O dia seguinte chegou glorioso, com um sol radiante, num céu sem nuvens, sobre um mar sereno, de verde intenso, invadindo o quarto de Isadora muito cedo, e encontrando-a preguiçosamente agarrada aos seus travesseiros, despertando de uma noite sem sonhos, mas restauradora. Vestiu seu traje de banho, colocou a túnica de praia e foi até a piscina, onde ficou lendo um dos vários livros que havia colocado na mala, para atualizar-se com a literatura, relaxadamente sentada numa das cadeiras reclináveis. Apenas alguns funcionários do Mairi desfilavam àquela hora, cuidando dos jardins ou limpando as piscinas. Além daqueles, outros anônimos deviam estar trabalhando intensamente na cozinha e no restaurante, preparando-se para o início do desjejum, que começaria dentro de aproximadamente 30 minutos.
Depois de tomar um delicioso café da manhã, resolveu ir até a enfermaria para que lhe tirassem o curativo e verificassem se estava tudo bem.
- Vamos ver como está seu ferimento – falou a simpática enfermeira de plantão. – Parece que você tem uma ótima cicatrização. Apesar disso, é bom que continue com alguma proteção. Caso venha a molhá-lo, troque-o tão logo seja possível, aqui mesmo, conosco.
- Que bom. – Isadora respirou aliviada – Estava preocupada que isto pudesse estragar minhas férias.
- Não se preocupe, querida. Mais dois dias de curativo e sua mão estará bem.
- Muito obrigada. – despediu-se alegremente e saiu já decidida para onde iria a seguir.
Ao chegar ao bangalô de Lucca, não viu seu buggy e nem sinal de sua presença. Parece que alguém tinha acordado mais cedo também. Mesmo assim, aproximou-se e alguma coisa chamou sua atenção nos fundos da casa. Com cuidado, foi contornando o casebre, descobrindo que atrás dele tinha uma espécie de trilha que acabava em um interessante e charmoso portão de madeira, quase escondido por uma trepadeira repleta de flores vermelhas. Caminhou até ele e ao abri-lo, com facilidade, descobriu que a trilha continuava e acabava dentro de um imenso gramado, onde uma linda mansão repousava. Era uma casa de dois andares, em estilo mediterrâneo, pintada de amarelo e com detalhes em branco nas janelas e portas. O jardim era muito bem cuidado. Porém, parecia estar deserta.
O que a intrigou foi a ligação daquela bela morada com a humilde choupana na beira da praia. Ainda estava admirando o lugar, quando sentiu a aproximação de alguém. Ao virar-se, deu de cara com Lucca, que estava sério e com aquele olhar de preocupação estampado nas belas feições.
- O que está fazendo aqui? – perguntou rudemente.
- Bom dia, em primeiro lugar. Custa ser um pouco mais educado e cumprimentar ao invés de chegar sorrateiramente e me assustar?
- Desculpe, princesa. Não queria assustá-la – desculpou-se em tom mais ameno. – O que está fazendo aqui? – repetiu sua pergunta.
- Eu vim procurá-lo e descobri a trilha que tinha nos fundos da sua casa. Vim parar aqui a seguindo. De quem é essa casa?
- É de um pessoal que mora em outro estado. – respondeu hesitante.
- Você os conhece? É o zelador daqui? – investiu na única explicação que encontrava para a ligação entre as casas e a presença de Lucca por ali. Notou que a expressão dele desanuviou-se e ele sorriu.
- Sim! Eu cuido da manutenção da casa enquanto eles estão fora. Sempre é bom uma renda extra, não?
- Que bom, Lucca. Aliás, parabéns, pois ela está muito bem cuidada. Não imaginava que tivesse habilidades em jardinagem.
- Ah, isso... Na verdade, tem uma firma de jardinagem que cuida esta parte. Eu me responsabilizo por afastar os intrusos e pela manutenção interna. Por isso me assustei quando percebi que tinha alguém aqui.
- Ah, entendi. Desculpe mais uma vez. Parece que estou sempre deixando você preocupado, de uma maneira ou de outra. – sorriu envergonhada por tê-lo alarmado. – Mas é uma bela morada e muito bem projetada. Acredito que o interior deva ser igualmente admirável.
- Acho que sim... – fazendo-se de desentendido sobre o convite subliminar – Você fala como se entendesse do assunto. – falou repentinamente interessado.
- Eu sou arquiteta, por isso fiquei curiosa.
- Arquiteta, é? – sorriu. – Afinal, a que devo a honra da sua visita?
- Já esqueceu? Vim para fecharmos o preço do passeio como combinamos ontem.
- Ah, claro. Então, quanto me oferece? – estranhamente ele parecia divertir-se com esta questão.
- Eu me informei dos valores cobrados no hotel e resolvi propor-lhe... Cem reais? Pelo dia? É metade do preço no resort, como você tinha me sugerido. Se achar pouco, pode fazer uma contraproposta. – Iniciou a negociação, sem ligar a expressão de Lucca. Talvez estivesse nervoso por ter de falar em dinheiro com ela ou por não estar acostumado a este tipo de transação comercial. Por seu lado, por algum motivo, sentia-se um pouco desconfortável tratando da remuneração dele, apesar de ser uma mulher acostumada a lidar com tabelas de preço junto aos empreiteiros e operários que trabalhavam para o seu escritório.
- Vamos dizer que... – ele fez uma pausa dramática e continuou – Aceito!
