- Parece que ela está bem... – disse Ed para Gerry, ao desligar o telefone.
A reunião já acabara. Deixaram o escritório de Alan, com a promessa de o atualizarem sobre os fatos em outra ocasião. Foram a uma Starbucks, próxima do escritório, para conversarem.
- Agora, por favor, me conte o que está acontecendo – pediu Gerry, ansioso.
- Olha, Gerry. Eu mal o conheço, a não ser por ter visto o seu último filme. Acho você um ótimo ator. Estou muito contente por estar trabalhando para sua produtora. Mas você deu um tremendo fora com a minha amiga, Sylvia.
- Edward, eu nem sei por onde começar. Não sei qual o seu grau de intimidade com Sylvia, mas...
- Sou íntimo o suficiente para saber de tudo que aconteceu entre vocês.
- Tudo?
- Quase tudo... A Sylvia é como uma irmã para mim. O que aconteceu foi que armaram para cima dela. Sem saber onde estava se metendo, foi parar naquela espelunca chamada “Lohan’s” e encontrou você. Te achou um cara legal. Talvez um pouco mais que isso. E pela primeira vez em muitos anos se desarmou e precipitou-se. Era o seu aniversário e você seria o presente dela. Acho que ela alimentou algumas fantasias a seu respeito, achando que aquilo que aconteceu tinha sido mais profundo do que era.
- E foi... – afirmou Gerry, num quase sussurro, tristonhamente – Era o aniversário dela?
- Sim. Se foi importante para você, porque deixou aquele bilhete e o cheque? Porque não tentou conhecê-la melhor?
- Fiquei com medo. Realmente pensei que ela estava agindo apenas “profissionalmente” e que riria na minha cara se eu tentasse conquistá-la de outra forma.
- Eu não devia lhe falar, mas eu o defendi perante ela. Você realmente não tinha como saber que ela estava lá naquele lugar por acaso e não caçando clientes. Você a impressionou muito, cara. Por isso a desilusão foi muito grande quando ela leu o seu bilhete e viu o seu cheque. Aliás, aqui entre nós... Você costuma pagar tudo aquilo por uma garota?
Ed resolveu calar-se ao ver o olhar recriminador de Gerry
- Está bem, desculpe por este último comentário.
- Eu preciso falar com ela e pedir desculpas.
- Acho que não vai ser possível. Pelo menos não nos próximos trinta dias.
- Por quê?
- Porque ela está saindo de férias hoje.
- Férias?
- Ela anda trabalhando muito. Combinamos que depois desta reunião de hoje ela sairia para descansar, depois de três anos de trabalho direto.
- E para onde ela vai?
- Na verdade... Eu não devia estar falando estas coisas com você. Ela vai me matar. E eu vou matar você se a fizer sofrer mais do que já fez, entendeu? – disse, surpreso com o próprio tom de voz usado para aquela ameaça.
- Por favor, fale. Eu juro que não vou magoá-la.
Depois de terminar de resolver alguns problemas surgidos no escritório, Edward ligou para Sylvia para saber como ela estava.
- Sylvia? Alô? Sou eu, Ed.
- Oi, Ed – respondeu ela, com voz entristecida.
- Você está bem?
- Agora estou melhor. Só ainda não resolvi onde vou montar o meu escritório de advocacia depois das férias.
- O quê? O que você está dizendo?
- Claro que depois de hoje, a minha fama em Los Angeles não vai ser das melhores.
- Como assim?
- Todos vão saber o que aconteceu no Lohan’s entre eu e o...
- Sylvia, minha amiga...Você está pior do que eu imaginava. Esta tarde sozinha com você mesma não lhe fez bem. O Gerry não vai contar para ninguém o que aconteceu. Aliás, ele não contou nem para o Alan. Ele é um gentleman. Não se preocupe.
- Tem certeza disso?
- Absoluta. Bem que eu gostaria de ir até aí para podermos conversar, mas combinei com minha mãe de visitá-la agora à noite e, obviamente, que isto inclui um jantar, que deve terminar tarde.
- Pode deixar, que as idéias suicidas já se foram.
- Sylvia!
- Estou brincando... - confortou-o, sem muita certeza do que estava dizendo.
- Pense que amanhã você vai estar longe de tudo isto. Vai divertir-se muito nestes próximos dias e voltar renovada.
- Tomara, Ed... Tomara.
- A que horas parte o seu vôo amanhã?
- Às 12 horas.
- Eu vou buscá-la em casa para levá-la ao Aeroporto. Daí poderemos conversar um pouco. Está bem?
- Está bem. E o trabalho?
- Ninguém vai morrer se eu não estiver por lá algumas poucas horas. A sanidade mental da minha sócia ainda é mais importante.
- Obrigada, Ed. Por isso é que te adoro.
- Bem, depois desta declaração vou ligar para mamãe e cancelar o nosso compromisso e vou correndo para a sua casa.
- Bobo. É sério. Eu estou bem. Só estava realmente preocupada com a possibilidade de a fofoca espalhar-se por aí. Se ele garantiu que não fará isso, fico mais tranqüila. Vá para o seu “encontro” sossegado.
- Então, até amanhã. Durma bem, querida.
- Até amanhã, Ed. Boa noite prá você também.
Desligou o telefone e voltou à posição em que estava na poltrona da sala. Conseguira manter-se ocupada boa parte da tarde com suas arrumações e montando a mala para sua viagem. Recebera a resposta de algumas das agencias de turismo, mas nada a agradara muito. Ainda faltavam dois ou três retornos. Sentara-se na sua poltrona predileta, com direito a vista dos morros que envolviam a cidade, pensando nele. Não conseguia evitar o desvio de seus pensamentos para aquele homem. Ele estava lindo hoje, quando entrou na sala de Alan pela manhã, naquela calça jeans surrada, a camisa branca aberta no peito... Os cabelos de reflexos prateados, que lhe conferiam um charme especial... Porque ele tinha de ser tão charmoso e sedutor? Mesmo depois de tudo que acontecera, ainda sentia seus joelhos fraquejarem e aquele calor subir por seu corpo. A lembrança de seus beijos não a deixava em paz. Nunca sentira por ninguém o que sentira por ele, ao ser beijada. Porque tinha de ser assim? Talvez o ditado “sorte nos negócios, azar no amor” ou algo semelhante, fosse verdadeiro.
Eram nove horas quando o som do interfone soou. Era da portaria para avisar que o senhor Edward estava subindo. Ela ainda estava terminando de se arrumar e colocar os últimos apetrechos na sacola de mão. Sempre ficava na dúvida se não esquecera nada. Revisava mentalmente todo o conteúdo da mala até a exaustão. Mesmo assim, não era incomum esquecer alguma coisa.
- Bom dia! – saudou-a efusivamente o amigo.
- Bom dia, Ed! Obrigada por vir no meu “bota-fora”.
- Amigos são para isso, não acha? Já está tudo pronto? Podemos descer as malas?
- Acho que sim. Só falta passar um batom e colocar meu perfume.
- Por mim, não precisa de mais nada. Você está linda. Pronta para arrasar corações.
- Não pretendo arrasar nenhum coração. De arrasado já basta o meu – disse a última frase em tom de voz tão baixo que Ed teve dificuldade em ouvi-la. Apesar disso, resolveu não comentá-la. Apenas passou o seu braço sobre os ombros de Sylvia e disse:
- Vamos, que o avião não espera e o trânsito a esta hora está terrível.
No caminho, Sylvia manteve-se quieta. Foi Ed que rompeu o silencio torturante.
- Você não quer saber o que eu conversei com ele?
- Com quem?
- Ora, você sabe com quem.
- Você está louco para me contar, não?
- Acho que seria bom você saber que ele está querendo desculpar-se e que não conseguiu parar de pensar em você desde aquele dia.
- Não me interessa.
- Puxa, Sylvia. Dá uma chance para ele – falou meio que irritado. Nunca pensou que naquela altura da vida estaria tentando bancar o cupido. “Era só o que me faltava”, pensou.
Parecia que o assunto havia sido encerrado ali, se levasse em conta a cara amarrada feita por Sylvia.
Chegaram ao aeroporto ainda com uma hora e meia de antecedência.
- Ao menos me diga se definiu para onde vai depois de Nova York. Ou vai manter segredo.
- Talvez eu queira ficar incógnita...
- Misteriosa, agora, é?
- Não. De fato não decidi ainda. Vou procurar uma agencia lá em NY mesmo e resolver.
- Ainda temos um tempo antes do embarque. Vamos tomar um cafezinho? – perguntou Ed, notando que sua amiga tornara-se um pouco fria.
- Não. Acho que vou esperar o embarque lá dentro. Você tem que voltar ao seu trabalho. Não precisa mais se preocupar comigo.
- O que houve? De repente parece que virei seu inimigo?
- É que estou achando você muito amiguinho do senhor Caldwell. Além do esperado.
- Ah, é isso, então? Estou apenas tentando ajudá-la a sentir-se melhor. Só isso! Se não percebe desta maneira, vou embora mesmo. Boa viagem para a senhora – Deu-lhe as costas e seguiu pisando duro em direção a saída.
- Ed! – chamou-o, já arrependida do que dissera. Só faltava perder o melhor amigo por conta de sua burrice. Mas ele não ouviu, pois no mesmo instante os microfones anunciavam o próximo embarque para Nova York. Ligaria para ele quando já estivesse instalada no Marriott.
O hotel ficava em pleno Times Square. Não podia haver lugar melhor e mais cheio de vida. Muitos teatros, casas de show, lojas das grandes marcas e grande movimento de pessoas de todas as partes do mundo. Era exatamente do que precisava. Já era meio tarde quando chegou. Como estava muito cansada, resolveu tomar um banho, ligar para Edward, saber se ainda eram amigos e dormir.
Acabou por não cumprir todo o seu plano de ação. Isto porque depois do banho, ao recostar-se na cama para ver um pouco de televisão, terminou por pegar no sono.
Passaram-se dois dias sem que se animasse a ligar para seu amigo. Já fizera muitas compras, já assistira a uma ótima peça de teatro e, agora se preparava para jantar num pequeno bistrô próximo ao hotel. Sozinha, é claro. Foi quando o seu celular tocou. Era Ed. - E aí, desaparecida? Liguei para saber notícias, já que parece estar muito bem por aí, pois nem lembra dos amigos.
- Oi, Ed! É que eu estava meio insegura para lhe ligar. Preciso lhe pedir desculpas pelo meu comportamento lá no aeroporto. Você me perdoa?
- Já nem lembro mais. O que foi que aconteceu mesmo?
