sábado, 27 de junho de 2009

Encontro Noturno - Parte III


O telefone tocou insistente e irritante sobre o criado mudo ao lado da cama.
- Alô? – perguntou com voz de recém acordada.
- Ainda dormindo, preguiçosa? O que aconteceu? Você não costuma ficar deitada até tão tarde.
- Alô? Paulo? Que horas são?
- Já são 13 horas!
- Já? Que horror!
- O que houve? Muita festa ontem à noite? – indagou com ironia, sabendo que Sophia não costumava sair à noite, principalmente quando não estava acompanhada.
- Eu perdi o sono e acabei dormindo muito tarde. Acho que foi isso... – falou ela, tentando recompor-se na cama e ficar mais alerta – Que bom que você me acordou. Tenho um monte de coisas para fazer.
- Liguei para avisar que consegui um vôo às 17 horas. Devo chegar aí em torno das 21. Tenho uma reunião no final da manhã de segunda. Assim não vai ficar tão cansativo.
Houve alguns segundos de silêncio do outro lado da linha. Sophia ficara pensando porque o motivo dele voltar mais cedo não era o de estar com saudades suas.
- Alô? Sophia? Você está aí? – perguntou, estranhando a falta de resposta da noiva.
- Sim... Estou aqui. Que bom, Paulo. Quer que o espere para jantar?
- Não, querida. Eu como alguma coisa no caminho – disse, pensando na sua falta de habilidades culinárias – Não quero lhe dar trabalho.
- Então está bem. Te espero em casa.
- Até mais, Sophia.
- Até mais, Paulo...
Ao desligar o telefone, ela ficou pensando o que teria acontecido com a relação deles. Estavam morando juntos há apenas seis meses e o relacionamento apresentava sinais de desgaste como se já estivessem casados há mais de 30 anos. Talvez estivesse exagerando, mas sentia-se um pouco magoada com a falta de expressão de afeto com que Paulo se apresentava ao telefone e preocupada a sua própria falta de necessidade de tê-lo perto de si...
Antes que resolvesse discutir a relação com Paulo naquela noite, levantou-se e foi ao banheiro para lavar-se.
Não tinha fome. Tomou um copo de suco de laranja e, quando preparava-se para sentar diante de seu PC para trabalhar um pouco, o telefone soou novamente. Seria Stefan?
- Alô? – atendeu meio insegura.
- Alô, sua sumida! Então é assim...O maridão viaja e nem para convidar a pobre amiga solteirona para dar uma saída – Carol estava indignada, mas mantendo o bom humor habitual – Ou você arranjou coisa melhor para fazer?
- Oi, Carol... Eu não lhe falei que tinha uma reunião com o senhor Paole?
- Stefan Paole, o pintor bonitão? Não, você não falou nada.
- Desculpe. Eu tinha quase certeza que havia lhe falado sobre ela.
- Não, a senhora não falou nada – Carol estava visivelmente chateada com Sophia, mas resolveu não discutir – E, como foi esta reunião?
- Correu tudo bem. Consegui expor as minhas idéias e fechamos o contrato. Amanhã ele assinará. Prometi mandar os papéis para a galeria... Carol, você não está irritada comigo, está? Realmente eu achei que havia contado para você sobre a reunião.
- Tudo bem, não estou aborrecida, não. Mas podíamos ter saído a noite juntas, não podíamos?
- A reunião foi ontem à noite.
- Sophia, estou indo para aí, agora. Não ouse sair de casa. Voce vai me contar esta história direitinho.
- Que história... – antes que Sophia terminasse a frase, Carol já havia desligado o telefone e estava a caminho de seu apartamento.
Em questão de 30 minutos, Carol desembarcava diante da porta de Sophia, com olhar escandalosamente curioso para saber sobre o encontro com Stefan.
- Qual o motivo para tanto desespero, Carol? Eu apenas disse que havia me reunido com nosso cliente no sábado à noite.
- Ah, tá bom! Me engana que eu gosto. Nestes últimos três anos como sócias eu nunca a vi marcar compromisso com clientes fora de horário comercial. Sei que você é xiita na questão de trabalho e que costuma ralar nos fins de semana. Mas encontros de negócios, jamais.
- Não entendi porque você está tão surpresa com isto. O senhor Paole é um homem muito exigente e, digamos, insuportavelmente mandão. Ele não me perguntou se eu poderia ou não fazer esta reunião neste dia. Ele apenas decidiu e ponto final. Como você mesma disse ouro dia, o cliente sempre tem razão. Por isso, não quis ir contra o seu pedido. Além do mais, como Paulo não estava aí, achei que não havia motivo para negar.
- Sei, sei... – Carol ainda não estava convencida de que o motivo havia sido apenas este – Bem, ao menos conseguiu informar-se sobre a situação civil deste “senhor”?
- Infelizmente não, Carol. Até tentei saber um pouco sobre a vida dele – respondeu honestamente – Mas ele é meio arredio neste assunto.
- Hum, adoro homens misteriosos.
- Cheguei a citar o seu nome durante a nossa conversa.
- Sério, amiga? – Carol arregalou os grandes olhos castanho claros – Como foi isso?
- Falei que achava que vocês se dariam muito bem por pensarem igual sobre determinados assuntos.
- Que assuntos?
- Ah... Não lembro mais o que ele disse e que me fez lembrar de você – respondeu, mentindo.
- Foi só mesmo negócios, então. Ele não te deu nenhuma cantada?
- Que é isso, Carol? ... Claro que não. Tenho a impressão que ele tem poucos amigos e estava precisando conversar. Só isso – Sophia decidiu manter silêncio a respeito do teor do restante da conversa entre ela e o romeno. Tampouco cogitou de contar o seu sonho daquele final de noite. Pela primeira vez, em muitos anos, guardava um segredo da amiga. Isto a fez sentir-se incomodada.
- Você já almoçou? – perguntou animadamente.
- Não, ainda não...Mas não estou com muita fome – respondeu Sophia.
- É só uma desculpa para sair. Vamos aproveitar que você também está solteira hoje e sair para fofocar um pouco.Vamos? – suplicou Caroline, piscando os olhos como se fosse uma menininha de seis anos de idade. Sophia não entendia como a amiga podia ser tão madura profissionalmente, mas às vezes ter um comportamento tão infantil, como naquele momento. Mas este era um dos motivos pelos quais ela gostava tanto de Carol. Com ela podia falar certas coisas e rir à vontade sem medo de sentir-se ridícula. Às vezes pensava se não era melhor ser assim do que uma sisuda estressada.
- A minha resposta deveria ser não, mas você sabe que eu não resisto quando você me pede deste jeito moleque. Só não quero voltar muito tarde, pois o Paulo volta hoje à noite.
- Ué? Ele não ia voltar só amanhã?
- Pois é... Ele acabou de me ligar e avisou que conseguiu um vôo mais cedo.
- Que bom... Ele deve estar com saudades...
- É... Acho que sim... – não queria dar o braço a torcer para a melhor amiga, que vivia criticando a frieza do relacionamento dos dois – Bom, vou me arrumar. Tenho certeza que você já armou todo um esquema de programação para fazermos esta tarde.
- Claro!
Enquanto Sophia trocava de roupa, Carol descrevia o que tinha em mente para fazer daquela uma tarde animada. Seria muito bom saírem juntas numa tarde de ócio. Desde que Paulo e Sophia tinham resolvido morar juntos, estes momentos entre as amigas tornaram-se raros.

