sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos Namorados

Minhas queridas ( e queridos, se houver rapazes acompanhando este meu blog),
Hoje venho aqui para deixar os meus votos de felicidade e muito, muito, muito amor a todos os casais de enamorados, estejam eles apenas no início de sua relação ou já namorando firme, ou noivos ou recém-casados ou já casados há um bom tempo, mas ainda conservando seu coração ligado ao companheiro de muitos anos. Modéstia parte, eu me coloco entre este últimos. Vocês acham que só porque escrevo estas estórias românticas e tenho o Gerry como fonte inspiradora,não tenho o meu amor( que também me inspira, devo confessar)? É,tenho sim, e acabamos de completar 21 aninhos de casados, fora os 4 anos de namoro. Devo dizer que aquela paixão do início já não é a mesma, mas ainda pinta algum "incêndio" de vez em quando...rsrsrs. Também, com o trabalho, os filhos e outras tantas atribulações do dia a dia, nem sendo "Romeu e Julieta" para resistir. E olha, que mesmo sendo o famoso casal shakesperiano, duvido que se eles tivessem casado e levado uma vida conjugal normal ainda seriam o mesmo casal apaixonado da peça. Acho que o amor tem várias fases, cada uma com seus prazeres.
Bem, não vim para falar de mim, mas sim para desejar um maravilhoso e apaixonado Dia dos Namorados para todos. Para aqueles que ainda não encontraram um amor de verdade, digo uma coisa. Não desistam. Não importa quanto tempo demore. Não feche a porta. Esteja de olhos e sentidos bem abertos, que ele pode estar ao seu lado ou aparecer de uma maneira totalmente inesperada, mas ele vai estar lá. Não feche o seu coração nem se torne amargo. Isto pode matar a sua chance de ser feliz. Más escolhas podem acontecer, mas faz parte da busca pela felicidade.
A pedido da minha amiga Vanessa, vou colocar um outro pequeno romance que escrevi no ano passado, enquanto o novo ainda está no forno, só para não deixar o dia de hoje passar em brancas nuvens. Beijinhos, abraços e carinhos sem ter fim para todos!



A Repórter


Finalmente conseguira um emprego em Los Angeles. Não era exatamente a sua área de interesse, mas pelo menos estaria atuando dentro do jornalismo. Depois de tantos anos de estudo e batalha para conseguir seu “lugar ao sol”, lá estava ela, aguardando na ante-sala do diretor do Los Angeles Actor´s Report (LAAR). Era um programa de televisão muito conhecido por dar informações a respeito dos atores mais famosos ou dignos de notas na sociedade local. Tinha um dos maiores ibopes da TV a cabo. Eles também atuavam na Internet com um site no mesmo estilo do programa. Ela trabalharia na área de reportagem por detrás das câmeras, apesar de já ter sido sondada para o trabalho diante delas. Disseram que fotografava muito bem. Conseguira driblar o produtor e ficar longe do vídeo.
- Senhorita Lauren O’Brien? - perguntou a secretária, Marian, coquete e simpática, por trás de sua escrivaninha.
- Sim?
- Pode entrar. Fred a espera – falou com certa intimidade.
- Obrigada – agradeceu e levantou-se para adentrar no grande escritório do seu novo chefe.
Lá estava Frederick Lewinsky, o criador do programa e “ligeiramente” odiado no meio artístico, devido ao seu humor ácido e malicioso.
Ele a olhou de alto a baixo, com um sorrisinho irônico nos lábios finos. Lauren não se sentia muito a vontade perto dele. Já levara uma ou duas cantadas suas até agora, mas conseguira mantê-lo afastado.
- Então, Lauren, você sabe que o sucesso do nosso programa é o escárnio em cima dos atores em evidencia. Tudo que pudermos usar para mostrar a verdadeira face deste pessoal, deverá ser mostrado. Eu, pessoalmente, acho que são todos um bando de emplumados, tentando aparecer.
“Ele parece um ator fracassado, que morre de inveja de quem conseguiu o estrelato”, pensou Lauren, observando o olhar perverso de Frederick.
- Então? Pronta para atacar as feras e tirar o suco deles?
- Pronta, é claro! – respondeu Lauren retribuindo com um sorriso confiante, apesar de estar com medo do tipo de reportagem que teria de fazer. Mas era a sua grande chance e não podia deixar que suas dúvidas a impedissem de agarrá-la.
- Você já conhece o nosso estilo. Você vai começar com uma pequena coluna dentro do nosso site, que poderá ser utilizada para o programa na TV. Conforme seu sucesso, a coluna poderá ser ampliada. Após, você será transferida para as reportagens ao vivo, na TV a cabo
- Mas, Frederick...
- Fred, querida...
- Fred... Nós tínhamos combinado que eu não apareceria no vídeo...
- Bem, se você não está interessada em crescer dentro do programa, melhor nem começar. As coisas mudam, minha querida. Aqui tudo é muito rápido. Você tem um visual muito agradável. De qualquer jeito, você não aparecerá antes que nós possamos verificar se está agradando ao público na coluna. Portanto, não precisa ficar estressada antes. Pode ser que leve um pé na bunda antes disso – falou grosseiramente.
Como alguém podia ser tão estúpido. Apesar disso, Lauren respirou fundo e disse, de cabeça erguida:
- Tenho certeza que não vai se decepcionar comigo, Frederick. Posso sair agora? Tenho uma coluna para fazer.
- Assim que se fala, docinho. Ao trabalho. Vou estar de olho em você...
Ela podia sentir o olho dele sobre ela.
Lauren virou as costas, sentindo uma certa náusea, e seguiu para o seu pequeno escritório. Na verdade, era um box, separado do de outros colegas da redação por divisórias . Ali tinha um terminal de computador, uma impressora e uma pequena bancada, que eu poderia decorar ao seu gosto.
Assim ela iniciara a nova carreira, depois de ter rodado por jornais do interior, ter atuado como free-lance em algumas revistas de pouca importância. Sabia que tinha talento, mas tinha plena noção que só conseguira o emprego, principalmente, por sua aparência. Ela mandara seu currículo diversas vezes para vários jornais, revistas e canais de televisão, inclusive para o LAAR. Porém, só depois que uma amiga a aconselhara a colocar uma foto, feita em estúdio, anexada ao currículo, ela recebera vários chamados. O LAAR tinha sido o local mais interessante para trabalhar devido a sua maior circulação e público. Esperava ficar nesta vitrine até poder mostrar seu verdadeiro talento. Depois de conhecer o seu editor, começava a achar esta aspiração mais difícil. Para o trabalho que ele queria era necessário apenas conhecer gramática e um pouco de crueldade. Ela achava que podia aguentar isso.
Seus primeiros textos foram sobre Britney. Ela estava em grande evidencia devido aos problemas que andava enfrentando. Infelizmente, ela proporcionava muito material para as colunas de fofoca, sendo alvo fácil do sarcasmo e ridicularização da imprensa. Ela recebia as informações e os vídeos feitos pela equipe e fazia a sua crítica erosiva. Aparentemente, Frederick agradou-se de seu estilo. Logo sua coluna tinha ganhado mais espaço. O número de comentários recebidos era muito grande, tanto positivos quanto negativos. Isto não fazia muita diferença. Apenas significava que ela era lida por muita gente. O ditado “Falem mal ou falem bem, mas falem de mim” era o que estava valendo.
Foi nessa época, em que um ator, até então não muito falado, apesar de ter grande quantidade de fãs nos Estados Unidos, estava iniciando as filmagens de um filme de diretor americano, baseado em uma HQ de Frank Miller. Tudo parecia indicar que o filme seria um sucesso de bilheteria, devido ao seu enredo e ao modo como Silver, o diretor, pretendia filmá-lo. O nome dele era Gerard Burns. Era escocês e, apesar de ter em seu currículo diversos filmes, seu nome despontou com um filme: “O Fantasma da Opera”, baseado no musical da Brodway de Andrew Lloyd Weber. A crítica não tinha sido favorável, mas o público feminino parecia ter sido conquistado definitivamente pelos belos olhos verdes daquele homem, que em nada lembrava o terrível “Fantasma” original do romance de Gaston Leroux.
Ele seria o novo caçado por Lauren, entre outros, conforme determinação de Fred. Imediatamente ao saber disso, ela passou a pesquisar sobre o ator. Simplesmente não encontrava nada que pudesse ser colocado contra ele. O homem tinha uma história de superação de inúmeros problemas e estava conseguindo vencer os obstáculos e atingir seus objetivos. Grande quantidade de material começou a chegar sobre as filmagens, o treinamento físico dos atores, as dificuldades de atuarem sobre um fundo azul, sem cenários visíveis. Com uma certa dor na consciência, resolveu atacá-lo no condicionamento físico. Escreveu em sua coluna sobre o uso abusivo de anabolizantes em certos atores, insinuando que ele, Gerard, poderia estar entrando nesta lista. De outra vez, descobriu um homem que fazia próteses de abdômen, que eram usadas pela equipe de maquiagem nos estúdios para encobrir abdomens não tão sarados e deixar os heróis dos filmes mais atraentes fisicamente. Isto também foi usado numa insinuação que desmerecia completamente todo o trabalho de fisiculturismo do pobre ator.

