sexta-feira, 7 de maio de 2010

Coração Atormentado - Capítulo VII - Um beijo...

ÂNGELA



Esperava por Lino para conversar sobre suas descobertas, quando Isabel, sua mãe ligou.
- Ângela, sua ingrata. Estou ligando, pois, apesar de não nos dar bola, nós continuamos a amá-la muito.
- Mãe, não fale assim, por favor. Sabe que meu trabalho e a tese me ocupam grande parte do tempo...
- Eu sei, eu sei... Mas desta vez não tem desculpa. O seu irmão está finalmente chegando. Este é outro, que ficou prometendo vir e só agora conseguiu se desvencilhar dos compromissos na América e está a caminho.
- Sério? Que boa notícia, mãe! Quando ele chega?
- Amanhã à tarde. Mas vai alugar um carro e vir direto para cá. Nancy, a noivinha, vem junto.
-Mas que notícia ótima! Sábado é meu dia livre. Com certeza vou estar aí. Esperem por mim.
- Ah, se o Gabriel não estivesse aqui você não viria... – disse enciumada.
- É. Eu nem sinto saudades aí de casa ou de você ou da Tia Lourdes. Vocês são muito chatas.
- Eu bem que desconfiava disso – comentou tristonha.
- Mãe! Claro que não! Adoro vocês, sua boba. Ah, eu já expliquei mil vezes os meus motivos.
- Está bom. Eu entendo... – Uma voz falava alguma coisa gritada atrás da voz de sua mãe – Sai, Lourdes. Que muié chata, nó! – Os risos de ambas explodiram, pois Isabel raramente usava expressões daquele tipo, apesar de ser mineira.
- O que ela está falando? – perguntou rindo com elas – Suas malucas!
ISABEL e LOURDES

