sábado, 28 de janeiro de 2012

O Corsário Apaixonado - Capítulo XVIII

Palácio de Villardompardo


Pelo menos esses dois estão felizes, suspirou Ana, pensativa ao ver Brett e Valentina caminhando de mãos dadas entre os canteiros de flores dos jardins do Castelo de Villardompardo, rindo de alguma bobagem que ela havia dito. Apesar da boa acolhida recebida por Esteban em sua antiga residência, não conseguia sentir-se à vontade. Visitara todos os seus locais favoritos da infância nas redondezas e relembrara os momentos mais felizes que passara junto aos seus pais antes da tragédia que os levara embora, mas a falta de notícias de Crow a estava deixando doente. Algo lhe dizia que ele estava em perigo.  Não via a hora de deixar a Espanha e seguir para a Inglaterra. Haviam se passado quase duas semanas que estavam ali e ainda não conseguira uma audiência com o arcebispo para garantir o que era seu por direito. Pensou que seria fácil; dizer que estava viva, voltar correndo para os braços de Crow e decidir o que fariam de suas vidas. Agora o tempo estava passando e ela, presa naquela terra, distante, sem saber o que estava acontecendo com ele.
- Ana...
- Ah, Don Esteban... – respondeu surpresa, virando-se em sua direção.
- Pensando em seu Nigel?
- Sim...
- Tenho boas notícias. Meu emissário acabou de chegar. Conseguiu a bendita audiência com o Arcebispo de Córdoba para amanhã pela manhã. Ele estará em Las Torres, que fica a poucos quilômetros daqui, fazendo uma visita a um amigo que mora no mosteiro da cidade, e aceitou recebê-la lá mesmo. 
Ana respirou fundo e sorriu diante de tal novidade.
- Já não era sem tempo.
- Você tem os documentos que seu pai lhe deixou, não?
- Sim... Eu os guardo comigo desde que minha mãe faleceu. Cristóbal tentou roubá-los de mim, mas não conseguiu.
- Aquele miserável! Quando penso que ele propôs casar-se com você, tenho ganas de matá-lo de novo. O arcebispo vai querer saber o que aconteceu com ele.
- Não se preocupe. Eu saberei o que dizer. Já havia pensado nessa possibilidade...
- Que bom...
- Don Esteban, gostaria de agradecer por receber meus amigos, sem levar em conta a nacionalidade do Brett.
- Ele é irlandês, não? – perguntou piscando um olho, brincalhão.
- É... É claro... – respondeu Ana sorrindo,  grata pela compreensão do amigo, mantendo a farsa.
- Ana, saiba que pode contar comigo como se fosse seu pai. Sei que jamais substituirei Ramon, mas estarei aqui sempre que precisar de mim... Está bem?
Emocionada, não pode evitar uma lágrima escorrer sobre seu rosto. Esteban abraçou-a, confortando-a, entendendo o que se passava com a jovem.
Ana agradeceu comovida e correu para contar a novidade à Brett e Valentina.

- Então, isso significa que poderemos partir em muito breve! – entusiasmou-se Brett. – Preciso avisar Liam e Bald. Eles andam preocupados com o Highlander atracado em Cádiz, assim como eu.
Valentina deu um beliscão em seu braço, para lembrá-lo de não perturbar Ana com suas apreensões.
- Ai! Este doeu, Tina!
- Não se preocupem. – Ana os tranquilizou esboçando um pálido sorriso – Também não vejo a hora de poder voltar a Inglaterra e acabar com essa tortura.
- Ele vai estar bem, Ana. O Crow sabe se cuidar... – animou-a, tentando esconder o seu medo pela vida do amigo.
- Brett, – disse subitamente séria –  partiremos depois de amanhã para Cádiz, independente do que esse arcebispo disser. Não posso mais aguentar essa espera. Sinto que Nigel precisa de mim... Amanhã retomo os direitos de minha família e vou atrás dele. Já esperei demais!
- É assim que se fala! – vibrou Tina com a volta da determinação de Ana, saindo da apatia em que se encontrava ultimamente.

