domingo, 9 de maio de 2010

Coração Atormentado - Capítulo VIII - Sentimentos

MARCELO
GLÓRIA


Naquela manhã de sexta, Marcelo passou no escritório da fábrica Bernazzi para pegar as passagens que esquecera sobre a sua mesa no dia anterior. Ao chegar, Glória já estava lá. Graças a ela, podia atender às duas empresas, dos Bernazzi e a sua. A experiência que ela adquirira ao longo dos anos acompanhando Ágata permitiu que se tornasse tão boa empresária quanto sua contratante e amiga. Seu único problema era ter se tornado muito íntima e, por isso, muitas vezes acabava por intrometer-se onde não devia. Porém, como precisava muito dela, pelo menos até Diego estar habilitado para voltar e assumir o cargo que fora de sua mãe, na direção da fábrica, teria que sujeitar-se a estas pequenas e, às vezes, desagradáveis intervenções. Conhecia a secretária de longa data. Mesmo antes de começar seu namoro com Ágata, seus contatos profissionais com a empresa Bernazzi, para quem fornecia produtos de higienização, eram realizados através de Glória. Logo depois, conheceu pessoalmente a diretora da fábrica, ficando perdidamente apaixonado por ela.
- Bom dia, Glória. Já trabalhando tão cedo? – perguntou Marcelo ao entrar apressado no escritório.
- Alguém tem que trabalhar por aqui – respondeu ela, secamente.
Marcelo estranhou o tom de voz empregado.
- O que houve? Algum problema?
- Problema algum. Nada que eu não possa resolver.
- Olhe, Glória. Sabe como lhe sou extremamente grato por estar dividindo a direção desta empresa comigo, ajudando-me, enquanto o Diego não tem condições para tal. Eu tenho feito o que posso, mas sabe que este não é exatamente o meu ramo. Além disso, tem sido difícil dividir-me entre dois lugares – explicou-se mais uma vez. Como ela continuasse com uma expressão entediada, continuou – Talvez esteja na hora de Diego assumir o seu lugar. Ele já está melhor e acho que já tem condições de retornar.
- Desculpe, Marcelo – replicou aflita – Não me entenda mal. Diego ainda não se recuperou física ou psicologicamente de suas perdas. Ele ainda precisa de ajuda.
- Então, não entendo o porquê do seu mau humor – falou ligeiramente irritado.
- Não estou exatamente me queixando do excesso de trabalho ou de responsabilidade. O que me irritou foi o que está acontecendo entre Cláudia e você. Vocês já estavam tendo um caso antes da morte de Ágata?
- O quê? Quem você pensa que é para vir me tirar satisfações? De onde tirou esta idéia?
- Eu vi as passagens para a Bahia e em nome de quem elas estão.
- Quem lhe deu o direito de mexer em minhas coisas? – exclamou, olhando na direção de sua mesa.
- Você traiu a mãe e agora está traindo o filho? Como pode? – exasperou-se.
- Glória... – baixou o tom de voz, procurando acalmar-se e explicar calmamente o que estava acontecendo, apesar de achar que não precisava disto – Está bem. Eu confesso que a Cláudia e eu temos nos encontrado e que vamos passar este fim de semana juntos. Mas só decidimos isto depois que ela rompeu definitivamente com Diego. Até então eu vinha resistindo a ter um relacionamento com ela – Ele passou a mão na testa, nervoso – Nunca houve nada entre nós quando Ágata estava viva. Pelo amor de Deus! Eu amava a minha mulher, apesar de sentir-me sempre em segundo plano por causa da eterna presença de Franco naquela casa. Quando aconteceu o acidente, além de perdê-la, vi Diego, por quem tenho grande afeição, ficar entre a vida e a morte. Cláudia foi importante com o seu apoio durante aqueles dias terríveis. Com o tempo este apoio transformou-se em uma grande afeição e... Bem... Foi inevitável a gente acabar se gostando...
- Quem garante que vocês já não estavam juntos antes e planejaram este acidente juntos, para eliminar os dois indesejáveis em seu caminho?
- Glória, você está passando dos limites.
- Imagine quando Diego souber. Vai ser mais um golpe para ele.
- Nós vamos contar tudo a ele, mas não agora. Vamos dar um tempo até ele estar mais forte. Espero que você respeite esta nossa decisão.
- Olhe, Marcelo, acredito no que você falou – disse em tom mais ameno – É que fiquei muito decepcionada com você. Sabe como eu gostava de Ágata e gosto de Diego como se fosse meu filho.
- Eu sei, Glória. Mas pode acreditar no que estou lhe contando. Não quero magoar Diego de forma alguma. Sei que você também não.
Ânimos aparentemente apaziguados, Glória observou Marcelo pegando as passagens, que ela deixara no mesmo lugar em que as encontrou. Antes que ele saísse, ela tornou a falar-lhe.
- Marcelo, desculpe pelas coisas que falei, mas tente entender o que senti ao imaginar que você pudesse ter traído duas pessoas tão importantes para mim. Também gosto muito de você e...
- Não tem problema, Glória. Eu entendo. Espero que você também entenda que não tem sido fácil para mim – disse olhando para o relógio e imaginando que Cláudia já devia estar preocupada com seu atraso. – Tenho de ir agora. Podemos conversar melhor quando eu voltar.
- Claro. Eu posso esperar...
- Até a volta, Gloria.
- Um bom final de semana pra você... – falou com certa amargura na voz, continuando de forma inaudível para ele – Se isto for possível...
Ficou parada no meio do escritório de Marcelo, pensativa, durante alguns minutos. Logo, lembrou da infinidade de problemas a resolver e voltou ao trabalho.



