sábado, 20 de junho de 2009

Anjo da Guarda - Parte Final

Naquela noite, fomos obrigados a descansar um pouco. No dia seguinte, Gerry tinha que ler uns roteiros mandados por alguns produtores, preparar-se para a noitada na inauguração. Eu tinha de organizar a agenda dele e comprar o meu vestido para a noite e mais algumas renovações para o meu guarda-roupa. Sendo assim, resolvemos nos comportar um pouquinho e ir para a cama sem "idéias" em mente. Foi difícil de conter, principalmente porque Gerry insistiu em dormirmos juntos. Uma tortura maravilhosa. Sentir sua presença, na minha cama, era extremamente confortante, maravilhoso, divino e todos os adjetivos superlativos que se possa imaginar. Não sei como consegui dormir, pois não conseguia deixar de admirar aquele homem e suas formas perfeitas. Perfeitas para mim.
Pela manhã, fomos acordados por um Alex surpreso em encontrar-me na cama de seu patrão. Nosso, aliás. Levei um susto ao ouvir sua voz invadindo o meu sono. Custei a localizar-me no tempo e no espaço. Aos poucos , lembrei que estava dormindo ao lado de Gerry , em seu quarto. Ainda bem, que havia dormido com uma camisola mais recatada... Será que isto ia melhorar a minha situação, no entendimento do que estava acontecendo, para o mordomo? Difícil.
Gerry acordou de ótimo humor.
- Bom dia, Alex! Como foi de folga? Foi visitar a sua priminha?
- Bom dia , Gerry. Gostaria de agradecer de novo a sua ajuda e pedir desculpas por aquela maluca. Esta minha família me coloca em cada situação. Prometo nunca mais lhe pedir favores deste tipo.
Eu não entendia sobre o que eles estavam falando. Ainda estava atordoada pelo sono.
- Bom dia, srta. Claire.
Este foi o único comentário que ouvi da boca de Alex, naquela manhã. Ele estava sendo muito discreto.
- Bom dia.
Quase cobri a cabeça com o lençol, para que ele não pudesse ver o vermelho em meu rosto. Ou, devo dizer, roxo? De vergonha.
Graças a Deus, logo ele saiu e nos deixou a sós.
Fiquei curiosa com os comentários sobre a tal prima de Alex e quis saber a respeito do que eles estavam falando.
- Ora, você a conheceu na nossa viagem para cá.
- Aquela mulherzinha, era prima do Alex?? Mas eu pensei que...
- O que você pensou? Que ela era minha acompanhante? – e soltou uma gargalhada - Eu teria que estar louco para pegar uma mulher como aquela.
Como eu continuasse com cara de espanto, olhando para ele, esperando uma explicação, ele continuou:
- Essa prima do Alex, parece ser a ovelha negra da família. Se meteu com um sujeitinho, que a levou para Londres e a deixou por lá, sem um tostão. Como eu ia para lá, por causa das filmagens, ele pediu-me para ajudar a trazê-la de volta. Por isso ele foi comigo, caso contrário, eu teria ido sozinho. Não costumo andar com um mordomo acompanhando-me por aí. Seria muita frescura. Não acha?
- Mas, e porque você foi sentar-se ao lado dela, no início da viagem?
- Porque nossos lugares, nos bilhetes, eram aqueles. Tentei mudar de lugar no início do vôo, mas a mulher não largava do meu pé e eu não queria ser grosseiro. Está explicado agora? Não me diga que você passou este tempo todo pensando mal de mim?
- Mais ou menos. Eu já vinha negando o fato há um bom tempo, mas que fiquei chocada quando a vi no aeroporto porque pensei que vocês estavam juntos, fiquei...
- Está mais aliviada, agora?
E já começou a se aproximar de mim, com aqueles carinhos por baixo dos lençóis, reacendendo o meu desejo.
- Gerry... Melhor não...aahh...Pára... Você tem as suas leituras e eu o meu trabalho, infelizmente. Seus lábios ficavam acariciando os meus, pouco a pouco, roçando e beijando de leve, de maneira tentadora, deixando seu hálito quente entrar em minha boca entreaberta. Quase ia perdendo as forças, quando ele parou, de repente, e disse:
- Tem razão! Temos trabalho a fazer!
