domingo, 7 de junho de 2009

VOLTEI!!

Não pensem que esqueci deste blog. Não. Jamais! Posso demorar um pouquinho a postar, mas, como já disse antes, mulher que trabalha fora, tem marido e filhos pequenos ou "aborrecentes" como eu, encontra uma certa dificuldade em manter uma vida paralela como aspirante a escritora. A gente faz o que dá. Mas, hoje pretendo colocar aqui a primeira parte de um novo conto. Inédito para quem já está cansada de reler minhas estórias antigas. Não vou me prolongar muito mais. Este romance foi inspirado no sonho de uma grande amiga portuguesa, que o contou e o colocou à disposição de quem estivesse interessada em torná-lo uma estória mais longa e substanciosa. Assim, a amiga aqui o fêz. Espero que ela e tooooodos os leitores deste blog apreciem.



A Camareira

“Como esta gente é desleixada... Só porque estão num hotel deixam tudo jogado no chão. Até lixo! Será que em casa também fazem isso? Fazem a maior bagunça e a gente tem que penar para limpar tudo. Que horror! Ainda bem que é um emprego provisório e de meio turno. Não posso reclamar. Este dinheiro veio bem a calhar...”
E assim, perdida em seus pensamentos, Carolina terminava a limpeza da suíte 505 daquele famoso hotel em Paris.
Ela saíra de Lisboa há cerca de um mês, apenas com uma mochila, poucas roupas e muitos sonhos, para tentar aproveitar ao máximo suas férias e o curso de pintura no qual conseguira uma vaga na capital francesa. Como o dinheiro que economizara para este fim acabara o jeito foi conseguir este emprego provisório como camareira. O curso já estava pago, pois fora financiado por seu pai, que era seu maior incentivador. Mas precisava comprar material para realizar o seu trabalho e... comer. Estava quase acabando sua faculdade de Artes Plásticas em Lisboa e já pensava em conseguir um patrocínio para uma exposição de seus quadros. O curso em Paris estava sendo muito interessante, pois modificara algumas noções que ela tinha de traços e cores. Ansiava por sua independência financeira. Esta experiência longe das asas de seu pai estava sendo extremamente gratificante... Tirando a parte ruim de seu atual emprego.
- Uggghh ! – exclamou ao entrar no banheiro da suíte.
Nesta época do ano, estavam acontecendo alguns eventos na cidade. Entre eles, uma fashion week. Por isso conseguira mais fácil este trabalho. Com os hotéis lotados, a necessidade de mão - de - obra aumentava. Daí a facilidade para conseguir o seu ganha-pão interino. O salário não era nenhuma maravilha, mas ela não era uma pessoa de grandes gastos.
Naquele dia, saía cansada de sua manhã de trabalho, quando notou a movimentação de fotógrafos e jornalistas diante da entrada principal do Ritz, na Place Vendôme.
Uma limousine preta estava estacionando diante do hotel. Dela, saiu um homem alto, de porte atlético, cabelos curtos e desgrenhados, ligeiramente grisalhos, de óculos escuros, trajando jeans e uma camiseta verde clara. Ele parecia estar meio mal-humorado. Talvez fosse apenas impressão, por não poder ver seus olhos. Quem seria ele? Algum ator ou cantor famoso, para chamar tanto a atenção da mídia e fazer aquele estardalhaço todo.
Carolina seguiu seu caminho na direção de seu apartamento, emprestado por uma amiga designer que estava de férias no Brasil. Lá trocaria de roupa e sairia para passear por Paris. Logo esqueceu o ocorrido diante do hotel e distraiu-se a pensar se encontraria facilmente a tal livraria na Île de St. Louis que lhe indicaram e onde esperava encontrar algum livro de arte interessante. Fora isso, queria explorar a cidade à procura de lugares para pintar.

