domingo, 16 de maio de 2010

Coração Atormentado - Capítulo IX - Encontros


DIEGO




Após o jantar, foram para o jardim de inverno, a pedido de Ângela, para ficarem a sós. Ela sentou-se numa poltrona de ratam, guarnecida por confortáveis almofadas com estampas florais, em tons de azul e amarelo, enquanto Diego colocou-se a sua frente, sentado em sua cadeira.
- Muito bem... Aqui estamos. Sobre o que quer falar? – perguntou Diego, ansioso por continuar a “conversa” que Clara tinha interrompido uma hora antes.
- Diego, o que você sabe a respeito da sua lesão? Você chegou a ser esclarecido pelo seu neurocirurgião?
-Ah! É sobre isso que quer falar – disse enfadado – Já vem a D. Ângela, a super enfermeira, com sua conversa de profissional. Por favor, não tente fugir novamente do que está acontecendo entre nós... – suplicou.
- Não estou fugindo. Isso é importante, porque... – pensou mais uma vez se era justo lhe dar esperanças que poderiam dar em nada, mas as evidências cada vez mais indicavam que ele tinha grandes chances de poder caminhar novamente.
- Por quê? Isto tudo é porque tive uma ereção? – disse baixando o tom de voz na última palavra.
- Este é um fato relevante. Olhe, pessoas com lesão medular geralmente têm bexiga neurogênica. Você sabe o que é, não?
- Já ouvi falar – respondeu visivelmente aborrecido.
- Pois é. Isto você não tem. Outra grande dificuldade de um lesionado de medula, no nível em que ocorreu o seu traumatismo, é o que você apresentou hoje.
- Para você ver o poder que tem sobre mim – maliciou, curvando-se sobre ela.
- Não brinque com isso. Estou falando sério – contestou – O que lhe foi dito pelo neurocirurgião?
- Ele não chegou a falar comigo. Marcelo é que me transmitiu a boa notícia de que eu não poderia mais andar e que precisaria de um tratamento “multimídia” para reabilitar-me – rebateu ironizando.
- Multidisciplinar, Diego - corrigiu-o, rindo.
- Que seja. Você tem idéia de como recebi a notícia? Hoje, graças a você, as coisas já não parecem tão terríveis.
- Você sabe que foi operado por um profissional e recebeu alta de outro? – voltou a questioná-lo, aparentemente ignorando a última frase dele, mas gratificada interiormente.
- Sim. Marcelo me contou que o Dr. Medeiros pediu afastamento do meu tratamento e outro colega foi indicado para me atender. Eu tive pouco contato com este último, pois ele também desapareceu. Será que eu estava tão intragável assim? – zombando da situação.
- Você sabe quem indicou este último neurologista?
- Parece que foi o próprio Dr. Medeiros.
- Foi o que lhe disseram? – surpreendeu-se com a resposta, mas não comentou.
- Sim... Mas qual é o problema, Ângela? Por que este interrogatório?
- É porque acho estranha esta troca de profissionais e a confusão em torno do seu diagnóstico.
- Você acha que o diagnóstico da lesão pode estar errado? – Um ínfimo brilho de esperança pareceu surgir em seu olhar.
- Talvez...
- Mas eu não posso andar, Ângela. Isto está muito claro para mim. E não foi por falta de tentar. Minhas pernas simplesmente não respondem ao meu comando – falou com tristeza – E não pretendo me iludir, criando falsas esperanças... Sei que seria muito melhor para você que eu pudesse voltar ao normal, mas...
