Estava na hora de deixar aquela timidez irritante de lado. Estava tão feliz com os últimos acontecimentos. Estava na hora de aproveitar todas as oportunidades que estavam surgindo, inclusive a chance de conhecer Gerry melhor e deixar que ele a conhecesse, também.
Colocou seu melhor vestido, que já intencionalmente levara na pouca bagagem para a viagem. Tentou manter uma imagem casual, com pouca maquiagem e cabelos soltos. Gostou do resultado final. Não tinha mesmo muito tempo para grandes produções estilísticas. Às 20h15min, pegou sua bolsa e desceu para o saguão conforme o combinado.
Enquanto esperava por Gerard, um jovem alto e moreno, muito simpático, provavelmente originário da América do Sul, aproximou-se dela para, aparentemente, pedir informações sobre L.A. Mesmo depois que ela o informou saber tanto quanto ele sobre a cidade, a conversa continuou. Seu nome era Alejandro e estava em férias, tendo chegado ao hotel há dois dias. Logo estavam rindo juntos, com Dani corrigindo o inglês dele enquanto ele lhe ensinava algumas palavras em espanhol. De repente, o sorriso de Alejandro desapareceu. Logo Dani entendeu por que. Atrás dela, estava Gerard parado, com uma cara péssima, olhando para os dois, como se fossem criminosos.
- Ele é namorado seu? – perguntou Alejandro, preocupado e mostrando alguma dificuldade no seu inglês.
- Não. É apenas um amigo – respondeu, enquanto chamava Gerard para apresentá-lo ao novo conhecido, tentando manter a maior naturalidade possível.
- Olá, Gerard. Quero lhe apresentar Alejandro. Ele estava me fazendo companhia enquanto esperava a sua chegada.
- É melhor irmos logo. O pessoal já está nos esperando – disse sem mostrar um só milímetro de seus dentes.
- Muito prazer, senhor... – cumprimentou Alejandro, estendendo-lhe a mão, sem retorno.
Dani ficou chateada com a maneira como Gerard havia tratado o rapaz e fez questão de despedir-se mais efusivamente que o normal.
- Bem, Alejandro, foi um prazer conhecê-lo – disse dando-lhe um abraço e um beijo no rosto.
- Espero encontrá-la em breve. Quem sabe não fazermos um tour por Los Angeles juntos?
Ela riu ao ouvir a concordância errada do convite, mas respondeu:
- Quem sabe? Até logo, Alejandro.
Sentiu a mão forte de Gerard apertar-lhe o braço e puxá-la em direção a saída.
- Eu esperava que você fosse mais educado...
- ÉÉ, talvez eu tenha exagerado. Desculpe – disse visivelmente irritado – Não sabia que você fazia amizade tão rápida com estranhos. Será que a dificuldade é só comigo?
- Como assim? Não entendi...
- Deixa prá lá. É melhor nos apressarmos. Não gosto de chegar atrasado a um compromisso.
Dani perguntava-se se estava presenciando um certo comportamento ciumento em Gerry, mas preferiu pensar que era apenas uma impressão errada sua, para não ficar imaginando coisas que não existiam.
Gerry pegou o carro com o manobrista do hotel, a fez entrar e logo estavam a caminho do local do encontro. Permaneceram num silêncio tenso durante todo o percurso.
Chegaram a um belo prédio de apartamentos e, surpreendentemente, Gerard entrou na garagem e estacionou seu carro em uma das vagas.
- Que lugar é este?
- É onde eu moro – respondeu ele com a maior tranqüilidade.
- E o jantar? E seus amigos? – quis saber, com a voz repentinamente tremula.
- Devem estar chegando ou já estar lá... – vendo a cara de espanto dela, continuou – Ah! Esqueci de dizer-lhe que o jantar seria aqui. Pensou que fosse num restaurante, não?
- É... Eu pensei.
- Desculpe não ter lhe dito. Algum problema? - perguntou com ares de sarcasmo.
- N-não. Problema algum.
- Então, vamos subir – disse, enquanto segurava a porta do elevador para que ela entrasse.
O apartamento dele era muito espaçoso e com uma decoração de extremo bom gosto. Havia um garçom a postos para atender os convidados. Apena um casal havia chegado. Gerry foi muito efusivo com ambos e logo a chamou para apresentá-la. Era o diretor do filme, Felix, para o qual ela faria o teste no dia seguinte. Ele estava acompanhado pela esposa e era um sujeito muito simpático. Aos poucos os amigos de Gerry foram chegando. Ao todo eram oito pessoas para jantar.
Foram servidos alguns canapés e, cerca de uma hora depois, o jantar foi servido. O clima era de descontração e os assuntos, os mais variados. Todos fariam parte da equipe de filmagem. Daniela praticamente já se sentia como fazendo parte também. Após terminado o jantar, ainda ficaram conversando um bom tempo. Quando a meia-noite aproximou-se, começaram as despedidas.
- A gente se fala amanhã, Daniela. Sem nervosismos, está bem? Tudo vai dar certo, tenho certeza. Confio no olho do Gerry como caça-talentos.
Quando o último conviva saiu, Daniela dirigiu-se a Gerry para despedir-se.
- Bem, acho que vou indo também. Já está tarde e tenho que acordar cedo. O teste é pela manhã?
- É, mas ficou marcado para o final da manhã. Não precisa ter pressa. Vamos conversar mais um pouco.
- Acho melhor eu ir. É só chamar um táxi
- Eu a levo até o seu hotel... Depois. Venha, vamos sentar – ele insistiu.
Percebendo que aquilo era quase uma ordem, Daniela acomodou-se novamente na confortável poltrona onde estava sentada antes. Gerry sentou-se a sua frente, relaxadamente, com as pernas abertas, no sofá de três lugares e fixou seu olhar sobre ela, como se a analisasse.
- O que você quer conversar? – perguntou Dani, já encabulada pelo silêncio e pelo olhar escaneador de seu interlocutor.
- Porque você continua me tratando como se eu fosse um estranho?
- Como assim? Não entendo o que você quer dizer com isso – respondeu Daniela, já se sentindo corar.
- Vejo você tratando a todos com sorrisos, beijinhos e abraços... Até um desconhecido, que você diz ter conhecido na porta do hotel, você trata melhor que a mim.
