domingo, 5 de setembro de 2010

Confusões de um Viúvo - Capítulo V

Somente naquela manhã levara o carro, para desamassar a lataria, no mecânico recomendado por Álvaro. Infelizmente, como todo o bom profissional, ele estava abarrotado de serviço e alertou-a que só poderia entregar o carro pronto na próxima segunda à tarde. Como não conhecia nenhuma outra oficina que executasse aquele tipo de serviço, decidiu por deixá-lo ali mesmo. Teria que conformar-se em ficar sem carro nos dias seguintes. Agora, de posse do valor a ser pago pelo conserto, teria que enfrentar de novo o senhor Leonardo Barth para entregar-lhe a nota. Durante o percurso da lotação que a levaria para a academia, foi imaginando mentalmente como seria este encontro. Sendo uma quinta, ele certamente levaria as filhas ao balé. Pediria à recepcionista que o mandasse à sua sala para entregar-lhe pessoalmente? Tinha medo da sua reação. Ele parecia alterar-se com facilidade. Ela também, pelo menos na presença dele. Talvez não fosse uma boa idéia fazer isto pessoalmente. Claro! Deixaria a nota na recepção... Não. No dia seguinte já estariam comentando que ele pagava as contas dela e que deveriam ser amantes. Sabia como este tipo de fofoca se espalhava. Não queria saber de mais confusões para o seu lado. E se colocasse na mochila de sua filha com um bilhete? Não. A mulher dele poderia achar e pensar coisas erradas. Duvidava que ele tivesse contado o que acontecera para a esposa. Será?
A lotação chegou à esquina em que Bruna deveria descer. Suas dúvidas tiveram que esperar o troco do motorista e sua descida do veículo, para só então continuar. Quem sabe via e-mail? Provavelmente ele teria um. Teria que verificar a ficha das meninas. Isis com certeza devia solicitar os e-mails dos pais na ficha de cadastro. Esta talvez fosse a melhor maneira... E se a mulher dele tivesse acesso ao e-mail dele? Nossa! Entrou na escola ainda indecisa sobre como faria a sua cobrança. Relutava em encontrá-lo de novo. Tinha medo de suas próprias reações. Se ao menos pudesse tirá-lo da cabeça... Resolveu que se entregaria ao trabalho, vendo a papelada da sua nova aquisição. Sua advogada combinara de visitá-la no final da manhã. Esperava estar liberada destas burocracias, para dedicar-se ao mais importante. A dança. Torcia para que já houvesse alunas para preencher as vagas na nova turma de dança contemporânea que ela iniciaria. O plano era começar já na próxima semana. Ensaiaria alguns passos naquela tarde, assim que tivesse uma folga. Sentia-se um pouco melhor do resfriado adquirido no domingo. Ao pensar nisso, não pode evitar a lembrança da visão de Leonardo sem camisa salvando-a das águas turvas do lago. Sacudiu a cabeça para espantar estes “maus pensamentos”. Entrou na academia, cumprimentando alegremente as recepcionistas e algumas alunas que por ali se encontravam. Agora era uma mulher de negócios. Quem diria que o destino faria isso a ela... Sentiu uma pontada no tornozelo esquerdo. Lembrou de sua mãe que costumava dizer que este tipo de cicatriz doía quando se anunciava chuva. Tomara que isto, se fosse verdade, só acontecesse à noite, quando estivesse no aconchego de seu "lar doce lar". Não queria ter uma recaída da gripe por causa de um banho de chuva.


