by Kodama e Fantin
O que acharam? Que injustiça com o pobre do Elyk, não? Aguardem a próxima semana...rsrsrs
Gostaram do novo visual do blog?
Agradeço mais uma vez às minhas queridíssimas Léia, Nadja e Lucy por seus comentários, que eu amei, como sempre. Voces são uns amores!
Um hiper beijo carinhoso para todos!
Era o início do ano de 1012, em plena guerra do exército de Deus contra as forças de Lúcifer. Poucos humanos privilegiados sabiam da existência dessa luta enquanto a maioria vivia apenas o terror dos ataques dos demônios e a dádiva de, algumas vezes, escaparem com vida, graças às ações de seus protetores celestiais incógnitos. A Escócia era uma terra de ninguém, dividida entre diversos clãs que tentavam viver em paz dentro dos limites de suas terras, protegendo-as de usurpadores. Numa região às margens do Rio Clyde, vivia o clã dos Sinclair. A aldeia onde viviam passou a sofrer constantes ataques de uma horda de vampiros que se estabelecera no castelo de Malachy, próximo à área onde hoje fica Edimburgo. Anjos guerreiros foram designados para proteger o líder do clã e sua família. O anjo de nome Elyk ficou encarregado de ser o protetor de Cathela, a filha mais jovem do Chief. Sem saber, com sua beleza e inocência, a donzela foi cativando o coração do anjo guerreiro. Aquele que fazia tremer seus oponentes pela força e habilidade na arte da guerra, arrojando demônios para as profundezas do Inferno, acabara sendo vencido por uma humana de natureza afetuosa e temperamento vivaz, que nem ao menos sabia ter encantado tal ser enviado dos Céus para protegê-la. Elyk lutou de todas as maneiras contra esse sentimento proibido pelo Criador. Até que um dia não resistiu e acabou materializando-se para que pudesse tocar sua amada protegida. Fez isso enquanto ela dormia, mas, como se percebesse sua presença, a jovem acabou acordando e o viu. A princípio pensou que ainda sonhava e que a visão não era real. Contudo, o toque de seus dedos no rosto de Elyk desencadeou uma onda de desejo no infeliz anjo, precipitando um beijo no rosto de Cathela. Foi então que ela se deu por conta de que o ser celestial a sua frente não era uma ilusão ou um simples sonho. Ele era real. A despeito dos frequentes embates contra os vampiros do leste, Elyk passou a materializar-se com maior assiduidade, apesar dele saber da proibição divina. Logo Cathela também estava enamorada perdidamente por seu protetor. Um dos companheiros de Elyk descobriu o romance e aconselhou-o a deixar em paz a jovem. Chegou a propor que trocassem de lugar. Ele faria a proteção de Cathela e Elyk pediria para ser transferido para outro posto. Porém, o coração o impediu de ouvir o amigo.
Elyk provocou a ira do Senhor. Chamado e repreendido, foi obrigado a deixar de ser o protetor de Cathela e terminantemente proibido de vê-la ou seria punido com severidade.
Com o passar das semanas, a saudade de Cath crescia em seu peito, envenenando a noção de obediência devida ao seu superior. Não resistindo mais a falta de sua amada, procurou-a em uma manhã que a viu sozinha. Angustiada com sua ausência, Cath suplicou que ele nunca mais a abandonasse. Passaram a se encontrar diariamente, sempre que Cath estava só. Ela não conhecia seu novo guardião. Disse que podia sentir sua presença, mas jamais o vira. Às vezes podia ouvi-lo na forma de um sussurro ou de um suspiro e até como um vulto ao seu redor, mas nunca vira seu rosto. Apesar de saber que ele existia para sua proteção, havia algo na sua presença que incomodava. Não sabia explicar, pois era apenas uma sensação. Elyk jurou a ela que procuraria o Criador e rogaria que o tornasse mortal para que pudessem viver suas vidas em comunhão, fazendo florescer e frutificar seu amor. Neste dia, em que decidiu fazer a escolha pela humanidade, o desejo falou mais alto que nunca e Cath entregou a ele sua inocência e seu corpo. Amaram-se intensamente, de uma maneira tal que Elyk jamais pudera imaginar que fosse possível. Queria aquela mulher por todos os dias de sua existência e até que a morte os levasse de volta ao Criador. Eles haviam sido feitos um para o outro. Tinha certeza que sua súplica e o amor que transbordava por todos seus poros seriam capazes de mudar a opinião Dele.
