sábado, 10 de outubro de 2009

A Repórter - Final

Na manhã seguinte, Mike estava em seu escritório, junto à tela do computador, lendo as últimas fofocas dos semanários locais, quando se deparou com a coluna de Lauren. Ficou pensando qual seria a reação de Gerry ao colocar os olhos sobre ela. Era melhor mantê-lo na ignorância. “Ainda bem que ele não tem o hábito de entrar na Internet”, pensou, tranquilizando-se. Foi só acabar de ter este pensamento, quando ouviu a porta abrir-se. Virou-se e viu Gerry entrando e olhando curioso para o monitor de Mike. Rapidamente o controle para minimizar a tela foi clicado.
- O que houve? O que tem aí que eu não posso ver?
- O quê? Do que você está falando? – perguntou Mike, tentando disfarçar.
- Eu vi que você desligou a tela para eu não ver alguma coisa. Não tente me enganar, Mike. Se você não me disser, vou acabar descobrindo do mesmo jeito.
- Está bem – disse maximizando a imagem novamente.
Gerry aproximou-se e começou a ler. Era a coluna de Lauren O’Brien. Seu rosto foi transfigurando-se na medida em que lia os comentários a respeito de sua entrevista. Não podia acreditar que ela tivesse tido a coragem de voltar a insinuar aquelas coisas a seu respeito. Ela baseou-se na resposta da última pergunta. Mas ela ia ver com quem estava lidando.
- Gerry! Aonde você vai? - gritou Mike, tentando evitar que o amigo fizesse uma besteira - Não se meta com este tipo de imprensa. Só vai dar chance a eles de enlamear muito mais a sua imagem. Não vale à pena.
- Não se preocupe. Sei muito bem o que estou fazendo.

