quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 2)

Gabriele ansiava a chegada da noite. Já há algum tempo adquirira o hábito de misturar-se ao povo em Mircea. Talvez pudesse tentar mais uma vez cruzar com um humano e engravidar novamente. Sabia que não era apropriado fazê-lo com alguém local. Além disso, não se encontravam bons espécimes machos naquele lugar. Ou eram muito velhos ou muito jovens. Procurava alguém como o homem que Luisa encontrara naquele cruzeiro às ilhas gregas. Com alguém como ele até seria agradável relacionar-se e, agora, sabia que isto estava muito próximo de acontecer.

O lugar não estava cheio. Talvez ainda fosse cedo. No bar, alguns homens bebericavam suas cervejas em grandes canecas. No ar esfumaçado, o cheiro de cigarro se impunha, incomodando aqueles que não eram adeptos deste vício, como Eric e Cristopher, ou como Robert, que havia abandonado o ato de fumar há pouco tempo. Infelizmente não existiam muitas opções de lazer no lugarejo onde estavam. Sentaram-se numa das mesas próximas à diminuta pista de dança, que no momento permanecia vazia. Podia-se antecipar que ela continuaria assim.
- Pelo jeito o pessoal local não é muito animado – referiu Robert, um pouco desanimado, prevendo o que seriam suas próximas noites no quarto do hotel.
- Anime-se! Amanhã deverá chegar o resto da equipe e, pelo que sei, devem vir algumas mulheres interessantes – consolou-o Cristopher, rindo.
- Talvez seja melhor assim. Teremos muito trabalho pela frente e temos que estar concentrados no roteiro.
- Você é muito sério, Eric. Precisamos nos divertir também – repreendeu-o Robert.
- Até parece que ele não pensa nestas coisas... – falou Cristopher em tom sarcástico, referindo-se a Eric.
Neste instante, os três calaram a boca. Uma mulher entrara no recinto. Não uma mulher comum, como as que tinham visto andando pela cidade. Esta era diferente. Vestia um sensual vestido preto, com um grande decote em V nas costas, onde lhe caíam longas madeixas de cabelos avermelhados. Caminhava como se estivesse deslizando sobre o assoalho de madeira do bar, com olhar altivo e lascivo. Ao passar pela mesa deles fixou o olhar sobre Robert, de uma maneira tal como se o conhecesse. Continuou seu andar até o balcão, onde se sentou num canto afastado dos demais. Pediu um cálice de vinho tinto e voltou-se de costas para eles. Surpreendentemente, nenhum dos outros homens manteve o interesse, além do momento em que ela sentou.
- Ela gostou de você, britânico – sugeriu Cristopher – Vá lá.
- Deixe o Eric ir. Ele está tão embasbacado por ela, que não consegue nem falar ou despregar o olho dela.
Eric parecia enfeitiçado. Levantou-se, sem prestar atenção aos comentários jocosos dos companheiros à mesa, e foi encontrar a bela mulher.
- Você não parece ser daqui – falou enquanto sentava-se na banqueta ao lado dela.
- Muito menos você e seus amigos – respondeu sem olhá-lo.
- Por acaso mora no castelo?
- Você não disse que eu não parecia ser daqui? – continuou misteriosa.
- Então de onde é? Posso saber?
- Que tal me convidar para sentar a sua mesa? – pediu, virando-se e finalmente encarando-o.
- Será um prazer – respondeu com um brilho nos olhos, que foi correspondido por ela.
Os outros dois levantaram surpresos quando a viram encaminhar-se em sua direção, seguida de perto por Eric.
- Boa noite, cavalheiros... – ela disse já se sentando na cadeira ao lado de Robert.
Eric sentou-se logo ao seu lado, seguindo a analisá-la.
- Então estão conhecendo a noite de Mircea? – perguntou com um meio sorriso – Creio que irão decepcionar-se com nossa vida noturna.
- Agora que a encontramos, nossa noite começou a tornar-se mais agradável – disse Cristopher.
- Muita gentileza sua... E o senhor não diz nada? – falou dirigindo-se a Robert.
- Ainda estou achando que você é uma miragem e que logo vai desaparecer – falou galanteador.
- Você ainda não me disse de onde veio... – interferiu Eric, tentando desviar a atenção dela de Robert.
- Eu moro no castelo. Você acertou de primeira.
- Não sabíamos que ele era habitado – disse Robert.
- Quem vocês acham que deu autorização para filmarem por lá?
- Mais alguém mora com você? – perguntou Eric.
- Tenho a minha família ... Mas, quando começarão as filmagens no castelo? – questionou, olhando para Robert.
- Logo. Acho que vamos ter algumas cenas na cidade e no vale. Mas nada impede que a gente faça uma visita para vocês – respondeu Robert todo animado.
- Que tal ir comigo agora? – insinuou-se Gabriele para ele.
- Nosso amigo está muito cansado. Ele chegou de viagem hoje. Eu poderia substituí-lo... – ofereceu-se Eric olhando-a intensamente.
Gabriele vacilou diante daquele olhar. Já estava decidida a conquistar Robert, pois acreditava que ele também pudesse dar-lhe um filho como Victor. Apesar de sentir-se mais atraída por Eric, nutria um anseio de vingança contra Luísa, que se sobrepunha aos desejos de seu corpo e de seus sentimnetos. De certa forma queria uma espécie de revanche contra a antiga amiga, por ter conseguido um filho varão, ao contrário dela. Aquilo não estava certo. Olhando para Eric, atravessou-lhe a mente um lampejo de que talvez estivesse errada querendo levar este tipo de vingança adiante. Mas logo, a indignação contida durante aqueles quatro anos venceu.
- Não. Eu convidei Robert – confirmou seu convite com firmeza, provocando um enrijecimento na face de Eric.
- Como você sabe o nome dele? Ninguém lhe foi apresentado aqui... – lembrou Eric.
- Eu devo ter ouvido algum de vocês falando o seu nome – respondeu rapidamente.
Eric ficou observando-a atentamente. Nada das expressões de Gabriele lhe escapava.
- Tenho certeza que nenhum de nós mencionou o nome dele... Gabriele – continuou Eric com um acento mordaz na voz.
Agora era ela que tinha sido pega de surpresa, pois tinha certeza de que não dissera o seu nome para ele. Olhou-o tensa e sentiu um arrepio a percorrer-lhe a nuca. Ele não deixava de mirá-la com aqueles olhos verdes e perspicazes, intimidando-a, coisa que nunca homem algum conseguira antes. Perguntava-se quem seria ele e que energia era aquela que sentia emanar dele. Resolveu ficar calada a esclarecer como ele sabia seu nome.
- Bem, então só me resta ir embora – disse levantando-se da cadeira.
- Mas ainda é cedo – sugeriu Robert, erguendo-se ao seu lado – Talvez possamos levá-la até em casa...
- Não, obrigada. Estou de carro. Posso me cuidar muito bem sozinha.
- Tenho certeza que sim – disse Eric, voltando o olhar para os amigos – Mircea parece ser um local seguro para andar-se a noite.
- O Senhor Eric tem toda a razão... – fulminou-o com os olhos - Boa noite, senhores – despediu-se, lançando um último olhar e um sorriso sedutor para Robert, desprezando o outro.
- Boa noite – responderam os três, quase ao mesmo tempo, acompanhando seus movimentos até que ela desaparecesse através da porta do bar.
Assim que ela sumiu da vista de todos, Robert não pode deixar de fazer seu comentário a respeito do comportamento de Eric.
- Pelo visto temos alguém muito interessado na jovem que acabou de sair.
- Muito mais do que você imagina, meu caro amigo. Espero que você mantenha-se longe dela. Ela vai ser minha – afirmou seriamente.
- Espero que na família que mora no castelo tenha alguma irmã – disse um esperançoso Cristopher.
- Bom, que tal irmos descansar. Acho que a noite não nos reserva mais nenhuma surpresa como esta que acabou de sair.
- Também acho, Robert.
Pagaram a conta e saíram a caminhar pelas ruas mal iluminadas de Mircea, em direção ao hotel. Apenas suas risadas podiam ser ouvidas em meio ao silêncio perturbador.


