sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Confusões de um Viúvo - Capítulo VI



Miguel acabara de sair do foro. A temperatura começava a cair rapidamente, as árvores despiam-se de suas folhas, atacadas pelo vento, e uma chuva fininha começava a açoitar as ruas de Porto Alegre. Dirigiu-se para o bairro Bom Fim. Pensou em convidar um ou dois amigos para fazer um happyhour em algum dos inúmeros barzinhos que havia na área. Foi quando viu uma loura deslumbrante parada na calçada, vestindo uma roupa leve, inadequada para a mudança climática, encolhida pelo frio, fazendo sinal para tentar conseguir um táxi livre, o que era impossível naquele horário. Ela pareceu mancar levemente ao movimentar-se. Diminuiu a velocidade e aproximou-se lentamente de onde ela estava. Conseguiu ver melhor o seu rosto. Animadíssimo, estacionou diante dela, abrindo o vidro elétrico do lado oposto ao seu. Notou que ela imediatamente fechou a expressão e evitou olhá-lo.
- Moça, acho que está precisando de uma carona! – disse sorridente, esticando-se todo sobre o banco para poder encará-la.
Ela fingiu que não ouviu e caminhou em direção contrária ao fluxo de onde ele estava obrigando-o a dar ré. Por sorte, não vinha nenhum outro veículo, e ele pode segui-la por alguns instantes.
- Bruna! Não reconhece mais os amigos? – gritou quando cansou de divertir-se com a cara amarrada dela e o movimento de carros na rua reiniciou.
Ao ouvir seu nome, ela abaixou-se para ver melhor o sujeito que a importunava.
- Miguel? – indagou surpresa – É você?
- Quem mais ia dar em cima de uma mulher sozinha, desamparada, no meio da chuva, à procura de um táxi? Entra aqui ou vai morrer congelada, guria!
Ela sorriu ao reconhecer o antigo colega de faculdade e aceitou o oferecimento imediatamente. Realmente já estava congelada até os ossos, pois o frio viera repentinamente, e ela não estava preparada. Esquecera como o clima no Sul era excêntrico. Além disso, seu tornozelo ainda reclamava.
- Miguel, há quanto tempo... O que faz por aqui? – disse enquanto se abraçavam e trocavam beijos na face.
- Eu que pergunto. Você não tinha ido morar na Alemanha para dedicar-se à carreira de bailarina?
- Ah, essa é uma longa história... – respondeu suspirando melancólica – Mas, me conta de você. Já é um advogado famoso?
- Diga uma coisa. Tem tempo agora ou tem de voltar para casa para atender o marido e os filhos?
Ela começou a rir e respondeu:
- Felizmente ou infelizmente, não tenho este problema.
- Então, que tal uma saída para comemorar o nosso reencontro? Ia ligar para um amigo para fazer um happyhour, mas agora que a encontrei, não preciso mais procurar.
- Não estou arrumada, Miguel. Vai passar vergonha comigo.
- Você está linda, como sempre. Vou passar é trabalho evitando o assédio dos outros caras. Topas?
- Topo! – respondeu num piscar de olhos. Seria bom para mudar o rumo de seus pensamentos que não paravam de seguir a imagem de Leonardo e seus encontros frustrantes.
- Ótimo! Tenho uma jaqueta sobressalente aqui no carro. É melhor vesti-la ou vai se resfriar – disse enquanto estendia o braço para o banco de trás e pegava o abrigo.
Miguel
Sentaram-se numa das mesas de canto do Bar do Pedrinho, famoso no bairro, pediram um chope para cada um e uma porção de sanduíche aberto.
- Agora que já contei a minha brilhante trajetória no mundo dos bacharéis, quero saber de você. Desde a sua ida para a Alemanha, que estou curioso – inquiriu Miguel, que contara, durante o percurso até o bar, como conseguira tornar-se sócio num dos escritórios de advocacia mais concorridos da cidade.
- Bom, se prometer não bocejar, eu conto.
- Sou todo ouvidos – sorriu incentivando-a.
