Peço desculpas pela demora em postar a continuação desta estória, mas finalmente consegui. Espero que curtam o tão esperado encontro de Gerry e Sam.
Quando afinal chegaram à locação, nuvens carregadas e cinzentas já encobriam o sol. A temperatura dava sinais de estar baixando muito aquém dos 6º graus negativos do início da manhã. Discretos flocos de neve precipitavam-se sobre a camionete, o que deixou Samantha preocupada. Lembrou que esquecera de ler o boletim da meteorologia daquela manhã. Uma falha lastimável em sua rotina de assistente. E pensou que o motivo para este esquecimento provavelmente fora aquele que estava ao seu lado, a tirar o cinto de segurança, lançando um olhar indiscreto em sua direção.
- Melhor nos apressarmos. Não estou gostando desta virada do tempo – avisou Samantha, inquieta, ao descer do veículo.
Gerry acompanhou-a até a entrada da casa. Era um simpático chalé construído em pedra e madeira, simples, que deveria servir para abrigar caçadores na época da caça. Entraram e encontraram um espaço bastante aconchegante, apesar da lareira de pedra, que dominava a ampla sala principal,estar apagada. Pouca luz entrava ali devido às janelas pequenas e cobertas por tampas de madeira mal acabadas. Samantha anotou mentalmente que deveria mandar retirá-las no dia seguinte pela manhã.
- Que tal acendermos a lareira para ver como ficará o ambiente com a luz do fogo? – perguntou Gerry, animado com o local.
- Não sei se temos tempo para isso... – murmurou Samantha, enquanto lançava seu olhar de profissional para o local, a imaginar como seria filmar ali dentro. Não entendia o porquê de não recriar um espaço semelhante em estúdio. Talvez a luz natural...
O vento começou a mostrar sua força quando a porta da entrada bateu fortemente, assustando-os com o estrondo que fez.
- Acho que Andrew vai gostar do cenário. Talvez precise de alguns detalhes de decoração para aquecer o ambiente... – falava para si mesma, quase esquecendo de que estava acompanhada, imaginando o que fazer com o pouco tempo que tinha disponível.
- Pelo que me lembro da descrição do interior do abrigo onde os dois protagonistas passam a noite, acho que está perfeito – comentou Gerry, aproximando-se lentamente de Sam.
- É, acho que sim – disse distraída, ainda respondendo a si mesma, sem notar que Gerry estava muito próximo dela.
- Você pensou no que conversamos ontem à noite? – sussurrou ele, inesperadamente, fazendo cócegas em sua nuca.
Ela desviou-se, assustada, virando-se abruptamente e dando dois passos para trás, enquanto ele continuou parado no mesmo lugar, olhando-a intensamente, com um meio-sorriso nos lábios.
- Acho que não é hora de falar sobre isso. Estou aqui a trabalho. Não para conversar sobre assuntos... pessoais – sua voz estava ligeiramente trêmula.
- Por que não? Estamos a sós, sem ninguém para nos interromper. Por que o medo de falar sobre isto? – continuou, encarando-a de forma extremamente sedutora.
Samantha passou a mão pelos cabelos, nervosamente, enquanto tentava fugir daquele olhar.
- Não é medo... Eu apenas... Não pensei sobre o que você disse ontem – falou, mentirosa, olhando para ele e logo em seguida desviando o olhar.
- Não pensou?... – disse balançando a cabeça e entortando o sorriso, dando a entender que não acreditava nela.
- Está bem... Eu pensei, mas não conclui nada – ela sentia-se cada vez mais confusa e certa de que ele estava se divertindo muito com o seu mal-estar – Está ficando frio aqui. Acho melhor irmos embora. A casa não tem calefação, o tempo parece que está piorando e não pretendo ficar prolongando esta situação constrangedora que você está criando. Aliás, você é um especialista nisso.
- Só quando a pessoa na qual estou interessado finge que não quer nada comigo.
- E eu achando que estava enganada sobre o quesito prepotência, mas pelo que vejo sua auto-estima continua em altíssimos níveis.
- E a sua auto-estima? Onde está?
Dito isto, Samantha partiu para cima de sua bolsa que estava sobre o sofá diante da lareira, passando ao lado de Gerry que permanecia parado. Mas, para sua surpresa, ele a agarrou pelo braço, fazendo-a parar subitamente, obrigando-a a encará-lo.
- Não estou criando nenhuma situação constrangedora, como você disse – falou incisivo – Apenas quero saber se posso ter alguma esperança em relação a nós dois. Por que tudo com você têm de ser tão difícil? Eu sei que você teve más experiências com homens antes, mas isto não just...
- Quem lhe falou sobre isto? – explodiu a pergunta indignada – Foi o Joseph?
Estava a ponto de chorar, mas segurou, pois não queria que ele a visse tão sensibilizada.
- Ele não me contou detalhe algum, apenas...
- Ele não tinha este direito – interrompeu-o novamente, com voz enfraquecida – O que ele lhe disse?
- Nada, Samantha – Gerry soltou o seu braço ao percebê-la fragilizada – Ele não contou nada... Por que você não me conta?
Lágrimas contidas brilhavam nos olhos de Samantha.
- Por que está fazendo isto comigo? – disse sentando-se, vencida, sobre o sofá defronte à lareira.
- Eu já lhe disse o por quê... – respondeu, flexionando os joelhos, de forma a abaixar-se até onde pudesse enxergá-la frente a frente – Eu quero você... Muito... E eu não estaria aqui se não tivesse certeza de que você também me quer.