- Cale-se... – murmurou ela, sentando na beirada da poltrona, aproximando-se dele e cobrindo suavemente sua boca com a mão – Não fale bobagens. Quem está mudando de assunto agora não sou eu. Para mim, gostar de você independe da sua capacidade de andar. Entenda isso de uma vez por todas. O problema é sabermos com certeza o diagnóstico correto para seguir a melhor conduta no seu tratamento.
Tão próxima ela estava, que Diego não resistiu. Colocou sua mão no pescoço de Ângela, aproximou-se como se fosse lhe dar um beijo e falou com os lábios muito próximos aos dela:
- O que você acha da gente mudar de vez este assunto e subir?
- Diego! – respondeu sorrindo, agradavelmente admirada com o desejo dele – Acho que você está indo muito rápido...
- Eu já te desejo há tanto tempo... Nada está sendo muito rápido para mim. Além disso – uma sombra se abateu sobre o seu rosto – Não sei como vai ser, pois nunca mais fiz amor depois... Depois do acidente.
Ela sorriu enternecida por ele, por sua coragem em expor-se diante dela.
- Eu posso te ajudar... – disse carinhosa.
- Eu vou adorar esta ajuda... – sussurrou antes de beijarem-se apaixonadamente.
- Mas já vou avisando, que você vai ter que ter muito mais paciência, pois eu já esqueci quando foi a minha última vez – continuou Ângela após o beijo, arrancando um riso abafado de Diego.
Neste momento, Clara pigarreou, interrompendo mais uma vez. Ângela recostou-se novamente na poltrona, afastando-se abruptamente de Diego. Preocupava-se com o que as outras pessoas iam pensar sobre esta aproximação dos dois, porém a cada dia ficava mais difícil esconder seus sentimentos em relação a Diego. Agora que ele rompera com Cláudia e revelara abertamente estar gostando dela também, não conseguia mais manter a barreira que a afastava dele.
- Clara, se você tornar a fazer isto mais uma vez, será despedida – esbravejou Diego.
- Desculpe, seu Diego, mas a Zica pediu para eu perguntar se vocês não precisavam de mais nada e se a gente já podia se recolher – respondeu nervosa, lançando um olhar reprovador para Ângela.
- Obrigado pela preocupação, mas não precisamos de mais nada. Podem se recolher, sim – ordenou ele.
- Então, com licença... Boa noite.
- Boa noite, Clara – disse Ângela um pouco encabulada pela situação.
- Boa noite, Clara. E nada de fofocas, entendeu? Se eu souber que você falou alguma coisa sobre o que viu aqui esta noite para quem quer que seja, já sabe o que acontece – disse Diego, tornando a ameaçá-la.
- Entendi sim, senhor – disse e virou-se para sair dali o mais rapidamente possível.
- Diego, não precisava falar com ela dessa maneira – defendeu-a Ângela, assim que a copeira desapareceu.
- Não quis parecer grosseiro. Só não quero que falem mal de você, Ângela.
- Eu sei... Na verdade, eu não me sinto a vontade estando aqui com você. Parece que estou tentando me aproveitar da sua situação, seduzindo-o... Preocupo-me com o que os outros vão pensar.
- Então pare de se preocupar. Não sou nenhum adolescente imaturo e inexperiente para ser inocentemente seduzido por uma mulher. – afirmou muito sério. – A sua presença tem sido muito importante. Você despertou em mim sentimentos que estão me fazendo voltar à vida que eu achava que tinha terminado.
- Diego... É tão bom ouvir isso... – falou com a voz embargada, pois não teve como evitar a lembrança de Tomás, a quem não tinha conseguido trazer de volta.