Logo depois , lançou o seu olhar mais sedutor e disse, aproximando a boca de meu ouvido:
- A gente faz uma hora de recreio, mais tarde.
Resolvi ir para o meu quarto, para evitar mais tentações que pudessem desviar minha atenção. E, convenhamos... Ele era muito, muito tentador.
O dia estava lindo e Gerry pediu para que Maria servisse nosso café na sacada do apartamento, que era muito agradável e tinha uma linda vista da cidade.
Depois do café, fomos para o seu gabinete, que , além de uma bela escrivaninha em mogno e uma decoração sóbria, mas elegante, tinha um conjunto de estofados em couro, super confortáveis. Gerry insistiu para que eu ficasse trabalhando junto a ele, apesar de eu achar que poderia atrapalhar a sua leitura dos roteiros. A manhã transcorria calmamente, até que o telefone tocou. Como não atendemos no gabinete, logo em seguida, Alex entrou para dizer que o telefonema era para mim, de Londres. Fiquei surpresa, tentando imaginar quem seria, já que não tinha dado o número de lá para ninguém... Peguei o aparelho. Ao mesmo tempo, senti o olhar curioso e preocupado de Gerry, examinando meus movimentos.
- Alô?
- Bom dia , Claire!
- Sig??? Bom dia, Sig! Que surpresa boa!
Observei uma ruguinha de preocupação surgindo no meio da testa de Gerry.
- Liguei para saber com vão as coisas. Fiquei preocupado com o seu último telefonema. Está tudo bem?
- Claro! Tudo ótimo! Como você conseguiu este número?
- Esqueceu que eu tenho um identificador de chamadas no celular? Ele está aí do seu lado?
- Sim... - Gerry continuava com seu olhar atento sobre mim.
- Olha. Não quero atrapalhar você. Posso confiar que tudo se resolveu?
- Claro! Não se preocupe. Está tudo bem, mesmo. Pode confiar. É muito bom ouvir a sua voz.
- Então, está bem. Não quero atrapalhar mais. Qualquer coisa, me liga, viu?
- Está bem, Sig. Pode deixar que ligo.
- Um abraço, Claire!
- Outro, Sig! E obrigada!
Mal desliguei o telefone, Gerry perguntou, muito sério:
- Quem era?
- Um amigo - Tentei fazer um mistério, querendo deixá-lo com um pouco de ciúme. Além disso, não queria que ele soubesse que Sig era meu psiquiatra.
- Agora, surgem amigos em Londres. Você tinha dito que não havia ninguém. Por acaso, é aquela paixão platônica da qual você me falou? - notei uma certa irritação na sua voz.
- Não, não é a minha paixão platônica. É só um amigo.
- Porque ele estava tão preocupado com você? Você andou ligando para ele queixando-se de alguma coisa?
- Como você sabe que ele estava preocupado comigo?
- Pelo modo como você falou, que estava tudo bem e que ele não se preocupasse.
- Gerry, que falta de educação ficar prestando atenção na conversa dos outros - tentei brincar com ele, sorrindo, mas ele retornou com um olhar bem mal humorado, dizendo:
- Bem, se você tem motivos para não falar sobre isto, vou para o meu quarto, terminar de ler esta baboseira aqui.
- Gerry! Não seja bobo! Volte aqui!
Nem tive tempo de terminar meu apelo. Ele levantou-se num rompante e saiu pisando duro, terminando por fechar a porta com força.
Nossa, eu tinha conseguido tirá-lo do sério de novo. Nunca imaginei que ele pudesse ser tão ciumento. Bem que eu tinha lido , certa vez, que os escorpianos eram muito possessivos e desconfiados. De certa forma, aquilo fazia eu me sentir satisfeita, por ver que ele estava realmente interessado em mim. Por outro, tinha medo de vê-lo furioso como no dia do almoço, no "Dish". Resolvi deixá-lo a sós, para que esfriasse a cabeça. Distraí-me com o trabalho. Cerca de uma hora mais tarde, Alex veio avisar que o almoço seria servido na varanda. Ao chegar lá, notei que só havia um prato.
- E Gerry? Não vai almoçar? - perguntei a Alex.
