- Bom dia. Estou procurando a Enfermeira-Chefe Nair – perguntou Ângela à secretária da recepção do Hospital Joaquim Xavier.
- Bom dia. Deixe-me ver... Só um minuto – pegou o telefone, falou com alguém que pareceu informar-lhe a respeito do paradeiro de Nair. – Ela está na sala de enfermagem da unidade intensiva. O que seria, senhorita?
- Eu sou enfermeira e amiga da Nair. Preciso conversar com ela sobre um paciente que esteve internado aqui algum tempo atrás.
- Sabe onde é a Unidade de Terapia Intensiva?
- Sim. Obrigada – agradeceu e pôs-se a caminho do setor onde Nair estava.
Mais capacitado para desempenhar funções simples como movimentar-se pela casa, sair da cama e vestir-se sozinho, Lino pode ser dispensado de seus plantões noturnos na casa dos Bernazzi para seu alívio e o de suas costas. Dessa maneira, começou a intercalar os dias com Ângela, que, por sua vez, passou a ter alguns horários livres e pode dedicar-se mais a sua tese e a investigação sobre o caso de Diego. Aquele era o seu primeiro dia livre e esperava conseguir descobrir mais sobre o tipo de lesão com que estavam lidando. Nem mesmo Marcelo soube informá-la quando perguntado. Ficou irritado quando ela mencionou o nome do primeiro médico que havia tratado do enteado, pois segundo ele, aquele havia abandonado Diego a sua própria sorte, sem explicações. O neurologista, que o atendera por último, também sumira. O telefone do consultório nunca atendia. Por sorte, toda a orientação para o tratamento de Diego tinha sido prescrita ainda durante a internação, logo após a cirurgia. Graças a isso e a atuação competente de Lino, puderam levá-lo para casa e começar o tratamento. Marcelo sentia-se culpado por ainda não ter conseguido contatar o neurologista, mas a sobrecarga de trabalho, atendendo duas empresas, a sua e a dos Bernazzi, lhe tomavam todo o tempo disponível.
- Ângela! Que bom vê-la por aqui. Há quanto tempo, não? – saudou-a Nair, uma antiga colega e amiga dos tempos de faculdade – Fiquei tão feliz quando você me ligou.
- Oi, Nair! Estou envergonhada de estar lhe procurando depois de tanto tempo e, ainda por cima, pedindo-lhe um favor profissional.
- Não importa o motivo. O importante é que com isso pudemos nos encontrar de novo. Esta vida da gente, correndo entre um emprego e outro não nos deixa tempo para encontrar os amigos. Às vezes me pego pensando em você, nas outras amigas que fiz na época do curso de Enfermagem, com muita saudade. Tenho ótimas lembranças daquele tempo.
Nair tinha mais ou menos a mesma idade de Ângela. Logo que saiu da faculdade, foi contratada pelo hospital e lá fez carreira, graças a sua dedicação e competência. Há um ano fora promovida a supervisora de toda a equipe de enfermagem da UTI do hospital. Tinha um rosto comum, envolto em uma cabeleira loura não natural, que sempre levava elegantemente presa no alto da cabeça, mas dona de um sorriso irresistível.
- Eu também sinto saudades daquela época em que os nossos maiores problemas eram estudar e passar nas provas ou ficar pelos corredores do hospital morrendo de medo de não conseguir lidar com os pacientes – relembrou Ângela sorrindo.
- Mas, venha comigo. Agora eu tenho uma sala só minha, sabia? Privilégios de enfermeira-chefe – convidou-a, pegando-a pela mão e levando-a através do corredor de boxes da UTI, chegando a uma sala, sobriamente decorada, onde, sobre uma escrivaninha de madeira podiam-se ver dois porta-retratos. Num deles, Nair aparecia entre um grande grupo de enfermeiros, todos vestidos com o uniforme da equipe do Joaquim Xavier. Na outra, numa foto doméstica, ela estava entre o marido e os dois filhos pequenos.
- Que gracinha os seus filhos, Nair – felicitou-a, enquanto a amiga fazia a higiene das mãos, na pia que ficava num discreto canto do recinto. Chegou a sentir certa inveja da vida familiar que a amiga tinha estruturado.
- São os meus tesouros... – disse orgulhosa.
