sábado, 7 de janeiro de 2012

O Corsário Apaixonado - Capítulo XVII(1ª parte)

A carruagem encurtava rapidamente a distância entre Córdoba e o Reino de Villardompardo, deixando para trás um rastro de poeira na estrada pouco movimentada àquela hora do dia. Com sorte a pequena comitiva chegaria ao castelo no meio da tarde.
A chegada a Cádiz fora relativamente tranquila. Brett assumira seu posto de capitão substituto dois dias depois da despedida de Crow, apesar da insistência de Tina e de Ana para que ele continuasse em repouso. Para evitarem surpresas nas fronteiras marítimas espanholas, Brett ordenou que o nome do Highlander fosse disfarçado, colocando sobre ele um painel de madeira com o nome de Hidalgo. A bandeira espanhola foi içada um dia antes de atracarem na conhecida cidade portuária. Após o desembarque, Brett ordenou que o Highlander ficasse ancorado no porto de Cádiz até sua volta, que deveria ocorrer em torno de dez dias. Achava que esse seria o tempo suficiente para que Ana pudesse resolver os problemas com sua herança.
Para explicarem sua aparência anglo-saxônica, Brett e seus companheiros, Liam e Bald, fizeram-se passar por irlandeses, visto que nos últimos tempos a Espanha tinha oferecido apoio a causa irlandesa contra a Inglaterra. Decidiram não formar um grupo muito numeroso para não chamar a atenção em demasia. Alugaram um coche, compraram víveres e vinho, para evitar as pousadas no meio do caminho e, dessa forma, chegarem o quanto antes em seu destino. O Castelo de Villardompardo. Apesar da profunda tristeza que acompanhava Ana, Tina notou uma mudança na postura da amiga, que passou a olhar mais demoradamente pela janela da carruagem, esboçando um tênue sorriso. Certamente a região lhe trazia recordações da infância passada na Espanha. As terras dos Villardompardo pareciam férteis e eram bem cuidadas, apesar da ausência de seu duque. Aparentemente Ana não teria problemas financeiros ou dificuldades em manter a boa rentabilidade de sua área cultivada ou dos rebanhos que abundavam as imensas pastagens.
Já se encontravam a poucas milhas da cidadela que circundava o castelo, quando um grupo de homens armados surgiu entre as árvores da estrada estreita, ameaçadoramente, ordenando que parassem. Temerosos que fossem assaltantes, Brett e seus amigos, montados em seus cavalos e prontos a defender as mulheres que estavam dentro do coche, não obedeceram a ordem e mandaram o cocheiro acelerar ainda mais, forçando o galope dos cavalos, enquanto eles se mantinham na retaguarda para retardar o avanço dos prováveis salteadores. De espada em punho, ameaçavam os homens, enquanto a carruagem voava em direção ao burgo, com Tina e Ana desesperadas com a situação e incapazes de ajudar. Essa condição logo foi interrompida, pois mais um grupo surgiu a frente do cocheiro, assustando os cavalos e obrigando-os a parar. Tina e Ana no mesmo instante sacaram seus punhais, que levavam  presos aos tornozelos, escondendo-os da vista dos assaltantes entre os panos de suas saias. Pretendiam surpreende-los, caso as atacassem. Através da janela viram Brett e os outros serem trazidos sob a mira de ancinhos e espadas.
- Quem são vocês que ousam invadir as terras do Duque de Villardompardo? – perguntou o cavaleiro mais velho e bem vestido do grupo de dez homens.
Ana já fazia menção de esclarecer sua posição de herdeira, quando Tina a fez calar-se. Até prova em contrário eles eram assaltantes perigosos, que poderiam sequestrar Ana e pedir resgate caso soubessem quem era ela.
- Pensei que o ducado era um território livre e que receberia viajantes cansados, necessitando de pousada. – argumentou Brett, tentando manter a frieza até saber com quem estava lidando.
- Vocês são ingleses? – exclamou irritado o suposto líder ao notar o sotaque de Brett.
- Somos irlandeses e estamos a caminho de Granada – mentiu, pensando rapidamente num destino próximo e plausível.
- Por que estão tão longe de suas terras? – voltou a perguntar o chefe do bando.
- Por que esse interrogatório? Não imaginava que assaltantes de beira de estrada tivessem preocupações com o destino de suas vítimas.
Ao ouvir tal alegação o homem começou a rir, seguido por seus pares.
- Nós? Assaltantes? Hahaha!
- O que podemos pensar de um grupo armado que perturba a passagem de uma carruagem com uma  escolta? – indagou Brett.
- Senhor! Tem duas mulheres na carruagem! – gritou um dos sujeitos que interceptara o coche, chamando a atenção de seu chefe.
- Duas mulheres? – disse subitamente surpreso.
Olhou para Brett e os dois mal encarados que o acompanhavam, concluindo que poderia estar enganado quanto às intenções deles. Desceu de seu cavalo, dando sinal para que os três prisioneiros continuassem sob a mira das armas, e andou até a carruagem para verificar pessoalmente a informação recebida.
- Por favor, senhoras, desçam para que eu possa vê-las melhor.
- Não ouse tocá-las! – gritou Brett ansioso, preparando-se para defender a honra de Tina e de Ana com a própria vida.
Tensas e prontas para atacar qualquer um que as importunasse, desceram e, altivamente, encararam o homem.
- Não é possível... – disse o sujeito boquiaberto como se estivesse diante de um fantasma. – Lady Eleanor...?
Ana, por sua vez, olhou mais atentamente para o rosto, que agora lhe parecia familiar e animou-se a falar.
- Lady Eleanor era minha mãe... Don Esteban?
- Então... É a pequena Ana, filha de Ramon? – perguntou abismado com a revelação a sua frente.
- Sim... – confirmou Ana, subitamente aliviada ao reconhecer o homem que tinha sido o braço direito e amigo de seu pai nos tempos em que morava em Villardompardo.
- Não é possível... – seus olhos tornaram-se brilhantes pela evidente emoção. – Então o que disseram era verdade... Você está viva...
- O que está acontecendo aqui? Por que nos atacaram?
