Ainda irritada e confusa com seus sentimentos por Galen, Filipa chegou finalmente ao seu hotel. Levou algum tempo para achar sua chave eletrônica em meio aos seus pertences na bolsa. Checou se o pote de creme ainda estava ali, enquanto subia ao 4º andar no elevador. Depois de fechar a porta, atirou-se sobre a cama e ficou a analisar o teto. Gostaria de esvaziar a cabeça de todas as informações que recebera de Galen e deixar de sentir aquela atração desesperada por ele. Ao tentar mudar o rumo de seus pensamentos, lembrou de seus pais e olhou o relógio de pulso, já acertado com o horário local. Havia esquecido de ligar pela manhã e só agora se dava conta que se enganara com a diferença do fuso. Eram 5 horas da tarde, portanto no Brasil seria 1 hora da tarde. Na noite anterior, poderia ter ligado, pois, na verdade, lá seria final da tarde. Correu para o telefone e pediu a ligação. Momentos depois ouviu a voz de sua mãe.
- Oi, mãe!
- Filha! Que bom te ouvir, querida! Está tudo bem? Como foi a viagem?
- Tudo ótimo, mãe! Amsterdã é linda e as pessoas muito gentis.
- E o tal professor... Que tal? Foi te receber no aeroporto?
- Sim, mãe... – Não quis entrar em detalhes. – E o pai, está bem?
- Está com saudades. Não pára de falar em você e já estava preocupado com a falta de notícias.
- Ele está em casa?
- Está aqui do lado, ansioso. Por acaso, ele veio almoçar em casa hoje... Calma, Arthur! Tchau, filhinha!
- Tchau, mãe! Beijo! – despediu-se rindo, imaginando os pais brigando pelo telefone. Era bom ouvir aquelas vozes, falando em português e fazendo-a sentir um pouco de normalidade.
- Pipa, minha filha! Por que demorou tanto a dar notícias? Aconteceu alguma coisa?
- Pai, eu cheguei ontem, lembra? Não faz tanto tempo assim. Poderia ter ligado ontem, mas fiz confusão com o fuso horário e achei que vocês estariam dormindo quando eu ligasse.
- Está tudo bem mesmo?
- Claro, pai.
- Ainda pretende continuar aí e viajar um pouco?
- Ainda não fiz um plano, mas provavelmente sim. Aviso assim que resolver, está bem?
- Não deixe de ligar.
- Tudo bem, pai. Estou com saudades, também, e é muito bom ouvir vocês.
- Sua mãe está gritando aqui do lado que as suas amigas já ligaram muitas vezes querendo saber de você.
- Se ligarem de novo, digam que mandei um beijo e que estou bem. Vou ter que desligar agora, pai. Te amo! Beijo!
- Também te amo, Pipa. Se cuida, filha!
- Pode deixar! Beijo!
Desligou o telefone com uma ponta de tristeza e saudade de sua casa e da tranquilidade de sua vida em Porto Alegre. Estava em Amsterdã há apenas dois dias e parecia que havia se passado uma semana. Tanta coisa acontecera...
Ouviu, então, um bip. Ele vinha de sua bolsa. O celular! Seria Andries ou O’Neill? Para o primeiro lembrava de ter dado o seu número e O’Neill, sendo da Interpol, devia saber qual era. Ele parecia saber tudo que dizia respeito a ela. Foi obrigada a esvaziar o conteúdo da bolsa sobre a cama para achar seu telefone e, finalmente, concluir que a ligação não era de nenhum dos dois. Era de Lair, seu colega genealogista. Ele já ligara diversas vezes pelo que pode verificar vendo o identificador de chamadas não atendidas. Talvez ele tivesse concluído a sua árvore genealógica e pudesse esclarecer esse mistério e, quem sabe, a origem dessa esmeralda.
Abriu seu laptop, agradecendo à gerência do hotel que liberava a rede wi-fi para os hóspedes. Num instante acessou seu email. Lá estava uma mensagem recente de Lair.