- Ótimo! Quando podemos sair? Amanhã?
- Que tal... Agora? – “Ao inferno as dúvidas quanto a mantê-la longe. Vai ser bom ter uma companhia para passear por aí”, pensou animado.
Pega de surpresa, logo sorriu e respondeu efusivamente:
- Por que não? Vamos lá.
Ela tomou a frente, na direção da praia, não reparando no olhar ferino que a seguiu. “Afinal, talvez seja um dia divertido”, pensou ele.
Isadora pediu que ele aguardasse alguns minutos. Ia pegar sua bolsa de praia com algumas coisas necessárias para passar o dia fora. Estava muito excitada. Talvez um pouco além do que era de se esperar para a realização de um simples passeio turístico.
- Eu vou abastecer o buggy e a encontro aqui mesmo dentro de... Quinze minutos. Está certo?
- Ótimo. Já volto! – e saiu em passos apressados, que brigavam contra a dificuldade de correr na areia fofa da beira-mar.
A sensação do vento batendo em seu rosto, tendo aquela paisagem magnífica inundando seus sentidos era maravilhosa. Lucca demonstrava ser um ótimo guia. Realmente parecia conhecer todas as praias da região e sua história. Até o momento tinham visitado duas, mas decidiram parar para almoçar num modesto restaurante, de frente para o mar, que, segundo ele, era propriedade de pescadores. Ao chegarem, ele pediu que ela o esperasse no veículo e foi conversar com o dono, seu amigo. Desconfiou que ele estivesse tratando o preço e conseguindo uma refeição gratuita para si próprio, como era de praxe. Não entendeu as gargalhadas que se seguiram enquanto conversavam, mas quando terminaram, o proprietário da casa veio pessoalmente cumprimentá-la e acompanhá-la até uma das mesas melhor localizadas, com uma vista privilegiada, conforme ele sugeriu. Agradeceu e notou que Lucca a olhava discretamente encostado numa das colunas de madeira próxima ao balcão.
- Lucca! Por que não vem sentar aqui? – sentiu-se mal ao perceber que ele estava se posicionando como um simples empregado, evitando compartilhar a refeição com ela. – Por favor... – suplicou.
Ele se aproximou com um sorriso cativante.
- Acho que não fica bem sentar com a “patroa” na mesma mesa.
- Deixe de bobagem. Acho que já podemos dizer que somos um pouco amigos, não? Até passar a mão no meu bumbum você já passou – disse olhando-o de soslaio e ruborizando imediatamente. “Agora já falei, azar! Por que não calo a boca de vez em quando, só para variar?”, arrependeu-se tardiamente.
- O quê? – foi a vez dele de surpreender-se – Quando?
- No dia em que me ajudou nos corais. Esqueceu? Eu fiquei furiosa com você – Notando o embaraço dele, começou a rir.
Inesperadamente ele soltou uma gargalhada gostosa, quando se lembrou do que acontecera.
- Tem razão. Mas pode ter certeza que foi com a melhor das intenções.
- Eu sei... Então, pode me dar a honra de almoçar comigo?
- Claro. A honra será toda minha.
“O que ela está fazendo comigo? Eu não devia estar sentindo ou agindo dessa maneira. Por que ela tem de ser tão deliciosa, meiga e divertida?”
“O que eu estou fazendo? Deveria mantê-lo a certa distância ao invés de tratá-lo como amigo íntimo. Aonde eu vou parar neste ritmo?”
Fizeram seus pedidos e, enquanto almoçavam, Lucca lhe falava a respeito dos lugares que visitariam à tarde. Isadora estava encantada com os conhecimentos dele, que chegou a citar alguns lugares da Europa, comparando-os à paisagem local, como se já tivesse viajado para lá. Obviamente ele os conhecia de revistas, como ele próprio afirmou, ao perceber o espanto dela. Ele não parecia em nada com o rústico e ignorante pescador que ela imaginara. Sua conversa seria bem vinda em qualquer roda social de São Paulo. Enquanto esperavam o cafezinho, ao final do almoço, Isadora disparou uma pergunta:
- Por que você tem um sotaque diferente do resto do pessoal daqui? Parece mais com o carioca.
Parecendo embaraçado diante da pergunta, acabou por responder:
- É que minha mãe era carioca e vivi com ela uma boa parte da minha vida, no Rio. Satisfeita?
- Você também era pescador lá?
- Tornei-me pescador depois. – “Até onde vou ter que ir para escapar destas perguntas?”.
- O seu pai era daqui? Era pescador também?
- Esta é uma história muito longa e eu prefiro não lhe cansar contando-a – fixou o olhar num ponto do outro lado do restaurante onde estavam e Isadora entendeu que aquela conversa encerrava por ali.
- Acho melhor irmos logo, pois ainda temos muito que ver.
- Certo. Vou pagar a conta e vamos.
- Não se preocupe com isso. Já acertei tudo com o seu Ariel. Considere isto como incluído no valor do passeio.
- Não posso fazer isso. Não combinamos sobre o almoço. Assim não vai ganhar nada. Se considerar a gasolina e o almoço, o que sobra para você?
- O suficiente para minha diversão – sorriu e pegando-a pelo braço suavemente, levou-a até onde estava o buggy.
- Por favor, Lucca. Tem que aceitar o dinheiro do almoço.
- Olhe, se isso é tão importante para você, depois eu incluo o almoço no valor que combinamos.
