LUÍSA
Mircea
Castelo
Espero que tenham gostado de minhas escolhas para as personagens. Queria agradecer à Tânia, à Ly, à Carel e à Cris, minha amigas queridas, que mandaram várias sugestões de nomes de atrizes. A mais difícil foi a Luísa, pois ela não poderia ser menos bonita ou menos sensual que as outras amiguinhas vampiras.
Aguardem o próximo episódio... Beijos!!!
O que está acontecendo comigo? Por que disse aquelas bobagens para Robert? Praticamente disse que o queria, quando deveria desanimá-lo quanto a um relacionamento entre nós. Onde estava com a cabeça? Além disso, posso estar colocando a vida dele em risco caso recupere a memória completamente. Não sei até que ponto Cássia pode chegar para nos defender. Por outro lado, dói demais vê-lo deste jeito, irritado, confuso, achando que está enlouquecendo. O que vou fazer?
Estes pensamentos atordoavam Luísa em sua volta ao alto da colina. Enquanto isso, Robert, atirado em sua cama, ainda vestido como estava ao chegar em seu quarto, maldizia-se por estar fazendo papel de bobo. Não entendia por que Luísa estava agindo como uma adolescente, temerosa de entregar-se ao “lobo mau”. Tinha a sensação de estar enlouquecendo, apaixonado por uma lembrança e querendo desesperadamente que Luísa fosse esta mulher do passado.
Foi então que se lembrou de Victor. Se realmente Luísa e ele tivessem se relacionado há quatro anos, o menino poderia ser seu filho. Ficou alarmado ao pensar nesta possibilidade, que não era de todo impossível. Lembrou de suas fotos na mesma idade e a semelhança era grande. De repente, sentou-se na cama, ao se dar conta de que este fato talvez pudesse explicar o temor dela em deixar-se reconhecer. Tinha medo que ele pudesse reclamar o filho e tirá-lo dela. Isto realmente seria uma loucura... Mas logo se deitou novamente, tentando relaxar, com as mãos sob a cabeça. Não podia admitir que isso fosse verdade. Devia estar imaginando coisas demais. O alto teor de álcool daquele vinho tinha afetado sua habilidade mental. Antes de dormir, vencido pelo cansaço, decidiu que daria a ela o tempo que pediu, mas tinha dúvidas se conseguiria manter-se à distância. Talvez fosse obrigado a tomar certas atitudes para forçá-la a uma decisão... Adormeceu, finalmente.
“Era noite. Ouvia o som das ondas lambendo as areias da beira mar. Estava numa praia, sob a luz do luar, sentado no chão. Percebeu um vulto aproximando-se dele. Era uma mulher com o corpo coberto apenas por um véu branco transparente. Era Luísa? Ela andava em sua direção. Quando estava muito próxima, ajoelhou-se a sua frente, tirou o véu e beijou-o. Um beijo quase real. Sabia que tudo aquilo não passava de um sonho, mas não queria acordar. Ela estava ali, ao seu alcance, nua... De repente, quando ia abraçá-la, ela se afastou chorando, sem alarde. Ia consolá-la, quando percebeu que as lágrimas eram de sangue.
- Por que está chorando?
- Por nós... – ela respondeu.
Ao dizer isto, ele a viu ser arrastada para a escuridão por mãos invisíveis. Sentiu-se paralisado e impotente para ajudá-la. Começou a gritar seu nome...”
Robert acabou por acordar banhado em suor, angustiado, tentando entender o significado daquele pesadelo.
- Bom dia, Robert! - cumprimentou Will ao encontrar seu amigo no salão onde tomaria seu desjejum – O que aconteceu esta noite para ficar com estas olheiras e este ar de morto-vivo. Está querendo dispensar o maquiador?
- Não dormi muito bem – respondeu mal-humorado.
- Podemos rodar as suas tomadas amanhã, se não estiver se sentindo bem.
- Não. Ficarei bem depois de tomar um café forte. Não se preocupe comigo, Will... Obrigado.
Nunca vira o ator naquele estado, mesmo depois das maiores noitadas, mas resolveu aceitar suas desculpas e manter a sua planilha de trabalho.