TOMÁS
Emocionada, levantou-se e sentou no colo de Diego, aconchegando-se em seus braços, que logo a envolveram, quentes e fortes, trazendo-lhe uma agradável sensação de segurança e paz. Assim ficaram por alguns minutos, de olhos fechados, apenas sentindo a presença e o calor, um do outro.
- Acho que precisamos dormir. O que acha? – ela perguntou.
- A minha intenção não era dormir agora – insinuou provocante.
- Temos que acordar cedo amanhã. Além disso, temos todo o final de semana pela frente.
Um pouco decepcionado, acabou por concordar, diante dos argumentos dela.
- O que um pobre cadeirante pode contra uma enfermeira determinada a acabar com seus planos de uma noite picante? – queixou-se com jocosa expressão infeliz.
Ela não pode deixar de rir do “pobre cadeirante”.
- Será que este pobre cadeirante consegue acompanhar a sua “enfermeira determinada” até a porta de seu quarto?
- Vai ser um prazer – animou-se novamente.
Ela se preparava para ficar de pé ao seu lado, quando ele a segurou no colo e começou a movimentar a cadeira.
- Diego, é muito peso para você. Pode distender algum músculo.
- Shsshhh – chiou, para fazê-la calar-se – A fisioterapia tem sido muito efetiva neste ponto. Não se preocupe e aproveite o passeio até o andar de cima.
Só então ela pode experimentar os efeitos do bom trabalho de musculação que Carlos conseguira com seu paciente. Apenas com a força de seus braços, levou-os até o elevador da sala e, dali, até o andar superior, acompanhando-a até o quarto.
- Muito obrigada pela carona. Estou impressionada com o seu desempenho.
- Tem certeza que não quer ampliar esta impressão e ver meu desempenho lá no meu quarto? – provocou-a novamente, enquanto passava a boca na linha de seu pescoço, abraçando-a com mais intensidade.
- É muito tentador, mas vou ter de dispensá-lo agora – disse de olhos fechados, inebriada com o hálito quente que se transformava num delicioso arrepio a percorrer-lhe o corpo inteiro.
- Não me parece que esteja muito certa disto... – continuou tentando seduzi-la.
- Estou sim, senhor Bernazzi – falou, abrindo os olhos e saltando para o chão, para surpresa dele – O senhor é muito tentador, reconheço, mas, como já disse, temos uma estrada pela frente amanhã e...
- Já sei. Temos que descansar – deu-se por vencido – Ao menos um beijo de boa noite?
Ela abaixou-se e segurou o seu rosto carinhosamente, beijando-lhe os lábios por longos segundos.
- Boa noite, Diego – despediu-se, afastando-se lentamente dele até estar dentro do quarto.
- Boa noite, Ângela. Se precisar de alguma coisa, estou aqui ao lado... – correspondeu, sorrindo, ao ver a porta fechando-se.





