quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Crise de criação

Olá queridas leitoras e amigas!
Peço desculpas por ter desaparecido todo este tempo, mas ando trabalhando no novo romance, mas também enfrentando uma certa crise de criatividade. Tânia, querida, não se preocupe que a nossa continuação vai sair, cedo ou tarde. Mas como eu não gosto de deixar o meu blog muito tempo sem atividade, vou deixar aqui, para passar o tempo e eu abandonar o meu bloqueio temporário, um pequeno conto já conhecido e postado em outro blog - As Gerrymaníacas - , mas ao qual adicionei algumas cenas novas, que espero sejam do agrado de quem já leu o texto anteriormente. Vou deixar a primeira parte revigorada hoje e devo postar a segunda parte antes do final de semana.
Beijos!!


A REPÓRTER




Finalmente conseguira um emprego em Los Angeles. Não era exatamente a sua área de interesse, mas pelo menos estaria atuando dentro do jornalismo. Depois de tantos anos de estudo e batalha para conseguir seu “lugar ao sol”, lá estava ela, aguardando na ante-sala do diretor do Los Angeles Actor´s Report (LAAR). Era um programa de televisão muito conhecido por dar informações a respeito dos atores mais famosos ou dignos de notas na sociedade local. Tinha um dos maiores ibopes da TV a cabo. Eles também atuavam na Internet com um site no mesmo estilo do programa. Ela trabalharia na área de reportagem por detrás das câmeras, apesar de já ter sido sondada para o trabalho diante delas. Disseram que fotografava muito bem. Conseguira driblar o produtor e ficar longe do vídeo.
- Senhorita Lauren O’Brien? - perguntou a secretária, Marian, coquete e simpática, por trás de sua escrivaninha.
- Sim?
- Pode entrar. Fred a espera – falou com certa intimidade.
- Obrigada – agradeceu e levantou-se para adentrar no grande escritório do seu novo chefe.
Lá estava Frederick Lewinsky, o criador do programa e “ligeiramente” odiado no meio artístico, devido ao seu humor ácido e malicioso.
Ele a olhou de alto a baixo, com um sorrisinho irônico nos lábios finos. Lauren não se sentia muito a vontade perto dele. Já levara uma ou duas cantadas suas até agora, mas conseguira mantê-lo afastado.
- Então, Lauren, você sabe que o sucesso do nosso programa é o escárnio em cima dos atores em evidencia. Tudo que pudermos usar para mostrar a verdadeira face deste pessoal, deverá ser mostrado. Eu, pessoalmente, acho que são todos um bando de emplumados, tentando aparecer.
“Ele parece um ator fracassado, que morre de inveja de quem conseguiu o estrelato”, pensou Lauren, observando o olhar perverso de Frederick.
- Então? Pronta para atacar as feras e tirar o suco deles?
- Pronta, é claro! – respondeu Lauren retribuindo com um sorriso confiante, apesar de estar com medo do tipo de reportagem que teria de fazer. Mas era a sua grande chance e não podia deixar que suas dúvidas a impedissem de agarrá-la.
- Você já conhece o nosso estilo. Você vai começar com uma pequena coluna dentro do nosso site, que poderá ser utilizada para o programa na TV. Conforme seu sucesso, a coluna poderá ser ampliada. Após, você será transferida para as reportagens ao vivo, na TV a cabo
- Mas, Frederick...
- Fred, querida...
- Fred... Nós tínhamos combinado que eu não apareceria no vídeo...
- Bem, se você não está interessada em crescer dentro do programa, melhor nem começar. As coisas mudam, minha querida. Aqui tudo é muito rápido. Você tem um visual muito agradável. De qualquer jeito, você não aparecerá antes que nós possamos verificar se está agradando ao público na coluna. Portanto, não precisa ficar estressada antes. Pode ser que leve um “pé na bunda” antes disso – falou grosseiramente.
Como alguém podia ser tão estúpido. Apesar disso, Lauren respirou fundo e disse, de cabeça erguida:
- Tenho certeza que não vai se decepcionar comigo, Frederick. Posso sair agora? Tenho uma coluna para fazer.
- Assim que se fala, docinho. Ao trabalho. Vou estar de olho em você...
Ela podia sentir o olho dele sobre ela.
Lauren virou as costas, sentindo uma certa náusea, e seguiu para o seu pequeno escritório. Na verdade, era um box, separado dos de seus colegas da redação por divisórias. Ali tinha um terminal de computador, uma impressora e uma pequena bancada, que eu poderia decorar ao seu gosto.
Assim ela iniciara a nova carreira, depois de ter rodado por jornais do interior, ter atuado como free-lance em algumas revistas de pouca importância. Sabia que tinha talento, mas tinha plena noção que só conseguira o emprego, principalmente, por sua aparência. Ela mandara seu currículo diversas vezes para vários jornais, revistas e canais de televisão, inclusive para o LAAR. Porém, só depois que uma amiga a aconselhara a colocar uma foto, feita em estúdio, anexada ao currículo, ela recebera vários chamados. O LAAR tinha sido o local mais interessante para trabalhar devido a sua maior circulação e público. Esperava ficar nesta vitrine até poder mostrar seu verdadeiro talento. Depois de conhecer o seu editor, começava a achar esta aspiração mais difícil. Para o trabalho que ele queria era necessário apenas conhecer gramática e um pouco de crueldade. Ela achava que podia aguentar isso.