GABRIELE
O amanhecer era recente e Gabriele já retornara ao seu quarto. Deixara Eric, depois de mais uma maravilhosa noite de amor, preparando-se para iniciar seu trabalho. Agora estava plenamente convencida das boas intenções do clã grego. Estava feliz e decidida a levar as boas novas às suas irmãs naquela noite. Ainda tinha certa preocupação sobre qual seria a reação de Cássia, mas eles haviam-na tranquilizado quanto a isso. Fechou as cortinas de sua janela com um sorriso ao verificar que o grupo de Will Fetter já começava a chegar e que, certamente Eric estaria entre eles. Mas ela podia esperar um pouco mais para encontrá-lo. Tinha de recuperar suas forças para mais tarde.
MONIQUE
Monique, curiosa em ver a movimentação daquela gente estranha invadindo os jardins de sua morada, colocou-se discretamente entre algumas das árvores frutíferas cultivadas ali. Lana ainda dormia, depois de uma noite de brincadeiras com seu amigo Victor, que ficara sob sua responsabilidade na noite passada para que Luísa pudesse encontrar-se com Robert. Sabia que a amiga estava passando por uma situação extremamente delicada, martirizada por não poder revelar seus sentimentos e angústias ao homem que amava. Muitas vezes pensou em aconselhá-la a jogar tudo para o alto e ficar com seu amor. De certa forma invejava a amiga, que conseguira viver uma grande paixão. Mas Cássia não permitiria que isso acontecesse de novo. Isto poderia significar perder a única chance de uma descendência. Victor e Lana eram esta esperança e nada poderia interferir nela. Não fosse isso, Luísa tinha chance de poder levar uma vida praticamente normal com Robert. Mas Cássia fizera questão de esconder-lhe alguns detalhes de suas origens e das possibilidades decorrentes delas. Tudo pelo medo desesperado da extinção da espécie. Aquele tipo de orgulho os tinha mantido afastados da raça humana. Considerava aquilo uma maldição e sonhava em levar uma vida normal, compartilhada com humanos.
Filosofando consigo mesma, enquanto tentava ver alguma coisa das atividades mais adiante, subitamente sentiu uma presença atrás de si. Instintivamente, aguçou seus sentidos e já se preparava para defender-se, quando ouviu uma voz grave e aveludada próxima ao seu ouvido.
- Gostaria de observar-nos mais de perto? Daqui não se consegue ver quase nada.
Com o coração disparado, virou-se rapidamente para ver quem a surprendera daquela maneira e quase deu de cabeça no amplo tórax do estranho. Seus olhos tiveram de elevar-se para que pudesse identificar o rosto do homem que lhe falava.
- Quem é você? – exclamou, dando um passo para trás, tentando esconder sua agitação diante dele. Seu rosto era quadrado e de maxilares largos. Sob a testa grande, um par de olhos negros a olhava intensamente, saboreando o efeito que estava provocando nela com sua presença. A boca e lábios finos, mas bem desenhada e sensual, compunha um belo visual com o queixo partido.
- Desculpe se a assustei, mas não pude resistir ao vê-la aqui sozinha e tão curiosa. Meu nome é Cristopher e sou um dos atores que está invadindo seus jardins e tirando o sossego de sua família... E você é?
- Eu sou Monique – respondeu com voz trêmula – Você sempre costuma chegar assim sorrateiro, silenciosamente?
- Não. Geralmente eu sou mais direto, principalmente com mulheres bonitas como você.
Ele lhe pareceu bem convencido. Gostaria de poder ignorá-lo, mas a sua presença e o seu olhar lhe provocavam um calor incomum através do corpo e uma estranha inquietude.
- Você não deveria estar trabalhando com os outros?
- Ainda não iniciaram a filmagem de minhas cenas. Estão apenas fazendo tomadas do cenário por enquanto. Não gostaria de ir até lá e ver tudo de perto? Dar-me-ia grande prazer – disse de forma insinuante, sem desviar um milímetro sequer aqueles olhos penetrantes dos dela..
- Infelizmente não posso. Tenho tarefas a cumprir e uma filha para cuidar – falou numa tentativa de esfriar o clima de sedução que ele estava criando
- Tem uma filha? Gostaria de conhecê-la. Vamos ficar um bom tempo por aqui e certamente nos encontraremos com frequência.
- Não conte muito com isso...
- Pois eu tenho certeza que sim ... – afirmou, pegando sua mão repentinamente e beijando a sua palma, o que lhe provocou um arrepio agradável que correu do braço a nuca – Conto com isso.
Aparvalhada com as sensações que ele estava provocando, retirou sua mão da dele bruscamente e disse, antes de virar-se e sair pisando duro na direção de uma das portas secundárias da fortaleza:
- Adeus.
- Até breve... Muito breve... – murmurou agradavelmente impressionado com a graciosidade no caminhar de Monique, mesmo quando pretendia parecer durona.