A manhã de sábado chegou radiante, parecendo ter sido feita de encomenda para o novo casal de enamorados. Após tomarem seu café, foram ajudados por Luis, o motorista da família, que acabara de saber que seria dispensado de seu trabalho nos dois dias seguintes, só precisando estar disponível para buscar Marcelo no aeroporto, no domingo à tardinha. Diego dispensou ajuda para colocar-se sentado ao lado de Ângela. Colocadas as malas e a cadeira de rodas no Fox branco, despediram-se e partiram para Casa Branca. Durante o trajeto, ela evitou falar novamente sobre as dúvidas em torno do diagnóstico dele. Depois de falarem sobre amenidades, Ângela acabou por contar sobre sua conversa com José. A princípio, Diego não gostou de saber que o antigo motorista ainda o procurava para falar sobre sua inocência, mas à medida que Ângela contava e expressava sua opinião, ele ficou pensativo.
- Ele sempre foi muito educado e prestativo. Parecia realmente gostar de seu trabalho e nunca fez queixa alguma. Minha mãe sempre tratou com delicadeza à todos com quem trabalhava. Veja Glória, por exemplo. Tornou-se uma das melhores amigas dela. Não acreditei, no início, que ele pudesse ter algo a ver com o acidente. Só quando soube das provas que a polícia achou, comecei a lembrar das desconfianças de Marcelo e unir os fatos. Não creio que minha mãe tenha tido nenhum caso com ele como Marcelo sugerira, mas é possível que José, na sua mente doentia, tenha pensado que ela o amasse e a matou por sentir-se repudiado.
- Ele tem que ser um grande psicopata para cometer um crime como este e falar comigo da forma que falou, quase chorando, ao referir-se à vocês..
- Talvez ele seja, pois conseguiu passar a conversa em você.
- A polícia não falou em outros suspeitos?
- Não. Pelo menos comigo, não. Acredito que com Marcelo também não, caso contrário ele teria comentado o assunto. Tampouco nosso advogado falou sobre isso – disse, denotando certa irritação na voz, já que o assunto não lhe era dos mais agradáveis.
Ela calou-se por alguns minutos, pensando no enigma que tinha a frente. Quando notou o silêncio ao seu lado, olhou para seu acompanhante, que lhe sorria, enquanto a admirava.
- O que foi? – perguntou espantada – O que há de engraçado?
- Nada de engraçado – continuou rindo – É que você fica uma gracinha assim preocupada, tentando dar uma de detetive.
- Não tem nada de engraçado mesmo, Sr. Bernazzi. Estou mesmo preocupada com você. Tenho medo que possa estar em perigo com um assassino solto por aí.
- Não tem o que temer... – tranquilizou-a – Infelizmente, acho que o único alvo deste assassino era minha mãe. A minha presença naquele carro foi apenas uma triste coincidência.
- Tomara que você tenha razão – disse apreensiva.
Começou a diminuir a velocidade do carro e entrou numa estrada secundária, margeada por uma bela cerca branca, onde bougainvilleas brancas se emaranhavam em torno das finas toras de madeira pintadas.
- Já estamos chegando... – vibrou ela – Tudo bem com você? Nervoso?
- Um pouco... Afinal, vou conhecer minha sogra e meu cunhado. Qualquer um ficaria nervoso... – brincou para disfarçar sua inquietude.
- Não brinque com isso, por favor – repreendeu-o séria – Eu posso acreditar... – continuou, olhando-o de soslaio, com ar brincalhão.
Logo surgiu a casa principal. Era uma ampla residência de estilo colonial, de paredes de alvenaria pintadas de cor azul e aberturas de madeira brancas, com um imenso jardim, onde se viam inúmeras roseiras, com lindas rosas das mais variadas cores e tamanhos, entre outras espécies de flores. Um pouco mais ao fundo entre um arvoredo, podia-se ver o que devia ser a moradia do caseiro, que acompanhava o mesmo estilo e cores da construção principal. Tudo parecia muito bem cuidado. Na garagem, ao lado da residência podiam ser vistos uma Pajero preta e um carro menor, com placa de São Paulo. Provavelmente era o carro alugado por Gabriel.