- Calma, Gerry! Não fique tão irritado. Estes caras querem é incomodar e tentar tirar as pessoas do sério, só para terem mais assunto nestas colunas de fofocas.
- Quem é essa Lauren O’Brien? Quem ela pensa que é? Fica escondida atrás de uma tela de computador, usando as palavras como armas. Ela insinuou que todo este esforço do cão que tenho feito, o meu sacrifício para ter uma boa forma e poder encarnar a personagem de Leônidas, não é real?
Ele estava realmente irado.
- Se eu ficar frente a frente com ela,vou pedir algumas explicações e acertar alguns pontos com ela. Deve ser alguma solteirona mal-amada, que não tem mais o que fazer a não ser destruir imagens de pessoas que estão tentando trabalhar sério.
- Deixe prá lá, Gerry – pediu Mike, seu agente, mais uma vez.

Lauren ainda não conseguia sentir-se à vontade com seu trabalho, entretanto, quem mostrava sinais de estar muito satisfeito era Frederick.
Foi quando surgiu a festa de lançamento de um filme. Foram convidados atores, produtores e diretores conhecidos. O editor de LAAR, não podia deixar de comparecer. Se alguma produção de Hollywood caísse nas graças de Lewinsky, poder-se-ia dizer que o sucesso estava garantido. Portanto, ele sempre era convidado para este tipo de evento.
Para surpresa de Lauren, ela foi escolhida para acompanhá-lo, já que estava tornando-se uma das colunistas mais lidas. Ela ainda teria outras surpresas naquela noite.
Apesar de ele oferecer-se para buscá-la em casa, Lauren preferiu mantê-lo afastado , sem intimidades. Combinaram de encontrar-se no local da festa.
Quando chegou, como não o visse, resolveu entrar sozinha. Seu nome estava na lista de convidados. Encontraria Frederick lá dentro. Após cumprimentar alguns conhecidos, dirigiu-se ao dono da festa para parabenizá-lo. Ao seu lado estava um homem alto, forte, de barba, que ao notar sua presença, mirou-a com dois grandes olhos verdes brilhantes, com interesse e sensualidade. Aquele olhar a fez estremecer. A presença dele era marcante, sem necessidade de palavras. Lauren teve a impressão de já conhecer aquele rosto de algum lugar, mas não conseguia lembrar onde. Sem saber como, o produtor foi distraído por outros cumprimentos, deixando-os um na companhia do outro.
- Olá...Você está sozinha? – perguntou com uma voz rouca e envolvente.
- Não... Na verdade ainda não consegui achar o meu acompanhante. Talvez ele nem tenha chegado ainda, Estava a sua procura.
- Posso substituí-lo no momento, se você permitir...
Ela ainda procurava as palavras certas para responder, quando ele passou seu braço por sua cintura e convidou-a para dançar.
- Quando o seu amigo chegar eu a libero. Prometo...
- Você é meio pretensioso, não? – indagou, quando conseguiu encontrar a fala, com um sorriso tímido.
- Porque você acha isso?
- Quem disse que quero dançar com você?
- Seus olhos... Sua boca... Seu corpo...
Apesar de seus joelhos fraquejarem diante do charme daquele homem, ainda tentava resistir.
- Acho melhor procurar o meu acompanhante original.
- Você não vai me fazer esta desfeita, vai?
A combinação de olhar suplicante e um sorriso maroto, lhe tiraram todas as dúvidas.
- Está bem... Dançar um pouco com você não vai fazer mal... – disse, deixando-se levar pelas grandes mãos bem feitas e braços fortes que a conduziam para a pista de dança.
Ela sentiu-se flutuar no seu toque. A música romântica, que inexplicavelmente começara no momento em que iniciaram sua dança, permitiu uma aproximação maior. Lauren podia sentir o seu perfume, o seu hálito quente e aquele olhar que a devorava.
- Lauren! Você está aí! – a voz rude de Frederick despertou-a de seu transe.
- Lauren?? – disse Gerard, estupefato. A sua dança foi bruscamente interrompida. Ficaram no meio da pista, olhando-se. Lauren ainda não compreendia o que estava acontecendo.
- Ora, vejo que já foi apresentada ao “grande” Gerry Burns – continuava Frederick, usando seus termos de duplo sentido, maliciando sobre o físico avantajado de Gerard.
- Na verdade, ainda não tínhamos sido apresentados – disse Lauren, sentindo-se petrificar.
- Bem, então eu os apresento. Lauren O’Brien, este é Gerard Burns. Gerry, esta é Lauren. Caso não tenha me reconhecido, sou Frederick Lewinsky, da LAAR. Vamos, querida. Temos que cumprimentar outras pessoas. Quero apresentá-la para algumas pessoas importantes.
Lauren podia sentir o veneno escorrendo daquela boca fina e obscena.
Não houve tempo para que trocassem novas palavras, pois Frederick praticamente arrancou-a dos braços dele, deixando-o paralisado no meio do salão.
- Vejo que não perdeu tempo, senhorita Lauren. Assim que eu gosto. De cara já foi atacando a presa... E então, conseguiu alguma informação interessante?
Ela queria fugir dali. Sentia-se extremamente embaraçada com a situação. Como pudera não reconhecer o homem a quem vinha atacando sem piedade nas últimas semanas. E o pior, sentir aquela atração irresistível, que sentira por ele minutos atrás. Olhava para Frederick, mas parecia não entender o que ele dizia. Ele a levava para junto do diretor do novo lançamento hollywoodiano, segurando-a, como se ela não tivesse mais o controle de
suas ações. Talvez as tivesse perdido mesmo, ao ouvir o nome de Gerard. Evitou olhar para trás. Ainda não se sentia segura o suficiente para encará-lo novamente.
Não encontrou mais animo para dançar, apesar da insistência de Frederick, que parecia resolvido a mostrá-la como sua última conquista. Ela estava tão preocupada com o que estaria Gerard pensando a seu respeito que mal conseguia rebater as investidas do outro. Num momento, próximo ao final da festa, quando seu “algoz” a deixou por alguns instantes, sentiu alguém se aproximar ás suas costas. Ouviu a sua voz, agora com o sotaque escocês mais acentuado, provavelmente pela irritação que parecia ter tomado conta dele:
- Então você costuma falar mal de pessoas que nem conhece?
Ela respirou fundo e virou-se para enfrentá-lo. Encontrou outro homem, que já não era mais aquele com quem se envolvera romanticamente momentos atrás. O brilho de seus olhos já não demonstrava desejo, e sim raiva e ameaça.
- Desculpe se não o reconheci. O ambiente, a música, as roupas casuais me confundiram.
- Espero que não se confunda ao escrever a sua próxima coluna. Lançar calúnias pode gerar processos. Você devia ter mais cuidado com o que escreve.
- É o meu trabalho. Só devo satisfações ao meu editor. Que eu saiba, estamos num país com liberdade de imprensa.
Neste momento, Frederick retornava de mais uma “excursão” entre os convidados. Ao vê-lo, Gerard rociferou:
- È melhor você dar satisfações ao seu editor. Ele parece muito necessitado da sua atenção. Afinal, o seu emprego pode estar em jogo, se ele for ciumento.
Ao ouvir esta insinuação, Lauren teve vontade de gritar, mas conteve-se ao pensar que ele apenas estava retribuindo uma pequena parte dos insultos que tinha recebido.
- Vamos, Lauren. Esta festa já deu tudo que tinha de dar – disse Frederick, com ares de posse.
Gerard permanecia com expressão de escárnio e ressentimento, olhando-a, enquanto se afastavam. Pensava em como podia ter-se enganado tanto. Quando vira aquela bela mulher de olhar perdido e doce, pensou ter encontrado alguém diferente das outras. Que decepção! Do Céu, caíra no Inferno, abruptamente.