- Que bom, Ed. Nem sabe o peso que você está me tirando da consciência. Além disso, precisava agradecer pelo seu presente. Estou adorando o hotel, a localização, a cidade... Tudo.
- Fico muito contente por você, querida. Ainda tenho mais uma surpresa para você. Não sei se você vai gostar.
- O que é?
- É que surgiu um probleminha com um de nossos clientes aí em Nova York, e eu terei de ir até aí, em dois dias. Pensei que podíamos nos encontrar. Não consegui reserva no seu hotel, por isso acabei ficando num executivo. Quando eu chegar, te ligo novamente para combinarmos de nos ver. Está bem?
- Que bom, Ed. Vai ser ótimo te ver!
Conversaram mais algumas banalidades, sem nem tocar no assunto “proibido”.
- Não, Ed. Por incrível que pareça ainda não consegui definir para onde vou na próxima semana. Vou acabar comprando passagem para algum local, tipo Brasil ou Itália e improvisar. Ficar numa praia sem fazer nada pode ser um ótimo programa.
- Quem sabe... Quem sabe. Talvez eu possa te ajudar a escolher.
- Seria ótimo.
Ao final de mais algumas frases, despediram-se.
Dois dias depois, Edward ligou novamente. Disse que chegara há algumas horas e que estava ansioso por encontrá-la, mas só poderiam se falar á noite. Por isso deu o endereço de um pub inglês chamado “Old Castle”, que por sinal ficava bem próximo do hotel de Sylvia.
Próximo a hora combinada, Sylvia confirmou a localização do pub com a recepção do hotel e dirigiu-se para lá. Como sempre, chegou um pouco antes da hora. Sentou-se numa das banquetas que ficavam de frente para o extenso balcão de madeira do bar, de costas para as mesinhas na parede do outro lado. Não teve como fugir da lembrança daquela noite no “Lohan’s”. Pediu um refrigerante e um copo com gelo, ao invés do cálice de vinho branco que costumava pedir.
Estava distraída, ouvindo a linda música, provavelmente escocesa, devido a presença de gaitas de fole no arranjo, quando sentiu uma presença aproximar-se e ouviu:
- Boa noite...Você vem sempre aqui?
O coração de Sylvia paralisou ao reconhecer aquela voz quente e rouca.”Não é possível! Como ele me encontrou aqui?”. Virou-se lentamente, esperando que fosse apenas sua imaginação. Quando identificou a presença real de Gerry ao seu lado e sentiu aquele perfume inebriante que ele usava, fez menção de levantar-se e fugir. Ao tentar, sentiu a mão poderosa dele segurando seu braço.
- Fique... – rogou Gerry, afrouxando um pouco o aperto – Por favor, Sylvia... Nós precisamos conversar.
- Eu não tenho nada a conversar com você. O que tínhamos para resolver foi resolvido no escritório da sua produtora. Se você quiser saber mais detalhes técnicos sobre a questão desta nova sociedade que Alan e você estão iniciando, pode procurar o meu sócio, Edward Michels.
- Sylvia você sabe muito bem que não estou falando sobre a produtora. Precisa ser tão dura comigo?
- Não sei de qual outro assunto você está falando. Aliás, Edward deve estar chegando daqui a pouco. Você vai poder falar com ele hoje mesmo, pessoalmente.
- Ele não vêm...
- O quê? Como?... Ed não vêm? – ela não podia acreditar que seu amigo de longa data fizera isto com ela – Vocês combinaram esta farsa toda? Como ele teve coragem de fazer isto comigo? – disse quase num murmúrio.
- Talvez porque ele saiba de minhas melhores intenções para com você.
- Por favor, nós não temos o que conversar. O que aconteceu foi um erro meu. Você não precisa se desculpar. Você queria uma qualquer para passar a noite e, infelizmente, eu cruzei o seu caminho.
- Eu não queria uma qualquer. Não sou tão promíscuo assim como você está imaginando – agora ele ficara sério e tenso – Que tal nos sentarmos e conversarmos mais calmamente? – rogou, com uma voz e um olhar tão doces que amoleceu a razão de Sylvia.
Ela decidiu ceder e deixou-se levar pela mão dele até uma das pequenas mesas no fundo do pub. Sentaram-se lado a lado, pois não havia outra opção.
- Agora, olha prá mim... - pediu Gerry.
Ela vacilou por um momento, com medo de não resistir àquele olhar, mas terminou por encará-lo.
Ele continuou, com seus olhos verdes a afrontá-la.
- Fiquei atraído por você desde que a vi no “O-Bar”. Eu lhe disse isso naquela noite no “Lohan’s”, lembra? Quando a vi novamente, não resisti e a abordei. Realmente pensei que você era uma profissional da noite, pois é lá que elas costumam ir e é para isso que os homens vão até lá. Todos sabem disso.
- Eu não sabia – disse Sylvia com a voz embargada.
- Só depois eu soube disso. Deixe-me continuar... – disse ele, segurando a mão esquerda de Sylvia, que estava abandonada sobre a mesa.
Ela pensou em retirar a mão, mas o toque de Gerry era tão cálido e suave, que ela deixou-se estar.
- Aquela noite foi uma das noites mais incríveis que já tive. Quando te deixei pela manhã, foi com pesar, pois tentava negar o que estava sentindo por você. Apaixonar-me por uma prostituta nunca esteve em meus planos. Mil coisas passaram por minha cabeça. Desde ser motivo de chacota para você, até ser explorado por um cafetão. Apesar de tudo isto, quando retornei ao apartamento naquela manhã, estava decidido à tenta tirar você daquela vida. Mas não a encontrei mais. Quando vi o bilhete amassado e o cheque intacto, aí enlouqueci de vez.
A tudo Sylvia ouvia atentamente, com os olhos marejados.
- Por que você não conversou comigo antes de sair e deixar aquele bilhete horrível? – As lágrimas começaram a correr – Eu tive vontade de morrer ao sentir-me como uma qualquer. Eu nunca havia me entregado para alguém daquela maneira. Pode parecer desculpa para minha leviandade, mas senti que você era diferente. Não sei explicar... Aí, eu li aquela frase fria, me dispensando, e me senti uma completa tola, imunda, vulgar...
- Sylvia, me perdoa... – ele tentou abraçá-la, mas ela resistiu. Tentava segurar o choro descontrolado que queria vir à tona.
- A culpa foi minha, Gerry. Eu não podia ter agido por impulso, me entregando para qualquer um.
- Não foi para qualquer um... Foi para mim. E eu amei cada segundo desta entrega... E quero muito mais – Novamente ele tentou abraçá-la e desta vez não obteve defesa. Sylvia sentia-se sem forças e necessitada de um afago, mesmo que fosse dele ou, até porque era ele. Sentia-se no meio de uma confusão de sentimentos, entre a vergonha, a vontade de que nada daquilo tivesse acontecido e a necessidade de sentir novamente aqueles braços em torno de si.
- Me diz como eu posso curar esta ferida que se abriu em você? Dê-me esta chance. A gente pode recomeçar de uma outra maneira. Vamos zerar tudo e iniciar de agora em diante. Por favor, Sylvia...
Entre lágrimas e soluços contidos, ela o olhou e sentiu sinceridade e carinho nas suas palavras. Mas ainda estava muito machucada e envergonhada com tudo que acontecera.
- Não sei, Gerry, não sei...
Amolecendo seu abraço, Gerry aproximou seus lábios do ouvido de Sylvia e implorou baixinho:
- Por favor...
Era quase impossível resistir àquela voz quente e suave e ao seu olhar suplicante.
Quando ele sentiu que as defesas de Sylvia estavam desabando, segurou-lhe o queixo e aproximou-se para beijá-la.
Mal tocou em seus lábios, foi repelido com delicada firmeza. Ele a olhou surpreso.
- Não... Eu ainda não estou pronta. Se você quer realmente recomeçar do zero, vai ter de me dar um tempo.
Mesmo tendo sido rejeitado, Gerry sentiu-se animado com a afirmação de Sylvia. Ele daria a ela todo o tempo necessário para que pudesse tê-la de novo em seus braços.
- Em três ou quatro dias vou viajar por três semanas. Poderemos nos encontrar na minha volta, lá em Los Angeles e conversar – disse, não muito convicta do que estava dizendo.
- Pois eu tenho uma idéia melhor.
- Ideia melhor? – perguntou Sylvia, já recuperando um pouco de seu ânimo.
- Eu tenho de ir à Itália na próxima semana e depois terei de passar em Londres para resolver alguns problemas por lá. O que acha de ir junto comigo.
-Como assim?
- Edward me falou que você ainda não sabia bem ao certo para onde iria nas suas férias. Que tal me acompanhar? Juro que não vou forçar nada. Podemos viajar como amigos, apenas. Seria muito bom ter a sua companhia.
- Não acho que seja uma boa idéia...
- Por quê? Você teria suas férias e, ao mesmo tempo, nos conheceríamos melhor.
Normalmente, Gerry ficaria irritado com este tipo de comportamento em uma mulher, mas aquelas incertezas vindas de Sylvia só o deixavam mais seduzido por ela.
- Você fala como se tudo fosse fácil assim...
- Mas é fácil assim, Sylvia. Sei que você me entendeu. Sei também que você está com medo de abrir a guarda e ser machucada novamente. Mas eu prometo que isso não acontecerá – disse, pegando em sua mão mais uma vez e fixando-a com seu olhar – Vamos viajar como amigos. Que tal? Quartos separados, sem segundas intenções... O que acha? Ando cansado de viajar sozinho por aí. Seria um prazer ter a sua companhia. Se depois desta viagem você definir que não quer me ver nunca mais, eu sumo da sua vida.
- Você deve estar me achando a mulher mais idiota do mundo, mas eu preciso pensar. Na última vez que tomei uma atitude precipitada, deu no que deu.
- Você tem até amanhã – falou sério, mas no íntimo pensou que poderia esperá-la até a última hora antes do seu embarque – Enquanto você começa a pensar, que tal conversarmos sobre outros assuntos? Você já jantou? – perguntou antes que ela reclamasse do prazo para dar a resposta – Podemos pedir um dos pratos aqui do pub. Soube que eles fazem uma Shepherd’s Pie excelente aqui. Você já provou? È feita de carne de carneiro e é típica inglesa.
- Não estou com muita fome...
- Então dividimos uma. Topa?
Diante do largo sorriso e da paciência de Gerry para com ela, não teve como negar o oferecimento.
- Está bem – disse, esboçando um tímido sorriso.