Quando Elyk finalmente tomou coragem para falar com o Pai, recebeu um chamado de última hora. O sol já havia se posto. A aldeia dos Sinclair estava sofrendo um ataque violento dos vampiros do Leste. Aparentemente todos os guardiões locais haviam sido convocados para uma falsa reunião, que os afastou da aldeia, propiciando totalmente a ação dos demônios. Quando lá chegaram, encontraram destruição quase total. Os corpos dos aldeões massacrados encontravam-se dilacerados por toda a parte. Desesperado, Elyk procurou inutilmente por Cathela até que encontrou seu pai agonizante. Chegou a tempo de ouvir suas palavras antes do último suspiro. Materializando-se para amparar o velho Chief, esperava que ele pudesse ajudá-lo a encontrar Cath.
- Eles a levaram... Elyk... – a voz era apenas um fio quase inaudível e surpreendeu Elyk, pois ele não imaginava que o velho o conhecesse.
- Por que diz o meu nome?
Os olhos quase vítreos adquiriram um brilho de indignação e revolta ao encarar o anjo.
- Você... Você nos traiu... Quem é você, seu miserável?... – As poucas forças que ainda lhe restavam fluíram para seu braço que se ergueu no ar tentando atingir o rosto do anjo, que não conseguia entender o motivo daquela revolta.
Com o esforço, soltou um gemido alto e todo o ar restante em seus pulmões foi eliminado definitivamente. O braço erguido tombou para trás e os olhos permaneceram paralisados na face de Elyk.
- Parece que o seu nome foi citado pelos vampiros como o organizador deste massacre – disse um de seus companheiros.
- Como? Acham que fui eu que facilitei este ataque? Isso é um absurdo! – Levantou-se e encarou os demais anjos que o olhavam desconfiados. – Não vou perder meu tempo com invencionices de demônios. Não sei o porquê de meu nome ter saído da boca daqueles "chupadores de sangue", mas sei que preciso encontrar Cathela e vingar a morte de sua família. Saiam da minha frente, se não quiserem terminar essa missão. Vou ao castelo acabar com estes assassinos de uma vez por todas.
Todos se entreolharam. Diante do quadro de holocausto vigente na aldeia, decidiram ficar e ajudar os poucos sobreviventes.
Elyk desmaterializou-se e surgiu diante do castelo. Junto ao enorme portão, Samuel, o companheiro que o aconselhara a deixar Cathela, já o esperava. Em sua magnífica armadura prateada, estava munido de sua espada e pronto para o combate. No entanto, sua expressão não era amistosa quando olhou para Elyk.
- O que está fazendo aqui? Veio completar sua obra? Vai comemorar com seus novos amigos?
- Sobre o que você está falando? Vim para salvar Cathela e acabar de vez com estes demônios!
- Então por que eles dizem que você facilitou o ataque à aldeia? Resolveu mostrar ao Criador que não ficou satisfeito com seus desígnios?
- Você realmente acredita nisso, Samuel?
- Não o reconheço mais Elyk... Depois que se apaixonou por Cathela, passou a ir contra todas as leis celestiais.
Um grito desesperado ecoou do alto de uma das torres.
- Cath! – reconheceu Elyk – Saia da minha frente ou me ajude. Depois resolvemos nossas diferenças.
- Eu vou salvá-la – informou Samuel imperioso.
Sem prestar mais atenção, angustiado com a situação de Cath, Elyk voou para a torre, perseguido por Samuel, que tentava passar a sua frente, retardando-o. Infelizmente, quando estavam a meio caminho para o alto, dois vampiros surgiram para atacá-los. Foi quando o corpo de Cathela surgiu em queda livre rumo às pedras no solo. Elyk ainda pode sentir suas vibrações e seu último pensamento dirigido a ele. Ela saltara para não entregar-se ao chefe do clã dos vampiros.
