domingo, 16 de outubro de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo XIII



- Homens! –  exclamou Ana injuriada. – Ele me afastou daquela sala de propósito e usou você para isso!
- Eu sei... – disse Tina aceitando o protesto e reconhecendo a ação de Crow.
- O Brett contou que esse homem pode estar atrás de mim? – perguntou um pouco mais calma.
- Ele me contou algo sobre a sua prisão e a fuga de La Rochelle. Castilhos estaria interessado em capturá-la por uma recompensa. É isso?
- Mais ou menos isso – admitiu e voltou o olhar para o chão, pensativa.
- Eu não acredito que aquele rato de navio esteja aqui por esse motivo... – continuou Tina agora em tom de indignação. – Mas não se preocupe. O Crow e o Brett vão saber lidar com ele. – consolou-a antes de abrir um sorriso maroto e arrastar Ana para sentar-se ao seu lado na beirada da cama – Agora, eu quero saber o que aconteceu no seu passeio e que história é essa de casamento?
Ana não teve como manter a expressão sombria do rosto. Acabou por sorrir, lembrando da tarde maravilhosa que passara ao lado de Crow.
- Ah... O passeio foi muito bom e ele me pediu em casamento. – contou resumidamente, aguardando a represália que viria a seguir.
Tina ficou com o olhar expectante paralisado sobre a face de Ana, ansiosa pela continuação e pelos detalhes que deveriam acompanhar o relato. Quando viu que a amiga dera por encerrada sua narrativa, explodiu da forma como Ana já esperava.
- Como assim? Acabou? Eu quero saber os detalhes... Tudo. Por favor... – implorou.
Percebendo que Tina não desistiria enquanto não contasse como Crow chegara ao pedido de casamento, resolveu contar sua história desde o início. Apesar de conhecê-la há poucas horas, sentia que Tina era uma pessoa confiável.
A jovem pasmada ouviu o relato dos fatos que levaram Ana e Crow a se conhecerem anos antes, o seu conturbado reencontro em La Rochelle e a viagem à Eleuthera. Afinal, o tão esperado resumo da tarde e do pedido de casamento, sem maiores detalhes, tornou-se o menos interessante da narrativa.
- Agora você entende o porquê da minha preocupação com a presença de Castilhos aqui em Eleuthera?
- Sim... Claro. – respondeu Tina ainda perturbada com a história que acabara de ouvir. – Nossa! Diante disso tudo, as minhas dificuldades com o Brett não são nada.
- Pois então... Agora quero que me conte o que aconteceu aqui na nossa ausência.
- Nada. – disse entristecida.
- Você não falou a ele sobre os seus sentimentos?
- Ah, Ana... Eu tentei, mas ele parece que não quer saber mesmo de mim...
Compadecida pela nova amiga, que parecia tão vivaz e dona de si mesma, mas que naquele momento parecia a mais frágil das criaturas, amargurada por ter sido, provavelmente, rejeitada pelo homem que amava, Ana insistiu.
- Tina... O que aconteceu? O que o Brett fez para deixá-la assim?
- Nem sei se vale à pena tocar nesse assunto... – seus olhos brilhavam com as lágrimas represadas. – Não tenho o direito de entristecê-la com as minhas mazelas...
- Sabe, Tina... Eu nunca tive uma amiga com quem partilhar meus problemas. Com minha mãe eu sempre podia contar, mas ela morreu quando eu ainda era uma criança. Fui forçosamente adotada por um homem que, apesar de nunca ter levantado a mão para mim, nunca foi o que se poderia chamar de paternal. As únicas mulheres com quem eu tinha contato eram algumas vendedoras no mercado onde eu buscava a minha sobrevivência roubando ou as prostitutas que me conheceram criança e que às vezes me chamavam para conversar bobagens ou para dividir um pedaço de bolo. Nunca pude sentir o que era uma verdadeira amizade com elas.  Sendo assim, se você quiser ser minha amiga, pode começar a contar suas mazelas. Já contei as minhas ...
Sorrindo timidamente, Tina secou uma das lágrimas que escapara de seus olhos com o dorso da mão. Deu um suspiro e pegou as mãos de Ana, envolvendo-as entre as suas com um aperto suave.