Na manhã seguinte, de volta ao trabalho remunerado, verificou que o gerente já distribuíra as tarefas entre as funcionárias. Pegou as chaves dos apartamentos para os quais fora designada e foi para o elevador de serviço. Vários já estavam vazios, na maioria de hóspedes que haviam partido na madrugada. De qualquer maneira, sempre tinha o cuidado de verificar se o apartamento estava aberto ou com o aviso pendurado na maçaneta da porta, solicitando a limpeza.
Na suíte 602 nada havia indicando a presença de hóspedes em seu interior, por isso abriu a porta e foi entrando. Abriu as cortinas e começou a arrumar a cama. Respirou aliviada por ter finalmente encontrado um hóspede menos bagunceiro. Foi quando ouviu um ruído na porta do banheiro, que se abriu repentinamente, assustando-a. Carolina virou-se, já temendo a reação do hóspede. Foi então que viu uma escultura viva de Michelangelo saindo do banheiro. Ele estava enrolado numa das toalhas brancas do hotel, amarrada à cintura, com o corpo e os cabelos ainda úmidos. Sentiu os olhos verdes faiscando de raiva ao vê-la de pé no meio do quarto.
- O que você está fazendo aqui? Quem lhe deu permissão para entrar?
- Desculpe senhor, mas a porta não estava trancada e o aviso de “Não perturbe” não havia sido pendurado. Por isso pensei...
- Você deveria ter mais cuidado!
- Perdão... Voltarei mais tarde... – disse com o olhar voltado para o chão, com vontade de chorar, tal a humilhação que estava sentindo.
Ele pareceu perceber o mal estar causado por sua grosseria e falou, em tom de desculpas:
- Desculpe a mim. Realmente eu deveria ter colocado o aviso ou trancado a porta... Por favor, volte mais tarde. Tenho um compromisso dentro de uma hora. Devo sair logo.
- Não tem nada a desculpar. Serei mais cuidadosa na próxima vez. A culpa foi minha. Volto depois – respondeu encabulada com a situação.
Começou a recolher seu material de limpeza, enquanto ele continuava parado na porta do banheiro, exalando um cheiro delicioso. Passou por ele, sentindo que ele não despregava os olhos dela, mantendo o olhar sisudo. Isso a fez sentir-se ainda pior com o que havia ocorrido. Provavelmente seria despedida no dia seguinte.
Passado o incidente, pensou que até que seria interessante ter um corpo daqueles como modelo para um belo nu artístico...Ou para mais algumas coisas... “Só eu mesma para ficar pensando estas coisas do cara que vai me fazer perder o emprego...”, pensou rindo de si mesma. Mais tarde ficou sabendo que o homem era um ator nglês, fazendo carreira nos Estados Unidos e com milhares de fãs no mundo inteiro. Tentou não pensar mais no assunto. Sempre havia a alternativa de trabalhar nas ruas fazendo retratos dos turistas. Tinha muitos colegas que sobreviviam assim. Resolveu voltar o pensamento para o compromisso que teria à tarde, na Fashion Week. Conseguira um convite para assistir a alguns dos desfiles com sua amiga, dona do apartamento em que estava. Naquele início de tarde teria a apresentação da Versace. Não era bem a sua área de interesse, mas achou que seria curioso sentir o clima num evento daqueles em Paris, o reino da alta costura. Provavelmente veria muita gente diferente, interessante ou esquisita. Tentou vestir-se o mais fashion possível, com as poucas roupas que levara em sua mochila. Não conseguiu. Chegara a pensar em comprar alguma coisa nova, mas não queria ter mais este gasto. Apesar de seus protestos, a amiga deixara seu guarda roupa à disposição. Como elas vestiam o mesmo número, acabou por escolher uma calça preta “cigarrete” e uma blusa de seda branca com finas listras vermelhas verticais. Um colar de pedras pretas, com brincos combinando e sapatos Prada vermelhos. Soltou os cabelos que costumava trazer presos sob a touca de seu uniforme no hotel. Olhando-se no espelho, realmente não lembrava nem de longe a pobre camareira de algumas horas antes.
Ao chegar, sentou em seu lugar reservado na segunda fila à direita da passarela. Foi quando viu a editora da Vogue americana chegar, acompanhada por ninguém menos que o famoso ator inglês, Gerard King, com quem se indispusera pela manhã. Quando seus olhares se cruzaram, ele correspondeu com o sorriso mais charmoso do mundo, fazendo-a arrepiar-se. Porém, ela ficou com a impressão de que ele não a reconhecera. Durante toda a atividade, notou que ele volta e meia lhe lançava olhares cheios de curiosidade, como se buscasse na memória de onde a conhecia.
O desfile foi um sucesso. Ao final, Carolina levantou-se e, já estava encaminhando-se para a saída, quando sentiu uma mão forte segurando-lhe o braço, e uma voz rouca e sensual, muito próxima ao seu ouvido, a dizer-lhe:
- Espere um pouco. Quero conversar com você.
- Como? – ela perguntou aparvalhada.
- Por favor... Eu tenho certeza que a conheço de algum lugar, mas não consigo lembrar-me de onde.
- Esta é uma cantada muito antiga, meu caro – disse ela, rindo internamente, tentando esgueirar-se dele. Seria possível que ele não a tivesse reconhecido?
- Não, não é cantada. É sério. Por favor, vamos tomar um café juntos. Você tem tempo? – seu olhar era quase de súplica.
- Na verdade tenho um compromisso dentro de uma hora, mas ... Está bem, aceito o convite para o café – disse, tentando fazer-se de difícil.
- Ótimo... Ah! Deixe-me apresentar-me. Meu nome é Gerard, mas pode me chamar de Gerry. E o seu é...?