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- Tenho uma declaração a fazer a vocês – disse Gabriele com voz firme.
Dois dias tinham se passado desde o seu encontro com os atores principais do elenco do filme que estava sendo rodado na cidade. Tinha chegado a hora de sua família saber sobre a permissão que ela dera para que sua casa fosse parte dos cenários. Ela reunira Cássia, Luísa e Monique na sala principal e preparava-se para enfrentar a resistência delas em permitir o seu intento.
- Acho que temos vivido muito isoladas aqui neste mausoléu, só visitando a cidade para adquirirmos alimento. Levando em conta a evolução que tivemos até agora, acho natural que possamos conviver mais proximamente a eles – continuou Gabriele.
- Nós temos mantido um bom relacionamento com a cidade. O suficiente para que eles nos forneçam material do banco de sangue local, pensando que somos portadoras de uma doença hemática familiar muito rara e que necessitamos de tratamento mensal. Não vejo a necessidade de maior intimidade – argumentou Cássia – Aonde você quer chegar com esta conversa, Gabriele.
- Uma equipe de produção cinematográfica chegou à cidade para realizar um filme aqui. Eles pediram autorização para utilizar imagens do nosso castelo há algumas semanas e... Eu autorizei.
- O quê? – Cássia estava indignada – Como autorizou sem falar conosco? Você tem idéia dos problemas que podemos ter com humanos andando aqui?
- Acho que Luísa vai ficar muito contente com esta minha decisão.
- Eu? Por quê? Não entendo...
- Sabe quem é o protagonista desta produção? E que já está aí para iniciar seu trabalho?
Luísa sentiu sua garganta secar e o corpo fraquejar.
- Quem? – perguntou com voz quase sumida.
- Ele mesmo... Robert – disse Gabriele, sentindo-se vitoriosa ao ver o mal estar de Luísa.
Cássia e Monique não podiam acreditar no que estavam ouvindo. Ela estava fazendo aquilo para torturar Luísa.
- Não é uma incrível coincidência? – continuou maldosa.
- Gabriele, porque está fazendo isso? – indagou Cássia, ainda surpresa com aquela atitude provocante.
- Ora, estou tentando ter uma chance de engravidar novamente. E como sabemos, Robert foi um belo reprodutor. Porque não posso querer o mesmo para mim. Vocês vão me negar esta chance?
- Você tem todo o direito de querer uma segunda chance, Gabriele. Minha relação com ele foi apenas para a procriação. Meus sentimentos são irrelevantes e só interessam a mim. Mas porque atraí-lo para cá? Você poderia tê-lo longe daqui – Luísa estava com a voz embargada.
- Por que prefiro aqui, na nossa terra. Além disso, junto com ele vieram outros seres muito interessantes. Talvez você possa ter a sua segunda chance também, Cássia.
- Você não tinha o direito de decidir este tipo de coisa por nós. Continuamos sendo uma família e as decisões continuam a ser do grupo e não algo individual. É isso que nos mantêm unidos e vivos! – vociferou Cássia com voz exaltada.
Gabriele sentiu-se atemorizada com a reação de Cássia. Apesar de já esperar a reprimenda natural que desencadearia a sua atitude, não esperava tamanha fúria. Cássia nunca se impusera como líder, apesar de ser considerada como tal, por ser a mais experiente delas.
- Você ficou assim por causa da Luísa, que é a sua preferida – defendeu-se.
Aquilo pareceu deixar Cássia mais irritada ainda, mas ela não respondeu imediatamente. Olhou Gabriele detidamente, respirou fundo e finalmente falou em tom mais brando, porém firme:
- Só não a expulso daqui agora, pois sei o que você sofreu quando perdeu aquele feto e como isto afetou seu raciocínio e seus sentimentos, tornando-a um ser egoísta e mesquinho. Mas ainda acredito que a antiga Gabriele esteja escondida dentro deste poço de fel e que ela, mais cedo ou mais tarde, possa emergir para o nosso convívio novamente.
As palavras de Cássia atingiram-na como um raio, deixando-a paralisada e sem argumentos de defesa. Assim ficou, mesmo percebendo, com repulsa, os olhares de compaixão de Luísa e Monique, que permaneceram caladas. Acabaram por deixá-la sozinha remoendo a verdade indigesta que acabara de ouvir.