Simultaneamente, Elyk e Samuel gritaram o nome da jovem, mortificados com a visão de sua morte inevitável. Tomado por uma fúria insana, Elyk se livrou das garras do monstro que o segurava, jogando-o contra o paredão do castelo, e desceu até onde o Cath permanecia imóvel. Samuel da mesma forma se livrou de seu algoz e voou para o alto da torre. Instantes depois, a cabeça de um vampiro ganhava o espaço, num floreio macabro, terminando por cair próximo à Cathela. Abraçando-a, Elyk buscava um resto do calor que sentira na véspera, quando a encontrara pela última vez. Não conseguiu chorar, pois a visão do semblante demoníaco na face decapitada do assassino caído pouco adiante deles, reacendeu novamente o ódio pela raça de sugadores. Abreviando a despedida de seu amor, lançou-se como anjo vingador insaciável contra a horda de vampiros que começava a surgir de todos os lados. Como um louco avançou com a espada em punho literalmente ceifando a vida dos "cães" de caninos afiados que ousavam desafiá-lo. Alguns de seus companheiros retardatários, que finalmente decidiram ir atrás dele, surgiram a tempo de assistir a tragédia em seu momento crucial. Passaram a combater os vampiros que ainda restavam, ao lado de Elyk. Samuel não estava entre eles.
O clã dos senhores do castelo de Malachy foi totalmente destruído naquela noite. Os sobreviventes foram obrigados a enfrentar a luz da manhã e viraram pó, juntamente com os restos de seus mortos.
Banhado pelo sangue impuro, Elyk voltou até onde Cathela repousava em seu sono perene. Sua expressão era de serenidade e pareceria estar apenas dormindo, não fosse a palidez mortal e a falta dos movimentos respiratórios. Caído de joelhos ao seu lado, elevou-a nos braços e chorou afinal, como nunca havia feito antes. Perguntava aos céus por que o Criador permitira sua morte. Não conseguia pensar em nada, envolto na revolta que estraçalhava seu coração, quando uma forte luz vinda dentre as nuvens apontou para ele como uma lança acusadora.
- Elyk! – chamou a voz tonitruante – Você traiu minha confiança, me desobedecendo e usando sua espada em uma vingança pessoal.... Por isso estou aqui... Para que receba sua pena pelo crime cometido.
- Eu vinguei a morte de seus filhos... Não traí ninguém. Minha única culpa foi tê-Lo desobedecido pela segunda vez, por amor a uma humana. Acabei de receber minha pena por tal crime ao perdê-la para sempre.
- Por que, Elyk? Eras um de meus preferidos... – A Voz demonstrava grande pesar, mas logo se tornou dura como o aço – A partir de hoje, viverás no limbo como aqueles que acabastes de matar, testemunhas da tua desobediência, se alimentando de humanas como essa em seus braços, a quem condenastes a morte, até o final dos tempos.
- Se essa é a Sua vontade... Agora pouco me importa o que fizeres de mim. Estou morto por dentro de qualquer maneira.
Tomada pela ira divina, a luz tornou-se tão forte a ponto de cegar todos os presentes. Trovões ressoaram nos céus como se fossem lamentos, e o dia, que a pouco raiara, voltou a ser noite. Uma dor excruciante cruzou através do corpo de Elyk, obrigando-o a soltar Cathela e cair no chão contorcendo-se em agonia extrema. Suas asas enegreceram, desintegrando-se no ar em milhares de partículas qual fuligem. Presas grandes e afiadas surgiram em sua boca e um frio polar dominou sua alma e seu coração.
Quando tudo terminou e apenas restou a escuridão, uma chuva fina e o cheiro carbonizado a sua volta, permaneceu ali, paralisado, ao lado do corpo de Cathela, confuso, sem entender nada do que acontecera. Apesar de tudo, custava a acreditar que seu Pai o renegara tão definitivamente. Alguns minutos se passaram. Antes que pudesse continuar com suas indagações silenciosas, percebeu uma sensação de queimadura na pele e os olhos arderam. Era o renascer do dia que se anunciava por detrás do céu encoberto. Talvez se ficasse mais tempo e o sol se libertasse das nuvens cinzentas, pudesse por um fim a sua existência. Porém, quando menos esperava, um manto foi jogado sobre seu corpo e mãos fortes o levantaram do chão, levando-o para o interior do castelo. Reclamou, pensando que fosse um de seus irmãos guerreiros, mas em seguida soube que não.
- O senhor está bem?
- Quem é você? Por que me trouxe para cá?
- Meu nome é Angus, senhor. Eu era escravo destes vampiros. Eles me mantinham cativo há mais de cem anos e o senhor me libertou. Serei eternamente grato, servindo-o como servia a eles. – disse o servo morto-vivo.