“Cara Filipa,
Não pude esperar por sua volta para lhe dar as últimas boas novas sobre a pesquisa que me pediu sobre a família de seu pai e lhe agradecer por ter o privilégio de realizá-la. Liguei várias vezes para seu celular, mas não consegui encontrá-la. Para resumir, seus ascendentes mais recentes vieram realmente da Holanda, como você havia suposto. Eles vieram de Amsterdã juntamente com a expedição de Maurício de Nassau. O casal imigrante, Rutger e Antje Zegers teve uma filha, já no Brasil, cujo nome veio a ser Filipa. Retrocedendo um pouco mais na historia genealógica, descobri que este ramo holandês na realidade descende de uma famíla francesa, que foi para a Holanda em torno do ano de 1347-48. A primeira Filipa, nascida em solo holandês, tinha como pais, Corine e Peter. Em virtude dos séculos passados, estou tendo alguma dificuldade em determinar a ascendência anterior deles na França. Estou contando com a ajuda de alguns amigos genealogistas europeus. Graças a eles, tenho algumas suspeitas sobre a origem dessas pessoas e o motivo que os levaram a Holanda, mas pretendo continuar a pesquisa e, quando tiver mais detalhes, contatar com você novamente.
Um abraço cordial.
Lair Saafeldt”
Então Andries estava certo. Realmente o arquiteto Rutger era seu ascendente, pensou Filipa.
Rapidamente digitou uma resposta ao e-mail, agradecendo o empenho de Lair e dizendo que aguardaria ansiosamente por notícias.
Logo em seguida voltou a sua cama e passou a recolher o conteúdo de sua bolsa, ainda esparramado ali. Ao pegar o pote de creme, notou que parecia mais leve. Aflita, abriu-o e constatou com desespero que seu anel havia sumido. Galen! Ele a roubara! Aquele bandido, desgraçado, a enganara direitinho com aquela conversa de Interpol, quando não passava de um ladrão miserável! Certamente se aproveitara quando ela fora ao toalete e esqueceu a bolsa na cadeira.
O som do telefone a tocar assustou-a. Refeita, atendeu a voz formal do outro lado da linha.
- Boa tarde, senhorita. Um agente da policia está aqui na recepção e gostaria de lhe falar.
- Agente da polícia? – surpreendeu-se. Teria Andries dado queixa de seu desaparecimento? Claro que sim. Os argumentos de Galen eram todos mentirosos e ele estava apenas dando um tempo com ela para afanar a sua joia. Quando ele percebeu que o anel estava com ela, em sua bolsa, aproveitou um momento de distração e... Ele realmente era um ladrão, pois ela nem percebera que fora roubada. Ainda veio com aquela história de dispositivo em seu cabelo! As lágrimas começaram a brotar de seus olhos. Sentiu-se ludibriada e... triste. A dor maior era ter sido enganada por alguém que despertara seu desejo e outros sentimentos que não sabia explicar. Ele era um grande ator e ela uma grande babaca. Acreditar numa carinha bonita sobre um corpo desejável. Bem feito por ser tão idiota!
- Senhorita? Está me ouvindo?
- S-sim, claro. Eu já vou descer. Peça que me espere um instante. – solicitou com a voz trêmula.
- Pois não, senhorita. – E desligou o educado recepcionista do hotel.
Calçou seu sapatos, limpou as lágrimas, suspirou profundamente e saiu em direção a recepção. Durante todo o tempo tentava imaginar o que diria ao policial. Contaria a versão sugerida por Galen? Tinha vergonha de dizer a um policial que tinha caído no golpe mais velho do mundo. Chegou ao saguão, ainda nõ resolvida sobre o que diria ao policial, quando viu uma mulher jovem e muito bonita, vestida com um discreto tailleur marinho, usando os cabelos castanho-claros presos em um coque na nuca, andando em sua direção.
- Senhorita Vasconcelos? – perguntou com um estranho sotaque.
- Sim, sou eu.
- Meu nome é Emma Donahue e sou investigadora da policia local.
- Sim?
- Fomos informados de seu desaparecimento pelo Professor Andries Van Persie. Há pouco recebemos a informação de sua volta ao hotel e gostaríamos de nos certificar sobre o que houve.
- Podemos nos sentar ali? – perguntou Filipa apontando para o conjuntos de estofados do lobby. Sentia-se um pouco tonta.
A investigadora a acompanhou e sentou-se em uma das poltronas a frente dela.
- E então, senhorita, pode me dizer o que aconteceu?
A voz da mulher era fria, mas, ao mesmo tempo, tranquilizadora.
- Eu ia ligar para o And...Professor Andries para dizer que estava bem, mas ainda estou um pouco abalada com o que aconteceu.
A mulher permaneceu calada, apenas olhando-a de forma intimidadora.
- Bem... Eu fui sequestrada por um tipo que eu nunca tinha visto antes. – Começou a inventar a versão de Galen. – Ele me colocou dentro de um porta-malas de um carro e me levou para um lugar longe do centro. Quando ele me tirou de lá, consegui derrubá-lo e fugi. Acho que ele bateu com a cabeça na queda e...
