Como havia prometido, iniciamos hoje a postagem de um novo romance. IniciamOS , porque é um romance feito a quatro mãos, por mim e por minha querida Aline Kodama. Estamos com esse projeto engavetado há cerca de um ano e finalmente resolvemos dar vida a ele.
Considerem esse como o nosso presente de Páscoa. O nome original era O Anjo e o Vampiro, mas como ocorreram algumas mudanças no texto, decidi mudar para O VAMPIRO DE EDIMBURGO. Às amigas leitoras, que são fãs, assim como a Aline e eu, de um certo ator escoces, já podem colocar sua imaginação a funcionar, pois o personagem principal deste romance é ele mesmo...rsrsrs. Para que possam conhecer um pouquinho mais da história, vou colocar uma parte do segundo capítulo.
Bem, vou deixar de trololó e começar a postagem.
FELIZ PÁSCOA A TODOS!!!
O VAMPIRO DE EDIMBURGO
(Romance de Aline Kodama e Rosane Fantin)
Moro entre os mortos
Entre a paz e o suplício
Entre a dor e a solidão.
Sou o corvo dos cemitérios
Sou a erva dos túmulos
Sou a lápide de pedra...
(Trecho da poesia Anjo Caído, de autoria de Aline Kodama)
Capítulo I
Naquela manhã de quarta-feira, cheguei à Central dos Guardiões Celestiais como em todas as manhãs. Com sono e de péssimo humor, ouvi a voz de meu chefe, telepaticamente me chamando assim que entrei no complexo. Então, agarrando meu copo de kafo matinal, segui até a sala dele.
Central do Guardiões Celestiais |
Não pensem vocês que vida de anjo é fácil... Não! Nossa vida é bem desgastante, por causa de todos os humanos idiotas que temos de proteger e todas as broncas que levamos se algo sai errado. Não somos infalíveis, infelizmente. Naquele mês, pelo calendário da Terra, eu já havia levado quatro broncas e ainda era apenas dia 15. Então, meu mau humor era justificado. Sem contar que nos últimos cem anos eu só havia recebido péssimas missões e obtido péssimos resultados, então eu não era uma pessoa particularmente bem vista no departamento. Às vezes me perguntava como chegara a ser convocada como anjo da guarda. Talvez eu não tivesse talento para a coisa.
Caminhei devagar até a sala do Chefe do Departamento, ou apenas Sam, como nós, seus subalternos, o chamávamos. Infelizmente, ele já me esperava com a expressão que comumente usava quando queria me passar uma descompostura. Estava lá, sentado em sua enorme cadeira de encosto alto, parecendo ainda maior que o normal e me encarando sob as sobrancelhas cerradas. Antes de ser transferido para o nosso departamento, cujo motivo era desconhecido por todos, ele fazia parte dos anjos guerreiros, a elite da guarda de Deus... Amedrontador para qualquer um, eu diria. Menos para mim, que já estava acostumada com a cara feia e as broncas dele. Assim, fiz o que me restava fazer, ou seja, me sentei na cadeira em frente à escrivaninha dele e tomei calmamente meu kafo aguardando seu discurso. Ele não me fez aguardar muito, de toda forma.
- Ariel... Vejo que teve tempo de passar na cantina e pegar um kafo. Engraçado, pensei que tinha deixado claro que meu chamado era urgente. – disse ele naquela voz grave de ex- anjo guerreiro.
- Bom dia prá você também, Sam – Ele sempre odiava quando eu fazia isso... – Desculpe não ter trazido um para o senhor... Estou aqui, não estou?! Podemos tratar do assunto urgente agora.
Com um olhar avaliador e nem um pouco amigável, Sam tomou uma pasta vermelha que estava sobre as demais que mantinha em sua mesa e me passou. Fiquei interessada na hora, porque as pastas vermelhas eram sempre as mais cobiçadas do departamento. Abri esperando encontrar o nome de um rei, um cantor famoso ou um astro de Hollywood... Que nada! Aquele nome não me dizia nada. Nunca tinha ouvido falar nele, então devia ser um humano absolutamente comum... Encarei Sam decepcionada.
