quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Erik - Capítulo II



Este é Erik, protagonizado por Gerard Butler na versão cinematográfica de 2004




Na manhã seguinte, fui acordado por batidas fortes na porta, no andar debaixo.
- Abram, é a polícia!
Levantei-me da cama, com dificuldade, devido à dor, mas pude chegar até a porta do quarto, abrindo-a, para tentar escutar as vozes lá embaixo.
- Calma! O que está havendo? Porque a pressa?
Annie abriu a porta.
- Bom dia, madame. Fomos informados que um homem estranho, usando uma capa, foi visto andando por estas ruas. Pode ser um assassino. Estamos a sua procura. Deve ter ouvido falar do incêndio na Ópera, há duas noites, não?
- Sinto muito, mas não posso ajudá-lo. Não vi ninguém com esta descrição.
- Tem certeza?
- Claro! Se souber de alguma coisa, avisarei.
Fechou a porta. Respirou fundo, com olhar preocupado.
- Eu falei, mamãe. Vamos ter problemas.
Ela tinha razão. Se eu continuasse ali, elas poderiam ser intimadas e presas por cumplicidade. Precisava deixá-las. Não podia lhes causar mais este sofrimento.
Annie abriu a porta e surpreendeu-se ao me ver em pé.
- O que você está fazendo aí? Não pode levantar-se.
- Vou embora esta noite. Precisam conseguir-me roupas e algum disfarce para o meu rosto.
- Mas, você não pode sair. Você vai acabar sangrando até morrer, se não cuidar.
- Vocês estão correndo perigo enquanto eu estiver aqui.
- Está bem. Vou ver o que posso arranjar.
- Obrigado, Annie. É o melhor para todos nós. Você sabe disto...
A noite chegou. Um chapéu de abas largas e uma venda preta sobre o olho direito serviram para disfarçar minha face desfigurada. Annie conseguira retirar meu dinheiro do banco, guardado em seu nome, a meu pedido. Era uma quantia razoável, produto do salário pago, por anos a fio, pelos administradores da Ópera. Com ele poderia iniciar algum negócio, em outro país. Resolvi guardar a maior parte dentro de minhas botas e numa faixa usada junto ao corpo. Mais tarde, veria que tinha sido uma sábia decisão.
- Boa sorte, Erik! Deus o proteja. Aqui estão alguns mantimentos para a sua viagem – falou, entregando-me uma bolsa de couro.
- Obrigado, Madame Giry. Nunca vou esquecer o que você fez por mim.
- Por favor, assim que possível, escreva e mande notícias.
- Adeus.
- Adeus, Erik – e abraçou-me, como a um irmão.
- Erik... – falou Meg. - Eu peço desculpas pelo meu comportamento nestes últimos dias. Desejo que você seja feliz. Tenho uma coisa para lhe dar, que achei nos seus aposentos durante a confusão daquela noite – dizendo isto, alcançou-me a minha máscara que cobria a metade de meu rosto desfigurado.
- Eu não a culpo pelos seus pensamentos, Meg. Você tem toda a razão em ter medo. E obrigado por recuperar o meu “rosto”. Adeus.
Saí pela porta dos fundos. Já era madrugada. Só os bêbados e as poucas prostitutas que ainda não haviam conseguido completar a féria da noite, ainda perambulavam pelas ruas. A dor na ferida já recomeçara. Não podia arriscar-me a pegar um coche.
Tinha de seguir para o Norte. Calais? Não, muito movimentado. Talvez Boulougne fosse melhor.
Estava próximo ao mercado, que já começava a movimentar-se com a chegada das mercadorias, vindas em carroças, das pequenas propriedades da periferia da cidade. Se eu conseguisse pegar um daqueles cavalos. Um pequeno furto não mancharia muito mais a minha ficha policial.
Aproximei-me, cuidadosamente, ainda coberto pela escuridão da noite, do bebedouro público onde os cavalos saciavam sua sede. Consegui desatrelar um deles e silenciosamente afastei-me do local sem ser percebido. Quando o dono deu-se conta, já era tarde demais. Já cavalgava livremente pela estrada, rumo a Beauvais. De lá seguiria para Boulougne. Apesar da dor, não podia arriscar-me a parar para descansar. Eram cerca de 250 km a percorrer a cavalo. Não seria fácil, considerando meu ferimento. Contudo, cheguei a Beauvais no início da tarde.
Apesar do bom trabalho de Annie, o esforço de cavalgar era grande e uma pequena hemorragia insistia em voltar. Coloquei minha capa por cima do corpo, para esconder o sangramento. Logo na entrada da cidade, encontrei uma velha taverna, onde pude beber um copo de vinho, com pão e queijo. Sentindo-me observado pelos poucos freqüentadores do lugar, tentei não lhes dar atenção. O taverneiro não resistiu à curiosidade e perguntou:
- Foi ferimento na guerra?
Percebi que esta seria uma bela desculpa para aquela deformidade.
- Sim. Lembrança de uma batalha.
Iniciamos uma conversa muito animada, principalmente por parte de meu interlocutor, que viu em mim um companheiro de lutas. Passou a contar das batalhas que participara. Minha sorte foi que ele gostava mais de falar do que de ouvir. Quando terminou seu monólogo, pude pagar e despedir-me. Já não via desconfiança ou horror nos rostos a meu redor. Sentiam admiração e pena pelo herói que supunham eu ser.