- Eu soube que você tinha casado, mas na época... Você sabe...
- Eu sei, meu bem, eu sei... – confortou-a, passando o braço sobre os ombros de Ângela e puxando-a contra si, lembrando da tragédia pela qual a amiga tinha passado quando da morte do noivo. – Mas vamos voltar ao presente. O que exatamente você precisa sobre o seu paciente. Diego Bernazzi, não?
- Sim. Preciso de informações mais detalhadas sobre a lesão medular que ele sofreu. Não sabemos quase nada e os familiares parecem não achar importante. Diego ainda está revoltado com a situação, mas começou a colaborar com o tratamento fisioterápico.
- Que eu lembre, na época em que ele esteve aqui, quem o acompanhou desde início da internação foi o Dr. Medeiros, da Neurocirurgia. Ele foi submetido à descompressão medular e, logo após, o Dr. Medeiros retirou-se do caso, sem grandes explicações e um neurocirurgião desconhecido, indicado por um amigo da família, assumiu o caso. Mas não tenho certeza do diagnóstico final. Posso conseguir o prontuário completo para que você dê uma olhada. Ali deve ter mais detalhes.
- Nem sei como te agradecer, Nair.
- Prometa que não vai desaparecer e que virá me visitar de vez em quando – falou enquanto sentava diante do terminal de computador em sua mesa e acessava os arquivos do hospital – Por sorte estamos com todo o sistema informatizado.
Não demorou muito para que Nair localizasse o arquivo de Diego Bernazzi.
- Aqui está. Pode ficar à vontade aqui na minha sala. Vou ter uma reunião com o pessoal da UTI agora e devo estar liberada em uma hora. Se quiser copiar alguma coisa, tem uma impressora aqui mesmo – mostrou-lhe o equipamento em um canto da saleta.
- Muito obrigada, Nair. Você é um anjo.
- Tchau! Não vá embora sem se despedir, viu?
- Viu! Não se preocupe.
Tão logo Nair saiu, Ângela começou a procurar suas informações. Ao longo das páginas digitadas, descrições de especialistas e enfermeiros, ela pode acompanhar comovida todo o sofrimento por que passou Diego durante sua internação. O temor por sua vida, o coma prolongado devido ao trauma craniano, seguido pelo coma induzido para ser mantido ao respirador, as cirurgias e, finalmente, a descrição da descompressão a que tinha sido submetido e a avaliação final do Dr. Medeiros. Segundo ele, a cirurgia teria sido um sucesso e que deveriam aguardar a evolução do processo. Depois disso, as evoluções neurológicas haviam desaparecido do prontuário. Apenas na alta hospitalar constava o nome ilegível do outro neurocirurgião liberando Diego. Aparentemente apenas seguiram as recomendações já instruídas pelo Dr. Medeiros. Talvez devesse conversar com ele e saber o porquê do seu afastamento do caso e obter o seu parecer. E assim o fez. Ligou para a recepção do hospital através do telefone interno e ficou sabendo que, coincidentemente, o Dr. Medeiros estava no hospital, visitando alguns pacientes. Despediu-se de Nair, que acabava de voltar de sua reunião, com a promessa de visitá-la novamente, porém, fora do ambiente hospitalar. Dirigiu-se até o andar de internação dos politraumatizados. Depois de confirmar a presença dele naquele setor, ficou aguardando-o junto a sala de prescrições. Depois de meia hora de espera, quando ele terminou suas visitas e terminou as prescrições, apresentou-se. Já era quase meio-dia.
- Bom dia, Dr. Medeiros. Meu nome é Ângela e sou enfermeira. Poderia falar com o senhor sobre um ex-paciente seu?
- Bom dia. Infelizmente não tenho muito tempo. Se for algo rápido...
- Prometo não demorar mais que cinco minutos. Na verdade é só um esclarecimento.
- Se é assim, sente-se, por favor – Mostrou-lhe uma cadeira para que sentasse a sua frente – Pode falar.
- O paciente de quem falei é Diego Bernazzi. Sei que foi o senhor que o atendeu aqui no hospital após o acidente e que realizou uma cirurgia de descompressão medular. A partir daí, não conseguimos mais informações a respeito da evolução do caso.
- Lembro do caso. Diego tinha uma compressão medular a nível de T8. Infelizmente, logo após a cirurgia de descompressão, fui dispensado pela família.
