quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Vampiro de Edimburgo - Capítulo XI

by Kodama e Fantin

Apesar de já me sentir recuperada pela perda de sangue, eu não conseguia me mover, paralisada que estava depois de ouvir o relato de Kyle.
- Então... Você é um anjo caído? – perguntei estupefata.
- Uma péssima companhia para você...
- Adotou o nome Sinclair em homenagem à sua... – Não consegui completar a frase por algum motivo.
- E Kyle, que obviamente é o inverso de meu antigo nome. Kyle Sinclair... Eu poderia ter sido mais criativo, não acha? – indagou parecendo divertir-se com o fato. – Na verdade, acabei por escolher esse nome em meados do século XIII, quando iniciei minha carreira como banqueiro. Como descobri que era importante o registro das transações comerciais, precisei adquirir um nome real.
- Por que está brincando com isso? Não há nada de engraçado na sua história...
- O tempo desgastou meus sentimentos e aplacou meu ódio e o desejo de vingança. Hoje vejo que nada disso é importante. Quem realmente me importava pereceu e, mesmo que eu soubesse o porquê ou quem provocou sua morte, isso não a traria de volta.
Senti  uma grande necessidade de consolar aquele homem-vampiro-anjo, ou fosse lá o que ele fosse. Queria abraçá-lo e beijá-lo, até que sua dor desaparecesse e ele substituísse Cathela em seu coração...
- Pensei que ela havia voltado para mim quando conheci Leonora. – ele continuou.
- Leonora?
- Ela é exatamente igual à Cath. Pelo menos, fisicamente... Acredito que algum sobrevivente dos Sinclair foi levado ao clã dos MacTrevor e a hereditariedade, depois de todos esses séculos,  tornou Leonora fenotipicamente igual á minha Cath.
Então... Ele já tinha uma substituta em seu coração... E não era eu...
- Por que queria se matar? – perguntei para evitar pensar em mais bobagens ilusionistas.
- Kolchak me procurou mais uma vez e ameaçou a vida de Dominic e de Leonora caso eu não me una a ele e a toda a corja de Lúcifer.
- Como? – Tive um sobressalto.
- Nas últimas visitas que ele me fez, conseguiu determinar  pessoas com quem eu estava afetivamente envolvido e torná-las vítimas para me chantagear. Na primeira vez, conseguiu me enganar, colocando um de seus lacaios fingindo ser amigo. Quando descobri, o pobre condenado baixou aos níveis mais baixos do Inferno. Nos séculos seguintes, passou a escolher entre humanos por quem eu tinha alguma empatia.
- Dom seria o escolhido neste século? – perguntei, apesar de já saber a resposta.
- É o que tudo indica...
- Eu fui enviada para proteger Dom de alguma coisa maligna. Até pouco tempo imaginava que fosse você o Mal a ser afastado dele. Agora sei que não é você o perigo... Pelo menos... É o que tudo indica. - tentei brincar... Mas ele não sorriu.
A partir daí resolvi calar-me. Ainda não tinha certeza se realmente podia confiar em Kyle; mesmo depois de tudo que ele me contara. Tinha medo de ser enganada por meu coração... Também precisava falar com Samuel a respeito de seu passado e por que ele escondera informações tão importantes. O quebra-cabeça parecia mais confuso ainda. Minha cabeça começou a doer muito. Talvez a descoberta sobre Elyk, sobre meus sentimentos em relação a ele, dos sentimentos dele para com Leonora... Eu precisava sair dali...
- Ariel! – exclamou Kyle angustiado, provavelmente preocupado com a minha expressão de dor e por ter fechado os olhos. – Você está bem?
- Estou bem. – respondi secamente, abrindo os olhos e tentando fugir do seu olhar. Tinha medo que descobrisse o que realmente eu sentia por ele. Era algo inadmissível... – Tenho que sair.
Tentei levantar-me, mas sua mão, agora dotada de nova energia, agarrou-me pelo braço, evitando que eu fugisse.
- Você não me parece muito bem. – falou com aparente preocupação, algo que atribuí à minha fértil imaginação e ao desejo de que aquilo fosse real.
- Quer fazer o favor de me largar? – quase gritei. Precisava desesperadamente escapar daquele quarto,  da minha ridícula fantasia e... daquele olhar.
Ele recuou visivelmente aborrecido.
- Pode ir. Já cumpriu sua boa ação do dia e conseguiu todas as informações sobre mim. Ganhou seu dia, não? – disse irritado.
Afinal, voltara a ser o vampiro de sempre.
- Pode ter certeza que sim.
- Seu protegido não precisa temer nada de mim... Nem você...
O modo como ele falou as duas últimas palavras me deixaram tão atordoada, que me desmaterializei imediatamente, deixando-o cabisbaixo, sentado à cama.
Com um pouco de esforço, mentalizei Dom e o localizei ainda na Ópera de Praga. Que festa mais comprida! Isso que o homenageado já nem estava mais lá. Aliás, por pouco não faria mais parte desse mundo... Ainda não decidira se deveria contar a história de Sinclair para o meu protegido ou procurar Samuel e espremê-lo contra a parede até ele falar tudo que sabia sobre esse enredo mal explicado.