Apesar de recusar a oferta de Frederick para levá-la para casa, diante de sua insistência acabou cedendo. Quando estava entrando no carro, ainda pode ver Gerard aguardando a sua vez de pedir ao manobrista o seu BMW preto. Seus olhares se cruzaram mais uma vez. Ficou perguntando-se porque as coisas tinham de ser assim. Não conseguia tirar da cabeça aquele momento mágico que acontecera entre os dois antes de ser reconhecida como a vilã da história.
Ao chegarem em seu edifício, notou a insinuação de Fred para levá-la até a porta de seu apartamento, com a desculpa de beber um último drink.
- Eu não bebo, Fred.
- Bem, então um café. Podemos dar um final ainda mais agradável a esta noite. Que tal? – perguntou, lançando um sorriso pretensamente sensual para Lauren.
- Fred, você é meu chefe e o respeito muito. Mas acho que nossa relação não deve passar disso. Não quero misturar as coisas e espero que você também respeite estes limites.
- Acho que você está muito séria. Se as coisas podem ficar melhores, porque não tentar?
- Não creio que elas fiquem melhores do que estão – disse, querendo sair dali o mais rapidamente possível.
- Você parece ter ficado muito impressionada com o Burns. Estou enganado? – perguntou, segurando-a pelo braço, ao notar que ela pretendia deixar o carro.
- Eu me senti muito mal por não tê-lo reconhecido imediatamente e pela reação dele ao saber quem eu era. Só isso.
- Você esperava o quê? Na nossa área temos que estar preparados para o ódio que originamos com nossos artigos. Com o tempo vai se acostumar.
- Será que vou me acostumar? – falou, num sussurro quase que para si mesma.
- Será que notei algum outro tipo de interesse neste seu encontro com Burns. Ele tem fama de garanhão. Será que fez mais uma presa?
- De maneira alguma! Apenas fiquei chateada com a “saia justa” em que me meti.
- Espero que sim. Como você falou, não é bom misturar negócios e prazer. Mas... se mudar de idéia quanto a isto, pode me procurar. Estarei esperando... – dizendo isto, tentou aproximar-se de Lauren, pronto para abraçá-la.
- Até mais, Fred – disse friamente, afastando-se dele de imediato, virando o rosto e abrindo a porta para descer – Muito obrigada pela noite divertida.
Frederick sentia-se muito atraído por Lauren desde que a vira entrar em seu gabinete na primeira vez. Quando viu que ela não era só um rosto bonito, mas que também tinha talento jornalístico, a admiração só tinha aumentado. Era uma alma limpa, diferente das outras que o cercavam no seu dia-a-dia. Gostaria de tê-la antes que a lama a encobrisse. Ela tinha objetivos a alcançar. Ele sabia que o tipo de trabalho que ele lhe oferecia estava muito aquém do seu potencial. Talvez pudesse ajudá-la um pouco mais, mas isto dependeria do comportamento dela para com ele. Em sua arrogância sentia-se como Mefistófeles. Já tinha usufruído muito de seu poder para conseguir as pessoas que ele desejava. Todas partiam contentes para o seu brilhante futuro... Ou não. Mas todas, com a sua marca.
Sozinha em seu apartamento, Lauren ainda pensava no ocorrido e não conseguia tirar da memória aquele olhar magoado que vira nos olhos de Gerard. Mas como dissera Fred, era algo com o que teria de aprender a lidar. Já percebera que não seria uma coisa fácil.

