sábado, 17 de julho de 2010

Resgate de Amor (9)

O dia amanheceu. O telefone tocou.
- Com quem? Ah! Sim... Só um momento... – pediu Sílvia, já passando o aparelho para Roberto – É para você...
- Alô? – perguntou com a voz rouca, amarrotada pelo sono.
- Roberto! Sou eu, Marcos! Onde você está? Eu cheguei a Valverde agora pela manhã. Estou aqui na delegacia. Eles estão esperando que você apareça para dar o seu depoimento. Temos que viajar ainda hoje para São Paulo.
- O quê ? – perguntou ainda sonolento, tentando entender as palavras de seu irmão.
- Beto! Você está me entendendo?
- Sim, claro! Estou sim. É que acabei de acordar. Vou me arrumar e já vou para aí. Me espere.
- Espero sim. Até mais, então!
- Até! – falou e desligou, lançando um olhar para Sílvia que já estava com expressão de tristeza na face.
- Era o meu irmão, o Marcos. Ele está com nosso advogado, nos esperando para dar o depoimento na delegacia. Depois... – não conseguiu completar a frase, pois temia o que estava por vir.
- Depois... Você vai ter que voltar para a sua vida, não?
- Sílvia, nós temos que conversar. Vamos encerrar este assunto do meu sequestro e falar sobre o nosso futuro.
- Você acha que temos futuro? – ela tentava ser forte e realista, mas seu coração estava quase arrebentando com medo da separação próxima.
- Quero pensar que sim – disse ele, aproximando-se mais dela para um beijo.
Sílvia esquivou-se, para surpresa dele, dizendo:
- É melhor nos arrumarmos, ir para delegacia e acabar logo com isso.
Levantou-se bruscamente, coberta com o lençol e correu para o banheiro. Lá, longe da vista de Roberto, não conseguiu mais segurar o choro. Tomou seu banho, enrolou-se na toalha e saiu para colocar uma roupa adequada ao que teria de fazer a seguir.
Roberto a olhava inseguro e curioso por saber o que se passava por trás daquele olhar tristonho. Tinha ouvido o seu choro, mas resolveu não falar nada. Apenas respeitá-la. Foi a sua vez de ir para o banho e aprontar-se para o depoimento que os aguardava. Em silencio, seguiram para a garagem para pegar a caminhonete.
- Sílvia, as coisas entre nós não precisam acabar assim. Você está me preocupando com sua reação. Sei que está triste pensando que não vamos nos ver mais. Mas não é bem esta a minha intenção – disse, segurando-a pelo braço, forçando-a a parar e a olhá-lo nos olhos.
- Roberto, tem que ser realista. Nós não temos futuro juntos.
- Porque não? O que nos impedirá? Você pode ir para São Paulo comigo...
- Não posso largar meus pacientes assim, deste jeito, de uma hora para outra. Não sou nenhuma irresponsável...
- E eu sou? É isso que você está dizendo? – falou já irritado com ela – Você está tentando me dizer que não quer mais saber de mim? É isso?
- Não, não é isso!
- Mas é o que está parecendo!
- Roberto, eu me apaixonei por você de verdade e não sei o que vai ser de mim se não puder mais vê-lo– disse com voz tremula, já com as lágrimas escorrendo por seu rosto – Era isto que você queria ouvir?
- Era exatamente isto que eu queria ouvir... – disse, abraçando-a ternamente e colando seus lábios aos dela, num beijo quente, úmido e apaixonado – E era isso que queria te dizer também – falou, quase sussurrando junto ao seu ouvido, provocando um arrepio gostoso que percorreu todo o corpo de Sílvia.
- Mas como vai ser isso? Levamos vidas completamente opostas, em lugares diferentes...
- Nós vamos dar um jeito. Cada um cede um pouco aqui, um pouco ali, e conseguimos o que parece impossível. Não podemos é desistir antes de tentar... – sua voz, bem como seu olhar, era quase de súplica.
- Você tem razão. A gente vai dar um jeito... Estou agindo feito uma boba.
Mais uma vez, ele a fez calar-se com um beijo, que a fez sentir-se mais segura a respeito da ligação que se criara entre eles naqueles últimos dias.
- Melhor irmos logo para a delegacia para os depoimentos. Depois vamos ter muito que conversar, entre outras coisas... – insinuou ele, já exibindo um lindo e cativante sorriso.
Entraram no carro e seguiram para a delegacia de polícia. Lá encontraram Marcos, que esperava ansiosamente por Roberto. Abraçaram-se saudosos.
- Que susto você nos deu, rapaz!
- E o resto da família? Você chegou a avisá-los?
- Não tive coragem. Fiquei com medo que alguém viesse para cá e chamasse a atenção da imprensa. Por um lado foi bom, pois não os preocupamos. Agora que está tudo bem, você mesmo poderá contar o que aconteceu, com calma.
- Claro... Ah, Marcos, deixe-me apresentá-lo a minha salvadora, Sílvia.
- Muito prazer, Sílvia. Você tem muita sorte, Beto. No meio desta tragédia toda, ainda consegue um anjo da guarda como ela.
- É... Eu tenho muita sorte mesmo... – confirmou o comentário de Marcos e olhou para Sílvia com carinho.
Depois de feitas as apresentações, iniciaram a tomada dos depoimentos. Os prisioneiros da noite anterior já haviam confessado seus crimes. O corpo do pobre senhor Meyer já havia sido recuperado e aguardava autópsia. A polícia de Rio Claro e a federal já tinham sido informadas. Aos poucos tudo ia sendo esclarecido. Franco também compareceu e prestou seus depoimentos sobre o telefonema de Sílvia e a participação na prisão dos criminosos.
Ao final da manhã, depois de tudo esclarecido e a transferência da prisão de Clélio e Leon já ter sido decretada, Marcos aproximou-se de Roberto e falou:
- Beto, agora nós teremos de ir embora.
Sílvia engoliu em seco e ficou esperando a resposta dele, que imediatamente se fez ouvir, para seu alívio:
- Marcos, sei que tenho inúmeros compromissos me esperando, mas tenho de resolver uma coisa mais importante que tudo o mais. Preciso de pelo menos mais um dia aqui em Valverde. Depois, prometo que volto para cumprir a minha agenda em São Paulo.
Marcos lançou um olhar compreensivo para Sílvia, mostrando que já esperava por aquele pedido do irmão.
- Está bem... Eu seguro as pontas mais um dia. Espero que vocês possam resolver tudo da melhor maneira possível – disse, já com um largo sorriso estampado na face.
- Eu sabia que você ia entender, Marcos.
- Preciso lembrar que somos irmãos?
- Obrigado
Depois de uma troca de abraços, despediram-se na saída da delegacia. Também Franco veio despedir-se de Sílvia e de Roberto. Quando se viram sozinhos, Roberto pegou em sua mão e, levando-a aos lábios e beijando-a carinhosamente, perguntou:
- Aonde podemos ir agora para conversar?
- Que tal irmos para a nossa cabana?
- Nossa? – perguntou surpreso.
- Porque não? Se você quiser... Além do mais, foi lá que tudo começou... - disse Sílvia, com olhar sedutor.
- Não precisa falar duas vezes. Vamos!
Foram abraçados até a caminhonete, sob os olhares curiosos de alguns transeuntes. Nada mais importava, a não ser viver o mais intensamente possível aquele amor que surgira de maneira tão imprevista e acidentada, mas que tinham a certeza de que viera para durar e vencer os obstáculos que pudessem surgir em seu caminho.

