domingo, 1 de agosto de 2010

Resgate de Amor (15)

Quando Sílvia colocou o fone no gancho ainda sentia-se flutuar. Roberto conseguia deixá-la sempre naquele estado de entorpecimento gostoso. “Vamos, Sílvia! Você tem que atender seus paciente e muitos telefonemas a dar”.
Assim que teve um intervalo no consultório, o primeiro telefonema foi para Franco. Não queria esperar até o dia seguinte para dar a notícia.
Ele já esperava por sua mudança, mas não pensava que fosse tão precocemente. Resolveu, porém, não fazer nenhum comentário desestimulante, pois percebeu toda a alegria de Sílvia ao contar as novidades. Combinaram que ainda se veriam no fim de semana. Ele fazia questão de oferecer-lhe um jantar de despedida. Combinaram que seria no sábado. Ela poderia aproveitar e levar a nova médica, Leonor, para apresentá-la aos amigos. Foi dormir cedo, pois queria estar bem alerta no seu último plantão.

Aquela semana foi de dias repletos de lágrimas, palavras de estímulo e de carinho para com Sílvia. Os pacientes ficavam surpresos com sua decisão tão repentina, mas aceitavam-na ao saberem dos motivos. Suzi passava os dias com uma caixa de lenços de papel ao lado, pois a cada paciente que chegava ou que ela ligava para dar a notícia da partida da médica, desandava a chorar. Sílvia estava surpresa com tal sensibilidade em sua secretária, mas sentia-se lisonjeada pelas demonstrações de afeto, tanto de Suzi como de todas as pessoas com quem se relacionava. Pensou que ela ficaria chateada quando lhe contou a verdade a respeito de Roberto e das brincadeiras que ele havia feito, mentindo sobre seu estado civil e sobre os trigêmeos. No entanto, ela acabou aceitando as explicações e até rindo do engodo que sofrera.
Na sexta feira à tarde, quando se preparava para sair do consultório, Suzi atendeu uma chamada telefônica e disse que era Leonor que desejava falar.
- Olá, Sílvia. Estou aqui, em frente ao seu apartamento. Não quis incomodá-la no consultório. Você vai demorar?
- Oi, Leonor. Não, já estou saindo daqui e vou para casa. Você não quer passar aqui para conhecer o consultório e a Suzi, minha secretária? Você está de carro?
- Não. Na verdade eu não tenho automóvel. Vim de carona com um amigo...
“Dirceu?”, pensou Sílvia, imediatamente.
- Não há problema. Você pode conhecer a Suzi na segunda e o consultório neste fim de semana. O seu “amigo” já foi embora?
- Sim... – falou meio insegura, mais uma vez - Ele tinha um compromisso numa cidade próxima daqui.
- Bem, já estou chegando aí. Não demoro mais que 5 minutos.
- Ok, eu espero.
Despediu-se de Suzi, que mais uma vez chorou.
- Querida, não precisa ficar deste jeito. Você vai gostar muito da Dra. Leonor, tenho certeza. Além do mais, não pretendo desaparecer. Vou ter de voltar periodicamente para ver como estão as minhas coisas. Não pretendo me desfazer de nada.
- Está bem, Dra. Sílvia. Prometo que vou me controlar, mas que eu vou sentir a sua falta, vou.
Sílvia abraçou a jovem afetuosamente e saiu, para pegar a caminhonete e seguir para seu apartamento.
Leonor a esperava na entrada do seu prédio, cercada por duas malas e alvo de muitos olhares curiosos.
- Ainda bem que você chegou, Sílvia – falou com alegria ao ver a colega chegar – Não aguentava mais dar explicações sobre o que eu estava fazendo aqui, se era sua amiga, se era a médica que ia substituí-la... Ufa!
- Bem, pelo menos o pessoal já a está conhecendo. Vá se acostumando. Se você sair um milímetro da sua rotina, com certeza saberão e já será motivo de assunto nas rodinhas de chá e de canastra da cidade. Bem vinda a Valverde.
- Obrigada. Eu morei muitos anos em uma cidade do interior, mas não lembrava estes detalhes da vida interiorana – disse com bom humor.
- Deixe-me ajudá-la com sua mala – ofereceu-se, Sílvia, ainda sorrindo.