Diego estava na piscina, exercitando-se sob o comando de Carlos, quando o celular de Ângela tocou. Era Lino.
- Oi, Ângela. Estou ligando para contar o que descobri a respeito do nosso misterioso neurologista, Dr. Aguiar.
- Já sabe o endereço do consultório dele? – perguntou ansiosa.
- Não. Sabe por quê? Porque ele não existe.
- Como?
- É isso que você ouviu. Não existe nenhum médico registrado no Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais com este nome.
- Mas, quem sabe ele não seja daqui. Pode ter se transferido de outro estado.
- Talvez, mas para atuar aqui ele teria de estar cadastrado no CRM mineiro. É, Ângela, esta história está começando a me preocupar. Temos que descobrir quem indicou este médico para a família, que, ao que tudo indica, era um farsante. Por isso não conseguimos contato com ele. Parece que ele se evaporou no ar.
- Estou abismada...
- Pois é. Tente descobrir alguma coisa com Diego, sem alarmá-lo.
- Claro. Vou tentar.
- Me mantenha informado se souber de algo e... Cuide-se. Até breve!
- Pode deixar, Lino. Até logo!
Ficou pensando, após desligar o telefone, como alguém podia entrar e sair de um hospital, fazer passar-se por médico, dar alta a um paciente e enganar uma família? Tinha que ser um grande cara-de-pau ou um ótimo ator ou as duas coisas. Nem notou o olhar de Diego sobre ela, enciumado e curioso a respeito do telefonema que a deixara preocupada.
- Algum problema, Ângela? – perguntou assim que ela aproximou-se da piscina.
- Não... Nada importante – mentiu – Como ele está se saindo nos exercícios, Carlos?
- Eu diria que hoje ele está num de seus melhores dias. Nunca o vi tão animado. Mas agora ficou um pouco desatendo depois que tocou certo celular.
- Ah, desculpe. Não queria atrapalhar. Vou desligá-lo – Vendo a insistência de Diego a sondá-la com os olhos, achou por bem tranqüiliza-lo – Era o Lino, querendo saber se a nossa combinação estava de pé.
- Que combinação? – perguntou Carlos.
- Ele me pediu para ficar aqui no sábado... Aliás, Carlos, preciso falar com você a respeito disso. Podemos conversar depois?
- Ei! Será que vou poder participar desta conversa, já que sou o motivo dela? – exclamou Diego.
- Talvez mais tarde. É uma surpresa... – insinuou Ângela com sorriso misterioso que atiçou ainda mais a curiosidade de Diego.
- Espero que seja uma surpresa boa – disse ele.