- De onde você tirou esta idéia? – perguntou ela, espantada com a queixa magoada dele. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
Foi então que ele levantou-se, como um grande gato, aproximou-se dela e ficou de joelhos à sua frente, pegando em suas mãos e encarando-a com os dois grandes olhos verdes tristonhos. Daniela pensou que seu coração fosse parar ao vê-lo daquele jeito, mendigando a sua atenção.
- Desde que te vi pela segunda vez, naquele palco do Actor’s Studio, não consegui mais parar de pensar em você. A todo o instante fico pensando no seu jeito, no seu olhar, ouvindo a sua voz. Mas cada vez que tento me aproximar, sinto que você põe uma barreira entre nós. Eu fiz alguma coisa para você me odiar tanto?
- Odiar? Gerard! Eu jamais poderia odiá-lo... Eu ... Gosto de você... – falou hesitante, com medo que uma declaração mais apaixonada lhe aflorasse aos lábios.
- Gosta? Gosta como? – ele continuava muito próximo a ela e com os olhos cravados nos dela.
- Gosto, ora. Você tem sido gentil comigo, me convidou para este teste, parece ter visto algum talento em mim... Não tenho motivo algum para... odiá-lo. Não sei onde você viu este tipo de sentimento em mim.
Ele aproximou-se ainda mais, obrigando-a a ir para trás, até quase tocar no encosto da poltrona. Daniela sentia como se fosse entrar em erupção a qualquer instante. O desejo por ele era crescente e parecia que o mesmo acontecia com ele, pela expressão e seu rosto.
- Gosta só como conhecido, amigo ou... Algo mais?
- E-eu não sei o que você quer dizer... - engoliu em seco e tentou levantar-se – È melhor eu ir embora. Já está ficando tarde e tem o teste amanhã
Ele a impedia de sair de onde estava e parecia estar saboreando satisfeito cada expressão e cada palavra oferecidas por Daniela. Um beijo parecia iminente.
- Não quero que você vá embora – disse, levando sua mão direita até o rosto de Daniela e acarinhando-a com suavidade, fazendo com que um arrepio gostoso percorresse o corpo dela.
- Gerard, o que você está fazendo? – disse num sussurro, quase de olhos fechados, adorando o toque daquela mão grande e quente, que quase conseguia envolver todo o seu rosto.
Ele, percebendo que estava conseguindo quebrar as barreiras, aproximou-se, lentamente, tocando seus lábios de leve nos dela. Este toque arrancou um gemido suspiroso de Daniela. Os braços de Gerry envolveram-na, puxando-a contra seu peito arfante. Logo, beijou-a com mais intensidade, vencendo totalmente sua resistência. Daniela acabou por colocar as mãos envolvendo a cabeça dele, puxando-o ainda mais contra si, desafogando todo o desejo, controlado até então. Ambos pareciam ter urgência em penetrar na intimidade um do outro. Era como se quisessem fundir-se num só. Esquecidos de tudo, só agiam por impulso, tentando eliminar tudo que pudesse interferir com o toque pele a pele.
Livres de suas roupas, entregaram-se ao prazer maior, deixando suas mãos percorrerem livremente os caminhos de seus corpos desnudos e famintos. Fizeram amor no meio da sala, sem ligar para qualquer desconforto. Quando finalmente chegaram ao êxtase, permaneceram abraçados, caídos exaustos e satisfeitos. Mentes vazias, corpos cansados e sorriso nos lábios, permaneceram assim por vários minutos, antes que alguém resolvesse falar novamente.
Daniela abriu os olhos e viu o rosto sereno de Gerry, dormindo tranqüilo como uma criança. Teve vontade de beijá-lo, mas precisava sair dali e voltar para o seu hotel. Precisava tomar um banho e arrumar-se para o teste no final da manhã. Com cuidado, tentou levantar-se. Já estava quase conseguindo, quando foi puxada para baixo por dois braços fortes.
- Onde a senhorita pensa que vai?
- Eu não queria te acordar. Preciso voltar para o hotel. Lembra do teste?
- Claro que lembro. Eu vou participar dele também.
- Como assim, vai participar também?
- Ora, com quem você pensa que vai contracenar?
- Mas, no teste?
- Sim... Por isso já comecei os ensaios agora à noite... – disse, olhando-a divertido.
Por um momento, Daniela sentiu medo daquele comentário, mas ele logo a puxou mais contra si e a beijou.
- O que houve? – perguntou a ela quando sentiu que seu beijo não era correspondido – Não gostou de saber que vai atuar comigo?
- Não é isto... Foi este seu comentário. Você já tinha planejado tudo isto, não? A atriz iniciante que vai prá cama com o produtor e consegue o papel que tanto sonha. È fácil para você conseguir as mulheres que deseja tendo este poder de persuasão...
Ela viu a expressão alegre de antes se alterar para muito séria no rosto de Gerry.
- Não. Eu não planejei nada disto. Nunca pensei que você ou qualquer outra pessoa pudesse pensar isto de mim – Ele estava realmente surpreso e aborrecido com o que Daniela dissera - Sinto muito se fiz você imaginar que queria me aproveitar de você.
O modo como ele estava reagindo fez Daniela arrepender-se imediatamente do que acabara de dizer.
- Gerry... Eu...
- Melhor você se ajeitar. Eu a levo até o hotel. Não precisa preocupar-se com o teste. Ele vai sair de qualquer maneira – disse friamente, sem olhá-la nos olhos, já se levantando do chão onde estavam.
- Gerard! Me desculpe. Eu não queria dizer isto...
- Então, não devia ter dito – falou, enquanto vestia sua camisa e caminhava em direção à área íntima do apartamento.
Daniela queria morrer, mas não falou nada. Ela conseguira estragar tudo. Nunca mais ele ia querer vê-la. Levantou-se e foi juntar suas roupas que estavam espalhadas sobre o tapete da sala. Tentava segurar as lágrimas, mas não conseguiu. Vestiu-se e sentou-se no sofá. Quanto mais pensava no que acontecera, maior o seu desespero. Como pudera dizer aquilo ao homem que amava e com quem finalmente tinha tido uma inesquecível noite de amor?