- O início foi um pouco difícil por causa da língua, apesar de eu ter feito um curso de alemão por dois anos. Porém, nada foi motivo para me desmotivar da dança. Passei a frequentar um grupo conhecido de Berlim e logo estava me apresentando com eles. Fiquei muito amiga do coreógrafo. Foi maravilhoso e tudo corria muito bem. Tinha uma boa renda mensal, ótimas amizades e fazia o que eu mais amava na vida, que era dançar. Contudo, há cerca de 1 ano, quando estava saindo do teatro onde tínhamos acabado de ensaiar a coreografia para a próxima apresentação, fui atropelada por uma bicicleta sem freio. Acredita? Acho que eu estava distraída, pensando nos passos que devia melhorar ou, sei lá o que mais, quando ele surgiu do nada. Com o choque, caí torcendo o tornozelo. Senti o osso se quebrar. Fiz uma fratura exposta de tíbia. Levei meses em tratamento e fazendo fisioterapia. Depois de tudo, recebi a notícia que acabou com todos os meus planos e sonhos. Eu não poderia mais dançar profissionalmente. Quase morri ao saber. Passado o desespero, com a ajuda de amigos alemães e alguns daqui, consegui me reerguer e começar a fazer novos planos para a minha nova situação. Não podia mais acompanhar o meu grupo, mas poderia dar aulas de dança ou fazer outro tipo de atividade dentro do balé, como ser coreógrafa – Olhou firme para Miguel que ouvia comovido o seu relato e perguntou – Se estiver sendo muito chata, me avisa, que eu paro. Está bem?
- Não, Bruna. O que é isso? Estou pasmo com tudo que você está me contando. Por isso notei que estava mancando hoje...
- É... Não costumo mancar, mas é que hoje resolvi me exceder num solo e acabei tendo dor. Acho que forcei demais o tornozelo.
- Está melhor agora?
- Estou sim. Até amanhã já estarei bem.
- Então continua... Por que e quando voltou ao Brasil e o que anda fazendo agora?
- Pois é. Pensei em permanecer lá, mas as oportunidades de trabalho diminuíram drásticamente. Então, uma grande amiga minha, também bailarina, me ligou dizendo que a academia onde ela dava aulas, estava a venda. Fiquei animada com a possibilidade de voltar para casa. Começava a ficar deprimida demais em Berlim. Consegui juntar um bom dinheiro no período em que trabalhei lá e graças ao seguro-saúde, que todos os bailarinos do nosso grupo tinham, não precisei desembolsar muito pelos tratamentos que recebi. Pesei os prós e os contras e acabei por tornar-me uma proprietária de escola de balé. Isto tudo aconteceu há cerca de 2 meses. E aqui estou eu.
- E, numa boa mesmo? Está feliz?
- Acho que sim. Desisti de me fazer de vítima e encarar a realidade. Na academia vou continuar em contato com o que mais gosto de fazer. Se tudo falhar, vou pedir emprego para algum famoso advogado amigo – disse dando uma piscadela para ele.
- Quem me dera... Famoso – disse, soltando uma gargalhada, escondendo a tristeza e a pena que sentia de sua amiga por tudo que ela sofrera – Tenho certeza que tudo vai dar certo com a sua academia. É importante fazer o que se gosta.
- E você? Ainda solteiro? O que há com estas gaúchas que ainda não conseguiram laçar um advogado charmoso como você?
- Acho que elas fizeram escola com uma certa colega minha...
- Ah, Miguel, não vai começar a flertar comigo agora – desdenhou rindo – Prefiro mantê-lo só como amigo.
- É uma pena, mas fazer o quê? – suspirou e retribuiu o sorriso mais palidamente. – Mudando de assunto, pois já vi que não tenho a mínima chance, como sempre. Onde você está morando? Com seus pais?
- Não. Aluguei um apartamento no mesmo prédio em que meu irmão mora. Meu pai faleceu há dois anos. E minha mãe... A gente se fala muito pouco. Você lembra como ela foi contra a minha ida para a Alemanha? Pois é. Desde lá, ficamos meio que de mal. Com a minha volta, estamos começando a nos reaproximar.
- Mas sabe quem eu vi estes dias? – falou depois de uma breve pausa, novamente mudando o rumo da conversa, pois percebeu que o assunto de família não era muito agradável para Bruna – O Janjão. Lembra dele?
- Não brinca! Como ele está? – indagou curiosa a respeito de um dos mais polêmicos colegas da turma.
Passaram a conversar sobre os tempos de faculdade e riram lembrando professores, amigos e figuras hilárias daquela época.