O suspense foi mantido até depois do almoço, quando Diego não aguentou mais para saber sobre a “surpresa” de Ângela.
- E então, vai me contar ou não?
- O quê? – fazendo-se de desentendida. Na verdade começava a ficar preocupada com sua proposta e como ela seria recebida por Diego. Talvez ele não gostasse de passar o seu fim de semana junto a pessoas desconhecidas.
- Ângela? O que você está tramando? – indagou mais uma vez, sorrindo.
- Está bem. Vou fazer-lhe uma proposta.
- Já estou interessado... – afirmou, enquanto admirava as deliciosas covinhas formadas nos cantos da boca de Ângela quando ela sorria.
Foi quando o celular dela tocou novamente. Voltara a ligá-lo logo após o almoço.
- Você não tinha desligado esse “trem”? – perguntou Diego irritado com a interrupção.
- Alô? – saudou ela, fazendo um gesto para que Diego se acalmasse – Gabriel? É você? Que saudades!! Onde você está?... Que bom... Está certo... Pode ter certeza... Mal posso esperar... Até! Um beijo!
- Novo namorado? – sugeriu um Diego bastante mal-humorado – Ele deve ser ótimo para deixá-la tão excitada.
Ângela deu uma gostosa gargalhada.
- Gabriel é meu irmão. Ele acaba de chegar a São Paulo, vindo dos Estados Unidos. Ele trabalha num hospital em Chicago e veio para nos visitar e apresentar a noiva americana.
O rosto dele iluminou-se, aliviado de seus ciúmes.
- Ele também é enfermeiro?
- Não. Ele é cardiologista pediátrico. Já mora lá há alguns anos e faz pelo menos três que não vem ao Brasil.
- Deve ser bom ter um irmão. Sempre imaginei como seria ter um.
- Eu não posso me queixar do que tenho – respondeu satisfeita – Aliás, ele é um dos motivos de minha proposta.
- Agora fiquei realmente curioso. O que ele tem a ver comigo?
- O que você acha de passar um fim de semana num sítio com a minha família?
Por alguns instantes, ela o viu retrair-se, franzir o cenho e, finalmente, dar um meio sorriso e dizer:
- Por que não?
- Sério? Ah, Diego, que bom! Confesso que estava com medo que você não quisesse.
- Você está me convidando só porque o Lino não vai poder vir, não é mesmo? – lastimou, com uma sombra de tristeza na face.
- No início foi isso, mas depois me dei conta que o meu sábado não seria completo se você não estivesse junto – falou com sinceridade.
- Não preciso de mentiras caridosas...
Ela sorriu docemente e aproximou-se dele. Abaixou-se até poder encará-lo e disse:
- Pois acredite... Não estou mentindo e muito menos sendo caridosa. Eu realmente quero que você me acompanhe.
- E se eu não for? – arriscou perguntar.
Ela suspirou resignada e respondeu:
- Eu não vou também. Apesar de ser muito importante para mim este encontro de família, ficarei aqui com você. Posso dar um jeito de subir a serra no domingo e ainda encontrar o Gabriel por lá.
Ao ouvir estas palavras, ele olhou para baixo, sorriu e, balançando a cabeça, disse:
- Se você me prometer que só voltaremos no domingo... Não quero aguentar a cara feia do Lino neste fim de semana – brincou, mas no fundo estava aterrorizado em como seria passar dois dias fora da segurança de sua casa, junto a pessoas estranhas, numa situação dúbia com Ângela, pois ainda não havia nada definido entre eles. Sua insegurança era total, mas o brilho do olhar e a alegria dela ao saber que poderia encontrar com a família no dia seguinte o fez esquecer seus medos.
- Ah, Diego... Obrigada. Não vai se arrepender – vibrou, abraçando-o e dando-lhe um beijo no rosto.
- Espero que não... – murmurou, domando a vontade de abraçá-la.
Depois de satisfazer a curiosidade de Diego a respeito de quem ele ia encontrar no sítio, provocando seu riso ao falar sobre sua mãe e sua tia Lourdes, e contar algumas histórias de sua infância e adolescência, foi a vez dele relembrar. Pediu que ela pegasse um álbum de fotografias que estava guardado no antigo quarto de seus pais.
