Ouviu seu nome. A voz era sua conhecida. A voz rouca e inebriante de Stefan. Sentiu um calor envolvendo-a. Ela estava de pé, num lugar desconhecido. Olhou para cima e viu a grande lua cheia rodeada por estrelas sobre sua cabeça. Parecia estar em um grande salão coberto por um telhado de vidro que lhe desvendava aquela visão belíssima da noite. No momento seguinte, sentiu que Stefan aproximava-se dela, sussurrando o seu nome, muito próximo ao seu ouvido. Podia sentir a respiração dele roçando em seus cabelos. Sua presença aquecia sua alma, acalmava sua mente, fazendo-a esquecer de todos os momentos ruins que vivera nas últimas horas. Uma onda de desejo começava a crescer dentro dela, rompendo a timidez e a racionalidade. As mãos fortes passaram a acariciar-lhe os seios, excitando seus mamilos. Só então se deu conta. Estava nua. Seria este mais um daqueles sonhos noturnos que andava tendo? As mãos continuavam seu trabalho de reconhecimento pelo corpo de Sophia. Ela podia sentir o corpo dele atrás de si, provocando sensações de prazer inigualáveis, nunca antes sentidas. Pode perceber, então, que ele também se encontrava desprovido de qualquer peça de roupa. Ela desejava ver o corpo daquele homem que tanto a excitava e para isso virou-se lentamente, todos seus músculos vibrando com intensidade . Lá estava ele. Forte, viril, com seu rosto másculo, de queixo partido e aqueles olhos verdes claros e brilhantes que a fascinavam. Era uma visão de perder o fôlego. Ele também parecia muito excitado. Passou a abraçá-la com mais intensidade, apertando-a contra si, agarrando suas nádegas. Os lábios trêmulos deslizavam em sua face, suas orelhas, seu pescoço... Por um momento, ele parou de beijá-la, tentando esconder o rosto.
- Não pare, Stefan. Por favor ... Eu te quero agora. Quero ser sua... Para sempre.
Foi então que ele a ergueu nos braços e a levou para um lugar, que parecia uma chaise long, onde a deitou com suavidade. Naturalmente, ela abriu as pernas para acolhê-lo. Sentiu-o penetrar em suas entranhas vigorosamente, com urgência, enquanto as mãos acariciavam seu corpo com sofreguidão, e os lábios procuravam a tênue curvatura de seu pescoço, provocando mais sensações orgásticas. De olhos fechados, gemendo alto, repentinamente sentiu uma forte dor no colo, como se ferro em brasa a perfurasse, para logo em seguida uma onda de relaxamento tomasse conta de tudo, sem aperceber-se do fio de líquido quente escorrendo por sua nuca. Ainda pode ouvi-lo murmurando:
- Agora você será minha para sempre...
***
Sentia as pálpebras pesadas e certo desconforto . Lembrou do sonho. Parecera tão real... Com muito esforço conseguiu abrir os olhos. Estava num quarto, envolto em penumbra. Aos poucos foi conseguindo definir alguns detalhes do local. Estava deitada em uma cama enorme, coberta por um dossel de madeira escura, de onde desciam cortinas de veludo vermelho. As janelas aparentemente estavam fechadas e cobertas por um acortinado semelhante ao da cama. Parecia um daqueles dormitórios antigos, que podiam ser vistos em filmes do século XIX. Havia um perfume conhecido seu no ar. Sua cabeça parecia pesar uma tonelada. Mal notou quando uma figura masculina levantou-se de uma poltrona que estava colocada discretamente ao lado de seu leito. Assustou-se ao sentir aquela presença, mas logo seu temor esvaneceu-se ao ver o rosto conhecido de Stefan, que a mirava com ar preocupado e circunspecto.
- Como está se sentindo? – perguntou em voz baixa.
- Stefan... Onde eu estou? O que aconteceu? Que lugar é este?
- Calma... Não se agite. Você precisa se recuperar do trauma que sofreu.
- Como assim? Que trauma? Não lembro de nada.
- Não lembra do acidente?
- Acidente? – Ela tentava sondar sua mente para descobrir sobre o que ele estava falando, mas seus pensamentos estavam confusos.
Ele sentou-se ao seu lado na cama, colocando a mão sobre sua testa e acariciando seus cabelos, olhando-a com ternura.
- Você foi atropelada há três dias.
- O quê?
- Foi depois que você saiu da galeria.
Aos poucos algumas imagens foram voltando à memória de Sophia.
- Sim...acho que lembro. Eu fui levar os contratos para você assinar e... Conheci o seu irmão e saí. Estava chovendo e... – ela acabou por lembrar-se da cena que a deixara abalada no centro comercial. Seu rosto anuviou-se.
- Você saiu correndo e atravessou a rua sem ver que o sinal para pedestres estava fechado.
- Sim... Lembro de ter sentido um baque e depois ...mais nada.
- Por sorte, Dimitri resolveu segui-la.
- Dimitri?
- Sim. Ele ficou preocupado com a má impressão que provocou em você e queria conversar para desfazer o mal entendido, por causa de Caroline. Infelizmente ele não chegou a tempo de evitar o acidente. Ele só conseguiu trazê-la para cá para tentar salvá-la do pior.
- Pior? Mas eu me sinto bem, apesar de certa dor de cabeça e alguma dor no corpo. Afinal, o carro deve ter me pego só de raspão.
Enquanto ela falava, tentava mexer os braços e as pernas. Parecia que tudo estava no lugar.
- Fico feliz que você esteja se sentindo tão bem assim.
- Stefan, estou ficando assustada. Afinal, que lugar é este e porque estou aqui.
_ Você está na minha casa.
- Por quê? Se o acidente não foi grave , eu deveria estar em minha casa.
- Você ficou bastante ferida e veio para cá para eu poder tratá-la da melhor maneira possível.
- Como assim? Que eu saiba você é pintor, arquiteto... Também é médico? – ela não sabia o que pensar daquela situação. Tentou levantar-se da cama e reparou que estava sem suas roupas. Olhou para ele envergonhada e viu que ele sorria de seu constrangimento.
- Stefan, eu quero saber o que está acontecendo. Preciso de minhas roupas. Preciso avisar a Caroline, o...
