segunda-feira, 19 de abril de 2010

Coração Atormentado - final do Capítulo IV (Lembranças)


Já no corredor, as lágrimas explodiram e abafou o grito de dor que a rasgava por dentro. Diego conseguira reabrir uma ferida que já considerava quase curada. Não sabendo onde esconder-se entrou numa das portas do corredor a sua frente e começou a chorar. Achou que já estava preparada para enfrentar qualquer situação, mas nada a havia preparado para Diego. Desde o início ele mexera com ela, fazendo-a reviver sentimentos adormecidos. Talvez sua mãe tivesse razão e ela devesse tomar outro rumo na profissão. Provavelmente fosse melhor ser demitida, ou pedir demissão, apesar do que dissera à ele sobre não desistir.
Perdida nestes pensamentos, não chegou a ouvir a porta abrir atrás de si.
- Ângela... – retumbou a voz rouca e arfante de Diego – O que houve?
Ela virou-se para mandá-lo sair e dizer que ia embora, mas parou com a boca entreaberta, deparando-se com seu paciente vestido sobre a cadeira de rodas. Era evidente o esforço que havia feito para tal proeza e a angústia em seu rosto.
- Você se vestiu e colocou-se na cadeira sem ajuda? – indagou, deixando para trás sua tristeza e esboçando incredulidade e, ao mesmo tempo, satisfação, ao ver o que ele tinha conseguido.
- Eu disse alguma coisa que a ofendeu? Por que está chorando? – questionava-a, aproximando-se dela – Me perdoe se a magoei. Não foi minha intenção... Eu só queria conversar e conhecê-la melhor.
- Não importa, Diego... O que importa é o que você conseguiu agora. Isso é maravilhoso – disse secando as lágrimas com as mãos e abaixando-se diante da cadeira.
- Foram as suas palavras que me tiraram da inércia. Quero que saiba que eu não sou aquilo tudo que você falou... Ou pelo menos, não era...
- Desculpe por ter dito aquelas coisas, Diego. Eu perdi o controle... Sem querer você tocou em pontos dolorosos, que agora não vêm ao caso.
- Você não disse nenhuma inverdade. Sei que tenho sido desagradável com as pessoas, tentando afastá-las de mim e me tornando um cara indigesto, mas... – ele parou de falar e começou a olhar ao seu redor...
- O que foi? – ela perguntou.
- Este quarto... Era de minha mãe... Desde que voltei, ainda não tinha encontrado coragem para entrar aqui novamente – disse melancolicamente olhando os móveis e objetos do ambiente, procurando os vestígios da presença de Ágata em cada detalhe.
Ângela podia sentir a saudade que o envolvia naquele momento e a tristeza de saber que não veria mais a mãe por ali.
- Como ela era? – perguntou, despertando-o de suas lembranças.