Lauren sentia-se finalmente liberta ao deixar o departamento de recursos humanos do LAAR. Acabara de resolver os tramites legais de sua demissão, dando graças aos céus de não ter encontrado com Frederick. Talvez tivesse o dedo de Marian ali. Certamente ela tentaria mantê-lo ocupado enquanto Lauren permanecesse no edifício da empresa. Finalmente, podia respirar novamente. Nunca mais se deixaria levar pela vontade de um editor. Continuaria mandando seu currículo para outros jornais e revistas. Tinha certeza de que conseguiria um emprego melhor e mais saudável que este último. Caminhando até o estacionamento onde estava seu carro, teve a sensação de estar sendo seguida. Temeu que fosse o seu ex-editor. Aumentou a velocidade de suas passadas até alcançar seu destino. Não tinha coragem de olhar para trás. Entrou no veículo e dirigiu até sua casa. No meio do caminho, não notando nenhum tipo de perseguição, relaxou e seguiu certa de que estava só. Estacionou o carro na garagem do prédio, pegou a caixa contendo seus pertences pessoais deixada por Marian na portaria e encaminhou-se para o elevador. Mal este começou a subir, a porta abriu no andar térreo. Algum outro morador devia estar chegando em casa. Não costumava encontrar-se muito com outros condôminos devido aos seus horários irregulares de jornalista. Quando levantou os olhos para ver quem havia entrado, sentiu-se entontecer. Era ele. “Gerard Burns!... Ai, meu Deus!!”
Ele esperou que a porta se fechasse e encurralou-a, mais uma vez junto à parede, nos fundos do elevador, deixando-a totalmente sem ação. Mesmo sem tocá-la, seu olhar furioso e sua presença física deixaram-na sem ação.
- Gerard! O que está fazendo aqui?
- Você não tem idéia do porquê de minha presença?
- Se é sobre a minha última coluna, sobre a nossa entrevista, não disse nada demais.
- Não disse nada demais? Você praticamente afirmou que sou gay!
Ela ficou surpresa com a afirmação dele. Não era verdade, a não ser que...
- Não escrevi nada disso. Acho que está havendo algum engano... – ela tentava distraí-lo para tentar acalmá-lo, mas ele parecia irascível. Será que Frederick tinha tido a coragem de modificar o seu texto, mantendo a sua autoria? A porta do elevador finalmente abriu-se e ele a puxou pelo braço, na direção do corredor.
- Muito bem... Onde você mora? – ele tentava falar num tom baixo de voz.
- Você acha que vou deixá-lo entrar na minha casa? Se tiver alguma reclamação, dirija-se à redação e fale com o editor-chefe, Frederick.
- O seu amante?
- Ele não é meu amante!
- Ah, então ele não vai ficar chateado se eu fizer uma demonstração ao vivo de minha masculinidade para a sua repórter difamadora
- O quê? O que você está dizendo?
- Vamos logo para o seu apartamento antes que eu comece a fazer um escândalo aqui no corredor dizendo todos os adjetivos que já imaginei pensando em você e no que escreveu a meu respeito.
- Como se atreve?
- Sou eu quem pergunto como você se atreve a difamar alguém que está tentando trabalhar honestamente. E eu que cheguei a pensar que... Deixa prá lá - Por alguns instantes ela notou uma nuvem de tristeza rondando a sua face, mas logo a fúria voltou – Então, vai querer um escândalo aqui e agora?
- Está bem! Acalme-se! É aqui – identificou a porta de seu apartamento, enquanto procurava as chaves nervosamente. Finalmente as encontrou, mas estava tão perturbada que não conseguia enfiá-la na fechadura. Talvez conseguisse acalmá-lo, conversando em seu apartamento. Precisava saber o que Frederick escrevera. Mal abriu a porta, Gerard empurrou-a para dentro, sem largar o seu braço, e fechou a entrada com certa força. Imprensou-a contra a porta, passou os braços em torno do seu corpo e beijou-a violentamente. Lauren estava perplexa com o que estava acontecendo. Começou a debater-se, numa tentativa de escapar daquele abraço truculento, mas era impossível. Ele era quase o dobro de seu tamanho. De repente, a boca de Gerard diminuiu a pressão sobre a sua. Ele afastou o rosto, de forma a olhá-la dentro dos olhos, por alguns instantes. Ela o sentia tenso e tremulo, mas parecia que a raiva estava passando. Agora seu olhar apresentava outro tipo de brilho. Um brilho selvagem, demonstrando um desejo crescente. Lauren não conseguia lutar contra aquela sensação, pois ela também começava a desejá-lo. Não conseguia ficar com raiva dele, apesar da violência com que ele a estava tratando. Ele tinha o direito de ficar assim. Mexeram com seus brios. Queria dizer-lhe que não escrevera nada que o desabonasse, mas achou que ele não acreditaria, pelo menos naquele momento. Tinha apenas vontade de beijá-lo e abraçá-lo...
Mais uma vez, Gerard aproximou seus lábios da boca de Lauren e a beijou. Desta vez com desejo e sofreguidão. Não mais com estupidez. E foi correspondido.
Suas mãos passaram a acariciá-la por todo o seu corpo, estudando suas formas, abrindo o fecho de seu vestido nas costas, tocando sua pele e incendiando-a. Quando ela começava a corresponder e a abandonar-se em seus braços, esquecendo-se da situação que gerara aquele encontro, sentiu-o tenso de novo, tornando-se rude e afastando-a bruscamente. Mais uma vez a olhou, porém com desprezo, e disse:
- E agora, será que consegui demonstrar que sua teoria sobre minhas preferências sexuais estão erradas ou vou precisar ir mais fundo em minha demonstração?
Lauren sentiu-se desfalecer. Não acreditava que ele estivesse falando aquilo... Mas, de repente, lembrou que ele era um ator, que tinha desempenhado muito bem o seu papel e, que por instantes, a fez pensar que ele realmente a desejava. Sentiu-se humilhada e indefesa. Empurrou-o para trás com as poucas forças que encontrou e gritou:
- Saia daqui! Seu grosso, estúpido! – e começou a bater em seu peito, com raiva, sentindo as lágrimas aflorarem em seus olhos – Saia!!
A vergonha por ter se deixado levar por Gerard era tão grande que ela não pode ver o momento em que o olhar dele abrandou e um lampejo de arrependimento passou em seus olhos verdes. No íntimo, ele lutava contra o desejo de possuí-la. Não por vingança, mas por sentir uma grande atração por ela. Apesar de tudo que acontecera, apesar das palavras ferinas lançadas por ela em sua coluna, ele continuava a ansiar pela sua presença, por sua voz, por seu carinho e por seus beijos. No fundo, não podia acreditar que ela fosse tão vulgar como pareciam seus comentários. Gostaria de tê-la conhecido de outra maneira. Com estes pensamentos rondando sua mente, virou as costas e abriu a porta do apartamento, ainda tentado a abraçá-la e consolá-la. Porém, a razão falou mais alto e ele se foi, fechando a porta sem fazer barulho.
Lauren sentia-se fraca. O ar parecia lhe faltar. Só depois de alguns instantes, conseguiu soltar o choro. Um choro desesperado, angustiado. Jogou-se sobre o sofá da sala, perdendo a noção de quanto tempo ficou desaguando sua mágoa e sua humilhação, até que conseguisse recuperar-se e pensar mais objetivamente no que havia acontecido.
Gerard voltou para casa. Não tinha a sensação de alívio que pensou que teria ao humilhar Lauren. Sentia-se, isso sim, um canalha. A raiva passara e só ficara aquela sensação ruim de ter perdido alguém, que nem chegara a conhecer direito. Provavelmente fosse apenas sua imaginação... Ela não era diferente das outras. Estava batalhando seu lugar ao sol e venderia a alma ao demônio para conseguir sobressair-se sobre os demais. O melhor a fazer agora era esquecê-la. Não podia continuar iludindo-se.