Sentia as lágrimas escorrendo por sua face, quando ouviu a voz de Gerry, perguntando em tom baixo de voz:
- Por que está chorando? – e fez uma pequena pausa – O que está acontecendo, Daniela? – perguntou mais uma vez, agora se aproximando de onde ela estava sentada, consternado. Ele não conseguia ficar indiferente a uma mulher chorando. Sentia-se totalmente desarmado.
- Porque sou uma idiota. Consegui estragar tudo, não foi?
Silenciosamente, ele sentou-se ao lado dela, muito próximo.
- Acho que você está ansiosa por causa do teste. Isto acontece...
- Desculpe-me por ter dito aquelas coisas a seu respeito. Sei que você não seria capaz de fazer nada disso.
Após um interminável minuto de silêncio, Gerry acabou por falar:
- Vem cá – puxando-a contra si e abraçando-a carinhosamente – Vamos esquecer o que aconteceu. Eu sou meio brincalhão às vezes e posso dizer algo inconveniente. Talvez eu tenha feito uma brincadeira na hora errada.
Levantou sua cabeça com os dedos em seu queixo, delicadamente e a fez olhar em seus olhos.
- Foi muito bom te ter em meus braços e te amar. Espero que a gente possa repetir momentos como este muitas e muitas vezes – disse, quase num sussurro.
Lentamente, ele foi aproximando seus lábios do rosto de Daniela e começou a secar suas lágrimas com beijos suaves,
- Ah, Gerry... Me perdoa?
Ele ficou sério.
- Só se você me der um beijo...
- Acho que posso dar mais que um beijo...
Ele a abraçou com força, para logo em seguida colar seus lábios aos dela.
Já esquecidos do que acontecera e incendiados pelo desejo, do beijo passaram às carícias. Logo estavam a caminho do quarto...
Ao acordar pela manhã, assustada por não saber a hora, percebeu a ausência de Gerry ao seu lado na cama. Ouviu a sua voz ao longe, na sala, falando com alguém. Levantou-se e foi na direção da porta para tentar descobrir com quem ele falava.
- Claro, querida! Vou estar com você em breve. Estou morrendo de saudades... Eu também... Te amo...Um beijo...
Daniela sentiu um aperto no coração, mas não quis que ele percebesse que tinha ouvido aquela conversa. Foi para o banheiro tomar uma ducha. Quem seria a mulher com quem ele estava falando? Não. Não deixaria o ciúme tomar conta dela. Já tivera uma discussão antes. Não queria outra. Apesar do que ouvira, podia estar enganada a respeito do teor da conversa. Ela era uma pessoa muito afetuosa. Podia ser uma amiga, podia ser alguém do passado... Afinal, eles estavam apenas começando uma relação...
Sob a água do chuveiro, tentava esfriar a cabeça, mas a dor da dúvida continuava.
Foi quando estava de olhos fechados, começando a ensaboar-se, que sentiu a presença dele atrás de si. Logo foi envolvida por um par de braços fortes e sentiu o corpo nu de Gerry encostar-se no dela.
- Posso tomar banho com você?
- Acho que isto não vai dar certo. Nós vamos nos atrasar – falou pouco convincente, com um sorriso nos lábios.
- Ainda é cedo. Além do mais, eu sou o produtor e ator principal do filme. Se houver algum atraso, ninguém vai me cobrar.
- Gerard! Não sabia deste seu lado prepotente.
Ele a virou de frente para ele. Ela pode sentir o quão excitado ele estava.
- Estava brincando. Ainda temos tempo suficiente para um banho. Relaxe... – Enquanto falava, roubou-lhe o sabonete das mãos e começou a ensaboá-la lentamente, apreciando cada contorno de seu corpo.
- Mas tenho que trocar de roupa... tenho que... passar no hotel...- dizia isto, sentindo o corpo desfalecer sob o toque das mãos dele. Não tinha como resistir àquele homem.
- Para quê? As suas roupas de ontem caíam muito bem em você...
Daí para frente, Daniela deixou-se levar pelos carinhos e beijos de Gerry. Logo, ela também passou a ajudá-lo a “lavar-se e, como era de esperar, o “banho” terminou em mais uma explosão de prazer entre os dois.
Tomaram um rápido café e foram para o estúdio onde seria feito o teste. Durante o caminho, Daniela permaneceu mais calada. Ele considerou que fosse a ansiedade que ainda a incomodava. Na verdade, ela estava perdida em outro tipo de pensamentos relacionados com o telefonema que presenciara e as dúvidas colocadas por Eve e Gary.
Ao final do trajeto, Daniela chegara à conclusão de que tentaria viver apenas o momento. Mesmo que ele estivesse com ela apenas pelo sexo, ainda assim isto poderia ser muito agradável. Tentaria ser o menos romântica possível. Ela estava apaixonada. Ele, provavelmente, não. Mas estavam juntos agora. Isso é o que importava. Era melhor não nutrir falsas esperanças.
Ao chegarem, uma pequena equipe já se encontrava no local e Felix, os aguardava. Daniela estava um pouco tensa, mas lembrava de todas as suas falas e as de Gerry também. Era uma cena de discussão entre um casal, pouco antes da mulher ser assassinada. Havia uma certa tensão no ar, que culminava com a personagem de Dani dando uma bofetada no marido – Gerry.
Quando estavam todos prontos, o teste começou e ambos atuaram magnificamente bem. Para surpresa de Gerry, Daniela realmente o esbofeteou na hora da cena que valeria como teste final. Talvez com mais força que o previsto.
- Corta!... Ficou excelente! – disse Felix.
- Puxa, Dani. Só não precisava usar tanta força. Quase deslocou o meu maxilar... – disse Gerry, esfregando o rosto no local do tapa.
- Não exagera , Gerry. A cena, as expressões de vocês ficaram bem realistas. Só tenho que ver como ficou o filme. Venha ver comigo.
- Desculpe, Gerry. Não foi minha intenção. Errei na força – disse isso, mas pensou se inconscientemente não havia feito aquilo por causa do telefonema de antes – Vou deixar vocês verem o resultado final a sós. Estarei no camarim para tirar esta roupa.
- Não quer esperar para que eu a ajude? – perguntou, com olhar de cobiça.
- Não... Fique quieto – sussurrou – Não quero que saibam sobre a gente.
- Por que não? – falou ele, rindo e sussurrando também.
- Porque fico envergonhada.
- Tá bom... Vá arrumar-se. Vamos sair para almoçar depois.