Logo que cruzou os portões, Ângela começou a buzinar. Duas mulheres saíram correndo e postaram-se na entrada da casa a abanar freneticamente para o veículo que se aproximava.
- Aquelas são minha mãe e minha tia – indicou-as, suspirando fundo e imaginando se elas conseguiriam ser discretas na sua avaliação de Diego. Apesar de suas recomendações pelo telefone, não tinha muita certeza do que esperar. – Tia Lourdes é a que está de avental. Pelo jeito, ainda está ocupada por seus quitutes na cozinha.
Logo atrás delas, surgiu um casal, mais comedido, mas visivelmente simpático.
- Pelo jeito vai ser uma recepção e tanto... – observou Diego, um tanto temeroso do que lhe aguardava. Deixaria as honras com Ângela. O melhor era ser discreto, se é que alguém numa cadeira de rodas podia passar despercebido.
- Eles vão te adorar. Não se preocupe – tranquilizou-o, pegando sua mão e apertando-a confortadoramente.
Diego ficou observando Ângela descer do carro e ser imediatamente cercada por vários braços e risos. Notou a jovem loura, de traços estrangeiros e grandes olhos azuis, um pouco afastada do grande grupo. Pelo menos, não era só ele que estaria se sentindo deslocado naquele ambiente, pensou um pouco mais aliviado. De repente, os risos diminuíram de intensidade e as atenções se voltaram para ele.
- Gabriel, por favor, me ajude aqui – requisitou sua irmã.
- Claro! – disse o homem de feições semelhantes às de Ângela, estampando os mesmos trejeitos dela – Muito prazer, Diego – cumprimentou-o, estendendo-lhe a mão, após abrir a porta do carro – Eu sou Gabriel, irmão da Ângela.
- Muito prazer. A Ângela me falou muito sobre você.
- Espero que bem – sorriu – Quer ajuda para descer?
- Não, obrigado. É só colocar a cadeira aqui ao lado, que eu me viro sozinho – agradeceu.
Ele podia sentir os olhares de todos os presentes sobre si, mas evitou devolvê-los, pelo menos até conseguir colocar-se sentado na cadeira e mover-se até onde as mulheres estavam.
- Mãe, este é Diego. Diego, esta é minha mãe, Isabel – apresentou-os Ângela.
- É um grande prazer recebê-lo aqui no nosso sítio, Diego – disse, também estendendo-lhe a mão, tentando aparentar naturalidade, mas sem buscar intimidade.
- O prazer é todo meu, senhora – devolvendo o aperto de mão.
- Mas a Ângela não nos disse que o Diego era um rapaz tão bonito... – observou a tia em voz alta, lançando um olhar maldoso para Isabel.
- Tia Lourdes... – censurou-a a sobrinha.
- Como vai, meu querido? Seja bem-vindo – acolheu-o carinhosamente, dando-lhe um abraço e um beijo na face.
- Muito obrigado, Tia..., quero dizer, Dona Lourdes – corrigiu encabulado.
- Que dona, que nada. Pode me chamar de tia, sim. Não é todo dia que recebo um sobrinho bonitão assim. De repente, estou recebendo a visita de dois, de uma vez só. Isto é o máximo! – exclamou alegremente olhando para Gabriel e, logo se voltando para Diego, que não pode deixar de rir e admirar o jeito bonachão de Lourdes.
- Controle-se, Lourdes – cochichou Isabel para a cunhada.
Lourdes fez que não ouviu.
- Gabriel, não vai apresentar a sua noiva? – perguntou, enquanto acenava para
Nancy para que ela se aproximasse mais.
- É lógico... Nancy, come on, sweet! – chamou-a num ingles perfeito, oferecendo-lhe a mão.
Nancy deu um sorriso tímido e pegou na mão que o noivo ofertava.
- “Moito prazere” – tentou falar em português – “Descolpen non falarr bem o portiugues”.
Ângela a beijou e disse algumas palavras em inglês que a fizeram sorrir e relaxar um pouco.
- Bem que tal entrarmos e tomar um cafezinho recém-feito acompanhado por um pão de queijo quentinho?
- Ai, tia, a senhora fez o pão de queijo?
- Sem dúvida! Reunião de família mineira sem pão de queijo não existe.