Quando chegaram à cabana, Sílvia resolveu preparar um lanche rápido para os dois. Enquanto saboreavam seus sanduíches, sua melhor e única especialidade, tentavam estabelecer como ficaria o seu relacionamento dali para frente. Que havia uma vontade recíproca de continuarem juntos, não tinham a menor dúvida. Teriam algumas dificuldades no início devido a distancia entre suas cidades e a diversidade entre seus trabalhos, mas estavam resolvidos a não deixar nada disso interferir naquele sentimento tão bom que os envolvia agora.
- Sílvia, tenho que terminar alguns negócios que estava fazendo, antes de tudo isto acontecer. Isto deve ocorrer dentro de, no máximo, um mês. Mas antes disso, darei um jeito de vir te ver. Na primeira folga que tiver corro para cá.
- De repente, eu também posso tirar uns dias. Só não quero atrapalhar o seu trabalho.
- Isso seria ótimo! É claro que não atrapalha. Só vai melhorar o meu desempenho... – falou com aquele sorrisinho safado nos lábios.
- Sempre pensando em bobagens, não?
- Você acha que isso é bobagem? – disse já se insinuando para o seu lado, como um gato pronto para enroscar-se em sua dona.
- Roberto, – falou, procurando se esquivar daquele assédio – temos que conversar mais... Não fica me tentando...
- Não vou ficar tentando... Eu só vou te beijar – dizendo isso, selou seus lábios com um beijo faminto, como se nunca a tivesse beijado antes.
Entre um beijo e outro, quase sem fôlego, Sílvia só conseguiu dizer, já vencida:
- A gente pensa melhor depois...
- Também acho... – falou Beto num sussurro, ao seu ouvido.
Obviamente ela não conseguiu mais afastá-lo. Ela também o desejava mais do que nunca, principalmente agora na iminência de ficar um bom tempo sem vê-lo. Ainda tentou reagir, preocupada:
- E o seu ferimento? Temos que dar uma olhada nele...
- Então, vamos para o quarto logo, que eu mostro o ferimento e tudo o mais que você quiser ver e examinar – disse provocativamente, já despindo a camisa, pegando-a pela cintura e levando-a, em meio a abraços e mordiscadas na orelha e no pescoço, na direção do quarto.
- Roberto...
- Adoro quando você me chama assim...