Na semana seguinte, ao chegar na redação, foi recebida animadamente por Fred.
- Bom dia, Lauren! Tenho ótimas notícias para você.
- Bom dia, Fred. Que bom para iniciar o dia.
- O seu amiguinho fortão, Burns, vai dar uma coletiva falando sobre o seu novo filme. Eles acabaram as filmagens e estão ansiosos e dar conta disto. Acho que teremos um novo “blockbuster” por aí. Claro que teremos que colocar o nosso “tempero” em nossas perguntas e procurar alguma coisa mais apimentada que o habitual. Você sabe... Tentar tirar alguma polemica das palavras dele.
“Oh, Deus! Isto não”, apavorou-se Lauren com a perspectiva de ter que fazer mais uma coluna atacando Gerard.
- Quem vai até lá para as perguntas?
- Como quem? Você, é claro!
- Como eu??? Sempre é um dos seus repórteres de rua que vai atrás das informações. Eu apenas registro na coluna com o... “tempero” – Lauren estava desesperada com a possibilidade de ter que encontrar Gerard novamente e numa situação tão constrangedora.
- Lauren, estou te dando a oportunidade de você sair da redação e atuar diretamente com o seu alvo. Você poderá fazer as perguntas mais convenientes para a sua crítica, sem depender de outros. O que está acontecendo??
Ela sabia que ele tinha razão. Era uma oportunidade valiosa em qualquer outra situação. Mas não era o que sentia no momento.
- Não está acontecendo nada, Fred. È que fiquei tão surpresa com a novidade que ainda estou me recuperando.
- Ainda bem! Achei, por um instante, que você estava com medo de entrevistar pessoalmente aquele sujeito.
- Quando vai ser a coletiva?
- Amanhã. Você terá tempo para organizar suas perguntas. Também estarão presentes outros realizadores, como o diretor Silver. Você pode entrevistá-los também. Depois lhe dou a relação. Mas o nosso foco principal é o ator principal, Burns, como você bem sabe. Acredito que esta será a última coluna sobre ele. Este ano. Quero que você mire em outro alvo. Conversaremos sobre isso depois.
Ela precisava conseguir outro trabalho. Não acreditava que fosse agüentar muito tempo. Sentia-se repugnada a cada artigo seu. Agora precisava usar todo o seu sangue-frio para ir adiante com esta entrevista. Como seria recebida por ele? O que perguntaria a ele? O jeito era preparar-se para tudo.
As entrevista seriam feitas dentro dos estúdios onde foi realizado o filme. Os jornalistas foram levados a uma pequena excursão entre os cenários e foi explicada a técnica do cromaqui, onde os atores trabalhavam sobre um fundo azul. Na verdade, não seria uma coletiva. As entrevistas seriam em separado. Os entrevistados foram colocados em recantos diversos do estúdio e os jornalistas fariam um rodízio entre eles.
Logo que acabou a visita aos cenários, Lauren avistou Gerard, vestido com jeans e uma camiseta verde, que realçava seu magnífico corpo malhado. Ele transmitia força e sensualidade por todos os poros. Era impossível ficar impassível diante dele. Só conseguiu desviar os olhos dele quando notou que tinha sido reconhecida. Sentiu o seu olhar gelado penetrá-la como uma adaga muito afiada. Tinha que conseguir forças para encará-lo também friamente e agir como profissional que era.
Ele foi o seu último entrevistado. Permaneceu sentado a encará-la. Aquele olhar a intimidava e incomodava. Queria tanto ver novamente o olhar doce que a atingira na primeira vez que o vira...
- Bom dia, senhor Burns.
- Bom dia, senhorita O’Brien. Vejo que resolveu assumir sua posição no corpo-a-corpo e não ficar mais escondida atrás do seu teclado – disse, mostrando um sorrisinho de mofa.
- Bem, senhor Burns, não quero roubar muito do seu tempo, por isso gostaria de começar minhas perguntas.
- Fique a vontade. Pode perguntar.
Ele parecia estar se divertindo com o visível desconforto de Lauren, por mais que ela tentasse disfarçar.
Ela iniciou seu questionamento, com perguntas pertinentes e interessantes, que fez com que o clima entre eles ficasse menos tenso.
- Vejo que está tentando mudar o seu estilo. Que bom...
- Este é o meu estilo, sr. Burns. O outro é de acordo com o que meu editor exige. Infelizmente não posso fugir do que me é solicitado, tendo em vista que sou empregada.
- Só empregada? Me pareceu que vocês eram um pouco mais que isso naquele outra noite.
- As aparências podem enganar.
- Tenho certeza disso – falou com certa ponta de amargura na voz.
- Posso fazer minha última pergunta?
- Claro! À vontade...
- Como foi trabalhar por tanto tempo, em estúdio, com dezenas de homens seminus, e tanta testosterona no ar? Não se sentiu inibido? – perguntou, imaginando qual a intenção de Frederick quando sugeriu a pergunta.
- No início, é difícil sentir-se à vontade, vestido apenas com uma sunga de couro e uma espada na mão como únicas indumentárias, mas depois você se acostuma. O ambiente era muito agradável e um clima de grande camaradagem criou-se durante as filmagens.
Ela desligou seu gravador e fechou seu bloco de anotações.
- Já terminou? – perguntou ele, um pouco desapontado.
- Já. Está liberado.
- Podíamos almoçar juntos. O que acha?
- Não creio que seja uma boa idéia. Tenho muito trabalho a fazer e imagino que você também tenha seus compromissos. Fica para outra vez – disse, mas pensou que, depois desta última coluna a seu respeito, ele não ia querer vê-la nunca mais.
Lauren levantou-se e estendeu sua mão para despedir-se dele. Ele pegou suas mãos entre as suas, num toque cheio de calor e, olhando-a intensamente, disse:
- Espero que nos vejamos em breve, Lauren...
- Acho difícil... Mas quem sabe? – tentava fitá-lo nos olhos, mas tinha medo de ceder àquela atração que ele provocava nela. Por isso, usou o truque de olhar para o seu nariz e evitar os atraentes olhos verdes.
Puxou a mão rapidamente do conforto em que estavam e virou-se para sair. Estabanadamente, tropeçou na cadeira onde ficara sentada e quase caiu não fosse a agilidade de Gerard em segurá-la. Ele a puxou contra si e perguntou, parecendo estar se divertindo com a atrapalhação dela:
- Você está bem? Não se machucou? - perguntou, sem parecer ter a intenção de soltá-la facilmente.
- Estou bem. Pode me soltar. Obrigada – neste momento, não teve como escapar daquele olhar. Por um instante achou que ele ia beijá-la. Ansiava por isto, reconheceu. Mas não podia permitir que isto acontecesse. Tinha certeza que se isto acontecesse, estaria perdida... Irremediavelmente.
Conseguiu afastá-lo e recompor-se. Notou que ele também ficara desconcertado com a situação e que também tentava controlar-se.
- Adeus, senhor Burns.
- Até mais, senhorita O’Brien...
Quando chegou a redação, Frederick estava a sua espera para convidá-la para almoçar.
- Sinto muito, Fred... Não estou com fome. Vou tentar começar a escrever minha coluna. Que eu saiba tenho que entregá-la até amanhã, no máximo, não?
- È tem razão. Não quero atrapalhar a sua criação... Correu tudo bem na entrevista?
- Sim... Tudo – respondeu com displicência, como se tivesse sido algo corriqueiro.
- Que bom – disse ele desconfiado da indiferença com que ela estava tratando o assunto.
Quando terminou de escrever seu artigo, foi até a sala de Frederick para que ele desse o seu aval, como sempre.
- Lauren, o que houve com você? Isto aqui está um lixo?
- Lixo?
- Onde está a malícia que é característica de nossas colunas?
- Infelizmente, não achei nada em que pudesse me basear para criticar Burns.
- Você está amolecendo, menina. Não viu a deixa que lhe dei através daquela pergunta? O que ele respondeu?
- Nada demais. Apenas que o clima durante as filmagens foi muito agradável e de grande camaradagem.
- Camaradagem, é? Acho que você ficou mais impressionada com Burns mais do que aparenta, Lauren. Isto está tirando o seu senso crítico e a malícia necessária para escrever sua coluna em nosso site – ele estava começando a ficar irritado com a atitude de Lauren. Não queria perder a sua colunista nem tampouco a perspectiva de poder tê-la em sua cama.
- Sinto muito, Fred, se não estou agradando. O que você está querendo é que eu escreva um lixo. Eu não consigo mais fazer isto.
- Quem sente muito sou eu, Lauren. Ainda há tempo de voltar atrás. Reescreva este texto e esquecemos o assunto.
- Não vou reescrever o artigo.
- Vou ser obrigado a demiti-la por esta insubordinação.
- Não há necessidade. Se você não reparou, eu entreguei um envelope junto com o artigo. È a minha carta de demissão.
- Como?? – perguntou, quase tendo um acesso de fúria.
- Não consigo mais trabalhar desta maneira. A cada coluna que escrevo, me sinto corromper, indo contra meus princípios morais. Tenho vergonha do que escrevo. Acho que tenho talento para escrever material mais digno.
- Quem disse que você tem talento? – perguntou perversamente, indignado com Lauren – Eu a escolhi por suas belas pernas e seu rostinho de anjo. Você não escreve mal, mas talento? Ora, docinho, ponha-se no seu lugar.
- Eu entendo que esteja chateado comigo, Fred, mas não precisa apelar.
- Não estou apelando. Estou dizendo a verdade.
- Adeus, Frederick. Espero que você encontre outro redator mais talentoso que eu. Obrigada por ter agüentado a minha falta de talento tanto tempo – dizendo isto, foi virando-se em direção a porta do gabinete, de cabeça baixa.
Numa atitude raivosa, Frederick pegou Lauren pelos ombros e a virou de frente para si, e com os olhos queimando, falou:
- Você não pensa que vai sair daqui sem ao menos me dar um beijo de despedida? – dizendo isso, com expressão irônica na face, tentou beijá-la a força.
Lauren começou a lutar com todas as suas forças para escapar daquela boca odiosa e das mãos que tentavam imobilizá-la. Começou a gritar, pedindo que ele a soltasse.
Quando pensou que não conseguiria mais evitar aquele contato asqueroso, a porta se abriu e a secretária dele surgiu, com cara de espanto.
- O que você quer aqui??? Dê o fora! Quem a chamou??? – Frederick tinha perdido totalmente o controle.
Aproveitando aquele instante, Lauren libertou-se de suas garras e fugiu. Correu até seu pequeno escritório e começou a juntar suas coisas, que não eram muitas. Queria sumir dali o mais rápido possível.
- Você está bem, Lauren? – perguntou Marian, a secretária de Frederick, que tinha muita simpatia por ela, desde o início.
- Estou sim. Obrigada, Marian. Se você não tivesse entrado naquela hora, não sei o que poderia ter acontecido. Você me salvou daquele monstro.
- O Frederick ás vezes passa dos limites. Acho que a única que escapa das cantadas dele sou eu. Acho que não faço o tipo dele – constatou com um sorrisinho amarelo.
- Sorte sua.
- Você vai embora? – perguntou ao constatar que Lauren estava esvaziando suas gavetas- Ele a demitiu?
- Não, Marian. Eu me demiti. Vou procurar um lugar para trabalhar onde eu possa ser eu mesma. Pensei que conseguiria, mas não deu.
- Que pena, Lauren. Sabe que eu gosto muito de você, não sabe?
- Sei sim, querida. Você tem o meu telefone. Liga para que a gente possa conversar um pouco, fora daqui. Eu devo voltar amanhã á tarde para ir ao setor de pessoal para os acertos da demissão.
Despediram-se.

Na manhã seguinte, Mike estava em seu escritório, junto à tela de seu computador, lendo as últimas fofocas dos semanários locais, quando se deparou com a coluna de Lauren. Ficou pensando qual seria a reação de Gerry ao colocar os olhos sobre ela. Era melhor mantê-lo na ignorância. “Ainda bem que ele não tem o hábito de entrar na Internet”, pensou, tranqüilizando-se. Rápidamente clicou no controle para minimizar a tela.
- O que houve? O que tem aí que eu não posso ver?
- O quê? Do que você está falando? – perguntou Mike, tentando disfarçar.
- Eu vi que você desligou a tela para eu não ver alguma coisa. Não tente me enganar Mike. Se você não me disser, vou acabar descobrindo do mesmo jeito.
- Está bem – disse maximizando a imagem novamente.
Gerry começou a ler. Era a coluna de Lauren O’Brien. Seu rosto foi transfigurando-se na medida em que lia os comentários a respeito de sua entrevista. Não podia acreditar que ela tivesse tido a coragem de insinuar aquelas coisas a seu respeito. Ela baseou-se na resposta da última pergunta. Mas ela ia ver com quem estava lidando.
- Gerry! Aonde você vai?? - gritou Mike, tentando evitar que o amigo fizesse uma besteira - Não se meta com este tipo de imprensa. Só vai dar chance a eles de enlamear muito mais a sua imagem. Não vale á para pena.
- Não se preocupe. Sei muito bem o que estou fazendo.