Seus primeiros textos foram sobre Britney. Ela estava em grande evidencia devido aos problemas que andava enfrentando. Infelizmente, ela proporcionava muito material para as colunas de fofoca, sendo alvo fácil do sarcasmo e ridicularização da imprensa. Ela recebia as informações e os vídeos feitos pela equipe e fazia a sua crítica erosiva. Aparentemente, Frederick agradou-se de seu estilo. Mesmo assim, ele sempre lhe dava algumas sugestões para apimentar o texto, coisa em que era mestre. Logo sua coluna foi ganhando mais espaço. O número de comentários recebidos era muito grande. Tanto positivos quanto negativos. Isto não fazia muita diferença. Apenas significava que ela era lida por muita gente. O ditado “Falem mal ou falem bem, mas falem de mim” era o que estava valendo.
Foi nessa época, em que um ator, até então não muito falado, apesar de ter grande quantidade de fãs nos Estados Unidos, estava iniciando as filmagens de um filme de diretor americano, baseado em uma HQ. Tudo parecia indicar que o filme seria um sucesso de bilheteria, devido ao seu enredo e ao modo como Silver, o diretor, pretendia filmá-lo. O nome dele era Gerard Burns. Era escocês e, apesar de ter em seu currículo diversos trabalhos cinematográficos, seu nome despontou com um filme: “O Conde de Monte Cristo”, baseado num musical da Broadway. A crítica não tinha sido muito favorável, mas o público feminino parecia ter sido conquistado definitivamente pelos belos olhos verdes daquele homem.
Ele seria o novo caçado por Lauren, entre outros, conforme determinação de Fred. Imediatamente ao saber disso, ela passou a pesquisar sobre o ator. Simplesmente não encontrava nada que pudesse ser colocado contra ele. O homem tinha uma história de superação de inúmeros problemas e estava conseguindo vencer os obstáculos e atingir seus objetivos. Grande quantidade de material começou a chegar sobre as filmagens, o treinamento físico dos atores, as dificuldades de atuarem sobre um fundo azul, sem cenários visíveis. Com certa dor na consciência, resolveu atacá-lo no condicionamento físico, por nova sugestão de Fred. Escreveu em sua coluna sobre o uso abusivo de anabolizantes em certos atores, insinuando que ele, Gerard, poderia estar entrando nesta lista. De outra vez, descobriu um homem que fazia próteses de abdômen, que eram usadas pela equipe de maquiagem nos estúdios para encobrir abdomens não tão sarados e deixar os heróis dos filmes mais atraentes fisicamente. Isto também foi usado numa insinuação que desmerecia completamente todo o trabalho de fisiculturismo do pobre ator.


- Calma, Gerry! Não fique tão irritado. Estes caras querem é incomodar e tentar tirar as pessoas do sério, só para terem mais assunto nestas colunas de fofocas.
- Quem é essa Lauren O’Brien? Quem ela pensa que é? Fica escondida atrás de uma tela de computador, usando as palavras como armas. Ela insinuou que todo este esforço do cão que tenho feito, o meu sacrifício para ter uma boa forma e poder encarnar a personagem de um rei guerreiro, não é real?
Ele estava realmente irado.
- Se eu ficar frente a frente com ela,vou pedir algumas explicações e acertar alguns pontos com ela. Deve ser alguma solteirona mal-amada, que não tem mais o que fazer a não ser destruir imagens de pessoas que estão tentando trabalhar sério.
- Deixe prá lá, Gerry – pediu Mike, seu agente, mais uma vez.

Lauren ainda não conseguia sentir-se à vontade com seu trabalho, entretanto, quem mostrava sinais de estar muito satisfeito era Frederick.
Foi quando surgiu a festa de lançamento de um filme. Foram convidados atores, produtores e diretores conhecidos. O editor de LAAR, não podia deixar de comparecer. Se alguma produção de Hollywood caísse nas graças de Lewinsky, poder-se-ia dizer que o sucesso estava garantido. Portanto, ele sempre era convidado para este tipo de evento.
Para surpresa de Lauren, ela foi escolhida para acompanhá-lo, já que estava tornando-se uma das colunistas mais lidas. Mal sabia ela que outras surpresas ainda a aguardavam naquela noite..
Apesar de ele oferecer-se para buscá-la em casa, Lauren preferiu mantê-lo afastado , sem intimidades. Combinaram de encontrar-se no local da festa.
Quando chegou, como não o visse, resolveu entrar sozinha. Seu nome estava na lista de convidados. Encontraria Frederick lá dentro. Após cumprimentar alguns conhecidos, dirigiu-se ao dono da festa para parabenizá-lo. Ao seu lado estava um homem alto, forte, de barba, que ao notar sua presença, mirou-a intensamente com grandes olhos claros e brilhantes, com interesse e sensualidade. Aquele olhar a fez estremecer. A presença dele era marcante, sem necessidade de palavras. Lauren teve a impressão de já conhecer aquele rosto de algum lugar, mas não conseguia lembrar onde. Sem saber como, o produtor foi distraído por outros cumprimentos, deixando-os um na companhia do outro.
- Olá... Você está sozinha? – perguntou com uma voz rouca e envolvente.
- Não... Na verdade ainda não consegui achar o meu acompanhante. Talvez ele nem tenha chegado ainda, Estava a sua procura.
- Posso substituí-lo no momento, se você permitir...
Ela ainda procurava as palavras certas para responder, quando ele passou seu braço por sua cintura e convidou-a para dançar.
- Quando o seu amigo chegar eu a libero. Prometo...