- Então,  pensou que se livraria de nós acabando com sua vida? – A voz de Kolchak era inconfundível. Irritante e inconveniente.
- O que está fazendo aqui? Nosso encontro não era para daqui um mês? – perguntei aborrecido com a invasão do demônio.
- Quero lembrar que o suicídio pode levá-lo até nós...
- Para um morto-vivo não existe esse termo suicídio, portanto eu não iria a lugar algum.
- Caro Kyle... Espero que não tente mais esse tipo de subterfúgio, caso contrário seus queridos amigos, Dominique e Leonora o acompanharão de qualquer maneira a lugar algum... Meu chefe não ficou nada contente com o que você fez...
- Suma daqui!
- Antes, gostaria de falar sobre a inocente Ariel, que tão corajosamente o salvou, mesmo sendo você quem é. Sem querer ela nos foi útil, alimentando-o. Diria que é um ser muito especial...
Kyle sentiu como se lava quente ameaçasse sair de seu peito, mas segurou a explosão e manteve o olhar o mais impassível que pode, para não dar motivos a Kolchak para perseguir a protetora de Dom. Ele não podia demonstrar seus sentimentos ou ela se tornaria o foco de atenção daqueles monstros.
- Ela me odeia. Fez aquilo porque é um anjo, uma pobre domínio, que não poderia ver nem um cão morrer em sua frente, sem tentar ajudá-lo.
- Pode ser, mas vou ficar de olho nela... Em vocês...  – disse, apontou o dedo ameaçadoramente para mim e desapareceu.
Teria a festa terminado? Peguei o telefone sobre a mesa de cabeceira ao lado da cama e liguei para a recepção. Uma sensação nada agradável tomou conta de mim.
- Boa noite. Poderia me informar se Dominique MacTrevor e sua irmã já retornaram ao hotel?... Ainda não?... Obrigado. – encerrei a ligação preocupado.