- Papai...
- O que foi Marina?
- Por que tu estás triste hoje?
- Não estou triste.
- Foi porque a Tati falou da mamãe?
- Não, meu amor... É melhor fechar os olhinhos e dormir. Amanhã temos que acordar cedo.
- Não sonhei mais com a mamãe... – continuou.
Engolindo em seco e sentindo uma imensa ternura, Leonardo aproximou-se da filha na penumbra do quarto.
- E você está chateada com isso? – perguntou, sentando-se na cama junto a Marina e acariciando sua cabecinha.
- Não... Acha que ela está lá em cima ensinando os anjinhos?
Ele sorriu e concordou.
- Tenho certeza disso, querida...
- A Tati pensa que ela pode voltar... Não pode né, papai?
- Não, não pode, meu bem – disse notando que os olhinhos esverdeados já estavam quase fechando.
- Tá bom... – disse com a voz mais enrolada – Te amo, papai...
- Também te amo muito, Marina... – declarou emocionado.
- Boa noite... – desejou num sussurro, de olhos fechados.
- Boa noite, meu anjo – despediu-se beijando sua testa suavemente.
Beijou Tati, que se encontrava agarrada a sua boneca de pano predileta e adormecida há um bom tempo, arrumou o edredom sobre ela e saiu silenciosamente do quarto cor-de-rosa.
Pensativo, foi para a cozinha, pegou um cálice e serviu-se de um pouco do vinho tinto que tinha aberto no dia anterior. Dirigiu-se para a sala, colocou um CD de jazz e sentou-se para ouvi-lo em sua poltrona predileta. As feridas pela perda de Cris estavam praticamente fechadas. Tati e Marina pareciam conformadas e tranquilas em relação a isso. Olhou em torno de si e notou que o silêncio na casa já não o perturbava tanto. A sensação de que Cris apareceria a qualquer momento com um sorriso nos lábios, indo na sua direção para beijá-lo ou com uma palavra de carinho para as filhas, desaparecera. Pelo menos não sentia mais o coração ser dilacerado ao perceber que isso nunca mais aconteceria. Não pode evitar novamente a imagem de Bruna e seu desconforto diante da descoberta de sua viuvez no final de tarde. Será que ela pensava que ele ainda era casado? Seria esse o motivo para repudiá-lo tanto? Bobagem. Ela tinha namorado. Era melhor parar de fazer suposições. Além do mais, que mulher solteira e linda como ela pensaria em relacionar-se com um homem com duas filhas pequenas... Para passatempo? É melhor parar de pensar bobagens! E voltou sua atenção para o som do trompete que o envolvia e ao prazer de degustar o delicioso vinho.


