sábado, 26 de março de 2011

Pelo de Punta (Arrepiada) - Capítulo VI


O dia amanheceu radiante em Willemstad, ao contrário do humor de Júlia, que se traduzia em um gosto amargo na boca e um belo par de olheiras visiveis no espelho do banheiro quando foi escovar os dentes. Vestiu uma calça jeans, uma camiseta regata amarela e um par de tênis e desceu para o salão onde era servido o café da manhã. Ali, viu alguns rostos que reconheceu como sendo de outros passageiros do vôo 1278. Alguns cumprimentos de cabeça, um ou outro sorriso, não correspondidos por ela. Incerta quanto ao motivo, seu interesse maior era localizar Bryan. Infelizmente estava sem sorte, pois ele não se encontrava no salão. Acabou por se sentar em uma das mesas de dois lugares junto a uma grande janela de vidro de onde era possível vislumbrar as piscinas do hotel. Júlia ficou com inveja das pessoas sorridentes e despreocupadas que circulavam por ali, sem aparentes inquietações a não ser curtir suas merecidas férias. As palavras frias de Miguel e as hipóteses de Bryan sobre ter alguém a vigiá-la estavam acabando com o que restava de sua calma para enfrentar problemas. Foi quando uma das garçonetes aproximou-se de sua mesa com um alvo e expansivo sorriso querendo saber o que gostaria de tomar: Café, leche o ambos? Serviu o café preto solicitado e simpaticamente perguntou se precisava de mais alguma coisa. Diante da negativa e do agradecimento, virou as costas e partiu em busca de novos clientes para seus bules térmicos. Algo em seu íntimo rebelou-se contra seu próprio estado de ânimo e censurou-a. Por que ficar gastando o primeiro dia de suas férias com pensamentos que não a levariam a nada? - “Estou no Caribe, numa linda e paradisíaca ilha, com sol brilhando e nada a fazer a não ser esperar a liberação de meu vôo... Por que fico me mortificando por causa de um futuro noivo ciumento e de um estranho que conheci há menos de vinte e quatro horas?” - Com esta nova orientação em mente, rumou à mesa do bufê onde a aguardavam inúmeras delícias, entre sucos, frutas, pães, frios e bolos variados. Tomaria um belo café da manhã e depois pensaria o que fazer com seu tempo livre.

Andou até a recepção, sem ver nenhum sinal de Bryan, e procurou se informar a respeito do seu vôo. Ficou sabendo que o avião já estava sendo reparado, mas a possibilidade de ciclone sobre o mar na rota para o continente havia retardado ainda mais a saída da ilha. Resignada, imaginou o que faria para passar o tempo e afastar os maus presságios.
- Señor, como se hace para conocer la ciudad e las playas? – perguntou utilizando seus conhecimentos de espanhol, aprendidos no curso de línguas que passou a frequentar após conhecer Miguel.
O recepcionista de meia-idade, que felizmente substituíra o jovem impaciente e afetado da tarde anterior, sugeriu que ela fizesse um passeio a pé pelo centro histórico da cidade, que escolhesse um dos restaurantes ao ar livre para o almoço e, depois, pegasse um táxi para levá-la a conhecer uma ou duas das praias que cercavam a cidade. Sugeriu o nome de algumas delas e desejou-lhe boa sorte. Antes de sair, pensou em deixar um recado para Bryan, mas acabou por achar melhor manter distância. Já tinha tido complicações demais nas últimas horas. Melhor ficar sozinha do que mal acompanhada. Agradeceu e partiu para o seu programa turístico de última hora. Pisou os pés sobre o calçamento da rua, inspirou fundo e seguiu em frente, na direção que indicava o pequeno mapa que recebera de souvenir na recepção e onde o gentil recepcionista marcara os locais mais interessantes a conhecer.
Willemstad