- Não. Ele disse que ia ter de sair para resolver algumas coisas e que não viria almoçar.
Onde ele teria ido? O que estaria se passando naquela cabeça linda? Comecei a ficar preocupada.
Tentei não pensar mais naquele "assunto". Depois do almoço, em que não consegui comer quase nada, resolvi arrumar-me para sair e fazer compras. Já tinha decidido comprar o vestido vermelho que havia visto, na Rodeo Drive, no sábado. Saí e fui direto para a loja. O vestido parecia ter sido feito para mim. Direto do meu sonho para a realidade. Naquela noite, eu acabaria com o mau humor do Gerry, com certeza.
Além do vestido vermelho, acabei fazendo mais algumas compras para o dia-a-dia. Senti que meu lado feminino estava exacerbado e uma vaidade inusitada aflorava em mim. Gerry despertara a mulher que existia dentro de mim, e que estivera por tanto tempo abafada, num mundo muito solitário, apesar dos sonhos e fantasias que o infestavam.
Ainda tive tempo para passar num salão, cuidar das mãos e pés e dar um trato no cabelo.
Voltei para casa, já no início da noite. As luzes da sala estavam apagadas. Estava dirigindo-me para o meu quarto, triste por pensar que Gerry ainda não havia voltado, quando ouvi sua voz, vinda do sofá. Estremeci com sua presença inesperada. Aí, notei o brilho incandescente do cigarro que ele estava tragando.
- Por onde você andou? Já estava ficando preocupado.Estava com alguém?
- Gerry! Que susto! O que você está fazendo aí, no escuro?
- Estava te esperando. Esqueceu que temos um compromisso hoje? Foi o telefonema de hoje de manhã que te deixou atordoada? - falou irritado, apagando o cigarro com força no cinzeiro ao seu lado.
- Gerry, por favor! Pára de pensar bobagens. De onde você está tirando estas idéias?
Seu bobo! Passei a tarde fazendo compras, para tentar ficar mais bonita para você. Até num salão de beleza eu fui, depois de muitos meses.
Larguei as compras no chão e fui ao seu encontro, no meio da penumbra. Ele estava deitado no sofá. Ajoelhei-me ao seu lado, peguei seu rosto entre as mãos e dei um beijo naquela boca, que era uma tentação por si só. Ele não correspondeu. Não desisti. Comecei a explorar cada milímetro daqueles lábios, até sentir que vencia a sua resistência.
Finalmente, sua língua invadiu minha boca, ávida, com força, num beijo urgente, guloso, que parecia querer sorver minha alma. Minhas mãos passaram a segurar sua cabeça e a passar os dedos entre seus cabelos. Ao fim do beijo, ele me olhava com intensidade, ainda sério, como se quisesse ler meus pensamentos.
- Você está me deixando louco, sabia? Há muito tempo não sentia tanto ciúme de alguém. Tem certeza que não está me escondendo nada? Às vezes você parece tão misteriosa. Me deixa inseguro em relação a nós.
Imaginem ! Eu deixar Gerry inseguro quanto a mim... Eu devia ser a mulher mais sortuda desta galáxia!
- Gerry! Você não tem motivo nenhum para ficar inseguro. Você é tudo o que eu sempre sonhei. Não quero mais ninguém, a não ser você. Entendeu? Ou preciso ser mais clara? Neste ponto, resolvi brincar um pouco com a situação e comecei a fazer caras e bocas e a falar com a voz empolada.
- Sei que é difícil você acreditar que uma mulher tão linda, maravilhosa, esplendorosa, gostosa e, todos os "osas" que você puder lembrar, possa estar te dando atenção. Afinal , você não tem nada de atraente. Mas, até que eu acho você bonitinho.
Com esta fala ridícula, nem eu agüentei e caí na risada. Havia conseguido extrair um sorriso daquele rosto tão adorado.
- Ah, Gerry! Eu estou apaixonada por você, como nunca estive por ninguém antes.
- E o seu amor platônico? - disse, já com um sorriso maroto.
- Ah, seu bobo, pára de pensar nisso. Um dia eu vou te contar quem era esse "amor platônico" e nós vamos rir muito disso.
- Porque não diz agora?