A manhã chegou acinzentada, fria e úmida. Finalmente o Outono se revelava.
- Leo! – chamou sua secretária – Tem uma moça aqui querendo falar com você. O nome dela é Vera. Posso mandá-la entrar?
- Pode – disse olhando o relógio e imaginando que seria a nova babá arranjada por D. Celina.
Pouco depois entrou uma mulher de vinte e poucos anos, de rosto redondo, cabelos e olhos castanho-escuros, vestindo um jeans e um blazer de lã, de olhar desafiador, parecendo mais velha que sua idade devido à maquiagem pesada que usava.
- Bom dia. Vim a pedido de D. Celina. É o senhor Leonardo?
- Sim – disse Leonardo – Bom dia. Quer se sentar aqui, por favor? – Indicou a cadeira mais próxima à sua mesa de trabalho.
Toda empertigada sentou-se e o encarou soberba.
- Fui encaminhada por D. Celina para conversar a respeito do emprego de babá.
- Sim, claro... A senhorita tem alguma experiência com crianças? Tem referências?
- Bem, confesso que nunca trabalhei como babá, mas sou formada em Pedagogia e acho que estou apta a cuidar de suas filhas. Também posso ajudar na cozinha.
Ele ficou espantado ao saber que a mulher era graduada em Pedagogia e estava candidatando-se a um emprego de babá. Onde esse mundo vai parar?
- Como é mesmo o seu nome? – perguntou, tentando ganhar tempo para pensar em como dispensá-la.
- Vera. Gostaria de saber qual o meu horário, pois pretendo iniciar uma pós-graduação à noite. Não poderei trabalhar nos finais de semana, a não ser que seja combinado com duas semanas de antecedência – disparou seus empecilhos.
Vera aparentava ser um poço de antipatia e Leonardo duvidou que seria diferente com as meninas.
- Por que está querendo este emprego, tendo uma formação de nível superior?
Sem querer tocou num ponto nevrálgico da pobre jovem. Pensou que Vera fosse ter uma síncope, pois empalideceu e arregalou os olhos. Engoliu em seco e iniciou sua resposta.
- Infelizmente o mercado de trabalho está difícil, como você deve saber e eu ainda não tive oportunidade devido à falta de experiência. Realizei alguns concursos, entreguei meu currículo em vários locais, fiz entrevistas, mas até agora não consegui nada. Quando D. Celina falou com minha mãe se conhecia alguma babá, ela pensou em mim. Pediu que eu o procurasse. Acho que ela não me aguenta mais em casa sem trabalhar. Você precisa me ajudar – sua voz começou a tremer demonstrando seu desespero.
- Olha, Vera, acho que este emprego não é adequado para você... Afinal uma pessoa formada em Pedagogia merece algo do seu nível – Ela agora estava soluçando – Se procurar melhor, tenho certeza que encontrará uma ocupação mais adequada aos seus conhecimentos do que a que tenho a lhe oferecer. Será que ela é bipolar?Ou maníaco-depressiva?Ou está só desesperada? Não queria uma pessoa assim cuidando de suas filhas, por mais pena que tivesse dela e da situação em que se encontrava – Por favor, não chore... Preciso lembrar de esganar a D. Celina quando a encontrar na próxima vez...
- Concordo com você. Nem gosto tanto assim de crianças, mas como minha mãe insistiu... Preciso muito de um emprego – fungou o nariz – Quem sabe de secretária, aqui no seu escritório?
Uma pedagoga que não gosta de crianças?...
- Não, Vera. Infelizmente já estamos com o quadro completo... Sinto muito não poder ajudá-la, mas é que eu realmente acho que você vai acabar descontente trabalhando em algo fora da sua área, em um emprego subalterno.
As lágrimas vertiam soltas. Quanto mais ele pedia que ela se acalmasse, mais alto ficava o choro, chamando a atenção de seus funcionários e de um cliente que acabara de entrar. Todos o olhavam de soslaio. Deviam estar pensando as piores barbaridades a seu respeito. Podia até imaginar... Melhor não. Chamou a secretária e pediu que ela trouxesse um copo d’água para a senhorita, colocando o dedo indicador na lateral da cabeça e rodopiando o dedo rapidamente, sem que Vera percebesse, indicando o quadro de insanidade mental de sua visitante.
Menos de um minuto depois, recebia o copo com água e uma caixa de lenços de papel. Agradeceu à funcionária por sua eficiência e iniciativa.
- Você já tentou uma agência de empregos? – indagou ao entregar-lhe o copo. Deveria ter pedido um sedativo também.
- Não... – respondeu com um brilho alucinado no olhar.
- Então... Quem sabe você tenta? Tem ótimas agências na cidade – Disse liberando um discreto suspiro de alívio. Parece que estava conseguindo acalmá-la. Entregou-lhe os lenços de papel.
- É... Talvez...
- Quem deve saber indicar é a D. Celina. Tenho certeza que ela vai lhe dar o nome das melhores – vingou-se rebatendo o fardo para sua querida sogra. Aliás, ex-sogra.
A mulher inspirou profundamente e, no instante seguinte, secou as lágrimas, assoou o nariz com estardalhaço e voltou a ter o olhar altivo de antes.
- Desculpe ter tirado o seu tempo - levantou-se.
Olhou-o como se nada tivesse acontecido, agradeceu e saiu, deixando-o pasmo com as mudanças bruscas de humor de sua ex-futura babá, mas ao mesmo tempo aliviado por ter se livrado dela.