Deve ter mandado consertar, pensou Leonardo ao notar a ausência de um certo carro amassado estacionado diante da escolinha. Enquanto deixava Tati em sua sala, questionava se devia procurar Bruna novamente para pedir o orçamento de seu carro ou se esperava que ela se manifestasse. A dúvida ainda persistia depois de beijar Marina e deixá-la na companhia de suas coleguinhas de turma e de Ana, a professora. Foi procurar um lugar discreto para sentar, relaxar e esperar a saída das aulas. Não estava com vontade de conversar. Por sorte, Cláudia não costumava ficar à espera de Fabiana. Deixava a menina lá e só voltava na hora do término. Segundo ela, aproveitava aquele período para dar suas voltas de dona de casa ou ir à manicure.
Os corredores apresentavam-se calmos naquele horário. Poucas turmas e todas em atividade dentro de suas respectivas salas. Então, ouviu uma música diferente das que costumava ouvir por ali. Aproximou-se da sala de onde fluía o som. A voz era a de Lenine, um de seus cantores preferidos, cantando a música “Cambaio”, da peça homônima de Chico Buarque. Assistira àquela peça no teatro há alguns anos e ficara fascinado com a versatilidade dos atores e a animação do palco. Não resistiu e olhou, através da porta aberta, a figura esguia, que dançava com as pálpebras cerradas, entregue totalmente ao ritmo musical. Era Bruna. Vestia uma malha preta, de mangas curtas, e uma calça larga, de tecido fino, da mesma cor. Seu primeiro ímpeto, ao reconhecê-la, foi sair dali, mas os movimentos harmoniosos e sensuais daquele corpo o fixaram ao chão. Ela movia-se como uma pena ao vento, mudando o rumo conforme os acordes, num balanço de quadris, pernas e braços, mexendo a cabeça, rodopiando em torno de si mesma, voluptuosamente, às vezes leve e languida, outras, rápida e vigorosa. Perdeu a conta de quanto tempo ficou a observá-la sem ser notado. Envolvido pela visão sedutora e pela música vibrante, não percebeu quando Bruna fez uma careta de dor. O encanto foi quebrado quando ela perdeu o equilíbrio e foi ao chão, em meio a um gemido alto. Lá ficou, sentada, segurando seu tornozelo esquerdo, com a cabeça baixa. Leonardo instintivamente correu até ela, aflito em saber o que acontecera e se ela estava machucada. Provavelmente torcera o pé e precisava de socorro.
- Você está bem?
Ela parecia soluçar. Quando a voz dele chegou aos seus ouvidos, silenciou instantaneamente e olhou para cima, encontrando o brilho angustiado daqueles verdes olhos. Seu rosto estava banhado por lágrimas, que imediatamente ela começou a secar com o dorso da mão livre, enquanto a outra persistia segurando o tornozelo afetado.
- O que está fazendo aqui? – perguntou num misto de surpresa e vergonha.
- Eu... Eu estava olhando você dançar – entregou-se – Você estava tão... Você dança tão bem, que... – interrompeu os elogios, temendo mostrar sua admiração em demasia – Machucou-se? Está doendo? – disse ajoelhando-se para se certificar da gravidade doferimento.
- Não... – ele estava tão próximo, que podia sentir o delicioso cheiro da sua colônia e ver os fios dourados da barba que sombreavam o rosto másculo e emolduravam a atraente boca. Notou a ruga de preocupação entre as sobrancelhas retas e espessas – Não foi nada...
- Me deixe dar uma olhada – pediu, esticando a mão para examiná-la.
- Não! – negou rechaçando-o amedrontada, tentando afugentar o desejo por ele – Já disse que não foi nada.
- Então por que está chorando? – falou docemente, sem importar-se com a rudeza dela – Pode ter torcido ou quebrado. Não tenha medo. Tenho alguma experiência com este tipo de lesão dos tempos em que eu jogava futebol.
- Não... – tentou normalizar o tom de voz, arrependendo-se de sua grosseria diante da apreensão dele. Ele parecia realmente preocupado com ela – É um ferimento antigo que, dependendo dos movimentos que faço, dói... Só isso.
- Consegue ficar de pé? Eu a ajudo... – seu olhar cruzou com o dela, transfixando-o.
Podia sentir a respiração quente e ofegante dele muito próxima de seu rosto. A atração tornava-se forte e incontrolável, quando ela decidiu rompê-la, graças a um fio de consciência que a alertou. Não podia deixar-se levar por estas sensações que aqueciam seu corpo e a tornavam indefesa. Ele é casado! , soou seu alarme.
- Eu já disse que não foi nada. Pode deixar – disse desviando o rosto e procurando um apoio no chão para poder levantar-se.
Sem importar-se com as negativas, Leonardo segurou-a pelo braço para ajudá-la a erguer-se. Quando conseguiu ficar de pé, sentiu a mão dele escorregar por sua cintura, enquanto a outra apoiava seu antebraço. Estremeceu.
- Que tal sentar-se naquela cadeira, enquanto peço para trazerem um pouco de gelo? – seus dedos pareciam pegar fogo ao senti-la sob aquela malha firmemente aderida ao corpo e ao tocar a pele acetinada de seu braço.
- Olha, você é muito gentil, mas pode deixar. Eu me viro sozinha. Já estou acostumada com esta dor – lutava contra sua vontade de ficar aninhada entre aqueles braços fortes e confortáveis que já a tinham salvo dias antes.
- Você ainda está com dor. Por que é tão teimosa? É tão difícil assim aceitar a minha ajuda? – Sentiu-o retesar-se visivelmente magoado – Não se preocupe. Vou embora assim que a deixar na cadeira. Prometo que não vou incomodá-la mais – disse mais secamente.
Foi o que fez. Colocou-a sentada o mais comodamente possível e saiu dizendo um amargo até logo. O pedido para que ficasse ficou preso entre as cordas vocais de Bruna.
Quando cruzava a porta, sob o olhar tristonho da bailarina, quase deu um encontrão em Sandra, a mãe da amiguinha de Tati.
- Oi! – saudou-o com sua voz estridente e um sorriso arreganhado – Estava procurando por você. A Tati estava perguntando pelo pai. A aula delas já está acabando.
Atônito com o encontro inesperado agradeceu num muxoxo e passou reto pela mulher.
- Não há de quê – disse chateada com a falta de simpatia dele e já esticando o pescoço para ver com quem ele estava na sala de onde saiu – Oi, tudo bem? – Aconteceu alguma coisa? – perguntou enxerida.
- Nada. Só machuquei meu tornozelo quando dançava. Já está tudo bem, obrigada.
- Está bem, então. Vou lá buscar a Fernanda, minha filha... Tchau.
Será que está acontecendo alguma coisa entre esses dois? Tem mulheres que não dão mole. Aposto que estava se fazendo de vítima para atraí-lo... – pensou Sandra, maliciando a situação. – Pois tem concorrente, meu bem...