Ela o ouviu, mesmo a distância, e percebeu que seria muito difícil manter-se afastada dele nos próximos dias.
LISA
Lisa Weber chegara no dia anterior para juntar-se aos colegas que atuavam na produção dirigida por Fetter. Detestou o hotel, os serviços de quarto e, sobretudo a falta de vida noturna, segundo já fora advertida por um dos assistentes da maquiagem e o cabeleireiro. De qualquer forma agradecia aos céus por não ter ficado em um dos trailers que abrigavam uma boa parte da equipe. Concluiu de imediato que a cidade não tinha a mínima infra-estrutura para recebê-los. Imaginava onde estaria Fetter quando escolheu aquele fim de mundo para filmar. Não fosse pela presença de Robert, que sempre sabia como animar uma locação, já teria desistido de tudo. Também ficara agradavelmente surpresa com Eric Paole. Não o conhecia pessoalmente, mas gostou do seu jeito e de sua aparência. Teve a manhã para descansar da viagem. Chegou ao castelo no início da tarde, juntamente com o pessoal do catering que levou o almoço para o grupo que lá estava.
- Lisa! Que prazer, minha querida! – exagerou Will na recepção à atriz que ele considerava antipática e esnobe, mas que, tinha de reconhecer, sabia como atuar divinamente.
- Não vejo a hora de acabar minhas cenas e ir embora daqui.
- Que bom que você aprovou minha escolha, meu anjo – ironizou, com um sorriso falso no rosto.
- Onde está o Robert? – perguntou, ignorando a ironia do diretor – Só ele pode salvar o meu dia.
- Talvez esteja descansando um pouco. Ele sabe que terá cenas com você hoje. Deve estar se preparando – continuou com as ironias.
Ela o fulminou com o olhar.
- Ainda não sei por que você me aceitou em seu filme.
- O produtor me obrigou... – esclareceu sério, para logo em seguida esgaçar um meio sorriso e completar – Você sabe que a convidei porque reconheço o seu ótimo desempenho como atriz... Apesar do seu mau humor.
- Sempre gostei da sua sinceridade, Will – disse, simulando um sorriso de satisfação.
- Lisa! – a voz rouca do ator principal ecoou nos jardins – Que bom que você chegou.
Só Robert para fazer o milagre de tornar Lisa um pouco mais semelhante aos outros seres humanos, pensou Will, revirando os olhos para cima, entediado.
Robert aproximou-se dela e a abraçou carinhosamente, sendo correspondido com um beijo na boca. Continuaram conversando, de braços dados, enquanto ele a levava a um passeio pelos jardins. Lisa nem notou quando ele lançou um olhar de esguelha para o alto, na direção de uma das janelas do castelo, onde alguém se escondeu rapidamente atrás de uma cortina de veludo.
Luísa o observava a algum tempo, achando que não havia sido notada. Perguntava-se sobre quem seria aquela mulher que era tão bem recebida por Robert. Um estranho sentimento envenenava seu coração. Pensar nele com outras mulheres não a tinha deixado tão ferida quanto vê-lo com uma. Subitamente lembrou-se de Victor. Distraída como estava, não percebeu que ele saíra do quarto onde estava com ela. Percorreu o ambiente com os olhos atentos, na esperança de achá-lo escondido em algum lugar, como às vezes fazia. Certamente ele sentira a movimentação de estranhos no exterior. Curioso como era, provavelmente gostaria de averiguar pessoalmente o que estava acontecendo. Tomara que estivesse errada.
- Victor! – gritou ao sair de seus aposentos, na esperança de encontrá-lo ainda dentro de casa. Foi em todos os locais possíveis de esconderijo para um garoto de quatro anos, mas não teve sucesso. Não poderia estar nos andares superiores ou nos porões, pois estes eram trancados pela falta de uso. Só poderia estar lá fora. Lembrou da última vez em que Victor quase se fora devido a sua arteirice. Cruzou com Monique que vinha entrando por uma das entradas secundárias.
- Monique! Você viu Victor lá fora?
- Não... O que houve? Ele está aprontando de novo?
- É o que parece. Descuidei-me alguns instantes e ele desapareceu do quarto.
- Imagino o que a fez descuidar-se – comentou com ar crítico.
- Por favor, sem reprimendas – rogou, já afogada em culpa – Ajude-me a procurá-lo. Onde está Lana?
- Está dormindo. Eu ajudo você, é claro. Eu cubro a parte da frente e você os fundos.