Ficou observando-o, enquanto ele chamava o garçom e fazia o pedido deles. Era difícil negar qualquer coisa a ele. Gerry era um belo homem, extremamente sedutor e gentil. Precisava ser firme e dar um tempo para conhecê-lo melhor e poder certificar-se de que a sua primeira impressão, de quando o conheceu, era verdadeira. Não queria enganar-se novamente.
Quando ele voltou a olhá-la, provocou-lhe um estremecimento e um calor que lhe percorreu o corpo todo. Ficou com medo que ele pudesse ter notado. Mas ele apenas falou:
- Sylvia, quanto ao Edward, não fique zangada com ele. Ele agiu com a melhor das intenções. Fui ameaçado de morte violenta, caso a faça sofrer. Assim, sinta-se protegida, pois não quero morrer cedo – e riu, conseguindo arrancar mais um sorriso de Sylvia – É bom vê-la sorrir para mim de novo.
- O Ed é como um irmão para mim – retorquiu ela, fazendo de conta que não tinha ouvido a última frase dele. Ele nunca agiu desta forma antes.
- Talvez ele ache que eu seja suficientemente bom para você. Quando nos conhecermos melhor, você vai ver que não sou tão mau assim.
- Quando eu o encontrar vou lhe dizer que ele me enganou, me fazendo pensar que era bom farejador só de negócios.
- E o que você acha que ele “farejou” em mim? – e começou a cheirar-se sob as axilas e a abrir a camisa e cheirar o peito.
Ela não resistiu e começou a rir.
- Acho que ele farejou um bobo... Um bobo muito charmoso...
Apesar de ter gostado do último adjetivo, Gerry preferiu adotar a técnica de ignorar o elogio e mudar de assunto. Ela estava começando a se soltar. Apenas continuou rindo e perguntou:
- Vocês nunca namoraram?
- Não.
- Por quê? Você sendo tão bonita, colega dele... Nunca pensaram nisso?
- Realmente, nunca nos passou pela cabeça este tipo de relação. Desde o início fomos só amigos.
A partir deste momento, Sylvia passou a contar sobre como havia conhecido Edward logo após ambos terem sido chutados por seus respectivos namorados, no primeiro ano da faculdade.
A conversa começou a fluir por ambos os lados. Gerry evitava qualquer atitude de conquista, com medo de assustá-la e fazer voltar tudo a estaca zero. Não queria perdê-la novamente. Deixaria que, no momento certo, ela demonstrasse que o queria.
Após o jantar, que durou mais de duas horas, Gerry levou-a até o hotel e despediu-se dela, no saguão, com um suave beijo no rosto.
- Te ligo amanhã para saber a sua resposta ao meu convite. Boa noite.
- Boa noite...
Apesar da louca vontade de jogar-se nos braços dele e pedir perdão por estar sendo tão cabeça-dura, resistiu e encaminhou-se para o seu apartamento.
Foi difícil encontrar o sono naquela noite. Os pensamentos com Gerry a perturbavam constantemente. Quando finalmente chegou a conclusão de qual deveria ser a sua resposta, dormiu como uma pedra.
Na manhã seguinte acordou bem disposta e louca para tomar um belo café da manhã. O telefone tocou no momento em que ela saia do banho.
- Que tal uma caminhada no Central Park? O dia está lindo.
Ela sorriu ao ouvir o inesperado convite.
- Aceito.
- Então passo para pegá-la dentro de... Trinta minutos. Está bom?
- Está ótimo!
- Vejo que acordou bem disposta hoje.
- Você acha? Talvez... – ele devia estar louco para saber a sua resposta, mas o faria sofrer um pouquinho mais. “Devo estar me tornando uma sado-masoquista”, riu intimamente.
No horário combinado, Gerry estava no saguão do hotel. Ele conseguia chamar a atenção de todas as mulheres e de alguns homens pelo seu porte elegante. Estava trajando uma calça de moletom azul, sendo que a jaqueta, da mesma cor, aberta, deixava entrever a camiseta branca justa, que torneava um tórax amplo e forte, de músculos trabalhados em academia. Seus olhos pareciam mais verdes do que nunca, realçados pela pele bronzeada. Esta visão fez Sylvia imaginar o que outras mulheres diriam se soubessem que ela estava menosprezando este homem. Mas ela precisava saber se ele não era apenas uma bela aparência. Queria conhecer o que havia por trás de todo aquele charme tão irresistível.
- Bom dia! Que pontualidade – saudou-o alegremente.
- Bom dia. Não gosto de deixar ninguém esperando - respondeu Gerry, tocando-a no ombro e curvando-se para beijá-la no rosto – Vamos? Você gosta mesmo de caminhar?
- Muito. Infelizmente não tenho muito tempo por causa do trabalho. Gostaria de fazer caminhadas diárias.
- Eu gosto muito, mas ultimamente sempre tem um fotógrafo no meu pé. Aí acabo pensando duas vezes antes de sair na rua. Aqui em Nova Iorque é melhor, mas em Los Angeles é praticamente impossível.
Saíram lado a lado, conversando amenidades. Gerry era muito bem humorado. Contava piadas, fatos engraçados que aconteceram com ele. Mas também deixava espaço para ela contar coisas suas. Quem olhasse os dois caminhando juntos, diriam que eram velhos amigos. Após uma hora de caminhada, pararam para beber água num pequeno quiosque dentro do parque. Ele acabou por tirar o casaco do abrigo, pois o calor no parque aumentara e ele começara a suar. Sentaram-se a sombra de uma frondosa cerejeira e, após alguns goles de água, Gerry olhou Sylvia e, não resistindo, perguntou:
- Já tem uma resposta para me dar sobre o meu convite?
- Você me deu um prazo até hoje. Eu considero que hoje só acaba a meia noite. Estou errada? – falou isso sem coragem de olhá-lo, pois com certeza fraquejaria no seu intuito se assim o fizesse.
“Ela está sendo mais difícil do que eu esperava... Mas eu gosto disso”, pensou, enquanto sorria sarcasticamente para sua companheira de “jogging”.
- Sem problemas. Eu espero a sua decisão. Sendo assim, que tal jantarmos hoje à noite? Quero estar ao seu lado para ouvir sua decisão ao vivo.
- Você acha isso tão importante?
- Muito... – ele a olhou de um jeito que ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo de alto a baixo. Mais uma vez teve que desviar seu olhar do dele para não ser traída.
Depois de um período de silencio, ele retomou a palavra.
- Você já tem algum compromisso para hoje à tarde?
- Não... – enquanto ela tentava arranjar uma desculpa para não encontrá-lo antes do jantar, ele falou:
- Que pena. Eu gostaria de almoçar com você e fazer algum passeio. Tem lugares lindos por aqui. Mas infelizmente tenho compromissos no horário do almoço e por toda à tarde. Só vou poder vê-la à noite.
- Não se preocupe – respondeu, ligeiramente perturbada por ter sido rejeitada antes que pudesse negar um suposto convite para continuarem juntos. Rapidamente pensou numa saída para a situação – Eu estava pensando mesmo em visitar mais uma agencia de turismo e ver os planos de viagem...
Ela conseguira irritá-lo com esta última frase. Pode ver claramente na expressão dura que surgiu na face de Gerry. Para tentar amenizar, falou, antes que ele pudesse reagir:
- Como ainda não resolvi como serão as minhas férias, preciso ter opções. Você não acha?
- disse-lhe com um sorriso.
“Ela está tentando me tirar do sério... Mas não vai conseguir. Não vai não...”
- Você tem toda a razão – e devolveu-lhe o sorriso, encantadoramente – Sylvia, eu preciso ir agora. Quer que eu a deixe no hotel?
- Ah... Não, não é necessário. Vou andar mais um pouco e... Pensar.
- Isto. Pense bem... E com carinho, sobre a minha proposta. Te pego às 20 horas no hotel. Está bom para você? – perguntou-lhe, tentando aparentar indiferença com a provocação dela.
- Está ótimo. Vou estar a sua espera.
Mais uma vez ele se aproximou e, sem deixar de mirá-la nos olhos, chegou com seus lábios muito próximos aos lábios dela, para no último momento desviar para o rosto.
- Até mais, então – virou- se costas e saiu andando sem olhar para trás.
Ficou observando-o, até que ele desaparecesse entre as árvores do parque, e pensando até quando conseguiria manter aquele jogo de “gato e rato”.
Tentou distrair-se durante o dia, mas estava muito ansiosa pelo encontro que teria a noite com Gerry. Já sabia qual seria sua resposta. A dúvida era como deveria agir depois. Gerry parecia corresponder a todos os seus anseios. Mas ainda tinham pouco tempo juntos para que ela tivesse certeza absoluta disso. Não queria errar novamente. Não queria sofrer. Desta vez queria estar no controle de suas emoções, o que não era fácil tendo um homem como Gerry a sua frente.
A noite chegou e já estava pronta, esperando-o, quando recebeu a ligação dele avisando-a que já estava no saguão. Havia colocado, de propósito, um vestido ligeiramente provocante, que tinha um grande decote nas costas, apesar de parecer discreto quando visto pela frente. Prendeu os cabelos, pois não queria passar uma imagem sexy demais. “Quantos preparativos, para depois querer evitá-lo. Será que não estou sendo ardilosa demais?”, foram seus últimos pensamentos antes de descer para a recepção do hotel, para encontrar-se com Gerry.
Lá estava ele, distraído, olhando o movimento do “lounge” do hotel. Estava impecável, num lindo terno escuro, provavelmente Armani ou Versace, sem gravata, com a camisa branca com os primeiros três botões abertos, que deixavam entrever seus pelos do peito. Os cabelos ligeiramente revoltos e a barba eternamente por fazer lhe davam um charme especial. Tinha uma elegância natural que chamava a atenção de todos.
Suspirou e dirigiu-se até onde ele estava. Quando ele virou-se, ao ouvi-la chamar seu nome, olhou-a com admiração. Sylvia, mais uma vez sentiu-se despida por aqueles olhos cor do mar, mas tentou abafar e disfarçar a onda de desejo que tomou conta de seu corpo. Beijaram-se como amigos e, pegando em seu braço, Gerry falou:
- Você está linda... Como sempre.
- E você caprichou também.
- È porque espero que esta noite seja muito especial... – lançou-lhe um olhar sedutor, mas logo em seguida, sorrindo, continuou – Afinal, não é sempre que se pode sair para jantar com uma grande amiga... É o que somos agora, não? Amigos? – e pegando em sua mão, deu-lhe um beijo no dorso, que a fez arrepiar-se – Vamos?
- Vamos... – respondeu, apoiando-se no braço que ele lhe oferecia.
