domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Corsário Apaixonado - Capítulo XIX

Dez dias após a chegada imprevista de Crow à propriedade dos Lodwick, próxima a Ashford, na província de Kent, este já se encontrava mais disposto. A tosse praticamente desaparecera e ele já readquirira quase todo o peso que perdera no período de prisão e fuga. Há pelo menos três dias começara a falar em partir. Um dos motivos era não querer complicar a vida de seu pai, tornando-o cúmplice de um fugitivo. O outro era sua intenção de comunicar a Edmond Boyle que sua sobrinha estava viva e, depois disso, partir ao encontro de Ana. Entretanto, fora demovido de tais ideias pelo Dr. Hall, que lhe dizia que seu organismo ainda não estava preparado para empreender nova fuga. Ainda precisava de pelo menos mais alguns dias para sua recuperação total. Impaciente, andava de um lado a outro do quarto, já que não podia sair para evitar que outras pessoas o vissem e a informação de sua presença fosse levada a quem não devia.
Naquela tarde de início de Outono, um cavaleiro fardado com as cores da marinha chegou ao castelo de Lodwick. Para surpresa de Crow, que não esperava nenhuma visita, identificou o homem como seu amigo Arthur Greenville. Sua presença, provavelmente significava que ele já soubera de sua fuga e viera para  avisar seu pai do ocorrido. Talvez ele pudesse ajudá-lo a encontrar Edmond Boyle.
Quando entrou no salão principal encontrou seu pai conversando com Arthur em tom confidencial. Assim que o viu, o amigo que trouxera para a Inglaterra, semanas antes, exclamou:
- Nigel! Estão todos a sua procura. Por que fugiu?
- Não podia mais esperar, principalmente depois de saber que a intenção era me deixar morrer lá mesmo, sem julgamento.
- Como assim?
- É isso que você ouviu, Greenville – confirmou Timothy, interferindo na discussão para apoiar o filho em sua decisão. – Ele chegou aqui há cerca de dez dias quase morto. Não fosse o Dr. Hall e os nossos cuidados ele estaria morto.
- Sinto muito por isso, Nigel – retorquiu Arthur com expressão de pesar. – Realmente eu pensei que haveria um julgamento em breve. Inclusive, eu seria testemunha  ao seu favor. Retornei a poucos dias de uma missão no The Conqueror pronto para comparecer ao julgamento, quando fiquei sabendo de sua fuga e da de Castilhos.
- Foi ele quem me ajudou a escapar.
- O quê? Castilhos o ajudou a fugir? Não acredito...
- Devo a ele por estar vivo ainda, por incrível que pareça.
- Muito bem... E agora... O que pretende fazer?
- Não sei...
- Ele ainda precisa de mais alguns dias para se recuperar antes de partir. – explicou Timothy. – Espero que você mantenha sigilo sobre Nigel estar aqui, Greenville.
- Nigel me conhece... Não sei se poderei guardar este segredo. Tenho meus deveres para com a Rainha e lealdade é um deles. Não posso fingir que não sei o paradeiro de um fugitivo que eu mesmo ajudei a prender.
- Santo Deus, Greenville! Ele não é um fugitivo comum. Ele é seu amigo!
- Eu o entendo, Arthur, mas dessa vez não vou me deixar confinar mais uma vez naquela prisão fétida de Londres. Além disso, preciso concluir uma tarefa.
- Que tarefa?
- Comunicar a Sir Edmond Boyle que sua sobrinha Ana está viva.
Por alguns instantes, Arthur ficou pensativo, como se tivesse percebido algo importante, mas logo a seguir tornou a perguntar.
- E pretende fazer isso pessoalmente?
- Ainda não sei...
- Talvez eu possa fazer isso por você, meu filho.
- Ou eu. – interferiu Arthur.
- Você faria isso por Ana ou por mim?
- Claro! Afinal somos amigos...
- E quanto a denunciar-me?
- Não sei, Nigel. Vou pensar enquanto você se recupera. Posso lhe dar esses dias de recuperação, mas depois eu serei obrigado a entregá-lo.
- Mas que tipo de amigo...
- Calma, pai... –  Crow interrompeu seu pai. – Eu o entendo. Ele é um homem honrado e cumpridor de seus deveres. Não o culpe por isso.
- Ainda bem que pensa assim, Nigel. Saiba que não vou permitir que aconteça mais uma vez o tipo de descaso que desencadeou sua fuga. Pedirei uma licença para me afastar do comando até resolver o seu problema. Quero que confie em mim.
- Obrigado, Arthur.
- Antes que me esqueça. Seu amigo Castilhos, ninguém sabe como, recuperou o El Tiburón e fugiu de Dover há três dias. Desapareceu como por mágica em águas inglesas.
Crow não pode evitar um meio sorriso.
- Exatamente como ele disse que faria...
Sob o olhar desconfiado de Timothy, Arthur despediu-se de pai e filho e partiu na direção de Londres.