- A Lourdes mandou você trazer o namorado.
- Que namorado? – exclamou surpresa.
- Ela diz que você só não tem aparecido aqui por que deve estar enrabichada com alguém... Pára, Lourdes!
- Vocês são duas malucas. De onde tiraram esta idéia?
- Por que não, filha? É natural que você tenha alguém.
- Pois parem de rir e se acalmem. Não tenho ninguém.
- Tá bom, filha. É a doida da tua tia aqui que fica tendo idéias. Mas vamos esperar a sua chegada. Vai ser um final de semana maravilhoso. Nem acredito que poderei abraçar meus dois filhinhos de novo e vê-los juntos. A família reunida. O seu pai ia ficar tão feliz... – terminou melancólica.
- Vai ser ótimo, mãe. Diz para a Tia Lourdes fazer aquele pão de queijo que só ela sabe fazer, tá?
- Pode deixar. Ela já está com a dispensa entupida de coisas para fazer todos os quitutes preferidos de vocês. Assim ela vai para a cozinha e dá uma folga.
Ao fundo, ouviu a tia dizendo: “Vou levar a Isabel junto para ver se ela aprende a cozinhar!”
- Ouviu isso? Tem a petulância de dizer que não sei cozinhar. Se eu posso com isso.
A campainha tocou.
- Mãe, vou ter de desligar. Acabaram de tocar a campainha – Achou melhor não falar que estava à espera de alguém para não despertar mais fofocas.
- Tá bom, filhinha. Até sábado então?
- Até sábado, mãe. Beijos prá a tia e prá você!
- Beijos, querida!
Desligou o telefone e correu para a porta.
- Boa noite, Ângela.
- Oi, Lino. Obrigada por ter vindo – cumprimentou-o com um beijo na face e o convidou a entrar.
Ele olhou admirado o amplo apartamento de Ângela e a decoração de muito bom gosto, digna de uma revista especializada.
- Puxa, você mora bem, amiga...
- Obrigada. Mas sente-se, por favor – indicando um confortável sofá vermelho escuro – Preciso muito conversar com você. Quer tomar alguma coisa? Água, café, refrigerante, suco...
- Pode ser uma água. Mas fiquei preocupado com o seu telefonema. Não só eu, mas o nosso paciente também.
- Diego? Por quê? – perguntou curiosa, enquanto buscava a água num frigobar escondido num armário da sala.
- Ora, ele ficou enciumado por você ter me convidado para vir aqui. Acho que ele gostaria de ter sido convidado em meu lugar.
- Lino... – advertiu-o, servindo a água num copo de cristal que estava sobre uma bandeja na mesa de centro – Não brinque com isso
- Não estou brincando, Ângela. Acho que o Diego está caidinho por você.
- Imagine... Ele é noivo e acho que ainda gosta de Cláudia, apesar das aparências.
- Pois acho que você está enganada. Eles romperam definitivamente. Ela lhe disse que gosta de outro.
- Pobre do Diego... – falou legitimamente consternada.
- Ele me pareceu bem aliviado... Como vê, o terreno está livre.
- Lino, o que deu em você? Sabe que isto é totalmente antiético.
- Ângela, se você ainda fosse uma médica poderia pensar assim, mas você é apenas a enfermeira que cuida dele. Não vejo mal algum se acontecer de ...
- Ele pode estar confundindo gratidão e admiração com... Outra coisa – interrompeu-o, estremecendo à idéia de Diego estar gostando dela..
- E você está confundindo com quê?
- Como assim?
- Deixa prá lá. Não tenho o direito de me meter nos seus assuntos pessoais. Vim aqui para saber o que você descobriu na sua visita ao hospital.
Confusa com as palavras de Lino, mas ansiosa em contar-lhe o que soubera e discutir como agir dali em diante, começou a contar como fora a sua visita. Depois de ouvir o que dissera o Dr. Medeiros, Lino estava boquiaberto.
- Como que ninguém soube deste “pequeno detalhe”? Para que familiar ele deu a notícia? Ângela, tem alguma coisa errada aí.
- Também acho. Ainda tem este neurologista fantasma que não conseguimos localizar. Como é mesmo o nome dele? Maurício Aguiar? É isso?
- É... Tive uma idéia. Vou ligar para o Conselho de Medicina e verificar se existe este nome e localizar o seu endereço. Eles devem dar esta informação lá. Mas concordo com você no sentido de não falar nada para o Diego. Vai que o Dr. Medeiros esteja enganado. Não podemos dar esperanças sem ter certeza.
- Sabe o que pensei? Conseguir uma consulta com o Dr. Medeiros e levar o Diego até ele.
- Não sei se o Diego vai concordar. E se o Marcelo descobrir, a coisa vai ficar feia para o nosso lado.
- Pior é ficarmos nesta dúvida.
- Lembre-se que ocorreu um crime e, sinceramente, fico pensando se estas coisas que você descobriu não têm relação com isso.
- Mas, pelo que sei, não era para Diego estar naquele carro.
- Não temos como saber, Ângela. Portanto, continue quieta a este respeito. A primeira coisa a fazer é tentar encontrar o tal Dr. Aguiar para reavaliar o Diego. Se não o encontrarmos, falamos com Marcelo e o convencemos a levá-lo ao Dr. Medeiros.
- É, você tem razão...
- Ângela, mais uma coisa. Preciso de um favor seu.
- Diga.
- Meu pai chega neste sábado à BH. Preciso pegá-lo na rodoviária e ficar com ele durante o dia. Sabe como é. Está com quase oitenta anos e não consegue se localizar muito bem aqui na cidade. Dessa maneira, não poderei cuidar do Diego. Poderia ficar para mim, por favor?
Ângela por um momento sentiu aflição ao receber o pedido de Lino. Como poderia faltar ao encontro com sua família? Mas, logo teve uma idéia. Louca, mas uma idéia que poderia ser bastante agradável e, ao mesmo tempo terapêutica.
- Acho que não tem problema algum, Lino. Fique com o seu pai – respondeu, evitando contar-lhe o seu problema e sua solução.
- Puxa, Ângela. Muito obrigado. Nem sabe como fico agradecido.
- No futuro eu cobro. Pode deixar – disse com ar maroto.
- Sem problemas – disse olhando-a com carinho – Eu poderia me apaixonar por você, sabia?
- Que é isso, Lino? – exclamou sorrindo espantada com as palavras dele.
- Bobagem minha. Sei que seu coração já está ocupado. Além do mais, minha amiga, a minha praia é outra.
- Lino... Você é...
- Você nunca desconfiou? – falou sarcástico.
- Mas você tinha namoradas na faculdade. Eu lembro... – ela estava impressionada com aquela revelação.
- Tive alguma dificuldade de aceitar esta minha “tendência”, mas há alguns anos resolvi desistir de resistir. Tento manter-me discreto, principalmente por causa da minha profissão. Não gostaria de vexar meus pacientes.
- Entendo. Não deve ser nada fácil.
- Mas também não é tão difícil assim – sorriu.
- Lino... O que você quis dizer quando falou que o meu coração já está ocupado?
- Exatamente isto. Ângela, é impossível não notar o modo como você olha para o Diego. Quando eu trocava de turno com você, na hora de despedir-se dele ou quando você chegava para ficar, podia ver a sua expressão, o brilho nos olhos, os suspiros abafados... Só não vê quem não quer.
- Não. Você está enganado, Lino. Não há nada para ver – afirmou categórica, mentindo para si mesma e para o amigo.
- Está bem. Ótimo para você, então - disse com expressão jocosa – Eu tenho de ir. Preciso arrumar meu apartamento, que está na maior bagunça, para receber meu velhinho.
Levantou-se do sofá e deu um abraço em Ângela.
- Obrigado mais uma vez pela troca. Qualquer problema, me ligue.
- Pode deixar. Mais uma vez, obrigada por ter vindo até aqui – agradeceu quando abriu a porta de entrada do apartamento – Boa noite.
- Boa noite, Ângela.



