by Kodama e Fantin
Foi difícil para Leonora pegar no sono naquela noite tal a excitação com as compras feitas durante a tarde ao lado de Sinclair. Jamais se sentira tão importante e adulta como quando adentrou em uma das mais conhecidas e caras lojas de Edimburgo. Atendida como uma princesa da mais alta estirpe, depois de experimentar a maioria dos vestidos e procurar a aprovação do irmão e de seu benfeitor, acabou por escolher um traje de tafetá de seda, na cor azul turquesa, que combinava perfeitamente com sua pele clara, cabelos ruivos e olhos azuis. Tive dificuldade em identificar a causa do mal estar que me atingiu ao notar o extasiamento indisfarçado no olhar de Sinclair ao ver a garota no deslumbrante vestido sem alças, que realçava seus seios pequenos e arredondados e sua cintura fina. Certamente o motivo era minha preocupação com a inocente Leonora e minhas suspeitas quanto às verdadeiras intenções libidinosas daquele homem em relação a ela.
Enquanto Nathanael velava o sono da garota, tentando induzi-la, conforme me dissera que tentaria, a sonhar com um jovem de sua turma, pelo qual estava interessada, Dominic escrevia seu artigo, falando a respeito das andanças de Kyle Sinclair e fazendo planos sobre a futura viagem. Já ouvira falar muito sobre a capital da República Tcheca e estava entusiasmadíssimo com a possibilidade de conhecê-la, mesmo que estivesse a trabalho. Mergulhada em minhas preocupações, andava de um lado para o outro junto a Dominic, a procura de respostas para o meu quebra-cabeça.
- Você quer parar de andar “prá lá e prá cá”, por favor? Está atrapalhando o meu raciocínio, Ariel.
- Quem manda você poder me ver e ouvir.
- Infelizmente é algo que eu não posso controlar. Quem dera pudesse fazê-lo numa hora dessas – finalizou irritado.
- Por que você não fala desse jeito com o seu amado senhor Sinclair? Só dá uma de mandão comigo.
Ele soltou um suspiro profundo e permaneceu calado, pois não queria continuar aquela discussão.
Antes que pudesse iniciar um sermão quanto ao seu comportamento tímido diante dos desmandos de Sinclair, ouvi o chamado telepático de Yesalel.
- Yesalel! – exclamou Dominic olhando ao seu redor, na esperança de vê-la. – O que ela quer com você, Ariel? Por que não me disse que tinha contato com ela. Eu preciso vê-la, nem que seja por alguns minutos.
-Você também pode ouvir mensagens telepáticas? – exclamei surpresa com a invasão de privacidade.
- Desculpe... Apenas senti a presença dela de alguma maneira... Eu preciso vê-la, falar com ela...Por favor...
- Sinto muito, mas não sei se é possível.
- Por favor... – suplicou com tal olhar de aflição que me emocionou, pois eu tinha alguma ideia da miséria emocional em que ele se encontrava pela ausência de Yesael até aquele momento.
Podia sentir a falta que ela lhe fazia e o amor intenso que trazia preso em seu coração. Desde que ela fora substituída por mim, eles não tinham tido oportunidade de encontrar-se.
- Vou ver o que posso fazer. Por enquanto o que posso lhe dizer, e que eu não devia, é que ela também sente muito a sua falta, Dom.
Desmaterializei-me para evitar a súplica do apaixonado e encontrar a tristeza estampada na face de Yesalel.
- O que há com vocês dois? Têm que parar com isso. Sabem que não é permitida a união de anjos e humanos.
- Em certos casos especiais, sim. – replicou Yesalel.
- Está bem... Já ouvi falar sobre isso, mas são casos muito especiais. Não o caso de uma guardiã e seu protegido. Isso é muita piração. Era óbvio que ele se apaixonaria por você se a conhecesse... E ele a conheceu só por causa do poder que tem de ser capaz de ver os anjos.
- E você tem ideia de porque ele tem essa capacidade e quem são os “escolhidos”?
- Você descobriu alguma coisa, Yesalel?
- Encontrei o pai do Dom.
- O quê? Como ? Me conta tudo!