Depois de mostrar todos os cantos e recantos de seu apartamento para Leonor, ficaram conversando a respeito de suas novas atribuições. Sílvia já a tinha colocado como substituta no resgate. Não pedira demissão. Como funcionária pública, pedira apenas uma licença para tratar de assuntos particulares. Apesar de estar apaixonada, continuava sendo muito cuidadosa em suas ações. Esperava sinceramente que não precisasse voltar a Valverde para trabalhar, mas...
Depois de explicar todos os detalhes necessários, dar nomes e endereços, relação dos pacientes e explicação sobre sua conduta em alguns casos mais complicados, Sílvia não resistiu e acabou por fazer a pergunta que a incomodava desde o seu último encontro.
- Leonor, você e o Dirceu estão tendo um caso?
Notou que Leonor ruborizou e pareceu não saber o que dizer. Quando conseguiu articular as palavras, respondeu sem encarar Sílvia:
- De onde você tirou esta idéia, Sílvia? – falou ainda meio sem jeito.
- Desculpe perguntar e deixá-la neste estado. Se você não quiser responder, tudo bem.
- Mas é que não existe nada entre nós.
- Já disse, Leonor. Se não quiser falar, eu entendo. Não precisa mentir.
- Não estou mentindo. Não há nada entre o Dirceu e eu.
- Então porque ele veio trazê-la nas duas vezes até aqui?
- Como você sabe que foi ele quem me trouxe?
- Acabei de ter certeza.
Leonor não sabia o que dizer. Não era boa atriz. Depois de alguns segundos tentando imaginar a resposta para as indagações de Sílvia, acabou por rebater:
- Na verdade, o Dirceu e eu somos muito bons amigos. Ele sabia que eu não tinha carro e ofereceu-se, nas duas ocasiões que você citou, para me dar carona. E eu não recusei. No fundo, não vou lhe mentir, eu gosto mais do Dirceu que ele de mim. Eu gostaria sim de ser mais que uma amiga para ele.
- E porque você aceitou trabalhar aqui, longe dele?
- Porque ele me pediu. Não consegui recusar o único favor que ele me pediu desde que nos conhecemos – respondeu, ainda sem encarar sua inquiridora.
Sílvia achou que suas últimas palavras não haviam sido muito sinceras, mas resolveu achar que podia ter sido apenas uma impressão.
- Bom, Leonor, você que sabe. Não serei eu a me intrometer em sua relação com ele. Mas saiba que se eu puder ajudar você, de alguma maneira, a ficar com ele, pode contar comigo.
Percebeu que os olhos de Leonor ficaram marejados de lágrimas. Apesar de achar uma reação meio exagerada, simpatizou com a grande sensibilidade da jovem.
- Obrigada, Sílvia. Nem sei o que dizer...
- Considere-me uma nova amiga, então.
- Eu posso usar o banheiro, por favor?
- A casa é toda sua. Fique à vontade – olhou-a pensativa, enquanto Leonor seguia para o banheiro secar as lágrimas.
Depois de jantarem a comida do Alvorada, comprada ao meio-dia e aquecida no microondas, surgiu a pergunta:
- Leonor, você se importaria de dormir aqui sozinha já esta noite?
- Não, claro que não – respondeu, até parecendo aliviada por não ter de dividir o mesmo teto Sílvia – Mas onde você vai passar a noite?
- Esqueceu da cabana de meu pai que eu lhe falei antes? De agora em diante este será o seu apartamento. Até minha mudança, ficarei na cabana. Assim, terá mais privacidade, concorda comigo?
- Sim... Isto é, você é quem sabe.
- Será melhor sim, para nós duas. Amanhã passo aqui para pegá-la e mostrar a cidade e as casas dos pacientes que terá de visitar durante a semana. Vamos aproveitar para apresentá-la a eles. O que acha?
- Acho ótimo!
- Outra pergunta: você sabe dirigir?
- Sei... Mas por que?
- Não pretendo levar minha caminhonete para São Paulo. Assim, vou precisar que alguém a ligue de vez em quando. Pode ficar com ela, se quiser. Temporariamente, é claro.
- Você pretende voltar, Sílvia?
- Não sei, Leonor. Espero que não. Só o tempo dirá... – respondeu.

Depois de combinarem o horário em que sairiam para o passeio, Sílvia confirmou que estaria com seu celular ligado na cabana, caso alguém ligasse a sua procura no apartamento. Saiu apressadamente, já com o telefone móvel na mão, para atender rapidamente, caso “certa pessoa” ligasse no trajeto até a cabana. Era a noite de sexta que ela estava esperando ansiosamente para o encontro telefônico com Roberto.
Não via a hora de chegar em casa, colocar-se na cama e ficar esperando sua ligação.