Já passava das 19 horas quando Sophia voltou para casa. Tinha se divertido muito com Carol, indo ao cinema, parando para tomar um sorvete numa antiga sorveteria nos Jardins, jogando conversa fora e rindo muito. Como nos velhos tempos. Quase esquecera os últimos conflitos que andavam rondando seu coração. Carol chegou a tentar sondar um pouco mais a respeito de Stefan, mas logo viu que não conseguiria nada e desistiu de tocar no assunto, para alívio de Sophia.
Ao entrar no apartamento logo deparou-se com um lindo buque de rosas vermelhas sobre o aparador do hall de entrada.
- Paulo? – chamou por ele, imaginando como ele conseguira chegar tão cedo e se a separação destes dias havia resultado num certo romantismo – Paulo?
O sorriso foi desvanecendo-se ao perceber que não havia ninguém mais por ali, além dela mesma. Só então resolveu procurar por algum cartão no meio do ramalhete, intrigada em saber como as rosas tinham ido parar lá. Achou-o.

“ Pela adorável companhia de ontem a noite...
Stefan”

Não pode evitar um sorriso ao ver o nome do responsável pelas flores. Elas exalavam um perfume delicioso. Guardou o cartão para que Paulo não o visse ao chegar, mas não teve coragem de colocar o presente fora. O que não conseguia entender era como ele entrara em sua casa. Talvez o zelador tivesse uma cópia de sua chave e a usou para deixar a encomenda. Depois falaria com ele, para que isso não se repetisse mais.
Tomou um banho e ligou seu notebook para tentar trabalhar um pouco, enquanto Paulo não chegava. Ficou pensando se não deveria ligar para seu cliente para agradecer as rosas. Decidiu que não. Talvez fosse melhor ele pensar que aquilo não era importante para ela. O sonho daquela noite insistia em voltar a sua mente a todo instante.
O telefone tocou. Sem entender porque, pegou o fone, apreensiva.
- Recebeu meu agradecimento? – soou a voz rouca.
- Quem é? – tentou disfarçar.
- Não reconhece mais minha voz? Achei que eu era inesquecível – ela podia imaginar um sorriso ladino estampado nos lábios de Stefan.
- O senhor é muito presunçoso.
- “O senhor”? Achei que já havíamos pulado esta etapa.
- Desculpe. Claro que eu o reconheci. Pensei em ligar para agradecer-lhe as rosas, mas...
- Não precisa se explicar, Sophia. Eu não esperava que você me ligasse para agradecer nada. Eu estou ligando para ouvir o som da sua voz. Só isso. Até amanhã... – e desligou.
- Mas... – Não teve tempo de dizer-lhe que ela não o encontraria amanhã. Ele sabia disso...O que ele quis dizer com aquilo? Não tinham combinado nada.
Pensou em ligar de volta. Se ele ao menos tivesse algum email para deixar-lhe mensagens, ficaria melhor. Não precisaria ouvir aquela voz...Não se sentiria tão “invadida”. Mas ele insistia neste contato direto. O que ele estava querendo com ela? Até em seus sonhos ele a procurava. Entretanto, não podia deixar de negar que estava gostando daquele cerco.
“Acho que estou ficando louca e vendo coisas onde nada há”, pensava quase em voz alta, quando ouviu um barulho de chaves na porta da frente.
- Paulo? - Não tinha mais certeza se a volta do noivo era agradável ou não.
- Oi, querida! Tudo bem? – exclamou alegre, dirigindo-se até ela e dando-lhe uma beijoca de leve em sua boca. Prosseguiu até o quarto para deixar a maleta de viagem. Voltou para a sala, onde Sophia permanecia parada no mesmo lugar, pensando se este encontro não merecia um beijo mais carinhoso ou um abraço mais caloroso.
- O que houve? – perguntou ele, olhando-a parada ali, com um olhar perdido no vazio – Aconteceu alguma coisa?
- Não, não aconteceu nada de mais. Você jantou? - Ela tentava parecer o mais natural possível, apesar de estar imaginando como tinha sido o reencontro deles por ocasião de outras viagens a negócios de Paulo. Será que sempre tinha sido assim? E se foi, como ela nunca ficara chateada com isso? Porque só agora a incomodava a falta de carinho?