- Você é meio pretensioso, não? – indagou, quando conseguiu encontrar a fala, com um sorriso tímido.
- Porque você acha isso?
- Quem disse que quero dançar com você?
- Seus olhos... Sua boca... Seu corpo...
Apesar de seus joelhos fraquejarem diante do charme daquele homem, ainda tentava resistir.
- Acho melhor procurar o meu acompanhante original.
- Você não vai me fazer esta desfeita, vai?
A combinação de olhar suplicante e um sorriso maroto, lhe tiraram todas as dúvidas.
- Está bem... Dançar um pouco com você não vai fazer mal... – disse, deixando-se levar pelas grandes mãos bem feitas e pelos braços fortes que a conduziam para a pista de dança.
Ela sentiu-se flutuar no seu toque. A música romântica, que inexplicavelmente começara no momento em que iniciaram sua dança, permitiu uma aproximação maior. Lauren podia sentir o seu perfume, o seu hálito quente e aquele olhar que a devorava. Aquela proximidade despertou nela uma voluptuosidade que se encontrava adormecida há algum tempo. Sentindo o efeito que estava tendo sobre ela, o homem a puxou ainda mais contra si, baixando a cabeça de forma a encostar seus lábios sobre sua orelha. Instintivamente, Lauren inclinou-se para o lado, expondo seu delicado pescoço ao roçar daquela boca provocante.
- Lauren! Você está aí! – a voz rude de Frederick despertou-a de seu transe.
- Lauren? – disse Gerard, estupefato. A sua dança foi bruscamente interrompida. Ficaram no meio da pista, olhando-se. Lauren ainda não compreendia o que estava acontecendo.
- Ora, vejo que já foi apresentada ao “grande” Gerry Burns – continuava Frederick, usando seus termos de duplo sentido, maliciando sobre o físico avantajado de Gerard.
- Na verdade, ainda não tínhamos sido apresentados – disse Lauren, sentindo-se petrificar.
- Bem, então eu os apresento. Lauren O’Brien, este é Gerard Burns. Gerry, esta é Lauren. Caso não tenha me reconhecido, sou Frederick Lewinsky, da LAAR. Vamos, querida. Temos que cumprimentar outras convidados. Quero apresentá-la para algumas pessoas realmente importantes.
Lauren podia sentir o veneno escorrendo daquela boca fina e obscena.
Não houve tempo para que trocassem novas palavras, pois Frederick praticamente arrancou-a dos braços dele, deixando-o paralisado no meio do salão.
- Vejo que não perdeu tempo, senhorita Lauren. Assim que eu gosto. De cara já foi atacando a presa... E então, conseguiu alguma informação interessante?
Ela queria fugir dali. Sentia-se extremamente embaraçada com a situação. Como pudera não reconhecer o homem a quem vinha atacando sem piedade nas últimas semanas. E o pior, sentir aquela atração irresistível, que sentira por ele minutos atrás. Olhava para Frederick, mas parecia não entender o que ele dizia. Ele a levava para junto do diretor do novo lançamento hollywoodiano, segurando-a, como se ela não tivesse mais o controle de
suas ações. Talvez as tivesse perdido mesmo, ao ouvir o nome de Gerard. Evitou olhar para trás. Ainda não se sentia segura o suficiente para encará-lo novamente.
Não encontrou mais animo para dançar, apesar da insistência de Frederick, que parecia resolvido a mostrá-la como sua última conquista. Ela estava tão preocupada com o que estaria Gerard pensando a seu respeito que mal conseguia rebater as investidas do outro. Num momento, próximo ao final da festa, quando seu “algoz” a deixou por alguns instantes, sentiu alguém se aproximar às suas costas. Ouviu a sua voz, agora com o sotaque escocês mais acentuado, provavelmente pela irritação que parecia ter tomado conta dele:
- Então é você que costuma falar mal de pessoas que nem conhece?
Ela respirou fundo e virou-se para enfrentá-lo. Encontrou outro homem, que já não era mais aquele com quem se envolvera romanticamente momentos atrás. O brilho de seus olhos já não demonstrava desejo, e sim raiva e ameaça.
- Desculpe se não o reconheci. O ambiente, a música, as roupas casuais me confundiram.
- Espero que não se confunda ao escrever a sua próxima coluna. Lançar calúnias pode gerar processos. Você devia ter mais cuidado com o que escreve.
- É o meu trabalho. Só devo satisfações ao meu editor. Que eu saiba, estamos num país com liberdade de imprensa.
Neste momento, Frederick retornava de mais uma “excursão” entre os convidados. Ao vê-lo, Gerard rociferou:
- É melhor você dar satisfações ao seu editor. Ele parece muito necessitado da sua atenção. Afinal, o seu emprego pode estar em jogo, se ele for ciumento.
Ao ouvir esta insinuação, Lauren teve vontade de gritar, mas conteve-se ao pensar que ele apenas estava retribuindo uma pequena parte dos insultos que tinha recebido.
- Vamos, Lauren. Esta festa já deu tudo que tinha de dar – disse Frederick, com ares de posse.
Gerard permanecia com expressão de escárnio e ressentimento, olhando-a, enquanto se afastavam. Pensava em como podia ter-se enganado tanto. Quando vira aquela bela mulher de olhar perdido e doce, pensou ter encontrado alguém diferente das outras. Que decepção! Quando pensou que estava no céu, foi lançado abruptamente ao inferno.