Ao ouvir estas últimas palavras, ela o olhou como se o visse pela primeira vez e tentou descobrir, naqueles límpidos olhos cor de mar, se o que ele falava era verdade. Já tinha sido enganada por outros olhares semelhantes.
- Gerry, eu já sofri muito por me jogar em relações de cabeça, confiando plenamente no outro, sem medir consequências, seguindo apenas o meu coração. Prometi a mim mesma que isto não aconteceria novamente.
- E aí você resolveu isolar-se dentro de um iceberg, achando que assim estaria segura?
- Até agora eu estava conseguindo viver muito bem assim...
- Até agora...?
Ela percebeu que estava se entregando em pequenas confissões. Olhou seu relógio de pulso e, dando um suspiro profundo, disse:
- Vamos embora, por favor... Podemos conversar sobre isto outra hora? Não estou preparada para...
- E quando vai estar preparada? Para este tipo de coisa, nunca estamos preparados, Samantha. Simplesmente acontece e temos que viver estes momentos da melhor maneira possível, mesmo sem a certeza de um futuro ou apesar do medo de errar.
Ela simplesmente levantou-se, enquanto ele permaneceu na mesma posição, de cabeça baixa, sentindo-se derrotado pela resistência de Samantha. Ela dirigiu-se para a porta, segurando sua bolsa como se fosse uma tábua de salvação, e tentou abri-la.
Por alguma razão desconhecida, aquela porta tinha sua abertura no sentido para fora, diferente da maioria. E por alguma outra razão, Samantha não conseguiu abri-la. Irritada, começou a empurrá-la com força, sem conseguir movê-la um centímetro sequer.
Gerry levantou-se e foi verificar o que estava havendo. Pediu permissão a ela para tentar e conseguiu uma fresta de cerca de dois centímetros, através dos quais rolou uma grande quantidade de neve, levando em consideração o tamanho da abertura obtida.
- Eu não acredito no que está acontecendo... – exclamou Samantha estarrecida.
O tempo realmente mudara para pior durante o período em que eles conversavam, a ponto de cair uma tempestade de neve que soterrou quase metade da porta da entrada.
- Deve haver outra saída daqui. Alguma janela...
- Pelo que vi, todas estão lacradas com tampões de madeira para evitar arrombamentos – constatou Gerry – Mas vou dar uma olhada para ver se esqueceram de lacrar alguma. Acalme-se... – falou ao ver o olhar apreensivo de Sam.
Ele percorreu todas as peças da casa, que não eram muitas, sem obter sucesso. Mas encontrou um depósito de lenha seca e fósforos, o que já foi animador, já que o frio começava a incomodar.
- Parece que estamos prisioneiros, mas por sorte encontrei lenha. Pelo menos não morreremos congelados – falou sorrindo quando voltou de sua investigação a procura de uma saída.
- Sorte?... O Joseph e você planejaram isto, não foi? – falou injuriada, procurando por seu celular e percebendo que o deixara dentro da camionete – Droga!
- Você está louca? Como poderíamos planejar uma tempestade de neve?
- Não disse isso. Ele facilitou para que ficássemos sozinhos aqui.
- Isso é óbvio. Mas não se preocupe que não tentarei mais nada com você. Pode ficar tranquila. Aliás, quem quer sair daqui agora sou eu – disse aborrecido, jogando a lenha dentro da lareira e a caixa de fósforos ao chão e procurando o celular nos bolsos da calça jeans.
- Alô? Debbie? – falou quando sua assistente atendeu seu chamado – Não, não estou na cidade... Me ouça! Precisamos de ajuda aqui na cabana fora da cidade, onde seriam rodadas as cenas de amanhã. A tempestade de neve bloqueou a entrada e estamos presos... Sim! Ligue assim que tiver uma posição do socorro... Está bem... Eu aguardo... Obrigado.
Ao desligar o telefone, viu Samantha tentar colocar as toras de madeira dentro da lareira, desajeitadamente, com intenção de acender o fogo. Ficou a observá-la por algum tempo, até resolver-se a ajudá-la. Constatou que, se dependesse dela, o ambiente logo viraria um freezer natural.
- Pode deixar que eu cuido disso – decretou, colocando as mãos sobre seus ombros e ajudando-a a levantar-se cuidadosamente.
Ela não ofereceu resistência e pôs-se de pé, indo sentar-se no sofá, onde se encolheu, esfregando os braços com as mãos, na tentativa de aquecer-se. Na sala, apenas os ruídos da lenha sendo arrumada na lareira e o chiado dos vários fósforos sendo acesos. Se possível fosse ouvir pensamentos, aí sim, o som seria ensurdecedor...
- Ah! Agora acho que vai pegar! – disse Gerry animado ao conseguir atear fogo à madeira.
Ficou parado, admirando o resultado de seu esforço, evitando olhar para o sofá, onde Samantha tremia de frio. Sua vontade era abraçá-la, aconchegá-la em seus braços, mas sabia que seria repelido como indesejado.
Por sua vez, ela lutava contra a vontade de pedir desculpas pelo modo como o estava tratando e chamá-lo para ficar ao seu lado, abraçado a ela.
O celular de Gerry tocou.
- Debbie?... Ah! É você, Farrell ... Sim... Não... Está tudo bem, mas estamos presos... Só amanhã?? – exclamou, lançando um olhar para o alto, imaginando como seria passar a noite ali, sem aquecimento e sem luz elétrica, contando apenas com aquela lareira e, acima de tudo, suportar a rejeição e o silêncio de Sam – Sim... Quer falar com ela?
- Eu não quero falar com ele! – reagiu Samantha ao ouvir a última pergunta.