Lauren acabara de resolver os tramites legais de sua demissão, dando graças aos céus de não ter encontrado com Frederick. Talvez tivesse o dedo de Marian ali. Ela sabia que Lauren ia passar por lá à tarde. Finalmente, podia respirar novamente. Nunca mais se deixaria levar pela vontade de um editor. Continuaria mandando seu currículo para outros jornais e revistas. Tinha certeza de que conseguiria um emprego melhor e mais saudável que este último. Teve a sensação de estar sendo seguida. Entrou em seu carro e dirigiu até sua casa. Deixou o carro na garagem do prédio e entrou no elevador. Mal começou a subir, a porta abriu no andar térreo. Algum outro morador devia estar chegando em casa. Não costumava encontrar-se muito com outros condôminos. Quando levantou os olhos para ver quem havia entrado, sentiu-se entontecer. Era ele. “Gerard Burns!... Ai, meu Deus!!”
Ele esperou que a porta se fechasse e encurralou-a junto à parede nos fundos do elevador, deixando-a totalmente sem ação. Mesmo sem tocá-la, eu olhar furioso e sua presença física deixaram-na sem ação.
- Senhor Burns! O que está fazendo aqui??
- Você não tem idéia do porque de minha presença?
- Se é sobre a minha última coluna sobre a nossa entrevista, não disse nada demais.
- Não disse nada demais?? Você praticamente afirmou que sou gay!!
- Não escrevi nada disso. Acho que está havendo algum engano... – ela tentava distraí-lo para tentar acalmá-lo, mas ele parecia irascível. Será que Frederick tinha tido a coragem de modificar o seu texto, mantendo a sua autoria? A porta do elevador finalmente abriu-se e ele a puxou pelo braço, na direção do corredor.
- Muito bem...Onde você mora? – ele tentava falar num tom baixo de voz.
- Você acha que vou deixá-lo entrar na minha casa? Se tiver alguma reclamação, dirija-se á redação e fale com o editor-chefe, Frederick.
- O seu amante??
- Ele não é meu amante!!
- Ah, então ele não vai ficar chateado se eu fizer uma demonstração ao vivo de minha masculinidade para a sua repórter difamadora
- O quê?? O que você está dizendo?
- Vamos logo para o seu apartamento antes que eu comece a fazer um escândalo aqui no corredor dizendo todos os adjetivos que já imaginei pensando em você e no que escreveu a meu respeito.
- Como se atreve?
- Eu que pergunto como você se atreve a difamar alguém. Cheguei a pensar que... Deixa prá lá - Por alguns instantes ela notou uma nuvem de tristeza rondando a sua face, mas logo a fúria voltou – Então, vai querer um escândalo aqui e agora?
- Está bem! Acalme-se! È aqui – identificou a porta de seu apartamento, enquanto procurava as chaves nervosamente. Finalmente as encontrou. Talvez conseguisse acalmá-lo, conversando em sua sala. Precisava saber o que Frederick escrevera. Mal abriu a porta, Gerard empurrou-a para dentro, sem largar o seu braço, e fechou a entrada com certa força. Imprensou-a contra a porta, passou os braços em torno do seu corpo e beijou-a violentamente. Lauren estava perplexa com o que estava acontecendo. Começou a debater-se, numa tentativa de escapar daquele abraço truculento, mas era impossível. Ele era quase o dobro de seu tamanho. De repente, a boca de Gerard diminuiu a pressão sobre a sua. Ele afastou o rosto, de forma a olhá-la dentro dos olhos, por alguns instantes. Ela o sentia tenso e tremulo, mas parecia que a raiva estava passando. Agora seu olhar apresentava outro tipo de brilho. Um brilho selvagem, demonstrando um desejo crescente. Lauren não conseguia lutar contra aquela sensação. Não conseguia ficar com raiva dele por causa da violência com que estava sendo tratada. Ele tinha o direito de ficar assim. Mexeram com os brios dele. Queria dizer-lhe que não escrevera nada que o desabonasse, mas achava que ele não acreditaria, naquele momento. Tinha apenas vontade de beijá-lo e abraçá-lo...
Mais uma vez, Gerard aproximou seus lábios da boca de Lauren e a beijou mais uma vez. Desta vez com desejo e sofreguidão. Não mais com estupidez. E foi correspondido.
Suas mãos passeavam por todo o seu corpo, estudando suas formas, abrindo o fecho de seu vestido, nas costas, tocando sua pele e incendiando-a. Quando ela começava a corresponder, esquecendo-se da situação que gerara aquele encontro, sentiu-o tenso de novo, tornando-se rude e afastando-a bruscamente. Mais uma vez a olhou, porém com desprezo, e disse:
- E agora, será que consegui demonstrar que sua teoria sobre minhas preferências sexuais estão erradas ou vou precisar ir mais fundo em minha demonstração?
Lauren sentiu-se desfalecer. Não acreditava que ele estivesse falando aquilo... Claro...ele era um ator, que tinha desempenhado muito bem o seu papel e, que por instantes, a fez pensar que ele realmente a desejava. Sentiu-se humilhada e indefesa. Empurrou-o para trás com as poucas forças que encontrou e gritou:
- Saia daqui! Seu grosso, estúpido! – e começou a bater em seu peito, com raiva, sentindo as lágrimas aflorarem em seus olhos – Saia!!
A vergonha por ter se deixado levar por Gerard era tão grande que ela não pode ver o momento em que o olhar dele abrandou e um lampejo de arrependimento passou em seus olhos verdes. No íntimo, ele lutava contra o desejo de possuí-la. Não por vingança, mas por desejo legítimo. Apesar de tudo que acontecera, apesar das palavras ferinas lançadas por ela em sua coluna, ele continuava a ansiar pela sua presença, por seu abraço e por seus beijos. No fundo, não podia acreditar que ela fosse tão vulgar como pareciam seus comentários. Gostaria de tê-la conhecido de outra maneira. Com estes pensamentos rondando sua mente, virou as costas e abriu a porta do apartamento, ainda tentado a abraçá-la e consolá-la. Porém, a razão falou mais alto e ele se foi, fechando a porta sem fazer barulho.
Lauren sentia-se fraca. O ar parecia lhe faltar. Só depois de alguns instantes, conseguiu soltar o choro. Um choro desesperado, angustiado. Jogou-se sobre o sofá da sala, perdendo a noção de quanto tempo ficou desaguando sua mágoa e sua humilhação, até que conseguisse recuperar-se e pensar mais objetivamente no que havia acontecido.
Gerard voltou para casa. Não tinha a sensação de alívio que pensou que teria ao humilhar Lauren. Sentia-se, isso sim, um canalha. A raiva passara e só ficara aquela sensação ruim de ter perdido alguém, que nem chegara a conhecer direito. Provavelmente fosse apenas sua imaginação... Ela não era diferente das outras. Estava batalhando seu lugar ao sol e venderia a alma ao demônio para conseguir sobressair-se sobre os demais. O melhor a fazer agora era esquecê-la. Não podia continuar iludindo-se.