Apesar de recusar a oferta de Frederick para levá-la para casa, diante de sua insistência acabou cedendo. Quando estava entrando no carro, ainda pode ver Gerard aguardando a sua vez de pedir ao manobrista o seu BMW preto. Seus olhares se cruzaram mais uma vez. Ficou perguntando-se porque as coisas tinham de ser assim. Não conseguia tirar da cabeça aquele momento mágico que acontecera entre os dois antes de ser reconhecida como a vilã da história.
Ao chegarem em seu edifício, notou a insinuação de Fred para levá-la até a porta de seu apartamento, com a desculpa de beber um último drink.
- Eu não bebo, Fred.
- Bem, então um café. Podemos dar um final ainda mais agradável a esta noite. Que tal? – perguntou, lançando um sorriso pretensamente sensual para Lauren.
- Fred, você é meu chefe e o respeito muito. Mas acho que nossa relação não deve passar disso. Não quero misturar as coisas e espero que você também respeite estes limites.
- Acho que você está muito séria. Se as coisas podem ficar melhores, porque não tentar?
- Não creio que elas fiquem melhores do que estão – disse, querendo sair dali o mais rapidamente possível.
- Você parece ter ficado muito impressionada com o Burns. Estou enganado? – perguntou, segurando-a pelo braço, ao notar que ela pretendia deixar o carro.
- Eu me senti muito mal por não tê-lo reconhecido imediatamente e pela reação dele ao saber quem eu era. Só isso.
- Você esperava o quê? Na nossa área temos que estar preparados para o ódio que originamos com nossos artigos. Com o tempo vai se acostumar.
- Será que vou me acostumar? – falou, num sussurro quase que para si mesma.
- Será que notei algum outro tipo de interesse neste seu encontro com Burns. Ele tem fama de garanhão. Será que fez mais uma presa?
- De maneira alguma! Apenas fiquei chateada com a “saia justa” em que me meti.
- Espero que sim. Como você falou, não é bom misturar negócios e prazer. Mas... se mudar de idéia quanto a isto, pode me procurar. Estarei esperando... – dizendo isto, tentou aproximar-se de Lauren, pronto para abraçá-la.
- Até mais, Fred – disse friamente, afastando-se dele de imediato, virando o rosto e abrindo a porta para descer – Muito obrigada pela noite divertida.
Frederick sentia-se muito atraído por Lauren desde que a vira entrar em seu gabinete na primeira vez. Quando viu que ela não era só um rosto bonito, mas que também tinha talento jornalístico, a admiração só tinha aumentado. Era uma alma limpa, diferente das outras que o cercavam no seu dia-a-dia. Gostaria de tê-la antes que a lama a encobrisse. Ela tinha objetivos a alcançar. Ele sabia que o tipo de trabalho que ele lhe oferecia estava muito aquém do seu potencial. Talvez pudesse ajudá-la um pouco mais, mas isto dependeria do comportamento dela para com ele. Em sua arrogância sentia-se como Mefistófeles. Já tinha usufruído muito de seu poder para conseguir as pessoas que ele desejava. Todas partiam contentes para o seu brilhante futuro... Ou não. Mas todas, com a sua marca.
Sozinha em seu apartamento, Lauren ainda pensava no ocorrido e não conseguia tirar da memória aquele olhar magoado que vira nos olhos de Gerard. Mas como dissera Fred, era algo com o que teria de aprender a lidar. Já percebera que não seria uma coisa fácil.
Como já esperava, foi encarregada de tecer comentários a respeito da festa da qual tinham participado. Tentou evitar o assunto Gerard Burns, mas foi exatamente este o foco central considerado por Fred, quando ela mostrou a ele seu rascunho.
- Minha querida, não consigo acreditar que você não colocou aqui nada sobre o seu contato com o Burns. Afinal, vocês dançaram juntos, aliás, bem juntos, segundo eu pude ver. Você tem que descrever este fato aqui.
- Não, Fred. Eu não posso fazer isso.
- Por quê? Rolou alguma coisa entre vocês? Não quer expor suas intimidades?
- Claro que não rolou nada. Apenas vejo importância alguma escrever sobre isto.
- Aí é que você se engana, minha cara. Você já deve ter ouvido alguma coisa sobre dúvidas quanto à masculinidade deste cara. Solteirão, forte, fazendo um filme rodeado de homens...
De repente, você o encontra numa festa e ele dá uma de garanhão. Você pode insinuar sobre bissexualidade entre os atores... Pense e escreva. Quando terminar, mostre-me o que escreveu.
Lauren estava incrédula sobre o que acabara de ouvir.
- Frederick... Não posso escrever algo tão maldoso. Não se pode fazer uma insinuação destas. Isto é muito grave.
- Tenho certeza que tem uma fila de repórteres iniciantes que poderiam escrever este artigo.
Não está interessada em manter seu emprego? Faço a fila andar. Entendeu?
- Entendi – disse com voz fraca, vencida pelos argumentos de seu editor.
- Mais alguma coisa? – perguntou, sem levantar os olhos do jornal que estava lendo antes dela chegar.
- Não...
- Então, ao trabalho! – disse, balançando sua mão a espanar o ar, mandando-a sair dali.
Lauren saiu cabisbaixa, pensando na reação de Gerard quando soubesse o teor de seu artigo.