Enquanto andava pelas ruas, admirando a arquitetura e o colorido dos prédios do porto de Willemstad, começou a ter uma estranha sensação de estar sendo seguida. Certamente isso era devido à insinuação maldosa de Bryan a respeito de Miguel feita na noite anterior. Só o que lhe faltava agora era começar a ter alucinações. Apesar disso, de vez em quando dava paradas repentinas na sua caminhada e olhava para trás, quase certa de que pegaria em flagrante algum tipo de espião. Quando adolescente era fã dos livros de Ian Fleming, onde seu principal personagem às vezes viajava para locais como aquele em que estava agora, perseguindo perseguido por malvados espiões a serviço do mal. Riu ao lembrar como gostava de se imaginar como uma das bondgirls a serviço do charmoso agente... Em todos os sentidos.
Numa dessas paradas “estratégicas”, notou um homem baixo, moreno, usando óculos escuros, andando a poucos metros dela. Ao perceber que ela se virara e o encarava, parou de andar e desviou do caminho para olhar uma vitrine.Estaria vendo coisas? Por um momento teve medo, mas depois sacudiu a cabeça, chamou a si mesma de paranóica e se permitiu continuar. Visitou um museu e entrou em alguns prédios antigos. Depois de percorrer o centro histórico tombado pela UNESCO, chegou à área de comércio. Acabou por entrar em uma das lojas onde as vitrines anunciavam trajes de banho. Algumas compras mais tarde, quando saía novamente para a rua, foi empurrada contra a parede e teve sua bolsa arrancada. Mal teve tempo de reparar no rosto de seu atacante, quando viu Bryan, saído do nada a perseguir o assaltante pelas ruas até desaparecer numa rua colateral. Ficou paralisada. Olhou ao seu redor. Procurava alguém em um uniforme policial que pudesse ajudar, mas não encontrou. Uma das vendedoras que a havia atendido poucos minutos antes correu para acudi-la. Levou-a de volta ao interior da casa e ofereceu um copo de água. Em questão de poucos e sofridos minutos, em que pensou o pior, Bryan surgiu no umbral da loja carregando sua bolsa. Sentiu uma onda de alívio ao vê-lo ileso.
- Você está bem? – ele perguntou ainda ofegante, com o másculo rosto afogueado e gotas de suor a escorrer na testa. O cabelo estava sensualmente revolto.
- Estou... E você? Não está ferido? – Ela levantou ansiosa por tocá-lo e verificar pessoalmente sua pergunta, mas acabou por reprimir essa vontade.
- Não. Estou bem... – ele conseguiu esboçar um sorriso, satisfeito ao ver a preocupação genuína de Júlia – Consegui recuperar sua bolsa – disse levantando o volume que carregava na mão direita e caminhando na direção de sua proprietária.
- Onde você estava? Como viu o assalto?
- Eu estava andando por aí e a vi saindo desta loja. Em questão de segundos aquele pivete apareceu e fez o que fez. A única coisa que me ocorreu foi correr atrás dele.
- E o que aconteceu?
- Eu consegui alcançá-lo, peguei a bolsa e ele fugiu.
- E eu pensei que isso só acontecesse no Brasil... Céus!
- Qué suerte tener un esposo valeroso y guapo. – comentou a vendedora.
- Él no es mi esposo... – corrigiu acanhada.
- Sólo compartimos la misma habitación de hotel – manifestou ele, fazendo Júlia ruborizar.
- Mi amigo es muy lúdico – comentou sorrindo amarelo com a vendedora, para logo em seguida lançar um olhar de desaprovação para ele. – Gracias por todo. – agradeceu à jovem que a acolhera e que parecia muito disposta a fazer o mesmo por Bryan também.
- Muchas gracias, señorita. – Bryan reverenciou a moça, arrancando-lhe mais um “sorriso de Mae”, como Júlia passara a chamar todas as manifestações geradas pelas “gentilezas” de seu novo amigo.
- Precisava ter dito aquilo para ela? – falou quando já estavam andando pela calçada sem destino certo.
- Dito o quê? – se fez de bobo.
- Sobre dividir o quarto.
- Não é verdade?
- Sim... Mas não precisa anunciar isso para desconhecidos.
- Só para conhecidos, então? – continuou a implicar com Júlia – Acha que isso vai prejudicar a sua reputação aqui na ilha? – falou com olhar cínico de falsa preocupação.
- Bryan... – repreendeu-o bem-humorada, logo voltando a ficar séria – Muito obrigada.
- Pelo quê? Por manchar sua reputação?
- Não! Por ter se arriscado e conseguido recuperar minha bolsa.
- Bobagem.
- Bobagem nada. E se o rapaz estivesse armado?
- Está bem. – Não queria prolongar muito aquele assunto – Agradecimentos aceitos – finalizou mostrando os dentes alvos e perfeitos e mudou de assunto – Já almoçou?
- Ainda não tinha pensado nisso, mas já que falou... – De repente sentia-se feliz e segura por estar na companhia daquele homem mordaz, arrogante, cavalheiro, às vezes rude, às vezes galante e, surpreendentemente ... Encantador. Seria uma mulher de sorte aquela que o conquistasse. – Acabo de me dar conta que estou morrendo de fome.
- Então somos dois. Quando estava correndo atrás do seu assaltante, acho que vi um pequeno bistrô logo virando aquela esquina.
- Você não está falando sério... – encarou-o incrédula.
- Pode acreditar - e lançou um olhar maroto em sua direção.
- Você é doido! – e começou a rir.
Ele ofereceu seu braço, onde ela satisfeita se enganchou e foram satisfazer seu apetite.