- Ele está em um campo de refugiados na Somália numa missão de evangelização. Ele só se dispôs a falar comigo quando eu disse que tinha sido excluída como protetora de seu filho. Aliás, ele não é de muitas palavras, a não ser quando fala do Senhor.
- O quê ele disse, Yesalel? Não me mate de curiosidade!
- Quis saber como estavam os filhos e disse que só se engajara naquela missão porque sabia que eles ficariam protegidos pelo Divino e...
- E??
- Empalideceu quando falei sobre a amizade de Dominic com Sinclair.
- Então ele o conhece?
- Parece que sim, mas não entrou em detalhes. Apenas pediu que continuássemos a observá-lo.
- E ele explicou porque eles podem nos ver? E que história é essa de Escolhido e missão especial?
- Está preparada para ouvir? Não quer se sentar?
- Pelo amor do Senhor, Yesalel! Fala logo!
- O pai de Dom é um Anjo Caído.
- C-como? Está brincando? – Quem ficara caído com aquela revelação fora o meu queixo.
- Jamais brincaria com uma coisa dessas.
- Como você nunca soube antes, convivendo com eles?
- Eu sabia...
- Mas por que não me falou isso antes?... – perguntei ainda estupefata.
- Imaginei que você ainda não estava preparada, já que essa informação não lhe foi dada por Samuel.
- E por que contou agora?
- Decidi fazer isso depois da conversa que tive com Damian. Nunca tínhamos tocado nesse assunto. Você sabe como isso é meio tabu na esfera superior e ele só tocou no assunto depois que eu contei sobre Sinclair. Existe alguma relação entre os dois, mas ele não quis falar sobre isso. Acha que pode prejudicar sua missão e a sua salvação.
Os Anjos Caídos eram rebeldes, expulsos dos céus por irem contra o poder do Senhor. Alguns, arrependidos, aceitaram viver na Terra, junto aos humanos, praticando boas ações, afim de que no dia do Juízo Final, recebessem a libertação e voltassem à companhia do Criador. Eu já ouvira falar sobre eles muito discretamente, pois o assunto costumava ser evitado na dimensão celestial.
- E o que mais ele disse?
- Quis informações a seu respeito e pediu para lhe dar um recado.
- Imagino qual... Para ter cuidado com Sinclair...
- Não... Com nosso Chefe...
Enquanto Nathanael velava o sono da garota, tentando induzi-la, conforme me dissera que tentaria, a sonhar com um jovem de sua turma, pelo qual estava interessada, Dominic escrevia seu artigo, falando a respeito das andanças de Kyle Sinclair e fazendo planos sobre a futura viagem. Já ouvira falar muito sobre a capital da República Tcheca e estava entusiasmadíssimo com a possibilidade de conhecê-la, mesmo que estivesse a trabalho. Mergulhada em minhas preocupações, andava de um lado para o outro junto a Dominic, a procura de respostas para o meu quebra-cabeça.
- Você quer parar de andar “prá lá e prá cá”, por favor? Está atrapalhando o meu raciocínio, Ariel.
- Quem manda você poder me ver e ouvir.
- Infelizmente é algo que eu não posso controlar. Quem dera pudesse fazê-lo numa hora dessas – finalizou irritado.
- Por que você não fala desse jeito com o seu amado senhor Sinclair? Só dá uma de mandão comigo.
Ele soltou um suspiro profundo e permaneceu calado, pois não queria continuar aquela discussão.
Antes que pudesse iniciar um sermão quanto ao seu comportamento tímido diante dos desmandos de Sinclair, ouvi o chamado telepático de Yesalel.
- Yesalel! – exclamou Dominic olhando ao seu redor, na esperança de vê-la. – O que ela quer com você, Ariel? Por que não me disse que tinha contato com ela. Eu preciso vê-la, nem que seja por alguns minutos.
-Você também pode ouvir mensagens telepáticas? – exclamei surpresa com a invasão de privacidade.
- Desculpe... Apenas senti a presença dela de alguma maneira... Eu preciso vê-la, falar com ela...Por favor...
- Sinto muito, mas não sei se é possível.