Tendo conseguido encerrar suas atividades mais cedo naquela sexta, resolveu dar uma passada em uma das grandes livrarias da cidade para procurar um livro de culinária fácil. Já não tinha esperanças de conseguir alguém que cozinhasse para sua família, assumiria mais esta função. Talvez acabasse descobrindo uma habilidade desconhecida.
Entrou e logo foi perguntando, meio sem jeito, a um dos funcionários onde era a seção de arte culinária. O rapaz indicou o segundo andar, mostrando uma estante estrategicamente escondida e muito conveniente a ele. Não queria que alguém das suas relações o visse buscando este tipo de literatura. Dirigiu-se até lá e começou a remexer nos livros à procura de algo adequado às suas intenções de cozinheiro iniciante. Tinha dois volumes seguros na mão, quando notou que estava sendo observado por alguém. Ao virar-se para o lado, deu de cara com dois grandes e doces olhos azuis a cuidá-lo. Surpreendeu-se ao ser pego em flagrante e deixou cair os livros com grande estardalhaço, atraindo para o alto da livraria a atenção da maioria dos presentes.
- Esta cidade é realmente pequena, não é mesmo? – reconheceu Bruna, segurando-se para não rir da atrapalhação de Leonardo ao vê-la, buscando recolher rapidamente os livros que deixara cair, escondendo-os sob o braço. Será que ele é tímido mesmo?
- Oi... O que está fazendo aqui? – perguntou incisivo ainda atrapalhado com o flagrante e, principalmente por ter sido Bruna a autora deste.
- Procurava CDs de música para a escola – explicou, apontando para sessão bem próxima a eles.
Ela chegou mais perto de onde ele estava, ficando sob seu nariz, bisbilhotando a carreira de obras impressas a sua frente.
- Culinária... Interessante. Achei que era arquiteto – Virou-se bruscamente, provocando-o. Estavam muito próximos um do outro. Mais uma vez sentiu-se próxima a uma combustão espontânea. Apesar de ser alta, ele a ultrapassava em quase uns vinte centímetros. Deve ter quase 1.90 m de altura.
- E sou – respondeu sem desviar um milímetro de onde estava, desistindo de fugir do olhar instigante da bailarina – Algum problema com homens na cozinha?
- Nenhum – respondeu corando levemente, repreendendo-se por estar se insinuando tanto para ele. Virou-se mais uma vez para a estante, fingindo estar lendo os títulos a sua frente – A maioria dos grandes chefs são homens.
Era difícil resistir àquele perfume que ela usava, levemente adocicado. Instintivamente abaixou-se um pouco para senti-lo nos cabelos dourados, que se encontravam soltos, caindo em cascata sobre os ombros. Então ela virou o rosto repentinamente, permitindo que seus lábios quase se roçassem tal a proximidade em que se encontravam. A forte atração que ocorrera no dia anterior na escola voltou intensa. Esquecido de onde estava Leonardo não precisou de muito esforço para puxar Bruna pela cintura, contra seu corpo e beijá-la, degustando seus lábios. Por sua vez, depois de passada a surpresa, ela o envolveu com os braços em sua nuca, ficando na ponta dos pés para moldar-se melhor ao corpo dele. Por um momento ele pensou em soltá-la, temendo estar indo muito rápido, mas ela o reteve e voltou a beijá-lo, sendo plenamente correspondida. Com os lábios entreabertos, permitiu que a língua quente e úmida invadisse sua boca, desvendasse seu sabor e saciasse sua sede. Grudada nele, percebeu a pulsante ereção, sob a fina calça de lã, pressionando seu baixo ventre, provocando-a. Sentiu