- Certo. Obrigada.
Separaram-se para o início das buscas ao travesso. Tentava chamá-lo num grito sussurrado, através dos arbustos, para não chamar a atenção de indesejáveis. Depois de alguns minutos, já pensava em ir atrás de Monique, esperando que ela tivesse tido mais sorte e que já estivesse de posse do fujão, quando ouviu uma voz masculina sua conhecida a poucos metros de onde se encontrava.
- A sua mãe deve estar preocupada com você, Victor. Onde ela está? – falava com extrema doçura.
- Este tipo de mãe não devia ter filhos. Deixar uma criança solta por aqui é um perigo – disse uma voz entediada de mulher.
Luísa engoliu em seco as palavras maldosas da outra e a sua vontade de esmurrá-la, e conseguiu dizer com voz firme e imperiosa:
- Victor, venha comigo.
Dois homens a olharam com um brilho de admiração ao ouvirem-na. Victor e Robert.
- Mãe! – exclamou o menino sem medo de censura, correndo para ela.
Ela abaixou-se até o nível de poder olhá-lo nos olhos, colocando suas mãos sobre os ombros de filho.
- Porque você saiu sem me dizer aonde ia? Mamãe ficou preocupada – disse com calma e suavidade na voz, enquanto tentava recompor-se do desespero interior.
- Tem umas pessoas diferentes por aqui. Queria ver... – respondeu baixando a cabecinha, olhando para os próprios pés.
- Ele estava apenas curioso – defendeu-o Robert, recebendo um olhar fulminante de Luísa, que o fez pensar se era apenas por sua interferência no caso de Victor ou se ela o repreendia por algo mais. Sorriu internamente, imaginando se a presença de Lisa já estava causando algum efeito.
- Você a conhece, querido? – perguntou a atriz, enfatizando o adjetivo.
- Vamos, Victor. Temos que conversar – disse austera, quando sentiu uma mão forte segurá-la pelo braço.
- Não seja muito severa com ele. É apenas um garotinho esperto e curioso – rogou Robert.
- Quem é você para me dar conselhos sobre a educação de meu filho? – retrucou com indignação.
- Ainda não tenho certeza até onde podem ir meus direitos neste caso.
Ele notou a rápida mudança de indignação para medo nos olhos dela, o que durou frações de segundo. Logo, eles voltaram a expressar frialdade.
- Direito algum. Solte o meu braço... Por favor – pediu, quase tornando visíveis as fagulhas ao encará-lo.
Ele ainda continuou a olhá-la intensamente, a procura de mais algum indício de que ele poderia estar certo quanto a suas desconfianças, mas ela já colocara um escudo entre eles. Soltou-a, desfazendo lentamente o nó em torno de seu braço.
Luísa virou-se, pegando Victor pela mão, saindo da vista do casal em passos decididos.
- O que está acontecendo aqui? Será que perdi alguma coisa? – perguntou Lisa com um sorrisinho irônico.
- Nada. Não está acontecendo nada – respondeu asperamente – Melhor voltarmos para junto dos outros.
Largou Lisa, atônita com a reação dele, sozinha em meio ao jardim. Teve de sair andando em passos rápidos para poder alcançá-lo. Assim que ele se acalmasse ia querer saber exatamente o que estava se passando. Estaria ele sendo finalmente fisgado por uma provinciana? Gargalhou para si mesma, pensando na fama de conquistador de Robert, de quem já fora vítima no passado. Agora o considerava apenas um bom e divertido amigo. Mas ainda duvidava que ele algum dia pudesse ser conquistado por alguém.
Estes pensamentos atordoavam Luísa em sua volta ao alto da colina. Enquanto isso, Robert, atirado em sua cama, ainda vestido como estava ao chegar em seu quarto, maldizia-se por estar fazendo papel de bobo. Não entendia por que Luísa estava agindo como uma adolescente, temerosa de entregar-se ao “lobo mau”. Tinha a sensação de estar enlouquecendo, apaixonado por uma lembrança e querendo desesperadamente que Luísa fosse esta mulher do passado.