- Dominic MacTrevor. Quem é ele?!
O resto da ficha dizia que era repórter, residia em Edimburgo e tinha um emprego medíocre de repórter free lancer para um jornaleco da imprensa marrom.
- Ele é sua mais nova missão.
Sam estava novamente com aquele seu sorriso peculiar, que somente repuxava um lado da boca, enquanto o restante permanecia imóvel. Nem era um sorriso, tecnicamente falando, mas era o que ele emitia quando estava se divertindo com alguma coisa. No caso, a diversão era eu. Ou a minha cara de decepção... Sei lá.
- Ahn... E esse Dominic já não é protegido de alguém?! O que aconteceu com... – Procurei o nome do guardião dele na pasta – Yesalel?
- Informação confidencial.
- Sei... O que devo fazer? Alguma instrução especial? Ele está correndo algum perigo imediato ou é só mais um fracassado que vai tentar se matar na primeira oportunidade?
- Como a cor vermelha dessa pasta está dizendo, ele é um caso especial.
- Porque será que estou tendo um péssimo pressentimento sobre esse caso?! Olha, Sam, se você quer que eu me saia bem nessa missão, é melhor me contar o que espera de mim. Por que tenho que proteger esse cara?!
- Ariel, Ariel... – Wow, meu nome duas vezes não era um bom sinal. Engoli em seco, imaginando se havia passado dos limites. – A paciência é a primeira virtude que um anjo guardião deve possuir. – ele continuou seu discurso. – E a curiosidade é um defeito indesejável. Todas as informações que você precisa estão na pasta de seu tutelado. Sugiro que leia o mais rápido que puder e desça à Edimburgo para cumprir sua missão. – ordenou-me, lançando um olhar que assustaria um santo – E Ariel... Sugiro que a cumpra satisfatoriamente, dessa vez. Pode ir.
Assim dispensada, agarrei a pasta vermelha e saí dali vagarosamente, embora minha vontade era correr o mais rápido possível sem usar as asas. Infelizmente, o efeito dramático de desdém que imaginei pode ter sido prejudicado pelo copo de kafo que derrubei sem querer ao me levantar...
Fui direto ao jardim que cercava o complexo, e me sentei para ler com calma as informações de meu mais novo protegido. Que tédio! Dominic MacTrevor não era um caso digno de uma pasta vermelha. Assegurei-me de ler calmamente todas as informações e nenhuma delas me respondeu por que o protetor anterior deixou o caso ou porque Dominic necessitava de maior atenção. Filho de um pastor, tendo uma irmã mais nova, cresceu na parte pobre da cidade. Poderia ter sido um integrante de uma das gangues de rua, mas trabalhou desde cedo para seguir o sonho de ser repórter. Estudando à noite num curso de jornalismo. Economizando o salário que recebia como barman nos pubs da cidade, comprou uma câmera usada e saiu fotografando gente que não queria ser fotografada para vender aos tablóides da imprensa marrom. É. Talvez ele precisasse mesmo de ajuda. Sabendo tudo o havia para saber sobre Dominic MacTrevor, na manhã seguinte, mentalizei o apartamento dele, cujo endereço se encontrava na pasta e me teletransportei para lá.
Apareci bem no meio da sala do minúsculo apartamento, que ficava no terceiro andar de um “Fish and Chips” no centro da cidade. Surpreendentemente, o lugar estava bem arrumado. O apartamento era composto da sala conjugada com a cozinha, um banheiro e um quarto. Fui até lá procurar Dominic. Era muito cedo, ainda, no mundo humano. O sol nem tinha saído direito, portanto concluí que a forma que respirava sob as cobertas era meu protegido. Enquanto eu esperava que ele se levantasse – ... ...pois a paciência é a principal virtude de um guardião – a forma se mexeu e afastou as cobertas. Qual não foi minha surpresa ao constatar que aquele ser adormecido ali não era Dominic, mas uma garota que deveria ter, no máximo, dezesseis anos!