- Por favor... – suplicou com tal olhar de aflição que me emocionou, pois eu tinha alguma ideia da miséria emocional em que ele se encontrava pela ausência de Yesael até aquele momento.
Podia sentir a falta que ela lhe fazia e o amor intenso que trazia preso em seu coração. Desde que ela fora substituída por mim, eles não tinham tido oportunidade de encontrar-se.
- Vou ver o que posso fazer. Por enquanto o que posso lhe dizer, e que eu não devia, é que ela também sente muito a sua falta, Dom.
Desmaterializei-me para evitar a súplica do apaixonado e encontrar a tristeza estampada na face de Yesalel.
- O que há com vocês dois? Têm que parar com isso. Sabem que não é permitida a união de anjos e humanos.
- Em certos casos especiais, sim. – replicou Yesalel.
- Está bem... Já ouvi falar sobre isso, mas são casos muito especiais. Não o caso de uma guardiã e seu protegido. Isso é muita piração. Era óbvio que ele se apaixonaria por você se a conhecesse... E ele a conheceu só por causa do poder que tem de ser capaz de ver os anjos.
- E você tem ideia de porque ele tem essa capacidade e quem são os “escolhidos”?
- Você descobriu alguma coisa, Yesalel?
- Encontrei o pai do Dom.
- O quê? Como ? Me conta tudo!
- Ele está em um campo de refugiados na Somália numa missão de evangelização. Ele só se dispôs a falar comigo quando eu disse que tinha sido excluída como protetora de seu filho. Aliás, ele não é de muitas palavras, a não ser quando fala do Senhor.
- O quê ele disse, Yesalel? Não me mate de curiosidade!
- Quis saber como estavam os filhos e disse que só se engajara naquela missão porque sabia que eles ficariam protegidos pelo Divino e...
- E??
- Empalideceu quando falei sobre a amizade de Dominic com Sinclair.
- Então ele o conhece?
- Parece que sim, mas não entrou em detalhes. Apenas pediu que continuássemos a observá-lo.
- E ele explicou porque eles podem nos ver? E que história é essa de Escolhido e missão especial?
- Está preparada para ouvir? Não quer se sentar?
- Pelo amor do Senhor, Yesalel! Fala logo!
- O pai de Dom é um Anjo Caído.
- C-como? Está brincando? – Quem ficara caído com aquela revelação fora o meu queixo.
- Jamais brincaria com uma coisa dessas.
- Como você nunca soube antes, convivendo com eles?
- Eu sabia...
- Mas por que não me falou isso antes?... – perguntei ainda estupefata.
- Imaginei que você ainda não estava preparada, já que essa informação não lhe foi dada por Samuel.
- E por que contou agora?
- Decidi fazer isso depois da conversa que tive com Damian. Nunca tínhamos tocado nesse assunto. Você sabe como isso é meio tabu na esfera superior e ele só tocou no assunto depois que eu contei sobre Sinclair. Existe alguma relação entre os dois, mas ele não quis falar sobre isso. Acha que pode prejudicar sua missão e a sua salvação.
Os Anjos Caídos eram rebeldes, expulsos dos céus por irem contra o poder do Senhor. Alguns, arrependidos, aceitaram viver na Terra, junto aos humanos, praticando boas ações, afim de que no dia do Juízo Final, recebessem a libertação e voltassem à companhia do Criador. Eu já ouvira falar sobre eles muito discretamente, pois o assunto costumava ser evitado na dimensão celestial.
- E o que mais ele disse?
- Quis informações a seu respeito e pediu para lhe dar um recado.
- Imagino qual... Para ter cuidado com Sinclair...
- Não... Com nosso Chefe...
Terminara mais uma manhã de trabalho em meu escritório. O representante da firma de advogados que representava o Sinclair Bank of Scotland acabara de sair. Esperava que minha secretária já tivesse resolvido todos os pormenores de minha ida e de meus convidados para Praga.
Levantei-me, vesti o paletó e apertei o interruptor do interfone.
- Marian, venha até aqui, por favor.
- Ehr...Senhor... – a voz de minha secretária soou insegura na sala ao lado.
- Algum problema?
- Tem um homem aqui...