- Pode deixar-me aqui a minha própria sorte. Você está livre. Segue o teu caminho e eu seguirei o meu.
- Senhor... Não tenho mais como recuperar minha vida. Todos meus entes queridos estão mortos. A eternidade é minha dádiva e minha prisão. Peço que me deixe servi-lo, Sei o que aconteceu. Talvez possa ajudá-lo a encontrar aquele que se fez passar por vós.
Elyk, apesar de enfraquecido, sentiu uma nova onda de indignação e ódio encher seu peito. A imperiosa necessidade de sobreviver para descobrir o verdadeiro responsável pela morte de sua adorada Cath e aplacar a injustiça cometida contra ele, despontou e tomou lugar em sua nova essência. Alguém os tinha enganado e atraído para longe dos Sinclair e ainda tinha se feito passar por ele, tornando-o um traidor diante de seus companheiros. Não acreditava que Seu Pai pudesse crer nisso, devido a Sua Onipresença e Onipotência, mas já não estava certo de nada, depois do julgamento e punição extrema por que passara.
Ao fim daquele dia de pesadelo, em que assumiu o reino e a fortuna dos vampiros de Malachy, lançou-se até o local em que o corpo de Cathela deveria permanecer sem um enterro digno. Lá chegando, verificou que ela sumira. Enquanto a dor o dilacerava mais uma vez, Samuel surgiu a sua frente. Dessa vez, em atitude mais condescendente, dirigiu-se à Elyk.
- Eu já cuidei do corpo de Cath. Ela estará em paz...
- Deve estar feliz agora. Fui punido como desejava.– Uma espécie de negra e intensa revolta envolveu o espírito do ex-anjo guerreiro que já não confiava em mais ninguém. Um estranho desejo por vingança e por sangue era só o que carregava em seu peito. Não tinha mais amigos, não tinha mais um Pai ou quem quer que fosse para compartilhar seus pensamentos. Estava só e a única energia que o mantinha vivo era o ódio e o desejo de vingança.
- Nunca desejei o seu mal, meu amigo...
- Amigo? Horas atrás você me acusou de traição, acreditando em mentiras a meu respeito!
- Sinto muito ter acreditado nessa mentira... Fiquei revoltado, pois também gostava muito de Cath...
- Melhor ir embora daqui. Já fez o seu discurso de bom anjo. Agora, suma-se!
- Sinto muito, Elyk...
- Esse não é mais o meu nome. Já que não sou mais merecedor de estar ao lado de Quem nos criou, também não sou digno de carregar o nome que Ele me deu.
Samuel o olhou pela última vez frente a frente e desapareceu como uma sombra na noite.
Após esses acontecimentos, não demorou muito para que ele fosse procurado pelo lado sombrio da dimensão celestial. Um enviado de Lúcifer apresentou-se. Seu nome era Kolchak. Sua proposta era simples. Amaldiçoado por seu Criador ele não tinha escolha a não ser a de juntar-se ao exército de seu amo. Entretanto, o antigo guerreiro das forças divinas, apesar de todo o sofrimento, já aceitara a punição de Deus, considerando-se culpado por seu destino. Jamais aceitaria unir-se à oposição de tudo por que lutara enquanto anjo. Expulsou o demônio, assim como o faria em cada um dos séculos seguintes em que Kolchak o procuraria, sempre com a mesma proposta.
A partir desse dia, nascia Kyle Sinclair. Um anjo caído, uma alma perdida, um vampiro torturado em busca de uma vingança que nunca alcançaria.
Elyk provocou a ira do Senhor. Chamado e repreendido, foi obrigado a deixar de ser o protetor de Cathela e terminantemente proibido de vê-la ou seria punido com severidade.