No dia seguinte, Ana negou-se a subir na carruagem colocada a sua disposição por Esteban, preferindo ir a cavalo, junto com  o administrador e um pequeno grupo de homens armados para defendê-los de salteadores de estrada. O trajeto de cerca de trinta quilômetros foi rapidamente percorrido.  Antes da hora marcada pelo secretário do Arcebispo, representante da coroa espanhola na província de Jáen, Ana e seus acompanhantes chegaram a Las Torres, uma pequena cidade que crescera em torno do mosteiro onde o religioso a atenderia.
Após uma espera de mais de duas horas, uma sala privada foi aberta para a audiência extraordinária concedida pelo clérigo à pretensa Duquesa de Villardompardo.
Mosteiro de Las Torres
- Vossa Excelência Reverendíssima... – cumprimentou Ana com uma grande mesura, conforme a orientação de Esteban quanto à forma de ela conduzir-se perante a autoridade eclesiástica.
- Aproxime-se, minha jovem. – disse ele, estendo-lhe a mão para que ela beijasse o anel episcopal em seu dedo anular.
O arcebispo era um homem de meia idade, cabelos brancos e expressão cansada, mas bondosa.
- Sinto interromper  vossa visita ao mosteiro e ao vosso amigo, mas tenho urgência em resolver este problema. – disse após afastar-se um pouco conforme exigia o protocolo.
- Meu secretário falou sobre a sua solicitação... Tem algum documento que a reconheça como filha do Duque Ramon de Villardompardo?
- Sim, V. Ex.ª Rev.ma    respondeu Ana prontamente entregando os documentos ao secretário, um sacerdote alto e muito magro, que se aproximou dela a um gesto do arcebispo. Pegou os documentos e prontamente levou-os ao seu superior.
De posse dos papéis, leu-os atentamente. Por fim, fitou-a por alguns instantes e finalmente falou.
- Saberia me dizer o que aconteceu com Cristóbal?
- Meu tio conseguiu encontrar-me, mas infelizmente acabou perdendo a vida durante um ataque ao navio que nos transportava. – afirmou isso com a melhor expressão de pesar na face, graças aos anos passados junto a Didier aprendendo a causar compaixão nos incautos.
- Tem como provar isso?
- Apenas minha palavra e o anel com o selo do ducado que ele usava quando morreu – afirmou, lembrando do momento em que Arthur havia lhe entregue a jóia, exatamente pensando que ela poderia ter alguma utilidade mais tarde.
- Acho que posso confiar em sua palavra – disse o padre com um sorriso benevolente e voltando o olhar para os papéis em suas mãos. – Aqui  há uma carta escrita pelo duque onde ele registra que sua única filha apresenta uma marca de nascença em forma de coração no pescoço. É possível mostrá-la a mim?
- Sim, V. Ex.ª Rev.ma. 
Ana aproximou-se respeitosamente da cadeira de espaldar alto, em madeira delicadamente entalhada, onde o arcebispo estava sentado e ajoelhou-se diante dele, curvando o pescoço e afastando os cabelos para evidenciar a prova que confirmaria sua ascendência.
- Bem, parece que não há dúvidas. A senhora é mesmo a herdeira do Duque de Villardompardo. Que isso seja registrado nos autos da Igreja e levado ao conhecimento do Rei Felipe II – ordenou diretamente ao seu secretário.
- Obrigada, V. Ex.ª Rev.ma.
Quando pensava em retirar-se, o arcebispo voltou a falar-lhe.
- Você é casada, minha filha?
- Sim, excelência! – exclamou Don Esteban prontamente, surpreendendo Ana e deixando o clérigo aborrecido com sua intervenção.
Ana, mesmo sem saber o motivo da interferência tão drástica de Esteban, resolveu confirmar sua resposta na mesma hora.