- Ficou chateado comigo por ontem, não? – resolveu perguntar no final do almoço.
- Chateado por que?
- Sobre o que falei quanto a se meter em meus assuntos.
- Não lembro.
- Mesmo que não se lembre, quero que me desculpe. Eu estava cansada, meio bêbada e chateada por causa da maneira como Miguel me tratou ao telefone.
- Ele ligou de novo?
- Não.
Silêncio.
- Quais são seus planos para a tarde? Já sabe sobre o vôo?
- Soube que talvez fosse adiado mais um dia por causa de um ciclone – respondeu um pouco atordoada por ter se lembrado de Miguel e sentir-se culpada por estar aproveitando aquelas horas com outro homem. E gostando disso. Provavelmente Miguel não entenderia aquela sua nova amizade.
- Pois é. Por esta não se esperava. Estes fenômenos são comuns por aqui... Deve ter ficado chateada por ter que ficar mais um dia longe de seu noivo.
- Um pouco... Ele nem está em Santa Cruz para me receber. Pelo menos foi o que disse ontem. Assim, até vai ser bom ficar mais um dia aqui e aproveitar esta escala inesperada. Não conheço a família dele, por isso não gosto da idéia de chegar lá sem que ele esteja por perto.
- Então? O que faremos?
- Tem certeza que quer perder seu tempo comigo?
- Perder meu tempo? Que história é essa? Quando imaginei conhecer este lugar em companhia tão agradável?
Ela pensou ter visto um brilho diferente em seus olhos verde-oliva, mas logo tirou esse pensamento da cabeça. Ele estava sendo apenas simpático...
- Bem, se você não tem realmente outros planos... O recepcionista do hotel sugeriu que eu pegasse um táxi e pedisse para me levar a alguma praia aqui por perto.
- Ótima idéia!
 Era meio da tarde quando chegaram à praia de Cas Abao. Bryan, discretamente, havia se certificado de que ninguém os seguia quando entraram na condução e durante o trajeto até o complexo turístico. Júlia ficou deslumbrada com a pequena enseada, onde a faixa de areia branca contrastava com o verde do campo, próximo à beira-mar, de um lado, e o azul-turquesa das águas límpidas, de outro. A infra-estrutura montada para acolher os visitantes não interferia com a beleza natural do lugar. Palmeiras e palapas conviviam em harmonia, trazendo sombra e sossego aos olhos.
Cas Abao