- O Crow é um felizardo por ter te encontrado, Ana.
- E o Brett é um idiota se ainda não se deu conta de quem ele está desdenhando.
- Ele não quer compromisso, Ana... Foi bem claro nisso. Diz que gosta de mim, mas acha que não conseguiria levar uma vida a dois. Ele quer liberdade para navegar sem amarras. Palavras dele mesmo.
- Conte-me exatamente como foi essa conversa de vocês, desde o início...


A hora do jantar chegou e as crianças foram convidadas a participar também. Tina conseguiu acalmá-los até que a refeição fosse dada por encerrada.  Didier, que acordara e ainda não estava com seu melhor humor, não apreciou muito a companhia, mas ficou mais que satisfeito ao provar do cardápio especial que a cozinheira havia preparado para a primeira noite na Aldeia do Falcão. Tão logo terminaram de comer, os meninos passaram a utilizar artilharia pesada em termos de perguntas. Todos queriam saber a respeito da jovem ruiva que chegara com o Capitão Crow. Algumas eram respondidas por Crow e outras por Ana. Até Didier se viu envolvido e obrigado a responder as poucas perguntas que lhe dedicaram.  Depois de quase uma hora de interrogatório interminável, Tina baixou a ordem de recolher. Em meio a um muxoxo geral, Abe e os outros cinco despediram-se dos convivas, beijando na face o alvo de suas atenções. Ana não deixou de notar o olhar atento e afetuoso que Brett, sem perceber, dedicava à Tina, em meio a sua movimentação para levar a molecada para a cama. Deveria haver alguma maneira de ajudá-los. Gostaria que os dois pudessem resolver sua situação e ficarem juntos como Nigel e ela. Pensou assim enquanto admirava a atenção que ele dispensava a cada uma das crianças, oferecendo uma palavra de carinho a cada um deles ao desejar boa noite. Ele ainda não lhe contara nada a respeito de sua família. Ainda era um mistério para ela como ele fora parar na Marinha inglesa tão jovem.
Apesar de ter sido convidado a passar a noite na casa principal, Brett preferiu agradecer  o convite, dizendo que gostaria de descansar em seu próprio alojamento. Saiu junto com Didier com a pretensa desculpa de aproveitar o ar noturno antes que a chuva despencasse sobre eles. O quarto que Tina havia preparado para Ana a pedido de Crow antes de saírem para o passeio da tarde, acabou por ter um novo ocupante. O próprio anfitrião achou melhor acompanhar sua hóspede durante a noite, deixando bem claro que era para guardá-la de qualquer imprevisto, referindo-se a Castilhos. Tina não comentou e Ana apenas sorriu maliciosamente.
- Não sei o porquê de tanta explicações sobre o motivo de dormir aqui comigo – argumentou Ana logo após ele fechar a porta do quarto e ficarem a sós, enquanto lá fora o céu começava a despencar.
- Apenas não quero que pensem mal de minha noiva... – respondeu aproximando-se dela com o mesmo brilho nos olhos que ela vira à tarde.
- Depois de toda a tripulação do Highlander ter pensado mal de mim durante toda a viagem para cá, certamente não será a Tina, o Brett ou Didier que ficarão surpresos de ficarmos no mesmo quarto.
- A minha finalidade é apenas protegê-la esta noite...
Um raio cortou os céus e o seu estrondear assustou Ana, que estremeceu e jogou-se contra Crow como a buscar um refúgio.
- Tem medo de trovões? – perguntou, deliciado por tê-la mais uma vez aninhada junto a si.
- Dias antes de o nosso bote ser lançado na praia de La Rochelle, minha mãe e eu enfrentamos uma chuva muito forte, com ondas altas e trovões como estes... Tive tanto medo de morrer ali, no meio do nada... – o estremecimento chegava a sua voz.
Crow enternecido aumentou a força de seu abraço e afagou a cabeleira vermelha quando ela deitou a cabeça sobre seu peito.
- Não tema... São apenas trovões, meu anjo.
Levantou-a no colo com facilidade e levou-a até a cama, onde a deitou e ficou a admirá-la sentado ao seu lado.