- Assim é melhor – concordou mais aliviada.
Quando passavam por um extenso canavial, ele parou o carro junto a uma cerca de arame farpado e desceu.
- Onde estamos? – perguntou, ligeiramente inquieta com a súbita parada.
- Logo vai ver. Confie em mim. Precisamos seguir a pé deste ponto, mas verá que, ao fim, vale à pena. Venha! – disse pegando-lhe pela mão, como se isto fosse muito natural. Isadora simplesmente aceitou o comando e seguiu-o, sentindo o calor daquele toque subindo por seu braço e aquecendo seu corpo agradavelmente.
Caminharam alguns metros entre os pés de cana e, quando menos esperava, Isadora vislumbrou a imagem de um paraíso. Entre escarpas multicolores, encontrava-se uma praia deserta, com algumas enormes formações rochosas esbranquiçadas, que pareciam dinossauros esquecidos pelo tempo. Para completar a visão paradisíaca, o mar azul esverdeado e calmo, praticamente sem ondas cobria tudo, até o horizonte. Não havia mais ninguém ali. Apenas os dois.
- Que lugar lindo, Lucca... Como é o nome desta praia? – perguntou deslumbrada diante de tanta beleza.
- Chama-se “Carro Quebrado”. É linda, não? Deixei-a para mostrar por último, pois sabia que a surpreenderia. Pode ficar a vontade. Ela é toda sua – continuou a levá-la segura pela mão até as areias mais grossas e um pouco mais escuras que das outras.
Sorriu diante da face radiante de Isadora. Parecia uma criança descobrindo o mar pela primeira vez. Não cansava de admirá-la, mesmo quando se soltou de sua mão e correu para tocar as pedras à beira-mar ou enquanto observava atenta as falésias com suas areias de vários tons terrosos, dispostas em camadas.
- Acho que não vou resistir a tomar um banho nestas águas.
- Faça o que tiver vontade. Pode trocar o seu curativo quando voltar para o Mairi. Não foi o que a enfermeira lhe falou?
- Tem razão. Acho que não fará mal molhar um pouco, não?
- Vá em frente. – estimulou-a, enquanto se recostava em um dos “monstros de pedra”.
- Não vai entrar?
- Sou um profissional. Não posso me divertir enquanto estou trabalhando – retorquiu tão seriamente que Isadora quase acreditou.
- Você está brincando? Com este calor e um mar destes a nos convidar para um mergulho, eu libero você do seu profissionalismo – disse sorrindo.
- Já que insiste, não tenho como negar. – Tirou a camisa branca que vestia e exibiu seu peito bronzeado e os músculos tensionados no movimento, ficando apenas com a bermuda. O coração de Isadora disparou e seus joelhos falsearam.
- Vai ficar parada aí ou vai entrar comigo?
Pegou-a mais uma vez pela mão sã e puxou-a para a água. Em certo momento ela não resistiu aos passos largos e rápidos dele, caindo entre as ondulações suaves de água salgada e morna. Logo se levantou rindo, com a ajuda dele, que se voltou preocupado.
- Eu não devia ter corrido. Machucou-se?
- Claro que não. Mas exijo vingança! – exclamou, ao mesmo tempo em que lhe deu um empurrão para trás, soltando uma sonora gargalhada ao vê-lo cair com espalhafato. A partir daí, ficaram vários minutos brincando tal e qual crianças, atirando água um no outro, num jogo de pega-pega, mergulhos e muitas risadas. Quando se cansaram, voltaram para as areias, onde Isadora estendeu uma toalha, e deitou-se. Lucca, sem esperar convite, deitou-se ao seu lado, diretamente sobre a areia. Assim ficaram, com os olhares perdidos no infinito do céu azul, ao som do marulhar que ia e vinha.
- Isadora, posso fazer uma pergunta indiscreta? - Lucca aproveitou o momento para satisfazer sua curiosidade.
- Pode... – arriscou-se a aceitar a indiscrição dele.
- O que uma jovem e bonita arquiteta como você faz sozinha em férias no Nordeste, querendo manter-se longe dos outros turistas, num lugar onde você teria chances de conhecer alguém interessante?
O olhar de Lucca recaiu sobre ela, desconcertando-a.
Ela desviou o olhar do céu para ele, procurando uma resposta coerente, que não a levasse a se abrir com ele. Aqueles olhos verdes, intensos e sinceros, convidavam a intimidade, mas ali não era hora nem o local para confidências. Por isso respondeu com uma meia verdade.
- Eu tenho um escritório de arquitetura em São Paulo ao qual venho dedicando todo o meu tempo há cerca de cinco anos, sem intervalo para descanso. Nos últimos tempos, comecei a sentir mais do que nunca o estresse resultante deste trabalho. Por isso achei que estava na hora de parar alguns dias e recarregar as baterias.
- E você não tem ninguém? Um marido, noivo, namorado?
- Tinha um noivo, mas prefiro não falar sobre isto. Não quero estragar o nosso dia. – Sentando-se repentinamente, contemplou o mar num misto de tristeza e amargura e calou-se. Lucca respeitou seu desejo e deu por encerrada as perguntas pessoais. Mas ficou curioso em saber mais sobre este noivado e sobre quem seria o idiota que a tinha magoado daquela forma.
- Vou dar uma caminhada por aí. Quer vir junto? – ele perguntou após alguns minutos.