Como guardiã não posso julgar meus tutelados, mas aquela garota tinha um ar de pura inocência, acentuado pelas sardas e cabelos vermelhos desalinhados, que me atingiu como um soco no estômago. Que m* esse Dominic pensava para dormir com uma garota tão jovem! Fiquei indignada! Já estava quase voltando para a Central dos Guardiões, para pedir explicações ao Sam, quando a porta da frente se abriu. Sem conter a curiosidade, o que era um defeito indesejado em um guardião, me dirigi à sala.
Um rapaz, de aproximadamente trinta anos, acabava de pôr um pacote com pães fresquinhos, de um cheiro delicioso, sobre o pequeno balcão que separava a sala da cozinha, e tirava o sobretudo muito gasto. Os cabelos tinham o mesmo tom avermelhado da moça no quarto e o rosto também era pontilhado de sardas. Ele olhou diretamente para mim e sorriu. Seus olhos azuis eram claros e brilhantes e o sorriso formava covinhas encantadoras na face.
- Bom dia! Eu sou Dominc. Você é minha nova guardiã? – perguntou de chofre, me encarando. Por um instante a surpresa me calou. Afinal, os humanos não podem nos ver, como regra. Pelo jeito aquela regra não se aplicava à Dominic. – Qual é o seu nome? – continuou conversando como se estivesse totalmente habituado a receber visitas de estranhos em seu apartamento todos os dias. Limpei a garganta antes de responder e aceitar a cadeira que ele me oferecia.
- Ariel. Meu nome é Ariel.
- Que nome mais adequado... – sorriu melancólico.
No meio dessa conversa surreal, a moça antes adormecida se levantou e se juntou a nós, com um sorriso bonito e um apetite comum aos adolescentes. Dominic a recebeu carinhosamente, sem deixá-la perceber que estava acompanhado.
- Bom dia, Leonora! É bom correr, pois sua aula começa dentro de meia hora. Lave-se e venha tomar seu café – disse em tom paternal.
- Bom dia, mano. Não ia comer nada, apenas tomar um café preto... Mas esse cheirinho de pão quente...huummm – disse depois de estalar um beijo na bochecha do irmão e sair direto para o banheiro do minúsculo apartamento.
- Mais tranquila? – perguntou acompanhando o movimento da jovem com um sorriso.
- Falou comigo? – rebati – Por que eu estaria mais tranquila?
- Notei a sua cara quando entrei. Aposto que já estava pensando mal de mim.
- Como adivinhou? – sorri diante da argúcia de meu protegido.
- Não esqueça que sou um repórter e sou mais observador do que aparento.
Nesse momento, Leonora voltou já vestida com jeans e camiseta, carregando um grosso casaco de lã, gorro e cachecol da mesma cor vermelha em um dos braços. Apoderou-se de dois pãezinhos e um grande copo de café já servido por Dom, como ela o chamava. O irmão sorriu. Havia uma imensa ternura em seus olhos enquanto a observava sorver seu café apressadamente e quando ela se despediu dele com outro beijo estalado. Antes que saísse, pude observar o surgimento de seu acompanhante celestial, Natanael, por quem eu nutria certa antipatia.
- Então, Dominc... Por que sua guardiã teve de deixá-lo? – perguntei assim que a dupla anjo/protegida saíram, surpreendendo-o.
- Seus superiores não contaram a você? – Uma tristonha expressão tomou conta dele – Acho que eles não aprovam o tipo de relacionamento que surgiu entre nós...
Bom, as surpresas não acabavam mais, mesmo. Um humano apaixonado por uma guardiã e, pior, correspondido! Isso estava ficando interessante.
- Bem, mas isso só responde parte de minhas dúvidas. Falando nisso, como é que você consegue me ver e falar comigo? – perguntei sem me conter. Ele riu. Já estava me sentindo muito confusa, então o riso não me insultou.
- E tocar... – disse ele pegando em meu braço para minha maior surpresa – Posso vê-los desde pequenos. – explicou ele voltando sua atenção para um pãozinho de aspecto apetitoso onde ele começou a passar uma camada generosa de manteiga – No início fiquei com medo, mas meu pai disse que isso era um raro dom que apenas poucos membros de nossa família apresentavam. Não estou em nenhuma encrenca – continuou –... Não que eu saiba. Parece que nossa família sempre foi bem quista pelos protetores, por isso às vezes um de nós apresenta este poder. É uma graça divina... – disse ele rindo, mostrando as simpáticas covinhas.