Todos riram, menos Nancy, que pareceu ficar na dúvida sobre o que estava sendo falado.
Diego logo elegeu Tia Lourdes como a sua preferida. Já Isabel... Notou que ela lhe lançava olhares furtivos de vez em quando, provavelmente tentando desvendar o que havia entre sua filha e ele. Não sabia exatamente o que Ângela falara a seu respeito, mas até lá, procuraria desempenhar o papel de paciente e amigo. Era melhor manter-se neutro, dentro do possível.
A conversa, para alívio de Diego, ficou focada em Gabriel e Nancy. Propositalmente ou não, Ângela acabou monopolizando, em termos de perguntas a respeito do irmão e da nova cunhada, não deixando espaço para esclarecimentos sobre Diego.
Quando o assunto parecia estar se esgotando, Isabel chamou a filha.
- Ângela, que tal mostrar ao Diego onde ele vai ficar. Arrumei tudo conforme me pediu.
- Ah, obrigada, mãe. Vou levar nossas malas para lá.
- Você vai ficar com ele? – cochichou surpresa.
- É claro. Ele pode precisar de minha ajuda.
Diante da mudice de Isabel, Lourdes resolveu falar para evitar algum confronto entre mãe e filha desnecessário.
- Eu vou começar a preparar o almoço, minha gente. Portanto, estão liberados para passear ou fazer o que bem entenderem – disse, piscando um olho para o sobrinho e Nancy.
- Tia Lourdes, a senhora não toma jeito mesmo – replicou Gabriel rindo e sacudindo a cabeça com resignação.
Seguida de perto por Diego, Ângela foi até o carro e pegou as malas.
- Pode deixar que eu levo. – ofereceu-se ele prontamente – Não estão mais pesadas que você – disse em tom baixo para Ângela e sua expressão de reprovação.
- Está bem – aceitou a oferta dele alegremente, lembrando da noite anterior – Você venceu.
Seguiram Isabel até a moradia menor, enquanto Ângela explicava-lhe que antigamente, quando eles moravam em Belo Horizonte e iam ao sítio apenas nas férias ou feriados mais prolongados, o pai contratara um casal de caseiros que moravam naquela pequena casa. Depois da morte de Laerte, Isabel e Lourdes foram morar no sítio e o anexo passara a ser um local para receber hóspedes. Pouco era usado, mas permanecia sempre arrumado para o caso de visitantes inesperados, como era o caso daquele dia.
Ao abrir a porta, Diego surpreendeu-se com o ambiente agradável e a decoração acolhedora. Depois de fazer uma revista nas quatro peças do lugar, Ângela abraçou e beijou a mãe.
- Muito obrigada, D. Isabel. Ficou perfeito. Melhor impossível.
- Vou trazer mais roupa de cama e toalhas para a cama de abrir, já que você vai ficar aqui também – avisou, dando ênfase nas palavras “cama de abrir”.
- Por mim, não precisa, Ângela – interpôs-se Diego na conversa, notando o mal estar de Isabel, diante da decisão de sua filha ficar com ele na mesma casa – Você sabe que eu me viro bem sozinho.
- De jeito nenhum. Na sua casa você já está adaptado, mas aqui, por mais que queira, pode ter alguma dificuldade – Mais uma vez ela lhe lançou um sutil olhar de censura.
Como a idéia de ficar a sós com ela durante a noite era extremamente tentadora, não objetou mais.
- Bem, então, podem acomodar-se – terminou por dizer, conseguindo esboçar uma tênue contração dos lábios – Vou buscar as roupas. Já volto. Fique à vontade, Diego.
- Obrigado, D. Isabel.
Assim que ela saiu, Diego olhou para Ângela, questionando-a.
- Ela sabe de alguma coisa?
- Não tive oportunidade de contar nada, mas creio que ela já percebeu que existe algo entre nós. Mãe é mãe. Se bem que ela ainda não tem razão alguma para preocupar-se.
- Mas isto, acredito, deva ser resolvido em questão de horas... – insinuou ao aproximar-se dela, pegando-a pela cintura e forçando-a a abaixar-se para beijá-lo, o que não necessitou de grande esforço, pois Ângela logo estava enroscada em seu pescoço a acariciar-lhe os cabelos e procurando seus lábios.



