domingo, 1 de maio de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo XII



- O que quer aqui?
Bryan empurrou-a com delicadeza para trás, deu mais uma olhada no corredor e fechou a porta.
- Percebi que está chateada comigo e com razão...– Logo notou a umidade sob os olhos vermelhos e se aproximou - ... Andou chorando?
- Não ouviu na sua escuta? – insinuou magoada, fugindo das mãos que tentavam alcançá-la para consolar. – Não me toque. Não precisa tentar me conquistar para conseguir mais informações sobre o seu “suspeito”.
- Júlia... – conseguiu segurar seus braços e forçá-la a olhar para ele – Eu não tentei conquistá-la para obter informações. – falou incisivo – Eu realmente fiquei atraído por você. Por favor, acredite em mim.
- Por que devo acreditar em você e não em Miguel? Quem me garante que você não é algum bandido querendo roubá-lo e inventou essa história toda para chegar aqui e abrir o cofre para roubá-lo.
Ele a soltou e olhou-a entristecido.
- A opção é sua... Gostaria de tê-la conhecido em outra situação e não tenho desculpas para ter agido como agi. É o meu trabalho. Não estava nos meus planos gostar de você.
Ela engoliu em seco ao ouvir aquilo.
- Eu acredito em você – disse alguns longos segundos depois, com a voz trêmula – Só que precisa entender a confusão em que está minha cabeça com as revelações que você me fez e por estar descobrindo que o homem que eu pensava amar está se revelando outra pessoa completamente diferente daquela que achei que conhecia.
- Júlia... – sussurrou, lutando contra a vontade de abraçá-la. Precisava esfriar a cabeça e pensar apenas na missão que tinha pela frente. Se ele falhasse, isso poderia ser mortal, da mesma forma que tinha sido para Juan. Tendo conhecido a ficha de Miguel, ou Lito, como era conhecido entre seus “funcionários”, temia pela segurança de Júlia. O cara era um psicopata. Mesmo que ele a considerasse inocente nessa história toda, não demoraria a se revelar como o mau caráter que era. Tinha que descobrir as provas para incriminá-lo e enviá-lo para a prisão o mais rápido possível.
Ambos sofreram um sobressalto quando ouviram a batida forte na porta. Júlia hesitante andou até a porta,
que abriu com um falso sorriso nos lábios. Então, para seu alívio, deparou-se com uma das empregadas da casa.
- Senhorita. O almoço está servido...
- Já vou. Obrigada. – Fechou a porta e virou-se para Bryan – É melhor descermos antes que Miguel venha pessoalmente nos chamar.