Estava deitada há quase uma hora, já perdendo as esperanças que ele ligasse, morrendo de sono, pois não dormira bem no plantão, quando o telefone tocou. Imediatamente atendeu e toda a ansiedade da espera foi deixada para trás.
- Sílvia! Já estava dormindo? – falou com medo de tê-la acordado.
- Claro que não. Eu estava esperando pelo seu telefonema... Como você tinha prometido.
- Eu tinha prometido?... – perguntou, sarcasticamente, fazendo que não lembrava nem sabia o que ela estava insinuando.
- Ah, esqueceu, é? Bem, então vou ter que vestir minha camisola de novo e dormir...
- Você está sem camisola? – perguntou, mostrando-se muito interessado.
- Pois é... Se você lembrasse o que tinha prometido na última vez que conversamos, saberia o por quê de eu estar como estou... – insinuou sensualmente
- É... Acho que estou lembrando vagamente...
Ela sentiu que o estava excitando no outro lado da linha.
- Então... Onde você está agora?
- Estou em casa, no quarto. Vim para cá especialmente prá te ligar e desejar uma boa noite...
- E você está vestido?
- Acabei de sair do banho e ainda estou enrolado na toalha.
Agora era a vez dela ficar excitada ao imaginá-lo meio molhado, recém-saído do banho, vestindo apenas sua toalha.
- E no que está pensando? – perguntou Sílvia, sentindo um arrepio percorrer-lhe o corpo. Estava começando a gostar destas sessões telefônicas.
- Acho que o mesmo que você...
- Então diga...
- Que eu gostaria de estar ai, ao teu lado, nesta cama, mordendo a tua orelha, beijando teu pescoço, descendo até teus seios, mergulhando minha cabeça entre eles , lambendo e mordendo teus mamilos, enquanto minhas mãos exploram as tuas curvas, afagam os teus cabelos ...Colocar minha boca sobre os teus lábios, deixando minha língua ir de encontro a tua, sentir o teu gosto, teu hálito perfumado...Ah, Sílvia...
- Beto, como eu queria que você estivesse aqui. Morro de saudade do teu corpo, da tua pele, dos teus pelos, dessa barba roçando a minha pele, meu pescoço, me arrepiando, me excitando... Só penso em te beijar por inteiro, começando por esta sua boca macia e quente, te tocar, sentir os teus músculos tensos à medida que o acaricio, ouvir teus gemidos de prazer enquanto toco teu sexo.
O clima de excitação entre eles era crescente. Cada frase aproximava-os mais e mais. A imaginação e o som de suas vozes eram como que mágicas. De olhos fechados, podiam imaginar um ao outro, tocando-se. Amando-se.
Entre gemidos e suspiros, Sílvia sentia sua intimidade toda pulsar, latejante, enquanto ouvia Roberto descrever com detalhes o que desejava fazer com seu corpo. Quando ele fazia uma pausa, ela também passava a tentá-lo com palavras que nunca pensara em dizer para homem algum, muito menos ao telefone. O que parecia impossível tornava-se realidade entre eles, naquele instante. Mais uma vez, tudo o mais ficava sem importância. Inexistente, abstrato...


- E então? Está tudo acertado? – perguntou a voz ansiosa do outro lado da linha.
- Você tem certeza de que quer continuar com isto? Eu estou me sentindo muito mal com esta situação. Hoje quase contei para ela o que você tinha armado.
- Você não é louca de fazer isto, Leonor. Se eu souber que você contou alguma coisa a ela, juro que você não conseguirá um emprego nunca mais, em lugar algum. Você sabe que eu conheço as pessoas certas para isso.
- Não! Eu não vou contar nada, mas ainda acho que está errado. Ela é uma pessoa ótima e não merece sofrer.
- Eu sei disso. Por isto estou agindo deste modo. Porque tenho certeza de que aquele idiota vai acabar com a vida dela. Só estarei apressando um pouco os acontecimentos. Agora se acalme e trate de dormir. Tudo vai acabar bem.
- Espero que sim... – disse Leonor, sem tanta certeza assim – Boa noite.
- Boa noite – respondeu Dirceu.