Os dias passaram. Gerard já estava com sua viagem marcada para Quebec, onde iniciaria a filmagem de seu novo trabalho. Ainda não conseguira tirar Lauren da cabeça. Naquela manhã, foi ao encontro de Mike para falar sobre futuros projetos que tinham em comum, quando o amigo e empresário perguntou-lhe:
- Não ouviu falar mais da sua repórter predileta? – disse em tom de brincadeira. Como todas as outras fofocas de Hollywood, aquela sobre Gerry já tinha sido esquecida. Tinha sido incomodado por mais um ou dois jornalistas sensacionalistas, mas o assunto já tinha caído em desuso, principalmente depois que algumas poucas cenas do filme com ele haviam sido veiculadas. Por isso já conseguia fazer graça.
- Felizmente não – mentiu pesarosamente.
- Ela não escreveu mais sobre você nem sobre ninguém.
- Como assim? – perguntou repentinamente curioso.
- É o que eu estou falando. Lauren O’Brien sumiu do mapa. De duas uma. Ou ele foi despedida ou Frederick a adotou para ficar na casa dele – disse, soltando uma gargalhada, relembrando a fama de Frederick Lewinsky.
- Não vejo graça alguma nisso.
- Você ainda está pensando nela, Gerry? Depois de tudo que ela falou mal a seu respeito.
- Olhe, Mike, a conversa está ótima, mas acho que já terminamos o que tínhamos para resolver. Vou andando. Lembrei que tenho umas voltas para dar. Até mais! – despediu-se rapidamente, não querendo mais manter aquela conversa.
- Está bem, Gerry. Quando quiser conversar, sabe onde me encontrar. Até! – respondeu Mike, resolvido a não se intrometer nos assuntos sentimentais do amigo.
Gerard pegou seu carro e foi direto para a sede da LAAR. Ficou dentro do carro, no estacionamento. Em alguns instantes, tinha conseguido o telefone da redação.
- Los Angeles Actor’s Report. Bom dia.
- Bom dia. Por favor, eu gostaria de falar com Lauren O’Brien.
- Um momento senhor... - falou a telefonista esganiçada, demorando alguns segundos para completar sua procura – Sinto muito, senhor. A senhorita Lauren O’Brien não trabalha mais conosco.
- Não trabalha mais? Desde quando?
Depois de mais alguns segundos:
- Desde há aproximadamente um mês.
“Um mês... Exatamente depois de seu último encontro com ela”, pensou. “Será que Mike tinha razão? Será que ela tinha deixado o trabalho para morar com o chefe?” Não conseguia aceitar aquela possibilidade. Mike tinha falado aquilo por brincadeira. “Será?”
- Teria como saber mais informações a respeito da senhorita Lauren?
- Um momento, senhor... Como é mesmo o seu nome?
- Gerard Burns.
- Vou transferi-lo para a senhorita Marian, secretária do senhor Lewinsky. Um momento, por favor...
Enquanto aguardava, os pensamentos mais terríveis o rodeavam. Perguntava-se porque ainda insistia em querer saber notícias daquela mulher.
- Alô? O que o senhor deseja? – perguntou Marian, em tom antipático. Ainda estava indignada pela maneira como Burns tinha tratado sua amiga. Lauren contara tudo para ela logo após o incidente.
- Fiquei sabendo que a senhorita O’Brien foi demitida do LAAR e gostaria de saber onde está trabalhando agora.
- Para seu conhecimento, ela não foi demitida. Ela pediu demissão. Em segundo lugar, não estou autorizada a lhe dar maiores explicações. Tenha um bom dia, senhor Burns.
Ele achou estranho o modo como a mulher, que ele nem conhecia, o estava tratando. Parecia desprezá-lo.
- Por favor, eu...
A ligação foi cortada subitamente.
- Estava falando com alguém, Marian? Por que desligou tão rápido? É algum namorado? Você sabe que não admito este tipo de ligação aqui dentro.
- Não, Frederick. Era um chato querendo emprego.