Ela estranhou quando o carro estacionou na frente de um prédio de apartamentos. Desceram e um manobrista da portaria do edifício recebeu a chave para guardar o carro.
- Que lugar é este? Tem um restaurante aqui?
- O melhor, para o meu gosto – respondeu sorridente – É o meu apartamento. Eu o comprei há cinco anos e só há pouco tempo consegui terminar a reforma e mobiliá-lo. Gostaria que você o conhecesse – ele notando o olhar temeroso de Sylvia, continuou – Não se preocupe. Teremos um mordomo, um garçom e uma cozinheira para nos fazer companhia. Não estaremos sozinhos. Mas se você preferir ir a outro lugar, não há problema algum. Pegamos o carro e saímos novamente. Só vou lhe adiantar que a minha cozinheira é a melhor da cidade.
- Está bem, Gerry. Vou confiar em você. Vou conhecer o seu apartamento.
- Pode confiar. Não farei nada que você não queira...
Sylvia engoliu em seco e acompanhou-o até os elevadores. Subiram em silêncio. Ele tocou a campainha. Um senhor calvo, uniformizado abriu-lhes a porta, permitindo sua entrada.
- Boa noite, senhor. Boa noite, senhorita – cumprimentou-os com uma ligeira reverência com a cabeça.
Eles entraram e Gerry convidou-a a sentar-se no amplo sofá da sala.
- Quer ouvir alguma música em especial?
- Não, esta que está tocando está ótima – disse, referindo-se ao som do Sigur Rós que podia ser ouvido no ambiente.
- Você conhece esta banda?
- Sim. Adoro o tipo de música que eles tocam. Às vezes pode ser muito relaxante.
- Que bom. São a minha banda predileta – disse com satisfação – Quer tomar alguma coisa?
- Água seria ótimo.
Imediatamente o garçom, também devidamente uniformizado, foi acionado para atender ao pedido deles. Gerry a acompanhou na água.
Começaram a falar de músicas preferidas e a conversa passou a descontrair um pouco a tensão em que Sylvia se encontrava.
Após algo em torno de trinta minutos, foram convidados a sentarem-se na mesa redonda da sala de jantar, lindamente posta, com porcelanas Limoges, cálices de cristal, talheres de prata e um lindo arranjo floral no centro. Tudo estava perfeito. Só faltaram as velas. “Talvez ele tenha evitado este detalhe para não dar um tom romântico ao jantar. Muito perspicaz...”, pensou Sylvia, que estava gostando daquele jogo, afinal. Mais pontos iam sendo somados aos vários que ela estava atribuindo a Gerry.
A comida realmente estava deliciosa e Sylvia fez questão de agradecer pessoalmente a cozinheira ao final do jantar.
Foram oferecidos licores á Sylvia, que aceitou um pequeno cálice de cassis. Ela notou que durante todo este tempo Gerry não tomara nada de álcool. Mesmo o coquetel, que lhe serviram antes de irem para a mesa, era de frutas, não alcoólico.
- Está fazendo alguma dieta especial que o impede de beber? – perguntou despretensiosamente, enquanto ela saboreava o seu licor, já sentada no sofá.
- Digamos que seja uma dieta para o resto da vida.
- Como assim? – estava curiosa.
- No passado tive alguns problemas com álcool. Foi numa fase muito ruim de minha vida, que felizmente já superei. Não foi fácil, mas não pretendo voltar a ela.
- Você pode falar mais sobre isso, Gerry? – ela estava sinceramente interessada em saber sobre o passado daquele que mexia tanto com suas emoções – Se você não se importar, é claro.
- Não, não me importo. Acho que será bom contar para você este meu lado negro. Assim você poderá me conhecer melhor e decidir se quer continuar minha “amiga” ou não – falou demonstrando certa tristeza em seu pálido sorriso.
- Tenho certeza que isto vai servir para que eu o admire ainda mais – falou , animando-o.
A partir daí, a conversa tornou-se bastante íntima e Gerry abriu-se para ela como nunca havia feito para mulher alguma. E sentia-se muito bem com isso.
- E foi isso tudo que me trouxe até onde estou hoje – afirmou, ao acabar de revelar as agruras por que passara desde a sua adolescência e os detalhes de como vencera estas dificuldades até conseguir descobrir o que realmente queria da vida – Hoje em dia, amo o que faço. Isto me torna uma pessoa realizada. Não satisfeita, pois ainda tenho um caminho a trilhar e muitos planos a serem cumpridos. Mas agora sei aonde quero chegar e isto é essencial.
- Nem sei o que dizer, Gerry. Estou realmente admirada com tudo isto que você contou. Não imaginava que você tivesse passado por tudo isto. Realmente você é um vencedor.
- Ainda não. Ainda estou na briga, mas chego lá. Acho que a insatisfação nos leva muito mais longe do que pensar que já está tudo ganho e certo. A cada meta que alcanço, crio outras. Não se pode pensar pequeno, você não acha?
- Concordo plenamente com você – ela estava muito impressionada com tudo que acabara de ouvir.
- Bem, agora que você já conhece todos os meus segredos, já consegue decidir se vale à pena investir em mim e aceitar o meu convite, ou não? Ainda não é meia-noite. Quer mais um tempo?
- Não, Gerry. Acho que já me decidi.
Ela levantou-se de onde estava, colocou seu cálice vazio sobre uma das mesinhas da sala e foi na direção de Gerry, que estava sentado numa poltrona em frente ao sofá. Afagou-lhe os cabelos e disse, quase sussurrando:
- Eu vou com você. Vou para onde você quiser me levar... – disse, ainda com as mãos em sua cabeça, acarinhando seus cabelos.
Gerry, que fechara os olhos para sentir melhor o prazer daquele carinho, abriu-os, levantou-se e olhando-a com ternura, envolveu-a com os braços em torno de sua cintura. Puxando-a contra si, disse com a voz baixa e mais rouca que o normal:
- Prometo que não vai se arrepender, Sylvia.
Sentindo que o corpo dela deixava-se relaxar no seu abraço, e que seus lábios entreabriam-se para recebê-lo, Gerry beijou-a suavemente, começando pela testa, seguindo pela face, chegando ao queixo e, finalmente, encontrando os lábios carnudos e cálidos de Sylvia. Um beijo intenso e apaixonado, que há muito era esperado por ambos. Apesar de não mais haver necessidade de palavras, ela ouviu-o murmurando próximo a sua boca:
- Eu te amo... Como nunca amei ninguém.
Sylvia olhou-o, como que hipnotizada por aquelas palavras tão sonhadas, e segurando-o com as duas mãos em sua nuca, aproximou-o mais uma vez de seus lábios.
- Também te amo, Gerry.
Logo, envolvidos pelo desejo contido há tantos dias, beijaram-se ardorosamente, entre carícias e suspiros.
- Eu te quero, Gerry... Agora.
Ao ouvir o pedido de Sylvia, sorrindo, ergueu-a do chão, em seu colo e, a caminho do quarto, ainda disse:
- Como eu esperei para ouvir estas palavras, meu amor...
Fechada a porta da suíte, entregaram-se ao amor, ansiosos por tocarem-se e beijarem-se mais intensamente. Logo, as alças do vestido de Sylvia estavam caídas, deixando Gerry deslumbrar-se com os seios desnudos e perfeitos dela. Parecia que nunca haviam se conhecido intimamente antes. Viam-se com novos olhos e novos desejos. Não era mais uma aventura, mas um retorno ao lar. Suas mãos confundiam-se nas descobertas do prazer de tocar, acariciar e pressionar seus corpos. Os beijos molhados, as línguas ávidas pelos sabores do outro e a sensação de volúpia eram incontroláveis. A intimidade de Sylvia ansiava pela presença de Gerry, quando ele finalmente a penetrou, extraindo gemidos e gritos de prazer de ambos. O gozo chegou praticamente ao mesmo tempo para os dois, de forma completa e deliciosa, levando-os em alguns minutos das alturas ao Éden. Deixaram-se cair exaustos, um nos braços do outro, até normalizarem suas respirações.
Dois dias depois, partiram juntos rumo a Europa, iniciando pela Itália, onde tiveram momentos de puro romantismo, apesar de Gerry ter ido a trabalho. Porém, todos os seus momentos livres eram muito bem aproveitados. Em Londres, ela pode conhecer o terceiro apartamento de Gerry. Lá “inaugurou” com ele cada peça da casa.
Ao final, seis dias antes de sua volta a Los Angeles, Gerry lhe fez uma surpresa. Sem aviso prévio, pediu-lhe que preparasse sua mala para uma pequena viagem de quatro dias. Apesar de estranhar o seu pedido, deixou-se levar. Já confiava plenamente nele agora. Pegaram o automóvel alugado muito cedo pela manhã. Passaram o dia viajando. O coração de Sylvia bateu mais forte quando o carro cruzou a fronteira entre Inglaterra e Escócia.
- Já adivinhou onde estamos indo? – perguntou Gerry, com um sorriso malicioso.
- Estou vendo que você está com péssimas intenções em relação a mim.
- Pois eu já acho que elas não poderiam ser melhores.
Vencido o medo e o nervosismo por estar sendo levada para conhecer a mãe de Gerry, chegou a Glasgow, onde foi cercada de carinho e boas vindas por Sarah e seu marido.
- Parece que meu filho finalmente encontrou a pessoa certa para compartilhar sua vida – disse Sarah, na hora das despedidas.
Da Escócia, partiram para Londres, de onde retornaram a Los Angeles, certos de suas escolhas e com a intenção de ficarem juntos... Para sempre. Ou pelo menos, por muito tempo...
FIM
A reunião já acabara. Deixaram o escritório de Alan, com a promessa de o atualizarem sobre os fatos em outra ocasião. Foram a uma Starbucks, próxima do escritório, para conversarem.
- Agora, por favor, me conte o que está acontecendo – pediu Gerry, ansioso.
- Olha, Gerry. Eu mal o conheço, a não ser por ter visto o seu último filme. Acho você um ótimo ator. Estou muito contente por estar trabalhando para sua produtora. Mas você deu um tremendo fora com a minha amiga, Sylvia.
- Edward, eu nem sei por onde começar. Não sei qual o seu grau de intimidade com Sylvia, mas...
- Sou íntimo o suficiente para saber de tudo que aconteceu entre vocês.
- Tudo?