Enquanto folheavam o grande álbum de folhas de cor cinza, onde as fotos eram presas por cantoneiras prateadas, notaram a falta de várias fotos de momentos familiares importantes. Diego ficou visivelmente chateado com este desaparecimento, tentando imaginar quem teria sido o responsável por isso.
- Quem teria interesse em pegar fotos como a do dia de meu nascimento, reuniões da família no Natal, do casamento de minha mãe com Marcelo... É muito estranho.
- Será que sua mãe não as pegou para montar alguma espécie de scrapbook ou um DVD de fotos. Sabe como fotos podem ser destruídas pelo tempo. Muitas pessoas têm feito isso para não perder o registro destes momentos passados – sugeriu Ângela.
- Ela nunca falou nada a este respeito, mas quem sabe? Com Dona Ágata tudo era possível – sorriu, disfarçando seu aborrecimento – Vou falar com Marcelo. Talvez ele saiba de alguma coisa.
- Boa tarde, meu querido! Oi, Ângela!
- Oi, Glória! – exclamou Diego, contente por ver sua amiga chegando, como fazia quase que diariamente – Chegou na hora exata. Talvez possa elucidar um mistério para nós.
Ele explicou o sumiço das fotos e perguntou se ela sabia alguma coisa a respeito.
- Não, não me lembro de Ágata ter comentado sobre fotografias. Se ela estava planejando fazer algo com estas fotos, não me falou nada. Mas posso procurar saber junto ao estúdio fotográfico de confiança dela.
- Por favor, Glória. Verifique para mim. Seria uma pena descobrir que estas lembranças estão perdidas.
- Claro, meu filho. Se eu descobrir o paradeiro delas, o aviso logo em seguida. Não se preocupe.
- Glória, se me dá licença, vou aproveitar que está aqui e subir para fazer a mala de Diego.
- Mala? Que novidade é esta? – perguntou surpresa.
- Vamos para a serra neste fim de semana – afirmou Diego sorridente.
- Vocês dois?
Foi então que Ângela explicou mais uma vez os motivos que desencadearam a realização do inesperado passeio, diante da expressão preocupada de Glória. Mas, depois de ouvir tudo, ao final, pareceu ter entendido.
- Parece que todos estão me abandonando neste final de semana. Marcelo, vocês... O que uma pobre enjeitada como eu pode fazer? – ironizou sorrindo – Estou brincando. Espero que você se divirta, Dieguinho. E você, – dirigindo-se a Ângela – cuide bem dele, ouviu?
- Não se preocupe, Glória. Eu estarei em ótimas mãos – retrucou Diego, lançando um olhar carinhoso para Ângela.
- Bem, dêem-me licença. Vou arrumar a sua maleta – disse Ângela, saindo.
Andando em direção à escada, pensando em como contaria a sua mãe sobre seu convidado de última hora e como ela deveria preparar a casa para facilitar o deslocamento dele e sua cadeira. Imaginava o que seus ouvidos teriam de aguentar, quando Clara apareceu com uma expressão angustiada, chamando-a discretamente.
- O que houve, Clara?
- É o seu José, o antigo motorista. Ele está aí e quer falar com o seu Diego – contou apreensiva.
- Eu falo com ele. Leve-o para a saleta dos fundos, por favor.
Certamente Diego ainda não estava preparado para falar com o homem que ele achava ser o responsável pela morte de sua mãe e por sua paralisia. Talvez fosse a sua chance de saber mais detalhes do que acontecera realmente. Voltou atrás em seu percurso e dirigiu-se para os fundos da casa, rogando para que Diego não percebesse o que estava ocorrendo.
Lá estava ele, de pé, olhando o vazio das paredes. José era um homem muito magro, ligeiramente encurvado, de estatura média, o rosto encovado, com visíveis olheiras e um par de olhos escuros e tristes. Provavelmente adquirira parte deste visual durante as semanas que passara encarcerado. Tirando o abatimento e colocando alguns quilos a mais, poderia até se dizer que era um homem interessante.
