terça-feira, 30 de junho de 2009

Um Amor no Deserto

Como tinha prometido, hoje começarei a postar a primeira parte do meu novo romance. Ele tem seu iníco em meio ao Rally Paris-Dakar de 1986. Para que vocês tenham uma idéia do que é esta grande competição, deixo um vídeo contendo imagens impressionantes do que os competidores vivenciaram, no período entre 1979 e 2003. Depois disso, vocês poderão ambientar-se melhor com o local onde se passa a corrida e as dificuldades de nossa heroína. Espero colocar mais um vídeo que ilustre o local e as pessoas que figuram este meu novo sonho.




UM AMOR NO DESERTO




Capítulo I

Final do ano de 1985.
Os corredores das várias categorias e de diversos países preparavam-se para enfrentar mais um desafio no Rally Paris-Dakar. A largada seria em Versalhes. O roteiro seria através da França, passando pela Argélia, Niger, Mali, Guiné, Mauritânia e, finalmente, Senegal, num total de 15000 quilômetros. Calculava-se em torno de 20 a 23 dias para a chegada em Dakar. Uma aventura e tanto para qualquer um, principalmente pela perspectiva de atravessar uma área desértica extensa na região de Mali. Amy McGarvey seria uma das primeiras mulheres a pilotar uma moto naquele acontecimento. Na sua categoria eram 131 motos inscritas.
Amy sempre tivera espírito aventureiro, provavelmente influenciado por seu pai que fora piloto de provas na Inglaterra. Jack McGarvey era movido pela adrenalina das corridas. Perdera sua vida nas pistas em Silverstone, em 1972, numa corrida de Fórmula Um, onde um brasileiro de nome Emerson Fittipaldi vencera pela primeira vez. Amy tinha, então, 12 anos e sua irmã mais velha, Chloe, estava com 16 anos. Desde cedo, Amy já apresentava as mesmas paixões de seu pai. Porém, após sua morte, tornou-se um pouco mais contida. Por incentivo de sua mãe e irmã acabou por fazer a faculdade de jornalismo. Não deixara de visitar as pistas durante os campeonatos e, logo que teve idade suficiente, passou a correr em campeonatos locais, sem grandes pretensões a ser campeã. Corria apenas pelo prazer. Também tinha feito sua escolha pelas motocicletas ao invés de carros. Achava mais prático em termos de manutenção. Adorava viajar e conhecer locais exóticos em suas férias. Com apenas 27 anos já fora à Índia, Marrocos, Turquia e China. Formara-se em jornalismo e conseguira um ótimo emprego no British News, devido a uma indicação de um dos amigos de seu pai e por seu próprio mérito, pois sempre fora uma estudante dedicada e ativa. Tinha uma coluna semanal no setor esportivo do jornal e fazia matérias sobre o assunto, onde quer que seu editor a mandasse. Aquela corrida tinha sido ideia sua. O editor, Jason Burke, adorara quando ela se ofereceu para participar do rally e escrever uma espécie de diário sobre suas aventuras no Paris-Dakar, que seria publicado após o término da competição. Seria uma matéria inédita. Uma jovem, sozinha em sua moto, desafiando os perigos da mais famosa competição do mundo.
Jason era um dos mais jovens editores de um jornal no Reino Unido. Além de ser conhecido como um jornalista arrojado e perspicaz, também tinha fama de grande conquistador. Aos 35 anos, divorciado, sem filhos e boa aparência, era considerado um ótimo partido entre as mulheres em geral. Tinha uma grande admiração por Amy e suas idéias inovadoras bem como pelo fato de ela ainda não ter caído de amores por ele.
Margareth, a mãe, e Chloe, que também era jornalista, fizeram de tudo para demovê-la daquela ideia absurda, mas Amy dizia que não havia perigo, pois ela não ia para competir, apenas participar e fazer um relato jornalístico original. Além do mais, a prova era dividida em etapas. O maior percurso sem encontrar um posto de abastecimento e descanso era de 600 quilômetros, na Mauritânia. Além do mais, helicópteros faziam o acompanhamento dos participantes durante todas as etapas. Ela tinha feito vários cursos de mecânica e estava preparada para eventuais falhas da moto.
Assim sendo, Chloe, que conhecia Thierry Sabine, o idealizador da prova, pediu a ele para participar como repórter na divulgação do evento. Acertou tudo com a revista para a qual trabalhava e partiu para a França junto com a irmã.

Finalmente o grande dia chegara. Todos os competidores aguardavam animadamente a ordem de largada. Os primeiros a sair eram os motociclistas, seguidos pelos carros e caminhões. Era o dia 1º de Janeiro de 1986.
Em meio a explosões de fogos de artifício, gritos e bandeiras coloridas tremulando no ar, os corredores deram início ao rally, dentre as colossais edificações de Versalhes.