Com o passar das semanas, a saudade de Cath crescia em seu peito, envenenando a noção de obediência devida ao seu superior. Não resistindo mais a falta de sua amada, procurou-a em uma manhã que a viu sozinha. Angustiada com sua ausência, Cath suplicou que ele nunca mais a abandonasse. Passaram a se encontrar diariamente, sempre que Cath estava só. Ela não conhecia seu novo guardião. Disse que podia sentir sua presença, mas jamais o vira. Às vezes podia ouvi-lo na forma de um sussurro ou de um suspiro e até como um vulto ao seu redor, mas nunca vira seu rosto. Apesar de saber que ele existia para sua proteção, havia algo na sua presença que incomodava. Não sabia explicar, pois era apenas uma sensação. Elyk jurou a ela que procuraria o Criador e rogaria que o tornasse mortal para que pudessem viver suas vidas em comunhão, fazendo florescer e frutificar seu amor. Neste dia, em que decidiu fazer a escolha pela humanidade, o desejo falou mais alto que nunca e Cath entregou a ele sua inocência e seu corpo. Amaram-se intensamente, de uma maneira tal que Elyk jamais pudera imaginar que fosse possível. Queria aquela mulher por todos os dias de sua existência e até que a morte os levasse de volta ao Criador. Eles haviam sido feitos um para o outro. Tinha certeza que sua súplica e o amor que transbordava por todos seus poros seriam capazes de mudar a opinião Dele.
Quando Elyk finalmente tomou coragem para falar com o Pai, recebeu um chamado de última hora. O sol já havia se posto. A aldeia dos Sinclair estava sofrendo um ataque violento dos vampiros do Leste. Aparentemente todos os guardiões locais haviam sido convocados para uma falsa reunião, que os afastou da aldeia, propiciando totalmente a ação dos demônios. Quando lá chegaram, encontraram destruição quase total. Os corpos dos aldeões massacrados encontravam-se dilacerados por toda a parte. Desesperado, Elyk procurou inutilmente por Cathela até que encontrou seu pai agonizante. Chegou a tempo de ouvir suas palavras antes do último suspiro. Materializando-se para amparar o velho Chief, esperava que ele pudesse ajudá-lo a encontrar Cath.
- Eles a levaram... Elyk... – a voz era apenas um fio quase inaudível e surpreendeu Elyk, pois ele não imaginava que o velho o conhecesse.
- Por que diz o meu nome?
Os olhos quase vítreos adquiriram um brilho de indignação e revolta ao encarar o anjo.
- Você... Você nos traiu... Quem é você, seu miserável?... – As poucas forças que ainda lhe restavam fluíram para seu braço que se ergueu no ar tentando atingir o rosto do anjo, que não conseguia entender o motivo daquela revolta.
Com o esforço, soltou um gemido alto e todo o ar restante em seus pulmões foi eliminado definitivamente. O braço erguido tombou para trás e os olhos permaneceram paralisados na face de Elyk.
- Parece que o seu nome foi citado pelos vampiros como o organizador deste massacre – disse um de seus companheiros.
- Como? Acham que fui eu que facilitei este ataque? Isso é um absurdo! – Levantou-se e encarou os demais anjos que o olhavam desconfiados. – Não vou perder meu tempo com invencionices de demônios. Não sei o porquê de meu nome ter saído da boca daqueles "chupadores de sangue", mas sei que preciso encontrar Cathela e vingar a morte de sua família. Saiam da minha frente, se não quiserem terminar essa missão. Vou ao castelo acabar com estes assassinos de uma vez por todas.
Todos se entreolharam. Diante do quadro de holocausto vigente na aldeia, decidiram ficar e ajudar os poucos sobreviventes.
Elyk desmaterializou-se e surgiu diante do castelo. Junto ao enorme portão, Samuel, o companheiro que o aconselhara a deixar Cathela, já o esperava. Em sua magnífica armadura prateada, estava munido de sua espada e pronto para o combate. No entanto, sua expressão não era amistosa quando olhou para Elyk.
- O que está fazendo aqui? Veio completar sua obra? Vai comemorar com seus novos amigos?
- Sobre o que você está falando? Vim para salvar Cathela e acabar de vez com estes demônios!
- Então por que eles dizem que você facilitou o ataque à aldeia? Resolveu mostrar ao Criador que não ficou satisfeito com seus desígnios?
- Você realmente acredita nisso, Samuel?
- Não o reconheço mais Elyk... Depois que se apaixonou por Cathela, passou a ir contra todas as leis celestiais.
Um grito desesperado ecoou do alto de uma das torres.
- Cath! – reconheceu Elyk – Saia da minha frente ou me ajude. Depois resolvemos nossas diferenças.
- Eu vou salvá-la – informou Samuel imperioso.
Sem prestar mais atenção, angustiado com a situação de Cath, Elyk voou para a torre, perseguido por Samuel, que tentava passar a sua frente, retardando-o. Infelizmente, quando estavam a meio caminho para o alto, dois vampiros surgiram para atacá-los. Foi quando o corpo de Cathela surgiu em queda livre rumo às pedras no solo. Elyk ainda pode sentir suas vibrações e seu último pensamento dirigido a ele. Ela saltara para não entregar-se ao chefe do clã dos vampiros.