- Quase tudo... A Sylvia é como uma irmã para mim. O que aconteceu foi que armaram para cima dela. Sem saber onde estava se metendo, foi parar naquela espelunca chamada “Lohan’s” e encontrou você. Te achou um cara legal. Talvez um pouco mais que isso. E pela primeira vez em muitos anos se desarmou e precipitou-se. Era o seu aniversário e você seria o presente dela. Acho que ela alimentou algumas fantasias a seu respeito, achando que aquilo que aconteceu tinha sido mais profundo do que era.
- E foi... – afirmou Gerry, num quase sussurro, tristonhamente – Era o aniversário dela?
- Sim. Se foi importante para você, porque deixou aquele bilhete e o cheque? Porque não tentou conhecê-la melhor?
- Fiquei com medo. Realmente pensei que ela estava agindo apenas “profissionalmente” e que riria na minha cara se eu tentasse conquistá-la de outra forma.
- Eu não devia lhe falar, mas eu o defendi perante ela. Você realmente não tinha como saber que ela estava lá naquele lugar por acaso e não caçando clientes. Você a impressionou muito, cara. Por isso a desilusão foi muito grande quando ela leu o seu bilhete e viu o seu cheque. Aliás, aqui entre nós... Você costuma pagar tudo aquilo por uma garota?
Ed resolveu calar-se ao ver o olhar recriminador de Gerry
- Está bem, desculpe por este último comentário.
- Eu preciso falar com ela e pedir desculpas.
- Acho que não vai ser possível. Pelo menos não nos próximos trinta dias.
- Por quê?
- Porque ela está saindo de férias hoje.
- Férias?
- Ela anda trabalhando muito. Combinamos que depois desta reunião de hoje ela sairia para descansar, depois de três anos de trabalho direto.
- E para onde ela vai?
- Na verdade... Eu não devia estar falando estas coisas com você. Ela vai me matar. E eu vou matar você se a fizer sofrer mais do que já fez, entendeu? – disse, surpreso com o próprio tom de voz usado para aquela ameaça.
- Por favor, fale. Eu juro que não vou magoá-la.
Depois de terminar de resolver alguns problemas surgidos no escritório, Edward ligou para Sylvia para saber como ela estava.
- Sylvia? Alô? Sou eu, Ed.
- Oi, Ed – respondeu ela, com voz entristecida.
- Você está bem?
- Agora estou melhor. Só ainda não resolvi onde vou montar o meu escritório de advocacia depois das férias.
- O quê? O que você está dizendo?
- Claro que depois de hoje, a minha fama em Los Angeles não vai ser das melhores.
- Como assim?
- Todos vão saber o que aconteceu no Lohan’s entre eu e o...
- Sylvia, minha amiga...Você está pior do que eu imaginava. Esta tarde sozinha com você mesma não lhe fez bem. O Gerry não vai contar para ninguém o que aconteceu. Aliás, ele não contou nem para o Alan. Ele é um gentleman. Não se preocupe.
- Tem certeza disso?
- Absoluta. Bem que eu gostaria de ir até aí para podermos conversar, mas combinei com minha mãe de visitá-la agora à noite e, obviamente, que isto inclui um jantar, que deve terminar tarde.
- Pode deixar, que as idéias suicidas já se foram.
- Sylvia!
- Estou brincando... - confortou-o, sem muita certeza do que estava dizendo.
- Pense que amanhã você vai estar longe de tudo isto. Vai divertir-se muito nestes próximos dias e voltar renovada.
- Tomara, Ed... Tomara.
- A que horas parte o seu vôo amanhã?
- Às 12 horas.
- Eu vou buscá-la em casa para levá-la ao Aeroporto. Daí poderemos conversar um pouco. Está bem?
- Está bem. E o trabalho?
- Ninguém vai morrer se eu não estiver por lá algumas poucas horas. A sanidade mental da minha sócia ainda é mais importante.
- Obrigada, Ed. Por isso é que te adoro.
- Bem, depois desta declaração vou ligar para mamãe e cancelar o nosso compromisso e vou correndo para a sua casa.
- Bobo. É sério. Eu estou bem. Só estava realmente preocupada com a possibilidade de a fofoca espalhar-se por aí. Se ele garantiu que não fará isso, fico mais tranqüila. Vá para o seu “encontro” sossegado.
- Então, até amanhã. Durma bem, querida.
- Até amanhã, Ed. Boa noite prá você também.
Desligou o telefone e voltou à posição em que estava na poltrona da sala. Conseguira manter-se ocupada boa parte da tarde com suas arrumações e montando a mala para sua viagem. Recebera a resposta de algumas das agencias de turismo, mas nada a agradara muito. Ainda faltavam dois ou três retornos. Sentara-se na sua poltrona predileta, com direito a vista dos morros que envolviam a cidade, pensando nele. Não conseguia evitar o desvio de seus pensamentos para aquele homem. Ele estava lindo hoje, quando entrou na sala de Alan pela manhã, naquela calça jeans surrada, a camisa branca aberta no peito... Os cabelos de reflexos prateados, que lhe conferiam um charme especial... Porque ele tinha de ser tão charmoso e sedutor? Mesmo depois de tudo que acontecera, ainda sentia seus joelhos fraquejarem e aquele calor subir por seu corpo. A lembrança de seus beijos não a deixava em paz. Nunca sentira por ninguém o que sentira por ele, ao ser beijada. Porque tinha de ser assim? Talvez o ditado “sorte nos negócios, azar no amor” ou algo semelhante, fosse verdadeiro.
Eram nove horas quando o som do interfone soou. Era da portaria para avisar que o senhor Edward estava subindo. Ela ainda estava terminando de se arrumar e colocar os últimos apetrechos na sacola de mão. Sempre ficava na dúvida se não esquecera nada. Revisava mentalmente todo o conteúdo da mala até a exaustão. Mesmo assim, não era incomum esquecer alguma coisa.
- Bom dia! – saudou-a efusivamente o amigo.
- Bom dia, Ed! Obrigada por vir no meu “bota-fora”.
- Amigos são para isso, não acha? Já está tudo pronto? Podemos descer as malas?
- Acho que sim. Só falta passar um batom e colocar meu perfume.
- Por mim, não precisa de mais nada. Você está linda. Pronta para arrasar corações.
- Não pretendo arrasar nenhum coração. De arrasado já basta o meu – disse a última frase em tom de voz tão baixo que Ed teve dificuldade em ouvi-la. Apesar disso, resolveu não comentá-la. Apenas passou o seu braço sobre os ombros de Sylvia e disse:
- Vamos, que o avião não espera e o trânsito a esta hora está terrível.
No caminho, Sylvia manteve-se quieta. Foi Ed que rompeu o silencio torturante.
- Você não quer saber o que eu conversei com ele?
- Com quem?
- Ora, você sabe com quem.
- Você está louco para me contar, não?
- Acho que seria bom você saber que ele está querendo desculpar-se e que não conseguiu parar de pensar em você desde aquele dia.
- Não me interessa.
- Puxa, Sylvia. Dá uma chance para ele – falou meio que irritado. Nunca pensou que naquela altura da vida estaria tentando bancar o cupido. “Era só o que me faltava”, pensou.
Parecia que o assunto havia sido encerrado ali, se levasse em conta a cara amarrada feita por Sylvia.
Chegaram ao aeroporto ainda com uma hora e meia de antecedência.
- Ao menos me diga se definiu para onde vai depois de Nova York. Ou vai manter segredo.
- Talvez eu queira ficar incógnita...
- Misteriosa, agora, é?
- Não. De fato não decidi ainda. Vou procurar uma agencia lá em NY mesmo e resolver.
- Ainda temos um tempo antes do embarque. Vamos tomar um cafezinho? – perguntou Ed, notando que sua amiga tornara-se um pouco fria.
- Não. Acho que vou esperar o embarque lá dentro. Você tem que voltar ao seu trabalho. Não precisa mais se preocupar comigo.
- O que houve? De repente parece que virei seu inimigo?
- É que estou achando você muito amiguinho do senhor Caldwell. Além do esperado.
- Ah, é isso, então? Estou apenas tentando ajudá-la a sentir-se melhor. Só isso! Se não percebe desta maneira, vou embora mesmo. Boa viagem para a senhora – Deu-lhe as costas e seguiu pisando duro em direção a saída.
- Ed! – chamou-o, já arrependida do que dissera. Só faltava perder o melhor amigo por conta de sua burrice. Mas ele não ouviu, pois no mesmo instante os microfones anunciavam o próximo embarque para Nova York. Ligaria para ele quando já estivesse instalada no Marriott.
O hotel ficava em pleno Times Square. Não podia haver lugar melhor e mais cheio de vida. Muitos teatros, casas de show, lojas das grandes marcas e grande movimento de pessoas de todas as partes do mundo. Era exatamente do que precisava. Já era meio tarde quando chegou. Como estava muito cansada, resolveu tomar um banho, ligar para Edward, saber se ainda eram amigos e dormir.
Acabou por não cumprir todo o seu plano de ação. Isto porque depois do banho, ao recostar-se na cama para ver um pouco de televisão, terminou por pegar no sono.
Passaram-se dois dias sem que se animasse a ligar para seu amigo. Já fizera muitas compras, já assistira a uma ótima peça de teatro e, agora se preparava para jantar num pequeno bistrô próximo ao hotel. Sozinha, é claro. Foi quando o seu celular tocou. Era Ed. - E aí, desaparecida? Liguei para saber notícias, já que parece estar muito bem por aí, pois nem lembra dos amigos.
- Oi, Ed! É que eu estava meio insegura para lhe ligar. Preciso lhe pedir desculpas pelo meu comportamento lá no aeroporto. Você me perdoa?
- Já nem lembro mais. O que foi que aconteceu mesmo?
- Que bom, Ed. Nem sabe o peso que você está me tirando da consciência. Além disso, precisava agradecer pelo seu presente. Estou adorando o hotel, a localização, a cidade... Tudo.
- Fico muito contente por você, querida. Ainda tenho mais uma surpresa para você. Não sei se você vai gostar.
- O que é?
- É que surgiu um probleminha com um de nossos clientes aí em Nova York, e eu terei de ir até aí, em dois dias. Pensei que podíamos nos encontrar. Não consegui reserva no seu hotel, por isso acabei ficando num executivo. Quando eu chegar, te ligo novamente para combinarmos de nos ver. Está bem?
- Que bom, Ed. Vai ser ótimo te ver!
Conversaram mais algumas banalidades, sem nem tocar no assunto “proibido”.
- Não, Ed. Por incrível que pareça ainda não consegui definir para onde vou na próxima semana. Vou acabar comprando passagem para algum local, tipo Brasil ou Itália e improvisar. Ficar numa praia sem fazer nada pode ser um ótimo programa.
- Quem sabe... Quem sabe. Talvez eu possa te ajudar a escolher.