O teste de Daniela havia sido um sucesso e durante o almoço, Gerard deu-lhe a boa notícia de que estava contratada para o papel.
- Quando começam as filmagens? – perguntou entusiasmada.
- Só no final do ano, se não houver mais problemas. Você vai poder concluir o seu ano no Actor’s e depois, dedicar-se às filmagens.
- Mas são poucas as cenas em que apareço. Que eu saiba sou assassinada no início do filme.
- É, mas tem alguns “flashbacks” em que o seu personagem aparece. Fora isso, quero que você fique comigo nas suas férias.
- Será que até lá você ainda vai querer ficar comigo? – perguntou, fazendo-se de dengosa.
- Que pergunta boba é esta? Não vai começar de novo com aquela estória de ontem, vai?
- Não. Estou brincando... - disse desviando o olhar.
- Você está meio estranha, Dani. Desde que saímos de casa hoje... O que anda passando por esta cabecinha maluca?
- É impressão sua. Acho que estou triste porque vamos ter de nos separar amanhã.
0 É verdade, meu bem... Mas é por pouco tempo. Infelizmente prometi para o Steve que a devolvia logo após o teste. Tenho que cumprir a minha palavra – falando isto, procurou a mão dela sobre a mesa.
- Quando vou poder vê-lo de novo?
- Logo. Na primeira brecha que tiver nos meus compromissos darei um jeito de ir à Nova York. Não se preocupe. Não vou deixar você voltar para o... Como é mesmo o nome dele? Gary?
- Gary? Eu já te disse que ele é só um colega e que dividimos o apartamento entre quatro pessoas – disse ela, rindo.
- Entre quatro? Tem mais três homens morando com você?
- Gerry! Deixa de ser bobo. Claro que não. Somos três mulheres e o Gary.
- Então ele está se dando muito bem – continuava sarcástico.
Dani sacudiu a cabeça, rindo dos comentários de Gerry. Adorava aquele bom humor dele.
- Quando você for à Nova York, vou apresentá-lo aos meus amigos. Você vai ver que não tem nada do que você está insinuando – ela pensou melhor e lembrou-se do namoro entre Lourdes e Gary.
- O que foi? Lembrou de algo inconfessável?
- Não. Estava só lembrando que o Gary está namorando uma das meninas, a Lourdes.
- Ah! Então eu tinha razão. Ele está se dando bem.
Ela apenas sorriu, reprovando-o com o olhar.
Terminaram o almoço e foram passear um pouco pela cidade. Gerry teve de dar uma chegada no escritório da produtora para assinar alguns papéis. Passaram pelo hotel, onde ele praticamente obrigou-a a pegar suas coisas e fechou a conta. Ficaria hospedada, até o dia seguinte, no apartamento dele. Isto a deixou realmente alegre. Parecia ser um bom sinal. Ele queria ficar mais tempo com ela.
Na recepção, enquanto Gerry acertava tudo com o recepcionista, Alejandro apareceu. Foi direto ao encontro de Daniela.
- Ola! Procurei por você esta manhã, mas me disseram que não estava.
- É. Tive um teste para fazer hoje pela manhã.
- Teste?
- Sim. Eu sou atriz e vim para Los Angeles para fazer um teste para participar de um filme.
- Sério? Quer dizer que estou à frente de uma atriz famosa?
- Não – ela sorriu – Imagina. Estou tentando iniciar na carreira. Estudo no Actor’s Studio em NY e agora surgiu esta oportunidade.
- E como foi?
- Estou contratada.
- Parabéns! Temos que festeja então. Que tal jantarmos juntos hoje à noite? – ele estava dando em cima dela escancaradamente.
- Infelizmente eu já tenho compromisso, Alejandro.
- E amanhã? – insistiu, lançando um olhar para Gerry, no balcão à frente, que já tinha percebido a sua presença e lançava olhares desconfiados para os dois – Ainda vai estar acompanhada pelo seu cão de guarda?
- Não fale assim, Alejandro. Gerry e eu estamos... juntos – sentiu-se estranha ao fazer esta declaração.
- Mas até ontem ele era apenas um amigo.
- As coisas mudam. Além disso, estou voltando para Nova York amanhã pela manhã.
- Que coincidência! Também vou para Nova York em dois dias.
Daniela já estava começando a achar Alejandro inconveniente, quando ele sacou um cartão com o número de seu celular. Neste instante, Gerry surgiu, e abraçou-a.
- Vejo que está se despedindo de seu amigo, Dani. Temos que ir embora. Agora.
- Você é um “hombre” de muita sorte.
Gerry olhou-a quase com raiva e puxou Dani pelo braço.
- Vamos, Daniela. Foi um prazer conhecê-lo, Juan.
- Adeus, Alejandro. Foi um prazer... – mal teve tempo de terminar a frase e seguiu atrás de Gerry, bastante satisfeita. Tanto por estar livre do rapaz que começara a tornar-se inoportuno, como por perceber claramente o ciúme na atitude de Gerry.
- Será que não posso deixá-la sozinha um instante, que já tem um homem grudado em você? – ele só conseguiu falar depois que estava no carro, já no trânsito.
- Que é isso, Gerry? Ele estava apenas sendo gentil.
- Gentil? Achei que ele ia te agarrar ali mesmo na frente de todos.
- Não exagera...- ela estava se divertindo com toda aquela cena dele.
Resolveu acalmá-lo um pouco, desabafando:
- Preciso te agradecer por ter me tirado dali, naquela hora. Realmente, ele estava se tornando um chato. Obrigada por me salvar do “Juan” – olhou-o com carinho e fez um carinho em sua nuca, o que o fez arrepiar-se.
- É verdade isso? – ele sorriu.
- Claro. Não estava mais agüentando a cantada dele.
- Ah! Então você concorda que ele a estava cantando.
- Estava, eu reconheço. Mas ele estava só perdendo tempo. Eu já estou comprometida com outra pessoa – disse baixando os olhos, com falsa timidez, olhando-o de soslaio.
Ele a olhou, por um momento, com um doce brilho no olhar, e pegou sua mão, levando-a aos lábios e beijando-a. Não disse nada. Apenas sorriu.
Ela pensou: “Como seria bom se ele me amasse e tivéssemos um compromisso de verdade...”
- Que tal irmos para casa descansar um pouco e depois sair para jantar?