Simultaneamente, Elyk e Samuel gritaram o nome da jovem, mortificados com a visão de sua morte inevitável. Tomado por uma fúria insana, Elyk se livrou das garras do monstro que o segurava, jogando-o contra o paredão do castelo, e desceu até onde o Cath permanecia imóvel. Samuel da mesma forma se livrou de seu algoz e voou para o alto da torre. Instantes depois, a cabeça de um vampiro ganhava o espaço, num floreio macabro, terminando por cair próximo à Cathela. Abraçando-a, Elyk buscava um resto do calor que sentira na véspera, quando a encontrara pela última vez. Não conseguiu chorar, pois a visão do semblante demoníaco na face decapitada do assassino caído pouco adiante deles, reacendeu novamente o ódio pela raça de sugadores. Abreviando a despedida de seu amor, lançou-se como anjo vingador insaciável contra a horda de vampiros que começava a surgir de todos os lados. Como um louco avançou com a espada em punho literalmente ceifando a vida dos "cães" de caninos afiados que ousavam desafiá-lo. Alguns de seus companheiros retardatários, que finalmente decidiram ir atrás dele, surgiram a tempo de assistir a tragédia em seu momento crucial. Passaram a combater os vampiros que ainda restavam, ao lado de Elyk. Samuel não estava entre eles.
O clã dos senhores do castelo de Malachy foi totalmente destruído naquela noite. Os sobreviventes foram obrigados a enfrentar a luz da manhã e viraram pó, juntamente com os restos de seus mortos.
Banhado pelo sangue impuro, Elyk voltou até onde Cathela repousava em seu sono perene. Sua expressão era de serenidade e pareceria estar apenas dormindo, não fosse a palidez mortal e a falta dos movimentos respiratórios. Caído de joelhos ao seu lado, elevou-a nos braços e chorou afinal, como nunca havia feito antes. Perguntava aos céus por que o Criador permitira sua morte. Não conseguia pensar em nada, envolto na revolta que estraçalhava seu coração, quando uma forte luz vinda dentre as nuvens apontou para ele como uma lança acusadora.
- Elyk! – chamou a voz tonitruante – Você traiu minha confiança, me desobedecendo e usando sua espada em uma vingança pessoal.... Por isso estou aqui... Para que receba sua pena pelo crime cometido.
- Eu vinguei a morte de seus filhos... Não traí ninguém. Minha única culpa foi tê-Lo desobedecido pela segunda vez, por amor a uma humana. Acabei de receber minha pena por tal crime ao perdê-la para sempre.
- Por que, Elyk? Eras um de meus preferidos... – A Voz demonstrava grande pesar, mas logo se tornou dura como o aço – A partir de hoje, viverás no limbo como aqueles que acabastes de matar, testemunhas da tua desobediência, se alimentando de humanas como essa em seus braços, a quem condenastes a morte, até o final dos tempos.
- Se essa é a Sua vontade... Agora pouco me importa o que fizeres de mim. Estou morto por dentro de qualquer maneira.
Tomada pela ira divina, a luz tornou-se tão forte a ponto de cegar todos os presentes. Trovões ressoaram nos céus como se fossem lamentos, e o dia, que a pouco raiara, voltou a ser noite. Uma dor excruciante cruzou através do corpo de Elyk, obrigando-o a soltar Cathela e cair no chão contorcendo-se em agonia extrema. Suas asas enegreceram, desintegrando-se no ar em milhares de partículas qual fuligem. Presas grandes e afiadas surgiram em sua boca e um frio polar dominou sua alma e seu coração.
Quando tudo terminou e apenas restou a escuridão, uma chuva fina e o cheiro carbonizado a sua volta, permaneceu ali, paralisado, ao lado do corpo de Cathela, confuso, sem entender nada do que acontecera. Apesar de tudo, custava a acreditar que seu Pai o renegara tão definitivamente. Alguns minutos se passaram. Antes que pudesse continuar com suas indagações silenciosas, percebeu uma sensação de queimadura na pele e os olhos arderam. Era o renascer do dia que se anunciava por detrás do céu encoberto. Talvez se ficasse mais tempo e o sol se libertasse das nuvens cinzentas, pudesse por um fim a sua existência. Porém, quando menos esperava, um manto foi jogado sobre seu corpo e mãos fortes o levantaram do chão, levando-o para o interior do castelo. Reclamou, pensando que fosse um de seus irmãos guerreiros, mas em seguida soube que não.