- Você ouviu? – questionou Gerry – Não...
Depois de receber prováveis orientações do amigo, acabou por responder:
- Está bem. Vamos nos virar com a lenha que tem aqui e rezar para que o mau tempo passe logo. Sim, sim... Até mais... Sim. Depois conversamos... Até logo! – dizendo isso, desligou o aparelho e continuou a olhar para as chamas a sua frente.
Após mais alguns intermináveis minutos de silêncio incômodo, Gerry resolveu sentar-se no sofá, no canto oposto ao de Sam.
- Como já deve ter percebido as notícias não são nada boas... Você está ouvindo? – insistiu, pois ela não demonstrava sinal de reação ao que ele tinha acabado de dizer.
- Sim... Estou ouvindo – respondeu em voz baixa, lançando um breve olhar para ele, mas logo desviando-o para o fogo.
- Infelizmente vamos ser obrigados a passar a noite aqui. A nevasca está impossibilitando o trânsito nas ruas e estradas e, portanto o acesso a qualquer local fora da cidade. Assim que houver a mínima possibilidade de resgate, eles virão para cá. Mas é muito improvável que consigam isto antes do amanhecer.
Samantha permanecia fixada na luz bruxuleante que vinha da lareira.
- Bem... Vou ver se encontro algum cobertor e velas...
Saiu cabisbaixo, sem esperar resposta.
Quando voltou, Samantha estava de olhos fechados, com as pernas encolhidas sobre o sofá, praticamente em posição fetal. Parecia ter pegado no sono. Depositou no chão a lenha que trazia nas mãos e colocou mais algumas achas sobre o fogo. Tirou seu casaco e colocou delicadamente sobre ela. Não tinha encontrado cobertores ou velas. Teria que ficar atento para manter a lareira acesa, para ter luz e calor. Sentou-se no seu canto do sofá a contemplar o semblante, agora sereno, de Sam. Foi quando ela abriu os olhos e retribuiu seu olhar.
- Obrigada pelo casaco... – murmurou enquanto aconchegava-se sob o abrigo oferecido - Você vai ficar com frio...
- Lembre que sou escocês. Estou mais acostumado que você com as baixas temperaturas. Não se preocupe – falou, tentando esboçar um sorriso tímido – Pode voltar a dormir.
- Não estou com sono...
- Eu também não. Além disso, alguém vai ter de se responsabilizar por manter acesa esta chama a noite toda, caso contrário vão encontrar dois picolés amanhã pela manhã. Só espero que a lenha do depósito seja suficiente.
Após alguns instantes de mudez total, ele a ouviu chamar:
- Gerry...
- Sim.
- Acho que devo desculpas a você. Eu reconheço que não tenho sido muito educada.
- Você já agradeceu pelo casaco. Não se preocupe por isso.
- Não é só pelo casaco... Você sabe... Desde que a gente se cruzou pela primeira vez... – ela o olhou e estremeceu ao ver sua face máscula, iluminada à direita pela luz do fogo,enquanto a lado esquerdo mergulhava na escuridão, quando ele se virou para ouvir o que ela estava dizendo. Apenas os brilhantes olhos verdes a fitavam enigmaticamente.
Ele permaneceu calado e imóvel, deixando-a desconfortável.
- Pelo jeito nós estamos com muito tempo disponível pela frente. Se você ainda estiver disposto, posso contar como me transformei neste “iceberg”, como você disse.
- Olhe, Samantha, você não precisa me contar nada se não quiser. Eu não vou mais incomodá-la... – disse isso e levantou-se para colocar mais lenha, pois o fogo começava a querer diminuir.
Mais silêncio... Ele sentou-se no mesmo lugar de antes, mirando a chamas que acabara de atiçar.
- Há mais ou menos sete anos conheci um rapaz na faculdade de cinematografia – Sam começou sem esperar permissão - Apaixonamo-nos. Ou pelo menos eu acreditava que era correspondida. Durante alguns meses vivi uma bela ilusão. Ele parecia perfeito. Tínhamos os mesmos gostos, gostávamos de ir aos mesmos lugares. Chegou a falar em casamento, mas eu achei que ainda era cedo, pois tínhamos que terminar a faculdade e conseguir emprego... Eu sempre tive este lado prático. Neste caso, isto me ajudou a não cair numa armadilha. Cheguei a ser apresentada para seus pais e irmãos, que moravam em New Jersey. Foi então que um dia, quando eu voltava de um curso extracurricular, o vi entrando num bar. Fiquei tão feliz por vê-lo que quis fazer-lhe uma surpresa. No entanto, a surpresa foi minha. Quando entrei, o vi praticamente correr para os braços de outra pessoa e atracar-se aos beijos com ela. Senti o chão desmoronar sob os meus pés. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Ele estava abraçando e beijando um de meus colegas de turma. Só então percebi que o bar onde eu estava era gay. Dias mais tarde, depois de tentar falar comigo dezenas de vezes, consegui criar coragem para obter uma explicação para o que eu vira. Aí fiquei sabendo que eu era apenas uma fachada para enganar a família dele, que desconhecia a sua opção sexual. Claro que rompi definitivamente com ele, apesar de tentar entendê-lo e até sentir certa pena de sua situação, mas não consegui perdoá-lo por ter me enganado e me usado naquele teatro. Demorei pelo menos mais de um ano até conseguir me interessar por outra pessoa. Aí, conheci o Roger. Ele era aspirante a ator. Eu já iniciara como estagiária na produtora de Joseph Farrell. Ele era muito amigo de meu pai e resolveu me dar esta chance. Depois de três meses de relacionamento perfeito, Roger começou a mostrar suas garras. Era um viciado em jogo. Pedia dinheiro para resolver problemas que nunca se resolviam e que levavam meu dinheiro, sem direito a retorno. Em pouco tempo comecei a recusar a ajuda financeira na tentativa de afastá-lo do vício. Pensava que, talvez, se a fonte financiadora secasse, ele se afastasse dos problemas. Mas isto não aconteceu. Então ele passou a bater em mim diante de minhas recusas. Até que um dia, fui obrigada a acabar com aquela relação doentia, pois já não aguentava mais viver com medo dele. Foi difícil. Só quem vive este tipo de violência pode entender como se mantém um relacionamento assim e o medo de interrompê-lo. Você parece viver sempre na esperança de que a pessoa vai recuperar a razão, que você vai poder ajudá-la a livrar-se de seus problemas e que tudo vai voltar a ser como no início. Junto com este sentimento ainda existe o medo de uma violência maior. Eu só consegui romper quando senti que minha vida estava ameaçada, graças à ajuda de meu pai... e da polícia.