- Boa tarde, seu José. O meu nome é Ângela e sou a enfermeira responsável pelo Sr. Bernazzi.
- Boa tarde, D. Ângela. Eu precisava muito falar com o seu Diego. É importante – falou com humildade.
- Infelizmente ele ainda não tem condições de recebê-lo.
- Não é possível! Eu preciso falar com ele. Preciso que ele saiba que eu não tive nada a ver com a morte da D. Ágata. Não fui eu que mexi naqueles freios. Ele precisa me ouvir e acreditar no que digo – exaltou-se.
O homem parecia que ia desabar a qualquer instante.
- Por favor, o senhor sente-se aqui – disse apontando a poltrona a sua frente – Clara! – chamou, com a certeza que a criada ia estar por perto satisfazendo a curiosidade.
- S-sim, Ângela... – respondeu ela pega de surpresa, de trás da porta.
- Traga um copo de água para o seu José, por favor.
Assim que a outra correu para a cozinha, continuou.
- O senhor há de convir que para o Sr. Diego é muito difícil acreditar na sua inocência, já que encontraram provas que apontam para o senhor.
- Estas provas devem ter sido plantadas pelo verdadeiro assassino, moça. Não fui eu... Ainda por cima inventaram que eu estaria apaixonado pela D. Ágata. Isto é uma grande mentira. Eu amo a minha esposa. Jamais olhei para outra mulher. Eu juro... Tem que acreditar em mim – implorava, quase chorando.
Clara chegou com a água neste instante, entregando o copo para o pobre homem.
- Esta menina e a Zica são testemunhas do que estou dizendo – acrescentou, tomando um gole de água logo a seguir.
- É mesmo, Ângela. Eu já tinha dito isto para você.
- Eu sempre fui muito bem tratado e gostava imensamente de trabalhar aqui. Jamais faria mal para qualquer um deles. Nem durmo mais só de imaginar que o seu Diego possa acreditar que cometi um crime como este.
- Seu José, por favor, se acalme. A polícia o liberou, o que quer dizer que deve haver outros suspeitos. Eles já devem estar na pista do verdadeiro criminoso. Provavelmente cedo ou tarde, vão descobrir a verdade, e tudo será esclarecido. Mas até lá, o senhor deve ter paciência e esperar.
- Talvez tenha razão... Mas, de qualquer forma, se puder falar com o seu Diego e dizer que sinto demais a morte da D. Ágata e o que aconteceu com ele...
- Seu José, gostaria de lhe perguntar uma coisa.
- Pode perguntar.
- O Sr. Marcelo diz que viu o senhor beijando a mulher dele, pouco antes dela dispensá-lo de dirigir seu carro.
- Eu já expliquei na polícia. Sei que isto fez o seu Marcelo suspeitar que eu estivesse tendo alguma coisa com ela. Era o dia do meu aniversário. D. Ágata lembrou e me deu um abraço e um beijo no rosto. No rosto. Não sei de onde que o seu Marcelo nos viu para pensar que era um beijo pecaminoso.
- Está bem, seu José. Agora é melhor ir para sua casa. Eu prometo que vou conversar com Diego assim que for possível.
- Muito obrigado. A senhora é muito boa.
- Não há o que agradecer. Tenho certeza que logo vão achar o verdadeiro culpado e o senhor poderá provar a sua inocência... Clara, por favor, leve o seu José até a saída dos fundos, para que o Sr. Bernazzi não o veja. Tenho medo da reação dele.
- Pode deixar, Ângela. Vamos, seu José. O senhor conhece o caminho.
- Obrigado e até logo.
- Até logo – despediu-se e ficou observando o homem ainda jovem, envelhecido precocemente por uma culpa que não devia ser sua. Algo lhe dizia que ele não mentia. Mas então, quem era o criminoso? E se este ainda não fora descoberto, podia estar por perto. Talvez Diego ainda corresse perigo. “Como Lino dissera, não tinham como saber se o alvo era apenas Ágata...” Um arrepio de terror percorreu-lhe o corpo ao pensar que poderia perder Diego. Neste instante, suas dúvidas desapareceram e ela finalmente percebeu que estava apaixonada por ele, irremediavelmente.