O sono custou a chegar. Muitas tinham sido as revelações daquele dia e o fim de semana prometia algumas emoções. Pensou e repensou em seus planos para o sábado e por pouco não ligou para Lino, para contar que não poderia substituí-lo na casa dos Bernazzi. Porém, ainda tinha toda a sexta para fazer isto, se voltasse atrás. Acabou entregando-se ao cansaço, imaginando como seria bom abraçar seu irmão depois de tanto tempo sem vê-lo. E Nancy? Que aparência teria? Seria simpática?... Então o pensamento desviou-se para mais perto... Como estaria Diego?... Sentira falta dele nesta sua primeira folga. A última imagem que lhe passou pela mente antes de pegar no sono foi o intenso brilho verde daqueles olhos que a atordoavam. Sem perceber, dormiu com um sorriso nos lábios.



Acordou com novo ânimo e decidida a seguir adiante com sua idéia. Arrumou uma pequena maleta com roupas suficientes para um final de semana. Tomou um suco de laranja e seguiu para Cidade Jardim. Lá chegando, encontrou Marcelo ainda tomando seu café da manhã, sozinho e aparentemente bem humorado.
- Bom dia, Ângela.
- Bom dia, Sr. Marcelo – cumprimentou-o, pensando se deveria falar sobre a sua visita ao hospital, mas seguiu a orientação de Lino e ficou quieta – Soube que vai viajar neste final de semana. Gostaria de fazer-lhe um pedido.
- Um pedido? – arqueou as sobrancelhas, tentando imaginar o que a bela e dedicada enfermeira inventaria.
Ao ouvir Ângela, ficou preocupado a princípio, mas acabou por ceder e dar a permissão desejada por ela, apesar de saber que não caberia a ele a decisão final. Simpatizava com ela e era notável a sua preocupação e zelo por Diego. A melhora do humor dele, nas últimas semanas, era evidente. Desta forma, sabia que seu enteado estava em boas mãos.
- Ele já está acordado? – Normalmente ele já estaria aprontando-se para o café àquela hora.
- Não sei. Não ouvi movimento algum no quarto quando passei por ali.
- Vou dar uma olhada e saber se ele precisa de ajuda para se vestir.
- Esteja à vontade... – disse, começando a levantar-se da mesa, preparando-se para sair.