- O senhor está bem?
- Quem é você? Por que me trouxe para cá?
- Meu nome é Angus, senhor. Eu era escravo destes vampiros. Eles me mantinham cativo há mais de cem anos e o senhor me libertou. Serei eternamente grato, servindo-o como servia a eles. – disse o servo morto-vivo.
- Pode deixar-me aqui a minha própria sorte. Você está livre. Segue o teu caminho e eu seguirei o meu.
- Senhor... Não tenho mais como recuperar minha vida. Todos meus entes queridos estão mortos. A eternidade é minha dádiva e minha prisão. Peço que me deixe servi-lo, Sei o que aconteceu. Talvez possa ajudá-lo a encontrar aquele que se fez passar por vós.
Elyk, apesar de enfraquecido, sentiu uma nova onda de indignação e ódio encher seu peito. A imperiosa necessidade de sobreviver para descobrir o verdadeiro responsável pela morte de sua adorada Cath e aplacar a injustiça cometida contra ele, despontou e tomou lugar em sua nova essência. Alguém os tinha enganado e atraído para longe dos Sinclair e ainda tinha se feito passar por ele, tornando-o um traidor diante de seus companheiros. Não acreditava que Seu Pai pudesse crer nisso, devido a Sua Onipresença e Onipotência, mas já não estava certo de nada, depois do julgamento e punição extrema por que passara.
Ao fim daquele dia de pesadelo, em que assumiu o reino e a fortuna dos vampiros de Malachy, lançou-se até o local em que o corpo de Cathela deveria permanecer sem um enterro digno. Lá chegando, verificou que ela sumira. Enquanto a dor o dilacerava mais uma vez, Samuel surgiu a sua frente. Dessa vez, em atitude mais condescendente, dirigiu-se à Elyk.
- Eu já cuidei do corpo de Cath. Ela estará em paz...
- Deve estar feliz agora. Fui punido como desejava.– Uma espécie de negra e intensa revolta envolveu o espírito do ex-anjo guerreiro que já não confiava em mais ninguém. Um estranho desejo por vingança e por sangue era só o que carregava em seu peito. Não tinha mais amigos, não tinha mais um Pai ou quem quer que fosse para compartilhar seus pensamentos. Estava só e a única energia que o mantinha vivo era o ódio e o desejo de vingança.
- Nunca desejei o seu mal, meu amigo...
- Amigo? Horas atrás você me acusou de traição, acreditando em mentiras a meu respeito!
- Sinto muito ter acreditado nessa mentira... Fiquei revoltado, pois também gostava muito de Cath...
- Melhor ir embora daqui. Já fez o seu discurso de bom anjo. Agora, suma-se!
- Sinto muito, Elyk...
- Esse não é mais o meu nome. Já que não sou mais merecedor de estar ao lado de Quem nos criou, também não sou digno de carregar o nome que Ele me deu.
Samuel o olhou pela última vez frente a frente e desapareceu como uma sombra na noite.
Após esses acontecimentos, não demorou muito para que ele fosse procurado pelo lado sombrio da dimensão celestial. Um enviado de Lúcifer apresentou-se. Seu nome era Kolchak. Sua proposta era simples. Amaldiçoado por seu Criador ele não tinha escolha a não ser a de juntar-se ao exército de seu amo. Entretanto, o antigo guerreiro das forças divinas, apesar de todo o sofrimento, já aceitara a punição de Deus, considerando-se culpado por seu destino. Jamais aceitaria unir-se à oposição de tudo por que lutara enquanto anjo. Expulsou o demônio, assim como o faria em cada um dos séculos seguintes em que Kolchak o procuraria, sempre com a mesma proposta.
A partir desse dia, nascia Kyle Sinclair. Um anjo caído, uma alma perdida, um vampiro torturado em busca de uma vingança que nunca alcançaria.
(continua...)
O que acharam? Que injustiça com o pobre do Elyk, não? Aguardem a próxima semana...rsrsrs
Gostaram do novo visual do blog?