O resto da tarde transcorreu sem mais interrupções. Depois de preparar a maleta que Diego levaria para o sítio, desceu para realizar a série de exercícios que se tornara parte da rotina diária. Quando terminaram, Glória despediu-se e lhes desejou um ótimo fim de semana.
Ao aproximar-se o horário em que normalmente Ângela ia embora, ela lhe comunicou que pretendia dormir ali para que pudessem sair logo cedo pela manhã. Mal contendo a sua satisfação, Diego fez uma exigência.
- Só vou permitir se você prometer que não vai dormir naquele cubículo dos fundos.
Ângela começou a temer o que Diego estava tramando para o seu pernoite.
- Eu não me importo de dormir lá. Vou ficar aqui só para que possamos sair cedo.
- De jeito nenhum. Vou lhe mostrar o quarto que poderá ocupar esta noite. Pegue suas coisas e venha comigo.
Enquanto Ângela buscava sua maleta e sua bolsa, Diego chamou Clara e deu-lhe algumas orientações. Quando ela voltou, ele pediu que Clara levasse a sua mala para cima, enquanto eles a seguiam de elevador.
- Por que está nervosa? – ele perguntou indiscreto, notando as mãos crispadas dela em torno da alça da bolsa.
- Quem disse que estou nervosa? – mentiu, ignorando o sorriso malicioso dele.
Saíram do elevador e seguiram pelo corredor até uma porta já conhecida por Ângela.
- Diego, não posso ficar neste quarto – falou, surpresa com a indicação dele.
- Você vai me dar um grande prazer se aceitar passar a noite aqui – continuou, abrindo a porta do quarto que pertencera aos seus pais.
Ele entrou, seguido por ela, e fechou a porta, trancando-a instintivamente.
- Não há porque manter este quarto fechado. Já pedi para a Clara arejá-lo e colocar roupa de cama nova. A não ser...
- A não ser o quê? – perguntou, desconfiada das intenções dele.
- A não ser que você queira ficar no meu quarto – provocou.
- Diego, o senhor está se saindo um belo de um conquistador e atrevido.
- Obrigado pelo “belo”, mas o conquistador e o atrevido sempre estiveram aqui. Confesso que eles estavam um pouco “adormecidos”, mas parece que você está conseguindo despertá-los.
- Diego, por um lado você me assusta, mas por outro me deixa contente, pois significa que está voltando ao normal.
- Por que eu a assusto? Está com medo de apaixonar-se por outro paraplégico?
- Diego! Não fale assim – exclamou, incomodada com a referência a Tomás.
- Por que você resiste tanto a mim? – O tom de sua voz agora denunciava certa irritação. – Às vezes sinto que está gostando de mim, mas logo em seguida veste esta máscara de enfermeira padrão, falando da minha recuperação, lembrando de meus compromissos e mudando de assunto. Como quer que eu me sinta? – Abruptamente, enlaçou-a pela cintura e puxou-a para si, sentando-a de lado, sobre suas coxas, e virando seu rosto para encará-lo. – Como acha que me sinto, querendo tê-la nos meus braços, querendo beijá-la e me sentindo um idiota por pensar assim, pois acho você nunca vai me desejar como a desejo, pois me sinto um inútil que nunca vai poder caminhar ao seu lado, dançar com você, ou transar como um homem normal?
- Diego... – murmurou, com o coração apertado, sentindo uma imensa ternura por ele ao lado de um desejo crescente – Eu andei por muito tempo com meus sentimentos adormecidos. Meu coração estava congelado. Mas quando eu o conheci – disse, acariciando-lhe a face –, algo despertou em mim. Desde então estou confusa e com medo de mim mesma e do que sinto.
Ele segurou o rosto dela com as duas mãos e encostou sua testa na dela.
- Então que tal acabarmos com esta confusão e tentarmos, juntos, achar o melhor caminho? – falou, aproximando-se lentamente dos lábios de Ângela e beijando-a ternamente por alguns segundos.
Quando se afastou, ela não resistiu mais e o envolveu com os braços em torno de seu pescoço e o beijou com mais intensidade, sendo plenamente correspondida. Logo, as mãos de Diego passaram a acariciá-la pelo corpo todo, incendiando-a de desejo. Já perdiam a noção de tudo, quando se ouviu uma batida forte na porta.
- Seu Diego? Ângela? Estão aí? – Era a voz de Clara, chamando no corredor.
Rapidamente tentaram se recompor. Ângela levantou-se do colo de Diego e quando o olhou, teve mais uma surpresa.
- É melhor dar uma disfarçada no que tem aí no meio das pernas. Parece que mais coisas foram despertadas... – falou rindo baixo e contente por ver mais um indício de que a teoria do Dr. Medeiros provavelmente estava correta.
Ele, irritado com a interrupção, colocou as mãos de forma a esconder a ereção que era visível sob o tecido da calça do abrigo.
- Maldita hora para essa mulher vir arrumar o quarto – grunhiu entre dentes – Já vou abrir, Clara! – gritou, enquanto via Ângela afastar-se dele, ainda rindo da situação constrangedora em que haviam se metido.
- Desculpem, mas eu vim arrumar o quarto – disse Clara ao entrar, constrangida e curiosa, olhando para os dois, um de cada lado.
- Não tem problema, Clara. Pode arrumar. Eu vou descer com Diego para esperar o jantar.
Deixaram o quarto sob o olhar desconfiado de Clara.