ÁGATA
- Era uma mulher fascinante. Bonita, inteligente, agradável com todos que se aproximavam dela, determinada, uma ótima empresária... Não merecia morrer tão cedo e de forma trágica.
De repente sua atenção foi atraída por um porta-retrato sobre a mesa de cabeceira, onde estava uma foto mais antiga com três pessoas abraçadas. Diego, com 18-19 anos de idade, aparecia no meio de um casal. A mulher à sua direita era muito linda e tinha os mesmos olhos verdes de Diego. O homem à sua esquerda tinha um rosto muito semelhante ao dele, mas com cabelos mais escuros.
- Pode pegar para mim, por favor? – pediu a ela.
Ângela levantou-se, foi até a mesa e pegou a foto emoldurada, entregando-a para Diego.
- Meu pai faleceu um ano depois de tirarmos esta foto... – recordou tristemente olhando a fotografia – Neste momento, parecia que nada de ruim poderia acontecer...
- O que aconteceu a ele?
- Câncer... Após descoberto, levou três meses para acabar com a vida dele. Minha mãe quase enlouqueceu, mas conseguiu sobreviver graças ao trabalho. Dedicou-se mais do que nunca à fábrica. Assim que me formei, passei a trabalhar com ela e, juntos, conseguimos superar a perda. A partir daí, nosso vínculo tornou-se ainda mais forte... A presença de meu pai continuou nesta casa mesmo depois que ela casou-se com Marcelo. Eles ocuparam outro quarto. Este foi preservado como um santuário à memória dele. Não achei uma boa idéia, pois Marcelo nunca aceitou muito bem esta reverência. Mas Ágata ria do ciúme dele, dizendo que tinha direito a ter um canto só seu.
Mal Diego acabara de dizer as últimas palavras, ouviram batidas na porta, que estava entreaberta.
- Seu Diego? – indagou Clara colocando a cabeça para dentro à procura do patrão.
- Sim? – respondeu ele, como que acordado de um sonho.
- O Carlos chegou para a sessão de fisio.
- Obrigada, Clara – respondeu Ângela – Diga a ele que o Sr. Diego já vai descer.
- Está bem – confirmou e saiu.
- Você está bem? – perguntou Ângela.
- Estou... Obrigado por ouvir minhas lamentações – e entregou-lhe o porta-retrato para ser recolocado em seu lugar.
- Às vezes é bom recordar.
- Eu a fiz recordar de alguma coisa agora a pouco e acredito que não tenha sido muito bom – lembrou, olhando-a intensamente – Se quiser falar a respeito...
- Obrigada, Diego. Talvez um dia eu conte, mas não agora... Além do mais, o Carlos está esperando.
- Tenho mesmo que passar por aquela sessão de tortura física de novo?
- Receio que sim – rebateu com um tênue sorriso.
Então, ele colocou as mãos sobre as rodas e começou a empurrá-las, iniciando os movimentos para sair do quarto, sob o olhar zeloso de Ângela.
Naquele dia a sessão de fisioterapia transcorreu da melhor maneira possível, com Diego respondendo mais vigorosamente aos exercícios para satisfação de Carlos. Parecia que finalmente ele se resolvia a cooperar e trabalhar para sua reabilitação.