A chegada a Cádiz, onde a tripulação do Hidalgo, reunida por Bald e Liam já os aguardava, foi tranquila. Partiram imediatamente, tão logo Ana, Brett e Valentina embarcaram.  Os três não conseguiam esconder a satisfação em partir novamente rumo à Inglaterra onde esperavam ter notícias de Crow e encontrá-lo livre da prisão. Os piratas cantavam de alegria por estarem mais uma vez sobre águas profundas, navegando em liberdade. Tinham aproveitado ao máximo sua estadia em Cádiz, mas já não suportavam mais a terra firme. Agora só queriam recuperar seu capitão e voltar à vida normal, entre as abordagens, aventuras marítimas e Eleuthera.
Nove dias depois do embarque na Espanha, numa velocidade de 12 milhas-marítimas por hora, a caravela de Crow, agora já ostentando seu nome original, Highlander, chegou a Canvey Island, para surpresa de Ana.
- Por que viemos para cá? Por que não para Dover? – perguntou Ana desconfiada.
- Por três motivos, minha amiga. – respondeu Brett. – O primeiro é que Canvey Island fica mais próxima de Londres que Dover. Certamente é para lá que Crow foi levado para o julgamento com a presença da Rainha. O segundo motivo é que nesta enseada é mais fácil de esconder o Highlander em um dos recortes de sua encosta. O terceiro é que seu tio Boyle mora em Basildom, que fica a poucos quilômetros daqui e Crow me fez prometer que a levaria ao seu tio assim que retornássemos à Inglaterra, independente dele estar vivo ou... não. – terminou a frase com a voz baixa e pesarosa.
- Você acha que ele pode estar... – perguntou Ana sentindo suas forças esvaírem-se só de pensar em tal possibilidade.
- Prefiro não pensar sobre isso, Ana. Vou cumprir o que prometi ao meu amigo.
- Ele tem razão, Ana. – disse Tina, que acompanhava a conversa. – Vamos seguir o plano de Crow.
- Perdi quase um mês em Villardompardo e saí de lá sem saber se terei realmente direito sobre a herança de meu pai. Não posso mais perder tempo apresentando-me para um tio que nem deve saber da minha existência.
- Ana, agora falta pouco para chegarmos à Crow. – Tina tentou tranquilizá-la. – Tenho certeza que esse encontro será mais breve e logo partiremos para Londres para ter notícias de Crow. Arthur nos deixou seu endereço para encontrá-lo e sabermos sobre o andamento do julgamento.
- Está bem, mas não pretendo demorar-me mais que um dia nessa visita. Cada dia que passa meu coração fica mais apertado. Sinto que ele está em perigo e que precisa de ajuda.
Brett e Tina entreolharam-se preocupados e entristecidos. No fundo, eles duvidavam que Crow pudesse ainda estar com vida, depois de tanto tempo, mas não podiam tirar as esperanças de Ana.
A despeito da insistência de Tina em acompanhá-los, Brett tentou convencê-la que seria mais seguro que ficasse a bordo, no comando do navio. Apesar da evidente insatisfação, ela acabou cedendo.
Tão logo atracaram o Highlander em uma das praias mais discretas de Canvey, Ana, Brett e Liam desceram e seguiram com o escaler contornando a ilha até uma área o mais próxima possível de Basildon. Lá desembarcaram, na praia deserta, cuidando para não serem vistos. Esconderam o bote e andaram até um pequeno vilarejo.
- Bom dia! – cumprimentou Brett simpaticamente recebendo apenas olhares curiosos e assustados dos dois camponeses que conversavam em frente a uma das choupanas. – Estamos à procura de Sir Edmond Boyle. Poderiam nos informar onde ele mora?
Os dois se entreolharam e voltaram os olhos  para Ana, que se vestia com calça e camisa masculinas, o que não era comum por aquelas bandas. Após uma análise do grupo todo, o mais velho deles, dando uma cusparada no chão, respondeu de má vontade.
- Andem mais uns dois quilômetros em  linha reta.
- Muito obrigado, senhor! – agradeceu fazendo uma pequena reverência.
Apesar de duvidarem que a informação fosse correta, percorreram o caminho indicado e chegaram a um belíssimo lugar, de vegetação densa, apesar de algumas árvores já estarem perdendo suas folhas devido a chegada do outono.  No centro de tudo isso, um grande castelo de pedra se elevava sobre uma discreta colina, cercado por altos muros. Ao longe, era possível ver as duas imponentes torres principais com seus telhados pontiagudos. Elevando-se a partir de um deles se vislumbrava o mastro onde tremulava uma bandeira que levava, muito provavelmente, o brasão da família Boyle. A construção era magnífica, feita obviamente para demonstrar o poderio de seus proprietários.
Aproximaram-se com cuidado e, ao chegarem próximo ao portão, que se encontrava fechado, viram as guaritas onde sentinelas atentos guardavam a entrada.
- Quem se aproxima?
- Viemos falar com Sir Edmond Boyle. – respondeu Brett.
- Quem quer falar com nosso mestre?