- Acho uma ótima idéia.
Aguardem a continuação...Beijinhos!
Colocou seu melhor vestido, que já intencionalmente levara na pouca bagagem para a viagem. Tentou manter uma imagem casual, com pouca maquiagem e cabelos soltos. Gostou do resultado final. Não tinha mesmo muito tempo para grandes produções estilísticas. Às 20h15min, pegou sua bolsa e desceu para o saguão conforme o combinado.
Enquanto esperava por Gerard, um jovem alto e moreno, muito simpático, provavelmente originário da América do Sul, aproximou-se dela para, aparentemente, pedir informações sobre L.A. Mesmo depois que ela o informou saber tanto quanto ele sobre a cidade, a conversa continuou. Seu nome era Alejandro e estava em férias, tendo chegado ao hotel há dois dias. Logo estavam rindo juntos, com Dani corrigindo o inglês dele enquanto ele lhe ensinava algumas palavras em espanhol. De repente, o sorriso de Alejandro desapareceu. Logo Dani entendeu por que. Atrás dela, estava Gerard parado, com uma cara péssima, olhando para os dois, como se fossem criminosos.
- Ele é namorado seu? – perguntou Alejandro, preocupado e mostrando alguma dificuldade no seu inglês.
- Não. É apenas um amigo – respondeu, enquanto chamava Gerard para apresentá-lo ao novo conhecido, tentando manter a maior naturalidade possível.
- Olá, Gerard. Quero lhe apresentar Alejandro. Ele estava me fazendo companhia enquanto esperava a sua chegada.
- É melhor irmos logo. O pessoal já está nos esperando – disse sem mostrar um só milímetro de seus dentes.
- Muito prazer, senhor... – cumprimentou Alejandro, estendendo-lhe a mão, sem retorno.
Dani ficou chateada com a maneira como Gerard havia tratado o rapaz e fez questão de despedir-se mais efusivamente que o normal.
- Bem, Alejandro, foi um prazer conhecê-lo – disse dando-lhe um abraço e um beijo no rosto.
- Espero encontrá-la em breve. Quem sabe não fazermos um tour por Los Angeles juntos?
Ela riu ao ouvir a concordância errada do convite, mas respondeu:
- Quem sabe? Até logo, Alejandro.
Sentiu a mão forte de Gerard apertar-lhe o braço e puxá-la em direção a saída.
- Eu esperava que você fosse mais educado...
- ÉÉ, talvez eu tenha exagerado. Desculpe – disse visivelmente irritado – Não sabia que você fazia amizade tão rápida com estranhos. Será que a dificuldade é só comigo?
- Como assim? Não entendi...
- Deixa prá lá. É melhor nos apressarmos. Não gosto de chegar atrasado a um compromisso.
Dani perguntava-se se estava presenciando um certo comportamento ciumento em Gerry, mas preferiu pensar que era apenas uma impressão errada sua, para não ficar imaginando coisas que não existiam.
Gerry pegou o carro com o manobrista do hotel, a fez entrar e logo estavam a caminho do local do encontro. Permaneceram num silêncio tenso durante todo o percurso.
Chegaram a um belo prédio de apartamentos e, surpreendentemente, Gerard entrou na garagem e estacionou seu carro em uma das vagas.
- Que lugar é este?
- É onde eu moro – respondeu ele com a maior tranqüilidade.
- E o jantar? E seus amigos? – quis saber, com a voz repentinamente tremula.
- Devem estar chegando ou já estar lá... – vendo a cara de espanto dela, continuou – Ah! Esqueci de dizer-lhe que o jantar seria aqui. Pensou que fosse num restaurante, não?
- É... Eu pensei.
- Desculpe não ter lhe dito. Algum problema? - perguntou com ares de sarcasmo.
- N-não. Problema algum.
- Então, vamos subir – disse, enquanto segurava a porta do elevador para que ela entrasse.
O apartamento dele era muito espaçoso e com uma decoração de extremo bom gosto. Havia um garçom a postos para atender os convidados. Apena um casal havia chegado. Gerry foi muito efusivo com ambos e logo a chamou para apresentá-la. Era o diretor do filme, Felix, para o qual ela faria o teste no dia seguinte. Ele estava acompanhado pela esposa e era um sujeito muito simpático. Aos poucos os amigos de Gerry foram chegando. Ao todo eram oito pessoas para jantar.
Foram servidos alguns canapés e, cerca de uma hora depois, o jantar foi servido. O clima era de descontração e os assuntos, os mais variados. Todos fariam parte da equipe de filmagem. Daniela praticamente já se sentia como fazendo parte também. Após terminado o jantar, ainda ficaram conversando um bom tempo. Quando a meia-noite aproximou-se, começaram as despedidas.
- A gente se fala amanhã, Daniela. Sem nervosismos, está bem? Tudo vai dar certo, tenho certeza. Confio no olho do Gerry como caça-talentos.
Quando o último conviva saiu, Daniela dirigiu-se a Gerry para despedir-se.
- Bem, acho que vou indo também. Já está tarde e tenho que acordar cedo. O teste é pela manhã?
- É, mas ficou marcado para o final da manhã. Não precisa ter pressa. Vamos conversar mais um pouco.
- Acho melhor eu ir. É só chamar um táxi
- Eu a levo até o seu hotel... Depois. Venha, vamos sentar – ele insistiu.
Percebendo que aquilo era quase uma ordem, Daniela acomodou-se novamente na confortável poltrona onde estava sentada antes. Gerry sentou-se a sua frente, relaxadamente, com as pernas abertas, no sofá de três lugares e fixou seu olhar sobre ela, como se a analisasse.
- O que você quer conversar? – perguntou Dani, já encabulada pelo silêncio e pelo olhar escaneador de seu interlocutor.
- Porque você continua me tratando como se eu fosse um estranho?
- Como assim? Não entendo o que você quer dizer com isso – respondeu Daniela, já se sentindo corar.
- Vejo você tratando a todos com sorrisos, beijinhos e abraços... Até um desconhecido, que você diz ter conhecido na porta do hotel, você trata melhor que a mim.
- De onde você tirou esta idéia? – perguntou ela, espantada com a queixa magoada dele. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
Foi então que ele levantou-se, como um grande gato, aproximou-se dela e ficou de joelhos à sua frente, pegando em suas mãos e encarando-a com os dois grandes olhos verdes tristonhos. Daniela pensou que seu coração fosse parar ao vê-lo daquele jeito, mendigando a sua atenção.