Enquanto descansavam abraçados, na cama, Sílvia lembrou uma coisa e começou a falar:
- Talvez eu possa arranjar um trabalho em São Paulo. O que acha?
Ele abriu os olhos instantaneamente.
- Sério? Você faria isto por mim?
- Eu faço qualquer coisa para não ficar longe de você...
- Eu posso ver com alguns conhecidos se eles podem indicar um hospital ou clínica onde você possa trabalhar.
- Olha – falou, interrompendo os pensamentos de Roberto -, lembrei de alguém que poderá me ajudar.
- É mesmo? Quem? – perguntou meio desconfiado.
- O Dirceu já trabalhou em São Paulo. Logo depois que terminou a residência em neurologia, conseguiu colocação em outro hospital, como contratado.
- O quê? Não quero que você fale com aquele sujeito.
- Porque não? Ele pode me ajudar e me indicar para este hospital de São Paulo
- Eu vi o interesse dele em você aquele dia em que tive alta. Só faltava comer você com os olhos, na minha frente.
- Roberto... Eu nunca tive nada com ele.
- Você pode não ter tido nada, mas ele queria ter e ainda quer. Disso não tenho nenhuma dúvida.
- Você não confia a mim? – falou com tristeza na voz.
- Confio em você. Não confio é nele. Além do mais, se ele conseguir uma colocação para você, vai se achar no direito de cobrar depois.
- Roberto, não seja bobo. Não precisa ser tão ciumento assim. Deixa ao menos eu tentar... – falou quase em tom de súplica – Além do mais, ele agora trabalha em Ribeirão Preto. Eu vou ficar mais longe dele do que estou agora... Não esqueça.
- Está bem... Convenceu-me. Eu tenho medo de te perder. Só isso... – disse, abraçando-a com mais força.
- Você não vai me perder assim fácil... – e foi aproximando-se do seu rosto, até tocá-lo com os lábios e começar a beijá-lo suavemente, passeando por sua face, até chegar a sua boca entreaberta, que aguardava apreensiva a chegada de seus carinhos.
Como era de esperar, entregaram-se novamente ao amor.
No meio da tarde, o celular de Roberto tocou, tirando-os de seu relaxar. Era Marcos.
- Beto, desculpe incomodá-lo, mas parece que você vai ter de ir até Rio Claro, apresentar-se ao juiz de lá para concluir o inquérito que foi aberto por ocasião do seu acidente. Falei com os advogados e eles acharam melhor que você vá pessoalmente, principalmente por estar aí perto ainda. Será que você pode fazer isto amanhã pela manhã? Acho que hoje já está muito tarde para ir até o fórum de lá.
- Claro. – disse, achando ótima a possibilidade de ficar um pouco mais na companhia de Sílvia.
- No final da manhã, um helicóptero irá pegá-lo num campo de futebol em Rio Claro. Parece é o único local onde eles podem pousar. Dali, ele vai te trazer para São Paulo. Nós o queremos no meio da tarde, sem falta, entendeu?
- Sim, senhor! Entendi. Tudo bem. Estarei aí amanhã à tarde.
Desligou o telefone e contou a Sílvia o que teria de fazer no dia seguinte.
- Ótimo! Assim vamos juntos e já aproveito para falar com Dirceu, que deve estar por lá amanhã. Eu soube que quarta feira é o outro dia em que ele faz as avaliações em Rio Claro. Beto fez uma cara péssima, mas não falou nada.
- Roberto, não fique assim. Você concordou comigo que deixaria. É pelo nosso bem, querido...
- Eu não disse nada.
- Mas pensou.
- Estou pensando em outra coisa – disse com olhar guloso.
- Nossa! Você só pensa nisso?
- Nisso o que? O que você pensou? – foi falando e já desatando a rir – Só ia dizer que estou esfomeado e que pensei em irmos até a cidade jantar no Alvorada. O que acha da idéia?
- Acho ótima! Também estou morrendo de fome.
- Que tal tomarmos um banho juntos, você refaz o meu curativo e nos aprontamos para sair?
- Se você prometer se comportar no banho...
- Prometo. É que com este ferimento acho que vou precisar de uma ajuda para passar o sabonete no corpo – pronunciou com o ar mais inocente do mundo.
- Ahan... Claro, precisa de ajuda, é? Vou ser obrigada a fazer este sacrifício...Vamos lá!