- Alguém agendado que você se esqueceu de me avisar, Marian? – interroguei com alguma irritação, tentando me controlar, pois ela raramente cometia enganos.
- É uma visita de última hora, senhor. Ele insiste em lhe falar... Seu nome é Kolchak. Senhor Kolchak.
Levantei-me, vesti o paletó e apertei o interruptor do interfone.
- Marian, venha até aqui, por favor.
- Ehr...Senhor... – a voz de minha secretária soou insegura na sala ao lado.
- Algum problema?
- Tem um homem aqui...
- Alguém agendado que você se esqueceu de me avisar, Marian? – interroguei com alguma irritação, tentando me controlar, pois ela raramente cometia enganos.
- É uma visita de última hora, senhor. Ele insiste em lhe falar... Seu nome é Kolchak. Senhor Kolchak.
Kolchak, quando o encontrei na última vez... |
Sua voz agora soava estranha, como se falasse mecanicamente. E eu sabia qual o motivo disso... E como.
- Pode mandá-lo entrar, por favor.
Voltei a sentar e fixei meu olhar na porta que se abria lentamente. Uma entrada teatral. Era bem o estilo de Kolchak.
Ele mudara pouco. Usava gel para manter os cabelos negros e lisos para trás, o que evidenciava as entradas laterais na testa ampla. Os olhos frios e amendoados, no rosto anguloso, de pele pálida, adornado por um nariz aquilino e um queixo redondo afilado por um cavanhaque a la Don Juan de Marco, que ele mantinha desde muito antes o ator Johnny Depp. Como sempre, muito elegante, trajando um Armani e sapatos Ferragamo, poderia se passar por um empresário de sucesso, o que não seria mentira, considerando o caos em que o mundo andava ultimamente. Com uma aparência como aquela certamente era muito mais fácil de conseguir adeptos do que com os ultrapassados chifres na cabeça e os pés de bode. O Inferno evoluíra na questão de marketing também, afinal. Assim que a porta se fechou atrás dele, mostrou os dentes perfeitos e brancos e procurou a poltrona defronte a minha mesa, onde se sentou como se fosse um amigo e fosse bem vindo.
- Há quanto tempo, Sinclair? – saudou-me dando maior acento sobre meu nome. – Sentiu saudades?
- É... Estava sentindo falta de um palhaço para alegrar minha enfadonha vida.
O homem continuava com seu sorriso, como se não houvesse ouvido minha ofensa, enquanto os olhos gélidos permeavam o ambiente ao seu redor.
- Vejo que continua próspero, Sinclair...
- Não tenho do que me queixar. – continuei sentado indolentemente a acompanhar seus movimentos e expressões. – Continua trabalhando como capacho de seu mestre?
O olhar de Kolchak endureceu apesar de seu sorriso paralítico.
- Já que tocou no assunto, vamos ao que interessa.
- Ótimo, pois tenho muito a fazer.
- Preparando sua viagem de lua de mel com a jovem Leonora?
Tentei manter-me inalterado, apesar do mal estar que senti ao ouvir o nome de Leonora pronunciado por aquela boca pútrida. Pelo menos eles não podiam ler meus pensamentos.
- Falei alguma inverdade? – continuou, diante do meu silencio.
- É melhor dizer logo a que veio e terminarmos logo com isso.
- Como quiser... – Levantou-se da poltrona e começou a andar pela sala como se estivesse admirando os quadros expostos nas paredes. – Apesar de eu já ter aconselhado a destruí-lo, pois não vejo em que poderá nos ajudar, tenho uma nova proposta de meu superior ou "mestre", como você o denomina.
- Medo de concorrência, Kolchak?
Notei quando os punhos do demônio se fecharam, mas ele permaneceu tenso e calado.
- Está perdendo seu tempo, Kolchak. – continuei, divertindo-me com a reação dele. – Minha resposta continua sendo não. Quantos séculos e quantas vidas ainda tentarão levar insistindo em me ver ao lado de vocês?
- Digamos que somos incansáveis. Infelizmente, meu "mestre", continua achando que você seria uma ótima aquisição em nosso empreendimento.
- Não me dou bem com o calor...