Palapas na praia
Buscaram as espreguiçadeiras dispostas sob uma das palapas e sentaram-se relaxadamente, admirando a paisagem de sonho.
- Estou me sentindo num comercial de agência de turismo – comentou Júlia.
Ele riu e concordou.
- Acho que não vou resistir... Vou ter que tomar um banho neste mar – ela continuou.
- Pois eu acho que o local é muito familiar para exibições de nudismo – argumentou ele no seu já conhecido tom sarcástico.
- E quem disse que pretendo tomar banho pelada?
- De soutien e calcinha? – exclamou com fingido espanto – Não acho muito apropriado – balançou a cabeça.
- Então espere... – Para surpresa dele, ela se levantou tranquilamente e se dirigiu até um dos banheiros próximos ao bar local, carregando apenas a sacola da loja onde ele a encontrara no final da manhã.
Não demorou mais que cinco minutos para que ele visse Júlia surgir dentro de um biquíni azul-turquesa, como as águas do Caribe, que emoldurava o seu belo corpo, de pernas longas e bem torneadas, coxas grossas, quadril arredondado, cintura fina e seios cheios e firmes. Procurou esconder sua admiração e fazer algum comentário ácido sobre a surpreendente indumentária dela, mas não conseguia encontrar a voz. Indisfarçadamente a devorou com os olhos. Não esperava provocá-lo daquela maneira, mas de certa forma se sentiu satisfeita com o efeito obtido.
- Quer me acompanhar? – convidou-o sedutora.
- Bem que eu gostaria, mas como disse antes, não fica bem me despir aqui, na frente das crianças – olhou em volta onde pequenos grupos familiares se divertiam.
Sem dizer nada, ela tirou da sacola uma toalha de praia e depois esticou o braço para lhe alcançar um pequeno embrulho.
- O que é isso? – perguntou curioso.
- Um presente. Espero que sirva.
- Não posso aceitar, Júlia – disse subitamente sério, imaginando o que era.
- Não disse que gostaria de me acompanhar? Então, por favor... – pediu com um tênue sorriso, que acabou por convencê-lo.
- Mais um motivo para seu noivo me odiar. Isso era para ele, não?
- Compro outro presente depois – cochichou, piscando o olho.
Por fim pegou o pacote e foi até o vestiário. Quando retornou, Júlia precisou de toda sua concentração para não deixar cair o queixo. Nunca imaginou um funcionário público com um corpo daqueles. Já tinha percebido que ele era um homem elegante, mas com aquela sunga ... Tentou fixar o olhar no rosto de Bryan e controlar a respiração quando ele chegou mais perto.
Foto ilustrativa do calção de Bryan
(não é lindo?...O calção...)
- E então... Ficou bem? – disse de um jeito bonachão.
- Ficou... Ótimo! – “Será que ele tem idéia do efeito que tem sobre os hormônios femininos?”, pensou num suspiro abafado. – Que tal se, ao invés de ficarmos jogando conversa fora, entrarmos nesse mar. Quero ver se ele é de verdade.
- Vamos lá!
Instintivamente ele colocou levemente a mão sobre a cintura de Júlia, levando-a rumo às águas transparentes. Ela não conseguiu evitar um tremor que percorreu seu corpo de alto a baixo.
- Está com frio? – ele perguntou sem deixar transparecer que supunha o real motivo da pele arrepiada de Júlia.
- Um pouco – mentiu.
A água estava cálida e muito convidativa. Notaram que havia uma espécie de plataforma amarrada à praia, cerca de dez metros mar adentro, onde os visitantes podiam tomar sol ou saltar para um mergulho.
Vista aérea da praia e da plataforma
- Vamos até lá?
- Será que é muito fundo? – perguntou receosa.
- Não sabe nadar? – Não parecia estar desdenhando dela, apenas curioso.
- Sempre morei no interior até a adolescência, longe da praia, e meu pai nunca considerou nadar uma habilidade importante.
- Mas você não mora no Rio de Janeiro?
- É, mas raramente vou à praia, a não ser para pegar sol ou pular ondas. Por isso nunca me peocupei em fazer um curso de natação.
Ele balançou a cabeça, como se não entendesse aquele argumento, e logo abriu um sorriso.
- Não tenha medo. Eu a ajudo a chegar até lá.