- Porque agora, seu cabeça dura, nós temos que nos arrumar para a festa de logo mais e eu tenho de ficar deslumbrante, para conquistar os corações de todos os homens da nova casa noturna - disse isto com ar brincalhão - Mas, na verdade, o único coração que me interessa roubar, é o seu, Sr. Gerard James Butler.
Complementei a frase com um longo e ardente beijo, agora, prontamente retribuído. As pazes tinham sido restauradas.
Após mais alguns beijos e amassos, com dificuldade conseguimos nos separar antes que perdêssemos a noção da hora. Precisávamos nos arrumar para a festa de logo mais.
Depois do banho, resolvi fazer uma maquiagem que realçasse meus olhos e deixar os cabelos soltos, pois eles estavam com um cacheado bonito, graças aos cuidados do cabeleireiro, à tarde. Coloquei o famoso vestido vermelho e as novas sandálias de salto alto, compradas especialmente para a ocasião. Ao olhar-me no espelho, achei o resultado final muito agradável. Restava saber a opinião de Gerry.
Ao entrar na sala, quase perdi o fôlego, ao ver meu acompanhante, impecavelmente vestido com um smoking preto, camisa branca e gravata borboleta. Ele estava lindo, saído diretamente dos meus sonhos para a realidade. Só consegui voltar a respirar, quando ouvi sua voz:
- Claire... Você está deslumbrante... Uau!
Sentia aqueles olhos verdes devassando meu corpo. Imagine quando ele soubesse que eu não estava vestindo nada por baixo.
- Você também não está mal - disse com olhar guloso.
Ele se aproximou , pegando-me pela cintura :
- Que tal fazermos a festa aqui mesmo, agora?
Passei meus braços por trás de seu pescoço, apoiando-me na ponta dos pés, e, aproximando meus lábios da sua boca, falei:
- Infelizmente, a nossa festa vai ter esperar um pouco mais. Como sua assistente, tenho de fazê-lo respeitar o seu compromisso. Não fosse isso, você já estaria sem smoking, Sr. Butler.
- Claire! Você está ficando bem safadinha - falou, cheio de malícia no olhar.
- Você é o responsável por esta transformação. Mas, se você quiser, eu volto a ser aquela insossa de antes.
- Você nunca foi insossa para mim.
Dito isto, curvou-se um pouco mais e selou meus lábios com um beijo macio, doce e cálido. Quase mandei o compromisso para o espaço, mas consegui retornar a razão, assim que nossas bocas descolaram-se.
Ainda abraçada a ele, dei uma palmadinha naquele bumbum glorioso e disse:
- Vamos lá, sr. Butler, o dever vos chama.
Ao chegarmos à inauguração, comecei a ficar nervosa. Havia inúmeros jornalistas, paparazzis e curiosos, formando um corredor, ao longo de um tapete vermelho. Gerry ajudou-me a descer do carro e deu-me seu braço. Ele parecia muito natural em meio àqueles flashs, que espocavam sem parar, diante de nós. Eu devia estar quase cortando a circulação de seu braço, tal a pressão que exercia sobre ele, devido a tensão em que me encontrava. Quando pensei que já estávamos a salvo, quase chegando à entrada principal, uma repórter assanhada, praticamente jogou-se a nossa frente e lascou uma pergunta:
- Gerry! Ela é sua nova namorada?
- Não! É minha assistente! Com licença e obrigado - falou sem pestanejar, dando um sorriso teatral. Continuou andando, puxando-me firmemente pelo braço, até entrarmos, finalmente no salão principal.
Senti uma ponta de tristeza abater meu espírito. Achei que ele responderia que sim, eu era sua namorada e que ele estava perdidamente apaixonado por mim. Que bobagem! Como ele poderia dizer isto para uma estranha? Não sei como, mas a imagem de Sig, me olhando com ar de reprovação, surgiu naquele instante. Pude até ouvir a sua voz: “Está parecendo uma adolescente tola. Você acha que ele iria falar algo íntimo para a imprensa marrom? Pense, Claire!" Como sempre ele tinha razão. Era bobagem minha. Mas, uma ponta de incerteza, a respeito dos sentimentos de Gerry, voltou a assombrar-me.