- Não, obrigada. Vou ficar deitada aqui aproveitando o sol e a paz deste lugar. – agradeceu com um pálido sorriso e deitou-se novamente.
- Volto em quinze ou vinte minutos para podermos levantar acampamento. – Depois de uma pequena pausa, continuou em tom muito terno. – Você está bem?
- Estou bem sim. Não se preocupe... – respondeu, envaidecida com a preocupação demonstrada por ele.
“O que está acontecendo? Eu não me reconheço mais. Nunca me comportei dessa maneira com ninguém. Por muito pouco quase abri minha vida pessoal para ele... Quem é este homem que me faz sentir tão bem? Que me faz voltar a ser criança. Ao invés de me desencantar por ele, cada vez mais me sinto atraída. Ele não é só atraente fisicamente. Suas maneiras, a sua conversa, sua voz, o seu olhar... Não parece ser um pescador sem estudo e sem educação. Quanto mais tempo passo ao seu lado, maior se torna o meu desejo de ficar junto e de conhecê-lo melhor.”
Assim que voltou de sua caminhada, Lucca convidou-a para partir. Já estava ficando tarde. Isadora concordou e imediatamente recolheu suas coisas e foi para o buggy onde ele já a esperava com o motor roncando. Não conversaram muito nesta volta, a não ser por alguns comentários a cerca das belezas naturais encontradas ao longo do caminho.
O sol já era apenas um clarão laranja-avermelhado no horizonte, encoberto por algumas nuvens brancas, através das quais saíam os derradeiros raios dourados, quando Lucca estacionou o buggy diante do acesso ao Mairi. Isadora continuou sentada ao seu lado, até que conseguiu verbalizar:
- Podemos fazer aquele passeio às piscinas amanhã?
Ele não pode evitar um sorriso.
- Tem certeza que quer que eu continue sendo seu guia turístico?
- Por que não? – indagou, mexendo em sua bolsa, evitando seu olhar.
- Talvez eu tenha sido inconveniente e tenha ultrapassado os limites com você? Afinal eu só um pobre pescador, sendo pago para servi-la, e não seu amigo.
- Lucca... – murmurou ternamente, virando-se de lado para encará-lo – Sinceramente, eu gostaria muito que você fosse meu amigo. O que houve agora à tarde foi uma dificuldade minha em falar sobre uma ferida que ainda não cicatrizou. Não foi nada com você. Além disso, o fato de ser um “pobre pescador”, como você se diz, não faz diferença alguma para mim. Não costumo avaliar meus amigos pela profissão ou pela situação econômica deles. Agora, se você tiver algum tipo de preconceito em relação a mim e não quiser ser meu amigo, eu vou ficar muito triste, mas não poderei fazer nada.
Surpreso e comovido com a declaração inesperada de Isadora, sentiu o coração acelerar e o desejo de abraçá-la e beijá-la quase o sufocou, mas seu autocontrole o permitiu apenas pegar sua mão carinhosamente e dizer:
- Não costumo sair por aí fazendo amizade com as turistas mais bonitas – declarou com um meio sorriso desajeitado – Mas você é diferente. Sinto-me muito bem na sua companhia e fico muito contente com o que acabei de ouvir. Terei o maior prazer em ser seu amigo...
- Então, está combinado – atalhou-o, com a voz enrouquecida – A que horas podemos sair para as piscinas amanhã, amigo?
Limpando a garganta e suspirando, Lucca respondeu:
- Em vista da maré, o melhor horário para ir até lá é em torno das nove horas. Teremos que sair às oito e meia. Está bom para você?
- Está ótimo! – exclamou, ainda tentando livrar-se do tremor que a percorreu quando ele a tocou, enquanto soltava sua mão dentre as dele. – Venha comigo até o bar para beber alguma coisa gelada.
- Acho que o pessoal do hotel não vai gostar da minha presença...
- Por que, se você for meu convidado? Deixe de bobagem. Ai de quem falar alguma coisa.
- Isadora – ele a segurou novamente, evitando que ela saísse do buggy – Não se preocupe. Eu tenho de ir mesmo para casa... – interrompeu-se por alguns segundos e seu rosto iluminou-se repentinamente – Por que não combinamos outra coisa? Que tal jantar comigo?
- Jantar? Onde? – perguntou animada.
- Na minha... casa. – por um momento pareceu ter dúvida na palavra a empregar – Não se importa? Prometo que não vai se arrepender. Sou um bom cozinheiro.
Não precisou de mais que cinco segundos para que ela respondesse, levantando o queixo, desafiadora:
- Fechado. É só dizer o horário que estarei lá – confirmou tentando parecer natural.
- Às oito e meia da noite está bom? Lembre que amanhã temos de sair cedo.
- Confirmado – concluiu e instintivamente aproximou-se dele de um pulo e deu-lhe um beijo na face. Virou-se rapidamente, não dando chance a ele de retribuir e saiu apressada, subindo as escadas do deck do Mairi quase correndo, enquanto ele a observava ainda aturdido, sentindo queimar o local do rosto onde ela o beijara.
Depois de tomar um delicioso café da manhã, resolveu ir até a enfermaria para que lhe tirassem o curativo e verificassem se estava tudo bem.
- Vamos ver como está seu ferimento – falou a simpática enfermeira de plantão. – Parece que você tem uma ótima cicatrização. Apesar disso, é bom que continue com alguma proteção. Caso venha a molhá-lo, troque-o tão logo seja possível, aqui mesmo, conosco.