Depois de terem suas roupas devidamente guardadas, resolveram sair para passear, seguindo a recomendação de Tia Lourdes.
- Que tal fazermos alguns exercícios?
- Não. Neste fim de semana não quero ser seu paciente. Por isso, pare de me tratar como tal. Além do mais, não vão ser dois dias sem fisioterapia que vão impedir a minha reabilitação, não é mesmo?
- Sim, senhor... – respondeu ela docemente.
- Que tal me mostrar o seu lugar preferido entre as árvores frutíferas onde você se escondia para pensar olhando o céu?
- Você lembra! – exclamou surpresa.
- Ele existe, não? Ou foi só para me enrolar naquele dia?
- Existe sim. Venha, vou lhe mostrar.
Antes de saírem, Ângela lembrou de pegar alguma coisa, que colocou numa sacola, achada dentro do armário do quarto.
Andaram uma boa distância além do lugar onde estavam, até não poderem mais ver as casas do sítio. Em determinados trechos, Ângela teve de ajudar a empurrar a cadeira, mas logo chegaram a um pomar, repleto de laranjeiras, jabuticabeiras e outras árvores carregadas de saborosas frutas. Há poucos metros de distância havia um lago artificial, o que tornava a vista mais bucólica e relaxante. Não havia mais ninguém por ali.
- Quer experimentar? – indagou Ângela.
- Experimentar? – respondeu curioso.
- Deitar-se aqui, é claro!
Foi então que ela mostrou o conteúdo da sacola. Eram duas grandes toalhas de banho, que ela prontamente colocou lado a lado sobre a relva macia. Deitou-se sobre uma delas e bateu com a mão sobre a que estava ao seu lado, chamando Diego a deitar-se ali. Continha-se em ajudá-lo, numa tentativa de forçar sua volta ao movimento. Fechou os olhos e ficou esperando, aproveitando o calor do sol que lhe batia na face e percorria seu corpo, aliado a uma gostosa sensação de felicidade, repleta de boas lembranças de sua infância. Com um pequeno esforço, Diego foi até o chão e rolou para deitar-se ao lado de Ângela. Pegou em sua mão e ficou na mesma posição dela, aproveitando o lindo dia e o prazer de tê-la ali ao seu lado, apenas sua. Por alguns instantes, quando se recuperou do esforço efetuado para deitar, arrastou-se até estar bem próximo dela e passou a acariciá-la. Começou pelos sedosos cabelos soltos, passando à linha do pescoço, provocando nela um tremor de excitação. Logo, a mão deslizou para o decote da blusa de Ângela e, lentamente, começou a desabotoar os botões. Um gemido de prazer foi exalado quando os dedos ágeis dele passaram a massagear os mamilos róseos e excitados. A mão continuou sobre os seios, possuindo-os, pressionando-os contra a palma. Com um ágil movimento, ele ficou praticamente sobre ela, agora com a boca a procurá-la, sedento, beijando tudo que sua mão já percorrera, levando-a a gemer mais alto, numa excitação crescente. Antes que ela abrisse os olhos, os carinhos passaram a cursar sobre seu abdômen, descendo um pouco a cada instante. Ansiosa por mais, ajudou-o a abrir o fecho de seu jeans, permitindo carícias mais íntimas que a faziam incendiar-se. Diego usava sua experiência para provocá-la, inundando-a de desejo.
- Diego... – ela gemeu mais alto e abriu os olhos, encontrando o olhar intenso, de um verde profundo, cheio de cobiça.
Levou as mãos ao seu rosto, refazendo o contorno de seus traços com os dedos até descer em busca de seus ombros. Empurrando-o de leve, aos poucos foi levantando e fazendo-o deitar. Foi a sua vez de abrir-lhe a camisa, vislumbrando o robusto tórax, esculpido pelos exercícios ao longo das últimas semanas. Deitou-se sobre ele, sentindo a musculatura rija contra seus seios, enquanto o acariciava em torno da cintura, fazendo-o gemer e contorcer-se. Agarrada a ele, sentindo sua virilidade pulsando sob seu corpo, bastaram alguns poucos segundos para que ela alcançasse o êxtase, para surpresa e satisfação de Diego que se emocionou ao senti-la trêmula, frágil e entregue em seus braços.
- Ângela... Nem me esperou, apressadinha – repreendeu-a afetuosamente, abraçando-a.
- Você me provocou, senhor Bernazzi... Mas não se preocupe, que ainda não terminamos... – murmurou sensualmente, voltando a acariciá-lo e excitá-lo.
Liberta de seus jeans, acomodou-se sobre ele e iniciou movimentos suaves, a princípio, rítmicos, que foram tornando-se cada vez mais intensos e vigorosos. A visão de Ângela, mesclada aos raios de sol e ao verde das árvores, em meio aos sons do mato que os envolvia, só fazia aumentar seu anseio por possuí-la. Foi quando sentiu que nada mais importava e que os dois eram um só. Num grito de prazer intenso, uniram-se, esquecidos do mundo ao seu redor. Momentos depois, se encontravam abraçados e languidos sobre as toalhas revolvidas, sentindo o contato agradável da grama fria nas costas ainda acaloradas.
Ao longe ouviram a voz de Gabriel chamando.
- Ângela! Diego! O almoço está pronto!
- O almoço! – falou aflita – Esqueci completamente.
Levantou-se rapidamente, vestindo o jeans e fechando a blusa. Foi quando notou Diego ainda deitado, observando-a, calmamente.
- O que foi? Porque está me olhando assim?
- Estou admirando você e sua pressa. Por mim, ficaria aqui a tarde toda.
- Ah, meu amor, infelizmente não podemos. Se faltarmos a este almoço, a Tia Lourdes e minha mãe são capazes de infartar.
- Diga de novo...
- O quê? Dizer o quê?
- Aquilo que disse agora... Do que me chamou...
Ela se abaixou até onde ele estava, agora erguido sobre os cotovelos, e o beijou ternamente.
- Meu amor – repetiu sorrindo.
- Bom, agora já podemos ir. – Após uma rápida pausa, continuou – Tem mesmo certeza que não prefere ficar aqui?
- Tenho, seu preguiçoso – falou, enquanto ajudava-o a vestir adequadamente suas roupas e a sentar na cadeira.
Num instante, estavam a caminho de casa para almoçar.