- Desde que te vi pela segunda vez, naquele palco do Actor’s Studio, não consegui mais parar de pensar em você. A todo o instante fico pensando no seu jeito, no seu olhar, ouvindo a sua voz. Mas cada vez que tento me aproximar, sinto que você põe uma barreira entre nós. Eu fiz alguma coisa para você me odiar tanto?
- Odiar? Gerard! Eu jamais poderia odiá-lo... Eu ... Gosto de você... – falou hesitante, com medo que uma declaração mais apaixonada lhe aflorasse aos lábios.
- Gosta? Gosta como? – ele continuava muito próximo a ela e com os olhos cravados nos dela.
- Gosto, ora. Você tem sido gentil comigo, me convidou para este teste, parece ter visto algum talento em mim... Não tenho motivo algum para... odiá-lo. Não sei onde você viu este tipo de sentimento em mim.
Ele aproximou-se ainda mais, obrigando-a a ir para trás, até quase tocar no encosto da poltrona. Daniela sentia como se fosse entrar em erupção a qualquer instante. O desejo por ele era crescente e parecia que o mesmo acontecia com ele, pela expressão e seu rosto.
- Gosta só como conhecido, amigo ou... Algo mais?
- E-eu não sei o que você quer dizer... - engoliu em seco e tentou levantar-se – È melhor eu ir embora. Já está ficando tarde e tem o teste amanhã
Ele a impedia de sair de onde estava e parecia estar saboreando satisfeito cada expressão e cada palavra oferecidas por Daniela. Um beijo parecia iminente.
- Não quero que você vá embora – disse, levando sua mão direita até o rosto de Daniela e acarinhando-a com suavidade, fazendo com que um arrepio gostoso percorresse o corpo dela.
- Gerard, o que você está fazendo? – disse num sussurro, quase de olhos fechados, adorando o toque daquela mão grande e quente, que quase conseguia envolver todo o seu rosto.
Ele, percebendo que estava conseguindo quebrar as barreiras, aproximou-se, lentamente, tocando seus lábios de leve nos dela. Este toque arrancou um gemido suspiroso de Daniela. Os braços de Gerry envolveram-na, puxando-a contra seu peito arfante. Logo, beijou-a com mais intensidade, vencendo totalmente sua resistência. Daniela acabou por colocar as mãos envolvendo a cabeça dele, puxando-o ainda mais contra si, desafogando todo o desejo, controlado até então. Ambos pareciam ter urgência em penetrar na intimidade um do outro. Era como se quisessem fundir-se num só. Esquecidos de tudo, só agiam por impulso, tentando eliminar tudo que pudesse interferir com o toque pele a pele.
Livres de suas roupas, entregaram-se ao prazer maior, deixando suas mãos percorrerem livremente os caminhos de seus corpos desnudos e famintos. Fizeram amor no meio da sala, sem ligar para qualquer desconforto. Quando finalmente chegaram ao êxtase, permaneceram abraçados, caídos exaustos e satisfeitos. Mentes vazias, corpos cansados e sorriso nos lábios, permaneceram assim por vários minutos, antes que alguém resolvesse falar novamente.
Daniela abriu os olhos e viu o rosto sereno de Gerry, dormindo tranqüilo como uma criança. Teve vontade de beijá-lo, mas precisava sair dali e voltar para o seu hotel. Precisava tomar um banho e arrumar-se para o teste no final da manhã. Com cuidado, tentou levantar-se. Já estava quase conseguindo, quando foi puxada para baixo por dois braços fortes.
- Onde a senhorita pensa que vai?
- Eu não queria te acordar. Preciso voltar para o hotel. Lembra do teste?
- Claro que lembro. Eu vou participar dele também.
- Como assim, vai participar também?
- Ora, com quem você pensa que vai contracenar?
- Mas, no teste?
- Sim... Por isso já comecei os ensaios agora à noite... – disse, olhando-a divertido.
Por um momento, Daniela sentiu medo daquele comentário, mas ele logo a puxou mais contra si e a beijou.
- O que houve? – perguntou a ela quando sentiu que seu beijo não era correspondido – Não gostou de saber que vai atuar comigo?
- Não é isto... Foi este seu comentário. Você já tinha planejado tudo isto, não? A atriz iniciante que vai prá cama com o produtor e consegue o papel que tanto sonha. È fácil para você conseguir as mulheres que deseja tendo este poder de persuasão...
Ela viu a expressão alegre de antes se alterar para muito séria no rosto de Gerry.
- Não. Eu não planejei nada disto. Nunca pensei que você ou qualquer outra pessoa pudesse pensar isto de mim – Ele estava realmente surpreso e aborrecido com o que Daniela dissera - Sinto muito se fiz você imaginar que queria me aproveitar de você.
O modo como ele estava reagindo fez Daniela arrepender-se imediatamente do que acabara de dizer.
- Gerry... Eu...
- Melhor você se ajeitar. Eu a levo até o hotel. Não precisa preocupar-se com o teste. Ele vai sair de qualquer maneira – disse friamente, sem olhá-la nos olhos, já se levantando do chão onde estavam.
- Gerard! Me desculpe. Eu não queria dizer isto...
- Então, não devia ter dito – falou, enquanto vestia sua camisa e caminhava em direção à área íntima do apartamento.
Daniela queria morrer, mas não falou nada. Ela conseguira estragar tudo. Nunca mais ele ia querer vê-la. Levantou-se e foi juntar suas roupas que estavam espalhadas sobre o tapete da sala. Tentava segurar as lágrimas, mas não conseguiu. Vestiu-se e sentou-se no sofá. Quanto mais pensava no que acontecera, maior o seu desespero. Como pudera dizer aquilo ao homem que amava e com quem finalmente tinha tido uma inesquecível noite de amor?
Sentia as lágrimas escorrendo por sua face, quando ouviu a voz de Gerry, perguntando em tom baixo de voz:
- Por que está chorando? – e fez uma pequena pausa – O que está acontecendo, Daniela? – perguntou mais uma vez, agora se aproximando de onde ela estava sentada, consternado. Ele não conseguia ficar indiferente a uma mulher chorando. Sentia-se totalmente desarmado.