A sirene do carro policial já fora desligada e os convidados começavam a retirar-se, passado o interesse pelo infeliz ocorrido. O culpado ainda encontrava-se na sala reservada sendo interrogado pelo policial em serviço naquela noite, enquanto Leonora descansava num sofá do salão principal, rodeada pelos braços de seu irmão, ainda com expressão de medo e vergonha pelo que acontecera. Instintivamente, procurei Nathanael com um pedido telepático, mas ele surpreendentemente não respondeu. Então fui direto para Dom tentar saber o que acontecera em minha ausência.
Ao  ver-me, lançou um olhar cansado e ao mesmo tempo aliviado. Com movimentos labiais, disse que falaria comigo depois. Também consegui entender que Leonora estava bem. Apenas assustada. Foi então que Nathanael surgiu ao meu lado.
- Onde você estava e o que aconteceu aqui? – perguntei exaltada.
- Eu estava procurando por você para dar um apoio ao seu protegido! Você agora resolveu ser babá de banqueiro?
- Achei que estava tudo bem. Pensei que você pudesse dar conta do recado sozinho.
- Cada um tem a sua responsabilidade...
- E pelo jeito você não deu conta da sua!
Nathanael fechou o cenho e não respondeu.
- O que aconteceu? Pode me dizer, senhor Nathanael?
- Leonora foi atacada por um dos rapazes com quem estava flertando.
- Como assim, atacada?
- Felizmente não aconteceu nada grave, mas ele tentou violentá-la em uma das salas de música do prédio.
- Oh, Santo Deus! Como você deixou isso acontecer?
- Não aconteceu nada, pois eu interferi; caso contrário ela teria perdido sua virgindade hoje!
- Está bem... Desculpe... Fiquei nervosa com tudo isso e culpada por não estar presente para ajudá-lo. Você agiu corretamente.
Um policial a paisana aproximou-se do casal de irmãos e disse algumas palavras. Num segundo eu estava ao lado de Dom para ouvir o que ele dizia.
- Gostaríamos que a senhorita desse um pequeno depoimento. É possível?
- Posso acompanhá-la? – perguntou Dominique.
- Não! Eu prefiro ir sozinha... Por favor. – rogou ela remoída em vergonha.
- Tem certeza que quer falar com ele a sós? – indagou protetor.
- Tenho... Eu ficarei com vergonha de você se estiver junto, entende? – explicou docemente.
- Entendo... Mas se mudar de ideia, me chame, certo? – falou aconchegando as mãos da irmã entre as suas e depositando um beijo sobre o dorso de uma delas.
- Certo. – respondeu com um sorriso tímido nos lábios, para logo olhar para o investigador que aguardava pacientemente a sua frente e dizer, subitamente amadurecida. – Estou pronta.
- Pode ser aqui mesmo. São apenas poucas perguntas para estabelecer a queixa contra aquele safado. Ele não tem ficha ou histórico algum no departamento. – esclareceu o homem em um inglês com forte sotaque.
- Então, eu vou ficar logo ali. – disse Dom apontando para uma janela alguns metros adiante, distante o suficiente para dar a reserva necessária para não ouvir  o que Leonora conversaria com o policial.
Foi a deixa para que eu me aproximasse de Dom e soubesse o que acontecera com detalhes.
- O que houve, Dom?
- Um dos rapazes com que Leonora dançou, num momento em que me distraí,  levou-a até uma sala isolada e tentou... Você sabe... Por sorte, Nathanael me avisou e eu pude chegar a tempo antes que acontecesse algo mais sério. – Só então percebi o rosto de Dom machucado e um inchaço sob o olho direito.
- Você lutou com ele?
- Sim... Por que acha que chamaram a polícia? Quando vi o que estava acontecendo, enlouqueci e me joguei sobre o miserável. Acho que o mataria se não tivessem me tirado de cima dele. Acho que esse nunca mais vai tentar forçar outra garota a fazer o que ele quer.
- Oh, Dom... E eu não estava aqui...
- Não se culpe... E Kyle, como está?
- Agora está bem, mas... Mais tarde teremos que conversar sobre ele.
- Algum problema sério?
- Mais tarde... Agora temos que dar atenção a Leonora.
Meu olhar foi desviado para a entrada principal onde uma figura imponente, minha conhecida, entrava  ameaçadoramente. Como ele soubera do que estava acontecendo?
Porém, ao invés de ir em nossa direção ou na de Leonora, encaminhou-se para a sala onde o aprendiz de violentador estava detido.
- Fique com a Leonora, que vou ver o que está acontecendo.
Imediatamente me encaminhei à sala reservada.
- O senhor não tem permissão para entrar aqui. – dizia o homem de farda para Kyle.
Este olhou o homem seriamente aborrecido.
- Eu sou responsável pela jovem que foi agredida e, portanto, tenho direito de falar com essa... besta.
- Certamente, senhor. Aguardarei ali fora.
Ele usara algum tipo de poder mental sobre o pobre humano. Fiz menção de me retirar, pois não queria ser testemunha de qualquer violência, mas fui segura pela voz firme e grave de Kyle.
- Fique! Quero que veja isso.
- Não pretendo ver ninguém ser massacrado.
Ele riu, e tornou a virar-se para o infeliz, que estava algemado e sentado na borda do assento de uma poltrona de veludo, num dos cantos da saleta. Fuzilou-o com o olhar, provocando uma expressão aterradora na face do jovem.
- Olhe, não sei quem você é, mas precisa acreditar que não sei o que aconteceu. Achei ela linda e apenas queria beijá-la... Normal... Mas então algo se apoderou de mim e... Não sei o que aconteceu! Foi como se algo primitivo tivesse tomado conta de ... – Sua fala foi interrompida e seu corpo se enrijeceu, fazendo-o atirar a cabeça para trás e revirar os olhos até que apenas o branco das escleróticas ficasse visível. Seu rosto, parecendo uma máscara  distorcida, voltou-se na direção de Kyle, que não aparentava surpresa alguma com o que estava acontecendo.
- Isso foi apenas um aviso, Elyk... – disse com uma voz gutural, liberando uma gargalhada assustadora ao final.
- Quanta honra receber o próprio Lúcifer, ao invés do seu lacaio.  – disse sarcástico. – Parece que consegui irritá-lo mesmo.
- Que bom que ainda conserva seu senso de humor... Logo não o terá. – ameaçou e calou-se, liberando sua vítima.
O jovem, livre de sua possessão, amoleceu o corpo e desabou desleixadamente sobre a poltrona, desacordado.
Materializei-me. Devia estar com aparência de morta,  pois Kyle clamou meu nome até que eu me fixasse em seu olhos.
- Fale comigo, Ariel...Está bem?
- Estou... – sussurrei.
- Entende agora o que eu lhe falei lá no hotel?
- Sim... Mas por que ele fez isso com Leonora?
- Ele não gostou da minha tentativa de abandonar o jogo.
- Para você é apenas um jogo?
- Maldição! É apenas uma maneira de falar, mulher!
- Eu não sou uma mulher...
De repente, vi aqueles olhos ardentes sobre mim mais uma vez. Era assim que ele manifestava seu desprezo por mim? Fazendo-me sentir perdida? Deixei de pensar quando senti meus lábios sucumbirem violentamente sob os dele. Uma vertigem tomou conta de mim e, graças às mãos que me seguravam nada gentilmente, não fui ao solo. Senti um estranho vazio quando ele se afastou e me olhou transtornado.
- Ainda acha que não é uma mulher?
Senti meus olhos umedecerem e só pensava em me afastar daquele macho que provocava meus sentimentos e me fazia sentir tolamente estranha.
Mesmo que eu conseguisse achar minha voz para responder ao seu questionamento, não teria mais sua atenção, pois o rapaz já começava a recuperar a consciência e olhava assustado para Kyle, pois a mim ele não podia ver, pois acabara de desmaterializar-me. Fugi para perto de Dom, com a desculpa de saber como estava Leonora e tentar voltar a um estado próximo ao normal.