- Que bom. – Isadora respirou aliviada – Estava preocupada que isto pudesse estragar minhas férias.
- Não se preocupe, querida. Mais dois dias de curativo e sua mão estará bem.
- Muito obrigada. – despediu-se alegremente e saiu já decidida para onde iria a seguir.
Ao chegar ao bangalô de Lucca, não viu seu buggy e nem sinal de sua presença. Parece que alguém tinha acordado mais cedo também. Mesmo assim, aproximou-se e alguma coisa chamou sua atenção nos fundos da casa. Com cuidado, foi contornando o casebre, descobrindo que atrás dele tinha uma espécie de trilha que acabava em um interessante e charmoso portão de madeira, quase escondido por uma trepadeira repleta de flores vermelhas. Caminhou até ele e ao abri-lo, com facilidade, descobriu que a trilha continuava e acabava dentro de um imenso gramado, onde uma linda mansão repousava. Era uma casa de dois andares, em estilo mediterrâneo, pintada de amarelo e com detalhes em branco nas janelas e portas. O jardim era muito bem cuidado. Porém, parecia estar deserta.
O que a intrigou foi a ligação daquela bela morada com a humilde choupana na beira da praia. Ainda estava admirando o lugar, quando sentiu a aproximação de alguém. Ao virar-se, deu de cara com Lucca, que estava sério e com aquele olhar de preocupação estampado nas belas feições.
- O que está fazendo aqui? – perguntou rudemente.
- Bom dia, em primeiro lugar. Custa ser um pouco mais educado e cumprimentar ao invés de chegar sorrateiramente e me assustar?
- Desculpe, princesa. Não queria assustá-la – desculpou-se em tom mais ameno. – O que está fazendo aqui? – repetiu sua pergunta.
- Eu vim procurá-lo e descobri a trilha que tinha nos fundos da sua casa. Vim parar aqui a seguindo. De quem é essa casa?
- É de um pessoal que mora em outro estado. – respondeu hesitante.
- Você os conhece? É o zelador daqui? – investiu na única explicação que encontrava para a ligação entre as casas e a presença de Lucca por ali. Notou que a expressão dele desanuviou-se e ele sorriu.
- Sim! Eu cuido da manutenção da casa enquanto eles estão fora. Sempre é bom uma renda extra, não?
- Que bom, Lucca. Aliás, parabéns, pois ela está muito bem cuidada. Não imaginava que tivesse habilidades em jardinagem.
- Ah, isso... Na verdade, tem uma firma de jardinagem que cuida esta parte. Eu me responsabilizo por afastar os intrusos e pela manutenção interna. Por isso me assustei quando percebi que tinha alguém aqui.
- Ah, entendi. Desculpe mais uma vez. Parece que estou sempre deixando você preocupado, de uma maneira ou de outra. – sorriu envergonhada por tê-lo alarmado. – Mas é uma bela morada e muito bem projetada. Acredito que o interior deva ser igualmente admirável.
- Acho que sim... – fazendo-se de desentendido sobre o convite subliminar – Você fala como se entendesse do assunto. – falou repentinamente interessado.
- Eu sou arquiteta, por isso fiquei curiosa.
- Arquiteta, é? – sorriu. – Afinal, a que devo a honra da sua visita?
- Já esqueceu? Vim para fecharmos o preço do passeio como combinamos ontem.
- Ah, claro. Então, quanto me oferece? – estranhamente ele parecia divertir-se com esta questão.
- Eu me informei dos valores cobrados no hotel e resolvi propor-lhe... Cem reais? Pelo dia? É metade do preço no resort, como você tinha me sugerido. Se achar pouco, pode fazer uma contraproposta. – Iniciou a negociação, sem ligar a expressão de Lucca. Talvez estivesse nervoso por ter de falar em dinheiro com ela ou por não estar acostumado a este tipo de transação comercial. Por seu lado, por algum motivo, sentia-se um pouco desconfortável tratando da remuneração dele, apesar de ser uma mulher acostumada a lidar com tabelas de preço junto aos empreiteiros e operários que trabalhavam para o seu escritório.
- Vamos dizer que... – ele fez uma pausa dramática e continuou – Aceito!
- Ótimo! Quando podemos sair? Amanhã?
- Que tal... Agora? – “Ao inferno as dúvidas quanto a mantê-la longe. Vai ser bom ter uma companhia para passear por aí”, pensou animado.
Pega de surpresa, logo sorriu e respondeu efusivamente:
- Por que não? Vamos lá.
Ela tomou a frente, na direção da praia, não reparando no olhar ferino que a seguiu. “Afinal, talvez seja um dia divertido”, pensou ele.
Isadora pediu que ele aguardasse alguns minutos. Ia pegar sua bolsa de praia com algumas coisas necessárias para passar o dia fora. Estava muito excitada. Talvez um pouco além do que era de se esperar para a realização de um simples passeio turístico.
- Eu vou abastecer o buggy e a encontro aqui mesmo dentro de... Quinze minutos. Está certo?
- Ótimo. Já volto! – e saiu em passos apressados, que brigavam contra a dificuldade de correr na areia fofa da beira-mar.