- Não se preocupe. Já está tudo resolvido e todos avisados. Até aquele canalha do seu noivo. Aliás, ele deve estar amargamente arrependido de ter magoado você – Enquanto falava com ela, levantou-se e foi até um armário de onde retirou um robe de seda preto com um P bordado em fio vermelho para oferecer a ela. Virou-se de costas, ainda sorrindo, e permitiu que ela o colocasse.
- Stefan, por favor...
- Por favor, vista-o – falou com carinhosa autoridade – Você não está com fome?
- Não, não estou.
Sophia levantou-se e conseguiu vestir o robe sem grandes dificuldades. Sentiu uma leve tontura.
- Então, venha comigo. Quero mostrar-lhe o meu atelier. Tudo vai ser explicado ao seu tempo. Está pronta?
- Sim. Pode se virar...
Ele virou-se a tempo de segurá-la nos braços, antes que ela caísse ao chão.
- Você ainda está muito fraca. Logo terá que alimentar-se. Acha que consegue caminhar?
- Sim, acho que sim – respondeu, enquanto segurava-se firmemente ao braço de Stefan. Apesar de sua apreensão devido ao discurso evasivo dele, sentia-se segura naqueles braços.
Lentamente, ele a foi guiando para fora do quarto.
Era uma grande casa antiga, provavelmente restaurada, com decoração sóbria e requintada. Encontravam-se no segundo andar, pois podia ver, no final do corredor em que estava, o início de uma suntuosa escada. Mas não desceram. Atravessaram uma porta, quase em frente à escadaria, que os levou a uma espécie de sótão. Para surpresa de Sophia, era o mesmo salão que ela vira em seu último sonho. Começou a duvidar que aquilo tivesse acontecido apenas em sua imaginação. Um leve tremor percorreu-lhe o corpo. A chaise long, o telhado de vidro mostrando o céu, agora límpido , mas já antevendo o final do dia.
Lá também estava um lugar reservado para o artista pintar suas telas, com o cavalete, algumas telas em branco empilhadas em um canto e as diversas tintas e pincéis sobre uma pequena mesa de madeira clara. Levou-a até um grande painel, onde se encontravam pendurados vários quadros com os mais diferentes motivos.
Começou a observar as datas dos quadros, bem como as assinaturas dos responsáveis. Várias levavam a assinatura “Paole”, com datas entre 1870 e 1880.
- Você tinha um avô com mesmo nome que o seu e que também era pintor? Que interessante – dizendo isso, notou que Stefan abriu um sorriso lacônico.
Foi então que seu olhar deteve-se em um deles, pois ficou intrigada com a semelhança entre a jovem retratada e ela. Não era possível que Stefan a tivesse pintado sem que ela soubesse. Além do mais, a moça estava vestida com trajes do final do século XIX e a obra certamente havia sido realizada na mesma época.
- Quem é ela? – perguntou com certo medo da resposta que ouviria.
- O nome dela era Serena.Você também notou a semelhança?
Ela teve de segurar-se com mais força ao braço de Stefan, pois a tontura insistia em voltar. Teve medo de cair, quando o olhou e viu que ele não apresentava nenhum sinal de que estivesse brincando.
- Venha... É melhor se sentar para ouvir o que vou lhe contar – Sophia passou a ouvir boquiaberta a história fantástica de Stefan.
- Eu a conheci em Praga, em 1870, em um baile num dos castelos da região. Fiquei encantado com a sua beleza. Dançamos durante toda a noite e terminamos apaixonados um pelo outro. Eu nunca havia sentido nada igual antes. Foram seis meses de sonho e encantamento, que me tiraram da escuridão em que eu vivia até então. Foi nessa época que resolvi dedicar-me mais intensamente à arte de pintar. Só que o destino não permitiu que ficássemos mais tempo juntos. Uma infecção pulmonar a tirou de mim. Na época, a medicina começava a ensaiar alguns passos. Por muito tempo carreguei a culpa de não a ter salvado.
- Stefan... Que história é essa? Como você poderia ter vivido em 1870? Você está brincando comigo? – disse incrédula.
- Sophia, eu não sou um homem comum. Eu preferia contar-lhe este fato mais tarde, quando já tivéssemos nos conhecido melhor. Mas o seu acidente precipitou tudo. Eu faço parte de um grupo de pessoas a quem vocês costumam denominar de... Vampiros.
- Vampiro? – ela riu nervosa. Não sabia o que pensar ou dizer – Pare com essa bobagem, Stefan. Não estou achando graça nenhuma.
- Minha história não tem nada de engraçada, Sophia. Apenas escute, por favor.
Diante da expressão séria e suplicante de Stefan, ela concordou em ouvi-lo.
- Em torno de 1700, um soldado sérvio chamado Arnold Paole teve um encontro infeliz com elementos pertencentes a um clã de vampiros. No meio do campo de batalha os seres atacavam aqueles soldados com ferimentos graves e que certamente não sobreviveriam. O líder deles atacou Arnold, mas deixou-o sem certificar-se de sua morte. Arnold o seguiu, pois queria sobreviver para poder encontrar sua noiva que deixara em sua cidade natal. Sabia que só poderia sobreviver se também sorvesse o sangue do vampiro. Conseguiu encontrá-lo, alcançar seu objetivo e destruir o seu algoz. Sentindo suas forças renovadas, voltou para casa. Ao chegar lá, percebeu que se tornara um deles, pois seu apetite não era mais por alimentos comuns aos humanos. Tentou resistir a “fome” que o dominava, mas não conseguiu. Passou a ter medo de “contaminar” sua noiva, a quem amava muito. Além disso, os aldeões vizinhos começaram a desconfiar de sua presença devido às inúmeras mortes por grandes perdas sanguíneas que estavam acontecendo depois de sua chegada. Por isso decidiu fugir de seu país. Contou tudo a sua amada, para explicar sua fuga, e partiu para o sul. Só não sabia, ao partir, que ela estava grávida de um filho seu. Foi para a Grécia, pois ouvira falar que lá havia várias comunidades de “pessoas” como ele. Decidira lutar contra aquele impulso assassino e encontrar uma maneira menos terrível de viver. Lá ele teve um filho, Dimitri. Passados 16 anos depois de sua fuga, resolveu voltar ao seu país de origem para rever sua noiva. Ao chegar lá soube que ela tinha morrido alguns meses antes e que deixara um filho. Ao vê-lo e sabendo de sua idade, teve certeza de que ele era seu.
Neste ponto, Sophia entorpecida com a narração de Stefan, conseguiu perguntar:
- Este filho era você?