Apesar de alguns sustos e algumas desistências durante a corrida, Amy continuava firme, num ritmo um pouco mais lento, mas sempre próxima aos demais participantes. As paradas regulares permitiam que ela revisasse a parte mecânica de sua motocicleta e recuperasse o sono perdido durante os longos percursos. Eram os momentos em que se encontrava com Chloe, que já estava plenamente entrosada com os organizadores e concordando que Amy tinha tido uma grande ideia. Havia levado um gravador para registrar suas impressões. No final de cada etapa, entregava as fitas a Chloe, para que ela as guardasse até poder entregá-las a Jason em Londres, para a publicação. Tinha medo de extraviar o material durante a viagem de moto.

Naquele dia, o 11º do rally, iniciaria a fase no deserto de Niger a Mali. Era considerado perigoso principalmente pelas tempestades de areia que costumavam surgir repentinamente, além das dificuldades inerentes às condições do solo para os veículos rodarem. Vários acidentes graves já tinham ocorrido antes. Velocidade e areia pareciam não combinar muito. Fora exatamente um incidente ocorrido no deserto da Líbia, durante uma prova de moto do Rally Abidjan-Nice, que fizera Thierry Sabine criar o Paris-Dakar. Desaparecido durante o percurso por vários dias e praticamente dado como morto, resgatado por uma aeronave, ao invés de desistir destas loucuras, ficou mais apaixonado com a experiência.
Ao despedir-se da irmã, Chloe disse que ia segui-la à distância no helicóptero de Thierry. Estava temerosa pela irmã caçula nesta fase.
Ainda era madrugada quando Amy reiniciou a prova, atrás de alguns retardatários, que logo se distanciaram dela. Havia algumas marcações e a bússola que a ajudava a manter a rota a seguir.

Já havia se passado cerca de seis horas desde sua saída do acampamento improvisado, sendo que há duas estava em plena área desértica. Àquela altura não via mais ninguém por perto. Apenas as dunas escaldantes eram sua companhia. Foi quando a moto, logo após passar uma pequena elevação, atolou. Amy tentou de todas as maneiras livrar a roda traseira das areias frouxas e quentes, mas não teve força suficiente para fazê-lo. Olhou para o horizonte, à sua frente e atrás, sem conseguir enxergar um camelo sequer ou sinal de vegetação ou construções. Tomou um gole de água da garrafa que trazia em sua pequena mochila às costas e decidiu que tentaria ir a pé até algum povoado para pedir ajuda com a moto, para que ela pudesse retornar à corrida. Não costumava desistir fácil de suas empreitadas. Seguindo a direção sul, sabia que tinha um posto avançado da corrida próximo à fronteira de Niger com Mali. Resoluta, começou sua caminhada. Seu relógio marcava quase uma hora da tarde.
Depois de quatro horas de caminhada, já sem água, exaurida pelo esforço físico de andar sobre o terreno arenoso e sem avistar ninguém, resolveu descansar um pouco. Não havia como abrigar-se do sol. Sua garganta queimava. Sentia-se seca por dentro e por fora. Fora obrigada a tirar seu capacete, pois este se tornara insuportável, bem como seu macacão de piloto, devido ao calor. Mesmo com todo o protetor solar que levara e já utilizara nas áreas expostas, sua pele parecia arder. Deitada no meio do nada, já pensava se este seria o seu fim... Torrada viva. Pelo menos já podia ver a manchete do British News, na primeira página:
“Jornalista maluca morre seca no deserto” ou “Amy, a doida, encontra seu fim nas areias escaldantes do Sahara” ou...
Com estes pensamentos desvairados, Amy perdeu a consciência.


Continua amanhã...
Beijos!



2 comentários:

  1. Adrenalina total...amo aventuras radicais, já tinha ouvido falar desse Rally, mas ñ tinha conheciemento.
    Vou encerrar resumindo á fórmula do sucesso desse blog. Bjkas

    Gerry + Rosane + Romance + Sensações + Cultura + Gerryanas = Romances ao vento!

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  2. Eu já tinha lido histórias sobre esses rallys no deserto, os perigos que o norteiam, acho uma loucura tudo isso. Não entendo a adrenalina que move as pessoas a enfrentarem tais desafios, mas gosto não se discute. Ainda bem que não tenho conhecido algum que desfrute desse tipo de sonho, senão acho que teria que passar a vida rezando... é uma doideira! Sou muito medrosa e, com o passar dos anos, estou ficando mais medrosa ainda, se é que isso é possível. Esse vídeo é impressionante, demonstra o fascínio e as ameaças desse estilo de vida.
    Bom, pelo seu título – “Um amor no deserto” e pela demonstração desse rally no vídeo que vc adicionou, já vi que vou ficar com o meu estômago na boca... E a Amy é mesmo uma maluca, pobre da família dela, temer sofrer nova perda tão dolorida não é nada fácil. Já pensou, sozinha num sol desses, sem uma sombrinha pra se abrigar...cruzes!!!
    Estou ansiosa em desfrutar desse seu novo sonho que, certamente, permeará tb os meus sonhos...
    Beijinhos

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