- Sam... – Gerry estava estarrecido com a história que ouvia. Não sabia o que dizer.
- Depois disso, fiquei mais cuidadosa. Demorei quase dois anos para gostar de novo de alguém. O meu terceiro desastre chamava-se Ben. Era um advogado de sucesso, charmoso, envolvente, romântico. Caí direitinho por ele. Até que descobri que ele me usava para comparecer às festas da produtora e da indústria, as quais eu era convidada, para conhecer atrizes e mulheres do meio artístico e levá-las para a cama. Fora o interesse por contatos para prestar seus serviços como advogado. Só confirmei a suspeita no dia em que o flagrei aos amassos com uma figurante, dentro de um set de filmagem onde eu estava trabalhando. Ele ainda riu de mim na frente dela e perguntou se não queria me juntar a eles. Como pode ver, eu não sou a pessoa mais feliz do mundo em termos de relacionamentos amorosos – disse olhando para ele, com um amargo sorriso nos lábios, mas com os olhos marejados.
- E eu pensei que era azarado nos meus relacionamentos...
- Você? Azarado? – exclamou surpresa – Você tem mulheres maravilhosas aos seus pés e pode escolher quem quiser... – sorriu incrédula.
- Pois é, mas quem eu quero, não me quer – afirmou, olhando-a intensamente.
Neste momento, Samantha corou e percebeu que tinha falado uma bobagem.
- Por que você não me dá uma chance, Sam? – disse cautelosamente, avançando devagar para o lado dela – Pelo que vi, não me encaixo em nenhuma destas categorias de homens que você citou, a não ser que você leve em conta o meu passado como advogado – lembrou sorrindo.
- Gerry... Eu... – sentia-se trêmula de frio e de medo de entregar-se àquela emoção tão forte que tomava conta de seu corpo e de seu coração.
Ele aproximou-se mais, até poder acariciar o rosto pálido de Sam. Inclinou-se um pouco, de forma a quase tocar sua face com os lábios. Tinha receio que ela o recusasse novamente. Foi quando percebeu que ela fechou os olhos e ergueu o rosto em sua direção, a espera de um beijo. Diante desta oferta inesperada, ele a recebeu calma e docemente. Suas bocas tocaram-se, a princípio com suavidade, num crescente conhecimento mútuo, experimentando o prazer do toque, do calor da pele, do roçar de pelos, do arrepio na nuca. Ao separarem-se, após uma breve troca de olhares, o desejo incendiou-se e um novo beijo tornou-se urgente, desta vez ávido, sedento e invasor. Samantha deixou-se levar nos carinhos das mãos de Gerry que percorriam seu corpo sofregamente, na tentativa de tomar posse do que agora era seu. Agarrada aos cabelos dele, deixou que lhe abrisse a blusa e que os lábios insaciáveis descessem por seu pescoço e alcançassem seu peito. Lá uma língua quente e macia percorreu seus seios firmes e os mamilos ingurgitados, proporcionando-lhe grande prazer. Seu corpo exigia a presença daquele homem, com urgência. Gerry exultava, deleitado com a beleza de Sam, gemendo e reclamando-a para si. Nada mais importava. Nem o frio, o vento a silvar do lado de fora ou a escuridão que avançava sobre o final do dia. Só o saciar do desejo importava. Àquela altura, já livres das vestes, iluminados apenas pelas trêmulas chamas da lareira, ansiavam pela posse completa. Foi quando o clímax chegou para ambos e exclamações de pura lascívia ecoaram pela cabana encoberta pela neve.
Quando afinal chegaram à locação, nuvens carregadas e cinzentas já encobriam o sol. A temperatura dava sinais de estar baixando muito aquém dos 6º graus negativos do início da manhã. Discretos flocos de neve precipitavam-se sobre a camionete, o que deixou Samantha preocupada. Lembrou que esquecera de ler o boletim da meteorologia daquela manhã. Uma falha lastimável em sua rotina de assistente. E pensou que o motivo para este esquecimento provavelmente fora aquele que estava ao seu lado, a tirar o cinto de segurança, lançando um olhar indiscreto em sua direção.
- Melhor nos apressarmos. Não estou gostando desta virada do tempo – avisou Samantha, inquieta, ao descer do veículo.
Gerry acompanhou-a até a entrada da casa. Era um simpático chalé construído em pedra e madeira, simples, que deveria servir para abrigar caçadores na época da caça. Entraram e encontraram um espaço bastante aconchegante, apesar da lareira de pedra, que dominava a ampla sala principal,estar apagada. Pouca luz entrava ali devido às janelas pequenas e cobertas por tampas de madeira mal acabadas. Samantha anotou mentalmente que deveria mandar retirá-las no dia seguinte pela manhã.