Ainda com o fone na mão, Gerard perguntava-se o que teria acontecido. De qualquer maneira ficara agradavelmente surpreso em saber que ela pedira demissão. “Será que o ocorrido entre eles teria contribuído para isso?”, indagou-se. Precisava encontrar Lauren ou, pelo menos, esclarecer melhor as coisas. Talvez se fosse ao seu apartamento...
Saiu do estacionamento, dirigindo-se ao endereço de Lauren, imaginando se ela o receberia. Talvez não. Ele fora muito cruel com ela. Talvez precisassem conversar sobre tudo que acontecera. Ela havia dito que não escrevera nada demais sobre ele, mas naquele momento era difícil a ele raciocinar, quanto mais dar a ela uma chance de explicar-se.
Finalmente chegou ao prédio de Lauren. Havia um caminhão de mudanças estacionado bem em frente. Na portaria, ao perguntar por ela, ficou sabendo que não morava mais lá e que a mudança em andamento era do novo inquilino que ocuparia seu antigo apartamento. Ninguém sabia informar para onde ela havia se mudado. Lembrou de Marian, a secretária de Lewinsky. Ela devia saber de alguma coisa. Tentaria falar com ela. Ligou mais uma vez para a redação do LAAR.
- Senhorita Marian, por favor, não desligue.
- Quem fala?
- Gerard Burns.
- Você de novo. Já não lhe disse que não posso lhe dar nenhuma informação?
- Por favor. Tenho certeza de que pode me ajudar. È importante. Preciso falar com Lauren para esclarecer algumas coisas que aconteceram.
- Eu sei o que aconteceu e devo dizer que o senhor foi bastante grosseiro.
- Eu sei. Por isso estou ligando. Pode me ajudar, por favor?
- Não posso falar daqui. Pode me encontrar no Joe’s? É uma cafeteria que tem aqui próxima, onde não há risco de eu ser pega em flagrante pelo meu patrão.
Gerard agradeceu e desligou, assim que pegou detalhes da localização do café e do horário do encontro com Marian.


Na hora combinada, Gerard estava lá. Entrou e logo uma mulher ruiva e muito maquiada, sentada num dos cantos do recinto, acenou-lhe.
- Obrigado por me atender, Marian – cumprimentou-a assim que a identificou como a secretária irritada que o tinha atendido ao telefone – Então você é amiga de Lauren.
- Eu não devia estar aqui. Lauren vai querer minha cabeça se souber que falei com você.
- Por quê?
- Por quê? Você permitiria que dessem informações sobre sua vida a um inimigo?
- Mas eu não sou inimigo de Lauren.
- Agindo como agiu, não vejo adjetivo melhor para você.
- Agi num momento de raiva. E tinha razão em ter ficado furioso, depois de ler o que ela tinha escrito a meu respeito. Qualquer um ficaria.
- Então porque quer falar com ela de novo? Quer finalizar a vingança? Se for isso, boa tarde e adeus – disse Marian, já fazendo menção de levantar-se.
- Não, por favor, fique – implorou Gerry, tocando-a no braço – Quero saber por que ela se demitiu... Ela tentou me dizer que não escreveu nada contra mim. Pensei que ela estava tentando me acalmar e me enrolar, por isso não acreditei. Mas, depois, sabendo da sua demissão... Preciso saber o que houve, entende?
- Lauren é uma pessoa muito especial, que não estava feliz neste emprego. Lamento que ela tenha ido embora. Mas acho que foi melhor para ela – comentou Marian, tristemente.
- Como assim, embora? Embora do emprego, não?
- Embora desta cidade maluca! Para ficar longe de malucos como você e o Frederick.
- Espere um pouco. Não me compare com aquele sujeito desclassificado.
- Vocês agiram da mesma forma para com ela, que eu saiba.
- Da mesma forma, como?
- Tentaram pegá-la a força.
- Espere um momento. Do que você está falando? Vamos começar do início. A última vez que vi Lauren eu havia perdido a cabeça por causa do artigo que ela escrevera sobre mim. Acabei me comportando muito mal, reconheço.
- Exatamente. Não foi ela que escreveu... Pelo menos, não os comentários “indigestos”.
- Então, não foi realmente ela que escreveu?
- Não. Ela havia escrito um texto elogiando o seu trabalho e sugerindo que tínhamos um novo astro, em rápida ascensão.
Ele estava pasmo e sentindo-se muito mal ao lembrar como a havia tratado.
- Mas quem escreveu a parte “indigesta”?
- Quem você imagina que tenha sido? Frederick, é claro. Acho que ele estava com ciúmes de Lauren.
- Ciúmes?
- Já estou falando demais.
- Por favor, Marian, continue – pediu impaciente.
- Quando ela mostrou o seu artigo a Frederick, obviamente ele não gostou da forma como ela o elogiava, ao invés de desdenhá-lo. Disse que se ela não mudasse o conteúdo conforme o que ele queria, seria demitida. Só que ela já estava com a carta de demissão pronta e entregue junto com o seu texto. Frederick perdeu a cabeça ao se dar conta disso e tentou pegá-la a força no seu gabinete. Ela havia sido a única funcionária, além de mim, é claro, que não havia tido um “flerte” com ele. Se é que me entende – disse, piscando o olho direito – A sorte é que eu a ouvi gritar e cheguei a tempo de evitar o pior.
Gerard sentia uma mistura de alívio e culpa ao mesmo tempo. Ela era realmente como ele imaginara, e ele havia sido tão estúpido...
- Marian, para onde ela foi?
- Não sei – disse – Não sei mesmo. Não adianta perguntar. Ela não disse porque tinha medo que Frederick pudesse saber e tentar prejudicá-la – confirmou sua falta de conhecimento ao enfrentar o olhar sério de Gerard.
- Está bem. Ao menos ela tem mantido algum contato com você?
- Às vezes ela me liga, quando dá tempo. Parece que está ocupada escrevendo muito. Acho que conseguiu um novo emprego, mas não sei nada além disso.
- Se souber o telefone dela, por favor, entre em contato comigo ou com meu agente. Vou lhe deixar o meu cartão.
- Qual o seu real interesse nisso tudo? É só desculpar-se com ela? Ou...
- Sinceramente, Marian? Ainda não sei...
- Mas este “ainda não sei” não inclui maltratá-la, espero.
- Certamente que não.
- Bem, sendo assim, se eu souber de algo, entro em contato – afirmou, sorrindo satisfeita com a resposta e tranqüilizada pelo olhar sincero de Gerard.
- Marian, gostaria de te agradecer por vir até aqui e ouvir o que tinha a dizer.
- Acho que vai ser muito bom vocês se entenderem... Desejo boa sorte para você.
- Obrigado. Boa sorte para você também. Trabalhando com o Lewinsky, você precisa.
- Com certeza – disse com um grande sorriso.