A sensação do vento batendo em seu rosto, tendo aquela paisagem magnífica inundando seus sentidos era maravilhosa. Lucca demonstrava ser um ótimo guia. Realmente parecia conhecer todas as praias da região e sua história. Até o momento tinham visitado duas, mas decidiram parar para almoçar num modesto restaurante, de frente para o mar, que, segundo ele, era propriedade de pescadores. Ao chegarem, ele pediu que ela o esperasse no veículo e foi conversar com o dono, seu amigo. Desconfiou que ele estivesse tratando o preço e conseguindo uma refeição gratuita para si próprio, como era de praxe. Não entendeu as gargalhadas que se seguiram enquanto conversavam, mas quando terminaram, o proprietário da casa veio pessoalmente cumprimentá-la e acompanhá-la até uma das mesas melhor localizadas, com uma vista privilegiada, conforme ele sugeriu. Agradeceu e notou que Lucca a olhava discretamente encostado numa das colunas de madeira próxima ao balcão.
- Lucca! Por que não vem sentar aqui? – sentiu-se mal ao perceber que ele estava se posicionando como um simples empregado, evitando compartilhar a refeição com ela. – Por favor... – suplicou.
Ele se aproximou com um sorriso cativante.
- Acho que não fica bem sentar com a “patroa” na mesma mesa.
- Deixe de bobagem. Acho que já podemos dizer que somos um pouco amigos, não? Até passar a mão no meu bumbum você já passou – disse olhando-o de soslaio e ruborizando imediatamente. “Agora já falei, azar! Por que não calo a boca de vez em quando, só para variar?”, arrependeu-se tardiamente.
- O quê? – foi a vez dele de surpreender-se – Quando?
- No dia em que me ajudou nos corais. Esqueceu? Eu fiquei furiosa com você – Notando o embaraço dele, começou a rir.
Inesperadamente ele soltou uma gargalhada gostosa, quando se lembrou do que acontecera.
- Tem razão. Mas pode ter certeza que foi com a melhor das intenções.
- Eu sei... Então, pode me dar a honra de almoçar comigo?
- Claro. A honra será toda minha.
“O que ela está fazendo comigo? Eu não devia estar sentindo ou agindo dessa maneira. Por que ela tem de ser tão deliciosa, meiga e divertida?”
“O que eu estou fazendo? Deveria mantê-lo a certa distância ao invés de tratá-lo como amigo íntimo. Aonde eu vou parar neste ritmo?”
Fizeram seus pedidos e, enquanto almoçavam, Lucca lhe falava a respeito dos lugares que visitariam à tarde. Isadora estava encantada com os conhecimentos dele, que chegou a citar alguns lugares da Europa, comparando-os à paisagem local, como se já tivesse viajado para lá. Obviamente ele os conhecia de revistas, como ele próprio afirmou, ao perceber o espanto dela. Ele não parecia em nada com o rústico e ignorante pescador que ela imaginara. Sua conversa seria bem vinda em qualquer roda social de São Paulo. Enquanto esperavam o cafezinho, ao final do almoço, Isadora disparou uma pergunta:
- Por que você tem um sotaque diferente do resto do pessoal daqui? Parece mais com o carioca.
Parecendo embaraçado diante da pergunta, acabou por responder:
- É que minha mãe era carioca e vivi com ela uma boa parte da minha vida, no Rio. Satisfeita?
- Você também era pescador lá?
- Tornei-me pescador depois. – “Até onde vou ter que ir para escapar destas perguntas?”.
- O seu pai era daqui? Era pescador também?
- Esta é uma história muito longa e eu prefiro não lhe cansar contando-a – fixou o olhar num ponto do outro lado do restaurante onde estavam e Isadora entendeu que aquela conversa encerrava por ali.
- Acho melhor irmos logo, pois ainda temos muito que ver.
- Certo. Vou pagar a conta e vamos.
- Não se preocupe com isso. Já acertei tudo com o seu Ariel. Considere isto como incluído no valor do passeio.
- Não posso fazer isso. Não combinamos sobre o almoço. Assim não vai ganhar nada. Se considerar a gasolina e o almoço, o que sobra para você?
- O suficiente para minha diversão – sorriu e pegando-a pelo braço suavemente, levou-a até onde estava o buggy.
- Por favor, Lucca. Tem que aceitar o dinheiro do almoço.
- Olhe, se isso é tão importante para você, depois eu incluo o almoço no valor que combinamos.
- Assim é melhor – concordou mais aliviada.
Quando passavam por um extenso canavial, ele parou o carro junto a uma cerca de arame farpado e desceu.
- Onde estamos? – perguntou, ligeiramente inquieta com a súbita parada.
- Logo vai ver. Confie em mim. Precisamos seguir a pé deste ponto, mas verá que, ao fim, vale à pena. Venha! – disse pegando-lhe pela mão, como se isto fosse muito natural. Isadora simplesmente aceitou o comando e seguiu-o, sentindo o calor daquele toque subindo por seu braço e aquecendo seu corpo agradavelmente.
Caminharam alguns metros entre os pés de cana e, quando menos esperava, Isadora vislumbrou a imagem de um paraíso. Entre escarpas multicolores, encontrava-se uma praia deserta, com algumas enormes formações rochosas esbranquiçadas, que pareciam dinossauros esquecidos pelo tempo. Para completar a visão paradisíaca, o mar azul esverdeado e calmo, praticamente sem ondas cobria tudo, até o horizonte. Não havia mais ninguém ali. Apenas os dois.
- Que lugar lindo, Lucca... Como é o nome desta praia? – perguntou deslumbrada diante de tanta beleza.