Soza tinha acabado de engolir o último pedaço de seu almoço, um sanduíche de frango, e estava a postos observando ao longe a casa dos Vasquez, ligado por uma escuta a van de apoio que se encontrava em outra rua transversal. Fora enviada ao local pelo comando para dar cobertura ao maluco do Phillips que resolvera entrar na casa, a despeito de todas as negativas de seus superiores. Ele acabara por convencê-los, na noite anterior, que precisavam invadir o cofre de Miguel Vasquez para conseguir as provas necessárias para trancafiá-lo na cadeia. Isso acabou com o seu descanso e com a esperança de continuar seu último relacionamento. Mal havia chegado à casa da namorada, com um pedido de desculpas, quando foi chamado a retornar. O que recebeu dela foram uma porta na cara e a ordem de não aparecer mais por lá. Ainda bem que não estava tão apaixonado assim, pensou. Deu de ombros e voltou para sua tocaia. Já se passavam quatro semanas desde que recebera o encargo de vigiar a mansão. Tinha apenas uma folga de 12 horas a cada três dias, quando era substituído por um colega. Até Phillips passar a acompanhá-lo naquele trabalho, como supervisor, nada tinha sido detectado de anormal, a não ser o excesso de vigilância, o que era esperado no caso de milionários como aqueles. A única coisa que tornava a sua tocaia menos chata eram os momentos em que a linda jovem, dona do Smart pink, saia através dos portões. Depois da primeira semana ela notou a sua presença e, sempre que passava por ele, abanava ou jogava um beijo. Pensou em avisar o comando, mas ela parecia inofensiva. Além do que, nenhum dos “gorilas” que cuidavam da segurança da casa tinha aparecido para tirar satisfações sobre a sua presença ali. Agora sabia que ela se chamava Isabel e era irmã do “mafioso”.
- E então, bonitão? O que você faz aí parado?
Soza deu um pulo no assento do carro, batendo com a cabeça no teto e deixando cair o copo de isopor com café em sua roupa. Por sorte ele já estava frio.
- O quê? Ai!... - gemeu com a dor na cabeça, pois batera na parte dura do capô.
Ela soltou uma risada tão gostosa que até o fez esquecer da dor.
- Desculpe se o assustei... O café estava quente?
- N-não... É... Você me assustou.
- Você é um dos policiais que vigia a nossa casa, não?
- C-como? Não, claro que não. Que casa? – respondeu confuso, procurando uma desculpa para sua presença ali. – Qual é a sua casa?
- Vai dizer que não sabe? – estreitou as pálpebras com ironia – Está bem. Entendo que é o seu trabalho. Pode me dar uma carona?
- O quê? – exclamou mais surpreso ainda.
- Meu carro ficou sem gasolina e preciso ir até um posto para comprar combustível – explicou, mostrando um pequeno galão na mão direita. Sem esperar por sua resposta, deu a volta no carro e entrou sem acanhamento, sentando-se ao seu lado – Vamos?
- Olhe aqui, senhorita... Eu estou a trabalho, como você mesma falou.
- Vigiando a minha casa.
- Não... Sou detetive particular e estou vigiando aquela casa... Ali – disse apontando para outra mansão que ficava no quarteirão defronte a “fortaleza” onde ela morava.
- Sério? Por quê?
- Não lhe interessa – tremeu ao sentir os grandes e curiosos olhos negros sobre ele. –Quer fazer o favor de sair? Está atrapalhando meu trabalho.
- Se você é detetive, trabalha por conta própria, não?
- Sim. – afirmou categórico, mantendo a mentira que conseguira improvisar.
- Então pode dar um tempinho e ajudar uma pobre garota indefesa a buscar combustível, não? – dizendo isso se virou de frente para a rua, como que aguardando a partida do carro.
Ele não sabia o que fazer. Ela era desconcertante, além de muito atraente. Talvez o melhor a fazer fosse fazer o que ela queria para não levantar suspeitas.
- Onde você mora? – fez-se de rogado, elevando a sobrancelha esquerda.
Ela sorriu de um jeito cativante.
- Vai dizer que não sabe?
- Se mora onde eu acho que mora, você deve ter muitos “auxiliares” que podem ajudá-la no seu problema de falta de combustível.
Isabel encarou-o séria, deixando-o encabulado.
- Como é o seu nome? – perguntou abruptamente.
- Por que quer saber? – O instinto de defesa quanto a sua identidade falou mais alto.
- Já nos conhecemos há quase quatro semanas e ainda não sei o seu nome.
- Nos conhecemos?
- Ora, tenho-o cumprimentado diariamente neste período, apesar de você se fazer de sonso e olhar para o outro lado.
- Rafael. – acabou por dizer esboçando um meio sorriso. Ela era adorável, apesar de ser irmã de quem era. Saberia algo sobre o trabalho ilegal do irmão ou do pai?
- Muito prazer. Isabel – Surpreendeu-o sapecando-lhe um beijo na bochecha. – Vamos?
Enquanto Rafael Soza dirigia até o posto de combustível mais próximo, era atentamente observado por Isabel, coisa que começava a deixá-lo nervoso.
- Ficou algum resto do frango do meu almoço estampado na minha cara? – perguntou irritado, olhando-a de soslaio.
- Não. – ela respondeu rindo – Por que?
- Não gosto que fiquem me analisando enquanto eu dirijo.
- É que estou pensando o que leva uma pessoa a ter um trabalho como o seu.
- O que tem ele?
- Ora, ficar bisbilhotando a vida dos outros.
Sentiu que ela estava implicando com ele, provavelmente a procura da verdade, pois parecia inteligente o bastante para não cair na história de detetive inventada por ele.
- É um meio de ganhar a vida.
- Você já prendeu alguém? – Mais uma pergunta inesperada.
- Detetives particulares não prendem ninguém.
- Olha, Rafael... Você é uma gracinha, mas não precisa mentir para mim. Eu sei que você é da polícia e está rondando a minha casa por causa dos negócios de meu pai.
Ele quase freou o carro, mas conseguiu manter a calma aparente e entrar no posto de gasolina que surgira momentos antes. Estacionou e virou-se para Isabel.
- Você tem uma imaginação bem fértil, menina... – disse debochado. – Vou conseguir a sua gasolina e voltaremos para sua casa.
Ela o segurou pelo braço antes que ele saísse.
- Não me chame de menina. – A entonação de sua voz deixara de ser pueril e a expressão tornara-se mais dura – Eu não preciso de gasolina. Queria apenas falar com você e dizer que meu irmão não tem nada a ver com isso. São negócios do meu pai. Meu irmão é advogado e ganha sua vida honestamente. Diga aos seus superiores que prendam o velho. Ele deve estar chegando em breve. Aliás, vai ser um favor que vocês fazem a minha família prendendo aquele miserável.
Rafael comoveu-se com desespero evidente principalmente nas últimas palavras de Isabel. Por que a raiva contra o pai? Será que ela realmente acreditava que o irmão era inocente?
- Isabel, eu já disse que ...
- Eu sei o que você disse e não acreditei em uma só palavra. Também sei que o Bryan é um de vocês. Eu posso ajudá-los desde que não façam nada contra meu irmão.
Rafael ficou surpreso com a afirmativa sobre Bryan e admirou a perspicácia dela. Pensou um pouco. Uma ajuda de dentro, nesse caso seria muito bom. Contudo, até onde poderia confiar nessa garota? Ter uma quedinha por ela não era o suficiente para por em risco a missão. Olhou-a atentamente, como se fosse possível sondar sua mente e, só então, resolveu arriscar um pouco.
- Isabel, não sei exatamente a respeito de que você está falando, mas pelo que pude entender você entregaria seu pai à justiça desde que seu irmão fosse inocentado?Não que eu tenha algo a ver com essa história, mas fico curioso sobre os motivos que fazem uma filha odiar o próprio pai.
Isabel jogou a cabeça para trás, descansando-a no encosto de couro para a cabeça, fechou os olhos e soltou um suspiro tristonho.
- Eu entendo que você não queira abrir o jogo comigo, pois não pode confiar, pois sou filha do bandido... Mas vou lhe contar os meus motivos. Talvez isso o faça acreditar no que digo.