- Que tal acendermos a lareira para ver como ficará o ambiente com a luz do fogo? – perguntou Gerry, animado com o local.
- Não sei se temos tempo para isso... – murmurou Samantha, enquanto lançava seu olhar de profissional para o local, a imaginar como seria filmar ali dentro. Não entendia o porquê de não recriar um espaço semelhante em estúdio. Talvez a luz natural...
O vento começou a mostrar sua força quando a porta da entrada bateu fortemente, assustando-os com o estrondo que fez.
- Acho que Andrew vai gostar do cenário. Talvez precise de alguns detalhes de decoração para aquecer o ambiente... – falava para si mesma, quase esquecendo de que estava acompanhada, imaginando o que fazer com o pouco tempo que tinha disponível.
- Pelo que me lembro da descrição do interior do abrigo onde os dois protagonistas passam a noite, acho que está perfeito – comentou Gerry, aproximando-se lentamente de Sam.
- É, acho que sim – disse distraída, ainda respondendo a si mesma, sem notar que Gerry estava muito próximo dela.
- Você pensou no que conversamos ontem à noite? – sussurrou ele, inesperadamente, fazendo cócegas em sua nuca.
Ela desviou-se, assustada, virando-se abruptamente e dando dois passos para trás, enquanto ele continuou parado no mesmo lugar, olhando-a intensamente, com um meio-sorriso nos lábios.
- Acho que não é hora de falar sobre isso. Estou aqui a trabalho. Não para conversar sobre assuntos... pessoais – sua voz estava ligeiramente trêmula.
- Por que não? Estamos a sós, sem ninguém para nos interromper. Por que o medo de falar sobre isto? – continuou, encarando-a de forma extremamente sedutora.
Samantha passou a mão pelos cabelos, nervosamente, enquanto tentava fugir daquele olhar.
- Não é medo... Eu apenas... Não pensei sobre o que você disse ontem – falou, mentirosa, olhando para ele e logo em seguida desviando o olhar.
- Não pensou?... – disse balançando a cabeça e entortando o sorriso, dando a entender que não acreditava nela.
- Está bem... Eu pensei, mas não conclui nada – ela sentia-se cada vez mais confusa e certa de que ele estava se divertindo muito com o seu mal-estar – Está ficando frio aqui. Acho melhor irmos embora. A casa não tem calefação, o tempo parece que está piorando e não pretendo ficar prolongando esta situação constrangedora que você está criando. Aliás, você é um especialista nisso.
- Só quando a pessoa na qual estou interessado finge que não quer nada comigo.
- E eu achando que estava enganada sobre o quesito prepotência, mas pelo que vejo sua auto-estima continua em altíssimos níveis.
- E a sua auto-estima? Onde está?
Dito isto, Samantha partiu para cima de sua bolsa que estava sobre o sofá diante da lareira, passando ao lado de Gerry que permanecia parado. Mas, para sua surpresa, ele a agarrou pelo braço, fazendo-a parar subitamente, obrigando-a a encará-lo.
- Não estou criando nenhuma situação constrangedora, como você disse – falou incisivo – Apenas quero saber se posso ter alguma esperança em relação a nós dois. Por que tudo com você têm de ser tão difícil? Eu sei que você teve más experiências com homens antes, mas isto não just...
- Quem lhe falou sobre isto? – explodiu a pergunta indignada – Foi o Joseph?
Estava a ponto de chorar, mas segurou, pois não queria que ele a visse tão sensibilizada.
- Ele não me contou detalhe algum, apenas...
- Ele não tinha este direito – interrompeu-o novamente, com voz enfraquecida – O que ele lhe disse?
- Nada, Samantha – Gerry soltou o seu braço ao percebê-la fragilizada – Ele não contou nada... Por que você não me conta?
Lágrimas contidas brilhavam nos olhos de Samantha.
- Por que está fazendo isto comigo? – disse sentando-se, vencida, sobre o sofá defronte à lareira.
- Eu já lhe disse o por quê... – respondeu, flexionando os joelhos, de forma a abaixar-se até onde pudesse enxergá-la frente a frente – Eu quero você... Muito... E eu não estaria aqui se não tivesse certeza de que você também me quer.
Ao ouvir estas últimas palavras, ela o olhou como se o visse pela primeira vez e tentou descobrir, naqueles límpidos olhos cor de mar, se o que ele falava era verdade. Já tinha sido enganada por outros olhares semelhantes.
- Gerry, eu já sofri muito por me jogar em relações de cabeça, confiando plenamente no outro, sem medir consequências, seguindo apenas o meu coração. Prometi a mim mesma que isto não aconteceria novamente.
- E aí você resolveu isolar-se dentro de um iceberg, achando que assim estaria segura?
- Até agora eu estava conseguindo viver muito bem assim...
- Até agora...?
Ela percebeu que estava se entregando em pequenas confissões. Olhou seu relógio de pulso e, dando um suspiro profundo, disse:
- Vamos embora, por favor... Podemos conversar sobre isto outra hora? Não estou preparada para...
- E quando vai estar preparada? Para este tipo de coisa, nunca estamos preparados, Samantha. Simplesmente acontece e temos que viver estes momentos da melhor maneira possível, mesmo sem a certeza de um futuro ou apesar do medo de errar.