- Como assim? – perguntou admirada.
- Uma secretária do padrasto de Diego, por telefone, disse que não precisavam mais de meus serviços e que mandasse a nota de cobrança para o escritório deles. Sem mais nem menos. Juro que, primeiramente, fiquei surpreso e extremamente chateado, já que não havia motivo algum para tal atitude. Depois achei mais adequado fazer a vontade da família e não pedir explicações.
- Ele já se recuperou?
- Não. Continua paraplégico, usando uma cadeira de rodas...
- Impossível... – disse espantado – Tudo indicava que a medula não havia sido lesionada e que a sensibilidade e os movimentos voltariam após a cirurgia. O que diz o colega que o está acompanhando?
- Aí está o problema. Não conseguimos contatá-lo.
- Olhe, este rapaz tem que ser reavaliado. Não posso lhe dar nenhum parecer sem examiná-lo. Mas isto não me compete mais... – continuou pensativo – A não ser que...
- A não ser o quê?
- Que eu tenha me enganado, o que duvido muito, ou... Paralisia psicogênica. – Olhou para o relógio com ar preocupado e continuou – Não vou poder ficar mais tempo. Acho que já esclareci a sua dúvida. Vejo que tem boa vontade e está interessada em ajudar o seu paciente. Boa sorte.
- Só mais uma dúvida, Dr. Medeiros. A família chegou a ser informada sobre este resultado?
- Eu falei com um familiar logo depois da cirurgia. Não lembro exatamente quem. Eu pedi que Marcelo me procurasse para conversarmos a respeito, mas no dia seguinte recebi o telefonema dispensando-me.
Ângela estava pasma com o que ouvira.
- Muito obrigada, Dr. Medeiros. Obrigada por sua atenção.
Ângela saiu atordoada do hospital. Apesar de feliz com as possibilidades de recuperação de Diego, não sabia o que pensar do resto da história contada pelo médico. Por que Marcelo escondera o fato de tê-lo dispensado e com que interesse? Precisava encontrar o neurologista que passou a acompanhar o caso e esclarecer de vez esta situação. Falaria com Lino para saber a sua opinião. Sua vontade era correr para Diego e dar a boa notícia, mas tinha medo que Medeiros pudesse estar errado em seu diagnóstico. Não queria dar-lhe falsas esperanças.
- O que ela queria com você? – perguntou Diego desconfiado.
- Ah, ela quer que eu vá a casa dela hoje à noite – respondeu Lino, fazendo mistério, enquanto guardava seu celular.
- Para quê?
- Você está muito curioso meu amigo – respondeu com um sorriso irônico.
- Por acaso você está afim de Ângela?
- Bem, não posso negar que ela é muito atraente, mas acho que não quer nada comigo.
- Quem garante?
- Por acaso está com ciúmes, Diego? – provocou-o. Já havia notado o interesse dele por Ângela, pois sempre fazia perguntas sobre ela.
- Ciúmes? Por que eu teria ciúmes dela? – disfarçou.
- Só perguntei...
Diego sentiu um aperto no peito ao pensar que pudesse haver algo entre aqueles dois. Afinal, tinham a mesma profissão, trabalhavam juntos e Lino, além de não ser feio, era... Normal.
- Vou aproveitar para pedir a Ângela para ficar com você no sábado. Sem problemas para você?
- Nenhum. O que houve?
- Meu pai vai chegar de Lagoa Santa para me visitar. Avisou-me ontem. Ele já tem idade e não consegue localizar-se muito por aqui. Tomara que ela não tenha nenhum compromisso – pensou alto.
- Eu já posso perfeitamente ficar sozinho.
- Se o seu padrasto estivesse aqui, talvez, mas ele tem uma viagem de negócios e não estará em casa neste final de semana. A não ser que eu peça a sua noiva para ficar com você.
- Ela não é mais minha noiva – afirmou categoricamente.
- Desde quando? O que foi que eu perdi?
- Ontem à noite ela esteve aqui e conversamos seriamente. Finalmente confessou que estava gostando de outra pessoa. Eu já desconfiava, desde a época em que estava no hospital, depois que a ouvi falando ao telefone com outro cara. Demorou a falar, pois não queria me magoar. Ela diz que já conhecia esta pessoa antes do acidente, mas não acredito.