CARLOS
- Parabéns, Diego – felicitou-o – Se continuarmos neste ritmo, logo você vai tornar-se muito mais independente em seus movimentos e até poderá pensar em voltar a trabalhar.
Esta última afirmação levou Diego a adquirir uma expressão sombria. Não porque ele não quisesse voltar ao trabalho, mas porque ainda não conseguia suportar a idéia dos comentários de pena e a piedade nos olhares daqueles que se acostumaram a vê-lo ágil sobre duas pernas, desempenhando suas funções de engenheiro, dentro da fábrica, de forma hábil.
- Mas ainda temos algum tempo pela frente para pensar nisso – amenizou Ângela, ao perceber a expressão de desânimo em Diego – Talvez você possa começar a trabalhar em casa.
Um arquear de sobrancelhas dele mostrou que a idéia talvez fosse viável. Mas o assunto não foi adiante e Ângela e Carlos não quiseram forçar nenhuma opinião naquele momento.
Mesmo depois que Carlos se foi, Ângela não voltou a falar sobre o desabafo de Diego pela manhã. Tampouco ele.
Durante a tarde, recebeu a visita de Glória, a ex-secretária de Ágata. O rosto de Diego iluminou-se ao ver a mulher o conhecia desde criança e que tantas vezes o visitara durante o período de sua internação após o acidente.
- Boa tarde, meu querido! Vejo que está com uma aparência melhor. E com um novo anjo da guarda a acompanhá-lo – disse admirando Ângela ao seu lado. – Por sinal, muito bonita ela. Como vai, querida?!
- Bem. E a senhora?
- Agora feliz ao ver que o meu amigo aqui parece estar sendo, finalmente, bem cuidado. Eu ando muito preocupada com ele.
- Ele está se saindo muito bem com a fisioterapia e logo vai voltar às suas atividades normalmente.
- Que boa notícia! Tenho rezado tanto por ele...
- Ei, eu ainda estou aqui – exclamou Diego, notando que Glória parecia ter esquecido sua presença e só conversava com Ângela.
- Olhem só que ciumento!
A conversa continuou agradável e Ângela pode ver o quanto Glória o deixava a vontade. Ela o colocava para cima e de modo algum deixava transparecer qualquer sentimento de piedade pelo seu estado atual.
Depois que ela foi embora, ainda fizeram alguns exercícios até a hora em que Lino chegou.
Ângela apenas notificou-o sobre os progressos de Diego, evitando contar o que acontecera entre eles pela manhã. Aquilo ficaria apenas entre os dois. Um vínculo havia sido criado entre eles naquele dia. Seu único temor era como poderia manter escondidos os sentimentos que começavam a fluir em seu coração. Suspeitava que Diego também pudesse ter sentimentos confusos em relação a ela. O modo como passara a olhá-la enquanto o ajudava a exercitar-se ou quando conversavam, provocava-lhe uma excitação que não era adequada e muito menos ética. Sabia de casos de pacientes apaixonarem-se por profissionais que os tratavam, bem como o inverso, mas precisava passar por cima disso para poder continuar ajudando Diego. Precisava deixar claro que estava ao seu lado para ajudá-lo profissionalmente, sem magoá-lo. Talvez estivesse sendo muito severa consigo mesma, ou enxergando coisas demais onde nada havia. O melhor era não pensar demais nisso. Pensando assim, rumou para seu apartamento determinada a investir em sua tese, planejar a sua visita à mãe e à tia e, quem sabe procurar as amigas, que não via a muito tempo, para uma saída. Sair um pouco do isolamento em que vivia talvez viesse a ser bom para colocar as idéias e anseios no lugar.






Eis o final do quarto capítulo. Parece que as coisas estão se ajeitando se ajeitando... Queria agradecer os comentários e recadosdas minhas queridas Cris, Nadja, Vanessa, Angel e Lucy. Muito obrigada. À Lucy, então, que acabou por fazer uma maratona de leitura, comentando não só a estória atual, mas também a anterior, comparando as personagens a pessoais reais e tornando o meu ato de escrever estes romances ainda mais prazeroso, pois sinto que posso emocionar minhas leitoras de alguma maneira. Um beijo especial prá ti. Acho que escrever é, entre outras coisas, tocar o coração das pessoas de alguma forma e provocar emoções, sem imagens ou efeitos especiais colocados numa tela. Todo o meu carinho a vocês que acompanham este blog. Até o próximo capítulo!

8 comentários:

  1. Primeira???

    Eu estou amandoooo a estória!
    Muita curiosidade para saber sobre o outro paciente da Ângela.
    E o Diego, mt fofo ele preocupado com ela! hehehe

    Continue escrevendo Rô! Td dia a primeira coisa que eu faço é ver as noticias e ver se o blog está atualizado! rsrsrs, vicio!

    Bjooos

    Taty

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  2. Amiga, a estória está cada vez mais envolvente, fico imaginando as cenas enquanto leio e elas me emocionam, pois a gente sabe que devem existir casos como esse na vida real e isso torna tudo ainda mais intenso.
    Tenho certeza de que tuas outras fãs (isso mesmo, fãs!!) vão concordar comigo quando digo que você tem o dom de nos encantar e cativar com teus romances. A paixão, o carinho e o respeito que tenho pelo Gerry só aumentam quando o vejo como personagem principal das tuas estórias. Ele ficaria lisonjeado se soubesse que é a estrela de tantos contos lindos e românticos.
    Ah como eu queria cuidar desse paciente!
    Um cheiroooo!!!

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  3. Rô, vc é incrível!

    Porque as pessoas certas não acham pessoas tão talentosas como vc, para escrever histórias que realmente valem a pena serem lidas e vistas. Quem dera ver Gerry interpretando esse papel de Diego...