- Chama-se “Carro Quebrado”. É linda, não? Deixei-a para mostrar por último, pois sabia que a surpreenderia. Pode ficar a vontade. Ela é toda sua – continuou a levá-la segura pela mão até as areias mais grossas e um pouco mais escuras que das outras.
Sorriu diante da face radiante de Isadora. Parecia uma criança descobrindo o mar pela primeira vez. Não cansava de admirá-la, mesmo quando se soltou de sua mão e correu para tocar as pedras à beira-mar ou enquanto observava atenta as falésias com suas areias de vários tons terrosos, dispostas em camadas.
- Acho que não vou resistir a tomar um banho nestas águas.
- Faça o que tiver vontade. Pode trocar o seu curativo quando voltar para o Mairi. Não foi o que a enfermeira lhe falou?
- Tem razão. Acho que não fará mal molhar um pouco, não?
- Vá em frente. – estimulou-a, enquanto se recostava em um dos “monstros de pedra”.
- Não vai entrar?
- Sou um profissional. Não posso me divertir enquanto estou trabalhando – retorquiu tão seriamente que Isadora quase acreditou.
- Você está brincando? Com este calor e um mar destes a nos convidar para um mergulho, eu libero você do seu profissionalismo – disse sorrindo.
- Já que insiste, não tenho como negar. – Tirou a camisa branca que vestia e exibiu seu peito bronzeado e os músculos tensionados no movimento, ficando apenas com a bermuda. O coração de Isadora disparou e seus joelhos falsearam.
- Vai ficar parada aí ou vai entrar comigo?
Pegou-a mais uma vez pela mão sã e puxou-a para a água. Em certo momento ela não resistiu aos passos largos e rápidos dele, caindo entre as ondulações suaves de água salgada e morna. Logo se levantou rindo, com a ajuda dele, que se voltou preocupado.
- Eu não devia ter corrido. Machucou-se?
- Claro que não. Mas exijo vingança! – exclamou, ao mesmo tempo em que lhe deu um empurrão para trás, soltando uma sonora gargalhada ao vê-lo cair com espalhafato. A partir daí, ficaram vários minutos brincando tal e qual crianças, atirando água um no outro, num jogo de pega-pega, mergulhos e muitas risadas. Quando se cansaram, voltaram para as areias, onde Isadora estendeu uma toalha, e deitou-se. Lucca, sem esperar convite, deitou-se ao seu lado, diretamente sobre a areia. Assim ficaram, com os olhares perdidos no infinito do céu azul, ao som do marulhar que ia e vinha.
- Isadora, posso fazer uma pergunta indiscreta? - Lucca aproveitou o momento para satisfazer sua curiosidade.
- Pode... – arriscou-se a aceitar a indiscrição dele.
- O que uma jovem e bonita arquiteta como você faz sozinha em férias no Nordeste, querendo manter-se longe dos outros turistas, num lugar onde você teria chances de conhecer alguém interessante?
O olhar de Lucca recaiu sobre ela, desconcertando-a.
Ela desviou o olhar do céu para ele, procurando uma resposta coerente, que não a levasse a se abrir com ele. Aqueles olhos verdes, intensos e sinceros, convidavam a intimidade, mas ali não era hora nem o local para confidências. Por isso respondeu com uma meia verdade.
- Eu tenho um escritório de arquitetura em São Paulo ao qual venho dedicando todo o meu tempo há cerca de cinco anos, sem intervalo para descanso. Nos últimos tempos, comecei a sentir mais do que nunca o estresse resultante deste trabalho. Por isso achei que estava na hora de parar alguns dias e recarregar as baterias.
- E você não tem ninguém? Um marido, noivo, namorado?
- Tinha um noivo, mas prefiro não falar sobre isto. Não quero estragar o nosso dia. – Sentando-se repentinamente, contemplou o mar num misto de tristeza e amargura e calou-se. Lucca respeitou seu desejo e deu por encerrada as perguntas pessoais. Mas ficou curioso em saber mais sobre este noivado e sobre quem seria o idiota que a tinha magoado daquela forma.
- Vou dar uma caminhada por aí. Quer vir junto? – ele perguntou após alguns minutos.
- Não, obrigada. Vou ficar deitada aqui aproveitando o sol e a paz deste lugar. – agradeceu com um pálido sorriso e deitou-se novamente.
- Volto em quinze ou vinte minutos para podermos levantar acampamento. – Depois de uma pequena pausa, continuou em tom muito terno. – Você está bem?
- Estou bem sim. Não se preocupe... – respondeu, envaidecida com a preocupação demonstrada por ele.
“O que está acontecendo? Eu não me reconheço mais. Nunca me comportei dessa maneira com ninguém. Por muito pouco quase abri minha vida pessoal para ele... Quem é este homem que me faz sentir tão bem? Que me faz voltar a ser criança. Ao invés de me desencantar por ele, cada vez mais me sinto atraída. Ele não é só atraente fisicamente. Suas maneiras, a sua conversa, sua voz, o seu olhar... Não parece ser um pescador sem estudo e sem educação. Quanto mais tempo passo ao seu lado, maior se torna o meu desejo de ficar junto e de conhecê-lo melhor.”
Assim que voltou de sua caminhada, Lucca convidou-a para partir. Já estava ficando tarde. Isadora concordou e imediatamente recolheu suas coisas e foi para o buggy onde ele já a esperava com o motor roncando. Não conversaram muito nesta volta, a não ser por alguns comentários a cerca das belezas naturais encontradas ao longo do caminho.