- Porque sou uma idiota. Consegui estragar tudo, não foi?
Silenciosamente, ele sentou-se ao lado dela, muito próximo.
- Acho que você está ansiosa por causa do teste. Isto acontece...
- Desculpe-me por ter dito aquelas coisas a seu respeito. Sei que você não seria capaz de fazer nada disso.
Após um interminável minuto de silêncio, Gerry acabou por falar:
- Vem cá – puxando-a contra si e abraçando-a carinhosamente – Vamos esquecer o que aconteceu. Eu sou meio brincalhão às vezes e posso dizer algo inconveniente. Talvez eu tenha feito uma brincadeira na hora errada.
Levantou sua cabeça com os dedos em seu queixo, delicadamente e a fez olhar em seus olhos.
- Foi muito bom te ter em meus braços e te amar. Espero que a gente possa repetir momentos como este muitas e muitas vezes – disse, quase num sussurro.
Lentamente, ele foi aproximando seus lábios do rosto de Daniela e começou a secar suas lágrimas com beijos suaves,
- Ah, Gerry... Me perdoa?
Ele ficou sério.
- Só se você me der um beijo...
- Acho que posso dar mais que um beijo...
Ele a abraçou com força, para logo em seguida colar seus lábios aos dela.
Já esquecidos do que acontecera e incendiados pelo desejo, do beijo passaram às carícias. Logo estavam a caminho do quarto...
Ao acordar pela manhã, assustada por não saber a hora, percebeu a ausência de Gerry ao seu lado na cama. Ouviu a sua voz ao longe, na sala, falando com alguém. Levantou-se e foi na direção da porta para tentar descobrir com quem ele falava.
- Claro, querida! Vou estar com você em breve. Estou morrendo de saudades... Eu também... Te amo...Um beijo...
Daniela sentiu um aperto no coração, mas não quis que ele percebesse que tinha ouvido aquela conversa. Foi para o banheiro tomar uma ducha. Quem seria a mulher com quem ele estava falando? Não. Não deixaria o ciúme tomar conta dela. Já tivera uma discussão antes. Não queria outra. Apesar do que ouvira, podia estar enganada a respeito do teor da conversa. Ela era uma pessoa muito afetuosa. Podia ser uma amiga, podia ser alguém do passado... Afinal, eles estavam apenas começando uma relação...
Sob a água do chuveiro, tentava esfriar a cabeça, mas a dor da dúvida continuava.
Foi quando estava de olhos fechados, começando a ensaboar-se, que sentiu a presença dele atrás de si. Logo foi envolvida por um par de braços fortes e sentiu o corpo nu de Gerry encostar-se no dela.
- Posso tomar banho com você?
- Acho que isto não vai dar certo. Nós vamos nos atrasar – falou pouco convincente, com um sorriso nos lábios.
- Ainda é cedo. Além do mais, eu sou o produtor e ator principal do filme. Se houver algum atraso, ninguém vai me cobrar.
- Gerard! Não sabia deste seu lado prepotente.
Ele a virou de frente para ele. Ela pode sentir o quão excitado ele estava.
- Estava brincando. Ainda temos tempo suficiente para um banho. Relaxe... – Enquanto falava, roubou-lhe o sabonete das mãos e começou a ensaboá-la lentamente, apreciando cada contorno de seu corpo.
- Mas tenho que trocar de roupa... tenho que... passar no hotel...- dizia isto, sentindo o corpo desfalecer sob o toque das mãos dele. Não tinha como resistir àquele homem.
- Para quê? As suas roupas de ontem caíam muito bem em você...
Daí para frente, Daniela deixou-se levar pelos carinhos e beijos de Gerry. Logo, ela também passou a ajudá-lo a “lavar-se e, como era de esperar, o “banho” terminou em mais uma explosão de prazer entre os dois.
Tomaram um rápido café e foram para o estúdio onde seria feito o teste. Durante o caminho, Daniela permaneceu mais calada. Ele considerou que fosse a ansiedade que ainda a incomodava. Na verdade, ela estava perdida em outro tipo de pensamentos relacionados com o telefonema que presenciara e as dúvidas colocadas por Eve e Gary.
Ao final do trajeto, Daniela chegara à conclusão de que tentaria viver apenas o momento. Mesmo que ele estivesse com ela apenas pelo sexo, ainda assim isto poderia ser muito agradável. Tentaria ser o menos romântica possível. Ela estava apaixonada. Ele, provavelmente, não. Mas estavam juntos agora. Isso é o que importava. Era melhor não nutrir falsas esperanças.
Ao chegarem, uma pequena equipe já se encontrava no local e Felix, os aguardava. Daniela estava um pouco tensa, mas lembrava de todas as suas falas e as de Gerry também. Era uma cena de discussão entre um casal, pouco antes da mulher ser assassinada. Havia uma certa tensão no ar, que culminava com a personagem de Dani dando uma bofetada no marido – Gerry.
Quando estavam todos prontos, o teste começou e ambos atuaram magnificamente bem. Para surpresa de Gerry, Daniela realmente o esbofeteou na hora da cena que valeria como teste final. Talvez com mais força que o previsto.
- Corta!... Ficou excelente! – disse Felix.
- Puxa, Dani. Só não precisava usar tanta força. Quase deslocou o meu maxilar... – disse Gerry, esfregando o rosto no local do tapa.
- Não exagera , Gerry. A cena, as expressões de vocês ficaram bem realistas. Só tenho que ver como ficou o filme. Venha ver comigo.
- Desculpe, Gerry. Não foi minha intenção. Errei na força – disse isso, mas pensou se inconscientemente não havia feito aquilo por causa do telefonema de antes – Vou deixar vocês verem o resultado final a sós. Estarei no camarim para tirar esta roupa.
- Não quer esperar para que eu a ajude? – perguntou, com olhar de cobiça.
- Não... Fique quieto – sussurrou – Não quero que saibam sobre a gente.
- Por que não? – falou ele, rindo e sussurrando também.
- Porque fico envergonhada.
- Tá bom... Vá arrumar-se. Vamos sair para almoçar depois.
O teste de Daniela havia sido um sucesso e durante o almoço, Gerard deu-lhe a boa notícia de que estava contratada para o papel.
- Quando começam as filmagens? – perguntou entusiasmada.