- Seria ótimo.
Ao final de mais algumas frases, despediram-se.
Dois dias depois, Edward ligou novamente. Disse que chegara há algumas horas e que estava ansioso por encontrá-la, mas só poderiam se falar á noite. Por isso deu o endereço de um pub inglês chamado “Old Castle”, que por sinal ficava bem próximo do hotel de Sylvia.
Próximo a hora combinada, Sylvia confirmou a localização do pub com a recepção do hotel e dirigiu-se para lá. Como sempre, chegou um pouco antes da hora. Sentou-se numa das banquetas que ficavam de frente para o extenso balcão de madeira do bar, de costas para as mesinhas na parede do outro lado. Não teve como fugir da lembrança daquela noite no “Lohan’s”. Pediu um refrigerante e um copo com gelo, ao invés do cálice de vinho branco que costumava pedir.
Estava distraída, ouvindo a linda música, provavelmente escocesa, devido a presença de gaitas de fole no arranjo, quando sentiu uma presença aproximar-se e ouviu:
- Boa noite...Você vem sempre aqui?
O coração de Sylvia paralisou ao reconhecer aquela voz quente e rouca.”Não é possível! Como ele me encontrou aqui?”. Virou-se lentamente, esperando que fosse apenas sua imaginação. Quando identificou a presença real de Gerry ao seu lado e sentiu aquele perfume inebriante que ele usava, fez menção de levantar-se e fugir. Ao tentar, sentiu a mão poderosa dele segurando seu braço.
- Fique... – rogou Gerry, afrouxando um pouco o aperto – Por favor, Sylvia... Nós precisamos conversar.
- Eu não tenho nada a conversar com você. O que tínhamos para resolver foi resolvido no escritório da sua produtora. Se você quiser saber mais detalhes técnicos sobre a questão desta nova sociedade que Alan e você estão iniciando, pode procurar o meu sócio, Edward Michels.
- Sylvia você sabe muito bem que não estou falando sobre a produtora. Precisa ser tão dura comigo?
- Não sei de qual outro assunto você está falando. Aliás, Edward deve estar chegando daqui a pouco. Você vai poder falar com ele hoje mesmo, pessoalmente.
- Ele não vêm...
- O quê? Como?... Ed não vêm? – ela não podia acreditar que seu amigo de longa data fizera isto com ela – Vocês combinaram esta farsa toda? Como ele teve coragem de fazer isto comigo? – disse quase num murmúrio.
- Talvez porque ele saiba de minhas melhores intenções para com você.
- Por favor, nós não temos o que conversar. O que aconteceu foi um erro meu. Você não precisa se desculpar. Você queria uma qualquer para passar a noite e, infelizmente, eu cruzei o seu caminho.
- Eu não queria uma qualquer. Não sou tão promíscuo assim como você está imaginando – agora ele ficara sério e tenso – Que tal nos sentarmos e conversarmos mais calmamente? – rogou, com uma voz e um olhar tão doces que amoleceu a razão de Sylvia.
Ela decidiu ceder e deixou-se levar pela mão dele até uma das pequenas mesas no fundo do pub. Sentaram-se lado a lado, pois não havia outra opção.
- Agora, olha prá mim... - pediu Gerry.
Ela vacilou por um momento, com medo de não resistir àquele olhar, mas terminou por encará-lo.
Ele continuou, com seus olhos verdes a afrontá-la.
- Fiquei atraído por você desde que a vi no “O-Bar”. Eu lhe disse isso naquela noite no “Lohan’s”, lembra? Quando a vi novamente, não resisti e a abordei. Realmente pensei que você era uma profissional da noite, pois é lá que elas costumam ir e é para isso que os homens vão até lá. Todos sabem disso.
- Eu não sabia – disse Sylvia com a voz embargada.
- Só depois eu soube disso. Deixe-me continuar... – disse ele, segurando a mão esquerda de Sylvia, que estava abandonada sobre a mesa.
Ela pensou em retirar a mão, mas o toque de Gerry era tão cálido e suave, que ela deixou-se estar.
- Aquela noite foi uma das noites mais incríveis que já tive. Quando te deixei pela manhã, foi com pesar, pois tentava negar o que estava sentindo por você. Apaixonar-me por uma prostituta nunca esteve em meus planos. Mil coisas passaram por minha cabeça. Desde ser motivo de chacota para você, até ser explorado por um cafetão. Apesar de tudo isto, quando retornei ao apartamento naquela manhã, estava decidido à tenta tirar você daquela vida. Mas não a encontrei mais. Quando vi o bilhete amassado e o cheque intacto, aí enlouqueci de vez.
A tudo Sylvia ouvia atentamente, com os olhos marejados.
- Por que você não conversou comigo antes de sair e deixar aquele bilhete horrível? – As lágrimas começaram a correr – Eu tive vontade de morrer ao sentir-me como uma qualquer. Eu nunca havia me entregado para alguém daquela maneira. Pode parecer desculpa para minha leviandade, mas senti que você era diferente. Não sei explicar... Aí, eu li aquela frase fria, me dispensando, e me senti uma completa tola, imunda, vulgar...
- Sylvia, me perdoa... – ele tentou abraçá-la, mas ela resistiu. Tentava segurar o choro descontrolado que queria vir à tona.
- A culpa foi minha, Gerry. Eu não podia ter agido por impulso, me entregando para qualquer um.
- Não foi para qualquer um... Foi para mim. E eu amei cada segundo desta entrega... E quero muito mais – Novamente ele tentou abraçá-la e desta vez não obteve defesa. Sylvia sentia-se sem forças e necessitada de um afago, mesmo que fosse dele ou, até porque era ele. Sentia-se no meio de uma confusão de sentimentos, entre a vergonha, a vontade de que nada daquilo tivesse acontecido e a necessidade de sentir novamente aqueles braços em torno de si.
- Me diz como eu posso curar esta ferida que se abriu em você? Dê-me esta chance. A gente pode recomeçar de uma outra maneira. Vamos zerar tudo e iniciar de agora em diante. Por favor, Sylvia...
Entre lágrimas e soluços contidos, ela o olhou e sentiu sinceridade e carinho nas suas palavras. Mas ainda estava muito machucada e envergonhada com tudo que acontecera.
- Não sei, Gerry, não sei...
Amolecendo seu abraço, Gerry aproximou seus lábios do ouvido de Sylvia e implorou baixinho:
- Por favor...
Era quase impossível resistir àquela voz quente e suave e ao seu olhar suplicante.
Quando ele sentiu que as defesas de Sylvia estavam desabando, segurou-lhe o queixo e aproximou-se para beijá-la.
Mal tocou em seus lábios, foi repelido com delicada firmeza. Ele a olhou surpreso.
- Não... Eu ainda não estou pronta. Se você quer realmente recomeçar do zero, vai ter de me dar um tempo.
Mesmo tendo sido rejeitado, Gerry sentiu-se animado com a afirmação de Sylvia. Ele daria a ela todo o tempo necessário para que pudesse tê-la de novo em seus braços.
- Em três ou quatro dias vou viajar por três semanas. Poderemos nos encontrar na minha volta, lá em Los Angeles e conversar – disse, não muito convicta do que estava dizendo.
- Pois eu tenho uma idéia melhor.
- Ideia melhor? – perguntou Sylvia, já recuperando um pouco de seu ânimo.
- Eu tenho de ir à Itália na próxima semana e depois terei de passar em Londres para resolver alguns problemas por lá. O que acha de ir junto comigo.
-Como assim?
- Edward me falou que você ainda não sabia bem ao certo para onde iria nas suas férias. Que tal me acompanhar? Juro que não vou forçar nada. Podemos viajar como amigos, apenas. Seria muito bom ter a sua companhia.
- Não acho que seja uma boa idéia...
- Por quê? Você teria suas férias e, ao mesmo tempo, nos conheceríamos melhor.
Normalmente, Gerry ficaria irritado com este tipo de comportamento em uma mulher, mas aquelas incertezas vindas de Sylvia só o deixavam mais seduzido por ela.
- Você fala como se tudo fosse fácil assim...
- Mas é fácil assim, Sylvia. Sei que você me entendeu. Sei também que você está com medo de abrir a guarda e ser machucada novamente. Mas eu prometo que isso não acontecerá – disse, pegando em sua mão mais uma vez e fixando-a com seu olhar – Vamos viajar como amigos. Que tal? Quartos separados, sem segundas intenções... O que acha? Ando cansado de viajar sozinho por aí. Seria um prazer ter a sua companhia. Se depois desta viagem você definir que não quer me ver nunca mais, eu sumo da sua vida.
- Você deve estar me achando a mulher mais idiota do mundo, mas eu preciso pensar. Na última vez que tomei uma atitude precipitada, deu no que deu.
- Você tem até amanhã – falou sério, mas no íntimo pensou que poderia esperá-la até a última hora antes do seu embarque – Enquanto você começa a pensar, que tal conversarmos sobre outros assuntos? Você já jantou? – perguntou antes que ela reclamasse do prazo para dar a resposta – Podemos pedir um dos pratos aqui do pub. Soube que eles fazem uma Shepherd’s Pie excelente aqui. Você já provou? È feita de carne de carneiro e é típica inglesa.
- Não estou com muita fome...
- Então dividimos uma. Topa?
Diante do largo sorriso e da paciência de Gerry para com ela, não teve como negar o oferecimento.
- Está bem – disse, esboçando um tímido sorriso.
Ficou observando-o, enquanto ele chamava o garçom e fazia o pedido deles. Era difícil negar qualquer coisa a ele. Gerry era um belo homem, extremamente sedutor e gentil. Precisava ser firme e dar um tempo para conhecê-lo melhor e poder certificar-se de que a sua primeira impressão, de quando o conheceu, era verdadeira. Não queria enganar-se novamente.
Quando ele voltou a olhá-la, provocou-lhe um estremecimento e um calor que lhe percorreu o corpo todo. Ficou com medo que ele pudesse ter notado. Mas ele apenas falou:
- Sylvia, quanto ao Edward, não fique zangada com ele. Ele agiu com a melhor das intenções. Fui ameaçado de morte violenta, caso a faça sofrer. Assim, sinta-se protegida, pois não quero morrer cedo – e riu, conseguindo arrancar mais um sorriso de Sylvia – É bom vê-la sorrir para mim de novo.
- O Ed é como um irmão para mim – retorquiu ela, fazendo de conta que não tinha ouvido a última frase dele. Ele nunca agiu desta forma antes.
- Talvez ele ache que eu seja suficientemente bom para você. Quando nos conhecermos melhor, você vai ver que não sou tão mau assim.