    Caçador de Recompensas, eu baixei. E me decepcionei. Quem o viu em POTO, PSILY, 300, Dear Frankie (divino trabalho dele)... não sai do cinema satisfeito com o resultado... Faltou roteiro e sabe-se mais o quê, nesse filme...

    E aí, fico revoltada, porque conheço alguém como vc que escreve maravilhosamente. Me diga: Como pode alguém saber não só criar, mas costurar tão bem essas histórias, a ponto de nos fazer entrar nelas, de tanto que nos sentimos à vontade e dividindo as mesmas sensações da nossa heroína!!?
    Vc tem mesmo um dom divino!

    E porque ainda não te acharam!?
    Bjim♥

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  4. Taty, Nadja e Ly! Adoro vocês! Sinto-me mais do que lisongeada com os seus comentários e mais envaidecida ainda por ter vocês como amigas. Escrever aqui vale à pena só porque pessoas maravilhosas como vocês estão aí do outro lado a me dar toda esta força.
    E, Ly...Pensastes exatamente a mesma coisa que eu a respeito do "Caçador...". Depois de representar papéis que nos emocionaram tanto, nos filmes que tu citastes, vê-lo agora no papel de Milo foi muito frustrante. Cheguei a ler um boa crítica sobre o filme e até pensei que, como eu não estava num bom dia quando fui assistir, pudesse ter visto só pontos negativos. Mas... Como disse anteriormente para a Nadja, ainda estou esperando que o Gerry mostre do que é capaz, pois já vi boas demonstrações disto em filmes anteriores.
    Beijos, minhas queridas!!E muito obrigada!

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  5. Oi Ro...
    ta linda a sua historia, estou adorando,
    vc como sempre toca os nossos corações.
    bjs e continue assim....

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  6. Oi Rosane!!!
    Adorei este final de capítulo,mto bem escrito e bem acabado mostrando como uma pessoa,pode se tornar depois,de sofrer um baque tão forte quanto Diogo sofreu.
    Concordo com que todas as meninas disseram que se seus contos fossem descobertos dariam umbom filme,com certeza e nós seriamos as primeiras a te prestigiar.
    Referente ao filme,me decepcionou um pouco,pois esperava mais,depois de assistir TUT,PSLY e outros,mas sabia que talvez fosse só mais um,e quem sabe vai ser só mais um que fez e que venham outros malhores.
    BJs.

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  7. Luh e Cris! Muito obrigada, queridas!Beijos prá vocês!

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  8. Oi, Rô!
    Nossa, fiquei muito emocionada com as suas palavras... Obrigada pelo carinho, mas não precisa agradecer, saiba que todas nós sempre retornamos aqui porque você, além de ser uma pessoa carinhosa e muito amiga, ainda tem um talento esplendoroso. Através da sua rica imaginação, você nos conduz a viagens maravilhosas, onde há de tudo um pouquinho e que sempre resultam num desfecho ímpar.
    Olha, eu já mencionei uma vez: concordo com todas as meninas: vc deveria mesmo pensar em escrever um livro. Quem sabe até uma reunião com todos os seus contos (é só não postar essas fotos que ninguém fica sabendo quem é a sua inspiração principal... hehehe). Num mundo em que vivemos, com tantos desencontros, lutas e tristezas, tenho certeza de que os seus contos iluminariam muito a vida das pessoas, como os fazem com a minha!
    Mas, tb, tô eu aqui de xereta. Não importa se vc escreve no blog, em livro ou mesmo para algumas pessoas. O importante é que você sempre dê um jeitinho de continuar expressando a sua arte como o faz, pois imagino que isso tb faça muito bem a você, como faz a todas nós que ansiamos sempre pelos próximos capítulos... E pelos próximos beijos apaixonados... Ai... Ai... É tão lindo o romantismo!
    ♥Beijinhos♥

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