Gerard foi para seu apartamento com a cabeça rodando com mil pensamentos. Teria que partir para Quebec em dois dias e lá teria de permanecer por cerca de um mês, até terminarem as filmagens.
Antes de viajar, Gerard pediu a Mike tentasse achar algum indício do lugar para onde Lauren pudesse ter ido e que o avisasse sobre qualquer novidade.
- Nunca o vi tão interessado numa mulher como nessa. O que o impressionou tanto assim? Já estou curioso...
- Não sei, Mike. Acho que a situação mal resolvida entre nós é o que está me incomodando. Sinto necessidade de esclarecer com ela tudo isto.
- Sei... Só esclarecer, não? Está bem. Vá tranquilo. Ela ainda deve estar no planeta Terra. Quando a encontrar, o aviso. Não se preocupe mais com isso. Deixe a cabeça livre para o trabalho, que é o que realmente importa nas próximas semanas.
- Não se preocupe. Vai ser bom mudar de ares um pouco e trabalhar da forma mais usual, sem um cromaqui por perto – dizendo isso, conseguiu esboçar um tímido sorriso.

O término das filmagens demorou um pouco mais do que o previsto. Mike ainda não dera sinal de ter encontrado qualquer pista do paradeiro de Lauren.
Ao voltar para os Estados Unidos, Gerard decidiu que ficaria um tempo em seu apartamento de Nova Iorque, que acabara de ser reformado. Talvez se distraísse um pouco comprando peças para decorá-lo. O decorador já tinha lhe solicitado diversas vezes que o ajudasse na escolha de móveis e objetos de arte que complementariam o visual, mas ele nunca tinha disponibilidade de tempo ou vontade de ficar escutando as maluquices do profissional. Ele era uma excelente pessoa, mas ligeiramente obsessivo. Aproveitaria este período, em que estaria sem filmar fora do país, para dar-lhe uma atenção.
Ao chegar, lhe foi entregue uma pilha de correspondência, que ainda não fora encaminhada para Los Angeles por seu agente de Manhattam. Depois de tomar um banho quente e colocar uma roupa mais confortável, sentou-se para distrair-se olhando os envelopes recebidos. Vários convites para inaugurações, premieres, festas, muita propaganda e um convite para o lançamento de um livro. Estranho... Não era citado o nome do autor. O título era bem interessante: “Fofocas em L.A. – O Lado Sórdido da Imprensa”. Tinha tudo a ver com a situação pela qual ele tinha passado nos últimos meses. A sessão de autógrafos seria em três dias. Talvez fosse até lá. Seria um programa diferente.
Dois dias depois, recebeu um telefonema muito estranho. Uma voz de mulher, que lhe soou familiar, ligou perguntando se ele confirmava a presença no lançamento do livro “Fofocas...”.
- A sua presença é importante neste evento.
- Quem está falando? – perguntou, tentando identificar a voz. Parecia com a de Lauren. Estaria imaginando coisas?
- O senhor confirma sua presença, senhor Burns?
Era ela! Resolveu deixá-la pensar que não a reconhecera.
- Confirmo, sim. Estarei lá, amanhã...
- Muito obrigada – agradeceu e desligou o telefone imediatamente.
Tinha quase certeza que era Lauren. Só não entendia porque ela não se identificara. Ficou imaginando se ela estaria trabalhando na editora que estava lançando o livro. “Ou será que?...” – seus pensamentos provocaram um riso de admiração. Mal podia esperar pelo dia seguinte.