Kolchak gargalhou com a minha alusão.
- Continua espirituoso... – comentou quando parou de rir. – Posso garantir que evoluímos muito nestes séculos e que temos recantos bastante confortáveis e arejados em nossas “propriedades”. No entanto, nossa intenção é de que você permaneça aqui, levando a mesma vida que levou até agora. A única diferença é que estaria a nossa disposição.
- Pretendo continuar autônomo...
- Se eu fosse você pensaria melhor...
- Qual a ameaça dessa vez, Kolchak?
- Creio que você já deve imaginar. Lembra-se da última vez? Foi em Novembro de 1824, se não me engano... Você pensou que havia salvado seu amigo daquele incêndio, não é mesmo? E se eu dissesse que foi meu "mestre" que permitiu esse salvamento, pois ele não queria prejudicar futuras negociações.
- Poderia ser mais claro?
- Acredito que você não seja burro o suficiente para pensar que Dominic MacTrevor e sua irmã foram parar na sua frente por mero acaso, pensou?
Comecei a gargalhar e notei a apreensão tomar conta de Kolchak, apesar de ele tentar disfarçar.
- É essa a nova proposta de vocês? Acreditam que me deixei enganar com a aparência de Leonora? Estão de brincadeira?
- Você seria capaz de perder mais uma vez a sua Cathela?
Ao ouvir aquele nome, lancei-me sobre Kolchak, em menos que um piscar de olhos, com a mão em garra sobre seu pescoço, dentes caninos afiados à mostra, enquanto o comprimia contra a parede.
- Se eu o ouvir falar mais uma vez o nome dela, prometo fazer um estrago bem grande nessa sua aparência pretensamente requintada. Posso não poder matá-lo, mas você não ficaria muito bonito por um bom tempo. – ameacei num rosnado.
- Não lembrava que você fosse tão sensível... – disse com a voz rouca devido à constrição sobre sua laringe.
Aos poucos fui afrouxando a compressão e liberando-o.
- Assim está melhor... – disse massageando a área dolorida do pescoço. – Sabe que eu poderia me defender, não é mesmo, Sinclair? No entanto, estou aqui apenas como emissário de meu superior... A questão é a seguinte. Dominique e Leonora por sua adesão ao nosso exército. Tem exatamente um mês da Terra para decidir. Ao final desse período, voltarei a procurá-lo, esteja onde estiver... Foi um prazer revê-lo, Sinclair. – despediu-se sem maiores rodeios e com aquele sorriso detestável nos lábios.
Desapareceu instantaneamente, no momento em que a porta abriu e Marian surgiu com olhar preocupado.
- Aconteceu alguma coisa, senhor Sinclair? Devo chamar a segurança?
- Não se preocupe. Já está tudo sob controle...
Ela avaliou o ambiente de meu escritório com os olhos e voltou a perguntar.
- Onde está o seu visitante? O Senhor... – Com olhar vago, parecia aflita por não encontrar ali o homem que introduzira minutos antes em minha sala.
- Ele já se foi, Marian.
- Mas esse barulho que eu ouvi?
- Foi apenas um dos quadros que quase caiu. Eu o segurei a tempo contra a parede. Foi apenas isso que você ouviu...
- Oh... Estranho...
- O que foi, Marian?
- Eu não o vi passar por mim... Tem certeza que ele saiu?
- Quer verificar o meu banheiro particular? – indaguei irritado pela insistência da secretária.
- Não, senhor... Imagine! Eu creio no senhor. Perdão pela minha intromissão.
Antes que ela saísse, chamei-a.
- Marian...
- Sim, senhor... Deseja alguma coisa?
Segurei-adelicadamente pelo ombro e a forcei a olhar para mim. Não era justo que a pobre coitada ficasse se atormentando com aquela visita, por isso esvaziei sua mente dos últimos vinte minutos.
- Não, Marian. Não preciso de mais nada, obrigado. Pode ir para o seu almoço.
Fiquei pensando no prazo dado por Kolchak e lembrei que dentro de exatamente um mês seria o aniversário da morte de Cathela. Há exatamente dez séculos ela fora assassinada. Teria isso alguma relação com o prazo de Kolchak? Provavelmente não. Era apenas uma coincidência.