- Já jantei, sim. Eu havia dito ontem que jantaria no caminho, não? Acabei comendo um sanduíche, lá no aeroporto mesmo – falou, olhando-a de alto a baixo – Sophia, você está bem? Estou lhe achando muito estranha. Você já jantou? Está chateada porque não vim jantar com você?
- Não, querido – disse, sentindo-se a pessoa mais falsa do mundo já que, pelo menos naquele momento, o adjetivo citado não era exatamente o que ela achava mais apropriado para ser dito. Sentia-se um autômato – Não estou chateada, apenas um pouco cansada.
- E estas flores? Algum admirador secreto?
- Não. Eu as vi numa floricultura e resolvi comprar, para alegrar a decoração. Gostou?
- Gostei. Bem, eu vou tomar um banho, ver o meu e-mail e dormir. Quero acordar cedo para preparar-me para aquela reunião no final da manhã – falando isso, aproximou-se dela, depositou mais um beijo no seu rosto e voltou-se na direção de sua suíte.
Sophia ficou olhando para seu parceiro de tantos meses e, sem querer começou a compará-lo com Stefan. Perguntava-se o que a tinha atraído em Paulo. Ele era um homem atraente, sem dúvidas. As mulheres viviam lançando olhares sobre ele. Estranhamente ela nunca tivera ciúmes disso. Pensava que era uma mulher segura de si, por isso esta ausência de medo em perder seu homem. Ele também tinha várias outras qualidades. Era inteligente, trabalhador, educado...Enfim, o príncipe encantado de qualquer moçoila sonhadora. Talvez, por isso mesmo, um chato. Ele nunca a surpreendia, nunca fizera uma declaração mais calorosa de amor, nunca lhe mandara flores... Mas nada disso fora importante para ela. Porque só agora tudo que Carol lhe dizia sobre a falta de emoção em seu relacionamento tornava-se tão visível? Stefan. Era a única resposta que lhe ocorria. Como este estrangeiro conseguia o efeito de virar o seu mundo de cabeça para baixo? De tornar inverdades todas as suas verdades? O que estava acontecendo?
- Posso usar o seu laptop? Ele já está ligado e, pelo que estou vendo, você não o está usando.
A pergunta inesperada de Paulo tirou-a abruptamente de seus pensamentos. Ele já havia saído do banho. Com os cabelos molhados, vestindo seu pijama de calça curta e segurando sua escova de dente, escorava-se no umbral da porta da sala.
- Fique à vontade – respondeu.
Ele voltou ao banheiro para terminar de escovar os dentes e logo em seguida retornou à sala, onde se sentou no pequeno espaço reservado à web existente ali.
- Como foi lá em Salvador? E o tal fazendeiro? Deu tudo certo? – ela tentava mostrar interesse no trabalho dele.
- Você me conhece, não? Não poderia ter sido melhor. Mais dois clientes importantes. Como sempre digo, dinheiro chama dinheiro – ele parecia realmente satisfeito com sua atuação – E por aqui? Como vai lá na agência? Clientes novos? Alguém importante?
Ela notou uma certa ironia na sua pergunta. Às vezes ela sentia um certo desprezo dele em relação aos seus contratantes. Hoje isto parecia mais evidente, mas pensou que não valia discutir este tipo de coisa, naquele momento.
- Tudo ótimo. Estamos com um novo cliente.
- Que bom – exclamou, sem tirar os olhos da tela do notebook – Alguém conhecido?
- Eu diria que ele é mais conhecido no meio artístico.
- Ah! Algum ator querendo aparecer mais na mídia?
- Não exatamente este meio artístico. Ele é um pintor romeno que quer divulgar seu trabalho e sua nova galeria de arte.
- Interessante... – disse automaticamente, absorto que estava em meio a sua correspondência eletrônica.
- Bem, acho que vou dormir cedo também – falou Sophia, levantando-se do sofá onde se deixara ficar mergulhada, analisando sua atual situação amorosa.
Quando passou perto de Paulo, sentiu a mão dele em seu braço e ouviu:
- Estou com saudade. Me espere acordada. Logo já termino isto aqui – falou, com um olhar adocicado, em tom mais baixo, a frase código que significava que ele a queria sexualmente naquela noite.
Ela apenas sorriu de volta e encaminhou-se para o quarto.
Já estava deitando-se, quando o telefone chamou mais uma vez.
- Sophia!
- Oi, Carol! O que houve?
- Não podia deixar de te ligar para contar o que me aconteceu, menina.
- O que foi? Conte! Coisa boa, eu espero.