A sessão estava programada para o final da tarde daquela sexta feira. O transito estava terrível. Acabou por atrasar-se, apesar de ter saído quase uma hora antes do horário. Quando conseguiu chegar à livraria, suspirou aliviado. O movimento ainda era grande. Tentou aproximar-se da mesa onde o autor estava autografando. Foi quando teve a agradável surpresa. Confirmou suas suspeitas. Lauren O’Brien era a autora do livro Estava linda, sentada, segurando uma caneta e distribuindo o seu lindo sorriso para todos que a cercavam. Permaneceu num canto onde ela não podia vê-lo. Notou que, com certa frequência, seu olhar era desviado para a porta da livraria, procurando a presença de alguém. Esperava que fosse por ele. Quando o movimento diminuiu, ele resolveu aproximar-se num momento em que ela estava distraída assinando seu nome para um dos últimos da fila de leitores. Quando ela levantou os olhos para entregar o exemplar com sua dedicatória, viu Gerard a observá-la com carinho. Seu rosto iluminou-se de imediato.
- O senhor deseja um autógrafo? – perguntou Lauren, ainda sorrindo.
- Muito...
- Onde está o seu livro?
Só então Gerard deu-se conta de que não tinha comprado o livro.
- Só um momento, que vou adquirir o meu exemplar e já volto.
- Gerard... Não há necessidade disso. Estava brincando. O seu já estava separado, à sua espera... – dizendo isso, abriu um dos livros, que estava sobre a mesa, numa das primeiras páginas e apenas assinou o seu nome sob algumas palavras.
- Só a sua assinatura? Acho que merecia uma dedicatória melhor, não?
- Será?... Leia – disse alcançando-lhe o livro aberto na página que assinara.
Lá estava impresso bem no centro: “Para Gerard, fonte de coragem e estímulo para que este livro fosse escrito”.
- Sou tudo isto? – perguntou emocionado.
Ela apenas sorriu.
- Você aceitaria jantar com o homenageado deste livro?
- Aceitaria...
Ainda tiveram que esperar um pouco mais até que os últimos compradores do livro conseguissem seu autógrafo.
Já era 20 horas, quando saíram lado a lado da livraria, depois de Lauren despedir-se do representante de sua editora. Ainda permaneciam contidos em seus sentimentos. Não sabiam o que esperar um do outro. Entraram no carro de Gerard, que a levou até um pequeno bistrô francês, localizado no SoHo, na Rua Spring. O nome já era sugestivo para o momento de fazer as pazes pelo qual estavam passando: “Les Amis”
Falaram muito pouco durante o trajeto.
- Parabéns pelo sucesso do seu livro.
- É... Acho que o tema atrai. Todos querem saber sobre este universo. Eu tinha um extenso material. Na verdade, eu comecei a escrever logo que comecei a trabalhar para Frederick. Também fiz algumas pesquisas sobre a história, de como começou este tipo de jornalismo. Serviu um pouco para exorcizar meus demônios...
- Você está trabalhando aqui em Nova Iorque?
- Sim. Consegui emprego num jornal de médio porte. Eles já tinham lido alguns artigos meus e gostado do modo como eu escrevia. Só tive de prometer de não fazer nenhuma fofoca. Foi do que mais gostei – disse rindo – Minha nova editora é uma pessoa maravilhosa, que se interessou pelo meu livro e me ajudou muito para que ele fosse publicado em tão pouco tempo.
- Você está linda... – elogiou, desviando rapidamente seu olhar da rua para fitá-la com um brilho nos olhos – Acho que os ares de NY estão fazendo muito bem para você.
- Também sinto isso. Aqui estou fazendo o que realmente gosto, longe de pessoas insalubres como Frederick.
- Como você sabia que eu estaria em NY esta semana?
- Eu parei de persegui-lo, mas o resto da imprensa continua mantendo suas fãs bem informadas.
- Às vezes esqueço isso.
- Além disso, Marian andou me falando que você estava me procurando.
- Disse o motivo também?
- Sim.
Finalmente chegaram ao bistrô. Era discreto e muito aconchegante, com mesas, na maioria para duas pessoas apenas, cobertas por toalhas brancas, decoradas com pequenos vasos de flores e velas acesas. Tinha um clima muito romântico. Lauren pareceu aprovar a escolha dele. Foram conduzidos pelo garçom até um recanto mais privado, onde se sentaram lado a lado. Depois de fazerem sua escolha do menu, Gerard tomou a dianteira para iniciar sua conversa:
- Quero saber tudo sobre você e o que aconteceu neste período em que fiquei procurando por você, me torturando com a culpa de tê-la acusado injustamente – pegou na mão de Lauren, que se sentiu corar diante do toque daquela mão quente e macia, que cobria a sua por completo.
- Pensei que Marian havia lhe contado o que aconteceu.
- Contou, mas gostaria de ouvir a versão original...
Enfrentando aquele olhar de verde profundo que a deixava hipnotizada e prisioneira de seu dono, Lauren começou a contar sua história desde o início.
À medida que ela falava sobre sua luta para conseguir um bom emprego, o embate interno entre seus princípios e as exigências de Frederick, o desejo de poder ser lida e respeitada, coisa que jamais seria se continuasse naquele emprego, mais a admiração de Gerard por ela aumentava. Ela finalmente demonstrava que ele não estava errado quando a imaginou como sendo diferente das outras.