- Claire, Claire... Está me ouvindo?
- Claro... O que é?
- Vamos nos sentar? Já indicaram nosso lugar.
- Ah! Está bem.
Fomos colocados numa mesa próxima à pista de dança. O local era enorme, ricamente decorado, com uma iluminação fantástica. Parecia um cenário de filme futurista.
Mal havíamos sentado, ouvimos a voz de Rosário.
- Ei! Meus queridos! - Ela vinha em nossa direção, acompanhada pelo agente de Gerry, o "simpático" James.
- Oi, Rosário! - falou Gerry, todo sorridente.
- Conseguiram sobreviver ao "corredor polonês"?
- Parece que sim. A Claire quase arrancou meu braço na passagem, mas acho que já está se recuperando, não é ? - falou, lançando um olhar risonho em minha direção.
- É, Claire. Vai se acostumando. Esta vida de celebridade não é fácil. Todos se acham no direito de meter-se na sua vida, de tirar suas fotos de todas as maneiras. O Gerry até agora tem conseguido manter sua privacidade, mas não sei quanto tempo isto vai durar, agora que ele está chamando mais a atenção da mídia, depois do "300".
Enquanto Rosário falava, senti os olhares de James sobre mim. Ele parecia me comer com os olhos. Comecei a sentir-me mal com aquele olhar. Gerry parecia não notar.
- Será que poderíamos sentar aqui, junto a vocês? - falou James, sem tirar os olhos de mim.
- Acho que temos de falar com o recepcionista. Os lugares devem ser marcados - comentou Rosário.
- Pode deixar que eu vou dar um jeito nisto. Tudo bem prá você, Gerry?
- Claro, Jim. Sem problemas. Será um prazer
- Já viram o "mala" que eu consegui para me acompanhar? Não reparem nele. Ele já andou bebendo um pouco antes de vir para cá - disse rindo, assim que ele virou as costas.
A conversa continuou animadamente, principalmente pela alegria de Gerry e de Rosário, que parecia ser tão piadista quanto ele. De repente, percebi que os dois realmente eram apenas amigos. O resto era fofoca e fotos mal intencionadas. Já o Sr. James continuava insinuando-se para o meu lado, apesar dos meus olhares congelantes. Logo, o jantar foi servido e ele pareceu distrair-se com a comida. Durante o jantar, os donos do night club fizeram seus discursos de boas vindas e estouraram uma garrafa de champagne em plena pista. A casa estava inaugurada. Logo a música alta invadiu o ambiente, convidando ao início das danças. Não demorou muito, eu já estava nos braços de Gerry. Neste momento, esqueci de tudo o mais. Minhas dúvidas, James, Rosário, a repórter. Só me importava a dança com ele, o meu amor. E ele sabia dançar como ninguém. Se sabia.
Voltamos à nossa mesa, onde James e Rosário continuavam sentados, conversando sem animação. James continuava bebendo. Logo que chegamos, ele convidou-me para dançar. Claro que recusei. Senti o seu olhar irado.
- Acho que vou ao toalete.
- Vou com você, Claire. Qualquer coisa vai ser melhor que continuar sentada, conversando com o Jim - falou em tom bem baixo, no meu ouvido.
A toalete ficava do outro lado do salão. De lá eu não conseguia ver Gerry em nossa mesa.
- Vocês formam um belo casal, Claire.
- Obrigada, Rosário.
- E, então? Não está mais com ciúmes de mim? O Gerry é um amigo muito querido. Eu o considero como um irmão que não tive.
- É. Realmente eu estava enganada. Sinto muito se fui grosseira com você em algum momento.
- Imagina! Eu entendo. Se eu estivesse apaixonada por ele, o cuidaria com "unhas e dentes". Não o deixe escapar. Faça-o feliz. Ele está precisando de alguém que o ame muito, principalmente agora que o sucesso está chegando e a necessidade de proteger sua privacidade vai fazer ele isolar-se um pouco mais. Ele vai precisar de um refúgio.
Aquela conversa, com aquela pessoa, naquele local, parecia tão surrealista para mim. De qualquer forma, era interessante ouvir a sua opinião.