Os dias passaram. Gerard já estava com sua viagem marcada para Toronto, onde iniciaria a filmagem de seu novo trabalho, com Pierce Brosnan. Ainda não conseguira tirar Lauren da cabeça. Naquela manhã, foi ao encontro de Mike para falar sobre futuros projetos que tinham em comum, quando o amigo e empresário perguntou-lhe:
- Não ouviu falar mais da sua repórter predileta? – disse em tom de brincadeira. Como todas as outras fofocas de Hollywood, aquela sobre Gerry já tinha sido esquecida. Tinha sido incomodado por mais um ou dois jornalistas sensacionalistas, mas o assunto já tinha sido esquecido, principalmente depois que algumas poucas cenas do filme com ele haviam sido veiculadas. Por isso já conseguia fazer graça
- Felizmente não – mentiu pesarosamente.
- Ela não escreveu mais sobre você nem sobre ninguém.
- Como assim? – perguntou repentinamente curioso.
- É o que eu estou falando. Lauren O’Brien sumiu do mapa. De duas uma. Ou ele foi despedida ou Frederick a adotou para ficar na casa dele – disse, soltando uma gargalhada, relembrando a fama de Frederick Lewinsky.
- Não vejo graça alguma nisso.
- Você ainda está pensando nela, Gerry? Depois de tudo que ela falou mal a seu respeito.
- Olhe, Mike, a conversa está ótima, mas acho que já terminamos o que tínhamos para resolver. Vou andando. Lembrei que tenho umas voltas para dar. Até mais! – despediu-se rapidamente, não querendo mais manter aquela conversa.
- Está bem, Gerry. Quando quiser conversar, sabe onde me encontrar. Até! – respondeu Mike, resolvido a não se intrometer nos sentimentos do amigo.
Gerard pegou seu carro e foi direto para a sede da LAAR. Ficou dentro do carro, no estacionamento. Em alguns instantes, tinha conseguido o telefone da redação.
- Los Angeles Actor’s Report, bom dia?
- Bom dia. Por favor, eu gostaria de falar com Lauren O’Brien.
- Um momento senhor...- falou a telefonista esganiçada, demorando alguns segundos para completar sua procura – Sinto muito, senhor. A senhorita Lauren O’Brien não trabalha mais conosco.
- Não trabalha mais? Desde quando?
Depois de mais alguns segundos:
- Desde há aproximadamente um mês.
“Um mês... Exatamente depois de seu último encontro com ela”, pensou. “Será que Mike tinha razão. Será que ela tinha deixado o trabalho para morar com o chefe?” Não conseguia aceitar aquela possibilidade. Mike tinha falado aquilo por brincadeira. “Será?”
- Teria como saber mais informações a respeito da senhorita Lauren?
- Um momento, senhor... Como é mesmo o seu nome?
- Gerard Burns.
- Vou transferi-lo para a senhorita Marian, secretária do senhor Lewinsky. Um momento, por favor...
Enquanto aguardava, os pensamentos mais terríveis o rodeavam. Perguntava-se porque ainda insistia em querer saber notícias daquela mulher.
- Alô? O que o senhor deseja? – perguntou Marian, em tom antipático. Ainda estava indignada pela maneira como este Burns tinha tratado sua amiga. Lauren contara tudo para ela logo após o incidente.
- Fiquei sabendo que a senhorita O’Brien foi demitida do LAAR e gostaria de saber onde está trabalhando agora.
- Para seu conhecimento, ela não foi demitida. Ela pediu demissão. Em segundo lugar, não estou autorizada a lhe dar maiores explicações. Tenha um bom dia, senhor Burns.
Ele achou estranho o modo como a mulher, que ele nem conhecia, o estava tratando. Parecia desprezá-lo.
- Por favor, eu...
A ligação foi cortada subitamente.
- Estava falando com alguém, Marian? Por que desligou tão rápido? É algum namorado? Você sabe que não admito este tipo de ligação aqui dentro.
- Não, Frederick. Era um chato querendo emprego.

Ainda com o fone na mão, Gerard perguntava-se o que teria acontecido. De qualquer maneira ficara agradavelmente surpreso em saber que ela pedira demissão. “Será que o ocorrido entre eles teria contribuído para isso?”, indagou-se. Precisava encontrar Lauren ou, pelo menos, esclarecer melhor as coisas. Talvez se fosse ao seu apartamento...
Saiu do estacionamento, dirigindo-se ao endereço de Lauren. “Será que ela o receberia? Talvez não. Ele fora muito cruel com ela. Talvez precisassem conversar sobre tudo que acontecera. Ela havia dito que não escrevera nada demais sobre ele. Seria verdade? Não dera chance a ela para explicar-se.”
Finalmente chegou ao prédio de Lauren. Havia um caminhão de mudanças estacionado bem em frente. Na portaria, ao perguntar por ela, ficou sabendo que não morava mais lá e que a mudança que estava acontecendo naquele momento era do novo inquilino que ocuparia seu antigo apartamento. Ninguém sabia informar para onde ela havia se mudado. Lembrou de Marian, a secretária de Lewinsky. Ela devia saber de alguma coisa. Tentaria falar com ela. Ligou mais uma vez para a redação do LAAR.
- Senhorita Marian, por favor, não desligue.
- Quem fala?
- Gerard Burns.
- Você de novo. Já não lhe disse que não posso lhe dar nenhuma informação?
- Por favor. Tenho certeza de que pode me ajudar. È importante. Preciso falar com Lauren para esclarecer algumas coisas que aconteceram.
- Eu sei o que aconteceu e devo dizer que o senhor foi bastante grosseiro.
- Eu sei. Por isso estou ligando. Pode me ajudar, por favor?
- Não posso falar daqui. Pode me encontrar no Joe’s? È uma cafeteria que tem aqui próxima, onde não há risco de eu ser pega em flagrante pelo meu patrão.
Gerard agradeceu e desligou, assim que pegou detalhes da localização do café e do horário do encontro com Marian.


- Obrigado por ter vindo, Marian – cumprimentou-a assim que a identificou como a secretária irritada que o tinha atendido ao telefone – Então você é amiga de Lauren.
- Ela é uma pessoa muito especial. Lamento que ela tenha ido embora. Mas acho que foi melhor para ela.
- Como assim, embora? Embora do emprego, não?
- Embora desta cidade maluca! Para ficar longe de malucos como você e o Frederick.
- Espere um pouco. Não me compare com aquele sujeito desclassificado.
- Vocês agiram muito parecido para com ela, que eu saiba.
- Parecido, como?
- Tentaram pegá-la a força.
- Espere um momento. Do que você está falando? Vamos começar do início. A última vez que vi Lauren eu havia perdido a cabeça por causa do artigo que ela escrevera sobre mim. Acabei me comportando muito mal, reconheço.
- Exatamente. Não foi ela que escreveu... Pelo menos, não com os comentários “indigestos”.
- Não foi ela que escreveu?
- Não. Ela havia escrito um texto elogiando o seu trabalho e sugerindo que em breve teríamos um novo astro em rápida ascensão.
Ele estava pasmo e sentindo-se muito mal ao pensar em como a havia tratado.
- Mas quem escreveu a parte “indigesta”?
- Quem você imagina que tenha sido? Frederick, é claro. Acho que ele estava com ciúmes de Lauren.
- Ciúmes?
- Já estou falando demais.
- Por favor, Marian, continue – pediu, impaciente.
- Quando ela mostrou o seu artigo a Frederick, obviamente ele não gostou. Disse que se ela não mudasse o conteúdo conforme o que ele queria, ele a demitiria. Só que ela já estava com sua carta de demissão pronta e entregue junto com o seu texto. Frederick perdeu a cabeça ao se dar conta disso e tentou pegá-la a força no seu gabinete. Ela havia sido a única funcionária, além de mim, é claro, que não havia tido um “flerte” com ele. Se é que me entende – disse, piscando o olho direito – A sorte é que eu a ouvi gritar e cheguei a tempo de evitar o pior.
Gerard sentia uma mistura de alívio e culpa ao mesmo tempo. Ela era realmente como ele imaginara, e ele havia sido tão estúpido...
- Marian, para onde ela foi?
- Não sei – disse – Não sei mesmo. Não adianta perguntar. Ela não disse porque tinha medo que Frederick pudesse saber e tentar prejudicá-la – confirmou sua falta de conhecimento ao enfrentar o olhar sério de Gerard.
- Está bem. Ao menos ela tem mantido algum contato com você?
- Às vezes ela me liga, quando dá tempo. Parece que está ocupada escrevendo muito. Acho que conseguiu um novo emprego, mas não sei nada além disso.
Pediria para que Mike procurasse na Internet pelo nome dela. Em algum canto ele iria achá-la.
- Marian, gostaria de te agradecer. Eu preciso me desculpar com Lauren.
- Acho que vai ser muito bom... Desejo boa sorte para você.
- Obrigado. Boa sorte para você também. Trabalhando com o Lewinsky, você precisa.
- Com certeza – disse com um grande sorriso.