Foi então que se lembrou de Victor. Se realmente Luísa e ele tivessem se relacionado há quatro anos, o menino poderia ser seu filho. Ficou alarmado ao pensar nesta possibilidade, que não era de todo impossível. Lembrou de suas fotos na mesma idade e a semelhança era grande. De repente, sentou-se na cama, ao se dar conta de que este fato talvez pudesse explicar o temor dela em deixar-se reconhecer. Tinha medo que ele pudesse reclamar o filho e tirá-lo dela. Isto realmente seria uma loucura... Mas logo se deitou novamente, tentando relaxar, com as mãos sob a cabeça. Não podia admitir que isso fosse verdade. Devia estar imaginando coisas demais. O alto teor de álcool daquele vinho tinha afetado sua habilidade mental. Antes de dormir, vencido pelo cansaço, decidiu que daria a ela o tempo que pediu, mas tinha dúvidas se conseguiria manter-se à distância. Talvez fosse obrigado a tomar certas atitudes para forçá-la a uma decisão... Adormeceu, finalmente.
“Era noite. Ouvia o som das ondas lambendo as areias da beira mar. Estava numa praia, sob a luz do luar, sentado no chão. Percebeu um vulto aproximando-se dele. Era uma mulher com o corpo coberto apenas por um véu branco transparente. Era Luísa? Ela andava em sua direção. Quando estava muito próxima, ajoelhou-se a sua frente, tirou o véu e beijou-o. Um beijo quase real. Sabia que tudo aquilo não passava de um sonho, mas não queria acordar. Ela estava ali, ao seu alcance, nua... De repente, quando ia abraçá-la, ela se afastou chorando, sem alarde. Ia consolá-la, quando percebeu que as lágrimas eram de sangue.
- Por que está chorando?
- Por nós... – ela respondeu.
Ao dizer isto, ele a viu ser arrastada para a escuridão por mãos invisíveis. Sentiu-se paralisado e impotente para ajudá-la. Começou a gritar seu nome...”
Robert acabou por acordar banhado em suor, angustiado, tentando entender o significado daquele pesadelo.
- Bom dia, Robert! - cumprimentou Will ao encontrar seu amigo no salão onde tomaria seu desjejum – O que aconteceu esta noite para ficar com estas olheiras e este ar de morto-vivo. Está querendo dispensar o maquiador?
- Não dormi muito bem – respondeu mal-humorado.
- Podemos rodar as suas tomadas amanhã, se não estiver se sentindo bem.
- Não. Ficarei bem depois de tomar um café forte. Não se preocupe comigo, Will... Obrigado.
Nunca vira o ator naquele estado, mesmo depois das maiores noitadas, mas resolveu aceitar suas desculpas e manter a sua planilha de trabalho.
GABRIELE
O amanhecer era recente e Gabriele já retornara ao seu quarto. Deixara Eric, depois de mais uma maravilhosa noite de amor, preparando-se para iniciar seu trabalho. Agora estava plenamente convencida das boas intenções do clã grego. Estava feliz e decidida a levar as boas novas às suas irmãs naquela noite. Ainda tinha certa preocupação sobre qual seria a reação de Cássia, mas eles haviam-na tranquilizado quanto a isso. Fechou as cortinas de sua janela com um sorriso ao verificar que o grupo de Will Fetter já começava a chegar e que, certamente Eric estaria entre eles. Mas ela podia esperar um pouco mais para encontrá-lo. Tinha de recuperar suas forças para mais tarde.
MONIQUE
Monique, curiosa em ver a movimentação daquela gente estranha invadindo os jardins de sua morada, colocou-se discretamente entre algumas das árvores frutíferas cultivadas ali. Lana ainda dormia, depois de uma noite de brincadeiras com seu amigo Victor, que ficara sob sua responsabilidade na noite passada para que Luísa pudesse encontrar-se com Robert. Sabia que a amiga estava passando por uma situação extremamente delicada, martirizada por não poder revelar seus sentimentos e angústias ao homem que amava. Muitas vezes pensou em aconselhá-la a jogar tudo para o alto e ficar com seu amor. De certa forma invejava a amiga, que conseguira viver uma grande paixão. Mas Cássia não permitiria que isso acontecesse de novo. Isto poderia significar perder a única chance de uma descendência. Victor e Lana eram esta esperança e nada poderia interferir nela. Não fosse isso, Luísa tinha chance de poder levar uma vida praticamente normal com Robert. Mas Cássia fizera questão de esconder-lhe alguns detalhes de suas origens e das possibilidades decorrentes delas. Tudo pelo medo desesperado da extinção da espécie. Aquele tipo de orgulho os tinha mantido afastados da raça humana. Considerava aquilo uma maldição e sonhava em levar uma vida normal, compartilhada com humanos.