- Maravilhosa. Conheci o homem da minha vida.
- Como assim? Você acabou de passar a tarde comigo. Como conseguiu conhecer “o homem da sua vida” em tão pouco tempo e exatamente aonde?
- Lembra que você não quis que eu te desse uma carona até em casa? Pois é. Fui buscar o carro no estacionamento perto da sorveteria e foi aí que eu o conheci.
- No estacionamento?
- Eu fui dar a ré para sair e quase o atropelei. Ele estava indo buscar o seu Porsche e passou exatamente atrás de mim no momento da ré. Eu não o tinha visto e quase morri de susto. Desci do carro pensando que teria que levá-lo direto para o hospital, mas ele estava ali, parado, sorrindo. Ai...e que sorriso, Sophia. Pedi mil desculpas. Ele disse que eu não precisava me preocupar, pois nada de mal havia acontecido. O pior é que eu jurava ter sentido um tremendo baque. Mas ele estava ali, sem uma marca de traumatismo. Um milagre! Ainda bem. Como ele notou o meu nervosismo, convidou-me para beber alguma coisa. Fomos até o barzinho diante do estacionamento e ficamos conversando por mais de uma hora. Foi demais. Combinamos de nos ver esta semana.
- Mas, Carol, você não acha muito precoce este entusiasmo todo? Você mal o conhece.
- Amor à primeira vista, Sophia! Já ouviu falar disto? E tenho certeza que ele também sentiu o mesmo que eu.
- Vá com calma, garota. Quem é ele, o que faz...?
- Está bem. A “ficha criminal” é a seguinte: Ele se chama Dimitri, é grego, de Santorini, tem família aqui em São Paulo, a quem veio visitar. Parece que tem uma empresa de importação e exportação em sua terra e, apesar de ter dinheiro de família, diz que gosta muito de seu trabalho. Ele é lindo e muito simpático - Carol estava nas nuvens, sem dúvida alguma.
- Que bom, Carol. Fico realmente feliz por você. Mas vai com calma, amiga. Você mal o conhece. De qualquer forma, estarei torcendo para que tudo dê certo, querida. Você sabe que só lhe desejo o melhor e toda a felicidade do mundo. Mantenha-me informada, viu?
- Pode deixar. Você vai me dar razão quando conhecê-lo.
- Tenho certeza disso, Carol – disse, tentando não demonstrar a sua falta de convicção na afirmação.
- E o Paulo já chegou?
- Sim, está aqui – ele acabara de aparecer no quarto – Está mandando um beijo prá você.
- Duvido que ele tenha feito isso. Eu sei que ele não vai com a minha cara. De qualquer jeito diz a ele que mando um abraço.
- Pode deixar que eu mando. Bons sonhos, Carol.
- Com certeza vou ter, Sophia. Beijo!
- Boa noite. Beijo!
- O que aconteceu com a sua amiguinha? – perguntou Paulo, em tom sarcástico.
- Pelo jeito ela conheceu alguém interessante. Queria me contar.
- Pobre do sujeito...
- Não sei porque este seu comentário. A Carol é uma ótima pessoa, bonita, simpática e de bom coração. E além de tudo, talentosa.
- Está bem, Sophia. Não precisa ficar tão furiosa comigo. Não quis ofender ninguém.
- Não sei por que você tem esta antipatia em relação a ela.
- Não é antipatia... Acho que é ciúme de você.
- Não acredito nisso. Você nunca demonstrou ciúmes de mim com outros homens. Porque teria ciúmes dela?
- Ah, deixa isso prá lá. Vamos aproveitar que ainda é cedo e... – foi aproximando-se de Sophia, deitando-se ao seu lado e envolvendo-a com os braços.
- Olha, Paulo. Não estou muito a fim de nada hoje.
- Por causa deste meu comentário sobre a Caroline? Por favor... Passamos dias sem nos ver e você não quer nada comigo?
- Eu lhe disse que estava meio cansada. Dormi muito mal a noite passada – enquanto dizia isto, ia se ajeitando sob os lençóis e virando de costas para ele, tentando livrar-se do seu abraço.
- Vocês, mulheres, sempre com alguma desculpa...Por acaso está acontecendo alguma coisa que eu não sei? – perguntou desconfiado.
- Não, nada. É só uma indisposição. Vai ser bom dormir mais cedo. Amanhã vou estar novinha em folha.
- Espero... – terminou de falar e virou-se para o outro lado da cama, enquanto Sophia pensava em como tinha sido estranhamente fácil dispensá-lo. Normalmente ele insistiria um pouco mais.