- Carolina, mas pode me chamar de Carol – respondeu sorridente.
Ele não pode deixar de rir da imitação que ela fizera dele.
- Então venha, Carol. Venha para refrescar minha memória – disse, pegando-a delicadamente pelo braço e conduzindo-a para fora do salão de desfiles – Tem uma cafeteria fora de série aqui perto.
- Vamos lá! Você tem certeza que não sabe de onde me conhece?
- Você sabe?
- Faço alguma idéia... – disse tentando segurar o riso. Talvez pudesse salvar seu emprego.
Atravessaram uma multidão de gente, alguns muito bem vestidos e outros, pretensamente fashions, mas ridiculamente adornados.
Finalmente sentaram-se numa das mesas ao ar livre do “Deux Margots”, fizeram seus pedidos e olharam-se.
- Tenho a sensação de que você está brincando comigo – falou ele, meio desconfiado da expressão de galhofa estampada no rosto de Carolina.
- É que sempre me surpreendo ao ver como as pessoas que nos prestam serviços são tratadas. Principalmente aquelas que vestem um uniforme. Parece que elas foram produzidas em série só para servir aos seus “patrões”. Nem olhamos para os seus rostos. Acho isto muito triste.
- Do que você está falando?
- De você, de meu pai, de mim mesma, enfim. Nós não olhamos realmente para um empregado ou serviçal. Não importa se a pessoa tem sentimentos, família ou um rosto. Não o culpo, não. É assim que é. Só agora vejo isto e sinto na própria pele.
- De que, diabos, está falando? – disse exasperado.
Foi então que Carolina levantou os cabelos atrás da cabeça e disse, olhando para baixo:
- “Desculpe, senhor, mas a porta não estava trancada...”
O rosto dele anuviou-se.
- Você é... Não acredito... Você é a camareira de hoje de manhã?? – ele não podia acreditar que Carolina e a camareira fossem a mesma pessoa.
- Pois é... A vida tem destas coisas.
- Mas como é possível? Como você está neste desfile, vestida assim? Você pegou “emprestado” de alguém? – perguntou em voz baixa, olhando para os lados.
- Realmente, é mais fácil pensar que eu roubei alguma hóspede do que pensar que eu possa estar apenas fazendo uma pesquisa sobre comportamento humano, ou quem sabe tentando sobreviver fora do jugo financeiro familiar? – ela não conseguia esconder sua indignação com a pretensa acusação dele.
- E em qual destes modelos você se encaixa? – perguntou, começando a se interessar por aquela jovem linda e determinada, que tentava lhe dar uma lição.
- Não sei se vale a pena lhe contar – respondeu, encarando-o desafiadoramente.
Ele sorriu e resolveu aceitar a provocação.
- Quem me garante que você não está tentando me intimidar para evitar que eu fale com o seu gerente e descubra que você cometeu algum deslize?
- Você tem toda a liberdade para fazer o que quiser – agora ela estava realmente furiosa.
Ele a olhava intensamente, cada vez mais admirado com o jeito provocativo da garota. Então, resolveu acabar com aquela arrogância toda.
- Olha, vamos parar com isto. Que tal você me dizer quem é e começarmos a conversar direito?
- Quem começou isto foi você, quando me convidou para tomar um café.
- Você é sempre assim? Ou está se fazendo prá cima de mim? Eu a convidei porque a achei uma mulher interessante, que eu achava já ter visto em algum lugar e quis ser gentil. Só isso. Não esperava ter que receber lições de moral de uma camareira.
- Viu o seu preconceito? Viu?
Gerard teve vontade de levantar-se e deixar Carolina falando sozinha, mas algo mais forte o impediu, forçando-o a respirar fundo e suplicar:
- Olhe, aqui entre nós... Eu adoro todas as camareiras de hotéis. Na verdade eu a reconheci de cara e... Quanto ao café? Era uma cantada sim. Adoro transar com camareiras. Está satisfeita? – falou rispidamente, ficando com expressão bastante séria ao terminar a frase, olhando-a fixamente.
Após quase um minuto interminável de olhares circunspectos de ambas as partes, os risos explodiram sobre a mesa, chamando a atenção dos fregueses a sua volta.
- Desculpe... Eu às vezes encarno a antiburguesa, defensora dos fracos e oprimidos, e me deixo levar muito longe na indignação – Conseguiu dizer quando começou a diminuir a vontade de rir.
- Eu só acho que você está sendo muito dura comigo. Coloque-se no meu lugar, mal tendo acordado, saindo do banho, só enrolado numa toalha e dar de cara com uma estranha mexendo em minhas coisas. Eu também fui surpreendido.
- Já pedi desculpas...Você tem razão ...
- Que tal se começarmos tudo de novo? – pediu ele, humildemente.
- Desde “o meu nome é Gerard, mas pode me chamar de Gerry”? – ela sorriu.
- Acho que podemos pular esta fase de apresentações – disse retribuindo o sorriso.
- Bom... – ela olhou o relógio de pulso, espantando-se com a hora – Infelizmente vou ter de ir embora. Tenho uma aula agora e já estou ficando atrasada. Acho que vamos ter de deixar esta conversa para outra hora.
Deu mais uma bebericada em sua taça de café e foi pegando sua bolsa para sair.
- Não... Espere! Vamos combinar um novo encontro, então.
- Você já sabe onde eu trabalho. Procure-me se realmente quiser continuar esta conversa – olhou-o com doçura e continuou – Eu confesso que não ficaria chateada de encontrá-lo novamente.
Deixou-o sem ação, com um sorriso amarelo nos lábios, enquanto a via sumir no movimento da rua. Que tipo de garota era aquela, que trabalhava como camareira pela manhã, à tarde estava vestida com roupas de grife e tinha aulas no final da tarde? E ainda por cima era linda...