- Sim... Ele contou que era meu pai e que queria levar-me junto com ele para a Grécia. Queria que eu tivesse uma nova família. Como eu não tinha nada a perder, parti em sua companhia.
- Mas você já era um vampiro? – ela não acreditava que pudesse estar fazendo aquela pergunta.
- Não completamente. Eu era um rapaz franzino. Não conseguia alimentar-me direito. Parecia que tudo me fazia mal. Quando meu pai me contou sua verdadeira história, consegui entender o motivo. Eu tinha a herança dele correndo em minhas veias, mas não o suficiente para a transformação completa. Imagine um adolescente encontrar um meio de ser eterno e poder ter controle sobre os outros, principalmente tendo um meio irmão com este domínio. Supliquei a meu pai que completasse a transformação. Com relutância ele aceitou meu pedido. Mais um motivo foi criado para que ele persistisse em seus estudos para conseguir um alimento artificial. Até lá, o clã, do qual meu pai tornara-se líder, tinha de continuar satisfazendo sua fome com sangue humano. Para isso, Arnold instituiu que cidadãos seriam raptados por curtos períodos para que doações de sangue involuntárias fossem feitas. O sangue era conservado da melhor maneira possível e as pessoas eram devolvidas às ruas com um pequeno ferimento no braço. Eram hipnotizados para que não se lembrassem de nada e continuavam suas vidas tranquilamente. Acabara a matança. De adolescente passei a adulto. Queria conhecer o mundo. Por isso parti para Praga, um magnífico centro cultural na época. Fiz meus estudos de arquitetura e comecei a pintar nas horas vagas. A cidade era extremamente inspiradora para os amantes da arte como eu. Foi então que conheci Serena. Quando a perdi, passei a julgar-me culpado por sua morte. Passara tantos anos controlando o instinto animal de alimentar-me de humanos da forma tradicional, que hesitei em salvá-la daquela maneira, que seria a única. Foi um período de muita revolta contra minha origem, contra meu pai e minha “família”. Resolvi seguir afastado do clã mantendo-me saudável da mesma maneira que na Grécia. Ganhei dinheiro como arquiteto e em vários outros tipos de negócio. Os anos, as guerras, os políticos, os amigos e os inimigos passavam por mim, desapareciam, e eu continuava minha jornada. Nem sempre isso é agradável.
Sophia sentiu nova tontura e ele teve de deitá-la na chaise long.
- Querida, sei que tudo isto que estou contando deve ser terrível para você, mas eu preciso que você compreenda o que está acontecendo e me perdoe pelo que fiz.
- Continue, Stefan. Continue – pediu-lhe, começando a entender a angústia de Stefan.
- O comunismo chegou a Tchecoslováquia, como se denominava o país então. Continuei meu trabalho, minhas viagens pelo mundo, adquirindo conhecimentos, aprimorando minhas técnicas de pintura. Quando a abertura se deu, passei a expor minhas novas telas em várias capitais da Europa e o sucesso aconteceu. Passei a ser um artista de renome. Nesta mesma época, meu pai finalmente descobriu o sangue artificial. A partir de então, uma nova época se iniciou para nosso clã. Ele conseguira completar a obra de sua vida. Mandou Dimitri a minha procura. Voltei à Grécia e apaziguei a alma e as relações familiares, para regozijo de Arnold Paole. Apesar de tudo, não queria ficar preso àquele lugar. Eu me tornara um homem do mundo. Há três anos passei a me interessar pelo Brasil, seu povo, sua cultura. Pensei em ficar aqui algum tempo, montar a galeria e deixar a marca de minha passagem. A arte passou a ter um lugar muito importante dentro de mim, pois através dela eu pude exorcizar meus demônios. Vim para cá há um ano e comecei a realizar meus planos. Foi quando eu a vi... Mal podia acreditar quando a vi caminhando pela rua, num início de noite a alguns dias atrás... Também vi o bandido que a seguiu até o beco para assaltá-la.
- Foi você que me salvou naquele dia? – ela mal podia acreditar no que estava ouvindo – O que você fez com aquele miserável?
- Nada. Só mostrei os caninos para ele e lhe dei uma bela surra. Depois o joguei dentro de um banco, segundos antes da polícia fazer a sua visita de rotina para verificar a segurança do lugar. Ele deve estar até agora tentando explicar como foi parar dentro da caixa forte do banco. Duvido que eles acreditem que foi um vampiro que o deixou lá.
Sophia não pode deixar de sorrir, imaginando o susto que o nojento deve ter levado e admirando o senso de humor de Stefan.
- Que bom ver o seu sorriso novamente, Sophia... – dizendo isso, levou sua mão até a face dela, fazendo-lhe uma carícia na linha do queixo.
- Eu ainda estou pasma diante de tudo isto que você me contou. É inacreditável. Eu não sei o que dizer.
- Depois daquela noite, procurei saber quem era você e dei um jeito de procurá-la. O resto você já sabe.
Stefan notou uma sombra no rosto de Sophia.
- Eu sei que é terrível conhecer a verdade sobre mim assim tão cedo. Você tem todo o direito de me odiar ou sentir asco pelo que eu sou. Eu entenderei qualquer um destes sentimentos.
- Não é isso, Stefan. Estou assustada com tudo isto, mas o que mais me incomoda é saber que você estava pensando em outra pessoa quando tentava me seduzir – sua voz era trêmula e as lágrimas começavam a querer surgir.
- Não! – ele exclamou – É você, Sophia, que eu quero. Ninguém mais. Serena ficou no passado. Não vou mentir. No início a semelhança surpreendente entre vocês me atraiu, mas depois eu a conheci. O seu modo de ser, de falar, de olhar, mostrou uma outra mulher, desconhecida, por quem fiquei, pela segunda vez na vida, perdidamente apaixonado. A semelhança tornou-se secundária – sua voz foi abrandando à medida que abria seu coração - Por isso fiquei desesperado quando a vi nos braços de Dimitri, praticamente morta, com uma hemorragia interna que dificilmente o melhor dos cirurgiões conseguiria deter. Foi então que, lembrei de minha hesitação com Serena. Mais uma vez eu tinha a mulher que eu amava cercada pela morte. Não pensei duas vezes. Eu tinha esse poder em minhas mãos e não deixaria você partir. Eu a “contaminei”...