- Sim, V. Ex.ª Rev.ma, mas infelizmente meu marido não pode me acompanhar, pois está na França tratando de negócios.
- Ah, então está tudo resolvido.
- Perdão... Não entendi...
- Para manter suas terras e seus bens, precisa de um marido que os administre, caso contrário, perderá seus direitos.
- O quê? – disse indignada, esquecendo do tratamento reverente que mantivera até agora. – Isso é um absurdo!
- V.Ex.ª Rev.ma, pode nos liberar? Minha senhora está muito nervosa pela ausência de notícias do marido, mas em sua falta, eu me comprometo a administrar as propriedades, como vinha fazendo  até agora com a anuidade de  Don Cristóbal.
- Eu compreendo... Nós esperaremos seis meses pela volta do marido da Duquesa, caso contrário, ...
- Caso contrário...? – perguntou Ana.
- Nós encontraremos um bom marido para a senhora. Não se preocupe...
Ana ficou sem fala tal sua indignação quanto ao tratamento dispensado por ser ela uma mulher e não um filho varão. Antes que pulasse no pescoço do arcebispo, coisa que Esteban passou a temer ao ver a expressão de raiva em seu rosto, ele a retirou rapidamente da sala de audiência improvisada, fazendo muitas reverências e agradecimentos pela boa vontade de V.Ex.ª Rev.ma.
- O que esse bispo está pensando? – indagou Ana furiosa, quando ficaram a sós, com a discriminação que estava sofrendo apenas pelo fato de ser mulher.
- Calma, Ana! Eu me esqueci de lhe contar sobre esse detalhe.
- Por isso falou que eu era casada?
- Sim. Pelo menos ganhamos tempo. Ele indicaria um marido a sua revelia imediatamente, se não dissesse que era casada.
- Mas isso é um completo absurdo!
- Olhe... Vamos para casa e lá discutiremos como resolver esse problema.
- Vou partir hoje mesmo para Cádiz, Don Esteban. Vou atrás de Nigel.
-  Aí temos outro problema.
- Que problema? Eu caso com ele e fica tudo bem.
- Esqueceu que ele é inglês e que a Espanha está em guerra com a Inglaterra?
Ana revirou os olhos e depois os fechou, abaixando a cabeça, em postura de derrota.
- Então... Não há o que fazer. Minha vinda foi inútil e vou perder tudo que era de minha família.
- Talvez um casamento de conveniência...
- E o senhor acha que vou me submeter a um casamento de conveniência? Jamais! – afirmou categórica.
- Talvez seja a única saída possível para esta situação. Não posso permitir que coloque fora o patrimônio de sua família.
- Também não quero que isso ocorra, Don Esteban. Tenho seis meses para pensar em como resolver esta situação. Quem sabe a guerra chegue ao fim...? Até lá, hei de encontrar uma saída. No momento, tenho que lhe pedir que continue tomando conta de Villardompardo. Eu preciso viajar até a Inglaterra e tentar saber o que está acontecendo com Nigel, senão enlouquecerei.
- Eu entendo, minha filha... Eu entendo.... Vou tentar achar uma solução. Talvez esteja certa. Muita coisa pode acontecer em seis meses. Vá encontrar o seu Nigel e não se preocupe. Eu continuarei cuidando de tudo por aqui.
- Muito obrigada, Don Esteban...
Após uma refeição frugal no mosteiro, retornaram para o castelo. Chegaram ao início da tarde e logo Ana comunicou aos amigos de sua resolução, para alegria de todos. De comum acordo, decidiram que Liam e Bald partiriam imediatamente para a costa de Cádiz, para reunir a tripulação e preparar a caravela, enquanto Ana, Brett e Valentina seguiriam na manhã seguinte, pouco antes do alvorecer.