Ela simplesmente levantou-se, enquanto ele permaneceu na mesma posição, de cabeça baixa, sentindo-se derrotado pela resistência de Samantha. Ela dirigiu-se para a porta, segurando sua bolsa como se fosse uma tábua de salvação, e tentou abri-la.
Por alguma razão desconhecida, aquela porta tinha sua abertura no sentido para fora, diferente da maioria. E por alguma outra razão, Samantha não conseguiu abri-la. Irritada, começou a empurrá-la com força, sem conseguir movê-la um centímetro sequer.
Gerry levantou-se e foi verificar o que estava havendo. Pediu permissão a ela para tentar e conseguiu uma fresta de cerca de dois centímetros, através dos quais rolou uma grande quantidade de neve, levando em consideração o tamanho da abertura obtida.
- Eu não acredito no que está acontecendo... – exclamou Samantha estarrecida.
O tempo realmente mudara para pior durante o período em que eles conversavam, a ponto de cair uma tempestade de neve que soterrou quase metade da porta da entrada.
- Deve haver outra saída daqui. Alguma janela...
- Pelo que vi, todas estão lacradas com tampões de madeira para evitar arrombamentos – constatou Gerry – Mas vou dar uma olhada para ver se esqueceram de lacrar alguma. Acalme-se... – falou ao ver o olhar apreensivo de Sam.
Ele percorreu todas as peças da casa, que não eram muitas, sem obter sucesso. Mas encontrou um depósito de lenha seca e fósforos, o que já foi animador, já que o frio começava a incomodar.
- Parece que estamos prisioneiros, mas por sorte encontrei lenha. Pelo menos não morreremos congelados – falou sorrindo quando voltou de sua investigação a procura de uma saída.
- Sorte?... O Joseph e você planejaram isto, não foi? – falou injuriada, procurando por seu celular e percebendo que o deixara dentro da camionete – Droga!
- Você está louca? Como poderíamos planejar uma tempestade de neve?
- Não disse isso. Ele facilitou para que ficássemos sozinhos aqui.
- Isso é óbvio. Mas não se preocupe que não tentarei mais nada com você. Pode ficar tranquila. Aliás, quem quer sair daqui agora sou eu – disse aborrecido, jogando a lenha dentro da lareira e a caixa de fósforos ao chão e procurando o celular nos bolsos da calça jeans.
- Alô? Debbie? – falou quando sua assistente atendeu seu chamado – Não, não estou na cidade... Me ouça! Precisamos de ajuda aqui na cabana fora da cidade, onde seriam rodadas as cenas de amanhã. A tempestade de neve bloqueou a entrada e estamos presos... Sim! Ligue assim que tiver uma posição do socorro... Está bem... Eu aguardo... Obrigado.
Ao desligar o telefone, viu Samantha tentar colocar as toras de madeira dentro da lareira, desajeitadamente, com intenção de acender o fogo. Ficou a observá-la por algum tempo, até resolver-se a ajudá-la. Constatou que, se dependesse dela, o ambiente logo viraria um freezer natural.
- Pode deixar que eu cuido disso – decretou, colocando as mãos sobre seus ombros e ajudando-a a levantar-se cuidadosamente.
Ela não ofereceu resistência e pôs-se de pé, indo sentar-se no sofá, onde se encolheu, esfregando os braços com as mãos, na tentativa de aquecer-se. Na sala, apenas os ruídos da lenha sendo arrumada na lareira e o chiado dos vários fósforos sendo acesos. Se possível fosse ouvir pensamentos, aí sim, o som seria ensurdecedor...
- Ah! Agora acho que vai pegar! – disse Gerry animado ao conseguir atear fogo à madeira.
Ficou parado, admirando o resultado de seu esforço, evitando olhar para o sofá, onde Samantha tremia de frio. Sua vontade era abraçá-la, aconchegá-la em seus braços, mas sabia que seria repelido como indesejado.
Por sua vez, ela lutava contra a vontade de pedir desculpas pelo modo como o estava tratando e chamá-lo para ficar ao seu lado, abraçado a ela.
O celular de Gerry tocou.
- Debbie?... Ah! É você, Farrell ... Sim... Não... Está tudo bem, mas estamos presos... Só amanhã?? – exclamou, lançando um olhar para o alto, imaginando como seria passar a noite ali, sem aquecimento e sem luz elétrica, contando apenas com aquela lareira e, acima de tudo, suportar a rejeição e o silêncio de Sam – Sim... Quer falar com ela?
- Eu não quero falar com ele! – reagiu Samantha ao ouvir a última pergunta.
- Você ouviu? – questionou Gerry – Não...
Depois de receber prováveis orientações do amigo, acabou por responder:
- Está bem. Vamos nos virar com a lenha que tem aqui e rezar para que o mau tempo passe logo. Sim, sim... Até mais... Sim. Depois conversamos... Até logo! – dizendo isso, desligou o aparelho e continuou a olhar para as chamas a sua frente.
Após mais alguns intermináveis minutos de silêncio incômodo, Gerry resolveu sentar-se no sofá, no canto oposto ao de Sam.
- Como já deve ter percebido as notícias não são nada boas... Você está ouvindo? – insistiu, pois ela não demonstrava sinal de reação ao que ele tinha acabado de dizer.
- Sim... Estou ouvindo – respondeu em voz baixa, lançando um breve olhar para ele, mas logo desviando-o para o fogo.
- Infelizmente vamos ser obrigados a passar a noite aqui. A nevasca está impossibilitando o trânsito nas ruas e estradas e, portanto o acesso a qualquer local fora da cidade. Assim que houver a mínima possibilidade de resgate, eles virão para cá. Mas é muito improvável que consigam isto antes do amanhecer.