(continua...)


Olá! Atendendo a pedidos (não é, Léia?...rsrsrs) estou postando esse capítulo um pouco mais cedo. Espero que tenham gostado.
Mais uma vez agradeço às minhas top comentaristas, Nadja e Léia, e à visita das queridas Daniele, do blog Chá, Biscoitos e um Livro, e Pri, do blog Entre Fatos e Livros
O meu muito obrigada também àqueles que vieram até aqui, leram, gostaram ou não, e não deixaram seu comentário. Espero que continuem voltando e divulgando o blog... ou não.
Desejo a todos um excelente feriado. Curtam ao máximo esse dia (ou dias, para quem terá a chance de fazer feriadão)!
Deixo voces aqui, pois temos muito trabalho a frente para dar continuidade ao romance do Kyle e da Ariel...
Até a próxima sexta! Beijos!!

6 comentários:

  1. Yuhull pedido atendido com toda categoria possível estou uma estátua aqui com tantos picos de humores e sentimentos saltando no ar por esse casal que nós deixa de boca aberta. Quando penso que vai um balde de água fria cai sobre eles, mas confesso que fica uma excitação fora do controle mal posso imaginar quando esses dois se entregar de vez...ui,ui,ui.Poxa e eu achando que a Leonora iria encontrar um rapaz de boa índole no baile, mas pareçe que não foi dessa vez. Só no próximo post coitada das minhas unhas vão ficar no cotoco... kkk

    Ótimo feriadão! Super beijões "-_-"

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Rô, mais uma vez arrasou... não sei viver mais sem esse blog rsrsrs

    beijão

    ResponderExcluir
  3. Rosane,estou gostando muito desse romance estou acompanhando muito entusiasmada com cada capítulo .Acho que terei boas surpresas com esse romance.Tudo de bom pra você e muita sorte também.Bjos Dio.

    ResponderExcluir
  4. Mais um capítulo lindo amiga, ai, ai, quantos suspiros, rsrsrs, esses "desentendimentos" de sentimentos entre o Kyle e a Ariel dão um friozinho na barriga, os dois apaixonados um pelo outro e esse sofrimento por desconhecer que há reciprocidade, adoroooooo!!!
    Esse Kolchak devia voltar pra o lugar de onde veio e ficar por lá pela eternidade, quanta maldade. Fiquei com uma dó do rapaz que foi possuído, coitado (me lembrei do filme "O Exorcista"!) e a pobre da Leonora, seu primeiro baile e ter que passar por uma experiência tão triste....
    Parabéns Rô e beijosss!!!!

    ResponderExcluir
  5. Olá, parabéns pelo blog e pelos seus livros!
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  6. Amiga, coitado do Kyle!!! Inferno é pouco para dizer o que se tornou a sua vida!
    E é tão lindo essas primeiras faíscas de amor entre o Kyle e a Ariel! Fiquei imaginando a cena, senti as borboletas no estômago naquele contato tão próximo, quase desmaiei de tanto suspirar! Muito lindo mesmo, Rô! Beijinhos

    ResponderExcluir

Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!