Agora tinha certeza que Leonora era apenas uma isca inocente, o que tornava ainda mais difícil o meu distanciamento do casal de irmãos. Não permitiria que nada de mal acontecesse a eles, mas também não entregaria minha alma para aqueles demônios.
- Pode mandá-lo entrar, por favor.
Voltei a sentar e fixei meu olhar na porta que se abria lentamente. Uma entrada teatral. Era bem o estilo de Kolchak.
Ele mudara pouco. Usava gel para manter os cabelos negros e lisos para trás, o que evidenciava as entradas laterais na testa ampla. Os olhos frios e amendoados, no rosto anguloso, de pele pálida, adornado por um nariz aquilino e um queixo redondo afilado por um cavanhaque a la Don Juan de Marco, que ele mantinha desde muito antes o ator Johnny Depp. Como sempre, muito elegante, trajando um Armani e sapatos Ferragamo, poderia se passar por um empresário de sucesso, o que não seria mentira, considerando o caos em que o mundo andava ultimamente. Com uma aparência como aquela certamente era muito mais fácil de conseguir adeptos do que com os ultrapassados chifres na cabeça e os pés de bode. O Inferno evoluíra na questão de marketing também, afinal. Assim que a porta se fechou atrás dele, mostrou os dentes perfeitos e brancos e procurou a poltrona defronte a minha mesa, onde se sentou como se fosse um amigo e fosse bem vindo.
- Há quanto tempo, Sinclair? – saudou-me dando maior acento sobre meu nome. – Sentiu saudades?
- É... Estava sentindo falta de um palhaço para alegrar minha enfadonha vida.
O homem continuava com seu sorriso, como se não houvesse ouvido minha ofensa, enquanto os olhos gélidos permeavam o ambiente ao seu redor.
- Vejo que continua próspero, Sinclair...
- Não tenho do que me queixar. – continuei sentado indolentemente a acompanhar seus movimentos e expressões. – Continua trabalhando como capacho de seu mestre?
O olhar de Kolchak endureceu apesar de seu sorriso paralítico.
- Já que tocou no assunto, vamos ao que interessa.
- Ótimo, pois tenho muito a fazer.
- Preparando sua viagem de lua de mel com a jovem Leonora?
Tentei manter-me inalterado, apesar do mal estar que senti ao ouvir o nome de Leonora pronunciado por aquela boca pútrida. Pelo menos eles não podiam ler meus pensamentos.
- Falei alguma inverdade? – continuou, diante do meu silencio.
- É melhor dizer logo a que veio e terminarmos logo com isso.
- Como quiser... – Levantou-se da poltrona e começou a andar pela sala como se estivesse admirando os quadros expostos nas paredes. – Apesar de eu já ter aconselhado a destruí-lo, pois não vejo em que poderá nos ajudar, tenho uma nova proposta de meu superior ou "mestre", como você o denomina.
- Medo de concorrência, Kolchak?
Notei quando os punhos do demônio se fecharam, mas ele permaneceu tenso e calado.
- Está perdendo seu tempo, Kolchak. – continuei, divertindo-me com a reação dele. – Minha resposta continua sendo não. Quantos séculos e quantas vidas ainda tentarão levar insistindo em me ver ao lado de vocês?
- Digamos que somos incansáveis. Infelizmente, meu "mestre", continua achando que você seria uma ótima aquisição em nosso empreendimento.
- Não me dou bem com o calor...
Kolchak gargalhou com a minha alusão.
- Continua espirituoso... – comentou quando parou de rir. – Posso garantir que evoluímos muito nestes séculos e que temos recantos bastante confortáveis e arejados em nossas “propriedades”. No entanto, nossa intenção é de que você permaneça aqui, levando a mesma vida que levou até agora. A única diferença é que estaria a nossa disposição.
- Pretendo continuar autônomo...
- Se eu fosse você pensaria melhor...
- Qual a ameaça dessa vez, Kolchak?