- Aí, eu conheci você naquela festa. Desde então, comecei a repensar sobre meu emprego, minhas escolhas... Tudo. Depois aconteceu aquele “incidente” no restaurante comecei a pensar em pedir demissão. Não aguentava mais escrever aquele tipo de notícia retorcida. Foi quando Frederick me indicou para fazer a sua entrevista. Foi a gota d’água para eu tomar outro caminho. Escrevi um artigo muito diferente do que ele esperava. No fundo, eu não precisava escrever aquilo, mas eu queria que ele visse o que eu realmente pensava... Eu sabia que ele ia odiar, por isso entreguei a minha carta de demissão ao mesmo tempo. Acho que ele ficou mais furioso por causa disto. Ele não conseguiu ter o gostinho de me demitir. Chegou a ficar violento. Se não fosse a Marian chegar, eu teria apanhado.
- Que eu saiba, ele quis te beijar a força.
- Como você... No dia seguinte – desta vez ela o olhou com um resquício de mágoa nos grandes olhos castanho-claros.
- Lauren, não sabe quantas vezes já me culpei por ter agido como um canalha.
- Não, você reagiu como qualquer homem normal teria reagido.
- Por que você não falou que o artigo não tinha sido escrito por você?
- Eu falei, mas você não queria ouvir o que eu tinha a dizer. Você não me deu chance.
- Você tem razão. Me perdoe. Eu estava completamente cego de raiva...
- Além do mais, – disse interrompendo-o – eu também me sentia culpada pelos outros textos que eu havia escrito antes. Por isso não quis insistir na verdade. Mas, se isto o faz sentir melhor, eu te perdoei na mesma hora. Pode dormir tranquilo de agora em diante e seguir o seu caminho. Está livre desta culpa.
- O que você quer dizer com isso?
- Você não queria só tirar esta culpa dos ombros?
- Lauren, eu não vim só por isso e acho que você sabe qual o motivo principal.
- Sei?
- Sabe... Na primeira vez em que a tive em meus braços, mesmo tendo sido por poucos minutos, senti algo diferente. Desde aquele momento não consegui mais tirá-la da minha cabeça, apesar de todos os mal-entendidos. Mesmo quando estava envenenado pela raiva diante daquelas notas difamatórias e mentirosas, quando a tinha em meus braços sentia-me fraquejar e tinha de fazer um grande esforço para não demonstrar o quanto a desejava. A minha raiva foi maior no dia em que a segui ao seu apartamento, não só pelo comentário em si, mas por pensar que havia realmente me enganado profundamente em relação a você. Quando soube que você havia pedido demissão minha esperança voltou. Por isto estou aqui. Eu só preciso saber se tenho alguma chance junto a você, depois de tudo que aconteceu...
Lauren estava paralisada e emocionada com tudo que acabara de ouvir. Com algum esforço, conseguiu falar:
- Gerard... Não sei o que dizer... – notou que ele pareceu ficar triste diante da sua insegurança em corresponder a sua declaração, pois abaixou a cabeça, desviando seu olhar.
Em vista disso, ela não teve mais dúvidas. Com as duas mãos, levantou o rosto dele, acariciando-o, fixando seu olhar no doce verde dos seus olhos e disse:
- Gerard, eu te amo... Muito. Gostaria muito de tentar esquecer tudo o que se passou e...
- Lauren... – sussurrou, aproximando-se lentamente, até seus lábios tocarem-se, num beijo muito doce.
Beijaram-se ainda mais, até serem interrompidos pelo garçom, que perguntou se gostariam de uma sobremesa.
Ambos olharam-se, cúmplices e felizes.
- Você vai querer uma sobremesa? – perguntou Gerard, com expressão provocante.
- Agora... Não – respondeu Lauren, retribuindo o olhar ladino ao seu lado.
- Acho melhor irmos embora daqui, antes que nos expulsem por atitudes indecorosas. O que você acha? – disse Gerry, sorrindo.
- Acho que você tem toda a razão.
Rapidamente, Gerard pagou a conta e saíram.
Foram direto para o apartamento dele.
Já não aguentavam mais a hora de chegar em casa para entregarem-se sem pudores um ao outro. Mal a porta da entrada fechou-se, abraçaram-se quase com fúria, com bocas que procuravam um ao outro com intensidade. Toda uma paixão, estancada por semanas e por diversas situações, encontrava o seu fluxo, correndo livre, através dos beijos molhados, mãos sedentas por descobrir o corpo, tantas vezes desejado, e finalmente descoberto. Havia uma urgência de fusão. Entre gemidos e suspiros, finalmente Gerard penetrou Lauren, tornando-a sua mulher, agora em espírito e corpo. Tudo acontecera tão rápido, mas de uma forma tão intensa e completa que eles se deixaram ficar abraçados sobre os tapetes da sala, temendo perder aquele momento de união tão prazerosa. Depois de vários minutos em silencio e repouso, Lauren murmurou:
- Gerard, eu imaginei este momento tantas vezes que perdi a conta.
- Então, ainda estou em débito com você. Seremos obrigados a repetir momentos como esse até perdermos a conta – disse, levantando-se do chão, para elevá-la nos fortes braços e levá-la para o quarto, com um belo sorriso nos lábios – Preciso lhe mostrar os outros cômodos da sua casa.