a calcinha molhada devido ao incontrolável desejo. Arqueou o corpo reflexamente para trás, jogando os quadris para frente, exigindo maior contato. Tiveram dificuldade em ouvir o exagerado pigarrear e um “com licença” seco. Apenas na repetição, acabaram por separar-se e voltaram à realidade. Leonardo a soltou e ela desfez o laço em torno do seu pescoço, dando passagem para uma senhora baixinha, de óculos, espremida dentro num conjunto xadrez de saia e blazer, com ar de censura. Intimidados, ofegantes e de olhos baixos, tentavam recompor-se. Quando os olhares se cruzaram novamente, Leonardo deu um meio sorriso e falou em voz baixa e rouca:
- Desculpe... Eu... – parou com seu pedido de desculpas ao notar que a senhora que os interrompera parecia mais interessada neles do que em sua procura cultural – Que tal irmos tomar um café lá embaixo?
- Já achou o livro que procurava? – indagou sorrindo, procurando naturalidade, como se fosse possível depois do que tinha acontecido.
- Não... Na verdade, nem sei como procurar – Agora ela vai pensar que eu sou um completo idiota! O que me deu de beijá-la daquela maneira?... Como ela é linda...
- Que tipo de livro de culinária estava procurando? – perguntou simulando curiosidade.
- Algum para iniciantes... – pigarreou e olhou para a estante, fugindo do olhar de Bruna.
- Ah, então o ideal é este aqui – declarou enquanto tirava da estante um volume e pensava em como ele ficava bonitinho quando sem jeito – Se você quer aprender sobre como cozinhar comida saudável, este é a melhor escolha.
Ele pegou o livro entre as mãos, folheou um pouco. Era da autoria de um jovem chef inglês. Parecia interessante.
- Obrigado...
- É para você mesmo?
- Não... – mentiu sem conseguir encará-la – É um presente.
- Certo... – concordou apesar de desconfiar que ele estivesse envergonhado de dizer que queria aprender a cozinhar – Que tal aquele café agora? – convidou com a intenção de poderem conversar mais tranquilamente, já que a senhora cheirando a perfume rançoso continuava ao lado deles fingindo ler um livro sobre preparo de massas.
Ele olhou seu relógio de pulso conferindo o horário e disse:
- Infelizmente não posso me demorar muito – subitamente ficou ansioso – Tenho que buscar as minhas filhas na escola.
Decepcionada com a aparente fuga, não se deixou vencer. Será que ele não gostou do beijo? Não foi esta a minha impressão, mas...
- Onde é a escola delas?
- É no Bom Samaritano, perto do Planetário.
- Que ótimo! Eu moro ali pertinho, na Rua Santana – falou animada diante do olhar perplexo dele – Poderia me dar uma carona? Afinal continuo sem meu carro... Está se saindo um grande cara-de-pau, D. Bruna.
- Por falar nisso – O que eu faço agora? – Não recebi o orçamento ainda.
- Não se preocupe. Neste final de semana eu mando. A oficina só vai aprontar o carro na segunda ou na terça.
- Ah... Certo.
- E então? Vai me dar uma carona ou não? – Por que ele está em dúvida, Cristo?
- Você se importa se eu pegar as meninas antes? – Diante da expressão de dúvida dela, explicou – Antes de deixá-la em casa, é claro. Isto é... Você vai comigo pegar as duas?
- Claro! – exclamou radiante, ao entender o convite mais que satisfatório – Vou adorar – terminou de responder com o melhor sorriso do mundo.
- Então, vamos. Elas devem estar saindo da aulinha de informática daqui a pouco.
- Vamos lá.
O que eu estou fazendo?O que ele vai pensar de mim?Que vontade de beijá-lo de novo...