Os versos da música de Chico não deixavam a sua mente, bem como as imagens de Bruna flutuando no salão.
Eu quero moça que me deixe perdido
Procuro moça que me deixe pasmado
Essa moça zoando na minha idéia
Eu quero moça que me deixe zarolho
Procuro moça que me deixe cambaio
Me fervendo na veia”...
Foi despertado pela voz miúda de Tati.
- Papai! Onde você tava? – exclamou jogando-se em seus braços, quando o viu em meio às mães de suas colegas. Estava preocupada, pois o pai sempre a espreitava durante as aulas. Precisava de mais atenção do que Marina. Ficava ansiosa se não o via de vez em quando a sorrir na porta da sala, incentivando-a.
- Eu... Fui ao banheiro, querida – explicou com um pálido sorriso – Mas já estou aqui. Vamos lá pegar a mana?
- Vou dar tchau prá “fessora”, papai...
- Professora, Tati. Professora – falou pausadamente, corrigindo-a e dando-lhe um beijo na testa.
- Tá bom, tá bom... – e saiu esvoaçante, agitando os bracinhos.
Sandra aproximou-se dele e comentou:
- Você foi comunicado sobre a nova dona da academia?
- O quê? – indagou confuso – Ah, sim... É a Bruna.
- Já a conhecia? – sondou curiosa, apertando os olhos argutos.
- Não... – O que essa mulher está querendo? pensou arqueando as sobrancelhas – Fiquei sabendo na última terça-feira.
- Pensei que já a conhecia... Vocês estavam conversando agora há pouco...
Mas que tipa intrometida...
- Tati, vamos anjinho – voltou a atenção para a filha que retornava e deixando Sandra a falar sozinha – A Marina já deve estar saindo.
- Por favor, não fique chateado. – Notou o aborrecimento dele – É que estou curiosa a respeito dela... Só isso – disse arrependida de seu comentário anterior. Tinha que ter cuidado com o que falava para não assustá-lo.
- Não estou chateado. Apenas tenho que ir – sorriu debilmente – A gente se fala outra hora, tá? Até mais. – Despediu-se e pegou a mão de Tati, fugindo do interrogatório, deixando Sandra amolada por ter sido ignorada tão sutilmente.