Ufa! Já é tarde, mas consegui postar finalmente o nono capítulo,com o encontro tão esperado no sítio e do casal Diego/Ângela. Espero que tenham gostado. Comentem!
Aguardem o décimo. Prometo escrevê-lo ainda esta semana.Se tudo der certo...
Beijos a todas!!

7 comentários:

  1. Rô, mais uma vez o capítulo está perfeito, e ainda por cima ter logo no início a foto do Gerry, uhmmmmm....
    Você realmente tem o dom de de nos fazer imaginar as cenas, a forma como expressa cada situação é tão sensível, fico visualizando a cada momento a carinha do Diego(já tão conhecida nossa), os olhares, os sorrisos, se fosse um livro eu já o teria lido e relido, rsrsrs.
    Antes eu achava que o Marcelo tinha algo a ver com o crime, mas ele sempre parece tão tranquilo, tão prestativo, estou realmente na dúvida.
    Estou ansiosa pelo próximo capítulo, por favor não demora a postar.
    Um cheiro amiga e um ótimo domingo!

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  2. Rosane!!!!!
    Que cap. mais lindo,adorei como vc descreveu a cena deles,foi mta linda.Adorei a foto do Tomás,que garota mais sortuda está Angêla dois gatos.Eu ainda acho que Marcelo está envolvido no acidente que dixou Diego paralitico e que matou a esposa, mais eu acho que Claúdia tb está envolvida de alguma forma pois o jeito que ela tratava Diego e logo o trocou pelo padrasto,aí tem coisa.
    Estou esperando o proximo cap. ansiosa.
    Bjs.

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  3. Nadja e Cris! Adoro vocês,minhas fiéis leitoras e seus comentários. Estou contente por estar conseguindo manter o mistério em torno do assassino. Ainda vão acontecer algumas coisas para atiçar ainda mais a curiosidade de vocês. Espero não demorar muito para postar.
    Um beijo enorme para vocês, minhas queridas!

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  4. Rô querida!
    Estava em falta com vc. Hoje li os últimos três capítulos que vc postou, um melhor que o outro.
    Não preciso nem dizer que estou doida para descobrir qual é o dente de coelho escondido atrás desse acindente, e dessa internação de Diego...
    E que coisa mais linda e caliente, esse capítulo IX, heim... Que bom ver Diego amando do jeito que ele é...
    Achei o máximo o elenco que vc escolheu, principalmente a tia. Perfeito! E que linda e fofa a escolha de James McAvoy para Tomás.
    Vc é definitivamente um espetáculo!
    Bjim♥

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  5. Ai amiga isso tá muito bommmmmmmmm, esse capítulo foi de matar mesmo rsrsrs, mas olha eu consegui sobreviver pra ler o restante viu, e sua filhinha está melhor? espero que sim, eu sei bem o que é isso ... beijosss e mais uma vez parabéns vc é maravilhosa.

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  6. Amiga, adorei esse “olhar profundo, cheio de cobiça”... Delícia, ui!!!
    Esse capítulo foi um espetáculo!
    O local que você mencionou para ser muito gostoso, tem tudo que eu gosto, natureza, paz, alegria!
    É natural que a mãe da Ângela fique um pouco ressabiada, já que não sabe ao certo o que está acontecendo e se preocupa com a filha, ainda mais depois de tudo o que ela já passou. Mas logo as coisas se esclarecerão e tenho certeza de que ela não colocará obstáculos a esse romance, já que parece ser uma mulher madura e compreensiva. Aliás, do que nos serve o passar dos anos, se não for para nos fazer enxergar com mais clareza o que, outrora, não conseguíamos sequer imaginar?
    Que bom que o relacionamento entre o casal ficou mais íntimo. Agora, Diego não terá mais dúvidas sobre as intenções da Ângela e esta também poderá se soltar mais.
    Beijinhos

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  7. Espetacular, adorei mesmo! Espero que a próxima deles seja mais detelhada, mais minuciosa,estou com a imaginação muito fértil. Como disse, duvido que eu durma antes de terminar essa história!
    Até já!

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Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!