O dia parecia resplandecente naquela manhã de sábado. Sílvia acordou mais disposta do que nunca, lembrando a voz de Roberto, na noite anterior, a seduzi-la. Mal podia esperar para encontrá-lo pessoalmente na próxima semana. Agora faltava pouco...
Foi ao encontro de Leonor, que já a esperava na entrada do prédio. Parecia estar cansada. Dava a impressão de não ter dormido.
- Bom dia, Leonor! O que aconteceu? Não conseguiu dormir bem?
- Bom dia! Pois é... Acho que estranhei a cama.
- À tarde poderá aproveitar para descansar. Já te disse que teremos compromisso à noite, não?
- O jantar com seus amigos?
- Sim. Na casa do Franco, que será o seu colega de plantão às quintas, no resgate.
- É, vou precisar descansar, senão serei capaz de dormir durante o jantar.
- Vamos, então?
Seguiram de caminhonete no mesmo roteiro que Sílvia havia feito com Roberto. Conseguiram visitar três casas, das cinco que havia. Combinaram que terminariam o roteiro no domingo. Apesar do “festival de lamúrias”, todos acabaram por simpatizar com Leonor, que se mostrou muito agradável com seus novos pacientes. Sílvia lera o seu currículo. Vira que ela era bastante gabaritada e que seria uma excelente substituta. Ficara pensando no porquê de sua escolha de ficar no interior, mas pensou na sua própria, anos atrás, e decidiu ficar quieta.
Depois do almoço, deixou-a em casa e voltou para a cabana, onde precisava encaixotar alguns livros que levaria consigo. Já tirara do apartamento tudo que precisava para a mudança. Na verdade, eram apenas suas roupas, objetos de uso pessoal e algumas fotos de família. Tudo que mais precisava, no momento, estava esperando por ela, em São Paulo, a 260 quilômetros dali.
O jantar na casa de Franco foi bastante animado, apesar do motivo. Mais uma vez Leonor foi muito bem recebida pelos amigos de Sílvia. Até um admirador ela conseguiu. Franco convidou o dono da nova agencia de turismo que abrira há poucos meses em Valverde e que Sílvia conhecia apenas de vista. O nome dele era Jaderson Silveira, tinha cerca de 30 anos, boa aparência e muita simpatia. Pretendia fazer turismo ecológico na região. O negócio ainda era pequeno, mas ele estava entusiasmado com a procura de turistas interessados em conhecer a região de Brotas. Dono de um site bastante completo sobre o turismo local na web, começava a ampliar a divulgação de sua agência e a obter bons resultados. Apesar de Leonor esquivar-se de todas as cantadas dele, o rapaz era persistente e parecia ter ficado realmente interessado nela.

(continua...)





Hoje estive divagando a respeito dos romances que escrevo e sobre os que leio, depois de ver que "Um Amor no Deserto" está vencendo a enquete colocada na semana passada. Reconheço que depois do ERIK, ele é o meu preferido. Talvez pela pesquisa toda que fiz para chegar àquele resultado. Mas também, fiquei pensando, até que ponto estamos tão acostumados com estórias protagonizadas em outros países. Será que é só um hábito ou temos necessidade de imaginar o romance em lugares que não conhecemos e que excitam mais nossa imaginação? Então, lembrei da vez em que procurei a relações públicas da Editora Harlequim, através de e-mail, oferecendo minhas estórias, e recebi como resposta que eles não trabalham com autoras brasileiras. Fiquei chocada, pois ela nem sugeriu que eu mandasse meu material para análise (...Rosane sonhando...). Mas então, fico filosofando a respeito. Temos ótimas escritoras nacionais fazendo este mesmo tipo de romance, que encontramos aos milhares em bancas e sebos. Nenhum deles se passa no Brasil. Preconceito? Gosto das leitoras? Gostaria de saber a opinião de vocês.
Beijos!

3 comentários:

  1. Rosane, essa sua divagação já foi tema das minhas, sabe?! No começo eun não gostava de estórias que se passassem no Brasil. Mas minha opinião mudou, ainda bem. Eu compro muitos romances de banca e de vez enquando me deparo com autoras suspeitas, pois a edição não tem tradutor e nem publicação no exterior. Claramente é uma autora "fake". Quer um exemplo: Sophia Kaplan (http://www.romances.com.br/site2/autoras_detail.asp?codlivros=459&codautor=15) Li "A Cartomante" e adorei. Penso que essa autora é na verdade, brasileira. Talvez valesse a pena entrar em contato com a Nova Cultural. É um dos meus sonhos... Beijos!

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  2. Continuando: olha só a "biografia" da mulher:
    "Sophia Kaplan sempre teve paixão por livros. Um dia, experimentou começar a escrever e não parou mais. Hoje vive com o marido e seus gatos numa confortável casa nas montanhas, de onde tira a inspiração para seus romances. Estar em contato com a natureza e com os seres amados, escrevendo belas histórias de amor, é a vida que escolheu para si."
    Casa nas montanhas?! Poderia ser em Belo Horizonte ou na Rocinha!!! Vale a pena dar uma olhada na edição. Ah, vou mandar seu livro essa semana. Aguardo sua resposta no meu e-mail!

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  3. Pois é, Aline, pode ser que em outras editoras haja publicações de autoras brasileiras, mas que se escondem atrás de pseudônimos estrangeiros. Aliás, porque tu achas que ela é brasileira? Tem alguma dica na forma como escreve? Ou outra coisa?Fiquei curiosa. Vou ver se consigo achar este livro na internet. Mas a dúvida continua... Será que aceitamos melhor a autora estrangeira(ou pseudoestrangeiras) e as estórias passadas fora daqui?
    Um grande beijo, querida!

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Cantinho do Leitor
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