- Sua sobrinha, Ana de Villardompardo. – falou Ana em voz clara e firme.
O silencio tomou conta da guarita. Ouviu-se apenas o movimento de passos rápidos dentro da construção. Alguns minutos após, uma voz masculina se fez ouvir.
- Podem entrar.
No minuto seguinte, os imensos e pesados portões de madeira foram abertos lentamente. Dois homens armados com lanças e com as mãos sobre o cabo de suas espadas embainhadas mostraram o caminho para o interior da fortaleza. Com tal escolta, atravessaram o pátio de terra batida, onde alguns serviçais pararam seu serviço para observarem os estrangeiros recém chegados. Foram conduzidos para um grande salão finamente decorado, com tapeçarias e pinturas de prováveis antepassados dos Boyle. Dentre elas, uma se destacava mais que as outras. Era o retrato de uma mulher muito jovem, vestida com elegante simplicidade, tendo os volumosos cabelos ruivos soltos sobre os ombros. Tinha as faces coradas e um olhar vivo e inteligente, captado com talento pelo artista. O quadro estava em lugar de destaque sobre a  lareira principal, no meio do recinto. Ana dirigiu-se até ele e ficou olhando saudosa para a linda garota que Eleanor tinha sido.
- Quem ousa passar-se por minha sobrinha? – soou a voz grave e rouca de um homem ricamente vestido, aparentando cerca de cinquenta anos, cabelos avermelhados com alguns grisalhos aparentes nas têmporas.
- Eu, senhor – respondeu Ana virando-se para confrontar o irmão de sua mãe.
A julgar pela expressão de Edmond, se poderia dizer que ele tinha visto um fantasma.
- Não é possível... – disse assombrado e claramente emocionado. – Me disseram que... todos haviam morrido... Você é...?
- Sou a filha de sua irmã, Eleanor... – respondeu sem saber exatamente como comportar-se naquela situação.
O tio, apesar dos cabelos ruivos e ondulados como os seus, tinha um rosto de linhas mais duras, possivelmente forjadas por sofrimentos antigos. Os olhos azuis tornaram-se marejados após um período de estarrecimento, seguido pelo reconhecimento da verdade.
- Ana... Não é?
- Sim...
- Desculpe minha reação, mas é que você é muito parecida com sua mãe...
- Eu sei... Tenho sido frequentemente lembrada disso nos últimos tempos...
- Quem são estes homens? – perguntou numa tentativa de amenizar a emoção.
- Estes são o senhor Brett e o senhor Liam. Eles são grandes amigos que têm me ajudado muito.
- Muito prazer, senhores. Sejam bem vindos...
- Sir Boyle...
- Por favor, me chame de tio...
- Está certo...Tio... – respondeu meio sem jeito. – Temos pouco tempo, pois tenho um compromisso urgente em Londres que não pode esperar muito mais.
- Ana, por favor, vamos sentar. Temos muito a conversar. Soube do que aconteceu com seus pais e pensei que você também havia morrido.
- É uma longa história...
- Por favor... Eu preciso saber... Nos últimos anos tenho amargado com a dor de não ter conseguido pedir perdão a minha irmã pelas duras palavras que dirigi a ela na última vez que nos vimos. Há dez anos pensei que poderia consertar as coisas quando recebi sua carta pedindo acolhida para ela e sua família, mas o destino não quis que isso acontecesse.
- Eu sei... Mas também sei o quanto ela o amava e o respeitava. Infelizmente, nosso navio foi interceptado por Francis Drake e...
- Como? Drake?
- Sim... O senhor não sabe que ele foi o responsável pela morte de meu pai e de minha mãe?
- Não... A versão foi a de que vocês sofreram um ataque de um navio pirata... Por favor, me conte tudo como aconteceu.
Com um triste suspiro, Ana iniciou sua história mais uma vez, sentindo que não poderia negar isso ao  seu tio.
Ao final, Boyle mostrava um ar estupefato diante das atrocidades ocorridas com a família de sua irmã, que só aumentou ao saber que Ana recebera ajuda exatamente da pessoa menos improvável, o pirata inglês procurado, Crow.
- E onde está esse homem? – Ao perguntar, logo lançou um olhar para os dois homens sentados a sua frente. – É um de vocês?
- Infelizmente não, tio. Eles navegam com Crow...
- Está me dizendo que estes homens são piratas? – indagou espantado.
- Ao seu dispor, sir – sorriu Brett sarcástico.
- Com certeza, senhor. – emendou Liam, piscando o olho.
- São os melhores amigos que alguém poderia ter, meu tio. Devo minha vida a eles.
- Não ouso duvidar de você, minha filha – terminou por concordar Boyle, ainda com certo temor. – E onde está  esse Crow?
Com súbito olhar de consternação, Ana baixou a cabeça e voltou a falar.
- Ele se deixou prender, tio, para expiar seus crimes perante a Rainha e, se libertado, poder se casar comigo e levar uma vida decente. Deixou seu navio sob o comando de Brett para que me levassem de volta à Espanha e recuperasse meus direitos como herdeira de meu pai... Agora, não sei o que aconteceu com ele. Temo que esteja na prisão ou ... morto. – Duas lágrimas acabaram por rolar em sua face à simples ideia de nunca mais poder vê-lo.