Oi!!! Como tinha prometido, consegui postar mais um capítulo no finalzinho do fim de semana. Quero aproveitar ainda para deixar aqui a minha homenagem a todas as mães, inclusive as mães em potencial, que vêm até este blog. As minhas amigas de Orkut já devem conhecer este vídeo, pois eu já o utilizei no dia das Mães no ano passado, mas acho ele tão lindo, que resolvi colocá-lo aqui. Esta é a minha homenagem a todas mães, neste dia 9 de Maio de 2010.
Beijos a todas vocês!



4 comentários:

  1. Rosane!!!!
    De novo eu,kkkkkk
    Acho que não tenho mesmo nada pra fazer,pois ultimamente sempre abro estis aqu.Amei este cap.,adorei o jeito como vc descreveu este encontro de Diego e Angela,estou torcendo pra que aconteça uma reviravolta na história e que ele volte ser o mesmo de sempre.
    Bjs,
    Cris.
    PS: Posta este nono cap.logo estou mto ansiosa para ler como vai ser o encontro de famila.

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  2. Cris, você sempre consegue ser a primeira, rsrsrsrs.
    Rô, os capítulos estão cada vez mais empolgantes, você tem realmente o dom de escrever, haja criatividade pra conseguir nos prender a cada parágrafo e ansiando pelo próximo capítulo.
    Já estou imaginando o que vai acontecer no sítio....
    Um cheiro amiga e não nos deixe esperando muito tempo.

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  3. Que sujeira o Marcelo está fazendo!
    Acho uma coisa assim irremediavelmente imperdoável.
    E mesmo que as coisas entre eles só tivessem acontecido após a morte da Ágata, não houve respeito ao Diego.
    E esse papo de que “aconteceu, não pudemos evitar” é pra boi dormir porque a gente só se envolve com quem quer.
    Sou muito radical nesses assuntos amorosos.
    Acho inconcebível o namoro com pessoas já compromissadas com outrem. Sei que a paixão nos arrebata, às vezes, de uma forma muito forte e nos leva a sonhar com uma vida com mais alegria. Mas não acredito que conseguir a felicidade à custa da infelicidade de outra pessoa seja o certo.
    Quando um sentimento desses nos atinge, o que é digno é nos afastarmos e deixarmos o tempo nos curar. Pode não ser fácil, mas é o certo e se Deus nos deu inteligência, capacidade para raciocinar, foi para fazer o certo.
    Na minha vida, procuro seguir um ditado: faço aos outros, o que gostaria que fizessem comigo. Não sou santa, tenho inúmeros defeitos, mas prezo muito pela honra, dignidade e respeito ao próximo, mesmo que nem sempre tenha recebido o mesmo tratamento daqueles que cruzam o meu caminho.
    Agora, voltando ao romance, acho que o Marcelo e a Glória se merecem, são duas laranjas podres mesmo e devem estar junto também na trama do assassinato da Ágata.
    Fiquei nervosa com esses dois... eca...


    Que bom que o Diego concordou em viajar com a Ângela, mas imagino o enorme pavor que deveria estar sentindo. É dificílimo estar numa situação como a dele, tão traumatizado com a morte da mãe e ainda no início de sua reabilitação. Ele teve muita coragem em aceitar o convite porque em sua casa tudo está devidamente adaptado para que ele possa se movimentar melhor. Contudo, em um lugar estranho, com pessoas desconhecidas é complicado. Nota-se que ele ama verdadeiramente a Ângela.
    Coitado do José, mais uma grande vítima de toda essa farsa. Imagina o seu sofrimento, seu acusado de um ato tão vil sem ter culpa alguma e nem ter a chance de poder conversar para explicar o que aconteceu.
    Oba! Terminou com uma cena de nos tirar o fôlego... Safadinho o Diego, está realmente melhorando, fisicamente (ui!) e psicologicamente, já que está se mostrando mais autoconfiante.
    Esse vídeo é muito lindinho, um encanto!
    Beijinhos

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  4. Confesso que amei a escolha pra a Glória. Até pensei que ela e o Marcelo teriam algo, quando vi as fotos. Agora começo a pensar que ele não teve nada com o o acidente. Mas enfim, como não gosto de por o carro à frente dos bois, vou descobrindo isso paulatinamente.
    E. por falar em pau, que ereção foi essa hein filhinha! Sente a pulsação desde os ouvidos aos países baixos. Ai,ai!

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Cantinho do Leitor
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