**

O despertador de seu celular acordou-a rapidamente. Paulo ainda dormia. Tomou uma chuveirada rápida, só para despertar, arrumou-se e foi preparar o café. Paulo surgiu na cozinha, com os olhos inchados e o cabelo desgrenhado.
- Bom dia. Pelo que vejo, parece ter-se recuperado bem do mal estar da noite passada.
- Bom dia. Tem razão. Estou me sentindo muito bem. Acabei de fazer café. Vai tomar agora?
- Não. Vou trabalhar um pouco até a hora da reunião. Tomarei o café depois. Não se preocupe comigo.
- Bem, vou andando. Estou cheia de trabalho me aguardando na agência. Encontramos-nos à noite, então?
- Sim. Vai querer sair para jantar?
- Não se preocupe. Comprei uns congelados ótimos de comida caseira. Não serei eu a cozinheira hoje.
- Não falei por isso – ele tentava disfarçar seus motivos.
- Eu sei...Eu sei – disse sorrindo, depositando um beijo rápido nos lábios dele e saindo rapidamente em direção à sala, onde pegou sua bolsa e saiu para a rua.
Já estava chegando a sua sala, quando o celular tocou dentro da bolsa. O visor mostrava que o chamado vinha do seu próprio aparelho. Ela havia pegado por engano o de Paulo.
- Alô, Sophia? Você pegou o celular errado de novo.
- Não tenho culpa se compramos o mesmo modelo.
- Vou passar aí para pegá-lo agora.
- Porque agora? Deixa para buscá-lo quando você tiver que ir a tal reunião.
- Não. Eu preciso dele para dar alguns telefonemas cujos números estão gravados na agenda.
- Não quer que eu os leia para você?
- Não! – ela ficou surpresa com a negativa explosiva de Paulo – Não precisa se preocupar em procurar nada aí. Deixe que eu o pego daqui a pouco.
- Está bem. Eu te espero. Traga o meu, por favor.
- Claro! Tchau!
- Oi! O que houve? – perguntou Caroline, que chegara enquanto Sophia ainda estava ao telefone.
- Oi, Carol! Era o Paulo. Eu troquei os celulares novamente. Ele vai passar aqui para destrocarmos.
- Algum outro problema? Você fez uma cara estranha antes de desligar.
- Nada... Bobagem minha....
- Me deixa ver este celular. Você nunca fica curiosa em ver os telefonemas que ele recebeu ou digitou? Tem mulheres que vivem fazendo isso para controlar os maridos.
- Você sabe que eu não sou de fazer estas coisas – falou, observando a indiscrição da amiga ao manipular o celular de Paulo – Acho que ele não vai gostar nem um pouco se souber da sua bisbilhotice.
Carol fez uma cara ruim, repentinamente. Alguns poucos segundos depois devolveu o aparelho para Sophia.
- O que foi? – perguntou curiosa.
- Não foi nada. Acho que você tem razão. Eu não tenho nada que ficar bisbilhotando o celular dos outros... Vamos almoçar juntas? - inquiriu alegremente.
- Vamos sim. Estou querendo saber mais sobre o seu gato grego.
Carol lhe lançou um beijo no ar, despedindo-se.
Sophia ainda estava desconfiada da atitude da amiga. Não costumava fazer aquele tipo de coisa, mas achou que não faria mal algum se desse uma olhada nas ligações de Paulo. Para isso, buscou os telefonemas recebidos e enviados, sem achar nada de interessante. Ao menos os números não eram conhecidos. De repente, lembrou que Paulo tinha tirado algumas fotos deles no último fim de semana que passaram juntos e quis dar uma olhada. Foi aí que entendeu o olhar de susto da amiga, minutos antes. Lá estavam eles. Na beira da praia, entre coqueiros, abraçados, ela fazendo poses para a câmera, num biquíni minúsculo... Paulo e uma linda morena, de dentes branquíssimos, cabelos curtos e corpo escultural, que sorria o tempo todo, ao menos para as fotos. Aquele tinha sido o motivo da demora na Bahia. Estava chocada com a visão daquelas imagens. Nunca pensou que Paulo fosse capaz de uma traição deste tipo, principalmente considerando o pouco tempo que estavam juntos. Seis meses! E já a estava traindo com outra mulher. Sua preocupação agora era que atitude tomar diante destes fatos. Logo ele estaria ali, diante dela. Agora entendia a ansiedade dele em ter o celular de volta. De qualquer jeito agora não seria a hora nem o local para conversar com ele sobre isso. Esta discussão teria de esperar. Talvez fosse bom conversar com Carol na hora do almoço a respeito disso. Ela foi muito discreta ao ver as fotos e não falar nada. Certamente não queria vê-la sofrendo.
Não se passaram mais que 20 minutos e Paulo chegou à agência bastante agitado.
- Pronto! Aqui está o seu celular, Sophia.
- Acho que vou ter de comprar outro modelo para não confundir mais com o seu.
- É de se pensar nisso mesmo. Bom, troca feita, vou-me embora.
Deu-lhe um beijinho na face e saiu. Carol o observava de longe, quando cruzou seu olhar com o de Sophia, desviando logo em seguida, para não denunciar a raiva que estava sentindo do noivo da melhor amiga.