Cerca de três dias depois de seu artigo ser divulgado, saiu para jantar num dos novos restaurantes recentemente inaugurados em Los Angeles. Saiu com um casal de amigos do tempo da faculdade que estavam em visita à cidade. Era um local muito agradável, decorado com muito bom gosto, especializado em comida oriental. Estava tão distraída a conversar que não notou que estava sendo observada desde sua entrada. Quando pediram um café para arrematar o final do jantar, Lauren pediu licença para ir ao toalete. Antes de alcançar a porta do recinto, que ficava longe dos olhares do salão principal, sentiu a força de uma mão agarrando seu braço e puxando-a para o corredor escuro que levava ao escritório da administração. Apavorada com a possibilidade de um ataque e debatendo-se muito, tentando desvencilhar-se das garras do desconhecido, foi arrastada até uma sala nos fundos do restaurante. Quando a porta fechou-se com violência, isolando-a do mundo exterior, ouviu a voz rouca e rude de seu seqüestrador:
- Hoje saiu sem o seu protetor?
Quando conseguiu aprumar-se e acostumar os olhos à penumbra da sala onde estavam, identificou quem a agarrara daquela forma violenta. Gerard Burns estava a sua frente, com os olhos faiscando de raiva, postado como uma muralha, como se fosse bater nela a qualquer momento. Mesmo assim furioso, não conseguiu deixar de provocar-lhe uma onda de excitação. Ele estava vestido de modo simples, com um jeans azul claro e uma camisa branca ligeiramente aberta no peito, deixando entrever alguns fios de cabelo acinzentados. Seus olhos pareciam mais verdes que nunca, e sua boca entreaberta parecia pedir um beijo. Diante desta visão, deu um passo atrás, dando com as costas de encontro à parede. Estava encurralada. Ele aproximou-se ainda mais, permitindo que ela sentisse o calor de seu hálito e o cheiro másculo de seu perfume.
- Você me assustou! – conseguiu dizer com dificuldade – E me machucou –continuou, levando a mão ao braço que ele apertara e massageando-o de leve, com uma careta de dor.
- Você não sabia que os bissexuais são violentos quando incomodados? – falou com escárnio, estreitando o olhar sobre ela, vendo que estava conseguindo apavorá-la.
Lançou uma mão à cintura de Lauren e a outra em suas costas, forçando-a inclinar-se para trás, na tentativa de fugir daquele abraço, até bater a cabeça na parede na sua retaguarda. O gemido dela fez com que ele afrouxasse o cerco e diminuísse sua cólera por alguns instantes. Ainda envolvendo-a com o braço, levou-a até uma das poltronas do escritório e forçou-a a sentar-se. Levou a mão ao local da batida para verificar se tinha algum ferimento, no que foi repelido imediatamente.
- Seu brutamontes! – gritou. A dor provocada pela batida despertara-a do transe em que estava.
- Sua reporterzinha sensacionalista! O que pretende com estas insinuações descabidas a meu respeito naquele diário de quinta categoria?
- Não se preocupe, pois no meu próximo artigo vou mudar o meu enfoque sobre você. Vou falar sobre este seu lado abrutalhado, grosseiro e agressor de mulheres indefesas.
Ele respirou fundo, olhou-a com expressão pesarosa e abaixou-se diante dela, ficando frente a frente. Ela não conseguia encará-lo. Seu coração anunciava que escaparia de seu peito a qualquer momento e não parecia possível conter o tremor de seu corpo. Foi quando sentiu a mão dele em seu queixo, obrigando-a a levantar a cabeça e olhá-lo nos olhos.
- Eu pensei que, pelo menos aquele momento que tivemos durante a dança, antes de nos identificarmos, tinha sido especial.
Sua voz tornara-se suave e o olhar já não era de ódio. Lauren sentiu amolecer-se e tentava buscar palavras que pudessem abonar o que tinha escrito a respeito dele.
- E-eu sinto muito pelo artigo – foi só o que conseguiu dizer.
- Então porque o escreveu?
- Por que bom ou não é o meu trabalho. Tenho que seguir a linha de pensamento do editor.
O olhar de Gerard endureceu novamente.
- Do seu amiguinho...
- Ele é meu patrão, não meu “amiguinho”! – exclamou quase chorando – Me deixe sair daqui, por favor.
Ele se levantou sem dizer palavra alguma e afastou-se apenas o suficiente para que ela pudesse levantar-se da poltrona. Ainda vacilante, Lauren saiu de seu lugar e, antes que se virasse para ir embora, foi envolvida mais uma vez por aqueles braços poderosos. Ele aproximou a boca de seu ouvido e sussurrou:
- Vai negar que não sentiu nada por mim naquela noite?
Ela sentiu desfalecer ao sentir o roçar da barba dele em seu pescoço e ouvir a sua voz enrouquecida pelo desejo. Não conseguiu falar nada. Fechou os olhos e ofereceu-se a ele, que passou a beijar-lhe o pescoço desde a nuca, suave e lentamente, subindo até alcançar-lhe a boca. Não podendo mais resistir, Lauren lançou seus braços em torno dos ombros largos, aproximando-o ainda mais de seus lábios, que o aguardavam entreabertos.
- É assim que ele a convence a escrever aqueles artigos lastimáveis?