- Você está bem, Luísa? – perguntou Monique, preocupada com o estado de sua amiga.
- Estou... Obrigada... Não se preocupe. Onde estão Victor e Lana?
- Eu os deixei brincando no quarto.
- Você pode cuidar do Victor para mim?
- O que você está pensando em fazer, Luísa?
- Eu preciso vê-lo, Monique. Nem que seja de longe.
- A Cássia não vai gostar disso...
- Luísa sabe o que faz. Não serei eu a impedi-la – ressoou a voz de Cássia, que acabara de entrar na saleta em que se encontravam, sem emitir ruído algum – Luísa já demonstrou que sabe como agir corretamente há quatro anos. Espero que continue sabendo...
- Sei sim, Cássia. Obrigada pela confiança – agradeceu com um pálido sorriso e saiu.



Até o próximo post... Beijos!!

3 comentários:

  1. Amiga querida.... quanto tempo não venho aqui... sorry!! Mas valeu a pena... coloquei minhas leituras em dia... e amei o retorno desta fic... Uhuuu... até meu nome consta na história!!kkkk adorei!
    Como sempre maravilhosas as fic's...

    Beijo grande e que bem que retornou e graças a Deus bem!!!

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  2. Oh! Coisa boa, até choquei quando vi que esta parte tinha acabado, ufa! Que sensação hein!!!
    Aguardando sedenta o próximo episódio... deixo um beijão amor!

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  3. Mas que sacanagem essa da Gabriele, com uma ‘amiga’ assim, quem precisa de inimigos? A traição, em si, já é uma coisa dolorosa, mas a premeditação é hedionda demais, imperdoável...
    E é uma perda de tempo pq se ela deixasse de ser tão invejosa, poderia estar vivendo momentos agradáveis com o Eric, melhorando a sua qualidade de vida. Mas fazer o que, tem pessoas que são difíceis de entender, optam por uma vida de amarguras, ao invés de tentar obter, ao menos, um tantinho de paz...
    Que situação a de Luiza, estar tão pertinho do Robert novamente... hummm...
    Beijinhos...

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