Durante o jantar, Sílvia aproveitou o tempo juntos para perguntar mais sobre Roberto. Afinal, depois que ele recuperara a memória ainda não tinha tido oportunidade de conhecê-lo melhor. Estava apaixonada por alguém que mal conhecia. Já soubera que ele era solteiro, o que era um fator importante, segundo ela. Agradecia por aquela história de esposa e gêmeos ter sido apenas uma invenção dele para afastar o assédio de Suzi.
- Beto... É assim que você prefere ser chamado?
- Sim, mas adoro quando você diz o meu nome por extenso. Soa diferente na sua voz.
- Roberto, queria saber mais sobre você. Já sei que é um empresário de sucesso, que não é casado, que o seu irmão se chama Marcos e que é paulista. Mas só isso é muito pouco para o currículo de alguém por quem pretendo mudar toda a minha vida.
- E o amor, não conta?
- Claro que conta... Mas eu quero saber mais , ou melhor, tudo sobre você.
- Estou brincando. É claro que você tem me conhecer melhor – disse mirando-a com os olhos verdes , que ainda a faziam estremecer.
A partir daí, passou a contar detalhes de sua infância, a ida para os Estados Unidos com sua mãe, após a separação de seus pais, a adolescência rebelde, o reencontro com seu pai no Brasil aos 16 anos, a volta para os Estados Unidos e o curso de Engenharia da Computação em Massachussetts, estimulado por seu pai, que, era engenheiro e interessado pelo assunto. Ele falecera três anos atrás. Relatou como ele e Marcos montaram sua empresa em São Paulo e o sucesso consequente. Especializaram-se em sistemas de segurança. Por isso o interesse do governo. A tudo Sílvia ouvia atenta, valorizando cada palavra dita por ele, deixando-se encantar cada vez mais pela força de vontade de Roberto ao enfrentar todas aquelas reviravoltas e tornar-se a pessoa e o profissional bem sucedido que era. Só esperava poder conviver mais com ele para poder usufruir tudo isso.
- E então? Decepcionada? Vai desistir de mudar a sua vida por mim? – enquanto perguntava, pegou a mão de Sílvia entre as suas e a beijou. Ao que ela retribuiu, colocando a sua mão livre a acariciar o rosto dele, com muita ternura no olhar, respondendo:
- Se tudo isso que você contou é verdade, e eu sinto que é, só me faz ficar mais convicta de que você é exatamente tudo que eu sempre quis para mim.

(continua...)


BESOS!!!

3 comentários:

  1. Ai, amei Rô!!
    Tão linda a forma com que tudo está se encaminhando, mas será que ainda teremos sobressaltos pelo caminho????
    Um cheiro amiga!

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  2. Com certeza, Nadja, caso contrário não teria por que continuar com esta estória...rsrsrs
    Prepare-se para as próximas emoções...
    Adoro teus comentários!
    Beijos!!

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  3. Ai meu Deussss!!!
    Que fortes emoções ainda nos aguardam?
    Lendo três contos ao mesmo tempo (O Resgate, claro, Meu Doce vampiro e Phantom, de Aline) será que meu pobre coração aguenta?
    Fazer o quê? Escolhi sofrer....
    Mas sofro, nesse caso, porque ADOROOOO!!!

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