Encrenca. Aquilo me soava como encrenca, das grandes. Um protegido que pertencia à categoria das pastas vermelhas, que se comunicava com seu guardião e cujo pai parecia entender perfeitamente o motivo. Um sininho de alarme soou na minha cabeça. Seria ele escolhido para alguma missão divina? Com certeza Dominic não era o fracassado que parecia quando se lia a ficha dele. Ele tinha uma bondade que transparecia em sua voz, em seu sorriso. Até o modo como comia o pãozinho com manteiga e bebia o café já frio deixava entrever algo bom. Suspirei. Encrenca, sim. Para mim, que se falhasse mais uma vez seria transferida para... Sei lá, talvez os guardiões do Iraque!
Capítulo II
Edimburgo |
Três semanas antes do encontro de Ariel com Dominic...
Entrei na redação do Sunday News, um dos jornais para o qual às vezes vendia minhas reportagens como freelancer. Após uma negociação difícil com o editor-chefe, consegui emplacar mais um artigo.
Caminhei devagar pelo meio das baias dos repórteres da casa, ouvindo as conversas esparsas, já imaginando qual seria o tema de minha nova história, quando uma rodinha de colegas em frente à maquina de café expresso me chamou a atenção.
- Oi, rapazes. – Fui logo cumprimentando três conhecidos meus que conversavam entre si.
- E aí, Dom... Conseguiu emplacar mais uma?! – questionou um deles
- É, consegui sim...
- Dominic, os rapazes e eu estávamos fazendo uma aposta. Talvez você queira participar, se não for muito complicado prá você, já que é freelancer... – falou um deles.
- É isso aí. Vamos incluí-lo, galera! – entusiasmou-se o outro.
Imediatamente minha curiosidade foi aguçada e não resisti.
- Tudo bem. Do que se trata? – logo que perguntei, ouvi um sussurro em meu ouvido. “Cuidado, Dom.” – Era Yesalel, minha guardiã, que estava sempre a postos e que somente eu podia ver e ouvir. Com um assentimento discreto de cabeça, voltei minha atenção para o trio que me encarava.
- Olha, Dom, o negócio é o seguinte... Nós estamos apostando sobre quem de nós vai conseguir entrevistar Kyle Sinclair, o banqueiro excêntrico metido a Don Juan.
- Kyle Sinclair... Ah, mas o cara nunca deu nenhuma entrevista. É praticamente uma missão impossível! – decepcionei-me.
- Impossível nada! Semana passada, aquela repórter enxerida do Tribune conseguiu marcar uma entrevista com ele.
- É... O problema é que, depois do encontro, ela não publicou nadinha! Estava tão encantada com o cara que disse não ter uma linha para escrever sobre ele ou seus negócios que interessasse ao público.
- O editor do Tribune ficou furioso! Então, lançou o desafio. Quem conseguir uma entrevista com o cara vende a reportagem para o Tribune por um bom dinheiro e ganha um emprego fixo no jornal. Além disso, fatura setenta e cinco pratas com a nossa aposta, pois cada um de nós vai entrar com vinte e cinco. O que acha? – O repórter sorriu, mostrando seus dentes pontiagudos e sua expressão lembrou a de um furão tentando assustar o seu predador.
- Dominic MacTrevor!!! – Era Yesalel novamente – Nem pense em aceitar essa proposta! Você sabe muito bem que não tem esse dinheiro para desperdiçar. Além disso, já vi esse Kyle Sinclair de longe e posso afirmar que é um homem perigoso e estranho. Me deu arrepios! – Eu permaneci em silêncio, enquanto ouvia as objeções de minha guardiã. Ela era mais como uma esposa grudada no meu pescoço o tempo todo do que um anjo da guarda.
- Tudo bem. Eu topo! – estendi a mão para selar o acordo.
– Dominic! Você vai se arrepender! – Yesael se calou, enquanto eu seguia para o elevador. Ainda pude ouvir os comentários de meus colegas.