- Então faça com que eles me lembrem de coisas agradáveis... – sugeriu incitando-o com os olhos chamejantes, denunciando medo e cobiça.
O desejo sobrepujou os temores de Crow pela segurança de Ana. O açoite da chuva nas janelas, o bruxulear das luzes das velas e o convite nos doces olhos castanhos não lhe deixaram escolha. Porém, desta vez não seria um ato impulsivo como fora na primeira vez. Na cama a tomaria com cuidado e calmamente. Levantou e despiu-se lentamente, sentindo a pele arder sob o olhar excitado de Ana. Voltou para o leito e passou a libertá-la da camisola de algodão, que escondia o corpo tenso, os pelos eriçados e os mamilos túrgidos. Logo não foi mais possível esconder sua própria excitação.
- Posso tocá-lo? – perguntou Ana ainda tímida.
- Faça o que quiser... – respondeu com a voz baixa e enrouquecida.
- Então... Deite-se aqui ao meu lado – ela exigiu carinhosamente.
Obediente, atendeu ao pedido sem pestanejar e gemeu quando as mãos trêmulas passaram a acariciar-lhe a pele dos ombros, descendo pelos braços, delineando cada músculo tensionado pelo estímulo que recebia. Logo a atenção dos longos dedos voltou-se para o tórax largo, demorando-se sobre os mamilos endurecidos, descendo através da barriga rija e plana, contornando o umbigo raso, em torno do qual pelos negros surgiam e declinavam até o púbis. Crow arqueava-se discretamente diante das carícias exploradoras de Ana e quase delirou quando ela o tocou em sua masculinidade ereta.  Com medo de não conseguir mais controlar-se, segurou a mão que o tocava, e num movimento rápido inverteu sua posição em relação a ela. Prendeu seu olhar por alguns instantes, perguntando-se como vivera até agora sem aquela mulher...
- Não pare... Venha... – disse ela num sussurro, exultando com a posse de seu corpo e de sua alma.
O desejo de prolongar ainda mais o prazer de ambos o levou a delinear com a boca e a língua  as delicadas curvas de seus seios, a cintura delgada e a suave elevação de seu ventre, chegando finalmente à umidade recôndita entre suas pernas, que agora se abriam para recebê-lo.
-Nigel... Ahhh... – clamava seu nome languidamente, sentindo que uma onda de êxtase logo a alcançaria.
Percebendo-a pronta e a sua espera, seus anseios o levaram a colocar-se por inteiro sobre ela e penetrá-la, agora sim, com força e arrebatamento, levando-os a se perderem num mar de sensações e delírios, onde esqueceram o mundo a sua volta e se encontraram liquefeitos e unidos como se fossem apenas um.

Os raios matutinos atravessaram as finas tramas do tecido de algodão branco das cortinas do quarto, inundando de luz o ambiente. Ana, ainda de olhos fechados, procurou por Crow, mas não o encontrou no leito. Apreensiva, levantou-se rapidamente, lavou-se e vestiu um dos vestidos que Tina deixara providencialmente no guarda roupa do quarto. Quando  abriu a porta para iniciar sua busca por Crow, quase esbarrou nele.
- Bom dia! Onde vai com tanta pressa? – perguntou alegremente.
- Levei um susto quando acordei e não o vi no quarto. – respondeu abraçando-o.
- Fui preparar a charrete para irmos até a vila.
- Ir até a vila? O que houve?
- Nada. É que eu preciso ver como estão os consertos do Highlander.
- Quer que eu vá junto? – disse animada.
- Você vai junto. Não quero perdê-la de vista um só minuto, enquanto não souber notícias do Castilhos.
- Será que posso comer alguma coisa antes de irmos? Estou morrendo de fome... – afirmou com expressão marota.
- Eu também. – aquiesceu com expressão semelhante e depositou um rápido beijo em seus lábios. – A Cora preparou um belo café da manhã para nós lá na cozinha. – referindo-se a senhora que os servira no dia anterior e que aparentemente ajudava Tina nas lides da casa.