- E então, você esqueceu de mandar o contrato para o nosso cliente da galeria de arte? – perguntou Carol, sentada no pequeno bistrô que escolhera para almoçar com Sophia.
- Claro que não. Resolvi que o levarei pessoalmente após o almoço.
- Qual o motivo desta mudança de conduta, dona Sophia? – Carol pareceu animar-se com o andamento da conversa.
- Ainda não tenho certeza, mas pretendo estudar melhor o lugar para ter novas idéias para a campanha – respondeu, sem encarar a amiga.
- Sophia... O que você está me escondendo?
- Não estou escondendo nada. Eu é que tenho de perguntar por que você me escondeu o que viu no celular do Paulo hoje cedo?
- Você está querendo mudar de assunto...
- Não... Realmente não. Acho que o assunto é o mesmo.
- Eu achei que seria melhor você descobrir por si mesma. Poderia pensar que era intriga minha, já que nunca gostei muito dele.
- Aliás, você nunca me contou o porquê desta antipatia mútua.
- Acho que não vale a pena falar sobre isso. Eu estou muito triste por você, Sophia. Eu torcia muito para que vocês se dessem bem e fossem felizes. Confesso que senti inveja quando vocês resolveram morar juntos. Rezei para que ele não fosse um canalha como os outros.
- Por favor, me conte o que aconteceu para você não gostar dele.
- Já faz muito tempo...não vale a pena relembrar...
- Conte! – exigiu Sophia.
- Está bem, vou contar, se você prometer não tocar neste assunto com ele.
- Prometo. Conte!
- Cerca de dois meses depois que vocês começaram a se encontrar, eu o encontrei num barzinho, num happy hour com alguns amigos. Eu estava esperando o Raul, aquele cara simpático da gráfica, com que saí durante alguns meses, lembra? Pois é. Enquanto eu o esperava, o Paulo saiu da sua mesa e veio até mim e sentou ao meu lado. Estranhei muito, pois ele nunca foi muito simpático comigo. Aí percebi o intuito dele. Começou a me cantar descaradamente. Fiquei indignada e perguntei se vocês haviam brigado. Ele me pediu discrição e continuou a cantada. Como viu que eu não queria nada com ele, me chamou de estúpida e voltou para os amigos. Só não fui até ele e joguei um copo de cerveja na sua cara pois o Raul chegou e pediu que eu me acalmasse, depois que contei a ele o que tinha acontecido.
- Até o Raul ficou sabendo disso? – Sophia estava boquiaberta com o que estava ouvindo.
- Depois disso, ele nunca mais falou comigo, a não ser para cumprimentar e dar até logo.
- Safado! Como eu pude ser tão idiota?
- Eu nunca mais soube ou vi alguma coisa que o desabonasse. Até hoje. Por isso fiquei quieta. Tinha esperança que a minha negativa o tivesse feito criar juízo e perceber a mulher maravilhosa que você era. As pessoas podem mudar...
- Parece que não foi o que aconteceu.
- Sinto muito mesmo, querida.
- Pois eu vou dizer uma coisa, Carol. Surpreendentemente, eu não estou tão chateada assim.
Pelo contrário. Começo a me sentir aliviada.
- Como assim? O que a senhora anda escondendo de mim? Tenho te achado muito misteriosa desde que você foi ao encontro do senhor Paole. É ele o motivo para o tal alívio?
- Ainda não sei bem o que está acontecendo. Quando souber, pode ter certeza que vou contar a você. É muito cedo para tirar alguma conclusão...
- Nossa, que mistério...
- O que eu quero saber agora é sobre o seu príncipe encantado – Sophia tentou inverter o foco da atenção para a amiga e manter seus próprios sentimentos resguardados.
- Como te falei ontem, o Dimitri é um belo homem. De poucas palavras, mas muito envolvente. Ele me ligou ontem, depois que falei com você. Combinamos de nos encontrar amanhã à noite.
- Você tem certeza de que não há perigo, Carol? Não sei por que, mas me preocupo com este tipo de “amor à primeira vista”. Você não sabe quase nada sobre ele...
- Sophia... Já sou bem grandinha para saber me cuidar. Não se preocupe.
- Então, vamos combinar uma coisa. Você me liga de onde vocês estiverem para me dar o endereço e dizer se está tudo bem. Quando voltar para casa, idem.
- Está parecendo a minha mãe.
- Faz de conta que sim. Por favor, me mantenha informada.
- Só se você me prometer contar tudo a respeito do Paole.
- Carol! Ainda sou noiva do Paulo e não estou em condições de manter este tipo de relação com outra pessoa. Pelo menos por enquanto.
- Pois eu acho que você deveria pagar a ele na mesma moeda.
- Você sabe que não sou assim. Vou ter uma conversa com ele e resolver o que fazer. Não é tão simples assim romper um relacionamento tão íntimo.
Continuaram conversando por mais alguns minutos sobre a fragilidade das relações amorosas atuais e de como os homens eram mais instáveis que as mulheres. Depois acabaram discutindo sobre uma ou outra campanha, sobre alguns membros de sua equipe e outros assuntos profissionais. Com isso o almoço prolongou-se por mais de duas horas.
Voltaram ao escritório. Depois de dar algumas orientações sobre as campanhas em andamento e resolver alguns problemas pendentes junto com sua sócia, pegou os contratos da Galeria Paole. Pensou em ligar antes para Stefan, mas lembrou de que ele insinuara o seu reencontro hoje. Não o deixaria contar vantagem antes da hora.