- O meu sonho... Aqui neste atelier...Nós dois nos amando...
- Em parte foi um sonho. Um sonho compartilhado por mim também. Eu penetrei em sua mente e a fiz minha na sua imaginação e no seu desejo. A parte final do seu sonho é que foi a real. A dor que você sentiu foi real. Mas você ainda tem uma escolha, Sophia. Se não quiser se tornar uma... alguém como eu, entenderei e não finalizarei o ritual de sua transformação para viver a imortalidade.
- Eu poderia viver para sempre com você? – sua voz tornava-se ainda mais fraca.
- Sim...
- Você seria capaz de me amar por tanto tempo assim?
- Não tenho dúvida alguma sobre isso, meu amor...
Consumindo suas últimas forças, Sophia ergueu-se e passou os braços em torno do pescoço de Stefan, oferecendo seus lábios ao homem que amava.
- Então me salve e me faça sua para sempre, como você prometeu em todos os meus sonhos.
Stefan sorriu e a enlaçou nos braços, correspondendo com um beijo apaixonado. Ao sentir que ela já estava fraca demais para manter-se acordada, abriu sua camisa e fez um pequeno e profundo corte em seu peito, deixando uma pequena quantidade de sangue a correr. Aproximou a cabeça de Sophia do talho e disse emocionado:
- Mate a sua sede em mim. De agora em diante seremos um só, por toda a eternidade.
Logo, ela começou a sentir a vida, o calor e todos os sentidos antes enfraquecidos voltando aos poucos. Abriu os olhos e pode ver a rápida cicatrização do ferimento de Stefan. Agora o tinha junto a si de verdade. Nada de sonhos. O desejo começou a apoderar-se dela. Sentiu que ele compartilhava da mesma forma este sentimento. Pode perceber isto quando ele voltou a beijá-la e começou a despi-la de seu robe. Enquanto ela o esperava deitada nua sobre a chaise, ele levantou-se para despir-se também de suas roupas. O cenário era o mesmo de seu sonho. A lua e o céu estrelado, acima dos corpos nus, penetravam através da vidraça no telhado inundando com uma luz magicamente prateada o grande salão. Encantado com a visão das curvas de Sophia à luz do luar, Stefan ajoelhou-se ao lado dela, percorrendo sua pele alva com os olhos e com suas mãos espalmadas, provocando um eriçar de todos os pelos de sua amada. Ela gemia, antevendo o deleite de ser possuída por ele. Também queria tocá-lo, senti-lo, cheirá-lo e abraçá-lo, fundindo seu corpo ao dele. Fechou os olhos exultando diante de seus beijos cálidos e doces, que iam do ventre, subindo lentamente até os seios, onde se deteve nos mamilos túrgidos, acariciando-os com a ponta da língua, enlouquecendo-a de prazer, fazendo-a agarrar-se aos revoltos cabelos negros, afagando-os e puxando-o ainda mais contra seu peito. Os beijos continuaram pelo seu pescoço, enquanto ela o abraçava, podendo perceber toda a sua musculatura rija sob a pele macia. Então ela pode ver que, excitado como estava, além de sua virilidade entre as musculosas coxas, seus caninos aguçados também se tornavam aparentes. Mas ela não tinha mais medo. Isso só a excitava ainda mais. Ele deitou-se sobre ela e a penetrou, com cuidado, em movimentos lentos que foram tornando-se aos poucos mais rápidos e vigorosos, levando-os ao êxtase completo, entre gemidos e respirações ofegantes.
Depois de tudo, permaneceram abraçados, compartilhando um repouso prazeroso e relaxante.
Naquela noite ainda, amaram-se mais algumas vezes, até abrandarem seu desejo e caírem exaustos, em sono profundo, ao raiar do dia.
Aos poucos, tudo começou a voltar ao normal. Sophia passou a morar na mansão de Stefan, mas continuou a frente da campanha publicitária para promoção da Galeria Paole. Separou-se de Paulo amigavelmente. No dia em que o encontrou, viu o olhar amedrontado do antigo companheiro e a fala titubeante, fazendo-a pensar no que Stefan teria feito para deixá-lo tão manso, diferente do sujeito arrogante que ele era antes. Talvez um dia pedisse a ele que contasse. Um dia... No momento, não a interessava nada relacionado àquele crápula. Tampouco quis ouvir as suas explicações sobre o que o levara a traí-la. Paulo já era um passado aplacado e esquecido.
Quanto ao “temível” Dimitri, mostrou-se realmente apaixonado por Caroline. Ele a vira no dia em que estava seguindo Sophia. Queria saber quem era a responsável pela decisão de Stefan de ficar no Brasil, indo contra a vontade de Arnold. Apesar de querer muito ser o preferido do velho Paole, e ter algumas diferenças com o irmão romeno por ciúmes, obedecia ao pai cegamente. Foi ao vê-la conversando com a simpática e falante ruiva, que ele mudou seu foco de interesse e terminou por procurar Carol para conhecê-la melhor, esquecendo seu objetivo inicial.
As mágoas de Dimitri acabaram por serem dissolvidas quando Stefan recusou o lugar que Arnold lhe reservava na Grécia, para assumir o seu povo. Dimitri retornaria à Santorini, voltando de mais uma missão ordenada pelo velho sérvio, levando a resposta negativa de seu meio-irmão e uma carta exigindo o reconhecimento dele, Dimitri, como legítimo herdeiro.
Quem estava sofrendo com tudo isso era Carol, que estava cada vez mais apaixonada pelo seu “deus grego”, como gostava de chamá-lo. Ela já sabia da verdadeira ascendência dele. Assustou-se um pouco no início, mas acabou aceitando, por colocar o amor acima de tudo. Ainda debatia-se com a dúvida de ser transformada ou não. Ao final, acabou por acompanhar Dimitri na volta à Grécia. Seria como um período de férias, mas gostou tanto de lá, que decidiu mudar-se e tornar-se definitivamente a primeira dama do clã de vampiros gregos.
Passados alguns meses, Caroline acompanhava pela Internet as páginas sociais de São Paulo, em elogios incansáveis ao “mais novo casal, composto pelo elegante pintor Stefan Paole e sua adorável esposa Sophia Caselli, que surgia recepcionando seleto público no mais novo sucesso cultural da capital paulista, a Galeria Paole”.
FIM
Como prometi, este foi o final da nossa estória. Por favor, comentem. A sua opinião é muito importante para mim. Um ótimo início de semana para vocês. Beijos!