- Vocês acham que ele consegue? – questionou um deles para os outros dois que me observavam.
- Que nada!
- De jeito nenhum! – responderam ambos ao mesmo tempo.
- Mas foi bom tê-lo incluído. Afinal, serão mais libras para o meu bolso! – o rapaz sorriu com arrogância, certo de que seria ele a ganhar a aposta.
- Isso é o que você pensa... – comentou o outro antes de se virar e voltar ao trabalho.
Infelizmente, para eles, estavam todos enganados e, em breve, seriam obrigados a desembolsarem vinte e cinco pratas cada um, direto para o meu bolso.
Marquei uma entrevista com a secretária de Sinclair na matriz do Sinclair Bank of Scotland. Já tinha lido e relido todos os parcos artigos que encontrei sobre ele nos jornais locais e internacionais.
Sentado na antessala da presidência aguardei por mais de duas horas, simulando tranquilidade e paciência enquanto observava homens e mulheres entrarem altivos, confiantes, medrosos ou curiosos e saírem arrasados, derrotados ou simplesmente vazios. Quando ele finalmente me chamou através da elegante secretária, coloquei meu melhor sorriso no rosto e entrei na sala. Lá o encontrei sentado em uma bela e antiga cadeira forrada de couro negro, em frente a uma magnífica mesa de mogno, de costas para uma parede de vidro translúcido que transformava a cidade e os céus em uma obra de arte. Confesso que tive medo de ficar tonto, pois sofro de pânico em grandes alturas. Jurei que jamais me aproximaria daquela janela gigantesca.
A sala era maior que todo o meu apartamento. Obviamente ele não me pediu desculpas pela demora em me atender mais de duas horas depois do horário marcado. Supus que esta fora uma artimanha para me fazer desistir do confronto. Enquanto tentava controlar minha fobia, ouvi sua voz firme.
- Em que posso ajudá-lo, senhor...? – olhou para algum tipo de anotação sobre a mesa – Dominic... MacTrevor?
- Bom dia, senhor Sinclair... Eu sou jornalista e... – Aquele olhar começava a me deixar nervoso e as palavras pareciam desaparecer de minha mente.
Parecendo irritado, levantou-se de seu “trono” e andou até o paredão de vidro. Era uma figura impressionante, da qual não se podia ter ideia apenas através das poucas fotos que eu tinha visto em minha pesquisa prévia. Apesar de estar olhando a paisagem a sua frente, podia perceber que ele de alguma forma me observava, cheirando o meu desconcerto e meu medo.
- Seja breve, senhor jornalista, pois não disponho de muito tempo – Sua voz era áspera e cortante.
- Sei disso, senhor Sinclair. Vou tentar esclarecer minha presença o mais rápido possível – Tentei esconder o tremor na voz e o rubor que tomava conta de minhas bochechas e fixei o olhar na vista da janela e, apesar do medo de altura, consegui raciocinar melhor – Quero acompanhá-lo, senhor Sinclair, durante alguns dias, para fazer uma reportagem completa sobre suas atividades, gostos, hobbies, habilidades...
- E por que eu permitiria isso? – interrompeu-me, virando-se para mim abruptamente.
- O senhor sabe que é uma personalidade muito importante dentro de nossa sociedade e internacionalmente. Não pretendo falar de seus negócios. Pelo menos não é esta a intenção da reportagem. Queremos mostrar o seu lado humano... – Imediatamente me arrependi de ter falado a última frase, sem entender bem o por quê.
O milionário soltou uma gargalhada que me congelou a alma. Subitamente, da mesma forma que começou a rir, parou e seu olhar pareceu me atravessar e fixar-se em algo atrás de mim. Não saberia dizer o que desviou sua atenção e o fez endurecer sua expressão novamente. Só lembro que finalmente ouvi dele o que tanto desejava.
- Dominic, não vejo vantagem alguma para conceder-lhe o que me pede, mas, como simpatizei com você, poderá começar sua reportagem amanhã à noite.
- À noite, senhor?
- Tem algum outro compromisso? – perguntou secamente.
- Não, senhor, imagine! – respondi rapidamente recriminando-me por meu infeliz questionamento – É só dizer o local e o horário e lá estarei.