Quando chegou à sala de aula de Marina, lançou um último olhar para o local onde havia deixado Bruna. Ela ainda estava lá e provavelmente com dor. Gostaria de saber que tipo de ferimento era aquele que a impedia de dançar livremente. Decidiu falar com Ana e pedir que fosse ver a colega. Para isso, aguardou a saída das alunas, deixando Marina e Tati a brincar no corredor, onde podia mantê-las sob sua vista.
- Oi, Ana!
Ana
- Oi, Leonardo! Tudo bem? Algum problema?
- Não... É que estou preocupado com a Bruna, a nova diretora aqui da escola. Ela caiu enquanto dançava ainda há pouco e não permitiu que eu a ajudasse. Será que você podia dar uma olhada nela?
- A Bruna caiu? Ai, meu Deus! Onde ela está?
- Na última sala deste corredor.
- Muito obrigada. Vou lá ver o que aconteceu – disse antes de sair correndo na direção que ele indicara.
- Papai! Não vamos embora? – gritou Marina, vendo o pai meio que perdido entre ir ou ficar, alertando-o.
- Claro, filha. Já vamos sim. – respondeu, obrigando-se a sair do lugar.
Um último olhar para onde estava Bruna o tranquilizou, pois viu Ana e ela saindo de braços dados. Seus olhares ainda se cruzaram rapidamente antes dele atender ao puxão recebido de Marina, forçando-o a caminhar.