- Não pare, Stefan. Por favor ... Eu te quero agora. Quero ser sua... Para sempre.
Foi então que ele a ergueu nos braços e a levou para um lugar, que parecia uma chaise long, onde a deitou com suavidade. Naturalmente, ela abriu as pernas para acolhê-lo. Sentiu-o penetrar em suas entranhas vigorosamente, com urgência, enquanto as mãos acariciavam seu corpo com sofreguidão, e os lábios procuravam a tênue curvatura de seu pescoço, provocando mais sensações orgásticas. De olhos fechados, gemendo alto, repentinamente sentiu uma forte dor no colo, como se ferro em brasa a perfurasse, para logo em seguida uma onda de relaxamento tomasse conta de tudo, sem aperceber-se do fio de líquido quente escorrendo por sua nuca. Ainda pode ouvi-lo murmurando:
- Agora você será minha para sempre...
***
Sentia as pálpebras pesadas e certo desconforto . Lembrou do sonho. Parecera tão real... Com muito esforço conseguiu abrir os olhos. Estava num quarto, envolto em penumbra. Aos poucos foi conseguindo definir alguns detalhes do local. Estava deitada em uma cama enorme, coberta por um dossel de madeira escura, de onde desciam cortinas de veludo vermelho. As janelas aparentemente estavam fechadas e cobertas por um acortinado semelhante ao da cama. Parecia um daqueles dormitórios antigos, que podiam ser vistos em filmes do século XIX. Havia um perfume conhecido seu no ar. Sua cabeça parecia pesar uma tonelada. Mal notou quando uma figura masculina levantou-se de uma poltrona que estava colocada discretamente ao lado de seu leito. Assustou-se ao sentir aquela presença, mas logo seu temor esvaneceu-se ao ver o rosto conhecido de Stefan, que a mirava com ar preocupado e circunspecto.
- Como está se sentindo? – perguntou em voz baixa.
- Stefan... Onde eu estou? O que aconteceu? Que lugar é este?
- Calma... Não se agite. Você precisa se recuperar do trauma que sofreu.
- Como assim? Que trauma? Não lembro de nada.
- Não lembra do acidente?
- Acidente? – Ela tentava sondar sua mente para descobrir sobre o que ele estava falando, mas seus pensamentos estavam confusos.
Ele sentou-se ao seu lado na cama, colocando a mão sobre sua testa e acariciando seus cabelos, olhando-a com ternura.
- Você foi atropelada há três dias.
- O quê?
- Foi depois que você saiu da galeria.
Aos poucos algumas imagens foram voltando à memória de Sophia.
- Sim...acho que lembro. Eu fui levar os contratos para você assinar e... Conheci o seu irmão e saí. Estava chovendo e... – ela acabou por lembrar-se da cena que a deixara abalada no centro comercial. Seu rosto anuviou-se.
- Você saiu correndo e atravessou a rua sem ver que o sinal para pedestres estava fechado.
- Sim... Lembro de ter sentido um baque e depois ...mais nada.
- Por sorte, Dimitri resolveu segui-la.
- Dimitri?
- Sim. Ele ficou preocupado com a má impressão que provocou em você e queria conversar para desfazer o mal entendido, por causa de Caroline. Infelizmente ele não chegou a tempo de evitar o acidente. Ele só conseguiu trazê-la para cá para tentar salvá-la do pior.
- Pior? Mas eu me sinto bem, apesar de certa dor de cabeça e alguma dor no corpo. Afinal, o carro deve ter me pego só de raspão.
Enquanto ela falava, tentava mexer os braços e as pernas. Parecia que tudo estava no lugar.
- Fico feliz que você esteja se sentindo tão bem assim.
- Stefan, estou ficando assustada. Afinal, que lugar é este e porque estou aqui.
_ Você está na minha casa.
- Por quê? Se o acidente não foi grave , eu deveria estar em minha casa.
- Você ficou bastante ferida e veio para cá para eu poder tratá-la da melhor maneira possível.
- Como assim? Que eu saiba você é pintor, arquiteto... Também é médico? – ela não sabia o que pensar daquela situação. Tentou levantar-se da cama e reparou que estava sem suas roupas. Olhou para ele envergonhada e viu que ele sorria de seu constrangimento.
- Stefan, eu quero saber o que está acontecendo. Preciso de minhas roupas. Preciso avisar a Caroline, o...
- Não se preocupe. Já está tudo resolvido e todos avisados. Até aquele canalha do seu noivo. Aliás, ele deve estar amargamente arrependido de ter magoado você – Enquanto falava com ela, levantou-se e foi até um armário de onde retirou um robe de seda preto com um P bordado em fio vermelho para oferecer a ela. Virou-se de costas, ainda sorrindo, e permitiu que ela o colocasse.
- Stefan, por favor...
- Por favor, vista-o – falou com carinhosa autoridade – Você não está com fome?
- Não, não estou.
Sophia levantou-se e conseguiu vestir o robe sem grandes dificuldades. Sentiu uma leve tontura.
- Então, venha comigo. Quero mostrar-lhe o meu atelier. Tudo vai ser explicado ao seu tempo. Está pronta?
- Sim. Pode se virar...
Ele virou-se a tempo de segurá-la nos braços, antes que ela caísse ao chão.
- Você ainda está muito fraca. Logo terá que alimentar-se. Acha que consegue caminhar?
- Sim, acho que sim – respondeu, enquanto segurava-se firmemente ao braço de Stefan. Apesar de sua apreensão devido ao discurso evasivo dele, sentia-se segura naqueles braços.
Lentamente, ele a foi guiando para fora do quarto.
Era uma grande casa antiga, provavelmente restaurada, com decoração sóbria e requintada. Encontravam-se no segundo andar, pois podia ver, no final do corredor em que estava, o início de uma suntuosa escada. Mas não desceram. Atravessaram uma porta, quase em frente à escadaria, que os levou a uma espécie de sótão. Para surpresa de Sophia, era o mesmo salão que ela vira em seu último sonho. Começou a duvidar que aquilo tivesse acontecido apenas em sua imaginação. Um leve tremor percorreu-lhe o corpo. A chaise long, o telhado de vidro mostrando o céu, agora límpido , mas já antevendo o final do dia.