- Fui convidado para a estréia de La Bohème, de Pucini, no Theater Royal em Glasgow. Está convidado também. Esteja aqui, às 18 horas no heliporto deste prédio. Bom dia.
- Como? Ahn... Sim, senhor! – agradeci confuso, mal acreditando que conseguira minha permissão.
Devo ter parecido um palhaço idiota saindo de costas e fazendo mil reverências para ele, apesar dele não ter contraído um músculo facial sequer.
Sentia-me extremamente deslocado quando cheguei ao heliporto do Sinclair Building e, sinceramente, meu anfitrião não fez nada para que eu me sentisse melhor. Ele parecia se divertir observando minha timidez. Por sorte, Yesalel me acompanhava, apesar de ter sido contra a minha nova empreitada. Ela estava linda naquela noite... Jamais me cansava de olhá-la. Ela não era muito alta, considerando o porte normal de sua raça, com um óbvio rosto angelical, adornado por cachos de cabelos louros e dona de grandes e doces olhos dourados.
Entramos no helicóptero após um breve cumprimento. Logo, o ensurdecedor som das hélices girando sobre nossas cabeças tornou qualquer tipo de conversação impossível. Em menos de quinze minutos chegamos ao telhado do Hotel Sheraton de Glasgow. Em vista de termos algum tempo antes de iniciar a ópera, pretendia fazer algumas perguntas à Sinclair, porém o nervosismo me impedia de raciocinar ou de me lembrar das perguntas que eu anotara em algum pedaço de papel perdido em meus bolsos.
No restaurante, localizado no terraço do hotel, uma mesa nos aguardava, para minha surpresa.
- E então? Quer perguntar algo? –Sinclair perguntou tão logo nos sentamos.
- C-como? – redargui confuso.
- O seu trabalho. Quer começar agora?
- Trabalho?... Ah! Claro! Desculpe... Eu não esperava... Quer dizer... Deixe prá lá – conclui nervoso, sentindo um leve calor na face, o que o fez contrair o lábio para a direita, mostrando seu sarcasmo para com meu mal estar.
Enquanto eu tentava raciocinar, uma gota de suor surgiu em minha testa, pois percebia claramente a intenção do banqueiro em constranger-me.
Ele apenas me encarava impassível. Yesalel cochichou em meu ouvido para que eu tomasse uma atitude imediatamente para acabar com aquela situação constrangedora. Com a ajuda dela, sentindo-me mais confiante, olhei com firmeza o homem a minha frente e o questionei:
- Parece que o senhor sente prazer em me ver constrangido, não? – decidi pela honestidade.
- Prove o vinho, Dominic. Acho que vai apreciá-lo... – disse, fingindo que não ouvira minha acusação, aproveitando que o garçom surgira pronto para servir um delicioso e caríssimo vinho tinto.
- Fique quieta! – cochichei para Yesalel, que não parava de me criticar, tentando ser discreto, mas provocando uma reação confusa do homem que nos servia.
- Falou comigo, senhor? – perguntou o garçom.
- Ahn? Não... Estava falando sozinho – disse atrapalhado, fazendo uma careta de desaprovação para o “vazio” ao meu lado.
- Costuma falar sozinho, Dominic? – perguntou Sinclair irônico.
- Não... Quer dizer... Às vezes...
- Tome o vinho. Vai ajudá-lo a relaxar um pouco.
- Tem razão... Estou meio tenso – confirmei, elevando minha taça, sugerindo um brinde, ao qual não fui correspondido.
Ainda nervoso, terminei de beber e, ao deitar o cálice sobre a mesa, acabei por derrubá-lo sobre a toalha branca. Apesar disso, Sinclair manteve-se indiferente, sem uma demonstração qualquer de surpresa ou desagravo.
Naquele primeiro encontro, obviamente não consegui extrair grandes informações a respeito de meu entrevistado. Antes e durante o intervalo da ópera, ele me permitiu circular ao seu lado, para que conhecesse um pouco daquele mundo dos muito ricos. Continuava com a sensação de que ele se divertia com a minha atrapalhação ao tentar explicar às pessoas o motivo de minha presença ao lado dele.