- Creio que você já deve imaginar. Lembra-se da última vez? Foi em Novembro de 1824, se não me engano... Você pensou que havia salvado seu amigo daquele incêndio, não é mesmo? E se eu dissesse que foi meu "mestre" que permitiu esse salvamento, pois ele não queria prejudicar futuras negociações.
- Poderia ser mais claro?
- Acredito que você não seja burro o suficiente para pensar que Dominic MacTrevor e sua irmã foram parar na sua frente por mero acaso, pensou?
Comecei a gargalhar e notei a apreensão tomar conta de Kolchak, apesar de ele tentar disfarçar.
- É essa a nova proposta de vocês? Acreditam que me deixei enganar com a aparência de Leonora? Estão de brincadeira?
- Você seria capaz de perder mais uma vez a sua Cathela?
Ao ouvir aquele nome, lancei-me sobre Kolchak, em menos que um piscar de olhos, com a mão em garra sobre seu pescoço, dentes caninos afiados à mostra, enquanto o comprimia contra a parede.
- Se eu o ouvir falar mais uma vez o nome dela, prometo fazer um estrago bem grande nessa sua aparência pretensamente requintada. Posso não poder matá-lo, mas você não ficaria muito bonito por um bom tempo. – ameacei num rosnado.
- Não lembrava que você fosse tão sensível... – disse com a voz rouca devido à constrição sobre sua laringe.
Aos poucos fui afrouxando a compressão e liberando-o.
- Assim está melhor... – disse massageando a área dolorida do pescoço. – Sabe que eu poderia me defender, não é mesmo, Sinclair? No entanto, estou aqui apenas como emissário de meu superior... A questão é a seguinte. Dominique e Leonora por sua adesão ao nosso exército. Tem exatamente um mês da Terra para decidir. Ao final desse período, voltarei a procurá-lo, esteja onde estiver... Foi um prazer revê-lo, Sinclair. – despediu-se sem maiores rodeios e com aquele sorriso detestável nos lábios.
Desapareceu instantaneamente, no momento em que a porta abriu e Marian surgiu com olhar preocupado.
- Aconteceu alguma coisa, senhor Sinclair? Devo chamar a segurança?
- Não se preocupe. Já está tudo sob controle...
Ela avaliou o ambiente de meu escritório com os olhos e voltou a perguntar.
- Onde está o seu visitante? O Senhor... – Com olhar vago, parecia aflita por não encontrar ali o homem que introduzira minutos antes em minha sala.
- Ele já se foi, Marian.
- Mas esse barulho que eu ouvi?
- Foi apenas um dos quadros que quase caiu. Eu o segurei a tempo contra a parede. Foi apenas isso que você ouviu...
- Oh... Estranho...
- O que foi, Marian?
- Eu não o vi passar por mim... Tem certeza que ele saiu?
- Quer verificar o meu banheiro particular? – indaguei irritado pela insistência da secretária.
- Não, senhor... Imagine! Eu creio no senhor. Perdão pela minha intromissão.
Antes que ela saísse, chamei-a.
- Marian...
- Sim, senhor... Deseja alguma coisa?
Segurei-adelicadamente pelo ombro e a forcei a olhar para mim. Não era justo que a pobre coitada ficasse se atormentando com aquela visita, por isso esvaziei sua mente dos últimos vinte minutos.
- Não, Marian. Não preciso de mais nada, obrigado. Pode ir para o seu almoço.
Fiquei pensando no prazo dado por Kolchak e lembrei que dentro de exatamente um mês seria o aniversário da morte de Cathela. Há exatamente dez séculos ela fora assassinada. Teria isso alguma relação com o prazo de Kolchak? Provavelmente não. Era apenas uma coincidência.
Agora tinha certeza que Leonora era apenas uma isca inocente, o que tornava ainda mais difícil o meu distanciamento do casal de irmãos. Não permitiria que nada de mal acontecesse a eles, mas também não entregaria minha alma para aqueles demônios.
(continua...)
Mais uma sexta que chega, mais um capítulo da história do nosso vampiro...