O sol já era apenas um clarão laranja-avermelhado no horizonte, encoberto por algumas nuvens brancas, através das quais saíam os derradeiros raios dourados, quando Lucca estacionou o buggy diante do acesso ao Mairi. Isadora continuou sentada ao seu lado, até que conseguiu verbalizar:
- Podemos fazer aquele passeio às piscinas amanhã?
Ele não pode evitar um sorriso.
- Tem certeza que quer que eu continue sendo seu guia turístico?
- Por que não? – indagou, mexendo em sua bolsa, evitando seu olhar.
- Talvez eu tenha sido inconveniente e tenha ultrapassado os limites com você? Afinal eu só um pobre pescador, sendo pago para servi-la, e não seu amigo.
- Lucca... – murmurou ternamente, virando-se de lado para encará-lo – Sinceramente, eu gostaria muito que você fosse meu amigo. O que houve agora à tarde foi uma dificuldade minha em falar sobre uma ferida que ainda não cicatrizou. Não foi nada com você. Além disso, o fato de ser um “pobre pescador”, como você se diz, não faz diferença alguma para mim. Não costumo avaliar meus amigos pela profissão ou pela situação econômica deles. Agora, se você tiver algum tipo de preconceito em relação a mim e não quiser ser meu amigo, eu vou ficar muito triste, mas não poderei fazer nada.
Surpreso e comovido com a declaração inesperada de Isadora, sentiu o coração acelerar e o desejo de abraçá-la e beijá-la quase o sufocou, mas seu autocontrole o permitiu apenas pegar sua mão carinhosamente e dizer:
- Não costumo sair por aí fazendo amizade com as turistas mais bonitas – declarou com um meio sorriso desajeitado – Mas você é diferente. Sinto-me muito bem na sua companhia e fico muito contente com o que acabei de ouvir. Terei o maior prazer em ser seu amigo...
- Então, está combinado – atalhou-o, com a voz enrouquecida – A que horas podemos sair para as piscinas amanhã, amigo?
Limpando a garganta e suspirando, Lucca respondeu:
- Em vista da maré, o melhor horário para ir até lá é em torno das nove horas. Teremos que sair às oito e meia. Está bom para você?
- Está ótimo! – exclamou, ainda tentando livrar-se do tremor que a percorreu quando ele a tocou, enquanto soltava sua mão dentre as dele. – Venha comigo até o bar para beber alguma coisa gelada.
- Acho que o pessoal do hotel não vai gostar da minha presença...
- Por que, se você for meu convidado? Deixe de bobagem. Ai de quem falar alguma coisa.
- Isadora – ele a segurou novamente, evitando que ela saísse do buggy – Não se preocupe. Eu tenho de ir mesmo para casa... – interrompeu-se por alguns segundos e seu rosto iluminou-se repentinamente – Por que não combinamos outra coisa? Que tal jantar comigo?
- Jantar? Onde? – perguntou animada.
- Na minha... casa. – por um momento pareceu ter dúvida na palavra a empregar – Não se importa? Prometo que não vai se arrepender. Sou um bom cozinheiro.
Não precisou de mais que cinco segundos para que ela respondesse, levantando o queixo, desafiadora:
- Fechado. É só dizer o horário que estarei lá – confirmou tentando parecer natural.
- Às oito e meia da noite está bom? Lembre que amanhã temos de sair cedo.
- Confirmado – concluiu e instintivamente aproximou-se dele de um pulo e deu-lhe um beijo na face. Virou-se rapidamente, não dando chance a ele de retribuir e saiu apressada, subindo as escadas do deck do Mairi quase correndo, enquanto ele a observava ainda aturdido, sentindo queimar o local do rosto onde ela o beijara.
Continuam gostando da nossa aventura com o Lucca e a Isa? Logo devo estar postando o quinto capítulo. Só queria dizer, que esta praia "Carro Quebrado" realmente existe no litoral de Alagoas e que as fotos foram tiradas lá. Quem tiver oportunidadde de conhecer, vale à pena. E é deserta...
Beijos!
Rosane!!!
ResponderExcluirNão demore de postar não?
Está td mto lindo e estas praias são maravilhosas.
E o Lucca?Que mistério se esconde portrás dele,e quando será que ele e Isa vão ter uma linda noite de amor?
Não me deixa neste nervoso,aí como sofro..kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
Bjs.
Rô, a praia do Carro Quebrado é linda de viver!
ResponderExcluirE quanto a Lucca, ele tem sim um grande mistério a ser desvendado! Já tô doida para descobrir, kkkk...
Bjim querida♥
Nossa, Rô, uma mansão escondida atrás da choupana... E que mansão...
ResponderExcluirE um passeio deslumbrante desses, com um guia TUDO DE BOM como o nosso pescador, não há como ser menos do que divino!!!
Eu amo praias, amiga, acho que são realmente pedacinhos do paraíso. Quando estou na praia, entro no mar, parece que faço um descarregamento das energias negativas e carregamento de energias positivas, é maravilhoso. E esta praia da qual vc citou, a “Carro Quebrado” parece ser linda mesmo, um lugar que realmente vale a pena estar!
Beijinhos
Aff.. termino de ler esta delícia de capítulo com um sorriso que teima em sair da boca. Estou encantada com a história tão delicada desses dois.
ResponderExcluirBjs