A pergunta dele caiu como uma lâmina sobre seu coração. Antes que pudesse reagir, sentiu a pressão violenta daquela boca sobre a sua e a língua ágil e quente penetrando-a, sem pedir licença, buscando a sua com fúria. Não conseguia encontrar espaço entre seu peito e o dele onde pudesse empurrá-lo. Começou a esmurrar seus ombros com toda a força que conseguia. Quando finalmente ele a soltou, mostrava um meio sorriso irônico, que a fez sentir-se como uma rameira. Uma onda de raiva apossou-se dela. Sua mão direita elevou-se rapidamente no ar, cheia de força, indo na direção do rosto de Gerard. Foi impedida antes de cumprir seu intento, segura por uma mão férrea, que pareceu não fazer esforço algum ao evitá-la. O sorriso jocoso persistia na boca que acabara de beijá-la. Sentiu as lágrimas de impotência aflorando e, antes que pudesse dar o gosto de vê-la chorando, libertou-se e, meio cambaleante, encontrou a saída e pôs-se a correr para o lavabo feminino. Lá, trancou-se num dos cubículos com privada, para não precisar agüentar os olhares das mulheres que ali estavam a retocar a maquiagem. Sentou-se sobre a tampa do vaso e esperou acalmar-se, até que todas saíssem. Percebendo que estava sozinha novamente, saiu e foi ao espelho. O cabelo desgrenhado, o rosto pálido e a maquiagem borrada pelas lágrimas denunciavam a aflição que a atingira. Com esforço, ajeitou o penteado e secou a face. Para seu novo pavor, deu-se conta que perdera a pequena bolsa de mão que levava junto de si ao ser levada para o escritório. Provavelmente ela caíra durante o embate entre Gerard e ela. Não poderia voltar lá para requerê-la. Não tinha coragem de encará-lo outra vez e passar por mais uma humilhação. Trêmula, conseguiu tirar os borrões sob os olhos e melhorar um pouco sua aparência. Saiu do lavatório, olhando para os lados para ver se ele não estava por ali. Após certificar-se disto, voltou a sua mesa, onde o casal já estava preocupado com sua demora. Ao vê-la, a preocupação tornou-se real, mas Lauren desculpou-se dizendo que havia escorregado no banheiro e machucado o braço. Pareceram acreditar na sua estória, principalmente quando notaram a mancha azulada que começava a formar-se em torno de seu braço direito. Logo pediram a conta e levantaram-se para sair. Aliviada por Gerard não ter aparecido, surpreendeu-se quando o maitre apareceu trazendo sua bolsa e dizendo que ela havia esquecido na toalete. Agradeceu e saiu dali rapidamente.
Ainda no escritório, Gerard desabou sobre a poltrona onde ela estivera sentada, com o sorriso desaparecido, com a mão levada à testa, enquanto balançava a cabeça ligeiramente, tentando raciocinar sobre o que tinha se passado ali. Jamais alguém lhe despertara tamanhos sentimentos contraditórios. Ao mesmo tempo em que odiava aquela mulher pelas venenosas palavras escritas naquele pasquim, desejava-a com tal intensidade que ficava a mercê de seus instintos. Toda a razão o abandonava ao tê-la em seus braços. Foi então que viu a pequenina bolsa preta caída junto à parede em que a prensara. Chamou um de seus auxiliares pelo telefone e indicou a quem pertencia. Que fosse entregue a dona. Mais uma vez sozinho, continuou sentado, perdido em seus pensamentos, se perguntando se ela sabia que era sócio deste restaurante. Talvez ela o tivesse escolhido de propósito para criar a situação. Seria ela tão cínica a este ponto?


Na semana seguinte, ao chegar à redação, foi recebida animadamente por Fred.
- Bom dia, Lauren! Tenho ótimas notícias para você.
- Bom dia, Fred. Que bom para iniciar o dia.
- O seu amiguinho fortão, Burns, vai dar uma coletiva falando sobre o seu novo filme. Eles acabaram as filmagens e estão ansiosos por divulgação. Acho que teremos um novo “blockbuster” por aí. Claro que teremos que colocar o nosso “tempero” em nossas perguntas e procurar alguma coisa mais apimentada que o habitual. Você sabe... Tentar tirar alguma polemica das palavras dele.
“Oh, Deus! Isto não”, apavorou-se Lauren com a perspectiva de ter de fazer mais uma coluna atacando-o.
- Quem vai até lá para as perguntas?
- Como quem? Você, é claro!
- Como eu? Sempre é um dos seus repórteres de rua que vai atrás das informações. Eu apenas registro na coluna com o... “tempero” – Lauren estava desesperada com a possibilidade de ter que encontrar Gerard novamente depois da situação constrangedora de dias atrás.
- Lauren, estou te dando a oportunidade de você sair da redação e atuar diretamente com o seu alvo. Você poderá fazer as perguntas mais convenientes para a sua crítica, sem depender de outros. O que está acontecendo?
Ela sabia que ele tinha razão. Era uma oportunidade valiosa em qualquer outra situação. Mas não era o que sentia no momento.
- Não está acontecendo nada, Fred. É que fiquei tão surpresa com a novidade que ainda estou me recuperando.
- Ainda bem! Achei, por um instante, que você estava com medo de entrevistar pessoalmente aquele sujeito.
- Quando vai ser a coletiva?
- Amanhã. Você terá tempo para organizar suas perguntas. Também estarão presentes outros realizadores, como o diretor Silver. Você pode entrevistá-los também. Depois lhe dou a relação. Mas o nosso foco primário é o ator principal, Burns, como você bem sabe. Acredito que esta será a última coluna sobre ele. Este ano. Quero que você mire em outro alvo. Conversaremos sobre isso depois.
Ela precisava conseguir outro trabalho. Não acreditava que fosse agüentar muito tempo. Sentia-se repugnada a cada artigo seu. Agora precisava usar todo o seu sangue-frio para ir adiante com esta entrevista. Como seria recebida por ele? O que perguntaria a ele? O jeito era preparar-se para tudo.