Após a refeição conseguida por Castilhos, Crow sentia-se melhor e  os acessos de tosse pareciam ter sido aliviados pelos goles de vinho. Continuaram a navegar nas partes mais profundas do rio para evitar que alguém tentasse interceptá-los. Vez por outra viam pequenas embarcações levando mercadorias que certamente seriam vendidas no mercado de Londres. Cruzaram com uma caravela de origem portuguesa, que provavelmente trazia sal, vinho e azeite aos ingleses, que nem se apercebeu de sua presença.
Em poucas horas, Crow identificou a cidade de Gravesend ao avistar a torre da igreja e perceber o movimento um pouco maior de barcos, que tinham ali uma de suas entradas na grande ilha, vindos do Mar do Norte.
- Creio que é aqui que descemos. – alertou Crow – Vamos remar para a margem direita. Daqui seguiremos a pé rumo a Ashford, o que significa mais umas doze horas de caminhada.
- Que tal conseguirmos um lugar para repousar? –perguntou Castilhos lembrando a agradável noite anterior.
- Acho que não devemos abusar da sorte. Ninguém nos garante que não haja soldados nos acompanhando pelas margens e que estejam apenas aguardando o momento para nos prender.
-Não somos tão importantes assim, caro amigo...

- Talvez tenha razão... Porém, de qualquer

maneira, não gostaria de arriscar. Agora que

chegamos até aqui, não pretendo voltar.
- Usted tiene razón...

Alcançaram a margem direita após certo esforço

para escapar da corrente. Tão logo

desembarcaram, soltaram o bote ao sabor das

correntezas que levavam ao estuário do Tâmisa.
- Creio que conseguiremos nos aguentar com

essas frutas que sobraram e tendo a água do rio

para beber. Melhor partirmos o quanto antes.
Castilhos concordou com a cabeça. Não perderia

tempo em discussões com seu "guia". Apesar do

que dissera para Crow a respeito de seus motivos

para retirá-lo da prisão, sua principal motivação

fora o total desconhecimento dos caminhos que o

levariam de volta a Dover. Antes da admiração

por seu anfitrião na Inglaterra, vinha o amor por

sua pele. Certamente, na atual situação bélica

entre seus países, um espanhol foragido da prisão,

pedindo informações sobre o melhor caminho a

seguir em terras inglesas, seria no mínimo uma

temeridade. Não queria voltar tão cedo para as

masmorras de Elizabeth.

Seguiram caminho fora das estradas

convencionais, andando entre árvores e

plantações. De vez em quando paravam para beber

a água que substituíra o vinho na garrafa

conseguida por Castilhos na noite anterior. As

maçãs conseguiram amenizar a dor causada pela

fome. Crow voltara a tossir e parecia mais fraco

que seu colega de fuga. Já era noite alta quando

alcançaram Ashford.

- Bem, Castilhos, eu ficarei por aqui. Basta seguir

para sudeste e logo chegará ao mar. Siga para a

esquerda, seguindo a orla, e chegará em Dover...

Espero ter sido útil e que você consiga recuperar o

El Tiburón. – disse Crow, mostrando que não se

enganara totalmente com Castilhos, mas não

culpava o espanhol por suas reais intenções, pois

no fim das contas, não aguentaria ficar por muito

mais tempo naquela cela em Old Bailey.

- Não quero que penses que o tirei da prisão

apenas para guiar-me até aqui, amigo... – explicou

sem fitar Crow nos olhos. – Eu realmente ouvi a

conversa entre os guardas sobre deixar-nos

apodrecer na prisão e...
- Acredito, Castilhos, e agradeço por sua ajuda. -

falou sério, após uma nova crise de tosse.
- Precisa cuidar dessa tosse, Crow...
- Você é um sujeito muito estranho, Castilhos...

Espero que consiga escapar.
- Crow, quem sabe venhamos a nos encontrar por

esses mares muito em breve...
- Quem sabe...
- Entonces... Adiós! – despediu-se com um grande

sorriso e um floreio com os braços. Virou-se e

sumiu na direção que Crow lhe indicara. Este

balançou a cabeça, achando graça do jeito do

pirata e, em seu íntimo, realmente desejando que

ele tivesse sorte em sua empreitada. Agora, tinha

que preocupar-se apenas consigo mesmo e chegar

o quanto antes a sua casa. Sentia-se cada vez mais

fraco. Precisava recuperar suas forças para poder

pensar o que faria agora que seus planos de

redenção pela justiça elisabetana haviam falhado.

Com nova crise de tosse, tomou a direção da casa

de seu pai que ficava a menos de uma hora de

caminhada dali.


Antes de o dia amanhecer, conseguiu vislumbrar

os telhados da propriedade dos Lodwick

sombreados pela luz da lua. Estava exausto.

Demorara mais do que esperava para chegar até 

ali graças à sensação de fraqueza e aos acessos de

tosse que o incomodavam cada vez mais

frequentemente. Quando se deu conta, estava

diante do cemitério da família. Percorreu os

túmulos de seus antepassados até chegar ao de sua

mãe e de sua tia Tammy, que ficavam um ao lado

do outro. Havia flores colhidas recentemente

sobre ambos e a grama a sua volta era mantida

bem cortada. Ali se deixou ficar, até que o sono e

o abatimento tomaram conta de seu corpo e ele

acabou por dormir sobre o túmulo de Tammy.