O quarto estava às escuras. Aproximou-se da cama tentando não fazer barulho. Por força do hábito profissional, ficou atenta à respiração dele e ao movimento sob as cobertas. Ele respirava normalmente. Chegou mais perto e tocou-lhe a testa de leve com o dorso da mão. Achava estranho ele ainda não ter acordado.
- Estou com febre? – a pergunta feita pela voz rouca e grave e a súbita apreensão de sua mão no ar, assustou Ângela, que soltou um grito abafado.
- Que susto, Diego! Pensei que ainda estivesse dormindo. Fiquei preocupada. Geralmente você já está acordado a estas horas.
- E estou, não está vendo?
- Agora sim... Por que não se levantou?
- Estava esperando por você... Senti saudades.
Ângela sentiu seu coração agitar-se dentro do peito. Tentou desvencilhar-se da mão férrea dele, mas não conseguiu.
- Mas ficamos só um dia sem nos ver – disse, buscando naturalidade na voz – O que você quer vestir hoje? – fugiu do olhar que a fustigava, virando a cabeça na direção do armário.
- Sente-se aqui – pediu ele, enquanto, com o apoio do outro braço, sentava-se na cama e a puxava para mais perto.
Sentir o perfume exalado por ele e vislumbrar, na penumbra do quarto, o seu torso nu serviu para deixá-la quase sem fôlego.
- Diego, você precisa levantar e tomar seu café, pois logo o Carlos vai chegar... Além disso, você está machucando o meu braço – falou, dissimulando o que sentia.
- Desculpe... – disse, soltando-a – Eu só queria conversar...
Ao vê-lo entristecido com o seu aparente descaso, sentou ao seu lado.
- Está bem. Eu é que peço desculpas, Diego. Também senti saudades. Afinal foi o primeiro dia que não nos vimos, depois de tantas semanas convivendo diariamente, não é mesmo?
- Não falei neste sentido... Mas não tem importância – falou cabisbaixo – Você tem razão. Tenho que me preparar para a fisioterapia.
- Diego... O que você queria conversar?
- Nada. Tolices de quem não tem nada para fazer.
- Às vezes você parece um menino turrão.
- Pois eu lhe digo que meus pensamentos em relação a você não são nada infantis – disse irritado, puxando-a contra si – Eu lhe provoco repulsa?
- Diego, por favor... De onde você tira estas idéias? Por favor, me solte... – dizia isto, mas sentia-se enfraquecida para lutar contra ele e muito tentada a beijá-lo – É claro que não sinto repulsa por você.
- O que sente então?
Ângela podia agora experimentar a respiração dele próxima aos seus lábios e um calor estranho a percorrer seu corpo.
- Que pergunta... – tentava fazer-se de boba, procurando uma resposta convincente que a tirasse daquela situação “perigosa”.
Ao senti-la trêmula, frágil e tão próxima, não resistiu e beijou-a. Um beijo doce, quase tímido, que a deixou sem ação e com um latente desejo de querer mais, quando ele se afastou.
- Eu não devia ter feito isso... – lamentou ele, quando sua real vontade era voltar a beijá-la com mais intensidade e possuí-la ali mesmo, se estivesse em condições normais.
Surpreendendo-o, Ângela fitou-o com carinho e acariciou-lhe o rosto, segredando-lhe:
- Pois eu gostei muito...
Logo em seguida, como se tivesse acordado de um delicioso devaneio, retornou a postura de profissional, aparentemente ignorando o belo sorriso de Diego, que acabava de encher-se de esperanças a respeito dela.
- É melhor levantar-se. Logo Carlos está chegando e você ainda nem tomou seu café.
Ele preferiu respeitá-la a exigir mais. Agora sentia que tudo era uma questão de tempo.



Este capítulo era para ser maior, mas devido a "inúmeros" pedidos, para não postergar a postagem, decidi colocar ele hoje e saciar um pouco  mais a curiosidade das minhas caras leitoras... rsrsrs. Adoro vocês. Se houver tempo, pretendo colocar o capítulo VIII no final de semana. Fico imaginando a trabalheira que tem nossos autores de novelas, que escrevem os capítulos a medida que escrevem e não tem como mudar o que já foi entregue, encenado e veiculado na TV. Não deve ser nada fácil...
Beijinhos, minhas queridas!!

5 comentários:

  1. Rosane!!!!!
    Que maldade foi está?
    No melhor do cap. vc acaba,fiquei com o gosto de quero mais,não demora pra postar não,viu!!
    Bjs.

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  2. Rô!!!

    Como vc maltrata assim suas leitoras????

    Muita maldade colocar o beijo, insinuar que ele vai visitar a família da Ângela e deixar assim?

    Agora vc tem obrigação de colocar no fds! hahaha

    Estou amando a estória, está fantástica.

    Bjooos

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  3. Rô amiga! Fiquei tão emocionada quando entrei no blog e vi que tinha novo capítulo, ainda mais com esse título, o coração pulou, rsrsrs, suspirei mesmo...
    Dá pra imaginar cada uma das cenas, o olhar do Diego (afinal já conhecemos tantos olhares desse homem), a respiração ofegante(nessa hora eu sempre lembro do Gerry em "o Fantasma da Ópera, quando ele está na escadaria durante o baile e puxa a corrente do pescoço de Cristine), o sorriso maroto, ai, ai, nunca me curo dessa paixão, ao contrário, ela é sempre alimentada por teus romances.
    Um beijo amiga e não nos deixe ansiosa por muito tempo.

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  4. Ai que delícia de capítulo, Rô!
    Que beijo mais romântico, inesperado e tão ansiado, ao mesmo tempo!
    Para quem ama, um dia de ausência é como se fosse um ano, uma eternidade.
    E o reencontro faz o coração bater ainda mais fortemente.
    Adorei!
    Beijinhos

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  5. AAAAHHHHHHHHHHHHHH! Que capítulo piriclitante! Até eu senti o beijo do Di!!!! Oh "diliça"!

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Cantinho do Leitor
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