Alguns minutos depois, assim que terminei de lavar as mãos, Rosário ainda estava ocupada. Resolvi sair e esperá-la do lado de fora, pois o banheiro estava muito cheio.
Ao sair, encontrei James, encostado na parede, em frente. Achei que estivesse sentindo-se mal.
- Você está bem, James?
- Porque você insiste em me chamar de James. É Jim, prá você, querida - e veio aproximando-se de mim, com os olhos vermelhos e embriagados. Quase podia sentir o seu hálito alcoolizado , apesar da grande circulação de pessoas por ali.
- Acho que não temos intimidade suficiente para isso, James.
- Mas, isso pode ser revertido agora mesmo.
Senti suas mãos sobre meus ombros, puxando-me contra si, aproximando rapidamente seus lábios finos dos meus. Comecei a lutar contra ele, o que o enlouqueceu. Uma de suas mãos foi parar em minhas nádegas, puxando-me mais violentamente, enquanto a outra forçava minha cabeça para frente, em direção ao seu rosto. Comecei a sentir-me nauseada com aquele ataque surpresa. Como não conseguia afastar-me, e já sentia o seu bafo fétido cada vez mais próximo, só pensei em afastá-lo o mais rápido possível. Desferi um golpe com meu joelho, em sua virilha. Apesar de não conseguir que ele me soltasse, a dor o fez desistir, momentaneamente, do beijo. O golpe não havia sido forte o suficiente e, assim, logo ele recuperou-se e passou a "vomitar" palavras desagradáveis.
- Quem você está achando que é? Você não é nada, garota! Se está achando que o Gerry vai ficar com você por muito tempo, está enganada. Ele vai fazer como sempre. Depois de sugá-la ao máximo, se cansará e a jogará na rua!
A maldade faiscava em seus olhos e o veneno escorria de sua boca retorcida, com fala bêbada. O pior de tudo, é que ele estava conseguindo romper totalmente a minha auto-estima, tão trabalhada nos últimos meses.
- Talvez, eu queira você, depois que o Gerry a chutar. Mas, nada impede que a gente possa desfrutar da companhia, um do outro, a partir de agora. Ele voltou a atacar-me. As pessoas em volta não pareciam estar preocupadas com o que estava acontecendo. Eu estava perdida. Não conseguia enxergar Gerry. Minha insegurança, agora, era total. Teria ele conversado com Gerry a meu respeito? Seria verdade o que ele estava dizendo? Eu só tinha vontade de correr, ir embora, chorar a minha mágoa, esconder-me de todos.
- Jim! Largue a Claire!! Ou vou chamar a segurança... Ou o Gerry!
- Nos deixe, Rosário! Vá cuidar da sua vida. Eu estou me entendendo com a Claire.
Neste momento, criei uma força maior e consegui desvencilhar-me daquelas garras e fugi. Fugi para longe daquele homem asqueroso.
Não tinha coragem de encarar Gerry, naquele momento. Eu tinha de repensar meus sentimentos. Minha auto estima tinha desabado. Fugi. Saí correndo do salão, direto para a rua. Quase chorando, pedi um táxi ao manobrista.
- A Srta. está se sentindo bem?
- Sim, obrigada. Por favor, o meu táxi.
Logo, eu adentrava um carro , que me levou para longe dali.
Desabei a chorar. Sentia o olhar preocupado do motorista, pelo espelho retrovisor.
Assim que chegamos, subi correndo. Por sorte, havia levado minhas chaves. Corri para o meu quarto, onde tranquei a porta e joguei-me sobre a cama, chorando desesperadamente. Todos os meus medos vieram a tona. A antiga Claire voltara. Medrosa, insegura, achando-se feia, incapaz de despertar o amor em alguém, muito menos em Gerry. Tudo havia sido um sonho, como sempre. Um sonho que, agora, acabaria. Seria melhor voltar para Londres, antes que ele a rejeitasse. Isto doeria demais. Melhor ir agora, quando as boas lembranças ainda eram vívidas.
Quando pensava que aquela agonia estava se acalmando, o choro voltava a desaguar.
Nisto, ouvi uma porta batendo, para logo em seguida, ouvir a voz dele:
- Claire! Claire!! O que houve? Abra esta porta!!