- Por quê?
- Ora, Lino! Que mulher normal vai querer ficar com um aleijado?
- Pois eu conheço muitas mulheres apaixonadas por homens com problemas bem piores que o seu.
- Devem ser loucas!
- Pois eu diria que todas são até bem interessantes. Tenho inveja destes caras com quem elas estão.
- Você diz isso para melhorar minha auto-estima...
- Quando você vai parar de se colocar para baixo, Diego? – perguntou serio – Não pense que não vejo o seu olhar para cima da Ângela. Se saísse de casa, poderia olhar assim para outras mulheres também. Tenho certeza que logo seria correspondido.
- Ângela não corresponde.
- É diferente. Ângela é sua enfermeira. Eticamente ela não deve envolver-se com seus pacientes. – Continuou depois de uma pausa calculada – Pelo menos ela não pode aparentar que está envolvida...
- O que você quer dizer com isso? – sondou, curioso com a insinuação de Lino.
- Eu não deveria lhe falar isso, mas, aqui entre nós, acho que Ângela nunca se envolveu tanto com um paciente como agora.
- E...?
- Nada. É apenas uma observação... – parecia arrependido de ter tocado no assunto. – Vou ver se este almoço sai ou não. Estou morrendo de fome. E você?
Diego deu de ombros e ficou olhando Lino afastar-se através do jardim, na direção da casa. Pensava no que o enfermeiro estava tentando dizer-lhe. Estaria Ângela envolvendo-se com ele por outros motivos que não o profissional? “Impossível... Seria bom demais...”, imaginou.
Como vêem, as coisas parecem que estão melhorando para Diego. Vou tentar não demorar muito para postar o próximo capítulo, mas já prometo que no VII vai aumentar a temperatura da relação do nosso casal. Aguardem...
Beijos a todas minhas queridas e pacientes leitoras!
Rosane!!!!
ResponderExcluirQuer me matar do coração,logo agora que o cap.estava ficando bom vc termina.
Vou ficar esperando ansiosa pelo proximo e tomara que já tenha algns beijos.Não demore mto para postar.
bjs.
Oi, Cris!! Não quero matar ninguém do coração, não, querida.Prometo que logo, logo, o Diego e a Ângela vão se entender...rsrsrs.
ResponderExcluirTe adoro! Beijos!
Ai meu Deussssss, esse romance promete muitos suspiros, e o comentário sobre o relacionamento deles esquentando.... já estou visualizando as cenas, espero realmente que você tenha tempo de postar rapidinho o próximo capítulo Rô, nós, suas fiéis leitoras, agradecemos, rsrsrsrs.
ResponderExcluirUm cheiro amiga e obrigada por momentos tão tensos(no melhor sentido) e agradáveis.
Nadja, querida! Obrigada pela fidelidade e pelos comentários que eu adoro. Estou "trabalhando" nas próximas "cenas" com muito carinho. Espero não demorar mesmo, pois eu mesma fico ansiosa para ver os capítulos prontos.
ResponderExcluirBeijão,amiga!!
Se você está ansiosa, imagina a gente!!!!!
ResponderExcluirBeijoooooo!!!!!!!!!
Rosane!!!!!
ResponderExcluirEstou aqui tb ansiosa por este proxímo cap..,não demora mto pra postar.
Bjs
Ahaaaaaaa!!!
ResponderExcluirEu sabia que tinha dente de coelho nessa história do pós-acidente de Diego!kkkkkkkkkkk...
Nem preciso dizer que aguardarei ansiosa pelos próximos capítulos, neam...
Bjim♥
As coisas estão começando a clarear...
ResponderExcluirO Diego vai sofrer mais ainda quando se der conta que o próprio padrasto fez esse ato tão hediondo. Se já é difícil quando um terceiro pratica uma atrocidade dessas, imagina, então, quando uma pessoa tão próxima comete um ato abominável desses...
Mas tem o outro lado que é ótimo, pois ele tem excelentes chances de se recuperar e, uma vez esclarecidos todos os fatos dessa lamentável tragédia, vai poder reiniciar sua vida.
É muito duro tudo isso, mas ao menos ele tem a Ângela ao seu lado...
Beijinhos
HUmmmmm, agora o bicho vai pegar!
ResponderExcluir