Um suspiro geral da tripulação e dos passageiros pode ser ouvido quando o vôo 1278 finalmente estacionou sobre a pista do Aeroporto de Curaçao. Depois da confusão normal, reclamações de quem tinha compromissos ou negócios em Santa Cruz, que era a grande maioria, explicações do representante da AA e do comandante, foi informado que todos ficariam hospedados num dos bons hotéis do centro de Willemstad, capital da ilha localizada há 10 quilômetros do aeroporto, com despesas de refeições incluídas, pelo prazo máximo de dois dias, tempo necessário para que fosse feito o conserto do equipamento avariado, já que não havia aeronaves disponíveis para substituição.
Cansada e desanimada pelo adiamento de seu encontro com Miguel, Júlia entrou no ônibus que levaria os descontentes viajantes para a hospedagem compulsória. À chegada, na recepção, foram orientados a aguardar a chamada pelo nome para pegar as chaves de seus quartos. Aos poucos, todos foram sendo acomodados. De repente, o recepcionista chamou o nome de Júlia e de outro desconhecido.
- Mr. Bryan Phillips e Mrs. Júlia Monteiro!
Estranhou ter sido chamada de senhora e por ter seu nome unido ao de outra pessoa. De qualquer forma seguiu em frente. Coincidentemente seu “colega” de viagem se colocou ao seu lado diante do funcionário. Depois disso veio o pior. Saber que dividiriam o mesmo quarto.
- O quê? – exclamou Júlia perplexa diante do que acabara de ouvir do homem gordo, suarento, de voz fina e trejeitos femininos, que se encontrava parcialmente protegido de suas mãos atrás do balcão da recepção – Está me dizendo que vou ter de ficar no mesmo quarto com este homem? Está brincando?
- Parece que não querem nos separar, querida. – ironizou Bryan apoiando seu braço na bancada de mármore, atraindo os olhares do recepcionista gay.
- Sinto muito, senhora... – se desculpou piscando os olhos nervosamente.
- Senhorita!
- Sinto muito, senhorita Monteiro, mas o hotel está lotado. Estamos tentando fazer o possível para acomodar a todos da melhor maneira.
- Eu me recuso a dividir um quarto com ele. Eu nem conheço este homem!
- Muito prazer... Bryan Phillips, a seu dispor – brincou ele oferecendo-lhe a mão em cumprimento, que obviamente foi recusada – Por mim, não tenho problema em ficar com você. Você ronca? – fez a pergunta em tom mais baixo, junto ao seu ouvido, de forma que o funcionário da recepção não ouvisse.
A face de Júlia tingiu-se nas cores do vermelho ao roxo diante da grosseria da pergunta.
- Prefiro dormir na recepção – disse cada vez mais indignada.
- Infelizmente isso não é possível, senhora – retrucou o jovem efeminado, lançando um olhar para cima indicando que sua paciência estava no limite, pois havia mais hóspedes para atender.
- SENHORITA! – Sua paciência também se esgotara – Não é possível que não tenha lugar em outro hotel nesta cidade. Quem é o representante da companhia aérea que está administrando esta hospedagem?
- Posso lhe afirmar que não há lugares em nenhum outro local da ilha, pois é alta temporada e todos estão lotados.
- Júlia, não existe outro jeito. – falou Bryan subitamente mais compenetrado. – Peço perdão pelo meu comportamento. Prometo que não serei inconveniente e agirei como se você não estivesse no mesmo apartamento. Será apenas uma noite, talvez duas...
- Não acredito no que está acontecendo... – lamentou sacudindo a cabeça inconformada.
- Senhor, o quarto já está pronto. Os cartões estão aqui. Logo mandaremos o mensageiro levar suas malas. É a suíte 402, no quarto andar. O elevador fica neste corredor em frente, à esquerda – finalizou com um sorriso arreganhado muito semelhante ao da aeromoça Mae.
- Ótimo. Muito obrigado. Vamos?
Júlia lançou um olhar gélido que fez murchar o sorriso recém nascido em seus lábios. Em vista disso, Bryan seguiu para o elevador. Júlia totalmente contrariada saiu pisando duro logo atrás dele, procurando o celular dentro da bolsa, lutando contra o peso da maleta de mão.
- Quer ajuda com sua maleta? – disse gentilmente ao entrarem no elevador.
- Não, obrigada! – respondeu sem despregar o olho do aparelho em sua mão que insistia em não dar sinal de vida.
- Deve ser a bateria...
- Não tem sinal...
- Quer usar o meu?
- Não, obrigada. Vou ligar do apartamento.
- Olhe... Sei que é uma situação desagradável dividir um quarto com alguém desconhecido e por quem você não nutre a mínima simpatia. Eu posso entendê-la perfeitamente – completou a frase dando ênfase na última palavra, com um brilho de ironia no olhar.
- Vou ligar para o meu noivo e sei que ele vai resolver esta situação.