Lá também estava um lugar reservado para o artista pintar suas telas, com o cavalete, algumas telas em branco empilhadas em um canto e as diversas tintas e pincéis sobre uma pequena mesa de madeira clara. Levou-a até um grande painel, onde se encontravam pendurados vários quadros com os mais diferentes motivos.
Começou a observar as datas dos quadros, bem como as assinaturas dos responsáveis. Várias levavam a assinatura “Paole”, com datas entre 1870 e 1880.
- Você tinha um avô com mesmo nome que o seu e que também era pintor? Que interessante – dizendo isso, notou que Stefan abriu um sorriso lacônico.
Foi então que seu olhar deteve-se em um deles, pois ficou intrigada com a semelhança entre a jovem retratada e ela. Não era possível que Stefan a tivesse pintado sem que ela soubesse. Além do mais, a moça estava vestida com trajes do final do século XIX e a obra certamente havia sido realizada na mesma época.
- Quem é ela? – perguntou com certo medo da resposta que ouviria.
- O nome dela era Serena.Você também notou a semelhança?
Ela teve de segurar-se com mais força ao braço de Stefan, pois a tontura insistia em voltar. Teve medo de cair, quando o olhou e viu que ele não apresentava nenhum sinal de que estivesse brincando.
- Venha... É melhor se sentar para ouvir o que vou lhe contar – Sophia passou a ouvir boquiaberta a história fantástica de Stefan.
- Eu a conheci em Praga, em 1870, em um baile num dos castelos da região. Fiquei encantado com a sua beleza. Dançamos durante toda a noite e terminamos apaixonados um pelo outro. Eu nunca havia sentido nada igual antes. Foram seis meses de sonho e encantamento, que me tiraram da escuridão em que eu vivia até então. Foi nessa época que resolvi dedicar-me mais intensamente à arte de pintar. Só que o destino não permitiu que ficássemos mais tempo juntos. Uma infecção pulmonar a tirou de mim. Na época, a medicina começava a ensaiar alguns passos. Por muito tempo carreguei a culpa de não a ter salvado.
- Stefan... Que história é essa? Como você poderia ter vivido em 1870? Você está brincando comigo? – disse incrédula.
- Sophia, eu não sou um homem comum. Eu preferia contar-lhe este fato mais tarde, quando já tivéssemos nos conhecido melhor. Mas o seu acidente precipitou tudo. Eu faço parte de um grupo de pessoas a quem vocês costumam denominar de... Vampiros.
- Vampiro? – ela riu nervosa. Não sabia o que pensar ou dizer – Pare com essa bobagem, Stefan. Não estou achando graça nenhuma.
- Minha história não tem nada de engraçada, Sophia. Apenas escute, por favor.
Diante da expressão séria e suplicante de Stefan, ela concordou em ouvi-lo.
- Em torno de 1700, um soldado sérvio chamado Arnold Paole teve um encontro infeliz com elementos pertencentes a um clã de vampiros. No meio do campo de batalha os seres atacavam aqueles soldados com ferimentos graves e que certamente não sobreviveriam. O líder deles atacou Arnold, mas deixou-o sem certificar-se de sua morte. Arnold o seguiu, pois queria sobreviver para poder encontrar sua noiva que deixara em sua cidade natal. Sabia que só poderia sobreviver se também sorvesse o sangue do vampiro. Conseguiu encontrá-lo, alcançar seu objetivo e destruir o seu algoz. Sentindo suas forças renovadas, voltou para casa. Ao chegar lá, percebeu que se tornara um deles, pois seu apetite não era mais por alimentos comuns aos humanos. Tentou resistir a “fome” que o dominava, mas não conseguiu. Passou a ter medo de “contaminar” sua noiva, a quem amava muito. Além disso, os aldeões vizinhos começaram a desconfiar de sua presença devido às inúmeras mortes por grandes perdas sanguíneas que estavam acontecendo depois de sua chegada. Por isso decidiu fugir de seu país. Contou tudo a sua amada, para explicar sua fuga, e partiu para o sul. Só não sabia, ao partir, que ela estava grávida de um filho seu. Foi para a Grécia, pois ouvira falar que lá havia várias comunidades de “pessoas” como ele. Decidira lutar contra aquele impulso assassino e encontrar uma maneira menos terrível de viver. Lá ele teve um filho, Dimitri. Passados 16 anos depois de sua fuga, resolveu voltar ao seu país de origem para rever sua noiva. Ao chegar lá soube que ela tinha morrido alguns meses antes e que deixara um filho. Ao vê-lo e sabendo de sua idade, teve certeza de que ele era seu.
Neste ponto, Sophia entorpecida com a narração de Stefan, conseguiu perguntar:
- Este filho era você?
- Sim... Ele contou que era meu pai e que queria levar-me junto com ele para a Grécia. Queria que eu tivesse uma nova família. Como eu não tinha nada a perder, parti em sua companhia.
- Mas você já era um vampiro? – ela não acreditava que pudesse estar fazendo aquela pergunta.
- Não completamente. Eu era um rapaz franzino. Não conseguia alimentar-me direito. Parecia que tudo me fazia mal. Quando meu pai me contou sua verdadeira história, consegui entender o motivo. Eu tinha a herança dele correndo em minhas veias, mas não o suficiente para a transformação completa. Imagine um adolescente encontrar um meio de ser eterno e poder ter controle sobre os outros, principalmente tendo um meio irmão com este domínio. Supliquei a meu pai que completasse a transformação. Com relutância ele aceitou meu pedido. Mais um motivo foi criado para que ele persistisse em seus estudos para conseguir um alimento artificial. Até lá, o clã, do qual meu pai tornara-se líder, tinha de continuar satisfazendo sua fome com sangue humano. Para isso, Arnold instituiu que cidadãos seriam raptados por curtos períodos para que doações de sangue involuntárias fossem feitas. O sangue era conservado da melhor maneira possível e as pessoas eram devolvidas às ruas com um pequeno ferimento no braço. Eram hipnotizados para que não se lembrassem de nada e continuavam suas vidas tranquilamente. Acabara a matança. De adolescente passei a adulto. Queria conhecer o mundo. Por isso parti para Praga, um magnífico centro cultural na época. Fiz meus estudos de arquitetura e comecei a pintar nas horas vagas. A cidade era extremamente inspiradora para os amantes da arte como eu. Foi então que conheci Serena. Quando a perdi, passei a julgar-me culpado por sua morte. Passara tantos anos controlando o instinto animal de alimentar-me de humanos da forma tradicional, que hesitei em salvá-la daquela maneira, que seria a única. Foi um período de muita revolta contra minha origem, contra meu pai e minha “família”. Resolvi seguir afastado do clã mantendo-me saudável da mesma maneira que na Grécia. Ganhei dinheiro como arquiteto e em vários outros tipos de negócio. Os anos, as guerras, os políticos, os amigos e os inimigos passavam por mim, desapareciam, e eu continuava minha jornada. Nem sempre isso é agradável.