Filosofando consigo mesma, enquanto tentava ver alguma coisa das atividades mais adiante, subitamente sentiu uma presença atrás de si. Instintivamente, aguçou seus sentidos e já se preparava para defender-se, quando ouviu uma voz grave e aveludada próxima ao seu ouvido.
- Gostaria de observar-nos mais de perto? Daqui não se consegue ver quase nada.
Com o coração disparado, virou-se rapidamente para ver quem a surprendera daquela maneira e quase deu de cabeça no amplo tórax do estranho. Seus olhos tiveram de elevar-se para que pudesse identificar o rosto do homem que lhe falava.
- Quem é você? – exclamou, dando um passo para trás, tentando esconder sua agitação diante dele. Seu rosto era quadrado e de maxilares largos. Sob a testa grande, um par de olhos negros a olhava intensamente, saboreando o efeito que estava provocando nela com sua presença. A boca e lábios finos, mas bem desenhada e sensual, compunha um belo visual com o queixo partido.
- Desculpe se a assustei, mas não pude resistir ao vê-la aqui sozinha e tão curiosa. Meu nome é Cristopher e sou um dos atores que está invadindo seus jardins e tirando o sossego de sua família... E você é?
- Eu sou Monique – respondeu com voz trêmula – Você sempre costuma chegar assim sorrateiro, silenciosamente?
- Não. Geralmente eu sou mais direto, principalmente com mulheres bonitas como você.
Ele lhe pareceu bem convencido. Gostaria de poder ignorá-lo, mas a sua presença e o seu olhar lhe provocavam um calor incomum através do corpo e uma estranha inquietude.
- Você não deveria estar trabalhando com os outros?
- Ainda não iniciaram a filmagem de minhas cenas. Estão apenas fazendo tomadas do cenário por enquanto. Não gostaria de ir até lá e ver tudo de perto? Dar-me-ia grande prazer – disse de forma insinuante, sem desviar um milímetro sequer aqueles olhos penetrantes dos dela..
- Infelizmente não posso. Tenho tarefas a cumprir e uma filha para cuidar – falou numa tentativa de esfriar o clima de sedução que ele estava criando
- Tem uma filha? Gostaria de conhecê-la. Vamos ficar um bom tempo por aqui e certamente nos encontraremos com frequência.
- Não conte muito com isso...
- Pois eu tenho certeza que sim ... – afirmou, pegando sua mão repentinamente e beijando a sua palma, o que lhe provocou um arrepio agradável que correu do braço a nuca – Conto com isso.
Aparvalhada com as sensações que ele estava provocando, retirou sua mão da dele bruscamente e disse, antes de virar-se e sair pisando duro na direção de uma das portas secundárias da fortaleza:
- Adeus.
- Até breve... Muito breve... – murmurou agradavelmente impressionado com a graciosidade no caminhar de Monique, mesmo quando pretendia parecer durona.
Ela o ouviu, mesmo a distância, e percebeu que seria muito difícil manter-se afastada dele nos próximos dias.
LISA
Lisa Weber chegara no dia anterior para juntar-se aos colegas que atuavam na produção dirigida por Fetter. Detestou o hotel, os serviços de quarto e, sobretudo a falta de vida noturna, segundo já fora advertida por um dos assistentes da maquiagem e o cabeleireiro. De qualquer forma agradecia aos céus por não ter ficado em um dos trailers que abrigavam uma boa parte da equipe. Concluiu de imediato que a cidade não tinha a mínima infra-estrutura para recebê-los. Imaginava onde estaria Fetter quando escolheu aquele fim de mundo para filmar. Não fosse pela presença de Robert, que sempre sabia como animar uma locação, já teria desistido de tudo. Também ficara agradavelmente surpresa com Eric Paole. Não o conhecia pessoalmente, mas gostou do seu jeito e de sua aparência. Teve a manhã para descansar da viagem. Chegou ao castelo no início da tarde, juntamente com o pessoal do catering que levou o almoço para o grupo que lá estava.
- Lisa! Que prazer, minha querida! – exagerou Will na recepção à atriz que ele considerava antipática e esnobe, mas que, tinha de reconhecer, sabia como atuar divinamente.
- Não vejo a hora de acabar minhas cenas e ir embora daqui.
- Que bom que você aprovou minha escolha, meu anjo – ironizou, com um sorriso falso no rosto.
- Onde está o Robert? – perguntou, ignorando a ironia do diretor – Só ele pode salvar o meu dia.
- Talvez esteja descansando um pouco. Ele sabe que terá cenas com você hoje. Deve estar se preparando – continuou com as ironias.