Depois do espetáculo, já menos tenso, fui deixado no local de partida, no topo do prédio do banco. Agradeci a oportunidade que me oferecera e fui embora.
Ali começara minha estranha amizade com o excêntrico Kyle Sinclair.
(continua ...)
Rosane: Que surpresa mais agradável ver que vc já começou as postagens!!! Estou tão emocionada com nosso projeto e o carinho todo especial que vc dedica a ele. Espero que vc esteja tão feliz quanto eu estou. Bjão!!!
ResponderExcluirRô, que início lindo!! tenho certeza de que esse romance vai ser maravilhoso, nem poderia ser diferente, com tanta inspiração e criatividade vindas de você e da Aline. Parabéns às duas por essa iniciativa, acho que deve ser meio complicado escrever assim, principalmente nos momentos de dúvidas, mas sei que o resultado vai ser uma emocionante e envolvente historia de amor, tensão e suspiros.
ResponderExcluirJá amei o Dominic, seu histórico familiar e o dom que ele tem para ver os amigos espirituais, e o Sinclair já deu arrepios...
Parabéns de novo!!!!
Beijossss!!!!
Primeiramente quero parabenizar a Aline pelas suas autorias que são de uma calreza, delicadeza e num capricho inquestionavel. Agora unindo essa parceria só tem 2 opção: Dar certo e Dar mais certo ainda. Sucesso nessa nova empreitada meninas. No que depender de mim deixará muitos escritores no chinelo.
ResponderExcluirE já começaram com a corda toda nessa aventura angelical toda especial e cheias de mistérios e diga se de passagem o filme missão impossivel não é nada perto da missão de Ariel em ser guardiã de um Dom desse... mama mia!
Boa sorte e mais sucesso queridas! beijãooo
Muito interessante esse romance novo vou tentar acompanhar .bjos Dioceli.
ResponderExcluirAi mlr,vc hein?! Sempre pensando nos leitores né? Beijão sua linda *---------------*
ResponderExcluirPassei e ja vou acompanhar esse também,nem em sonho perco!
Bjos
http://joicy-santos.blogspot.com.br
Acho esse Sinclair um safadinho. Percebeu, desde logo, o pânico por altura que o Dominic tem e lhe propôs aquele encontro pq sabia que ele iria ficar fragilizado, pois para quem tem esse tipo de fobia, andar de helicóptero ou até frequentar o restaurante localizado no terraço do hotel é de tremer nas bases! Muitas pessoas gostam de testar as outras para saberem se vale à pena investir no que elas dizem, é uma forma de saberem se essas pessoas possuem força de vontade suficiente para serem dignas de confiança. Eu não penso assim, acho que não é por aí, mas já vi muito disso.
ResponderExcluirOlha, eu sou atrapalhada demais, então entendo bem o Dominic... hehehe – e tenho fobia por altura!!!
Acho que o Sinclair simpatizou com o Dominic porque, apesar de um tanto atrapalhado, ele soube manter-se à distância, como um observador, que é o que ele pretende mesmo ser. Ele não tentou invadir a privacidade de Sinclair, nem tão pouco tomou atitudes de ostentação, o que causaria nojo em Sinclair que já está acostumado a esse mundo de falsas aparências.
Acho que Ariel terá muitas aventuras a vivenciar ao lado de Dominic, afinal, se o nome dele está na pasta vermelha, algo de importante tem ali.
Fiquei com um aperto no coração devido à separação de Yesalel e Dominic – afinal, o amor pode surgir em qualquer relacionamento! Dominic tem o dom de ver os Anjos da mesma forma como o faz com os humanos e isso torna tudo mais profundo. Espero que eles possam se reencontrar, pois o amor correspondido é algo muito precioso!
Rô, eu adoro tudo o que diz respeito aos Anjos, sei lá o motivo, mas amo Anjos, assim como amo os Animais! Então, já viu, já estou apaixonada pelo teu conto. Parabéns a vc e a Aline por essa união intelectual tão bonita, já pelos primeiros capítulos dá para perceber que será mais uma obra magnífica!
Beijinhos