Esbarraram-se quando resolveram sair do corredor onde estavam. Bruna quase caiu contra a estante ao seu lado. Encabulado, Leonardo pediu desculpas e segurou-a delicadamente no antebraço, maldizendo-se intimamente por estar tão nervoso e estabanado. Fez um gesto polido apontando o caminho e deixou-a seguir a sua frente.
Bruna, pare de parecer uma adolescente num primeiro encontro. Até ontem vocês se odiavam. Agora, só porque soube que era viúvo...
Esquecido de que carregava um livro na mão, fez soar o alarme quando passou pela porta da livraria. Ao dar-se conta que não pagara pelo artigo, desculpou-se com o fiscal da saída e dirigiu-se quase correndo ao caixa, seguido por Bruna, que segurava o riso para não deixá-lo ainda mais embaraçado. Já bastava ter que enfrentar os olhares desconfiados de metade dos frequentadores da loja, como se eles fossem Bonnie e Clyde.




(continua...) 







Mais uma postagem feita! Vou fazer o possível para manter o ritmo de postagem dos capítulos seguintes, mas tenho medo de atrasar um pouco, pois ando com certa dificuldade de tempo. Além disso, daqui em diante tenho muito pouco escrito. Adorei cada comentário feito pelas minhas assíduas leitoras ( Nadja, Aline, Cris, Dena), a quem eu amo demais. Nem tenho como agradecer tanto carinho de vocês. Vocês me deixam muito feliz.
Muitos beijos!

5 comentários:

  1. Rô, que lindo!
    Adorei o capítulo. Achei lindo esse encontro na livraria. Duas coisas que eu amo: livros e Gerry!!! kkk Vou aguardar ansiosa pela continuação. Esse viúvo está me tirando do sério, ainda mais com essas duas gracinhas que são as filhas dele.
    Bj

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  2. Oi Rô, estou adorando esse romance como vc mesma disse bem mais light mas não menos interessante, muito bom mesmo. Desculpa a ausência de comentários é que eu tava colocando a leitura em dias já que fiquei um tempinho sem acessar e me perdi um pouco, mas agora já está tudo em ordem rs aliás vc já decidiu qual romance será publicado? Bjosss...

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  3. Rosane!!!!
    Amei como sempre o cap,está cada vez melhor.Pensei que Miguel iria disputar o amor de Bruna com o irmão sem saber ia ser uma sinuca de bico,mais ainda bem que ela gosta dele só como amigo rsrsrsrsrsrsr.Que linda a cena dos dois na Livraria,adoreiiii.Bruna e Leo merecem ser felizes juntos.Estou torcendo pra que as meninas aprontem mto tb.
    Tomara que continue assim e que não demore mto mais postar o próximo cap.

    Bjs.

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  4. Poxa Rô, que lindo!!!
    Concordo com os comentários feitos pela Aline (também amo livros e Gerry), Vanessa e Cris, também achei que o Miguel iria voltar a se interessar pela Bruna, mas ainda bem que agora ele a vê apenas como amiga.
    Adoro a timidez do Leo, mas bem sei que quando essa fera se soltar teremos cenas quentes. O encontro deles na Livraria já deu sinais bem "evidentes", rsrsrsrsrs.
    Pra variar estou ansiosíssima pelo próximo capítulo.
    Um cheiro amiga!!!

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  5. Rô, vc acabou de criar um homem que até então não existia: vc já viu ou ouviu falar em algum homem que tenha uma jaqueta sobressalente no carro?!! A resposta só pode ser uma: nunca!!! Se num dia de frio, o homem estiver trajando uma jaqueta já é muita coisa... Homens não gostam e evitam a qualquer custo usar casaco e guarda-chuva, é uma briga sempre... Eles devem se achar super-homens, que são imunes às consequências trazidas pelo frio e pela chuva.
    Vixe, essa Vera é da pá virada, não gosta de crianças e estava candidatando-se a emprego de babá, coitada das crianças...
    Homem na cozinha é o máximo!!! O Leo tem mesmo que aprender a fazer umas coisas, pois tem filhas pequenas e acho que deve aprender a se virar, sem ajuda de outra pessoa, afinal nunca se sabe o dia de amanhã.
    Ninguém condena a Bruna por ficar com vontade de beijar o Leo de novo, novamente e outra vez... Beijar é muito bom, ainda mais um homem desses... Affff....
    Muito bacana esse encontro dos dois na livraria, um encontro de sonhos, tão romântico!
    Beijinhos

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