Samantha permanecia fixada na luz bruxuleante que vinha da lareira.
- Bem... Vou ver se encontro algum cobertor e velas...
Saiu cabisbaixo, sem esperar resposta.
Quando voltou, Samantha estava de olhos fechados, com as pernas encolhidas sobre o sofá, praticamente em posição fetal. Parecia ter pegado no sono. Depositou no chão a lenha que trazia nas mãos e colocou mais algumas achas sobre o fogo. Tirou seu casaco e colocou delicadamente sobre ela. Não tinha encontrado cobertores ou velas. Teria que ficar atento para manter a lareira acesa, para ter luz e calor. Sentou-se no seu canto do sofá a contemplar o semblante, agora sereno, de Sam. Foi quando ela abriu os olhos e retribuiu seu olhar.
- Obrigada pelo casaco... – murmurou enquanto aconchegava-se sob o abrigo oferecido - Você vai ficar com frio...
- Lembre que sou escocês. Estou mais acostumado que você com as baixas temperaturas. Não se preocupe – falou, tentando esboçar um sorriso tímido – Pode voltar a dormir.
- Não estou com sono...
- Eu também não. Além disso, alguém vai ter de se responsabilizar por manter acesa esta chama a noite toda, caso contrário vão encontrar dois picolés amanhã pela manhã. Só espero que a lenha do depósito seja suficiente.
Após alguns instantes de mudez total, ele a ouviu chamar:
- Gerry...
- Sim.
- Acho que devo desculpas a você. Eu reconheço que não tenho sido muito educada.
- Você já agradeceu pelo casaco. Não se preocupe por isso.
- Não é só pelo casaco... Você sabe... Desde que a gente se cruzou pela primeira vez... – ela o olhou e estremeceu ao ver sua face máscula, iluminada à direita pela luz do fogo,enquanto a lado esquerdo mergulhava na escuridão, quando ele se virou para ouvir o que ela estava dizendo. Apenas os brilhantes olhos verdes a fitavam enigmaticamente.
Ele permaneceu calado e imóvel, deixando-a desconfortável.
- Pelo jeito nós estamos com muito tempo disponível pela frente. Se você ainda estiver disposto, posso contar como me transformei neste “iceberg”, como você disse.
- Olhe, Samantha, você não precisa me contar nada se não quiser. Eu não vou mais incomodá-la... – disse isso e levantou-se para colocar mais lenha, pois o fogo começava a querer diminuir.
Mais silêncio... Ele sentou-se no mesmo lugar de antes, mirando a chamas que acabara de atiçar.
- Há mais ou menos sete anos conheci um rapaz na faculdade de cinematografia – Sam começou sem esperar permissão - Apaixonamo-nos. Ou pelo menos eu acreditava que era correspondida. Durante alguns meses vivi uma bela ilusão. Ele parecia perfeito. Tínhamos os mesmos gostos, gostávamos de ir aos mesmos lugares. Chegou a falar em casamento, mas eu achei que ainda era cedo, pois tínhamos que terminar a faculdade e conseguir emprego... Eu sempre tive este lado prático. Neste caso, isto me ajudou a não cair numa armadilha. Cheguei a ser apresentada para seus pais e irmãos, que moravam em New Jersey. Foi então que um dia, quando eu voltava de um curso extracurricular, o vi entrando num bar. Fiquei tão feliz por vê-lo que quis fazer-lhe uma surpresa. No entanto, a surpresa foi minha. Quando entrei, o vi praticamente correr para os braços de outra pessoa e atracar-se aos beijos com ela. Senti o chão desmoronar sob os meus pés. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Ele estava abraçando e beijando um de meus colegas de turma. Só então percebi que o bar onde eu estava era gay. Dias mais tarde, depois de tentar falar comigo dezenas de vezes, consegui criar coragem para obter uma explicação para o que eu vira. Aí fiquei sabendo que eu era apenas uma fachada para enganar a família dele, que desconhecia a sua opção sexual. Claro que rompi definitivamente com ele, apesar de tentar entendê-lo e até sentir certa pena de sua situação, mas não consegui perdoá-lo por ter me enganado e me usado naquele teatro. Demorei pelo menos mais de um ano até conseguir me interessar por outra pessoa. Aí, conheci o Roger. Ele era aspirante a ator. Eu já iniciara como estagiária na produtora de Joseph Farrell. Ele era muito amigo de meu pai e resolveu me dar esta chance. Depois de três meses de relacionamento perfeito, Roger começou a mostrar suas garras. Era um viciado em jogo. Pedia dinheiro para resolver problemas que nunca se resolviam e que levavam meu dinheiro, sem direito a retorno. Em pouco tempo comecei a recusar a ajuda financeira na tentativa de afastá-lo do vício. Pensava que, talvez, se a fonte financiadora secasse, ele se afastasse dos problemas. Mas isto não aconteceu. Então ele passou a bater em mim diante de minhas recusas. Até que um dia, fui obrigada a acabar com aquela relação doentia, pois já não aguentava mais viver com medo dele. Foi difícil. Só quem vive este tipo de violência pode entender como se mantém um relacionamento assim e o medo de interrompê-lo. Você parece viver sempre na esperança de que a pessoa vai recuperar a razão, que você vai poder ajudá-la a livrar-se de seus problemas e que tudo vai voltar a ser como no início. Junto com este sentimento ainda existe o medo de uma violência maior. Eu só consegui romper quando senti que minha vida estava ameaçada, graças à ajuda de meu pai... e da polícia.
- Sam... – Gerry estava estarrecido com a história que ouvia. Não sabia o que dizer.