Gerard foi para seu apartamento com a cabeça rodando com mil pensamentos. Teria que partir para Toronto em dois dias e lá teria de permanecer por cerca de um mês, até terminarem as filmagens
Antes de viajar, Gerard pediu a Mike que o avisasse sobre qualquer notícia que tivesse sobre Lauren.
- Nunca o vi tão interessado numa mulher como nessa. O que o impressionou tanto assim? Já estou curioso...
- Não sei, Mike. Acho que a situação mal resolvida entre nós é que está me incomodando. Sinto necessidade de esclarecer com ela tudo isto.
- Sei... Só esclarecer, não? Está bem. Vá tranqüilo. Ela ainda deve estar no planeta Terra. Quando a encontrar, o aviso. Não se preocupe mais com isso. Deixe a cabeça livre para o trabalho, que é o que realmente importa nas próximas semanas.
- Não se preocupe. Vai ser bom mudar de ares um pouco e trabalhar da forma mais usual, sem um cromaqui por perto – dizendo isso, conseguiu esboçar um tímido sorriso.

O término das filmagens demorou um pouco mais do que o previsto. Alan ainda não dera sinal de ter encontrado qualquer pista do paradeiro de Lauren.
Ao voltar para os Estados Unidos, Gerard decidiu que ficaria um tempo em seu apartamento de Nova Iorque, que acabara de ser reformado. Talvez se distraísse um pouco comprando peças para decorá-lo. O decorador já tinha lhe solicitado diversas vezes que o ajudasse na escolha de móveis e objetos de arte que complementariam o visual, mas ele nunca tinha disponibilidade de tempo ou vontade de ficar escutando as maluquices do seu decorador. Ele era uma excelente pessoa, mas ligeiramente obsessivo. Aproveitaria este período, em que estaria sem filmar fora do país, para dar-lhe uma atenção.
Ao chegar, lhe foi entregue uma pilha de correspondência, que ainda não fora encaminhada para Los Angeles por seu agente de Manhattam. Depois de tomar um banho quente e colocar uma roupa mais confortável, sentou-se para distrair-se olhando os envelopes recebidos. Vários convites para inaugurações, premieres, festas, muita propaganda e...um convite para o lançamento de um livro. Estranho... Não era citado o nome do autor. O título era bem interessante: “Fofoca em L.A. – O Lado Sórdido da Imprensa”. Tinha tudo a ver com a situação pela qual ele tinha passado nos últimos meses. A sessão de autógrafos seria em três dias. Talvez fosse até lá. Seria um programa diferente.
Dois dias depois, recebeu um telefonema muito estranho. Uma voz de mulher, que lhe soou familiar, ligou perguntando se ele confirmava a presença no lançamento do livro “Fofoca...”.
- A sua presença é importante neste evento.
- Quem está falando? – perguntou, tentando identificar a voz. Parecia com a de Lauren. Será que estaria imaginando coisas?
- O senhor confirma sua presença, senhor Burns?
Era ela! Resolveu deixá-la pensar que não a reconhecera.
- Confirmo, sim. Estarei lá, amanhã...
- Muito obrigada – agradeceu e desligou o telefone imediatamente.
Tinha quase certeza que era Lauren. Só não entendia porque ela não se identificara. Ficou imaginando se ela estaria trabalhando na editora que estava lançando o livro. “Ou será que?...” – seus pensamentos provocaram um riso de admiração. Mal podia esperar pelo dia seguinte.

A sessão estava programada para o final da tarde daquela sexta feira. O transito estava terrível. Acabou por atrasar-se, apesar de ter saído quase uma hora antes do horário. Quando conseguiu chegar à livraria, suspirou aliviado. O movimento ainda era grande. Tentou aproximar-se da mesa onde o autor estava autografando. Foi quando teve a agradável surpresa. Confirmou suas suspeitas. Lauren O’Brien era a autora do livro Estava linda, sentada, segurando uma caneta e distribuindo o seu lindo sorriso para todos que a cercavam. Permaneceu num canto onde ela não podia vê-lo. Notou que, com certa frequência, seu olhar era desviado para a porta da livraria, procurando a presença de alguém. Esperava que fosse por ele. Quando o movimento diminuiu, ele resolveu aproximar-se num momento em que ela estava distraída assinando seu nome para um dos últimos da fila de leitores. Quando ela levantou os olhos para entregar o exemplar com sua dedicatória, viu Gerard a observá-la com carinho. Seu rosto iluminou-se de imediato.
- O senhor deseja um autógrafo? – perguntou Lauren, ainda sorrindo.
- Muito...
- Onde está o seu livro?
Só então Gerard deu-se conta de que não tinha comprado o livro.
- Só um momento, que vou adquirir o meu exemplar e já volto.
- Gerard... Não há necessidade disso. Estava brincando. O seu já estava separado, á sua espera... – dizendo isso, abriu numa das primeiras páginas e apenas assinou o seu nome sob algumas palavras.
- Só a sua assinatura? Acho que merecia uma dedicatória melhor, não?
- Será?...Leia – disse alcançando-lhe o livro aberto na página que assinara.
Lá estava impresso bem no centro: “Para Gerard, fonte de coragem e estímulo para que este livro fosse escrito”.
- Sou tudo isto? – perguntou emocionado.
Ela apenas sorriu.
- Você aceitaria jantar com o homenageado deste livro?
- Aceitaria...
Ainda tiveram que esperar um pouco mais até que os últimos compradores do livro conseguissem seu autógrafo.
Já era 20 horas, quando saíram lado a lado da livraria, depois de Lauren despedir-se do representante de sua editora. Ainda permaneciam contidos em seus sentimentos. Não sabiam o que esperar um do outro. Entraram no carro de Gerard que a levou até um pequeno bistrô francês, localizado no SoHo, na Rua Spring. O nome já era sugestivo para o momento de fazer as pazes pelo qual estavam passando: “Les Amis”
Falaram muito pouco durante o trajeto.
- Parabéns pelo sucesso do seu livro.
- É... Acho que o tema atrai. Todos querem saber sobre este universo. Eu tinha um extenso material. Na verdade, eu comecei a escrever logo que comecei a trabalhar para Frederick. Também fiz algumas pesquisas sobre a história, de como começou este tipo de jornalismo. Serviu um pouco para exorcizar meus demônios...
- Você está trabalhando aqui em Nova Iorque?
- Sim. Consegui emprego num jornal de médio porte. Eles já tinham lido alguns artigos meus e gostado do modo como eu escrevia. Só tive de prometer de não fazer nenhuma fofoca. Foi do que mais gostei – disse rindo – Minha nova editora é uma pessoa maravilhosa, que se interessou pelo meu livro e me ajudou muito para que ele fosse publicado em tão pouco tempo.
- Você está linda... – elogiou, desviando rapidamente seu olhar da rua para fitá-la com um brilho nos olhos – Acho que os ares de NY estão fazendo muito bem para você.
- Também sinto isso. Aqui estou fazendo o que realmente gosto, longe de pessoas insalubres como Frederick.
- Como você sabia que eu estaria em NY esta semana?
- Eu parei de perseguí-lo, mas o resto da imprensa continua mantendo suas fãs bem informadas.
- Às vezes esqueço isso.
- Além disso, Marian andou me falando que você estava me procurando.
- Disse o motivo também?
- Sim.
Finalmente chegaram ao bistrô. Era discreto e muito aconchegante, com mesas, na maioria para duas pessoas apenas, cobertas por toalhas brancas, decoradas com pequenos vasos de flores e velas acesas. Tinha um clima muito romântico. Lauren pareceu aprovar a escolha de Gerard. Foram conduzidos pelo garçom até um recanto mais privado, onde sentaram-se lado a lado. Depois de fazerem sua escolha do menu, Gerard tomou a iniciativa para iniciar sua conversa:
- Quero saber tudo sobre você e o que aconteceu neste período em que fiquei procurando por você, me torturando com a culpa de tê-la acusado injustamente – pegou na mão de Lauren, que sentiu-se corar diante do toque daquela mão quente e macia, que cobria a sua por completo.
- Pensei que Marian havia lhe contado o que aconteceu.
- Contou, mas gostaria de ouvir a versão original...
Enfrentando aquele olhar de verde profundo que a deixava hipnotizada e prisioneira de seu dono, Lauren começou a contar sua história desde o início.
À medida que ela falava sobre sua luta para conseguir um bom emprego, o embate interno entre seus princípios e as exigências de Frederick, o desejo de poder ser lida e respeitada, coisa que jamais seria se continuasse naquele emprego. A cada palavra sua, mais a admiração de Gerard aumentava. Ela finalmente demonstrava que ele não estava errado quando a imaginou como sendo diferente das outras.
- Aí, eu conheci você naquela festa. Desde então, comecei a repensar sobre meu emprego, minas escolhas... Tudo. Já estava pensando em pedir demissão. Foi quando Frederick me indicou para fazer a sua entrevista. Escrevi um artigo muito diferente do que ele esperava. No fundo, eu não precisava escrever aquilo, mas eu queria que ele visse o que eu realmente pensava... Eu sabia que ele ia odiar, por isso entreguei a minha carta de demissão ao mesmo tempo. Acho que ele ficou mais furioso por causa disto. Ele não conseguiu ter o gostinho de me demitir. Chegou a ficar violento. Se não fosse a Marian chegar, eu teria apanhado.
- Que eu saiba ele quis te beijar a força.
- Como você... No dia seguinte – desta vez ela o olhou com um resquício de mágoa nos grandes olhos castanho-claros.
- Lauren, não sabe quantas vezes já me culpei por ter agido como um canalha.
- Não, você reagiu como qualquer homem normal teria reagido.
- Por que você não falou que o artigo não tinha sido escrito por você?
- Você não me deu chance. Além do mais, eu também me sentia culpada pelos outros textos que eu havia escrito antes. Mas, se isto o faz sentir melhor, eu te perdoei na mesma hora. Pode dormir tranqüilo de agora em diante e seguir o seu caminho. Está livre desta culpa.
- O que você quer dizer com isso?
- Você não queria só tirar esta culpa dos ombros?
- Lauren, eu não vim só por isso e acho que você sabe qual o motivo principal.
- Sei?
- Sabe... Na primeira vez em que a tive em meus braços, mesmo tendo sido por poucos minutos, senti algo diferente. Desde aquele momento não consegui mais tirá-la da minha cabeça, apesar de todos os mal-entendidos. A minha raiva foi maior no dia em que a segui ao seu apartamento, não só pelo comentário em si, mas por pensar que havia me enganado profundamente em relação a você. Quando soube que você havia pedido demissão minha esperança voltou. Por isto estou aqui. Eu só preciso saber se você sente o mesmo por mim...
Lauren estava paralisada e emocionada com tudo que acabara de ouvir. Com algum esforço, conseguiu falar:
- Gerard... Não sei o que dizer... – notou que ele pareceu ficar triste diante da sua insegurança em corresponder a sua declaração, pois abaixou a cabeça, desviando seu olhar.
Em vista disso, ela não teve mais dúvidas. Com as duas mãos, levantou o rosto dele, acariciando-o, fixando seu olhar no doce verde dos seus olhos e disse:
- Gerard, eu te amo... Muito. Não me olha assim que eu derreto por dentro.
- Lauren... – sussurrou, aproximando-se lentamente, até seus lábios tocarem-se, num beijo muito doce.
Beijaram-se ainda mais, até serem interrompidos pelo garçom, que perguntou se gostariam de uma sobremesa.
Ambos olharam-se, cúmplices e felizes.
- Você vai querer uma sobremesa? – perguntou Gerard, com expressão provocante.
- Agora... Não – respondeu Lauren, retribuindo o olhar ladino de seu companheiro
- Acho melhor irmos embora daqui, antes que nos expulsem por atitudes indecorosas. O que você acha? – disse Gerry, sorrindo.
- Acho que você tem toda a razão.
Rapidamente, Gerard pagou a conta e saíram.
Foram direto para o apartamento de Gerard.
Já não aguentavam mais a hora de chegar em casa para entregarem-se sem pudores um ao outro. Mal a porta da entrada fechou-se, abraçaram-se quase com fúria, com bocas que procuravam um ao outro com intensidade. Toda uma paixão, estancada por semanas e por diversas situações, encontrava o seu fluxo, correndo livre, através dos beijos molhados, mãos sedentas por descobrir o corpo, tantas vezes desejado, e finalmente descoberto. Havia uma urgência de fusão. Entre gemidos e suspiros, finalmente Gerard penetrou Lauren, tornando-a sua mulher, agora em espírito e corpo. Tudo acontecera tão rápido, mas de uma forma tão intensa e completa que eles se deixaram ficar abraçados sobre os tapetes da sala, temendo perder aquele momento de união tão prazerosa. Depois de vários minutos em silencio e repouso, Lauren murmurou:
- Gerard, eu imaginei este momento tantas vezes que perdi a conta.
- Então, ainda estou em débito com você. Seremos obrigados a repetir momentos como esse até perdermos a conta – disse, levantando-se do chão, para elevá-la nos fortes braços e levá-la para o quarto, com um belo sorriso nos lábios – Preciso lhe mostrar os outros cômodos da sua casa.