- Andou exagerando nos passos, Bruna? – perguntou Ana à amiga.
- Nada demais. Só me desequilibrei e caí de mau jeito – tentou amenizar sua imprudência.
- Amiga, você sabe...
- É, eu sei... Mas é tão difícil... Eu ainda me pergunto por que isto aconteceu logo comigo? É tão injusto...
- Eu só imagino... De qualquer forma, você tem que ter cuidado, pois se continuar insistindo pode piorar a lesão e conseguir uma proibição até para ensinar.
- Tem razão, Ana. Ainda mais agora que consegui esta oportunidade de ter uma escola de balé só minha. E graças a você.
- Que nada. Só a apresentei para a Isis. Nada mais. Vocês é que se entenderam bem – sorriu abertamente e conduziu Bruna para a área da direção – Que tal uma bolsa de água quente neste pezinho, hein? Por falar em quente, o que é que o pai da Tati, aquele pedaço de mau caminho, estava fazendo por perto quando você caiu?
- O pai da Tati? - indagou pensativa e logo enrubesceu – Ah! O Leonardo... Ele apenas me viu cair.
- Ah, o Leonardo... – imitou-a – Tá bom... Ele veio todo preocupado me pedir para socorrer você.
- Mostra que é um homem educado e prestativo – falou intimamente satisfeita com a preocupação dele, mesmo depois do que acontecera.
- Ele parecia um pouco mais que isso... – continuou provocativa.
- Pára com isso, Ana. Aonde quer chegar com estas insinuações bobas? – criticou-a – Ele é casado e pai de duas alunas. Só isso.
- Está bem. Não está mais aqui quem falou, mas você está enganada quanto a ele ser... – interrompeu o assunto quando viu a senhora responsável pela limpeza aproximar-se, antes de entrarem na sala de Bruna – Oi! A senhora poderia nos conseguir uma bolsa de água quente, por favor?
- Acho que vi uma lá na despensa. A senhora se machucou, D. Bruna?
- Só dei um mau jeito – simplificou a explicação para a funcionária.
- Já volto com a bolsa. Esperem só um momento.
- Obrigada – agradeceram quase ao mesmo tempo, Bruna e Ana.
Foi quando Ana conseguiu acomodar Bruna em sua cadeira e pensava em retomar o assunto Leonardo, que o próprio surgiu no umbral da porta com Tati e Marina pela mão. Por um momento ele pareceu não saber o que dizer, mostrando-se reticente e ansioso. Já se maldizia por não ter ido embora quando teve oportunidade. Poderia ligar no dia seguinte e perguntar se ela estava bem. Contudo agora era tarde. Já estava frente a frente com Bruna e com um pretexto na ponta da língua...
- Oi... Está melhor? – perguntou dirigindo-se a Ana.
- Vamos colocar uma bolsa de água quente e logo ela vai estar bem – respondeu Ana, já que Bruna parecia estar ocupada demais olhando para ele atônita.
- Ela tá dodói, fessora? – perguntou Tati, lançando um olhar tristonho para Bruna que estava com o pé apoiado numa baqueta.
- Só um machucadinho à toa, meu bem. Ela já, já vai ficar bem – Ana tranquilizou-a.
- Eu posso ver? – continuou curiosa.
- Tati, comporte-se – ralhou baixo, seu pai.
- Pode , anjinho, pode ver sim. Vem cá – convidou-a Bruna, recuperando a voz e acenando-lhe – Pode ver que não tem nada de mal aqui – disse mostrando o tornozelo sob a meia de balé.
Tati se desprendeu da mão de Leonardo e correu para Bruna. Marina seguiu-a curiosa, para constrangimento do pai.
- Meninas, por favor...
- Não, pode deixar. É melhor verem que está tudo bem... – disse Bruna, olhando para ele reprovadoramente – Viram? Só preciso descansar um pouco e logo vou estar nova em folha. Se me derem um beijinho, melhoro mais rápido ainda.
Marina e Tati sorriram e imediatamente a beijaram na face, uma de cada lado, emocionando Bruna.
- Na verdade – interrompeu Leonardo desconcertado com a cena de carinho – vim aqui por causa do carro. Você não disse quanto foi o conserto e... – disse ele explicando a sua presença ali. Este era o seu pretexto para vê-la e certificar-se que estava melhor.
Ana olhou surpresa para Leonardo e depois para Bruna, mas evitou fazer qualquer comentário.
-Acho que não é uma boa hora para se falar nisso. Você tem fax? Ou e-mail? Posso mandar para você o orçamento e depois acertamos tudo – disse sentindo-se estranhamente constrangida. Ele voltou só por isso...
- Tem razão... Me desculpe... – era a vez de ele ficar sem jeito, remexendo nervosamente no bolso do casaco e tirando sua carteira, de onde sacou um cartão e entregou a ela. – Este é o meu cartão. Aí tem o endereço, telefone e e-mail do meu escritório... Bom, Marina e Tati, vamos embora para deixar a professora descansar.
- A minha mãe também fez um dodói... – falou Tati inesperadamente.
- Tati, vamos – falou Leonardo, antecipando dolorosamente o que a filha diria a seguir.
- Mas ela ficou boa, não ficou? – perguntou Bruna inocentemente.
- Acho que não... O papai do céu levou ela e não trouxe mais.
Bruna olhou atarantada para Leonardo e depois desconsolada para a pequena, que a mirava com tristeza nos olhinhos cor de mel. Estava sem chão. Completamente sem graça. Não sabia o que dizer. Ele é viúvo? Elas não têm mãe? Meu Deus! Que estúpida que fui! Pobrezinhas!
Leonardo foi o primeiro a quebrar o silêncio insuportável que se fez após o comentário de Tati.
- É melhor nós irmos embora. Vamos, meninas! Já incomodamos demais as professoras aqui – ordenou às filhas evitando olhar para Bruna.
- Ah, papai...
- Vamos agora! – falou mais enérgico, sem alterar muito a voz.
- Eu... – Bruna queria desculpar-se de alguma forma pelo mal entendido – Desculpe... Eu não sabia... – Sentia-se muito mal com a situação criada.
- Não se preocupe... Não tinha obrigação de saber... – tranquilizou-a – Boa noite e desculpem qualquer coisa.
Recolheu as filhas e saiu rapidamente da vista das duas mulheres.
Assim que se viram sozinhas de novo, Bruna fulminou Ana.
- Por que você não me falou que ele era viúvo? Fiquei numa saia justa daquelas e, ainda por cima... Você viu a carinha da pequenininha? Tadinha... – sentiu vontade de chorar ao lembrar a expressão de Tati.
- Pensei que você soubesse. Ia justamente falar sobre isso quando ele apareceu na porta.
- E eu pensando mal dele este tempo todo... – pensou alto.
- Por que pensando mal? O que está acontecendo? – Queria saber o motivo de Bruna ter ficado tão aborrecida – E que história é esta do carro?... Não me diz que foi ele que...?
- Foi, Ana, foi.
- Por que não me contou?
- Não sei. Acho que esqueci ou não achei relevante ou achei que tinha falado e não falei... Não sei. Isso não vem ao caso agora.
- Aqui está a bolsa quente, D. Bruna – disse a faxineira ao entrar na sala, interrompendo-as – Precisa de mais alguma coisa?
- Não, muito obrigada – respondeu Bruna aliviada com a intromissão da mulher. Colocou a bolsa de borracha avermelhada sobre o tornozelo que estava em repouso sobre a banqueta de madeira.
Ana resolveu não voltar a interpelar a amiga sobre o ocorrido, já que aquilo parecia incomodá-la. Além do mais estava atrasada. Deixaria a conversa para depois.
- Melhor eu ir. Tenho que dar minha última aula e sair correndo. Fiquei de passar na casa da minha mãe assim que terminasse aqui.
- Tá bom, Ana. Pode ir. Já estou bem.
- Amiga... Se precisar conversar, me liga mais tarde.
- Obrigada, Ana. A gente conversa em outra hora.
Ana saiu. A cabeça de Bruna rodava, lembrando da maneira como tratara Leonardo em todas vezes em que se encontraram. Agora percebia que estava furiosa consigo mesma, por sentir-se atraída por um homem casado e achar que ele era um safado por parecer estar interessado nela. Que loucura... Começou a lembrar da noite no restaurante, quando ele desviou o olhar timidamente ao vê-la sorrir para ele. Devia estar com amigos, apenas. Passou a vê-lo apenas como um pai solitário dedicado às filhas, levando-as para passear. Mesmo preocupado com a segurança delas, atirou-se ao lago para salvá-la. Está certo que tinha havido o acidente no supermercado, mas os dois foram culpados. E ele tinha sido grosseiro com ela. Em compensação, hoje, ele tinha demonstrado tanta preocupação e cuidados, quando a viu cair... Lembrou seu olhar... Aqueles olhos... A forte atração mútua na hora em que ele a ajudou a levantar-se. Eu devo estar imaginando coisas... Menos o que estou sentindo agora.