Ouvia ele forçar a fechadura. Tentei segurar o choro, mas ele parecia vir com mais força.
- Abra esta porta, Claire! Por favor, querida! A Rosário me contou o que aconteceu. Abra!! Eu não tinha forças para responder ou para mover-me.
- Se você não abrir, vou ser obrigado a arrombar. Abra, Claire! Você não pode ter dado ouvidos àquele bêbado arrogante!
Não sabia o que fazer. Sentia como se meu corpo estivesse anestesiado. Ele nunca havia dito que me amava. Ele seria capaz de amar alguém?
De repente, ele parou de gritar. Poucos segundos depois, ouvi o som de seu corpo jogando-se contra a porta. Uma... duas... três vezes. Até que ela cedeu e ele entrou com ar transtornado.
- Claire! Fale comigo!
Eu não conseguia parar de soluçar. Ele aproximou-se de mim, deitando-se ao meu lado, por trás, e puxando-me, abraçando-me, até que eu estivesse aconchegada ao seu corpo. Podia sentir a sua respiração ofegante e o calor que dele emanava.
- Claire, acalme-se, por favor. O que Jim falou para deixá-la deste jeito? Rosário contou-me o que aconteceu. Não acredito que você tenha acreditado nas palavras dele. Ele disse alguma outra coisa mais grave? Te machucou de alguma forma? Fale comigo, por favor. Sua fala, agora, era macia, carinhosa. Sentia aquele calor reconfortante, por trás de mim. Fui conseguindo acalmar-me, controlar o choro.
- Gerry, acho que vou voltar para Londres. Foi um erro vir para cá. Achava que poderia enfrentar tudo para ficar do seu lado.
- Claire, do que você está falando? Que idéia é esta ? Não vou te deixar sair da minha vida assim fácil. O que aquele canalha te falou? Pensei que a nossa relação fosse mais importante do que as palavras de um mau caráter que você só viu duas vezes.
- Ah, Gerry, me perdoa, mas eu sempre fui muito insegura. Depois que a gente começou essa relação, eu me tornei mais forte. Achei que nunca mais a Claire antiga voltaria.
- E como era esta Claire antiga? - sua voz soava como música em meus ouvidos, fazendo um arrepio gostoso percorrer todo meu corpo. Neste momento, ele me fez virar, de modo a ficar de frente para ele, ainda deitada, encarando-me com aquele belo par de olhos verdes.
- Ela era insegura, não se achava bonita, se achava incapaz de despertar qualquer sentimento no seu "amor platônico", de mais de 4 anos...Você.
- O quê?? Eu?? O seu amor platônico era eu? - ele quase riu, mas não quis interromper aquele momento de revelações.
Criei coragem para falar tudo que estava preso dentro de mim, nestes últimos meses. O seu abraço e seu olhar me davam coragem para expressar tudo que estava represado.
- Gerry, eu sou sua fã há mais de 4 anos. Eu só vivia em função de você, de longe, através da internet, viajando para onde você estivesse, nas filmagens. Nunca tive coragem de chegar perto, por medo, insegurança. Um dia , comecei a achar que aquilo era loucura, que não podia mais continuar a viver assim. Aí, conheci Sig, meu psiquiatra. Foi ele que me ligou naquele dia em que estávamos no gabinete. Ele conseguiu devolver um pouco da minha auto estima e ajudou-me a tomar uma decisão na vida. Então, resolvi tentar uma aproximação, através do trabalho. Soube que Guy estava precisando de assistente e pensei que esta poderia ser a minha grande chance. Além de te conhecer, também descobri que era capaz de uma vida útil, profissionalmente. Tinha medo de me decepcionar ao conhecê-lo, mas você só fortaleceu o meu amor. Aí você me contratou como sua assistente. Ao chegar aqui, tudo começou a acontecer tão rapidamente. Joguei-me de cabeça neste amor. Mas o medo e a insegurança estavam lá no fundo.Quando pensei que tudo estava indo bem e quase acreditando que você poderia me amar, aparece James, jogando-me no fundo, de novo. Fiquei imaginando que logo seria descartada .