Ela o fulminou com o olhar.
- Ainda não sei por que você me aceitou em seu filme.
- O produtor me obrigou... – esclareceu sério, para logo em seguida esgaçar um meio sorriso e completar – Você sabe que a convidei porque reconheço o seu ótimo desempenho como atriz... Apesar do seu mau humor.
- Sempre gostei da sua sinceridade, Will – disse, simulando um sorriso de satisfação.
- Lisa! – a voz rouca do ator principal ecoou nos jardins – Que bom que você chegou.
Só Robert para fazer o milagre de tornar Lisa um pouco mais semelhante aos outros seres humanos, pensou Will, revirando os olhos para cima, entediado.
Robert aproximou-se dela e a abraçou carinhosamente, sendo correspondido com um beijo na boca. Continuaram conversando, de braços dados, enquanto ele a levava a um passeio pelos jardins. Lisa nem notou quando ele lançou um olhar de esguelha para o alto, na direção de uma das janelas do castelo, onde alguém se escondeu rapidamente atrás de uma cortina de veludo.
Luísa o observava a algum tempo, achando que não havia sido notada. Perguntava-se sobre quem seria aquela mulher que era tão bem recebida por Robert. Um estranho sentimento envenenava seu coração. Pensar nele com outras mulheres não a tinha deixado tão ferida quanto vê-lo com uma. Subitamente lembrou-se de Victor. Distraída como estava, não percebeu que ele saíra do quarto onde estava com ela. Percorreu o ambiente com os olhos atentos, na esperança de achá-lo escondido em algum lugar, como às vezes fazia. Certamente ele sentira a movimentação de estranhos no exterior. Curioso como era, provavelmente gostaria de averiguar pessoalmente o que estava acontecendo. Tomara que estivesse errada.
- Victor! – gritou ao sair de seus aposentos, na esperança de encontrá-lo ainda dentro de casa. Foi em todos os locais possíveis de esconderijo para um garoto de quatro anos, mas não teve sucesso. Não poderia estar nos andares superiores ou nos porões, pois estes eram trancados pela falta de uso. Só poderia estar lá fora. Lembrou da última vez em que Victor quase se fora devido a sua arteirice. Cruzou com Monique que vinha entrando por uma das entradas secundárias.
- Monique! Você viu Victor lá fora?
- Não... O que houve? Ele está aprontando de novo?
- É o que parece. Descuidei-me alguns instantes e ele desapareceu do quarto.
- Imagino o que a fez descuidar-se – comentou com ar crítico.
- Por favor, sem reprimendas – rogou, já afogada em culpa – Ajude-me a procurá-lo. Onde está Lana?
- Está dormindo. Eu ajudo você, é claro. Eu cubro a parte da frente e você os fundos.
- Certo. Obrigada.
Separaram-se para o início das buscas ao travesso. Tentava chamá-lo num grito sussurrado, através dos arbustos, para não chamar a atenção de indesejáveis. Depois de alguns minutos, já pensava em ir atrás de Monique, esperando que ela tivesse tido mais sorte e que já estivesse de posse do fujão, quando ouviu uma voz masculina sua conhecida a poucos metros de onde se encontrava.
- A sua mãe deve estar preocupada com você, Victor. Onde ela está? – falava com extrema doçura.
- Este tipo de mãe não devia ter filhos. Deixar uma criança solta por aqui é um perigo – disse uma voz entediada de mulher.
Luísa engoliu em seco as palavras maldosas da outra e a sua vontade de esmurrá-la, e conseguiu dizer com voz firme e imperiosa:
- Victor, venha comigo.
Dois homens a olharam com um brilho de admiração ao ouvirem-na. Victor e Robert.
- Mãe! – exclamou o menino sem medo de censura, correndo para ela.
Ela abaixou-se até o nível de poder olhá-lo nos olhos, colocando suas mãos sobre os ombros de filho.
- Porque você saiu sem me dizer aonde ia? Mamãe ficou preocupada – disse com calma e suavidade na voz, enquanto tentava recompor-se do desespero interior.
- Tem umas pessoas diferentes por aqui. Queria ver... – respondeu baixando a cabecinha, olhando para os próprios pés.
- Ele estava apenas curioso – defendeu-o Robert, recebendo um olhar fulminante de Luísa, que o fez pensar se era apenas por sua interferência no caso de Victor ou se ela o repreendia por algo mais. Sorriu internamente, imaginando se a presença de Lisa já estava causando algum efeito.