Agradeço mais uma vez às minhas queridíssimas Léia, Nadja e Lucy por seus comentários, que eu amei, como sempre. Voces são uns amores!
Um hiper beijo carinhoso para todos!
Fiquei totalmente indignada e com tanta dó do Elyk, que traição horrível, que maneira invejosa de perder o amor da vida dele!!!
ResponderExcluirMais um capítulo maravilhoso amiga, uma justificativa mais que perfeita pra toda solidão e desprezo que o Kyle tem por anjos, não é pra menos, afinal Ele foi enganado e convencido, mesmo em sua consciência e onipresença, de uma grande mentira... e por causa dessa decisão completamente errada o Elyk tem sofrido há mil anos, compreensível que ele queira vingança.
Mas a bondade e dignidade que habitavam seu coração continuam presentes, mesmo que encobertas por uma grande camada de ódio. Dá pra imaginar o resgate que a Ariel vai provocar, ou é bem mais do que isso?????
Beijos Rô e parabéns por mais esse capítulo!!!!
O blog está lindo.. A foto de Cidade dos Anjos é perfeita. Então quer dizer que você está escrevendo um livro sobre Anjos? Adorei! Vou começar a ler desde o primeiro capítulo :)
ResponderExcluirSuper beijos
Dani
http://chabiscoitoseumlivro.blogspot.com
Primeiro de tudo ficou um arraso o novo plano de fundo transmite na medida a mensagem romântica aventureira do blog.
ResponderExcluirSniff já acabou?! Só na próxima semana... buá, buá, buá eu quero mais. Bom agora vou fechar a boca depois de conheçer a verdadeira história do nosso vampiro e o melhor que desde do inicio eu mencionava a chance dele surpreender com tantos mistérios ao seu redor, dito e feito só não esperava uma passagem tão triste, sofrida e injusta. Agora fiquei com uma interrogação no ar e o corpo de Cath será que foi mesmo velado por Samuel? Será que Ariel tem algum vinculo indireto com ela? Afinal nesse mundo de Anjos e vampiros tudo pode aconteçer.
PS: Vou ficar na torcida pela antecipação do próximo capítulo afinal temos um feriado generoso no meio da semana quem sabe né... kkk
Super beijo meninas!!!
Olá!
ResponderExcluirEu vim agradecer e retribuir a gentil visita ao meu blog. Obrigada, volte mais vezes.
Precisarei retornar mais vezes porque tenho que ler desde o ínício, pelo visto cheguei um pouco tarde para acompanhar junto as postagens. Mas material não falta, né. Parabéns.
BjoO
Pri
Entre Fatos e Livros
Nossa, Rô, que capítulo mais tocante! Linda a história de amor entre Cathela e Elyk, eu sou fascinada pelos Anjos, acho que já te contei isso, e essas histórias de amor sempre me deixam emocionada, apesar de conhecer a sua impossibilidade.
ResponderExcluirAchei muito mais do que injustiça, uma sacanagem mesmo essa punição ao Elyk. Mas acho que não foi uma punição de Deus, o que o fez enveredar para o mundo das trevas foi o desejo de vingança pessoal que tomou conta de seu ser. A partir do momento em que experimentou o amor, passou a sentir todos os meandros que o abraçam, como a dor, a tristeza, a alegria, a saudade. E, então, não mais como um emissário divino, passou a agir como um humano agiria, quando tomado por tamanho sofrimento que lhe corrompeu a alma. Acho que é sempre assim, não sei se me faço entender. Acho que quando a pessoa desencarna, após passar os primeiros momentos de perturbação, se o espírito consegue sentir-se livre de ódios, de rancores, mágoas que assolam o pensamento, então ele fica mais leve e consegue alçar dimensões mais altas, pois se encontra em sintonia com os sentimentos mais puros que existem por lá. Contudo, se o espírito fica raivoso, alvoroçado com as pretensas injustiças que sofreu, se não consegue se desvencilhar de seus algozes, então ele fica atrelado a dimensões mais pesadas, onde a negatividade fica circundando entre todos os que se encontram por ali.
Enfim, não quero crer que o Criador tenha penalizado o nosso bom Anjo dessa forma tão cruel, espero que possa haver algo por trás de tudo isso, pois essa seria uma pena muito severa a um 'delito' não tão grave assim; afinal ele não traiu, roubou, matou etc., ele só amou - e, por amar, pecou, como todos nós. Beijinhos