Imediatamente pegou na sua mão e a puxou com cuidado, enquanto avançava contra as discretas ondulações da água que batiam em suas musculosas coxas. Logo a profundidade foi aumentando até que chegou aos ombros de Júlia.
- Ainda faltam uns cinco metros para chegar lá e está ficando muito fundo... Vá você que eu espero aqui. Fico aproveitando a água, que por sinal que está uma delícia.
Sem se preocupar em responder, ele a envolveu com os braços e a ergueu junto ao seu peito, no colo, como se fosse uma garotinha.
- Bryan! – exclamou surpresa, agarrando-se aos ombros fortes e rijos.
- Eu disse que a ajudaria a chegar até lá. Deve ter uma vista fantástica da praia. – falou sorridente, com a maior naturalidade, voltando a caminhar como se estivesse fora d’água.
Aquele contato tão íntimo a deixou tensa, mas à medida que eles avançavam a tensão foi diminuindo e ela teve que se esforçar para não deixar cair a cabeça e descansá-la sobre o amplo e aconchegante tórax. Em determinado momento, ele também não alcançou mais o fundo com os pés. Por isso, passou a nadar usando apenas um dos braços, enquanto com o outro mantinha Júlia firmemente junto a si, cingida pela cintura, de forma que ela ficasse com a cabeça de fora. Quando finalmente chegaram, ele a levantou, com mínimo esforço, e colocou-a sentada sobre a plataforma. Deu um impulso e arremessou a si próprio para fora d’água, sentando-se ao lado dela, admirando a paisagem. Júlia ainda sentia o coração descompassado e começava a ficar alarmada com as reações físicas que tomavam conta dela por causa daquele contato com Bryan. Buscava imagens de Miguel e do que costumava sentir por ele para afastar os maus pensamentos, mas nada era comparável ao fogo que tomava conta dela naquele momento.
- Você está bem? – perguntou ao virar o rosto para encará-la, notando que estava tensa.
- Eu estou bem, sim...
- Se importa se eu for dar um mergulho?
- Fique à vontade, por favor... – disse quase grata por poder ficar um pouco só e voltar a respirar normalmente.
Bryan com agilidade se colocou de pé, em posição para saltar e mergulhou, logo desaparecendo sob a plataforma. Por sua vez, Júlia resolveu aproveitar um pouco do sol e deitou-se de bruços. Passado algum tempo, olhou ao redor e não viu sinal de Bryan. Sentou-se e começou a se preocupar com sua ausência. Procurou enxergar abaixo da superfície, na praia logo adiante, no lugar onde haviam deixado seus pertences, mas não conseguia vê-lo. Já começava a entrar em pânico, quando viu uma grande silhueta com esnórquel vindo em sua direção sob a água. Soltou um suspiro de alívio ao vê-lo emergir ao lado da plataforma.
- Sentiu minha falta? – perguntou após deslocar a máscara de mergulho para o alto da cabeça e subir com a mesma facilidade de antes para sentar ao seu lado.
- Achei que tinha sido devorado por tubarões – revelou, brincando com algo que realmente chegara a pensar.
- Vim convidá-la para ver alguns comigo. Topa?
- O quê? – perguntou incrédula.
- Brincadeira... Venha. Trouxe algo para que possa mergulhar também – disse mostrando outra máscara com esnórquel.
- Nem sei como se usa isso. Além disso o meu mergulho máximo até hoje foi em piscinas, agarrada à escadinha – argumentou sorrindo.
- Olhe, vou ensinar como se usa esse equipamento. Confie em mim. Prometo que não vai se arrepender.
- Sei que vou, mas ... – resmungou, deixando-se persuadir por ele.
Após algumas explicações e demonstrações sobre o uso da máscara e do tubo a ela preso, Júlia criou coragem e, com a ajuda de seu “instrutor”, desceu da plataforma. Sempre segura por ele, conseguiu testar com êxito as orientações recebidas.
- Não se preocupe que vamos para um local mais raso. Vou ajudá-la a se manter próxima a superfície até chegarmos lá.
E assim foi. Da mesma maneira como ele a havia conduzido antes, foram até as formações rochosas que existiam num dos cantos da praia. Ao chegarem, ela voltou a sentir o chão arenoso sob os pés. Entretanto, a visão que teve sob a água, entre os corais existentes ali, foi tão fascinante que até esqueceu seu medo de afogamento.



