para a noite de gala, que seria realizada mais tarde. Já na cabine, enquanto me arrumava, Cássia apareceu. Com ar preocupado, me perguntou se estava tudo bem.
_ Claro! Está tudo ótimo - falei, tentando esconder meus verdadeiros sentimentos.
_ Não tente me enganar, Luisa. Sei que você está muito preocupada com o humano. Pude ver que vocês estão apaixonados. O que você pretende fazer?
_ Não pretendo fazer nada diferente do que já havíamos combinado. Só não quero ficar sofrendo pressões, por favor!
_ Ah, minha querida. Você sabe que eu só quero o seu bem. Estou aqui para te apoiar na sua decisão final, não para pressioná-la. Confio plenamente em você e sei que não faria nada de que pudesse se arrepender mais tarde.
_ Obrigada pelo seu apoio, Cássia. Mas pode deixar que farei o que tiver de ser feito.
_ E você? Correu tudo bem?
_ É! Acho que sim. Em sete meses, poderemos ter certeza. Sorriu e despediu-se de mim, com olhar tristonho.
_ Tudo vai correr bem. Não se preocupe.
Assim que Cássia saiu, senti meus olhos marejarem e as lágrimas passaram a correr livremente. Precisei conter-me para não soluçar alto, pois tinha medo que ela ou outra pessoa pudessem ouvir. Não adiantava mais fantasiar a respeito de Robert e eu. Esta seria, definitivamente, a nossa última noite. Nossas últimas horas juntos. A opção de mordê-lo e transformá-lo num igual estava afastada. Eu sabia que se isto acontecesse, ele seria transformado em uma espécie de escravo, sem vontade própria. Eu não podia fazer isto. Não com ele. Seria humilhante. Com o tempo, ele me odiaria e, tudo aquilo que sentimos e vivemos seria transformado em pó. Não. Eu faria com que ele me esquecesse. Ele teria a sua vida de volta, sem lembranças deste "caso" de amor. Sim. Estava resolvido. Sequei as lágrimas, terminei minha arrumação. Aquela seria uma grande noite. Dizem que uma vampira apaixonada era a melhor e mais insaciável amante. Assim seria.Fui ao encontro dele. Ele me esperava. Lindo, elegante, charmosíssimo e apaixonado.
_ Você está mais linda do que nunca.
_ E você, muito apetitoso - falei, despertando uma risada deliciosa.
Fomos para o grande salão de baile, que estava todo iluminado para a festa de encerramento do cruzeiro. A música começou suave, com algumas valsas, que evoluíram para o foxtrote, twist e, finalmente, o rock. Dançamos como nunca. Formávamos um belo par. Durante toda noite, nossos olhares se cruzaram, denunciando o desejo que ia aumentando a cada passo. Enfim, foi impossível continuar no salão, pois a vontade de ficar juntos mais intimamente, agora, era imperiosa.
Mal fechamos a porta da cabine de Robert, ele me encostou contra a mesma e começou a me beijar por inteiro, quase rasgando minhas roupas, num frenesi. Suas mãos percorriam meu corpo avidamente. Logo, comecei a agir, ajudando-o a livrar-se de suas roupas, que pareciam estar pegando fogo. Assim que o vi totalmente despido, enlouqueci de desejo e passei a abraçá-lo e arranhá-lo, fazendo-o gemer de prazer. Joguei-o sobre a cama, começando a acariciá-lo. O pescoço, o tórax, o abdômen sarado, o púbis, seu pênis ereto. As carícias descendo por entre suas coxas fortes. Eu o torturava, passando a boca e a língua por todos os locais onde as mãos já tinham feito o seu trabalho. Quando vi que ele não aguentava mais, pude saciar-me, montando sobre seu quadril, fechando minhas coxas em torno dele, encaixando-me perfeitamente em seu membro rijo. Em movimentos ondulantes, inicialmente lentos e depois cada vez mais rápidos, nos tornamos um só, numa dança selvagem e orgástica. Com muito esforço, como das outras vezes, precisei conter meus impulsos de mordê-lo. Aos poucos, nos lançamos ao abandono total e pousei meu corpo sobre o seu. Foi assim por toda noite, nos amando das mais diversas maneiras, tentando obter o máximo de prazer. Uma noite que eu guardaria na memória pelo resto de meus dias.Ao nascer do sol, ainda olhava seu rosto, seu corpo deitado ao meu lado, exaurido, sem forças. Como era difícil pensar que nunca mais o teria. Nunca mais o tocaria nem sentiria seu hálito quente, seus beijos... Mas era assim que teria de ser. Aguardei até que ele abrisse os olhos. Pude ver aquele olhar, de um azul profundo, lançar um último brilho de desejo por mim. Logo, ele ficou sob meu domínio e pude sugestioná-lo para que, em sua mente, eu me tornasse apenas mais uma amante ocasional. Ele esqueceria meu rosto e tudo o mais que havia acontecido. Eu passaria a ser apenas mais uma aventura sem importância. Em pouco tempo, me esqueceria por completo.
Saí dali, logo após colocá-lo para dormir, e voltei para minha cabine, tentando controlar o choro e a tristeza. Lá, como era de esperar, estavam minhas fiéis amigas, como sempre. Parece que todas tínhamos conquistado nosso principal objetivo. Tomamos nosso "drink" matinal e brindamos ao futuro de nossa espécie. Logo chegaríamos a Athenas, de onde partiríamos de volta à Romênia, nosso lar.
Enquanto aguardava o desembarque no deck principal, vi Robert ao longe. Sei que ele me viu, pois acenou e lançou um sorriso discreto, com certo ar de culpa, por estar me "abandonando". Não havia nem sinal da paixão vivida há poucas horas atrás. Ao vê-lo partir, uma parte de mim parecia estar sendo arrancada, mas, ao mesmo tempo, senti que o nosso amor não tinha sido em vão. Ele deixara uma pequena semente em mim, que dentro de sete meses nasceria, belo e forte como o pai, para garantir nossa descendência neste mundo. Juntos, ele e os filhos de minhas "irmãs", manteriam a espécie longe da extinção. Só isto importaria, de agora para o futuro.
FIM
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