- A senhorita tem uma grande imaginação pelo que posso observar.
- Como assim?
- Por que está defendendo quem realmente a levou.
Filipa baixou a cabeça, envergonhada. Nem ela mesma sabia porque inventara aquela história.
- Nós prendemos o sujeito que a raptou... Um tal de Arent Dupret.
- Oh, meu Deus...
- Ele nos disse que um outro homem apareceu e a levou com ele. O nome desse outro homem é Galen O’Neill. A senhorita o conhece?
- Sim... Não... Quer dizer... Conheço pouco... Ele me disse que trabalhava para a Interpol...
- Foi o que ele lhe disse?
- Sim. – disse chateada com o olhar de pena que a outra lhe deu.
- Galen O’Neill é um ladrão de joias conhecido e procurado em diversos países.
- Ah, não... – Era a confirmação que precisava para cair na realidade. Sentiu os olhos se encherem de lágrimas mais uma vez, mas conseguiu represá-las pois não queria demonstrar o que sentia àquela mulher.
- Deu alguma coisa de valor para ele ou sentiu falta de algo?
- Sim – falou, relutante em mostrar-se como uma otária.
- Sinto muito que ele a tenha enganado. – A policial pareceu sentir prazer em sua afirmação. Filipa sentia-se como uma retardada mental. – O que ele levou?
- Um anel de família.
- Um anel? – pareceu surpresa ao ouvir a declaração de Filipa. – Pode descrevê-lo?
- É uma esmeralda retangular, grande, emoldurada por pequenos brilhantes... – Parou sua descrição subitamente e perguntou com cara de choro contido. – Ele é mesmo um ladrão?
- Infelizmente, sim... Ele usa de sua boa aparência para ludibriar mulheres...
- Não precisa entrar em detalhes, por favor! – interrompeu-a Filipa quase gritando.
Emma tirou um IPad de sua bolsa e digitou algumas palavras e logo estava no site da Interpol com a lista dos mais procurados.
- Olhe essa foto e me diga se é esse o homem que a roubou.
Filipa teve que conter o gemido de dor ao ver a foto de Galen com seu nome, alguns dados biográficos e um pequeno resumo de seus crimes logo abaixo.
- Convencida?
- Sim... – disse derrotada e infeliz.
- Posso gravar o seu depoimento confirmando o roubo e a identidade do homem que a enganou?
- Aqui? ... Assim?
- Certamente. Não queremos criar maiores constrangimentos para a senhorita. Estamos atrás de O’Neill há muito tempo e com a sua ajuda poderemos pegá-lo mais facilmente. Ele não deve ter tido tempo de atingir a fronteira ainda. Com seu depoimento poderemos dar a ordem de prisão imediatamente, assim que o localizarmos.
- Preciso tomar uma água, por favor. – A tontura e uma terrível dor de cabeça ameaçavam a consciência de Filipa.
- Por favor. – disse fazendo um gesto com a mão para deixa-la à vontade. – Vou entrar em contato com o meu comando e poderemos gravar a sua denúncia.
Filipa levantou-se e foi lentamente até o bar, a poucos metros de distância de onde estavam sentadas. Enquanto aguardava sua água mineral, apoiada no balcão, viu Emma ao telefone. Vislumbrou um sorriso de vitória, que a magoou ainda mais fundo, antes que a mulher desligasse o celular e voltasse sua atenção para o Ipad. Ali gravaria sua imagem e suas palavras que ajudariam a prender Galen e a transformariam na mais nova vítima de um golpista sujo e ordinário.
(continua...)
Infelizmente, o meu tempo continua escasso, por isso vou postar à medida que conseguir escrever as partes dos capítulos. Agradeço a compreensão de vocês e o apoio dos amigos.
Um beijo enorme para todos e muito obrigada por continuarem me acompanhando.
Até mais!
Poxa, tadinha de Filipa, assim fica difícil confiar em alguém. Agora mais essa Emma pra complicar a sua já complicada vida.
ResponderExcluirDepois de tantos cuidados perdeu o anel. Estou tentando reconstituir os capítulos passados pra tentar perceber em que momento se deu esse furto, mas descobri que não tenho nenhum tino pra investigação amiga!
Espero que você consiga resolver logo os contratempos.
Beijos querida e uma excelente semana!!