Gostaram deste início? Desta vez vou deixar vocês na curiosidade e postar um pouco mais amanhã. Quem sabe se como uma novela, não aumento a minha audiência? Hihihi!
Por favor, comentem. Estimulem a sua amiga aqui a continuar... ou não, com este blog.
Beijos!

10 comentários:

  1. Já estou adorando a nova história, Rô!
    Eu quero mais! Eu quero mais! Eu quero mais!
    Você está proibida de parar e de me matar de curiosidade!
    Um xêro♥

    ResponderExcluir
  2. Se eu gostei? Amiga, é impossível não amar... Se o começo já tem essa mistura de curiosidade, instigação, olhares, ousadia... ai... ai... imagina aonde vai dar tudo isso!!! E quando vc falou na "escultura viva de Michelangelo"... me faltou o ar...
    Estou empolgadíssima para ler todos os meandros desse conto. Não tarde a nos revelar...
    Parabéns, Rô, seu talento é magistral!!!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  3. Gostei gostei!! :) Beijos!

    ResponderExcluir
  4. Ly, Lucy e Nequi! Adoro vocês! Muito obrigada pelos comentários positivos e carinhosos. É muito bom saber que tenho amigas maravilhosas como vocês me apoiando. Beijos!!

    ResponderExcluir
  5. Nossa, que delícia de história amiga!!!
    Aliás, amo seus contos!!! Todos me fazem sonhar muuuuuuuuuuito!!!
    Me sinto a própria personagem!!!
    Estou curiosíssima pela continuação, não nos deixe na mão, escreva logo viu?!!
    Não vejo a hora de ler mais...

    Bjos, até a próxima parte!!!

    ResponderExcluir
  6. Este teu blog está lindo, desde as cores que escolheu, a diagramação e principalmente o conteúdo, suas estórias são muito bem escritas e têm um enredo que prende a nossa atenção.
    Não pare!
    Beijo e agora vou ler o segundo capítulo que já vi foi postado.

    ResponderExcluir
  7. Carel disse:
    Ro, pra variar TO A D O R A N D O !!!!!

    ResponderExcluir
  8. Cléo, Helena e Carel! Obrigada a vocês por me prestigiarem, bem como às outras meninas. Adoro todas vocês, que me acompanham e torcem por mim. Beijos!

    ResponderExcluir
  9. Ai que delícia Ro!
    Desculpe a demora, mas só agora consegui sentar o furico e me deliciar com este texto show. Que graça! Ai! Quero ser a Carol!
    Esta noite dormirei bem melhor! uiui

    ResponderExcluir
  10. Só elogios né miga, e claro mais uma citação q ñ pode passar em branco...
    A escultura viva de Mickelangelo saindo do banho...rss
    Desse jeito vou me perder nos pensamentos e punida pela igreja...rss!
    Bjkas

    ResponderExcluir

Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!