- Ah! E quem é o seu noivo, se me permite perguntar?
- Não lhe interessa – rebateu sem despregar os olhos do celular em sua mão, ainda com esperança que algum sinal surgisse no visor.
Desceram do elevador. Foram até o número 402. Bryan abriu a porta e, com um gesto cortês, permitiu que ela passasse na sua frente. Ato contínuo, sentiu ela deter o passo. O motivo... Uma cama de casal. Enorme e convidativa.
- Não é possível...
- O sofá parece bem confortável – sugeriu Bryan, com voz bem humorada, indicando a peça que ocupava um recanto próximo à janela.
- Você não cansa de ser tão otimista?
- Desculpe por tentar ver as coisas pelo lado bom...
Enquanto ele olhava as instalações do banheiro, ela foi diretamente para a mesinha de cabeceira onde se encontrava o telefone. Primeiro pediu camas de solteiro na recepção, recebendo a informação de que não seria possível satisfazer sua solicitação por não haver qualquer cama a disposição no momento. Acabou por solicitar uma ligação para Miguel. Depois de várias tentativas sem sucesso, olhou a cama de casal, colocou a mão esquerda na cabeça, apoiando o cotovelo sobre o braço direito, e começou a chorar em silêncio.
- E então? Conseguiu? – indagou Bryan, que já estava na janela analisando o movimento intenso da rua diante do hotel e o colorido dos prédios a sua volta. Eram quase seis horas da tarde e o sol já batia em retirada.
Como não obteve resposta, voltou sua atenção para Júlia e a viu em pranto silencioso. Concluiu que ela fora vencida pela desesperança de melhorar sua situação. Reconheceu que estava pegando pesado com a jovem e acabou por sentar-se ao seu lado, na beira da cama, com o intuito de tentar consolá-la.
- As coisas não são tão ruins assim... Imagine se o avião tivesse sofrido uma pane mecânica e tivesse caído no mar... – Notando que esta observação não havia feito a expressão dela melhorar, continuou. – Pare de chorar, por favor... Não posso ver uma mulher chorando... E pegue o meu celular e faça esta ligação de uma vez.
Fungando e limpando os olhos discretamente, finalmente falou.
- Obrigada... Não vou insistir. Se conseguir falar com ele, só vou preocupá-lo. Provavelmente nem ele pode me ajudar mesmo – lamentou com voz chorosa e resignada.
- Eu insisto – parecia determinado a fazê-la ligar. – Talvez ele possa lhe dar um melhor consolo que eu... Só não diga que está comigo neste quarto, pois não quero ser vítima de um noivo ciumento.
Pela primeira vez, desde que se conheceram, a viu esboçar um sorriso.
- Está bem... – Aceitou o oferecimento e teclou o número de Miguel.
Depois de três tentativas, em que ouvia a voz mecânica dizendo para deixar o seu recado, desistiu, devolvendo o celular a Bryan.
- Então, eu vou dar uma saída, enquanto você toma um banho e relaxa. Volto dentro de uma hora. Por favor... Esteja decente – recomendou sério, batendo de leve com a mão em seu joelho, levantando-se imediatamente e saindo antes que ela pudesse criticar o deboche dele.
Seguindo o conselho, tão logo se viu sozinha, pegou uma muda de roupa íntima, que sempre levava em sua bolsa de mão em viagens, e foi verificar se o hotel dispunha de roupão de banho. Vestiria um até que sua mala fosse entregue. Dentro do armário havia dois robes brancos atoalhados. Pegou um e foi para o banheiro. Enfiou-se debaixo do chuveiro depois de ter certeza que a porta estava trancada. Sob os fortes jatos de água quente, perguntava-se onde estaria Miguel para ter tanta dificuldade em encontrá-lo. Pouco depois, seus pensamentos voltaram-se para Bryan. Ele, afinal, tinha sido gentil emprestando o celular e saindo do quarto para que ela ficasse à vontade para tomar banho. Talvez não fosse uma pessoa tão desagradável como tentava parecer. Esta impressão poderia ser fruto da sua irritação com o que ocorrera no aeroporto de Nova Iorque. Ele apenas tivera o azar de cruzar a sua frente no momento errado. Claro que ele era um sujeito extremamente sarcástico e convencido, mas... Era melhor manter uma distância razoável, sem intimidades, porém sem atritos ou rancores, já que teriam que dividir o mesmo quarto.
Terminado o banho, já seca, envolveu-se no roupão e, como as malas ainda não haviam chegado, deitou-se para descansar um pouco. A hora que fora determinada por Bryan ainda estava correndo. Esperava que suas roupas chegassem antes dele retornar. Contudo, o cansaço acabou por vencê-la. As pálpebras foram pesando mais e mais, o conforto felpudo e macio do roupão envolveu-a e o sono foi inevitável.