A partir daí, decidi não fazer mais paradas nas localidades por onde passasse. Poderia ser reconhecido. Não tinha idéia de como estava a caçada ao Fantasma. Havia visto alguns policiais andando pela cidade, sendo que um deles ficou olhando-me suspeitamente. Provavelmente, devido ao meu aspecto e por curiosidade em relação ao meu “ferimento” no rosto, mas eu não podia arriscar. Resolvi manter a venda preta e não minha antiga máscara, para não chamar mais a atenção.
Foram três dias de longo e cansativo trote, tentando evitar as estradas principais, com a dor nas costas a me infernizar. Noites mal dormidas em meio ao mato, alimentando-me com o pão, a geléia de maçã e alguns biscoitos que Madame Giry colocara na bolsa de couro. A água, para saciar a sede, vinha dos córregos por onde passava. Estava exausto, sentindo-me fraco e febril. Precisava de um banho. Precisava trocar os curativos.
Finalmente, ao final do terceiro dia, as poucas luzes de Boulogne surgiram no horizonte, misturando-se ao lusco-fusco do anoitecer.
Podia sentir o cheiro de peixe em minhas narinas. Se pudesse achar um lugar para repousar à noite. Poucas luzes acesas. Consegui encontrar uma pequena pousada próxima à praia. Ao entrar, mais uma vez o olhar desconfiado do caseiro. Em tom de gracejo, comentei sobre o presente de Napoleão III em meu rosto. Fiquei impressionado com a simpatia que veio substituir a expressão de horror que havia segundos antes. Passei a surpreender-me com a maneira como as portas se abriam diante deste argumento.
Consegui um modesto quarto, mas com uma cama limpa e uma bacia com água para a higiene. Claro, que tinha um preço alto, além do cavalo que ficaria para completar o pagamento. Mas, considerando o cansaço e as dores que sentia, foi bem pago. Tentei cuidar de meu curativo da melhor maneira possível, mas, pela localização, tive dificuldades em fazer uma limpeza adequada. Como já não estava sangrando, apenas lavei-o como pude. No dia seguinte, colocaria uma camisa limpa. Não consegui dormir direito. Sentia a ferida latejante. Certamente estava infectada. Mantinha-me em estado de alerta constantemente pelo medo de ser descoberto e ter meus planos jogados por terra.
Tão logo amanheceu, levantei-me e desci para comer alguma coisa e procurar uma embarcação que me levasse para Dover. Se não estivesse ferido, eu mesmo poderia remar e atravessar La Manche. Porém, no estado em que me encontrava, seria assinar o meu óbito em meio às ondas do mar.
Conversando com o dono da pousada, consegui descobrir que seu irmão estava saindo dentro de uma hora, com seu barco a vapor, para atravessar o canal, levando algumas mercadorias para o território inglês. Como as coisas funcionavam a contento quando havia dinheiro para gastar... Esta seria a minha orientação a partir de então. Ganhar dinheiro. Todas as barreiras eram superadas na presença de algumas moedas. Não havia preconceito ou dificuldades.
Após um brevíssimo“petit déjeuner”, fui apresentado a Jean, irmão de meu hospedeiro. Era um homem de meia idade, forte, queimado pelo sol, de poucas palavras, diferente do seu consangüíneo. Pareceu-me meio desconfiado.
- Espero que você seja discreto a respeito deste nosso “passeio”.
- O mesmo espero de você. Portanto, não teremos problemas.
Após este breve entendimento, partimos mar adentro. Pude entender que o seu carregamento era ilegal e que não passaria por tarifa alfandegária. Isto ficou mais claro, quando, ao chegarmos ao outro lado do canal, o barco aproximou-se de uma praia deserta, onde dois homens aguardavam, para descarregar a mercadoria, num pequeno barco a remo, que logo alcançou-nos. Após uma breve apresentação, fui levado com a primeira série de caixotes.



Espero que quem ainda não conhecia esta estória, deixe o seu parecer a respeito dela e comente ou deixe seu recado. Não canso de repetir que este retorno de vocês é muito gratificante e pode me ajudar a melhorar os meus textos. Beijos!

PS: Pretendo postar um capítulo por dia para que vocês possam ir "degustando" aos poucos...

Um comentário:

  1. Euzinha de novo!!!
    Amei!!! VC é uma excelente escritora amiga, e olha que quem te fala não é uma escritora, mas tem mania de escritora... já escrevi alguns livros, que engavatei!!! na época não havia internet, nem blogs maravilhosos, que nos dão espaços para nossos talentos imbutidos. Vou acompanhar querida, adoro seu francês, me faz voltar aos tempos de meu mestre: Sidney Sheldon. Adoro Paris, que só conheço através de livros. Mas, como podemos tudo em nossa mente... Ah! Esse Anjo da Música (prefiro Anjo que Fantasma), mas não dispensaria "esse" Fantasma!!! Prende em muitooo minha atenção. Bye! Até o próximo capítulo.

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