Antes que Boyle pudesse dizer alguma palavra de consolo à sobrinha, um de seus criados surgiu e pediu licença para falar.
- Um visitante, senhor, pede para falar-lhe. Diz ser oficial da Marinha de Sua Majestade. Chama-se Greenville.
- Arthur? – disseram quase ao mesmo tempo Ana, Brett e Liam.
- Vocês o conhecem?
- Sim. Foi a ele que Crow se entregou. Eles eram amigos antes de Crow tornar-se pirata.
- Que história mais confusa...
- Sir Boyle... –  disse o servo que aguardava ordens a respeito do visitante inesperado. – Posso trazê-lo  aqui?
- Por favor, deixe-o entrar.
Arthur também se espantou ao ver o trio que aguardava na sala  em companhia de Sir Boyle.
Feitas as apresentações, Ana não resistiu e lançou a questão que a estava deixando louca.
- Onde está Nigel? Onde você o deixou? E o que faz aqui?
- Isso mesmo. Onde está o nosso capitão? – se revoltou Liam.
- Calma... Crow está melhor do que vocês possam imaginar... Pelo menos por enquanto.
- Arthur, pelo amor de Deus! Onde ele está? – repetiu Ana aflita, imediatamente amparada por Brett que pensou que ela desfaleceria, o que já ocorrera por duas vezes quando estavam a caminho da Inglaterra, ainda no Highlander. Supunha ser fraqueza já que ela não andava se alimentando bem.
- Ele está na casa de seu pai, a alguns quilômetros daqui, na província de Kent.
A face de Ana transfigurou-se em puro contentamento, no que foi acompanhada por seus dois acompanhantes.
- Então ele foi julgado e absolvido? – perguntou Brett aliviado.
- Não foi bem isso que aconteceu... Na verdade, ele fugiu da prisão e acabou por esconder-se na casa paterna.
- Afinal, quem é esse Crow, ou Nigel, como Ana insiste em chamá-lo?
- Se me permite, Sir Boyle, poderei explicar-lhe tudo. Agora, creio que a senhora Ana vai querer partir para encontrar-se com Nigel.
- Me perdoe, tio, mas Arthur tem razão. Preciso encontrá-lo e ver com meus próprios olhos que está bem. Prometo que voltarei para vê-lo e continuar nossa conversa.
Apesar de toda a emoção, Brett não parecia satisfeito com a notícia de Arthur. Algo lhe incomodava naquela situação.
- Greenville... Gostaria apenas que me esclarecesse porque veio até aqui, se não sabia de nossa presença?
- Pois não... Vim aqui a pedido do próprio Crow. Ele me pediu para notificar Sir Boyle sobre sua sobrinha ... Mas parece que cheguei tarde. Talvez tenha sido melhor assim...
- Por que ele mesmo não fez isso? – continuou Brett em sua desconfiança.
- Porque é um fugitivo e pode ser preso se for reconhecido. Além disso... – olhou de soslaio para Ana, pensando se deveria dizer o próximo motivo.
- Além disso?... – perguntou Brett.
- Ele está se recuperando. Sua saúde foi afetada seriamente na prisão.
- Ele está ferido? – perguntou Ana alarmada.
- Não. Aparentemente foram problemas respiratórios, mas que já foram sanados. No entanto, o médico que o está tratando o proibiu de sair de casa.
- Oh, Brett! Vamos logo para lá! Você sabe onde fica a casa dos Lodwick?
- Eu posso lhe indicar o melhor caminho – ofereceu-se Arthur.
- Não é necessário. – recusou Brett grosseiramente. – Crow várias vezes me falou do local onde havia nascido. Sei com chegar lá.
- Brett... Não entendo por que está sendo tão áspero comigo. Sei que está preocupado tanto quanto eu por nosso amigo. Lembre dos nossos velhos tempos e... Confie em mim.
- Muitos anos se passaram, Greenville. Não sei o que o tempo ou a Marinha podem ter feito a você. Certamente não é mais aquele garoto inexperiente que vivia em nossos calcanhares a fazer perguntas a respeito de tudo que desconhecia.
Arthur sorriu ao se lembrar daquela época.
- Bons tempos aqueles, não? Ainda teremos oportunidade de nos sentarmos e conversar sobre eles.
- Só espero que essa conversa não ocorra com uma grade entre nós.
- O mesmo eu espero, Brett... Tenha certeza disso.
- Por favor, Brett! – exclamou Ana desesperada com aquela conversa sem fim, contorcendo as mãos uma na outra. – Vamos!
A angústia no chamado de Ana fez com que ele se decidisse a partir imediatamente.
Antes de partirem, Boyle fez questão que recebessem provisões e cavalos para levá-los com maior presteza ao seu destino. Apesar da dor de ver sua sobrinha partir tão rapidamente como chegara, não quis impedi-la de encontrar o homem que a tinha resgatado do anonimato na França e ao qual ela aparentemente entregara seu coração. Já bastava um arrependimento em seu passado. Faria de tudo para conseguir o respeito e o amor de sua sobrinha. Não a perderia como acontecera com Eleanor. 
Tão logo os portões da propriedade se abriram, o grupo partiu  a caminho de Kent. 