As entrevista seriam feitas dentro dos estúdios onde foi realizado o filme. Os jornalistas foram levados a uma pequena excursão entre os cenários e foi explicada a técnica do cromaqui, onde os atores trabalhavam sobre um fundo azul. Na verdade, não seria uma coletiva. As entrevistas seriam em separado. Os entrevistados foram colocados em recantos diversos do estúdio e os jornalistas fariam um rodízio entre eles.
Logo que acabou a visita aos cenários, Lauren avistou Gerard, vestido com jeans e uma camiseta verde, que realçava seu magnífico corpo malhado. Ele transmitia força e sensualidade por todos os poros. Era impossível ficar impassível diante dele. Só conseguiu desviar os olhos dele quando notou que tinha sido reconhecida. Sentiu o seu olhar gelado penetrá-la como uma adaga muito afiada. Tinha que conseguir forças para encará-lo também friamente e agir como profissional que era.
Ele foi o seu último entrevistado. Permaneceu sentado a encará-la. Aquele olhar a intimidava e incomodava. Queria tanto ver novamente o olhar doce que a atingira na primeira vez que o vira...
- Bom dia, senhor Burns.
- Bom dia, senhorita O’Brien. Vejo que resolveu assumir sua posição no corpo-a-corpo e não ficar mais escondida atrás do seu teclado – disse, mostrando um sorrisinho de mofa.
- Bem, senhor Burns, não quero roubar muito do seu tempo, por isso gostaria de começar minhas perguntas.
- Fique a vontade. Pode perguntar.
Ele parecia estar se divertindo com o visível desconforto de Lauren, por mais que ela tentasse disfarçar.
Ela iniciou seu questionamento, com perguntas pertinentes e interessantes, que fez com que o clima entre eles ficasse menos tenso.
- Vejo que está tentando mudar o seu estilo. Que bom...
- Este é o meu estilo, sr. Burns. O outro é de acordo com o que meu editor exige. Infelizmente não posso fugir do que me é solicitado, tendo em vista que sou empregada.
- Só empregada? Me pareceu que vocês eram um pouco mais que isso naquela festa.
- As aparências podem enganar.
- Tenho certeza disso – falou com certa ponta de amargura na voz.
- Posso fazer minha última pergunta?
- Claro! À vontade...
- Como foi trabalhar por tanto tempo, em estúdio, com dezenas de homens seminus, e tanta testosterona no ar? Não se sentiu inibido? – perguntou, imaginando qual a intenção de Frederick quando sugeriu a pergunta.
- No início, é difícil sentir-se à vontade, vestido apenas com uma sunga de couro e uma espada na mão como únicas indumentárias, mas depois você se acostuma. O ambiente era muito agradável e um clima de grande camaradagem criou-se durante as filmagens.
Ela desligou seu gravador e fechou seu bloco de anotações.
- Já terminou? – perguntou ele, um pouco desapontado.
- Já. Está liberado.
- Podíamos almoçar juntos. O que acha? Precisamos conversar...
- Não creio que seja uma boa idéia. Tenho muito trabalho a fazer e imagino que você também tenha seus compromissos. Fica para outra vez – disse, mas pensou que, depois desta última coluna a seu respeito, ele não ia querer vê-la nunca mais.
Lauren levantou-se e estendeu sua mão para despedir-se dele. Ele pegou a mão entre as suas, num toque cheio de calor e, olhando-a intensamente, disse:
- Espero que nos vejamos em breve, Lauren...
- Acho difícil... Mas quem sabe? – tentava fitá-lo nos olhos, mas tinha medo de ceder àquela atração que ele provocava nela. Por isso, usou o truque de olhar para o seu nariz e evitar os atraentes olhos verdes.
Puxou a mão rapidamente do conforto em que estavam e virou-se para sair. Estabanadamente, tropeçou na cadeira onde ficara sentada e quase caiu não fosse a agilidade de Gerard em segurá-la. Ele a puxou contra si e perguntou, parecendo estar se divertindo com a atrapalhação dela:
- Você está bem? Não se machucou? - perguntou, sem parecer ter a intenção de soltá-la facilmente.
- Estou bem. Pode me soltar. Obrigada – neste momento, não teve como escapar daquele olhar. Por um instante achou que ele ia beijá-la. Ansiava por isto, reconheceu. Mas não podia permitir que isto acontecesse. Tinha certeza que se isto acontecesse, estaria perdida... Irremediavelmente.
Conseguiu afastá-lo e recompor-se. Notou que ele também ficara desconcertado com a situação e que também tentava controlar-se.
- Adeus, senhor Burns.
- Até mais, senhorita O’Brien...
Quando chegou a redação, Frederick estava a sua espera para convidá-la para almoçar.
- Sinto muito, Fred... Não estou com fome. Vou tentar começar a escrever minha coluna. Que eu saiba tenho que entregá-la até amanhã, no máximo, não?
- É tem razão. Não quero atrapalhar a sua criação... Correu tudo bem na entrevista?
- Sim... Tudo – respondeu com displicência, como se tivesse sido algo corriqueiro.
- Que bom – disse ele desconfiado da indiferença com que ela estava tratando o assunto.
Quando terminou de escrever seu artigo, foi até a sala de Frederick para que ele desse o seu aval, como sempre.
- Lauren, o que houve com você? Isto aqui está um lixo!
- Lixo?
- Onde está a malícia que é característica de nossas colunas?
- Infelizmente, não achei nada em que pudesse me basear para criticar Burns.