Sophia sentiu nova tontura e ele teve de deitá-la na chaise long.
- Querida, sei que tudo isto que estou contando deve ser terrível para você, mas eu preciso que você compreenda o que está acontecendo e me perdoe pelo que fiz.
- Continue, Stefan. Continue – pediu-lhe, começando a entender a angústia de Stefan.
- O comunismo chegou a Tchecoslováquia, como se denominava o país então. Continuei meu trabalho, minhas viagens pelo mundo, adquirindo conhecimentos, aprimorando minhas técnicas de pintura. Quando a abertura se deu, passei a expor minhas novas telas em várias capitais da Europa e o sucesso aconteceu. Passei a ser um artista de renome. Nesta mesma época, meu pai finalmente descobriu o sangue artificial. A partir de então, uma nova época se iniciou para nosso clã. Ele conseguira completar a obra de sua vida. Mandou Dimitri a minha procura. Voltei à Grécia e apaziguei a alma e as relações familiares, para regozijo de Arnold Paole. Apesar de tudo, não queria ficar preso àquele lugar. Eu me tornara um homem do mundo. Há três anos passei a me interessar pelo Brasil, seu povo, sua cultura. Pensei em ficar aqui algum tempo, montar a galeria e deixar a marca de minha passagem. A arte passou a ter um lugar muito importante dentro de mim, pois através dela eu pude exorcizar meus demônios. Vim para cá há um ano e comecei a realizar meus planos. Foi quando eu a vi... Mal podia acreditar quando a vi caminhando pela rua, num início de noite a alguns dias atrás... Também vi o bandido que a seguiu até o beco para assaltá-la.
- Foi você que me salvou naquele dia? – ela mal podia acreditar no que estava ouvindo – O que você fez com aquele miserável?
- Nada. Só mostrei os caninos para ele e lhe dei uma bela surra. Depois o joguei dentro de um banco, segundos antes da polícia fazer a sua visita de rotina para verificar a segurança do lugar. Ele deve estar até agora tentando explicar como foi parar dentro da caixa forte do banco. Duvido que eles acreditem que foi um vampiro que o deixou lá.
Sophia não pode deixar de sorrir, imaginando o susto que o nojento deve ter levado e admirando o senso de humor de Stefan.
- Que bom ver o seu sorriso novamente, Sophia... – dizendo isso, levou sua mão até a face dela, fazendo-lhe uma carícia na linha do queixo.
- Eu ainda estou pasma diante de tudo isto que você me contou. É inacreditável. Eu não sei o que dizer.
- Depois daquela noite, procurei saber quem era você e dei um jeito de procurá-la. O resto você já sabe.
Stefan notou uma sombra no rosto de Sophia.
- Eu sei que é terrível conhecer a verdade sobre mim assim tão cedo. Você tem todo o direito de me odiar ou sentir asco pelo que eu sou. Eu entenderei qualquer um destes sentimentos.
- Não é isso, Stefan. Estou assustada com tudo isto, mas o que mais me incomoda é saber que você estava pensando em outra pessoa quando tentava me seduzir – sua voz era trêmula e as lágrimas começavam a querer surgir.
- Não! – ele exclamou – É você, Sophia, que eu quero. Ninguém mais. Serena ficou no passado. Não vou mentir. No início a semelhança surpreendente entre vocês me atraiu, mas depois eu a conheci. O seu modo de ser, de falar, de olhar, mostrou uma outra mulher, desconhecida, por quem fiquei, pela segunda vez na vida, perdidamente apaixonado. A semelhança tornou-se secundária – sua voz foi abrandando à medida que abria seu coração - Por isso fiquei desesperado quando a vi nos braços de Dimitri, praticamente morta, com uma hemorragia interna que dificilmente o melhor dos cirurgiões conseguiria deter. Foi então que, lembrei de minha hesitação com Serena. Mais uma vez eu tinha a mulher que eu amava cercada pela morte. Não pensei duas vezes. Eu tinha esse poder em minhas mãos e não deixaria você partir. Eu a “contaminei”...
- O meu sonho... Aqui neste atelier...Nós dois nos amando...
- Em parte foi um sonho. Um sonho compartilhado por mim também. Eu penetrei em sua mente e a fiz minha na sua imaginação e no seu desejo. A parte final do seu sonho é que foi a real. A dor que você sentiu foi real. Mas você ainda tem uma escolha, Sophia. Se não quiser se tornar uma... alguém como eu, entenderei e não finalizarei o ritual de sua transformação para viver a imortalidade.
- Eu poderia viver para sempre com você? – sua voz tornava-se ainda mais fraca.
- Sim...
- Você seria capaz de me amar por tanto tempo assim?
- Não tenho dúvida alguma sobre isso, meu amor...
Consumindo suas últimas forças, Sophia ergueu-se e passou os braços em torno do pescoço de Stefan, oferecendo seus lábios ao homem que amava.
- Então me salve e me faça sua para sempre, como você prometeu em todos os meus sonhos.
Stefan sorriu e a enlaçou nos braços, correspondendo com um beijo apaixonado. Ao sentir que ela já estava fraca demais para manter-se acordada, abriu sua camisa e fez um pequeno e profundo corte em seu peito, deixando uma pequena quantidade de sangue a correr. Aproximou a cabeça de Sophia do talho e disse emocionado:
- Mate a sua sede em mim. De agora em diante seremos um só, por toda a eternidade.