A noite se aproximava e, como ainda faltavam algumas horas de estrada até chegar à propriedade dos Lodwick, Brett sugeriu que descansassem durante a noite e voltassem à estrada ao amanhecer. Não queria arriscar-se a expor Ana aos assaltantes de beira de estrada. Estariam mais seguros escondidos entre as árvores do bosque a sua volta. Ana, que desconhecia totalmente o caminho e, portanto estava a mercê de Brett, foi obrigada a ceder à ideia da parada.
Conseguiram achar uma pequena clareira e ali desmontaram. Liam encarregou-se de procurar água para os cavalos. Podia ouvir o murmúrio de um riacho próximo.
Uma fogueira foi acesa para aquecê-los e manter afastados animais curiosos. Assim que Liam voltou, puderam compartilhar a carne assada, o pão, o queijo e o vinho, fornecidos no castelo. Quando estavam no meio da refeição, Liam percebeu um estranho ruído entre a vegetação a alguns metros deles. Provavelmente alguma raposa atraída pelo cheiro da carne, pensou. De qualquer forma, ficaram alerta. Brett sacou seu punhal e empunhou sua espada. Todo o cuidado era necessário nestes caminhos desertos durante a noite.
- O que houve? – perguntou Ana sobressaltada.
Brett fez sinal, colocando o dedo indicador da mão que segurava o punhal sobre a boca, para que ela silenciasse e com gestos pediu a Liam que ficasse próximo a Ana para dar-lhe proteção enquanto verificava se tinham alguma companhia indesejável. Quando se preparava para penetrar no bosque, ouviu um relinchar muito próximo.  O som de passos sobre as folhas secas e a quebra de galhos indicava a rápida aproximação de seres humanos e não de um simples membro da fauna local. Brett e Liam já se encontravam em posição de ataque, quando ouviram uma conhecida voz elevar-se acima de sua tensão.
- Sobrou algo desse jantar para dois esfomeados?
- Valentina!? – exclamou Brett aturdido, quase ao mesmo tempo que Ana.
- Espero que não tenham comido tudo...
Ana sorriu, tranquilizada pela presença e pelo bom humor de sua amiga, ao contrário de Brett, que franziu o cenho e crispou a boca, irritado com a causa do  momento de tensão pelo qual passara.
- O que estão fazendo aqui? – perguntou indignado, lançando um olhar de recriminação para Tina e Bald, que vinha logo atrás dela.
- Ela é teimosa e tão convincente quanto o velho Hawke – explicou Bald, notando a ira de Brett. – Queria vir sozinha... Assim não tive outra maneira a não ser acompanhá-la.
- Não pensou que eu ia perder vocês de vista, pensou? – esclareceu Tina, com olhar sedutor, aproximando-se de Brett.
- Você é impossível! Não vê o perigo a que está se expondo? – disse furioso, mas tentando não elevar demasiadamente a voz, apesar da vontade de gritar com Tina.
- O mesmo perigo que vocês estão correndo. – enfrentou-o.
- Por que não fez como combinamos?
- Não combinei nada.
Como ele continuasse de pé, rijo e com cara fechada, Tina resolveu ignorá-lo e voltou-se para Ana que presenciava a discussão do casal, temerosa com a reação do amigo.
- Além disso – continuou a falar, ignorando a determinação de Brett de continuar a discussão e estendendo as mãos na direção de Ana. – , não podia deixar minha amiga nesse período de aflição.
- Obrigada, Tina. – respondeu grata,  oferecendo-lhe um abraço.
- Como conseguiram esses cavalos? – perguntou Liam a Bald para tentar desviar a atenção de Brett sobre Tina, mudando de assunto.
- Pelo método pirata, meu amigo! – respondeu, soltando uma gargalhada. – Tem um pouco de rum para aquecer a alma de um velho marujo? – indagou assim que parou de rir.
- Ainda sobrou um pouco de vinho. Não é tão bom quanto o rum, mas dá para o gasto.
- Que tal se sentarem e comer alguma coisa? – ofereceu Ana quando se separou do abraço de Tina.
- O tal Sir Boyle foi bem generoso com as provisões. – atestou Liam abrindo uma nova garrafa de vinho.
Brett continuava parado diante da fogueira mirando Tina com um olhar entre incredulidade e irritação. Quando seus olhares voltaram a se cruzar, ele deu uma meia volta e saiu pisando duro, na direção da mata fechada.
Teimosa e magoada com a recepção de Brett, Valentina não foi atrás dele como seu coração insistia em lhe pedir. Ao contrário, permaneceu ao lado de Ana, fingindo interesse pela comida que lhe era apresentada. Acabou por comer algumas migalhas de pão e entornar uma caneca de vinho, na esperança que a bebida pudesse amortecer seus pensamentos.