Chegou à galeria em torno de 16 horas. A porta estava entreaberta. Para sua surpresa uma bonita loura, de olhos azuis, vestida elegante e discretamente, veio ao seu encontro para recepcioná-la. Apresentou-se como a nova recepcionista da Galeria Paole. Parece que Stefan resolvera seguir o seu conselho.
- O senhor Paole está? – perguntou, procurando vagamente pela presença dele.
- Não... Ele esteve aqui pela manhã e saiu logo em seguida, dizendo que ia para o seu atelier, em casa, pintar. Ficou de voltar mais tarde, mas não disse o horário. A senhorita tinha hora marcada com ele?
- Não... Não... – Sophia sentiu-se decepcionada com aquela ausência. Talvez devesse ter ligado para combinar. Havia sido muito infantil achando que o surpreenderia com sua presença. Talvez ela não fosse tão importante assim para ele – Não marquei hora...
- Que tal aguardar um pouco, tomar um cafezinho... Ele disse que voltaria.
- Não sei, não... Olhe, eu vou deixar estes papéis com você para que ele assine. São os contratos da agência publicitária que prometi a ele de trazer hoje. Não há pressa. Assim que estiverem assinados, mando buscar.
Mal terminou a frase, notou que a moça olhou na direção do escritório de Stefan com expressão assustada. Logo pode ouvir uma voz masculina, grave e com um sotaque estranho.
- Pode deixar, Melina. Eu faço companhia para a senhorita Sophia.
Sophia virou-se, tentando lembrar se havia dito seu nome para a recepcionista. Achava que não. Foi então que se deparou com um homem de boa aparência, pele clara, cabelos castanhos claros, revoltos, um pouco mais baixo que Stefan, de olhar firme e tão intenso quanto seu cliente. Melina retirou-se imediatamente. Parecia ter medo dele.
- Deixe que eu me apresente – dizendo isso, aproximou-se dela vagarosamente – Meu nome é Dimitri. Sou irmão, isto é, meio-irmão de Stefan. Não creio que ele tenha falado de mim.
- Não... De qualquer forma, muito prazer, senhor... – falou, estendendo sua mão para cumprimentá-lo e pensando na coincidência do nome.
Ele pegou em sua mão, segurando-a com força, demoradamente. “Mais um Paole charmoso”, pensou Sophia.
- Meu nome é Dimitri Vrykolaka – continuou sua apresentação, dando ênfase ao seu sobrenome, diferente de Paole.
- Bem, senhor Vr...Dimitri. Foi um prazer conhecê-lo, mas como eu estava falando para a ...Melina? ... – olhou para a mesa onde ficava a recepcionista – Eu já estava de saída.
Ele aproximou-se mais rapidamente dela, barrando-lhe a passagem para a saída.
- O que é isso? Por favor, fique. Gostaria de conversar mais com você.
Sophia começou a ficar angustiada com o modo como Dimitri a olhava e a cercava.
- Realmente, eu tenho de ir.
- Venha até o gabinete. Lá poderemos conversar melhor a respeito de nós, Stefan e ... Caroline.
- Então é você?
- Dimitri! – a voz de Stefan se fez ouvir como uma trovoada ecoando pelo espaço amplo da galeria.
- Ora, se não é o meu irmão mais velho! Estava tentando fazer companhia para a senhorita Sophia enquanto o aguardávamos – continuava ele, com expressão zombeteira.
- Muito obrigada, mas já estou aqui e gostaria que você nos deixasse a sós...Por favor – disse Stefan, autoritariamente.
Dimitri olhou Sophia de alto a baixo e disse:
- Como desejar, irmãozinho. Você tem muito bom gosto.
Stefan lançou-lhe um olhar cortante, cheio de censura, passou o braço em torno dos ombros de Sophia e, levando-a para o gabinete nos fundos da galeria, ameaçou em voz alta:
- Mais tarde conversaremos, Dimitri.
- Perdoe meu irmão. Às vezes ele pode ser bem desagradável.
- Estou surpresa com a coincidência...
- Coincidência? – Stefan ficou curioso – Que tipo de coincidência?
- O seu irmão conheceu a minha sócia, Caroline, ontem e parece que ele a impressionou muito bem. Porém, o modo como ele me tratou me deixou preocupada por ela.
A expressão de Stefan ficou perturbada , mas continuou falando com voz segura:
- Não se preocupe. O problema dele é comigo. Coisas de família. Eu vou falar com ele. Tenho certeza que ele não fará mal a sua amiga.
- Espero que não. Ela é uma pessoa maravilhosa e não merece ser magoada.
Após alguns segundos de silêncio, Stefan o rompeu indagando:
- Trouxe os contratos? Fico feliz por ter sido você a trazê-los e não um funcionário qualquer.
- Parece que você já contava com isso ao despedir-se de mim ontem à noite.
- Talvez... Ou talvez eu tenha desejado tanto revê-la que meus pensamentos a tocaram de alguma forma fazendo-a vir até aqui.
- Stefan, eu queria lhe pedir para que parasse de me falar estas coisas. Você sabe que sou noiva, praticamente casada. Fica difícil eu trabalhar com alguém que fica tentando me seduzir o tempo todo.
- Pois para mim fica difícil ficar perto de você e não sentir o que sinto. Sei que você também não é indiferente a mim – ele a olhava dentro de seus olhos, quando sua mão tocou a dela.
Ela não fugiu daquele toque, assim como não podia fugir daquele olhar.
- Stefan...
- Não precisa falar nada. Só quero poder continuar a vê-la.
Sophia não conseguia mais esconder seu desejo pelo homem a sua frente.
- Eu preciso falar, sim. Desde que o conheci tudo que eu já considerava como certo na minha vida virou de cabeça para baixo. Tenho pensado muito em você. Estou passando por uma situação muito difícil no meu noivado e vou ter de resolver isto antes de pensar em outro relacionamento. Espero que você me entenda e tenha paciência.
Ele segurou seu queixo com extrema delicadeza, fazendo-a olhar diretamente em seus verdes olhos, e disse com voz firme e expressão muito séria:
- Tenho toda a paciência do mundo. O tempo para mim não é problema.
Aproximou-se dela, lentamente aproximando seus lábios, terminando em um beijo cálido e apaixonado, que a fez estremecer, tal e qual em seus sonhos.
Quando finalmente ele se afastou, Sophia recompôs-se e, com a fala quase sumida, conseguiu articular:
- Tenho que ir, Stefan – disse, sentindo os olhos ficarem marejados.
Ele apenas concordou com a cabeça e a deixou ir.
No caminho para a rua cruzou pela figura imponente de Dimitri, que a olhava pensativo.