- Você a conhece, querido? – perguntou a atriz, enfatizando o adjetivo.
- Vamos, Victor. Temos que conversar – disse austera, quando sentiu uma mão forte segurá-la pelo braço.
- Não seja muito severa com ele. É apenas um garotinho esperto e curioso – rogou Robert.
- Quem é você para me dar conselhos sobre a educação de meu filho? – retrucou com indignação.
- Ainda não tenho certeza até onde podem ir meus direitos neste caso.
Ele notou a rápida mudança de indignação para medo nos olhos dela, o que durou frações de segundo. Logo, eles voltaram a expressar frialdade.
- Direito algum. Solte o meu braço... Por favor – pediu, quase tornando visíveis as fagulhas ao encará-lo.
Ele ainda continuou a olhá-la intensamente, a procura de mais algum indício de que ele poderia estar certo quanto a suas desconfianças, mas ela já colocara um escudo entre eles. Soltou-a, desfazendo lentamente o nó em torno de seu braço.
Luísa virou-se, pegando Victor pela mão, saindo da vista do casal em passos decididos.
- O que está acontecendo aqui? Será que perdi alguma coisa? – perguntou Lisa com um sorrisinho irônico.
- Nada. Não está acontecendo nada – respondeu asperamente – Melhor voltarmos para junto dos outros.
Largou Lisa, atônita com a reação dele, sozinha em meio ao jardim. Teve de sair andando em passos rápidos para poder alcançá-lo. Assim que ele se acalmasse ia querer saber exatamente o que estava se passando. Estaria ele sendo finalmente fisgado por uma provinciana? Gargalhou para si mesma, pensando na fama de conquistador de Robert, de quem já fora vítima no passado. Agora o considerava apenas um bom e divertido amigo. Mas ainda duvidava que ele algum dia pudesse ser conquistado por alguém.
Mircea
Castelo
Espero que tenham gostado de minhas escolhas para as personagens. Queria agradecer à Tânia, à Ly, à Carel e à Cris, minha amigas queridas, que mandaram várias sugestões de nomes de atrizes. A mais difícil foi a Luísa, pois ela não poderia ser menos bonita ou menos sensual que as outras amiguinhas vampiras.
Aguardem o próximo episódio... Beijos!!!
PS: Meus agradecimentos à Tânia que mandou as fotos do Castelo de Bran e da cidade onde ele se localiza na Romênia, em que foram inspirados Mircea e o castelo das vampiras. Beijos, querida!
Oi,Rosane!!!!!
ResponderExcluirSou a primeira a comentar de novo,rsrs.
Não demora de postar pois já estava tendo um piriri de ansiedade.
Este capitulo está maravilhoso e a história está ficando cada vez mais emocionante e excitante e não dá para perder nada.
Bjs,
Cris.
Carel disse:
ResponderExcluirRo!!! Adorei as escolhas!!! Faltou o cristopher... fiquei matutanto e não consegui me lembrar de ninguem com a descrição dele...Well... vou chover no molhado, mas a estória está ferveeeennnndo...kkkk. Aquela hora q ele segurou ela e falou q não sabia até onde ia os direitos dele sobre o guri.. eu quase cai da cadeira..hehehehe Que suspense mulher!!!!! Muito, muito,muito,muito,muito bom mesmo!!!Continue q estamos no aguardo....bjs
Ahhhhhhhhh! Que barato Rosane! Essa história fica mais atraente a cada capítulo! Acho que juntando todos, mais os da primeira parte já dá um bom material para um livro hein querida! Wow! Que fantástica! Parabéns querida!
ResponderExcluirRô! Demorei mas cehguei! Estava enrolada com aniversário da filha nº2, sabe como é...
ResponderExcluirMenina, essa história está me fazendo comer os cotovelos de curiosidade! Estou em palpos de aranha só de imaginar a verdade sobre Victor e Luísa vindo à tona!
Adorei os rostos escolhidos para nossa heroína e suas irmãs!
Parabéns, vc continua dando show, minha escritora predileta!
Bjim♥
Puxa, amiga, mas essas mulheres tinham que ser assim tb tão bonitas? Eu, aqui, cobiçando um vampirão desses pra mim, mas assim é sacanagem...
ResponderExcluirJá vi que Monique vai se dar bem...
Vixe, a Lisa é um entojo. Chega já se achando a tal. Pior pra ela que não sabe enxergar o encanto de uma cidade mais afastada, eu adoooooooooooro, se pudesse, viveria numa cidade assim...
Beijinhos