- Bom dia, senhor Lodwick – cumprimentou

Duncan, um dos trabalhadores de Timothy

Lodwick, ao entrar na biblioteca onde este tomava

seu café matinal.


- Bom dia, Duncan. - respondeu elevando

mansamente os olhos do livro em suas mãos. -

Algum problema? - perguntou curioso, arqueando

as sobrancelhas, pois não era comum aquele tipo

de "invasão", sobretudo naquele horário da

manhã.
- Um homem estranho foi encontrado desacordado

sobre o túmulo de Miss Tammy. Devemos chamar

a milícia de Ashford para levá-lo?
- Como? Desacordado? – Uma luz de esperança

passou por seus olhos e o coração bateu mais

forte. – Claro que não! Onde ele está?
- Nós o deixamos lá mesmo, senhor. Deve ser um

mendigo ou um ladrão que invadiu suas terras

com má intenção.
- Porque um ladrão dormiria no cemitério? – falou

aborrecido com as conclusões de Duncan,

levantando-se imediatamente de sua cadeira. –

Arranje uma carroça para trazê-lo para cá e mande

selar o meu cavalo. Vou junto com você!
Em menos de cinco minutos, Timothy estava a

caminho do cemitério. De longe reconheceu seu 

filho, apesar da magreza e da barba crescida.

Desceu do cavalo e correu até ele. Logo estava

com Crow em seus braços, tossindo e muito fraco

até para falar.
- Duncan! Me ajude a levá-lo para a carroça.

Pegue o meu cavalo, corra até Ashford e busque o

Dr. Hall enquanto eu o levo para casa.
- É o senhor Nigel?
- Sim. Vá logo! E, Duncan... Não fale para

ninguém que Nigel está aqui. Entendeu? Nem para

o doutor. Diga que eu não passei bem a noite e

que preciso de seus cuidados. Isso é importante.

Não conte sobre Nigel para ninguém! – voltou a

ordenar.
- Sim, senhor!

Ao abrir os olhos, percebeu que estava deitado

sobre uma cama macia, de lençóis limpos e que

dois homens cochichavam num canto do quarto...

Do seu antigo quarto... Estava em casa! Um dos

homens era seu pai e o outro, um desconhecido, o

que o preocupou.
Timothy olhou de soslaio para a cama e notou seu

movimento.
- Nigel! Meu filho! Você acordou!

Crow tentou sentar-se na cama, mas não

conseguiu.
- É melhor evitar esforços, meu caro. – aconselhou

o homem alto e bem apessoado.
Como Crow lançasse um olhar preocupado sobre

o estranho, seu pai interveio para esclarecer sobre

tal presença e tranquiliza-lo.
- Este é o Dr. John Hall, meu filho. É um jovem e

brilhante médico que tem nos dado a honra de

atender nossa comunidade nos últimos dois anos.
- Muito prazer, Nigel. Seu pai me falou muito

sobre você.
- Então sabe que sou um fugitivo.
- Pode contar com minha discrição a esse respeito.

O que interessa agora é tratá-lo para que fique

saudável novamente. Creio que a prisão não fez

nada bem a sua saúde, mas com os devidos

cuidados, boa alimentação e minhas poções, ficará

bem.
- Poções? – perguntou entre uma crise de tosse e

outra.
- O Dr. Hall acredita no poder das ervas e plantas

medicinais, filho. Nada daquelas sangrias ou

sanguessugas. – explicou o pai satisfeito, já que

sempre odiara os tratamentos médicos

tradicionais.
- Conheci um bom médico com as mesmas

crenças. Ele foi banido de sua terra pelos próprios

colegas por causa disso.
- Como era o nome dele? Talvez o conheça...
- Duvido... Ele era escocês e já faleceu. Chamava-

se Brian Hawke.
- É... Infelizmente, não o conheci.
- Bem, o importante é que você vai ficar bem, meu