Oi, querida! Pois é... A vida da Filipa está cada vez mais complicada (acho que é reflexo da minha...rsrs). Mas o Galen, como ladrão profissional, pode ter roubado o anel enquanto conversava com ela. Sob a mesa pode ter mexido na bolsa pegado o pote de creme e retirado o anel. Lembra que ele devia saber que o anel estava dentro do pote, pois o RX da polícia federal detectou o objeto na viagem dela. Ele é muito rápido... Tu achas que eu devia colocar algum momento, como ela ir ao banheiro, por exemplo, e ter esquecido a bolsa? Tem coisas que eu posso deixar passar agora, quando coloco em capítulos, e que depois posso melhorar, caso resolva editar em livro. Estou aberta a sugestões. Às vezes quem está lendo, de fora, percebe coisas que a gente pode deixar passar, principalmente numa trama como essa, que está queimando os meus escassos neurônios para tornar tudo verossímil. Imaginei algumas coisas, que na hora de escrever tiveram que ser mudadas. Aí, muda todo o resto. Conto contigo e com as minhas fiéis escudeiras para me dar dicas, de verdade, tá? Não vejo a hora de chegarem as férias, para poder ter um tempinho a mais para escrever. Serviço doméstico dá uma trabalheira, é infindável e poucos notam :(
ResponderExcluirUm super beijo, meu anjo!
Reli os três últimos capítulos pra me orientar e de repente...
ExcluirFicou perfeito amiga!!!
"Caso resolva editar em livro"? Como assim? Já estou vendo até a capa!
Beijos!!!
Só tu mesmo para me animar, Nadja! Então gostaste da minha modificação? Realmente acho que ficou melhor com a explicação. Muito obrigada, querida, pela bela dica. E por favor, sempre que tiveres alguma observação, não te acanhes e me fala, pois só podes acrescentar e melhorar.
ExcluirDepois quero saber como vês a capa, tá bom? Fiquei curiosa.
Beijinhos!
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirOlha Rô, eu até consegui realizar como O'Neill poderia saber onde estava a jóia de Filipa para que ele pudesse pegá-la. Mas eu, além de não confiar nem um pouquinho em Andries, já não confio mais em O'Neill, e não confio nadinha nessa Emma - e nem duvido que ela tenha alguma conexão com Dupret e os dois estejam armando para enredar Filipa. Não sei se meus instintos estão corretos. Mas ficarei aqui, ansiosa para descobrir nos próximos passos da nossa heroína.
ResponderExcluirBjim ♥
Um ótimo natal em famíla pra ti, amiga. Um ano inspirado e coroado de realizações pessoais é o que lhe desejo. Em fevereiro, teremos nosso pequeno herdeiro, Rafael. Não lembro se já havia lhe falado sobre isso antes. Vêm gente nova por aí...
ResponderExcluirCésar e Dioceli!
ExcluirMuito obrigada!Igualmente desejo a vocês um Natal Muito Feliz, com muita alegria e paz no coração. Sei que o presente vai chegar só em Fevereiro, mas já devem estar curtindo desde já...rsrs. (eu já sabia). Um beijo muito carinhoso nesse casal lindo e no anjinho que vem por aí.
Minha nossa senhora estou chocada que cilada, mas ainda fiquei com uma pontinha de desconfiança dessa Emma quem não garante que isso tudo faça parte do teatro da máfia de Andries? Bom veremos o desfecho nos próximos post ai minhas unhas... kkk
ResponderExcluirCruzes!!! Fiquei com depressão instantânea ao ler esse capítulo kkkkkkkkkkkkk Como pode a delícia do Galen fazer uma sujeira dessas!!! Tadinha da Pipa, nossa, se fosse eu no lugar dela correria para o quarto, me trancaria e desabaria no choro, acabaria por dormir em decorrência do cansaço por tantas lágrimas!
ResponderExcluirRô, amiga, cada capítulo mais emocionante que o outro, está ótimo!!!
Não confio nessa Emma, se bem que nessa altura do campeonato, a Pipa deveria se guiar pelo dito popular: “à noite, todos os gatos são pardos”. Ela já viu que a cada hora surge algo ou alguém que a faz pensar de forma inversa como vinha pensando, e isso indica que algo muito grande e sujo está por trás da trama. Ela terá que ter muita calma, olhos abertos, pés no chão e coragem! Eu acho que o Galen deve ter mesmo subtraído o anel, mas não com o intuito de enriquecimento, e sim, para protegê-lo, pois ele tem a exata noção do perigo que a Pipa estava correndo em portá-la consigo. Sei lá, o Galen é tão galante, acho que já me conquistou tb... hehehe
Beijinhos