(continua...)




Desculpem ter demorado tanto com esta postagem, mas como expliquei no mural dos recados, viajei na sexta-feira, antes de postar o capítulo. Levei o computador comigo, mas não tive tempo de abrí-lo para entrar na internet. Espero que gostem da continuação. Muito obrigada às minhas amigas queridas que não deixam de comentar minhas postagens. Minhas boas-vindas à Taty, minha amiga de longa data e tb escritora.
Um beijo a todas vocês!

6 comentários:

  1. Ai Rô, que lindo, o romance está cada vez melhor, e você consegue descrever situações e olhares tão perfeitamente que a gente sente a emoção. Fico aqui suspirando enquanto leio, mas pelo 1º capítulo já se percebia que seria uma estoria ma-ra-vi-lho-sa.
    Eu estava ansiosa por essa continuação e agora estou pela próxima, haja sofrimento amiga!
    Adoro o Lenine e o Chico e amei a tua homenagem a eles.
    Um beijooo!!!!

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  2. Oi, Nadja! Sou fã do Lenine e em especial desta montagem de Cambaio em que ele fez os arranjos das lindas músicas do Chico e do Edu Lobo.Achei que esta música em especial tinha a ver com a minha dupla. O Leonardo está precisando urgentemente de uma moça que o deixe cambaio, não achas?...rsrsrs.
    Espero continuar correspondendo às tuas expectativas, querida.
    Beijos!!

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  3. Ui, amiga, quase tive um troço quando relatou como o Leo foi socorrer a Bruna... E ainda por cima barbadinho... Hummm... Gosto tanto!!!
    Confesso que estou nutrindo uma invejinha roxa da Bruna... Ter aquelas mãos no meu corpinho, sentir a respiração, o cheiro, mirar os olhinhos mais lindos do universo... Um sonho, simplesmente!
    As coisas estão sendo esclarecidas, ao menos para a Bruna. Agora, ela já vai olhar para o Leo de outra forma, mais gulosa por assim dizer... huashuahsuahsuahuas...
    Mas um homem desses não é só para olhar, convenhamos... hihihi...
    Ai, Rô, tô animada com o conto, quero ver a coisa pegar fogo porque daí eu me teletransporto para o lugar da Bruna e vivencio uma deliciosa e inesquecível realidade alternativa...
    Ai... Ai...
    Gostei da menção ao Lenine e Chico - sempre dão um toque de encantamento a nossas vidas tb!
    Beijinhos

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  4. Rô, valeu a pena esperar! Só não demora muito a postar, pq essa estória tá linda... tô adorando.
    Bjos

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  5. Aiii está tão lindo!!!!
    Esse romance vai prometer e muito!

    Tô amando cada vez mais Rô!
    Não demore para postar ok?

    Bjos

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  6. Rosane,voltei!!!

    Amei este cap.,que elenco de mulheres que tem o Gerry cada uma mais bonita do que a outra,adorei!!!!
    Amei a cena da descoberta da viuves de Leo,pobre da Taty,tão pequena e já tão triste sentindo falta da mãe,queria dar colo,não só para as meninas como pro pai tb.rsrsrsrsrsrsrs.
    Está tudo mto lindo.

    Bjs.

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Cantinho do Leitor
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