Peixes e corais

 Peixes multicoloridos, dos mais variados tamanhos, nadavam entre corais e esponjas. As cores das formações calcáreas vivas variavam entre o marfim e o escarlate, passando pelo marrom e o rosa, entremeados por algas e esponjas em vários tons de verde. Tão extasiada ficou que acabou por soltar-se da mão de Bryan e arriscou-se a flutuar sozinha acompanhando o passeio dos peixinhos coloridos que antes só tinha visto dentro de aquários, em terra firme. Por alguns instantes esqueceu que devia manter-se próxima a superfície e abaixou-se um pouco mais para o fundo. Imediatamente a água penetrou pelo tubo, chegando a sua boca. Sentiu o líquido salgado penetrando suas vias aéreas rapidamente. Atento, ao perceber o que estava acontecendo, Bryan ajudou-a a erguer a cabeça para fora d’água e a firmar os pés no fundo . Tossindo desesperadamente, sentiu seu esnórquel arrancado e dois braços fortes levando-a para a segurança da praia que estava a poucos metros. Lá, Bryan a deitou com o abdômen voltado para baixo e, ajoelhado sobre ela, passou a massagear-lhe as costas, numa tentativa de ajudá-la a expulsar qualquer resquício de água que estivesse em seus pulmões. A tosse foi diminuindo aos poucos, sinalizando que o pior já passara. Com cuidado ele a virou de frente, observando as cores voltarem ao belo e pálido rosto. Afastou os cabelos úmidos e sujos de areia e acariciou sua face delicadamente, enquanto ela voltava a respirar normalmente.
- Está bem? – indagou com expressão séria e preocupada.
- Acho que sim... Desculpe...
- Desculpar? Pelo quê? – disse relaxando e deitando-se de lado, com o cotovelo apoiado no chão, de maneira a poder continuar observando-a – Acho que se saiu muito bem para uma primeira vez – sorriu sem tirar os olhos dela.
Num instante, num cruzar de olhares, foram magnetizados um pelo outro. Sentindo o calor do sol e a maciez cálida do terreno arenoso na pele, quase sem perceber, Bryan foi aproximando-se um pouco mais do rosto de Júlia, que por sua vez entreabriu os lábios como a espera de algo inegável e já esperado. Suas bocas se tocaram de leve, despertando um desejo que ambos vinham abrigando desde a chegada à Willemstad. Virando-se sobre Júlia, apoiado nos cotovelos, a boca de Bryan passou a explorar a face ainda úmida, passando a língua timidamente sobre as gotículas de água salgada restantes, arrancando-lhe pequenos suspiros. Naturalmente, ela elevou os braços e envolveu-o no pescoço, puxando-o para mais perto, sentindo o peso dele sobre seu corpo e retribuindo os beijos com ardor. Mais uma vez seus lábios se encontraram, mas já sem a suavidade de antes. Agora o beijo era mais ansioso e invasivo, unindo-os mais completamente. As mãos buscavam acariciar um ao outro e toda e qualquer noção de pudor se perdia. Ele tentara de todas as maneiras não desejá-la, mas o medo de perdê-la e a noção de fragilidade daquela mulher nublaram sua força de vontade levando-o a liberar seu instinto. Porém, uma nesga de consciência e responsabilidade levou-o a interromper a torrente de sentimentos que o envolvera, fazendo-o afastar-se bruscamente dela, deixando-a atordoada. Sentou-se rapidamente, escondendo a visível ereção.
- Talvez seja melhor irmos embora. Está ficando tarde. – falou com a voz enrouquecida.
Confusa e assustada com suas próprias emoções, apenas concordou e aceitou a mão que ele ofereceu para ajudá-la a levantar-se. Ambos não pareciam dispostos a discutir o que acontecera. Ela procurava a lembrança de Miguel para repreender-se e ele voltava a colocar os pensamentos na missão que tinha assumido. Pegou os esnorquéis que tinham sido jogados na beira-mar e foi devolvê-los no quiosque onde os alugara, enquanto ela ia até a palapa pegar a toalha de banho e as roupas secas dos dois. Tão logo estavam vestidos, saíram do complexo em direção ao táxi que os esperava no estacionamento público.

(continua...)




Demorei mais do que pretendia para postar esse capítulo pois tive uma semana meio conturbada no meio doméstico. Além disso, tornou-se um capítulo importante pois o nosso casal finalmente cedeu aos seus impulsos...hihihi... Gostaram? Lembrei muito de um outro casal que começou seu relacionamento junto aos corais de Alagoas (Lucca e Isadora).
Queria aproveitar para das as boas-vindas a mais uma amiga. A Pri, do blog Entre Fatos e Livros(http://fatoselivros.blogspot.com/ ). Como sempre, espero não me demorar muito para postar a continuação.
Beijos!!







3 comentários:

  1. Oi Rô!!!
    Amiga, é uma tortura ter que esperar cada capítulo, todos os dias entro no blog pra ver se já tem novidade, rsrsrrs, mas eu sei bem como é a correria da vida.
    O romance, pra variar, está maravilhoso, mas curiosidade em saber quem contratou Bryan pra essa missão está me matando, mas tudo bem, eu sobrevivo, só não sei se um dos possíveis contratantes vai sobreviver....
    Um beijo amiga!!!!!

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  2. Olá! Adorei o capítulo! Mas afastar os "maus" pensamentos, ah?! Tá mais para ótimos pensamentos... kkk
    Bjão!

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  3. Rosane do céu deveria ter um sinalizador avisando sobre fortes emoções dos seus cápitulos.
    Já estou aqui escorada na cadeira sem fôlego junto com a Júlia... kkk
    Menina! adrenalina total vou me recompor para as próximas aventuras.... ufa... kkk!

    * * *Bjkas* * *

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Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
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