(continua...)
 
 

Gostaria de me desculpar por ter demorado tanto a escrever esse post, mas minha semana foi péssima. A inspiração para terminar de escrever esse capítulo e conseguir definir o enredo até o final (que eu ainda não tinha definido - coisas de novelista...rsrsrs) veio só na quarta-feira. Daí a escrever foi por pura falta de tempo e probleminhas como filhos resfriados, imposto de renda (que é claro, como a grande maioria dos brasileiros, deixamos para a última hora) e otras cositas más, como diria a Isabel.
Falando em Isabel, respondendo tardiamente à Nadja, que perguntou num comentário em 16 de Abril se o nome tinha a ver com a Isabel Allende, eu direi que sim. Pensei neste nome lembrando daquela grande figura.
ADOREI os comentários do XIº capítulo. Obrigada à Cris, Taty , Aline e Léia ( que sempre me deixam o astral nas nuvens com seus elogios), ao Luiz Fernando ( que não precisa agradecer pela propaganda mais que merecida de seu blog) e à Leitora (ou Brih), que aceitou tão simpaticamente o meme que lhe enviei.
São palavras como essas que me colocam para cima e me dão ânimo para continuar.
Sobre Pelo de Punta - confesso que quando comecei a escrevê-la imaginava uma história de ação e com muitas cenas hot entre a Júlia e o Bryan. Porém, como já falei antes,  algumas vezes o roteiro sai fora de controle e parece que os personagens tomam as rédeas da ação. É mais ou menos o que está acontecendo aqui. Espero que continuem acompanhando esse meu delírio em meio a agentes da CIA, policiais e contrabandistas, prometendo que não vou deixar o romance entre a Júlia e o Bryan morrer. Aliás, até estou pensando em colocar um segundo casal na jogada...rsrsrs... Mas só um pouquinho.
Antes que eu me esqueça, PARABÉNS PELO DIA DO TRABALHADOR!
Beijos a todos vocês que me acompanham, comentando ou simplesmente lendo minhas invenções.
Até mais!