Nem a exclamação em alto e bom som que Bryan pronunciou, anunciando sua chegada para evitar constrangimentos, foi suficiente para acordá-la. Quando entrou, encontrou-a em sono profundo, encolhida sobre a cama. Parou por alguns momentos para observá-la mais atentamente. Nem parecia a mesma mulher irritada, contendo-se para não atirar o que estivesse à mão sobre ele, que encontrara no JFK. Sentia que tinha exagerado um pouco com ela, mas este costumava ser o seu jeito de defender-se das mulheres que o atraíam. Infelizmente ela o atraía... E muito. Tentava racionalizar os pensamentos, quando tocaram a campainha. Era o carregador, conforme verificou quando atendeu a porta. A bagagem foi deixada sobre um maleiro de madeira. Deu uma gorjeta ao rapaz e dispensou-o.
Olhou para Júlia. Agachou-se ao lado da cama e afastou com cuidado alguns dos fios castanho-claros que caiam sobre seu rosto. Parecia tão serena que achou por bem deixá-la descansar mais um pouco. Sentou-se no sofá, segurou seu Iphone e começou a teclar. Cansado como estava, acabou por cair no sono também.
Já era quase nove horas da noite quando Bryan despertou com a boca seca, efeito provavelmente provocado pelo ar condicionado. Júlia continuava na mesma posição em que a vira pela última vez. Foi até o banheiro, tomou um banho e arrumou-se para o jantar. Depois de pronto aproximou-se da cama, inclinando o corpo na direção de Júlia.
- Júlia... Júlia... – murmurou – Acorde...
Ela apenas franziu a testa, virou-se de frente e continuou dormindo. Quando se preparava para deixá-la, ouviu-a sussurrar o nome de Miguel e, curioso, aproximou-se um pouco mais. De súbito, teve o pescoço envolvido ternamente por um par de braços macios e quentes. Irresistivelmente atraído, com a boca muito próxima de seus lábios, ficou tentado a beijá-la, o que só não aconteceu porque ela abriu os olhos.
- O que está havendo? – exclamou surpresa libertando Bryan de seu abraço e empurrando-o para trás – O que você está fazendo?
- Quem estava me atacando era você! – defendeu-se indignado.
Confusa, levantou da cama e cingiu o roupão em torno de seu corpo mais firmemente, numa atitude de defesa.
- Eu estava tentando acordá-la para convidar para jantar. Acho que você estava sonhando com seu noivo...
- Por que diz isso?
- Você disse o nome dele e me agarrou. Homem de sorte, ele... – comentou malicioso.
- E o que você estava fazendo tão perto?
- Olhe – tentou mudar o assunto para evitar mais enfrentamentos – Já são mais de nove horas da noite e estou faminto. Queria convidá-la para jantar, mas pelo jeito o sono não lhe devolveu o bom humor. Assim, quero apenas anunciar que estou saindo. Boa noite!
Já estava quase batendo a porta quando a ouviu chamar.
- Bryan.
Por alguns segundos ele ficou paralisado, pensando se deveria voltar ou simplesmente fazer que não escutara sua voz. Voltou.
- Desculpe... – disse ela desconcertada – Eu também estou morrendo de fome. Pode esperar que eu me arrume? Vi que as malas chegaram...
- Eu a espero lá na recepção – disse secamente e virou as costas.
(continua...)
Pronto! Mais um capítulo... Curiosas? Acho que este Bryan vai atrapalhar um pouco a vida da Júlia. O que acham?...rsrsrs
Um feliz final de feriado a todas vocês.
Mil beijos!
Ahá! Bryan vai "atrapalhar" a vida de Júlia, é?
ResponderExcluirPois se fosse comigo ia é ajudar! kkk
Está ficando ótimo Rosane! Um abração e ótimo feriado.
Mama Mia esse Bryan!
ResponderExcluirPS: Que meu namorado ñ leia isso... kkk
Mas se sou eu no lugar da Júlia dividindo um quarto de hotel com um Bryan desse, deixo que me "atrapalhe" um poucãozãooooo... kkk
* * *Bjkas até o próximo capítulo* * *
Ai bate uma tristeza quando chega no final rsrsrs... mas fazer o que é segurar a ansiedade e esperar pelo próximo capitulo e pelo jeito a Júlia já está começando a olhar o Bryan de uma forma diferente não é? não sei não mas eu tenho a ligeira impressão de que o miguel vai dançar nesta história rsrss... e fala sério essa Júlia deve ter nascido com o bumbum virado pra lua, ficar no mesmo quarto com um homem desses afe aja coração. Beijossss... enquanto isso vou seguir seu conselho e dar uma olhadinha no blog da Aline pra conferir esse conto de carnaval com um certo escocês que eu adoro... rsrsrs
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ResponderExcluirOlá Rosane,
ResponderExcluirFico contente por ter gostado das poesias.
Então grande parte das poesias eu que escrevo e algumas é a Léia e outras são musicas que ela gosta.
Abraços!