Antes de mais nada, gostaria de contar a voces que essa semana, mais uma vez, uma amiga muito querida provocou minhas emoções, encheu meu coração de alegria e elevou meu ego a alturas estratosféricas. A Nadja, um dos meus anjos da guarda(tenho vários se manifestando a toda hora...), me surpreendeu com um post que me deixou sem palavras e com lágrimas à solta, publicado no seu excelente Blog Sonhos e Sons. Não sei se mereço tanto, mas, que estou sorrindo até agora com tal homenagem, não há como negar. Falando de manifestações angelicais, na semana passada, a Léia, outra anjinha muito amada, já havia me surpreendido me presenteando com uma página no Facebook para o livro O Corsário Apaixonado, a exemplo do que ela já tinha feito anteriormente com meus outros livros. Outra amiga, esta mais recente e igualmente celestial, é a doce Carolina Lopes, do Blog Cantinho da Carolina, que além de ter sido a responsável pela linda capa de O Corsário Apaixonado, na semana que passou me fez outras surpresas inesquecíveis. Presenteou-me com uma página para o Corsário, lá no Skoob, e fez marcadores lindos para o mesmo livro. Coincidentemente, essa semana, eu havia lido uma frase sobre amizade e que reflete de alguma maneira o que estou sentindo:
"A melhor parte da vida de uma pessoa está em suas amizades"
Parece que ela foi dita por Abraham Lincoln, mas o que importa é a verdade contida nela.
O meu muito obrigada e um grande beijo a todos voces, minha(eu)s querida(o)s amiga(o)s!
Ai nossa já estou sem as unhas de tanta curiosidade desses desfechos em especial o Samuel que a todo momento se manteve escondido longe de qualquer suspeitas tenebrosas. Sem contar o repugnante Kolchak que entrou sem bater nessa estória e pelo jeito promete muitas para o nosso Sincler. Agora fica mais claro a preocupação do pai de Dom e Leonora e não pode está presente para ajudá-los. Bom só nos resta ficarmos triturando em curiosidade até o próximo post... kkk
ResponderExcluirBom adorei a homenagem mais um vez minha querida, poxa você é minha Diva e receber a graça em ser chamada de anjinho é uma glória incalculável, obrigada mesmo de coração. Incrível a frase e certamente sem os amigos caímos no abismo por isso não canso em agradeçer pelos pouco mas bem selecionados amigos e vc Rosane mereçe tudo isso e muito mais, realmente a Nadja caprichou no post, todas estão de parabéns.
Adoro todas vocês, obrigada por fazerem parte da minha vida. Super beijos
Rô amiga, fico tão feliz que tenhas gostado tanto assim do post, tenha certeza de que tudo que foi dito é verdade, e sei que posso falar isso também com relação ao que disseram a Lucy, Roseli, Léia e Aline. Como escritora és sutil, criativa e muito inteligente e como pessoa é um verdadeiro anjo.
ResponderExcluirQuanto a esse capítulo...., tantas revelações e imagino a euforia em que deve estar a Leonora, uma adolescente se vendo em voltas com a atenção de um homem lindo, educado, inteligente, apaixonante e tantos outros adjetivos, rsrsrs. Acho simplesmentelindo o amor do Sinclair pela Cath, mesmo depois de 1000 anos continua forte.
Estou super curiosa pra saber o que o pai do Dom tem pra falar do Samuel, que mistérios estão por trás de toda essa história de anjos (caídos ou não)?
E esse Kolchak? um demônio com nome russo? poxa, adoro a Russia, rsrsrs.
Feliz Dia das MÃES amiga querida!!!!
Beijosss!!!!
Tadinho do Dominic, ama tanto a Yesalel e nem pode vê-la!
ResponderExcluirAmigas, esse Kolchak sabe dar o recado! Coitado do Sinclair, vai ter que pensar muito no que fazer, pois já percebeu que o cerco está se fechando e coisas muito pesadas estão para acontecer.
Adorei o pai do Dom ser um Anjo Caído, pois sei que haverá mais revelações vindas daí tb!
Olha, estou encantada com esse conto, ele está super desafiador, misterioso, aguça a nossa curiosidade no que está por vir.
E, desde já, eu me adianto: se no final ninguém quiser ficar com o Sinclair, eu fico hasuahsuahsuahs...
Beijinhos