7 comentários:

  1. Oiiii Rô!!!
    Estou empolgadíssima com o romance amiga, fico numa tensão quando Bryan e Júlia estão juntos nessa casa, parece que a qualquer momento vai entrar um bandido e flagrar os dois, mas não vejo a hora de eles se "entenderem", rsrsrs.
    Amei a homenagem à Isabel Allende, ela é mesmo uma grande mulher e a sua Isabel, assim como a homonageada, tem uma personalidde forte e é uma mulher destemida.
    Então quer dizer que os personagens estão pegando as rédeas? Acho que isso é típico dos grandes escritores.
    Por falar em grandes escritores, quando você pretende publicar outro livro? e qual será? Adoro todos os teus romances, mas tenho uma verdadeira paixão por "Um Amor no Deserto", suspiro só de lembrar, rsrsr.
    Beijos amiga e que a tua semana seja mais tranquila!

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  2. Nadja! Muito obrigada pelo comentário. Como sempre fico contentíssima em saber que as minhas aventuras estão agradando. Obrigada principalmente pelo "grandes escritores".Quem me dera...rsrsrs
    Quanto a próxima publicação, pode ter certeza que será "Um Amor no Deserto", pois tb é um dos meus preferidos. Só está faltando uma pequena revisão e resolver um problema com o meu Office que não está editando em PDF. Não sei o que houve. O meu computador já teve que ser formatado umas quatro vezes esse ano e a cada vez fica com um probleminha. É fogo.
    Agradeço pelos votos de uma semana mais tranquila. Tomara, pois nesta última quase entrei em surto.
    Beijos,querida!

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  3. Que felicidade!!!!!
    "Um Amor no Deserto" em livro!!!
    Vai vender muiiiiiitoooo.
    Beijos!

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  4. Olá! Rosane, estou achando ótima essa sua história. Nem precisa agradecer os cometários, sao frutos de verdadeira admiração e vc merece!
    Fico feliz em saber q vc vai publicar de novo. Uma pena minha total falta de grana, pois gostaria de comprar TODOS de uma só vez. Ainda nem pedi o meu da promoção para enviar para a CArla. E nem o dela, falando nisso... Como vc disse no meu blog, estou realmente precisando benzer... Ando louca de vontade de continuar e curiosidade sobre nosso bebê, mas com os problemas, tá difícil, né?! Bjão!

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  5. Oi Rô!
    Eu que tenho que agradecer, por sempre estar escrevendo essas histórias ótimas!!! Animou minha segunda. Claro que me deixou SUPER curiosa, ainda mais sobre esse novo casal que está aparecendo?, e em saber que teremos cenas hots! -rsrsrs adooroooooo.

    Eu estou muito aflita - é essa a palavra - para saber como eles vão fugir sem o Miguel ver e principalmente, como o Bryan vai conseguir acessar o cofre. Já que a Júlia saber onde fica o mesmo! rsrsrs

    Amando!!

    Bjos

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  6. Olá,
    Será que eu vou conseguir? rsrsrs
    Mas acho que não é pra tudo isso não
    Olha eu escrevo pensando nela mesmo, no dia a dia
    aí junto com uma música as coisas flui.
    Mas não sei como agradecer o seu prestígio...
    Sempre estarei tentando postar alguns poeminhas hehe

    Beijos

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  7. Rosane pode puxar minhas orelhas, peço desculpas pela domora de manifestar em seu Blog, pois assim como vc eu tb estava com probleminhas familiares.

    Mas agora sacudindo a poeira voltei contudo pra continuar navegando nas estórias mais envolventes que já li...

    Diga-se de passagem gosto da Isabel e quero um final lindo pra ela, caso ela ñ vire a casaca... kkk

    * * *Beijiskiss* * *

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Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!