Brett só retornou quando todos estavam dormindo e as chamas começavam a diminuir sua intensidade. Colocou um pouco mais de lenha para atiçar o fogo e se deitou na relva com a cabeça sobre o braço direito, evitando olhar para o lado onde Tina repousava. Ela, por sua vez, ao vê-lo em segurança, deu um suspiro silencioso e finalmente fechou os olhos, sendo vencida pelo sono, contra o qual lutava esperando o retorno dele.

Quando os primeiros raios de sol lançaram suas luzes sobre a floresta, o grupo guiado por Brett voltou à estrada, cavalgando rapidamente para Kent, na região onde ele sabia ser a casa de Crow. Ele permanecia silencioso e carrancudo para decepção de Tina. Ana acordou sentindo certo enjoo, que acabou por culpar o vinho, ao qual não estava acostumada a beber, ingerido na noite anterior. Procurou esconder o mal estar e seguiu firme, montada em seu cavalo ao lado de Brett, ansiosa pelo encontro em Kent. Não permitiu que parassem novamente para qualquer descanso. Por isso, poucas horas após o amanhecer, alcançaram a propriedade dos Lodwick.

- Filho...
- Sim? – respondeu Crow de onde estava, sentado na poltrona de seu quarto a ler sem grande interesse  um dos livros que pegara na biblioteca de seu pai.
- Tem visitas para você. – anunciou Timothy com um estranho sorriso no rosto bronzeado.
- Visitas? – perguntou preocupado, sem reparar na expressão do pai. – Arthur voltou? Está sozinho?
- Desça e veja com seus próprios olhos.
Atônito e curioso, ao alcançar o corredor, ouviu alguém subir às pressas as escadas. Seu coração sofreu um baque ao ver quem corria por aqueles degraus.
- Ana! – a voz saiu emocionada enquanto as pernas iniciaram largas passadas na direção dela.
- Nigel! – respondeu ela arfando.
Em segundos, encontraram-se no alto da escadaria. Crow a tomou em seus braços, erguendo-a no ar, prendendo-a em um abraço, afundando a cabeça entre as mechas avermelhadas de seus cabelos e aspirando o perfume suave que ela exalava. Mal podia acreditar que a tinha mais uma vez junto a si. Um calor reconfortante invadiu a ambos, como se um longo, triste e gelado inverno tivesse finalmente chegado ao fim. Sem soltá-la, pousou-a no chão e afastou-se apenas o suficiente para admirá-la e certificar-se que não estava sonhando. Só então a beijou com paixão e desespero, tentando saciar a saudade e o desejo por aqueles lábios, sendo plenamente correspondido.
- Nigel... – murmurou acariciando-lhe o rosto barbeado e pálido. – Você está bem? Arthur disse que estava doente...
- Arthur? Como ele a encontrou?
- Agora não importa... Só quero saber se está bem.
- Estou... Agora que está aqui, melhor ainda... – sorriu, antes de lembrar-se de algo e ficar subitamente apreensivo – Está sozinha? Como chegou até aqui?
- Claro que não estou sozinha – disse sorridente. – Vim acompanhada pelos anjos da guarda que você designou.
- Ah, Ana... Ainda me custa acreditar que esteja aqui...
- Então terei que provar que não é um sonho... – sussurrou enquanto passava as mãos em torno de seu pescoço e o atraía ao encontro de seus lábios. Esquecidos da presença de Timothy, que no momento se sentia como um intruso, se entregaram ao apaixonado beijo.
- Bem acho que não precisam de mim por aqui... – falou para as paredes um pouco sem jeito, enquanto se afastava do casal na direção das escadas. – Vou recepcionar os outros convidados...
Ainda acolhida entre os braços de Crow, Ana sentiu a visão turvar-se  e as pernas amolecerem. Antes de perder a consciência, ouviu a voz de Nigel gritar seu nome ao longe.