FIM

6 comentários:

  1. Rosaneeeeeeeee, que "diliça" menina, esta heroína é um amor mesmo. É dessas que nosso queridão necessita, assim como necessitamos dele. Que graça de história, bem próxima da realidade mas recheada de sensibilidade e cumplicidade.
    Parabéns querida!
    Agora não saio mais daqui!
    Este será meu cantinho cor-de-rosa.
    Bjs

    ResponderExcluir
  2. Que bom saber disso, Tânia! Esteja sempre à vontade por aqui. Fiquei muito feliz de saber que vês o meu blog desta maneira.
    Beijo grande, amiga!

    ResponderExcluir
  3. AAAAAAAAAAAdoreeeei!!!!!Li este lindo romance com tanta emoção!!! Meu Deus enquanto lia falava sózinha,ri,xinguei o Fred e como sou uma boba chorei com a Lauren!!!Rosane gostava tanto de te conhecer pessoalmente és uma pessoa fascinantesou a tua maior fã !Tambem li o seu texto do dia dos namorados , tanta emoção tanto romance e sentimentos á mistura muitos parabéns pelo seu casamento e que sejas feliz para toda a eternidade!!!!Mil Beijos bem portugueses!!!!!

    ResponderExcluir
  4. Amoooooooo estórias que ambos (homem, mulher)dá um chega pra lá imponente e depois abaixam a crisna como cordeirinhos e se remdem ao êxtase total!
    Fiquei pensando na Marian e o Mike juntos, será q daria certo? afinal eles deram aquela força ao casal, mereciam o mesmo final feliz!
    Bjkas

    ResponderExcluir
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  6. Que maravilha, Rô, 21 anos de casados e 4 de namoro! Fico muito feliz em saber que o amor continua. É como vc disse, a vida tem fases, assim como tb tem o amor e é lindo saber que após todos esses anos o amor continua pulsando firme entre vcs. Vc merece com toda certeza, amiga. É claro que a rotina, os desentendimentos, tudo isso existe mesmo, tem horas que nem nós mesmas não nos entendemos, imagina então entender o que o outro pensa nas 24 horas do dia... seria ótimo, mas é humanamente impossível. Mas quando o amor é sólido, o coração é bondoso e os pensamentos são generosos, todas as emoções vividas servem para evoluirmos e para nos conectarmos, ainda mais, com a pessoa amada.
    Vixe, esse ditado “falem mal, mas falem de mim” é terrível! Gente, eu prefiro que falem bem de mim ou me ignorem, pq fico muito mal em saber que magoei alguém, mesmo que tenha sido inconscientemente. E a nossa repórter provou isso na carne... que decepção ao nosso ator, estar ali dançando tão gostosinho, já imaginando coisitas interessantes na sua mente tão fértil e safadinha e aí viu o seu mundo desmoronar ao ouvir o nome daquela que falava aspectos inverídicos de sua vida.
    Agora, isso dele transmitir sensualidade pelos poros... ai... ai... a gente bem sabe, né amiga...
    Aff.... o dobro do seu tamanho... ta falando de mim!!! (hihihi) e abraço truculento... tô tão precisada....
    Vou confessar: adoraria conhecer todos os cantinhos do apartamento do Gerry assim... ui!!!
    Esse seu conto é um encanto, ótimo de ser lido e relido, aliás como todos os seus...
    Bom, já que estou atrasadíssima, não dá para lhe desejar um feliz dia dos namorados, pois este já passou. Então, desejo-lhe, minha amiga, felizes dias de casada, pois estes são todos os dias que almejo a sua vida!
    Beijinhos

    ResponderExcluir

Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!