filho. Vou levar o bom doutor até a saída e volto

para conversarmos um pouco.
Crow permaneceu deitado, com uma curiosa

sensação de bem estar. Estava em casa, depois de

tanto tempo, com a atenção e preocupação de seu

pai voltada para ele. Tão diferente de quando

partira dali há mais de dez anos. Era muito

estranho ver-se novamente em seu quarto, onde

tantas vezes se refugiara para chorar revoltado

com a rejeição paterna. Isso fazia parte de um

passado triste e longínquo e que agora nada tinha

em comum com o presente. Apesar de tudo isso,

Ana e a saudade que sentia dela voltavam a

consumi-lo. Seus pensamentos insistiam em

procurá-la, imaginando se ela conseguira rever as

terras de sua família na Espanha e se ainda

pensava nele.
(continua...)

Oi, pessoal! Nesse capítulo gostaria de ressaltar a presença

do Dr. John Hall, que é uma personagem da vida real, um

médico muito famoso no seu tempo, exatamente por ter

métodos bastante diferenciados e eficientes de tratamento.

Como havia citado Shakespeare anteriormente, lembrei de

citar o Dr. Hall, que em 1607 casou-se com Suzanne, filha do

dramaturgo, e que foi responsável pela sua mudança de

opinião a respeito dos médicos para melhor. Claro que aqui

no meu romance inventei que ele estaria trabalhando em

Ashford, antes de mudar-se para Stratford-upon-Avon, onde

conheceu Suzanne, que lá morava com sua mãe e irmãos,

enquanto seu pai trabalhava no teatro em Londres.
Espero que estejam gostando. Acredito que o próximo
capítulo seja o último desta história. Já tenho o rascunho final, mas ainda preciso descrever os detalhes (o que leva um pouco mais de tempo...rsrsrs), mas se tudo correr bem, quero encerrar este romance antes de minha viagem de férias na semana que vem.
Gostaria de agradecer aos comentários carinhosos das minhas queridas Rudy, Lucy e Evanir na última postagem.
Muito obrigada a todos voces que de uma maneira ou de outra me acompanham nessa aventura.
Um grande beijos a todos!

6 comentários:

  1. Intrigante, preocupante e muita esperança para esse casal que vem travando uma guerra de sobrevivencia e união... o alivio de Ana ser reconhecida perante sua herança, mas muito injusto a condição de manter-se Duquesa ... Já Crow com essa tosse preocupante nós faz pensar sempre no pior, ainda bem que ele enfrentou seu orgulho ferido e procurou seu pai tão redimido do q foi no passado.

    Ficamos na torcida do desfecho esse mês pela curiosidade do final, mas se ultrapassar não se preocupe Rosane suas fieis escudeiras saberás te entender e claro estaremos firmes, fortes se deliciando nessa estória embreagada de aventuras, culturas e lições de vida.

    * * *Super Beijãooo querida* * *

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  2. Amiga, como sempre teus romances são envolventes e emocionantes, esse capítulo em particular (em outros foi a mesma coisa, rsrs), me fez chorar, as situações pelas quais nossos personagens tão queridos estão passando são tão injustas e preocupantes...
    Adoro o fato de a História estar presente, mesmo que seja um pouco modificada, a Igreja nessa época ainda tinha muita força e ditava regras bem tiranas e preconceituosas, o caso de Ana é um bom exemplo, o fato de ser uma mulher e solteira a fazia ter "nenhuma" capacidade, quantas mulheres que exerciam a cura com suas ervas foram acusadas de bruxaria e queimadas, graças a Deus que tudo isso mudou e o mundo tornou-se mais "Iluminado".
    Fiquei um pouco irritada no começo com o real motivo de Castilhos em ter ajudado Nigel, eu acreditei que ele havia mudado completamente, mas depois percebi que ele mudou sim ou talvez os fins que ele procurou sempre tenham justificado os meios, guardadas as devidas proporções uma mãe não deveria ser punida por roubar uma lata de leite para o filho com fome, o Estado sim por permitir a fome.
    E enfim o Nigel, tadinho, sempre sofrendo de uma forma ou de outra, mas esse reencontro com suas raízes foi maravilhoso, e ele se sentir novamente em casa com certeza vai ser uma grande motivação. Não vejo a hora de ele e Ana estarem juntos, vou preparar os lenços para o próximo capítulo, rsrsrs, mas se o próximo não for o último nem se preocupe, tenho certeza de que todos irão amar ter mais desse romance nas próximas semanas.
    Beijossss!!!