Logo, ela começou a sentir a vida, o calor e todos os sentidos antes enfraquecidos voltando aos poucos. Abriu os olhos e pode ver a rápida cicatrização do ferimento de Stefan. Agora o tinha junto a si de verdade. Nada de sonhos. O desejo começou a apoderar-se dela. Sentiu que ele compartilhava da mesma forma este sentimento. Pode perceber isto quando ele voltou a beijá-la e começou a despi-la de seu robe. Enquanto ela o esperava deitada nua sobre a chaise, ele levantou-se para despir-se também de suas roupas. O cenário era o mesmo de seu sonho. A lua e o céu estrelado, acima dos corpos nus, penetravam através da vidraça no telhado inundando com uma luz magicamente prateada o grande salão. Encantado com a visão das curvas de Sophia à luz do luar, Stefan ajoelhou-se ao lado dela, percorrendo sua pele alva com os olhos e com suas mãos espalmadas, provocando um eriçar de todos os pelos de sua amada. Ela gemia, antevendo o deleite de ser possuída por ele. Também queria tocá-lo, senti-lo, cheirá-lo e abraçá-lo, fundindo seu corpo ao dele. Fechou os olhos exultando diante de seus beijos cálidos e doces, que iam do ventre, subindo lentamente até os seios, onde se deteve nos mamilos túrgidos, acariciando-os com a ponta da língua, enlouquecendo-a de prazer, fazendo-a agarrar-se aos revoltos cabelos negros, afagando-os e puxando-o ainda mais contra seu peito. Os beijos continuaram pelo seu pescoço, enquanto ela o abraçava, podendo perceber toda a sua musculatura rija sob a pele macia. Então ela pode ver que, excitado como estava, além de sua virilidade entre as musculosas coxas, seus caninos aguçados também se tornavam aparentes. Mas ela não tinha mais medo. Isso só a excitava ainda mais. Ele deitou-se sobre ela e a penetrou, com cuidado, em movimentos lentos que foram tornando-se aos poucos mais rápidos e vigorosos, levando-os ao êxtase completo, entre gemidos e respirações ofegantes.
Depois de tudo, permaneceram abraçados, compartilhando um repouso prazeroso e relaxante.
Naquela noite ainda, amaram-se mais algumas vezes, até abrandarem seu desejo e caírem exaustos, em sono profundo, ao raiar do dia.
Aos poucos, tudo começou a voltar ao normal. Sophia passou a morar na mansão de Stefan, mas continuou a frente da campanha publicitária para promoção da Galeria Paole. Separou-se de Paulo amigavelmente. No dia em que o encontrou, viu o olhar amedrontado do antigo companheiro e a fala titubeante, fazendo-a pensar no que Stefan teria feito para deixá-lo tão manso, diferente do sujeito arrogante que ele era antes. Talvez um dia pedisse a ele que contasse. Um dia... No momento, não a interessava nada relacionado àquele crápula. Tampouco quis ouvir as suas explicações sobre o que o levara a traí-la. Paulo já era um passado aplacado e esquecido.
Quanto ao “temível” Dimitri, mostrou-se realmente apaixonado por Caroline. Ele a vira no dia em que estava seguindo Sophia. Queria saber quem era a responsável pela decisão de Stefan de ficar no Brasil, indo contra a vontade de Arnold. Apesar de querer muito ser o preferido do velho Paole, e ter algumas diferenças com o irmão romeno por ciúmes, obedecia ao pai cegamente. Foi ao vê-la conversando com a simpática e falante ruiva, que ele mudou seu foco de interesse e terminou por procurar Carol para conhecê-la melhor, esquecendo seu objetivo inicial.
As mágoas de Dimitri acabaram por serem dissolvidas quando Stefan recusou o lugar que Arnold lhe reservava na Grécia, para assumir o seu povo. Dimitri retornaria à Santorini, voltando de mais uma missão ordenada pelo velho sérvio, levando a resposta negativa de seu meio-irmão e uma carta exigindo o reconhecimento dele, Dimitri, como legítimo herdeiro.
Quem estava sofrendo com tudo isso era Carol, que estava cada vez mais apaixonada pelo seu “deus grego”, como gostava de chamá-lo. Ela já sabia da verdadeira ascendência dele. Assustou-se um pouco no início, mas acabou aceitando, por colocar o amor acima de tudo. Ainda debatia-se com a dúvida de ser transformada ou não. Ao final, acabou por acompanhar Dimitri na volta à Grécia. Seria como um período de férias, mas gostou tanto de lá, que decidiu mudar-se e tornar-se definitivamente a primeira dama do clã de vampiros gregos.
Passados alguns meses, Caroline acompanhava pela Internet as páginas sociais de São Paulo, em elogios incansáveis ao “mais novo casal, composto pelo elegante pintor Stefan Paole e sua adorável esposa Sophia Caselli, que surgia recepcionando seleto público no mais novo sucesso cultural da capital paulista, a Galeria Paole”.
FIM
Como prometi, este foi o final da nossa estória. Por favor, comentem. A sua opinião é muito importante para mim. Um ótimo início de semana para vocês. Beijos!
Ai, ai, ai, ai, ai!
ResponderExcluirKEKEESSO ROSANE!???
Coisa de loko esse Romance hein?
Amei mesmo, que um vampiro pra mim, Grego então!
Ou melhor escocês, o melhor e mais puro sangue escocês, hummmmmmmmmmm deu água na boca e aumentou meus caninos e minha infinita ovulação!
Arre! Cadê o Stefan numa hora dessas!
Adorei amiga! Parabéns!
Aguardo ansiosamente os próximos...
Amor
Tani@
Oi, Tania! Pensei que já tinhas lido este romance. Que bom que gostastes e que foi uma novidade. Obrigada pelo comentário entusiasmado. Um beijo imenso!
ResponderExcluirEstou alagando minha casa,talvez precise me ilhar no telhado,nem os baldinhos está vencendo tirar os litros d bába q jorram...da minha parte íntima!!!
ResponderExcluirQuem sabe ilhada no telhado o Stefan venha me salvar..rss
Bjkas
Hummm... essa voz rouca ao pé do ouvido, ui que delícia!
ResponderExcluirA Sophia perdeu o fôlego ao vê-lo nu... bom, se daqui eu perdi o fôlego, imagino ali... ao vivo e à cores... eu perderia o fôlego, o juízo... oh sortuda!!!
Ai que lindo!!! Rô, adorei como vc transformou o nosso vampiro num bom moço, aguçando até mesmo em nós o desejo de nos tornarmos a sua nova presa... mulher... amada... ai... ai... Pior é que nem adianta eu ficar animada, pq se deixar a janela de casa aberta só vai entrar mesmo pernilongo... oh dó...
Outra estória emocionante, magnífica!PARABÉNS!!!
Beijinhos