- Peço-lhes perdão. Eu não sabia que ... Cristóbal... Ele disse que ia atrás da senhora, apesar de não termos certeza que a informação era verdadeira. Onde ele está? – perguntou, olhando para os lados, preocupado e subitamente sério.
- Ele está morto.
Ana achou ter vislumbrado uma sombra de alívio e até o esboço de um sorriso na face de Esteban.
- Sinto muito por seu tio, senhora. – disse curvando-se em reverencia e falso pesar pela notícia da morte de Cristóbal.
- Pois eu não sinto nada.
- Estes homens são seus acompanhantes, por supuesto?
- Certamente.
- Hombres! Abaixem as armas! – ordenou sorrindo – A Duquesa de Villardompardo retornou a su casa, com la gracia de Dios!
A nova ordem fez com que Brett, Bald, Liam e Tina relaxassem. Parece que Cristóbal não era muito bem quisto entre seus vassalos também, levando em conta as expressões de alegria em seus rostos.
- Por favor, sigam-nos. – pediu Esteban. – Assim que estiverem acomodados e alimentados, teremos muito a conversar, Dona Ana.
Desculpas oferecidas e aceitas, o grande grupo seguiu em direção ao castelo, onde Ana e seus amigos foram acomodados em cômodos espaçosos e confortáveis. A Ana foi oferecida a suíte de Cristóbal, que no passado pertencera a seus pais e para onde o tio se mudara logo após a notícia do desaparecimento da família. Apesar de ser seu direito, não aceitou o oferecimento e escolheu um dos quarto de hóspedes. Banhados e descansados, sentindo-se em segurança, todos desceram ao grande salão onde seria servido o jantar. O castelo, em seu interior, era também revestido de pedra, com as paredes cobertas por grandes tapeçarias coloridas, com cenas de caça e imagens bucólicas. Lustres de madeira gigantescos desciam do teto alto lançando as luzes de centenas de velas sobre o magnífico salão, adornado com pesados móveis de madeira escura trabalhada, com adereços em ferro batido. Ao centro, a mesa retangular, que acomodaria mais de trinta pessoas, já estava pronta para receber os convidados. Coberta com assados de porco e de carneiro, tigelas com molhos suculentos, pães de formas e texturas variadas, queijos perfumados e gamelas de cobre com frutas diversas, que davam um colorido especial à decoração gastronômica, deslumbrou os olhos dos piratas mal acostumados às regalias da nobreza. Antes de sentarem-se foram feitas as devidas apresentações dos acompanhantes de Ana. Alguns dos homens que acompanhavam Esteban à tarde e que os havia rendido estavam presentes à mesa. Desde que Cristóbal partira em busca da sobrinha com intenções pouco esclarecedoras, Esteban permitia que seus homens de confiança compartilhassem as refeições no salão principal, coisa que jamais o Villardompardo remanescente permitiria. Resolveu dar essa regalia a eles, já que contava com sua ajuda fiel para manter a defesa do castelo e das terras contra os bandidos que normalmente ameaçavam saquear e até mesmo tomar posse do castelo. Essa foi uma das razões do ataque feito à comitiva de Ana naquela tarde, conforme explicou o atual administrador do castelo após o jantar. Infelizmente, a participação da Espanha em tantas guerras e o depauperamento da economia, devido aos grandes investimentos na Marinha, provocaram um aumento considerável na população dos desocupados e saqueadores. Por esse motivo, eram obrigados a manter turnos de vigilância para prevenir ataques aos rebanhos e cuidar da defesa da população do ducado.
Durante o jantar, Esteban contou como acabara por assumir a administração do feudo depois que Ramon e a família partiram inesperadamente. Cristóbal não era bom administrador. Gastava demais e não cuidava suficientemente bem de seus vassalos para que esses pudessem retribuir com bons lucros. Em vista do que acontecia, em breve ele colocaria toda a fortuna dos Villardompardo em ruínas. Por isso, Esteban resolvera intervir e, depois de várias discussões, convencera Cristóbal a deixar a parte administrativa a seu encargo e preocupar-se apenas com seu lazer.
- Don Esteban, preciso lhe agradecer por ter mantido as terras de meu pai tal e qual me lembrava da minha infância.
- Cumpri apenas com meu dever e em memória a seu pai, que sempre foi um amigo muito especial para mim...... – disse com evidente tristeza na voz – É um prazer e uma grande felicidade tê-la de volta ao lar, minha cara.
Ainda durante o jantar, Ana acabou por revelar sua surpreendente história, desde o modo como perdera seus pais até o momento em que conhecera Crow e seus amigos, causando comoção com sua narrativa.
- Sinto imensamente por Ramon e Eleanor... Eles não mereciam ter um fim como esse...  E você, minha pequena Ana... Provou ser uma pessoa de coragem e fibra, tal e qual seus pais. - É... Mas se não fosse por Crow... – sua face nublou-se de tristeza ao falar o apelido de Nigel – e por esses caros amigos que me acompanharam nessa aventura – terminou por dizer olhando para os quatro que estavam ao seu lado na grande mesa – eu jamais teria chegado aqui.
- Esse pirata Crow parece ser um homem de grande valor e coragem. – comentou Esteban admirado com o que fora revelado por Ana, a respeito dos motivos da separação dos dois, momentos antes.
- E ele é... – seus olhos turvaram-se. – Podem me dar licença, por favor?
Não esperou a resposta dos demais. Levantou-se e rapidamente dirigiu-se para seus aposentos no andar superior, segurando-se para não chorar diante de estranhos.
- Ana! – exclamou, Tina, preocupada com a amiga e começando a levantar-se da mesa.
- É melhor deixá-la, Tina. Ela precisa descansar. – argumentou Brett segurando-a pela mão, evitando que saísse da mesa.
- Chorar faz bem... Alivia a alma, clareia a mente e renova a esperança de um coração sofrido – disse Esteban pensativo, levantando sua taça de vinho para o casal a sua frente.