- Você está amolecendo, menina. Não viu a deixa que lhe dei através daquela pergunta? O que ele respondeu?
- Nada demais. Apenas que o clima durante as filmagens foi muito agradável e de grande camaradagem.
- Camaradagem, é? Acho que você ficou mais impressionada com Burns do que aparenta, Lauren. Isto está tirando o seu senso crítico e a malícia necessária para escrever sua coluna em nosso site – ele estava começando a ficar irritado com a atitude de Lauren. Não queria perder a sua colunista nem tampouco a perspectiva de poder tê-la em sua cama.
- Sinto muito, Fred, se não estou agradando. O que você está querendo é que eu escreva um lixo. Eu não consigo mais fazer isto.
- Quem sente muito sou eu, Lauren. Ainda há tempo de voltar atrás. Reescreva este texto e esquecemos o assunto.
- Não vou reescrever o artigo.
- Vou ser obrigado a demiti-la por esta insubordinação.
- Não há necessidade. Se você não reparou, eu entreguei um envelope junto com o artigo. É a minha carta de demissão.
- Como? – perguntou, quase tendo um acesso de fúria.
- Não consigo mais trabalhar desta maneira. A cada coluna que escrevo me sinto corromper, indo contra meus princípios morais. Tenho vergonha do que escrevo. Acho que tenho talento para escrever material mais digno.
- Quem disse que você tem talento? – perguntou perversamente, indignado com Lauren – Eu a escolhi por suas belas pernas e seu rostinho de anjo. Você não escreve mal, mas talento? Ora, docinho, ponha-se no seu lugar.
- Eu entendo que esteja chateado comigo, Fred, mas não precisa apelar.
- Não estou apelando. Estou dizendo a verdade.
- Adeus, Frederick. Espero que você encontre outro redator mais talentoso que eu. Obrigada por ter aguentado a minha falta de talento tanto tempo – dizendo isto, foi virando-se em direção a porta do gabinete, de cabeça baixa.
Numa atitude raivosa, Frederick pegou Lauren pelos ombros e a virou de frente para si, e com os olhos queimando, falou:
- Você não pensa que vai sair daqui sem ao menos me dar um beijo de despedida? – dizendo isso, com expressão irônica na face, tentou beijá-la a força.
Lauren começou a lutar com todas as suas forças para escapar daquela boca odiosa e das mãos que tentavam imobilizá-la. Começou a gritar, pedindo que ele a soltasse.
Quando pensou que não conseguiria mais evitar aquele contato asqueroso, a porta se abriu e a secretária dele surgiu, com cara de espanto.
- O que você quer aqui? Dê o fora! Quem a chamou? – Frederick tinha perdido totalmente o controle.
Aproveitando aquele instante, Lauren libertou-se de suas garras e fugiu. Correu até seu pequeno escritório e começou a juntar suas coisas, que não eram muitas. Queria sumir dali o mais rápido possível.
- Você está bem, Lauren? – perguntou Marian, a secretária de Frederick, que tinha muita simpatia por ela, desde o início.
- Estou sim. Obrigada, Marian. Se você não tivesse entrado naquela hora, não sei o que poderia ter acontecido. Você me salvou daquele monstro.
- O Frederick ás vezes passa dos limites. Acho que a única que escapa das cantadas dele sou eu. Acho que não faço o tipo dele – constatou com um sorrisinho amarelo.
- Sorte sua.
- Você vai embora? – perguntou ao constatar que Lauren estava esvaziando suas gavetas- Ele a demitiu?
- Não, Marian. Eu me demiti. Vou procurar um lugar para trabalhar onde eu possa ser eu mesma. Pensei que conseguiria, mas não deu.
- Que pena, Lauren. Sabe que eu gosto muito de você, não sabe?
- Sei sim, querida. Você tem o meu telefone. Liga para que a gente possa conversar um pouco, fora daqui. Eu devo voltar amanhã á tarde para ir ao setor de pessoal para os acertos da demissão.
Despediram-se.

4 comentários:

  1. Rô, minha querida!
    Essa fic, eu não cheguei a ler. Que bom que vc postou aqui, devidamente inclementada.
    Bloqueios, acontecem. É normal. E já aconteceram com os melhores escritores, grupo do qual vc também faz parte.
    Nem sempre ficamos 100% de sintonia com o que queremos fazer. Mas vai passar.
    E eu, estarei aqui, esperando por suas obras maravilhosas, que nos fazer esquecer todas as pendengas dessa vida, mesmo que por alguns minutos.

    Bjim♥

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  2. Carel disse:
    Ro... tu conseguiu o impossivel querida.. melhorou inda mais essa fic... puxa vida.. as mexidas ficaram ótimas!!! Sobre o teu pequeno e passageiro bloqueio criativo, não esquenta não, viu? teremos a paciencia necessária pra aguardar outro conto maravilhoso... já tem algo em mente??Se tiver, melhor ainda né? Já é um principio..kkkk Beijos amada...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Rosane!!!
    Eu já tinha lido a outra versão mas está mil vezes melhor com as cenas novas que acrescentastes,ficou ótima.
    Não se preocupes com teu bloqueio criativo pois
    pode acontecer com qualquer escritor,enão dizem que sempre depois de uma tempestade vem a bonança?Quem sabe não virá agora os melhores contos escritos por ti.
    Nós tuas fiéis seguidoras estaremos esperando pacientemente pelo teu mais novo conto.
    Bjs da tua amiga,
    Cris.

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