(continua...)


Oi, meus queridos leitores, amigos e amigas! Pois é... Voltei das minhas férias. Sinto ter deixado o romance sem uma finalização, mas não foi possível faze-la. Já estava com saudades, apesar deste período ter sido maravilhoso. Recarreguei baterias, vi lugares e pessoas diferentes. Voltei à República Dominicana (lá me inspirei para escrever o Pelo de Punta), onde tinha estado no ano passado com a família toda, e foi MUITO BOM e divertido repetir a dose. Depois, deixamos os filhotes em casa e, só com meu marido, finalmente realizei a minha vontade de conhecer os Estados Unidos, indo à Nova Iorque.  
É uma metrópole fantástica, com bairros antigos bem conservados, como Greenwich(West Side) e o SoHo, outros nem tão bem cuidados, como o Harlem(o que é uma pena...), uma Times Square que hipnotiza a gente com suas luzes, dia e noite, e infindáveis teatros, com todas as peças que rezamos que venham para o Brasil para uma curta temporada, e que lá ficam por anos, com astros como Matthew Broderick e Kevin Spacey. A vista noturna do 102º andar do Empire State Building é de tirar o folego. O que mais gostei, no entanto, foi o Central Park. É um encanto. Inacreditável supor que exista uma área verde tão grande como essa (praticamente ele atravessa a cidade de norte a sul) em meio a todos aqueles prédios. Perfeito para espairecer depois de um dia de trabalho ou para curtir o fim de semana. Nesse parque revivi as emoções de todos os filmes que já tinha visto rodados ali, lembrei de um certo encontro entre argentinas e um famoso astro do cinema(lembram, meninas do fã-clube do GB?) e vibrei como uma criança descobrindo seus recantos e encantos.
Bem, como podem ver voltei empolgada com minha viagem. Mas não quero só falar dela. Voltei com uma saudade imensa de escrever, já que passei esse tempo todo longe da internet e do meu Word. Assim, hoje deixo esse capítulo, que ainda não é o final (tenho que deixar de fazer previsões com esses meus piratas....rsrsrs), mas quase.
Quero agradecer pela atenção de todos voces, que continuaram voltando a estas páginas do meu blog, lendo as minhas fantasias romanticas e me prestigiando com seu carinho. Também agradeço aos comentários, no post anterior, da Léia, Nadja, Cris e Lucy, minha amigas maravilhosas, por quem tenho grande carinho e admiração, e a todos que me visitam.
Como sempre digo, estou aqui energizada por voces.
Beijos e todo o meu carinho!  Até a próxima postagem!