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  3. Rosane!!

    Qnto tempo,estava com saudades das suas historias,e vi que já estamos na Epoca da Rainha Elizabeth I da dinastia Tudor.
    Tomara que Nigel não demore mais para se encontrar com Ana e assim poderem viver seu grande amor e ela por ser mulher não perder sua foertuna.

    Bjs

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  4. Tudo isso é mesmo muito difícil para a Ana, ela estar de volta ao local em que nasceu, foi feliz ao lado dos pais e que depois teve que sair às pressas – naquele momento, ela não imaginava que junto a sua terra natal tb seriam as últimas vezes em que veria seus pais. E aí, depois desse turbilhão de emoções que a vida lhe trouxe, voltar ao seu local de origem causa, por si só, um pane no coração. Aliado a isso ainda tem a saudade do seu grande amor, a falta de notícias, o medo de não vê-lo mais, isso é muito duro!

    E como a mulher era mal vista, hein... Não tinha direito a gerir seus bens, isso é absurdo! Mas o ser humano é mesmo muito egoísta e maldoso, sempre escolhe alguém e o nomeia como ‘inferior’ para que possa se sentir ‘superior’ – foi assim com os índios, os negros, as mulheres e, agora, os animais. O ser humano é extremante ignorante e, por sua falta de competência, faz essas barbáries. E não tem jeito, não aprende. Vc acha um negro que teve um bisavô escravo, que sofreu as agruras daquele tempo ignóbil e, hoje, ele vai e faz experimentos cosméticos em animais na maior facilidade, sem entender que em outras épocas, essas experiências seriam aplicadas nos negros, pois eles é que eram tidos como inferiores, sem alma. E o mundo é assim, cheio de preconceitos, de burrices, de egoísmo, de tristezas sem fim! Essas coisas me torturam muito, amiga!

    Mas que bom que o Nigel conseguiu chegar às terras de seu pai! Estava mesmo na hora, eu estava muito preocupada com essa tosse incessante. Achei ótimo o ingresso do Dr. Hall, misturando a ficção com fatos reais, a gente vai aprendendo mais um pouquinho.

    Aliás, uma boa leitura é sempre uma riqueza e remédio para alma: riqueza porque nos permite aperfeiçoar o nosso linguajar através da boa escrita oferecida pelo autor e remédio porque nos conduz em viagens fantásticas que nos causam incríveis emoções! E assim são os teus livros, Rosane, um bálsamo para o nosso cotidiano, recheados de riquezas!

    Estou num misto de tristeza e alegria. Alegria porque com o fim do conto, os caminhos serão revelados e triste porque a gente se aperfeiçoa aos personagens, imagina-os em nossa mente como se estivessem em uma realidade alternativa, e com o final, essas passagens magníficas vão ficando para trás, guardadas apenas na memória.

    Mas, amiga, nem esquente. Se não der para publicar antes das férias, faço-o depois. Aproveite bem as férias, viaje e divirta-se, é preciso recalibrar as emoções!
    Beijinhos

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  5. Finalmete estou participando do seu blog Rosane começarei a ler seus romances ao vento.Gostaria de comentar o livro que li e amei sempre achei muito triste o final do fantasma da opera e toda vez que via ou lia algo sobre ele tinha vontade que algo bom tivesse acontecido a ele,Erik foi tudo de bom!Me emocionei com a amizade verdadeira apresentada na história e a oportunidade de encontrar o amor.Beijos da sua fã,Dioceli.

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    1. Oi, Dioceli! É um grande prazer de ter como minha seguidora aqui no blog e fico muito feliz por saber que leste e gostaste da minha versão do Erik. Foi exatamente por desejar um final feliz para ele, depois que sofreu tanto pelo amor não correspondido, que escrevi esse romance.
      Espero te encontrar mais vezes por aqui. A casa é tua!Muito obrigada!
      Um carinhoso beijo!

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Cantinho do Leitor
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