FIM


Olá! Espero que tenham gostado do final. Espero não demorar muito para voltar. Além da crise da qual eu tinha falado, ainda consegui arranjar uma bela conjuntivite, que não está me permitindo ficar muito tempo na tela do computador. Mas deixem estar, que logo esta fase acaba. Deixo aqui o meu agradecimento pelos comentários tão queridos das minhas amigas fiéis e estimuladoras destes meus "vôos da imaginação".
Um grande beijo para todas!

3 comentários:

  1. Minha querida Rô!
    Para variar, mais uma obra sua, que me apetece a alma! Como é bom dar asas à imaginação juntinho contigo...
    Fora a aflição que a gente fica até o final feliz, esse LAAR tem um cheirinho de TMZ... kkkkkkk..
    Conjuntivite é uÓ do borogodó! Quando eu tive, não aguentava nem um fiapinho de luz nos olhos.
    Ficarei aqui, ansiosa, esperando pela sua próxima obra.

    Bjim♥

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  2. Oi querida! Finalmente, consegui chegar aqui!
    WOW!!!!!!!!!!! Que show de história! Já a tinha lido aqui mesmo no Romances ao Vento e já tinha adorado o texto! Se percebi os acréscimos, é claro que percebi! Aquela cena do restaurante do Gerry é nova não é! Ui! Consegui ficar ainda mais vidrada nesta história e apaixonada pelos dois.
    E você, minha querida, está melhor???
    Espero que sim. Estou roxa de saudades de ti! Não vejo a hora de nos reencontrarmos e ver pessoalmente este teu sorrisão lindo! Quando quiser te envio mais textos da Linda (olha a intimidade, kkk). Te amo de montão minha querida. Volto para ler Erick novamente, pois não consegui terminar, mas acho que hoje eu consigo!
    Bjs

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  3. Amei mais esse conto maravilhoso, Rosane! Eu não o tinha lido antes, então para mim foi com gostinho de novidade 100%.

    Obrigada por me fazer viajar na imaginação junto com nosso amado escocês!

    Mil beijos!

    PS: Esse LAAR é pior que o TMZ, hien! kkkkk

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