(PS: meu computador não está digitando o acento circunflexo, por isso perdoem essas falhas no texto.)








6 comentários:

  1. Rô!!! Que saudades amiga, que bom que estas de volta, mas melhor ainda é saber que as tuas férias form realmente maravilhosas. Imagina se assim como as argentinas tu também tivesse esbarrado em Gerry no Central Park, rsrsrsrs.
    Amiga, o capítulo está maravilhoso (e a alusão à doença do Nigel me fez pensar novamente no problema de Gerry). Fiquei tentando descobrir o motivo da implicância do Brett em relação ao Arthur, será que esse senhor vai trair Nigel? Ele não merece mais essa maldade!
    Amei os enjôos da Ana, para o Nigel então vai ser o êxtase.
    Esses reencontros de família são sempre emocionantes, a Ana ter sido tão bem recepcionada pelo tio foi um alívio e o Nigel e o pai terem quebrado o gelo e agora estarem em paz, realmente a gente se apega tanto aos personagens que torce por eles como se fossem pessoas de carne e osso, é a magia da ficção.
    Beijosss!!!!

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    1. Oi, querida! As férias foram ótimas, mas é muito bom estar de volta. Fico feliz que tenhas gostado do capítulo. Quanto ao problema do Gerry, fiquei triste ao saber. Só espero que ele se recupere e a força de vontade férrea, que sempre apresentou, volte a se manifestar nessa luta contra o vício.
      Assim que possível quero te visitar no Sonhos e Sons(estou com saudade!).
      Um enorme beijo, minha amiga amada!

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  2. Nossa Rosane!
    Fiquei até sem fôlego com esse corsário... altamente voluptoso... parabéns!

    Obrigada por comentar lá no blog, adoro você e seus escritos.

    Desejo uma semana produtiva, cheia de luz e paz!
    Cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/

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    1. Oi, Rudy! Também adoro esse corsário...rsrsrs!
      É um prazer visitar o teu blog e ler aquelas resenhas tão bem escritas. Agora que voltei das férias quero ficar mais assídua.Obrigada pela visita. É muito bom te ver por aqui!
      Beijos, querida!!

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  3. Oi, amiga, não sabia que vc já tinha voltado! Que bom que as férias foram prazerosas, é excelente poder conhecer lugares novos e também revisitar recantos antigos que já nos encheram os olhos e ainda nos deixam em êxtase!
    Confesso que ao ler esse capítulo fiquei um tantinho aliviada, pois quando vc mencionou que o Nigel estava adoentado eu fiquei com um medo danado de que ele morresse (acho que é devido a maioria dos filmes do GB, em que para o nosso desespero, ele acaba morrendo).
    Esse Arthur parece ter o rabo preso, sei não, prefiro acreditar na intuição do Brett, pois este já está acostumado com o mau caratismo do ser humano.
    Mas, coitado do Nigel, na situação em que está, não havia outra coisa a fazer do que acreditar em Arthur e rezar para que pudesse ajudá-lo. Contudo, agora que não está mais sozinho, que a Ana já contatou o seu tio, as coisas mudam.
    E o Brett, não nega ser homem: carrancudo... Ainda bem que a Tina não tem medo de cara fechada... hehehe... Acho que ele tem razão em não querer que a Tina os acompanhasse já que isso tudo é muito perigoso. Todavia, uma vez que ela está lá, penso que ele deveria relevar e aproveitar o momento.
    Vi que vc já escreveu o próximo capítulo, vou correndo lê-lo! Beijinhos

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  4. Bom vou começar pelo nosso Nigel e Ana q a cada capitulo nos surpreende com tanta garra, determinação fazendo valer a força do verdadeiro amor. Idolatravel o encontro deles na escadaria... Mas tambem não posso deixar de frizar os comicos Brett e Tina que por onde passa solta faíscas nem quero pensar quando esses dois "pegar fogo"... kkk! Já Arthur é uma icognita quero acreditar que ele é de fato do bem.

    Mudando de galhos pra bugalhos fiquei encantanda com o relato da sua viagem tão mereçida, a cada palavra nota-se felicidade, sonho realizado e lembranças irretocáveis. Agora quando li o nome Central Park já me arrepiei toda e rodou o vídeo na integra em meu humilde cérebro... kkk Como não lembrar desse encontro encantado desejado por todas Gerryanas?! kkk

    Estou feliz que suas férias correu bem, na santa paz mereçida.

    Ps: Quem sabe surge outro romance baseado nesse passeio também hãn?

    Super beijo querida.

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