- Quando eu o encontrar vou lhe dizer que ele me enganou, me fazendo pensar que era bom farejador só de negócios.
- E o que você acha que ele “farejou” em mim? – e começou a cheirar-se sob as axilas e a abrir a camisa e cheirar o peito.
Ela não resistiu e começou a rir.
- Acho que ele farejou um bobo... Um bobo muito charmoso...
Apesar de ter gostado do último adjetivo, Gerry preferiu adotar a técnica de ignorar o elogio e mudar de assunto. Ela estava começando a se soltar. Apenas continuou rindo e perguntou:
- Vocês nunca namoraram?
- Não.
- Por quê? Você sendo tão bonita, colega dele... Nunca pensaram nisso?
- Realmente, nunca nos passou pela cabeça este tipo de relação. Desde o início fomos só amigos.
A partir deste momento, Sylvia passou a contar sobre como havia conhecido Edward logo após ambos terem sido chutados por seus respectivos namorados, no primeiro ano da faculdade.
A conversa começou a fluir por ambos os lados. Gerry evitava qualquer atitude de conquista, com medo de assustá-la e fazer voltar tudo a estaca zero. Não queria perdê-la novamente. Deixaria que, no momento certo, ela demonstrasse que o queria.
Após o jantar, que durou mais de duas horas, Gerry levou-a até o hotel e despediu-se dela, no saguão, com um suave beijo no rosto.
- Te ligo amanhã para saber a sua resposta ao meu convite. Boa noite.
- Boa noite...
Apesar da louca vontade de jogar-se nos braços dele e pedir perdão por estar sendo tão cabeça-dura, resistiu e encaminhou-se para o seu apartamento.
Foi difícil encontrar o sono naquela noite. Os pensamentos com Gerry a perturbavam constantemente. Quando finalmente chegou a conclusão de qual deveria ser a sua resposta, dormiu como uma pedra.
Na manhã seguinte acordou bem disposta e louca para tomar um belo café da manhã. O telefone tocou no momento em que ela saia do banho.
- Que tal uma caminhada no Central Park? O dia está lindo.
Ela sorriu ao ouvir o inesperado convite.
- Aceito.
- Então passo para pegá-la dentro de... Trinta minutos. Está bom?
- Está ótimo!
- Vejo que acordou bem disposta hoje.
- Você acha? Talvez... – ele devia estar louco para saber a sua resposta, mas o faria sofrer um pouquinho mais. “Devo estar me tornando uma sado-masoquista”, riu intimamente.
No horário combinado, Gerry estava no saguão do hotel. Ele conseguia chamar a atenção de todas as mulheres e de alguns homens pelo seu porte elegante. Estava trajando uma calça de moletom azul, sendo que a jaqueta, da mesma cor, aberta, deixava entrever a camiseta branca justa, que torneava um tórax amplo e forte, de músculos trabalhados em academia. Seus olhos pareciam mais verdes do que nunca, realçados pela pele bronzeada. Esta visão fez Sylvia imaginar o que outras mulheres diriam se soubessem que ela estava menosprezando este homem. Mas ela precisava saber se ele não era apenas uma bela aparência. Queria conhecer o que havia por trás de todo aquele charme tão irresistível.
- Bom dia! Que pontualidade – saudou-o alegremente.
- Bom dia. Não gosto de deixar ninguém esperando - respondeu Gerry, tocando-a no ombro e curvando-se para beijá-la no rosto – Vamos? Você gosta mesmo de caminhar?
- Muito. Infelizmente não tenho muito tempo por causa do trabalho. Gostaria de fazer caminhadas diárias.
- Eu gosto muito, mas ultimamente sempre tem um fotógrafo no meu pé. Aí acabo pensando duas vezes antes de sair na rua. Aqui em Nova Iorque é melhor, mas em Los Angeles é praticamente impossível.
Saíram lado a lado, conversando amenidades. Gerry era muito bem humorado. Contava piadas, fatos engraçados que aconteceram com ele. Mas também deixava espaço para ela contar coisas suas. Quem olhasse os dois caminhando juntos, diriam que eram velhos amigos. Após uma hora de caminhada, pararam para beber água num pequeno quiosque dentro do parque. Ele acabou por tirar o casaco do abrigo, pois o calor no parque aumentara e ele começara a suar. Sentaram-se a sombra de uma frondosa cerejeira e, após alguns goles de água, Gerry olhou Sylvia e, não resistindo, perguntou:
- Já tem uma resposta para me dar sobre o meu convite?
- Você me deu um prazo até hoje. Eu considero que hoje só acaba a meia noite. Estou errada? – falou isso sem coragem de olhá-lo, pois com certeza fraquejaria no seu intuito se assim o fizesse.
“Ela está sendo mais difícil do que eu esperava... Mas eu gosto disso”, pensou, enquanto sorria sarcasticamente para sua companheira de “jogging”.
- Sem problemas. Eu espero a sua decisão. Sendo assim, que tal jantarmos hoje à noite? Quero estar ao seu lado para ouvir sua decisão ao vivo.
- Você acha isso tão importante?
- Muito... – ele a olhou de um jeito que ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo de alto a baixo. Mais uma vez teve que desviar seu olhar do dele para não ser traída.
Depois de um período de silencio, ele retomou a palavra.
- Você já tem algum compromisso para hoje à tarde?
- Não... – enquanto ela tentava arranjar uma desculpa para não encontrá-lo antes do jantar, ele falou:
- Que pena. Eu gostaria de almoçar com você e fazer algum passeio. Tem lugares lindos por aqui. Mas infelizmente tenho compromissos no horário do almoço e por toda à tarde. Só vou poder vê-la à noite.
- Não se preocupe – respondeu, ligeiramente perturbada por ter sido rejeitada antes que pudesse negar um suposto convite para continuarem juntos. Rapidamente pensou numa saída para a situação – Eu estava pensando mesmo em visitar mais uma agencia de turismo e ver os planos de viagem...
Ela conseguira irritá-lo com esta última frase. Pode ver claramente na expressão dura que surgiu na face de Gerry. Para tentar amenizar, falou, antes que ele pudesse reagir:
- Como ainda não resolvi como serão as minhas férias, preciso ter opções. Você não acha?
- disse-lhe com um sorriso.
“Ela está tentando me tirar do sério... Mas não vai conseguir. Não vai não...”
- Você tem toda a razão – e devolveu-lhe o sorriso, encantadoramente – Sylvia, eu preciso ir agora. Quer que eu a deixe no hotel?
- Ah... Não, não é necessário. Vou andar mais um pouco e... Pensar.
- Isto. Pense bem... E com carinho, sobre a minha proposta. Te pego às 20 horas no hotel. Está bom para você? – perguntou-lhe, tentando aparentar indiferença com a provocação dela.
- Está ótimo. Vou estar a sua espera.
Mais uma vez ele se aproximou e, sem deixar de mirá-la nos olhos, chegou com seus lábios muito próximos aos lábios dela, para no último momento desviar para o rosto.
- Até mais, então – virou- se costas e saiu andando sem olhar para trás.
Ficou observando-o, até que ele desaparecesse entre as árvores do parque, e pensando até quando conseguiria manter aquele jogo de “gato e rato”.
Tentou distrair-se durante o dia, mas estava muito ansiosa pelo encontro que teria a noite com Gerry. Já sabia qual seria sua resposta. A dúvida era como deveria agir depois. Gerry parecia corresponder a todos os seus anseios. Mas ainda tinham pouco tempo juntos para que ela tivesse certeza absoluta disso. Não queria errar novamente. Não queria sofrer. Desta vez queria estar no controle de suas emoções, o que não era fácil tendo um homem como Gerry a sua frente.
A noite chegou e já estava pronta, esperando-o, quando recebeu a ligação dele avisando-a que já estava no saguão. Havia colocado, de propósito, um vestido ligeiramente provocante, que tinha um grande decote nas costas, apesar de parecer discreto quando visto pela frente. Prendeu os cabelos, pois não queria passar uma imagem sexy demais. “Quantos preparativos, para depois querer evitá-lo. Será que não estou sendo ardilosa demais?”, foram seus últimos pensamentos antes de descer para a recepção do hotel, para encontrar-se com Gerry.
Lá estava ele, distraído, olhando o movimento do “lounge” do hotel. Estava impecável, num lindo terno escuro, provavelmente Armani ou Versace, sem gravata, com a camisa branca com os primeiros três botões abertos, que deixavam entrever seus pelos do peito. Os cabelos ligeiramente revoltos e a barba eternamente por fazer lhe davam um charme especial. Tinha uma elegância natural que chamava a atenção de todos.
Suspirou e dirigiu-se até onde ele estava. Quando ele virou-se, ao ouvi-la chamar seu nome, olhou-a com admiração. Sylvia, mais uma vez sentiu-se despida por aqueles olhos cor do mar, mas tentou abafar e disfarçar a onda de desejo que tomou conta de seu corpo. Beijaram-se como amigos e, pegando em seu braço, Gerry falou:
- Você está linda... Como sempre.
- E você caprichou também.
- È porque espero que esta noite seja muito especial... – lançou-lhe um olhar sedutor, mas logo em seguida, sorrindo, continuou – Afinal, não é sempre que se pode sair para jantar com uma grande amiga... É o que somos agora, não? Amigos? – e pegando em sua mão, deu-lhe um beijo no dorso, que a fez arrepiar-se – Vamos?
- Vamos... – respondeu, apoiando-se no braço que ele lhe oferecia.
Ela estranhou quando o carro estacionou na frente de um prédio de apartamentos. Desceram e um manobrista da portaria do edifício recebeu a chave para guardar o carro.
- Que lugar é este? Tem um restaurante aqui?
- O melhor, para o meu gosto – respondeu sorridente – É o meu apartamento. Eu o comprei há cinco anos e só há pouco tempo consegui terminar a reforma e mobiliá-lo. Gostaria que você o conhecesse – ele notando o olhar temeroso de Sylvia, continuou – Não se preocupe. Teremos um mordomo, um garçom e uma cozinheira para nos fazer companhia. Não estaremos sozinhos. Mas se você preferir ir a outro lugar, não há problema algum. Pegamos o carro e saímos novamente. Só vou lhe adiantar que a minha cozinheira é a melhor da cidade.
- Está bem, Gerry. Vou confiar em você. Vou conhecer o seu apartamento.
- Pode confiar. Não farei nada que você não queira...
Sylvia engoliu em seco e acompanhou-o até os elevadores. Subiram em silêncio. Ele tocou a campainha. Um senhor calvo, uniformizado abriu-lhes a porta, permitindo sua entrada.