- Depois disso, fiquei mais cuidadosa. Demorei quase dois anos para gostar de novo de alguém. O meu terceiro desastre chamava-se Ben. Era um advogado de sucesso, charmoso, envolvente, romântico. Caí direitinho por ele. Até que descobri que ele me usava para comparecer às festas da produtora e da indústria, as quais eu era convidada, para conhecer atrizes e mulheres do meio artístico e levá-las para a cama. Fora o interesse por contatos para prestar seus serviços como advogado. Só confirmei a suspeita no dia em que o flagrei aos amassos com uma figurante, dentro de um set de filmagem onde eu estava trabalhando. Ele ainda riu de mim na frente dela e perguntou se não queria me juntar a eles. Como pode ver, eu não sou a pessoa mais feliz do mundo em termos de relacionamentos amorosos – disse olhando para ele, com um amargo sorriso nos lábios, mas com os olhos marejados.
- E eu pensei que era azarado nos meus relacionamentos...
- Você? Azarado? – exclamou surpresa – Você tem mulheres maravilhosas aos seus pés e pode escolher quem quiser... – sorriu incrédula.
- Pois é, mas quem eu quero, não me quer – afirmou, olhando-a intensamente.
Neste momento, Samantha corou e percebeu que tinha falado uma bobagem.
- Por que você não me dá uma chance, Sam? – disse cautelosamente, avançando devagar para o lado dela – Pelo que vi, não me encaixo em nenhuma destas categorias de homens que você citou, a não ser que você leve em conta o meu passado como advogado – lembrou sorrindo.
- Gerry... Eu... – sentia-se trêmula de frio e de medo de entregar-se àquela emoção tão forte que tomava conta de seu corpo e de seu coração.
Ele aproximou-se mais, até poder acariciar o rosto pálido de Sam. Inclinou-se um pouco, de forma a quase tocar sua face com os lábios. Tinha receio que ela o recusasse novamente. Foi quando percebeu que ela fechou os olhos e ergueu o rosto em sua direção, a espera de um beijo. Diante desta oferta inesperada, ele a recebeu calma e docemente. Suas bocas tocaram-se, a princípio com suavidade, num crescente conhecimento mútuo, experimentando o prazer do toque, do calor da pele, do roçar de pelos, do arrepio na nuca. Ao separarem-se, após uma breve troca de olhares, o desejo incendiou-se e um novo beijo tornou-se urgente, desta vez ávido, sedento e invasor. Samantha deixou-se levar nos carinhos das mãos de Gerry que percorriam seu corpo sofregamente, na tentativa de tomar posse do que agora era seu. Agarrada aos cabelos dele, deixou que lhe abrisse a blusa e que os lábios insaciáveis descessem por seu pescoço e alcançassem seu peito. Lá uma língua quente e macia percorreu seus seios firmes e os mamilos ingurgitados, proporcionando-lhe grande prazer. Seu corpo exigia a presença daquele homem, com urgência. Gerry exultava, deleitado com a beleza de Sam, gemendo e reclamando-a para si. Nada mais importava. Nem o frio, o vento a silvar do lado de fora ou a escuridão que avançava sobre o final do dia. Só o saciar do desejo importava. Àquela altura, já livres das vestes, iluminados apenas pelas trêmulas chamas da lareira, ansiavam pela posse completa. Foi quando o clímax chegou para ambos e exclamações de pura lascívia ecoaram pela cabana encoberta pela neve.
Aguardem, que ainda teremos mais emoções envolvendo o casal acima. Um bom final de Sete de Setembro para todos! Beijos!!
Carel disse:
ResponderExcluirSua malvada!!!! Encerrar o capitulo com uma cena dessas e nos deixar na curiosidade..kkkkAh, quem não gostaria de ficar trancada numa cabana com o gerry?? ou numa ilha deserta? ou numa casinha de sapê???kkk qualquer lugar serviria..kkk
Ro!!!
ResponderExcluirVlw a pena esperar!!!
Ai Meu Deus o que eu faria sozinha numa cabana com Gerry...
Não posso falar para não ser expulsa do blog!!!
Minha amiga, adorei!!!
quero mais!!!
feliz 7 de setembro!!
bjos!
Carel e Luh! Qual de nós não gostaria de uma aventura dessas, numa cabana sozinha com o Gerry?...
ResponderExcluirBeijos!!
Aff... Menina!
ResponderExcluirTô sem fôlego! Adoro ler essas histórias, minha mente tem um alivio que você não imagina!
Dei uma pausa da correção das provas e pra relaxar entrei pra ver se tinha a continuação. Que bom!
Só tenho a te agradecer! Tadinha da Sam, fico só imaginando como será quando ela descobrir a história da apostoa ai que ânsia!
Aguardando a continuação... despeço-me,
beijos querida!
Pois é, Tânia, tadinha da Sam... Ainda estou pensando em como vai ser. Depois de tudo que ela passou, não vai ser fácil saber desta derrapada do Gerry...
ResponderExcluirFiquei muito feliz de saber que minha estória serviu para te deixar mais relaxada neste final de noite. Que bom!
Beijão, querida!!
Rosane!!!!!
ResponderExcluirTb. estou adorando o conto,coitada da Sam qndo descobrir que foi motivo de aposta,coitada.O que será que vai acontecer?
e como sera que vai reagir?
Bjs
Essa Sam é muito ninja! Como é que consegue aguentar tudo isso esse tempo todo! Aff...
ResponderExcluirSó quero ver quando vier à tona, aquela historinha da aposta... Vai feder!
Bjim da Ly comendo mais unhas que o Maradona!