Ele me olhava como se não acreditasse no que estava ouvindo. Pronto. Seria agora. Ele me rejeitaria. Mais uma maluca no seu pé. Fechei os olhos, esperando ouvir que ele realmente havia se enganado e que teríamos que acabar. Como ele continuaria esta relação com alguém tão desequilibrada, como eu?
- Claire... - sua voz continuava suave - Porque você não me contou tudo isto antes?
Comecei a chorar de novo.
- Claire, sua boba. Eu te amo. Todo este tempo, em que estamos juntos, eu pensava que você não ia ficar comigo por muito tempo. Aquela história de amor platônico, o telefonema, sua indiferença aparente. Você demorou tanto a se envolver comigo. Tanto que eu até pensei naquela bobagem de homossexualismo - ele começou a rir.
- Do que você está rindo?
- Da sua cabecinha enrolada. Pelo jeito não são só os cabelos que são enrolados .
Seu sorriso aberto, o seu abraço me envolvendo com força. Eu tinha ouvido direito? Ele me amava?
- Gerry... Você não está chateado comigo, por tudo isto que te contei?
- Porque eu ficaria? Só posso ficar envaidecido com todo este trabalho que você teve para ficar comigo. Agora , pára de pensar bobagens e me dá um beijo.
Quando seus lábios tocaram os meus, a sensação de bem estar era indescritível. Minhas forças rapidamente retornaram e o desejo por Gerry voltou com todo vigor. O passado estava sendo apagado completamente, ao ouvir aquelas palavras. Nos amamos mais intensamente, que da primeira vez. Agora tinha certeza de que ele era meu.

Depois daquele dia, Gerry trocou de agente. Eu continuo como sua assistente, porém, com uma pequena diferença. Uma aliança na mão direita, para que eu não esqueça do seu amor.
Hoje, estamos partindo para a ilha de Hichinbrook, na Austrália, onde ele irá filmar "Nim's Island". Assim que diminuir um pouco o ritmo de trabalho, talvez a gente possa ter um folga e pensar em mudar a aliança de mão. Mas isso, é outra história.


FIM

Que pena que acabou, não? Até eu fiquei babando com a sorte da Claire. Êta menina abençoada... Vocês não acham? ...rsrsrs...

Até o próximo romance, meus amigos! Beijos a todos!


4 comentários:

  1. Que coisa linda!
    É assim mesmo que vejo este homem, ao mesmo tempo passional e terno, amei esta delícia de história. Adoraria ser a Claire, aliás, qual de nós não adoraria não é?
    Parabéns querida!
    Aguardo o próximo e enquanto isso vou relendo este!
    Bjs

    ResponderExcluir
  2. Eu chorei com a Claire(sou mesmo uma boba)De todas sa histórias que tu escreveste esta foi a que mais se relacionou comigo tocou-me na alma!!!Muito obrigado por seres quem és!!!!

    ResponderExcluir
  3. Estou flutuando nas nuvens como esse anjo q só consegue me embreagar de pensamentos nada ortodóxos...Rô tenho certeza q vc conseguiu estremeçer, o físico, emocional e mental de todas nós Gerryanas. que os anjos continuem zelando por seu talento.
    Bjkas

    ResponderExcluir
  4. De certo que a Claire é mesmo uma sortuda, amiga. Já pensou uma coisa dessas acontecer... bom, a bem da verdade nua e crua, pensar eu acho que todas nós já pensamos, não é... Até pq os pensamentos são só nossos, ninguém tem o poder de entrar em nossas cabeças e vigiar o que está por ali. Então, pensar, qual gerryana já não pensou e sonhou exatamente com tudo isso que vc nos descreveu com a sua natural maestria? Eu já pensei, já sonhei, já desejei... e como!!!
    Esse seu conto é como um docinho apimentado, delicioso de se ver e qdo a gente inicia a degustação, não dá pra parar no meio, tem que ir até o final – e qdo chegamos ao final, suspiramos, fechamos os olhos e sonhamos...
    Olha só, abençoada é vc, Rô, com esse dom maravilhoso que Deus lhe deu! E tb abençoadas somos nós que podemos desfrutar de todos esses contos tão espetaculares que vc nos apresenta.
    Amei!
    Beijinhos

    ResponderExcluir

Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!