- Boa noite, senhor. Boa noite, senhorita – cumprimentou-os com uma ligeira reverência com a cabeça.
Eles entraram e Gerry convidou-a a sentar-se no amplo sofá da sala.
- Quer ouvir alguma música em especial?
- Não, esta que está tocando está ótima – disse, referindo-se ao som do Sigur Rós que podia ser ouvido no ambiente.
- Você conhece esta banda?
- Sim. Adoro o tipo de música que eles tocam. Às vezes pode ser muito relaxante.
- Que bom. São a minha banda predileta – disse com satisfação – Quer tomar alguma coisa?
- Água seria ótimo.
Imediatamente o garçom, também devidamente uniformizado, foi acionado para atender ao pedido deles. Gerry a acompanhou na água.
Começaram a falar de músicas preferidas e a conversa passou a descontrair um pouco a tensão em que Sylvia se encontrava.
Após algo em torno de trinta minutos, foram convidados a sentarem-se na mesa redonda da sala de jantar, lindamente posta, com porcelanas Limoges, cálices de cristal, talheres de prata e um lindo arranjo floral no centro. Tudo estava perfeito. Só faltaram as velas. “Talvez ele tenha evitado este detalhe para não dar um tom romântico ao jantar. Muito perspicaz...”, pensou Sylvia, que estava gostando daquele jogo, afinal. Mais pontos iam sendo somados aos vários que ela estava atribuindo a Gerry.
A comida realmente estava deliciosa e Sylvia fez questão de agradecer pessoalmente a cozinheira ao final do jantar.
Foram oferecidos licores á Sylvia, que aceitou um pequeno cálice de cassis. Ela notou que durante todo este tempo Gerry não tomara nada de álcool. Mesmo o coquetel, que lhe serviram antes de irem para a mesa, era de frutas, não alcoólico.
- Está fazendo alguma dieta especial que o impede de beber? – perguntou despretensiosamente, enquanto ela saboreava o seu licor, já sentada no sofá.
- Digamos que seja uma dieta para o resto da vida.
- Como assim? – estava curiosa.
- No passado tive alguns problemas com álcool. Foi numa fase muito ruim de minha vida, que felizmente já superei. Não foi fácil, mas não pretendo voltar a ela.
- Você pode falar mais sobre isso, Gerry? – ela estava sinceramente interessada em saber sobre o passado daquele que mexia tanto com suas emoções – Se você não se importar, é claro.
- Não, não me importo. Acho que será bom contar para você este meu lado negro. Assim você poderá me conhecer melhor e decidir se quer continuar minha “amiga” ou não – falou demonstrando certa tristeza em seu pálido sorriso.
- Tenho certeza que isto vai servir para que eu o admire ainda mais – falou , animando-o.
A partir daí, a conversa tornou-se bastante íntima e Gerry abriu-se para ela como nunca havia feito para mulher alguma. E sentia-se muito bem com isso.
- E foi isso tudo que me trouxe até onde estou hoje – afirmou, ao acabar de revelar as agruras por que passara desde a sua adolescência e os detalhes de como vencera estas dificuldades até conseguir descobrir o que realmente queria da vida – Hoje em dia, amo o que faço. Isto me torna uma pessoa realizada. Não satisfeita, pois ainda tenho um caminho a trilhar e muitos planos a serem cumpridos. Mas agora sei aonde quero chegar e isto é essencial.
- Nem sei o que dizer, Gerry. Estou realmente admirada com tudo isto que você contou. Não imaginava que você tivesse passado por tudo isto. Realmente você é um vencedor.
- Ainda não. Ainda estou na briga, mas chego lá. Acho que a insatisfação nos leva muito mais longe do que pensar que já está tudo ganho e certo. A cada meta que alcanço, crio outras. Não se pode pensar pequeno, você não acha?
- Concordo plenamente com você – ela estava muito impressionada com tudo que acabara de ouvir.
- Bem, agora que você já conhece todos os meus segredos, já consegue decidir se vale à pena investir em mim e aceitar o meu convite, ou não? Ainda não é meia-noite. Quer mais um tempo?
- Não, Gerry. Acho que já me decidi.
Ela levantou-se de onde estava, colocou seu cálice vazio sobre uma das mesinhas da sala e foi na direção de Gerry, que estava sentado numa poltrona em frente ao sofá. Afagou-lhe os cabelos e disse, quase sussurrando:
- Eu vou com você. Vou para onde você quiser me levar... – disse, ainda com as mãos em sua cabeça, acarinhando seus cabelos.
Gerry, que fechara os olhos para sentir melhor o prazer daquele carinho, abriu-os, levantou-se e olhando-a com ternura, envolveu-a com os braços em torno de sua cintura. Puxando-a contra si, disse com a voz baixa e mais rouca que o normal:
- Prometo que não vai se arrepender, Sylvia.
Sentindo que o corpo dela deixava-se relaxar no seu abraço, e que seus lábios entreabriam-se para recebê-lo, Gerry beijou-a suavemente, começando pela testa, seguindo pela face, chegando ao queixo e, finalmente, encontrando os lábios carnudos e cálidos de Sylvia. Um beijo intenso e apaixonado, que há muito era esperado por ambos. Apesar de não mais haver necessidade de palavras, ela ouviu-o murmurando próximo a sua boca:
- Eu te amo... Como nunca amei ninguém.
Sylvia olhou-o, como que hipnotizada por aquelas palavras tão sonhadas, e segurando-o com as duas mãos em sua nuca, aproximou-o mais uma vez de seus lábios.
- Também te amo, Gerry.
Logo, envolvidos pelo desejo contido há tantos dias, beijaram-se ardorosamente, entre carícias e suspiros.
- Eu te quero, Gerry... Agora.
Ao ouvir o pedido de Sylvia, sorrindo, ergueu-a do chão, em seu colo e, a caminho do quarto, ainda disse:
- Como eu esperei para ouvir estas palavras, meu amor...
Fechada a porta da suíte, entregaram-se ao amor, ansiosos por tocarem-se e beijarem-se mais intensamente. Logo, as alças do vestido de Sylvia estavam caídas, deixando Gerry deslumbrar-se com os seios desnudos e perfeitos dela. Parecia que nunca haviam se conhecido intimamente antes. Viam-se com novos olhos e novos desejos. Não era mais uma aventura, mas um retorno ao lar. Suas mãos confundiam-se nas descobertas do prazer de tocar, acariciar e pressionar seus corpos. Os beijos molhados, as línguas ávidas pelos sabores do outro e a sensação de volúpia eram incontroláveis. A intimidade de Sylvia ansiava pela presença de Gerry, quando ele finalmente a penetrou, extraindo gemidos e gritos de prazer de ambos. O gozo chegou praticamente ao mesmo tempo para os dois, de forma completa e deliciosa, levando-os em alguns minutos das alturas ao Éden. Deixaram-se cair exaustos, um nos braços do outro, até normalizarem suas respirações.
Dois dias depois, partiram juntos rumo a Europa, iniciando pela Itália, onde tiveram momentos de puro romantismo, apesar de Gerry ter ido a trabalho. Porém, todos os seus momentos livres eram muito bem aproveitados. Em Londres, ela pode conhecer o terceiro apartamento de Gerry. Lá “inaugurou” com ele cada peça da casa.
Ao final, seis dias antes de sua volta a Los Angeles, Gerry lhe fez uma surpresa. Sem aviso prévio, pediu-lhe que preparasse sua mala para uma pequena viagem de quatro dias. Apesar de estranhar o seu pedido, deixou-se levar. Já confiava plenamente nele agora. Pegaram o automóvel alugado muito cedo pela manhã. Passaram o dia viajando. O coração de Sylvia bateu mais forte quando o carro cruzou a fronteira entre Inglaterra e Escócia.
- Já adivinhou onde estamos indo? – perguntou Gerry, com um sorriso malicioso.
- Estou vendo que você está com péssimas intenções em relação a mim.
- Pois eu já acho que elas não poderiam ser melhores.
Vencido o medo e o nervosismo por estar sendo levada para conhecer a mãe de Gerry, chegou a Glasgow, onde foi cercada de carinho e boas vindas por Sarah e seu marido.
- Parece que meu filho finalmente encontrou a pessoa certa para compartilhar sua vida – disse Sarah, na hora das despedidas.
Da Escócia, partiram para Londres, de onde retornaram a Los Angeles, certos de suas escolhas e com a intenção de ficarem juntos... Para sempre. Ou pelo menos, por muito tempo...
FIM
Volto em breve. Romance em construção... Se demorar muito, coloco um dos antigos só para não passarem o tempo em "brancas nuvens"...rsrsrs.
Beijos!
Rô, uma das histórias que eu mais amei ter lido. e foi muito bom encontrá-la aqui, de novo.
ResponderExcluirVocê é mesmo sensacional!
Bjim♥
Rose vais acabar com o meu stok de elogios!!!Tão lindo este romance Meu Deus q delicia!!!Os Sentimentos passa do ecrã para o meu coração e me fazem sonhar i rir!Muito obrigado amiga pela sua dedicação!Mil beijos
ResponderExcluirEstou mole mal consigo digitar, enquanto tento me recuperar vou postar um trechinho tudo haver: Pontos iam sendo somados aos vários q já estava atribuidos a Gerry!
ResponderExcluirPreciso dizer mais alguma coisa???
Bjkas
Rosane – a malvada... Mas o que é isso: “calça jeans surrada, a camisa branca aberta no peito... Os cabelos de reflexos prateados, que lhe conferiam um charme especial... Porque ele tinha de ser tão charmoso e sedutor” – ta querendo enfartar as pobres amigas tão sedentas desses olhinhos verdes sedutores e todo o resto... (hihihi).
ResponderExcluirMenina: “não farei nada que vc não queira...” o Gerry falar isso é um perigo!!! Afffffffffff.... tadinha da Sylvia ouvir isso... tem que ser muito forte mesmo... só de pensar na possibilidade as pernas já ficam tão molinhas... imagina diante de um homão desses!!! Socorro!!!
Mas depois da tempestade veio a grande recompensa... e o amor vence novamente!!!
Olha, amiga, qdo nós passarmos dessa para a melhor, vou pedir uma audiência com o Criador e vou implorar a ele que a deixe escrever o destino das pessoas, pq com sua habilidade em desfazer os desenganos e em proporcionar a crença no amor eterno, tenho certeza de que nossas vidas seriam muito mais produtivas e felizes...
Adorei reler essa sua fic, Rô, ela é sensacional!
Beijinhos