Ficou andando sem rumo pelas ruas da cidade, com emoções confusas, magoada pela traição de Paulo, com medo daquele desejo emergente e intenso por um quase desconhecido... Stefan... Não notou os pingos de chuva de final de tarde de verão. Logo a precipitação aumentou, obrigando-a a entrar numa galeria. Enquanto esperava a tormenta passar, seu olhar perdeu-se no interior do pequeno shopping até que parou diante de uma cena que a deixou sobressaltada. Jamais imaginou que o pegaria numa traição duas vezes num só dia. Parece que o destino lançava suas cartas para que ela não tivesse dúvidas de qual seriam seus próximos passos. Em frente à caixa registradora de uma cafeteria, provavelmente aguardando seu troco, encontrava-se Paulo, abraçado com a mulher da foto que vira em seu celular pela manhã. Beijava-a apaixonadamente, como nunca a beijara antes. Logo ele que sempre falou mal das pessoas que faziam este tipo de demonstração pública. Estava sem reação, quando percebeu que Paulo a tinha visto e que falava alguma coisa para a acompanhante. Logo ele se pôs a caminhar em sua direção. Ao se dar conta disso, Sophia começou a correr desesperadamente para a rua, onde o temporal continuava intenso. Não queria falar com ele naquelas condições. Ainda olhou para trás ao ouvir seu nome à distância, mas não viu ninguém. Provavelmente ele desistira de segui-la. As grossas gotas de chuva misturavam-se às suas lágrimas, impedindo sua perfeita visão. Sentia-se humilhada e enganada. Não havia mais só uma suspeita. Já havia feito seu julgamento e o veredicto. Foi neste momento que aconteceu a freada brusca de um carro. Sophia foi jogada pelo impacto no meio da rua. Sua visão escureceu e não viu mais nada.



Estão gostando? A parte final deste pequeno romance vai ser colocada na segunda-feira. Podem aguentar até lá?...rsrsrs... Beijos!!

2 comentários:

  1. Jézuis bloqueia a leitura da minha mente pecadora...nunca achei o jardins tão atrativo antes...rss
    Bjkas

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  2. Credo, ninguém merece um namorado como o Paulo, do que adiante ter ditas qualidades se, ao lado dela, nenhuma se fazia romanticamente notar.
    Olha só como são as coisas: o Paulo diz que ama a Sophia e até deve sentir algo por ela, já que resolveram morar juntos, mas ao invés de estar vivenciando aquela fase gostosa do início de uma relação mais íntima, faz o contrário, afasta-se e inicia novos jogos amorosos. Dá pra entender a cabeça de certos homens? Impossível!
    Agora, é complicado isso que se passou com a Carol. Se fosse comigo, não contaria no mesmo instante à Sophia com receio dela não acreditar, pensar que fosse picuinha, mas acho que daria um jeito de fazer algo, tipo uma gravação, para provar as más intenções do cafajeste, até porque não agüentaria ficar olhando a minha amiga desperdiçar preciosos dias ao lado de um canalha desses.
    Nossa, esse foi um dia cheio para ela, descobre a safadeza do Paulo e ainda fica sabendo que Dimitri é o irmão do Stefan, ela deve ter ficado tonta com tais revelações bombásticas, não é para menos. Mas a delicadeza do Stefan foi genial, adorei!
    Beijinhos

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