(continua...)


Olá! Parece que as coisas estão se encaminhando bem para a Ana no seu retorno a Espanha. E quanto ao Crow? Aguardem a próxima postagem.
Queria agradecer as minhas queridas amigas Nadja e Aline que deixaram seus comentários na última postagem e a todos que, mesmo não deixando comentário, vieram até aqui e curtiram mais esse pedacinho do meu romance.
Um grande beijo a voces e até a próxima!

3 comentários:

  1. Oi Rô!!! Feliz Ano Novo amiga!!!
    Fiquei emocionada com o capítulo, a volta de Ana ao lar e o reencontro com alguém bom do passado me fizeram chorar, mas os teus romances sempre conseguem o efeito de mexer com a gente...
    Não vejo a hora de tudo se resolver e tenho a impressão de que quando Nigel e ela finalmente se reencontrarem e ficarem juntos vou precisar de um lencinho pras lágrimas.
    Beijo amiga querida, te adoro!!!

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  2. Nossa, imagino que ao aportar na Espanha, a memória de Ana deve ter ficado a mil! Quantas lembranças vieram à tona, saudades de um tempo e de pessoas muito queridas que a vida separou por definitivo.
    Adorei esse castelo! Que bom que logo tiveram a sorte de se deparar com Don Esteban. Mas fico imaginando essa situação, a Ana se reencontrando com tudo o que já havia sido seu e que permanecia, ainda assim, por direito. Mas a saudade, a falta de notícias do seu amado deveria estar causando uma grande sombra sobre qualquer momento de felicidade ou alívio que pudesse acontecer. Como ela poderia tentar usufruir de qualquer benesse que a vida estava lhe devolvendo, se nem poderia imaginar como o seu amado estava, em como a sua situação seria resolvida. É muito duro isso. De nada adianta tanta riqueza, se o que mais nos importa não está conosco. Acho que, em qualquer situação, a falta de notícias é a pior coisa, traz uma angústia muito forte.
    Mas as coisas estão caminhando como deveriam. Era preciso o Nigel tentar resolver seus problemas e a Ana se reaproximar de seu passado. O duro é que estão tendo que enfrentar essas tormentas sozinhos, seria menos pesaroso se pudessem estar enfrentando tudo isso juntos.
    Esse capítulo nos deixa com o coração apertado, pequenino... Parabéns pela sua sensibilidade sem tamanho, Rô! Seu conto está lindo!
    ♥Beijinhos♥

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  3. Rosane quero te desejar nesse ano novo tudo de maravilhoso que existe nesse mundo abençoado por Deus e que os anjos digam amém.

    Vejo que está na reta final, mal posso esperar pra ver o reencontro desse doce casal, a surpresa do Pai do Crow e claro um herdeiro, ou quem sabe gemeos... kkk!

    * * *beijãooo* * *

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