- Só no final do ano, se não houver mais problemas. Você vai poder concluir o seu ano no Actor’s e depois, dedicar-se às filmagens.
- Mas são poucas as cenas em que apareço. Que eu saiba sou assassinada no início do filme.
- É, mas tem alguns “flashbacks” em que o seu personagem aparece. Fora isso, quero que você fique comigo nas suas férias.
- Será que até lá você ainda vai querer ficar comigo? – perguntou, fazendo-se de dengosa.
- Que pergunta boba é esta? Não vai começar de novo com aquela estória de ontem, vai?
- Não. Estou brincando... - disse desviando o olhar.
- Você está meio estranha, Dani. Desde que saímos de casa hoje... O que anda passando por esta cabecinha maluca?
- É impressão sua. Acho que estou triste porque vamos ter de nos separar amanhã.
0 É verdade, meu bem... Mas é por pouco tempo. Infelizmente prometi para o Steve que a devolvia logo após o teste. Tenho que cumprir a minha palavra – falando isto, procurou a mão dela sobre a mesa.
- Quando vou poder vê-lo de novo?
- Logo. Na primeira brecha que tiver nos meus compromissos darei um jeito de ir à Nova York. Não se preocupe. Não vou deixar você voltar para o... Como é mesmo o nome dele? Gary?
- Gary? Eu já te disse que ele é só um colega e que dividimos o apartamento entre quatro pessoas – disse ela, rindo.
- Entre quatro? Tem mais três homens morando com você?
- Gerry! Deixa de ser bobo. Claro que não. Somos três mulheres e o Gary.
- Então ele está se dando muito bem – continuava sarcástico.
Dani sacudiu a cabeça, rindo dos comentários de Gerry. Adorava aquele bom humor dele.
- Quando você for à Nova York, vou apresentá-lo aos meus amigos. Você vai ver que não tem nada do que você está insinuando – ela pensou melhor e lembrou-se do namoro entre Lourdes e Gary.
- O que foi? Lembrou de algo inconfessável?
- Não. Estava só lembrando que o Gary está namorando uma das meninas, a Lourdes.
- Ah! Então eu tinha razão. Ele está se dando bem.
Ela apenas sorriu, reprovando-o com o olhar.
Terminaram o almoço e foram passear um pouco pela cidade. Gerry teve de dar uma chegada no escritório da produtora para assinar alguns papéis. Passaram pelo hotel, onde ele praticamente obrigou-a a pegar suas coisas e fechou a conta. Ficaria hospedada, até o dia seguinte, no apartamento dele. Isto a deixou realmente alegre. Parecia ser um bom sinal. Ele queria ficar mais tempo com ela.
Na recepção, enquanto Gerry acertava tudo com o recepcionista, Alejandro apareceu. Foi direto ao encontro de Daniela.
- Ola! Procurei por você esta manhã, mas me disseram que não estava.
- É. Tive um teste para fazer hoje pela manhã.
- Teste?
- Sim. Eu sou atriz e vim para Los Angeles para fazer um teste para participar de um filme.
- Sério? Quer dizer que estou à frente de uma atriz famosa?
- Não – ela sorriu – Imagina. Estou tentando iniciar na carreira. Estudo no Actor’s Studio em NY e agora surgiu esta oportunidade.
- E como foi?
- Estou contratada.
- Parabéns! Temos que festeja então. Que tal jantarmos juntos hoje à noite? – ele estava dando em cima dela escancaradamente.
- Infelizmente eu já tenho compromisso, Alejandro.
- E amanhã? – insistiu, lançando um olhar para Gerry, no balcão à frente, que já tinha percebido a sua presença e lançava olhares desconfiados para os dois – Ainda vai estar acompanhada pelo seu cão de guarda?
- Não fale assim, Alejandro. Gerry e eu estamos... juntos – sentiu-se estranha ao fazer esta declaração.
- Mas até ontem ele era apenas um amigo.
- As coisas mudam. Além disso, estou voltando para Nova York amanhã pela manhã.
- Que coincidência! Também vou para Nova York em dois dias.
Daniela já estava começando a achar Alejandro inconveniente, quando ele sacou um cartão com o número de seu celular. Neste instante, Gerry surgiu, e abraçou-a.
- Vejo que está se despedindo de seu amigo, Dani. Temos que ir embora. Agora.
- Você é um “hombre” de muita sorte.
Gerry olhou-a quase com raiva e puxou Dani pelo braço.
- Vamos, Daniela. Foi um prazer conhecê-lo, Juan.
- Adeus, Alejandro. Foi um prazer... – mal teve tempo de terminar a frase e seguiu atrás de Gerry, bastante satisfeita. Tanto por estar livre do rapaz que começara a tornar-se inoportuno, como por perceber claramente o ciúme na atitude de Gerry.
- Será que não posso deixá-la sozinha um instante, que já tem um homem grudado em você? – ele só conseguiu falar depois que estava no carro, já no trânsito.
- Que é isso, Gerry? Ele estava apenas sendo gentil.
- Gentil? Achei que ele ia te agarrar ali mesmo na frente de todos.
- Não exagera...- ela estava se divertindo com toda aquela cena dele.
Resolveu acalmá-lo um pouco, desabafando:
- Preciso te agradecer por ter me tirado dali, naquela hora. Realmente, ele estava se tornando um chato. Obrigada por me salvar do “Juan” – olhou-o com carinho e fez um carinho em sua nuca, o que o fez arrepiar-se.
- É verdade isso? – ele sorriu.
- Claro. Não estava mais agüentando a cantada dele.
- Ah! Então você concorda que ele a estava cantando.
- Estava, eu reconheço. Mas ele estava só perdendo tempo. Eu já estou comprometida com outra pessoa – disse baixando os olhos, com falsa timidez, olhando-o de soslaio.
Ele a olhou, por um momento, com um doce brilho no olhar, e pegou sua mão, levando-a aos lábios e beijando-a. Não disse nada. Apenas sorriu.
Ela pensou: “Como seria bom se ele me amasse e tivéssemos um compromisso de verdade...”
- Que tal irmos para casa descansar um pouco e depois sair para jantar?
- Acho uma ótima idéia.
Aguardem a continuação...Beijinhos!
Adorei!!!!!!!!!!
ResponderExcluirQuero maisssss!!!!!!!!!!!