Logo Tina uniu-se a eles. Preparava-se para começar o dia com as crianças. Após o café os levaria a uma escola que havia não muito longe dali. Uma espécie de igreja construída por um pastor que se estabelecera em Eleuthera com a finalidade de aumentar seu rebanho. Era um bom homem e, apesar de não apreciar muito os meios de vida de seu senhorio, reconhecia o seu bom trabalho com os órfãos.
Após despedirem-se de Tina, Crow e Ana tomaram caminho para a vila. Ao chegarem foram direto para o Highlander, onde encontraram Brett a postos, trabalhando junto aos homens da tripulação nos reparos do navio. Crow juntou-se a eles e Ana, para não ficar parada, ofereceu-se para trabalhar ao lado dos marujos que remendavam as velas, uma ajuda que foi muito bem vinda.
Satisfeito com a rapidez com que o reparo dos mastros e velas se desenvolvia, Crow planejava a próxima viagem e seu destino. Sabia que os homens esperavam ficar um pouco mais de tempo em Eleuthera, mas confiava no espírito aventureiro da maioria. Não forçaria ninguém a acompanhá-lo, mas tinha certeza que não  ficaria desapontado com o resultado de seu pedido. Aguardaria o final dos trabalhos de conserto no Highlander para lançar a data da próxima partida.
Enquanto isso, já no final da manhã, Tina voltava com as crianças da escola do pastor, quando Cora a abordou com cara assustada.
- Tina, três homens muito estranhos acabaram de chegar. O mais alto deles, falando com sotaque espanhol, perguntou pelo capitão Crow.
- Você os deixou lá, sozinhos?
- Não... O tal Didier, pai de dona Ana ficou lá com eles.
- Ah, não! – exclamou e saiu afobada em direção a casa – Cuide das crianças para mim, Cora.
-Pode deixar, Tina. Venham comigo, meninos.
Tina, antes de ir à sala, passou na cozinha, onde pegou uma pequena faca para o caso de precisar defender-se e escondeu-a no decote de sua blusa. Ao atravessar a porta para a sala, deparou-se com um estranho grupo. Didier estava sentado, com ares de proprietário da casa, encarando calado o trio de visitantes. Entre eles estava um tipo baixo e atarracado, usando um barrete vermelho e preto, e vestindo uma roupa refinada, mas que deveria ter pertencido a um sujeito duas vezes menor que ele. Não fosse a seriedade da situação, ela teria caído na gargalhada. O segundo homem, de porte altivo, vestia roupas que demonstravam riqueza e certamente tinham sido feitas sob medida para ele. O rosto de traços nobres confirmava que havia nascido em rico berço, o que o fazia parecer deslocado entre seus dois companheiros. O terceiro, não necessitava de apresentações. Mesmo sem nunca tê-lo visto pessoalmente, Tina logo o identificou como o famoso Castilhos. O ar arrogante e o olhar malicioso logo a alcançaram.
- Buenos dias, señorita... – cumprimentou como uma cobra pronta para o bote, avaliando-a de cima a baixo com aprovação.
- Bom dia. – respondeu secamente. – O que desejam os senhores?
- Gostaríamos de falar com o Capitão Crow, señorita. Ele está?
- Não, ele não está. Qual é o assunto? Posso saber?
Castilhos começou a aproximar-se e a rodeá-la, sem tirar os olhos de seu corpo, numa atitude que deveria constrangê-la, mas que apenas a deixou irritada.
- Posso saber seu nome, minha bela morena?
- Só se me disser o que querem com o Capitão Crow.
- Nosso assunto é com ele e com sua hóspede – respondeu atrevendo-se a pegar um cacho dos cabelos de Tina entre os dedos.
- Se me tocar de novo com esses dedos sujos, corto a sua garganta.
- Ora, me perdoe, señorita, mas não resisti em tocá-la e ter certeza de que é real. Eres muy hermosa... – sussurrou junto ao seu ouvido.
Antes que Tina tirasse a faca de seu decote e o cortasse, a voz de Brett se fez ouvir.
- Afaste-se dela, seu cão sarnento! – Seu sangue ferveu ao ver o pirata espanhol tão provocante e próximo à Valentina.
- Eu não preciso de proteção! – reagiu Tina prontamente já com a mão sobre o peito.
- Ora, se não é o garoto de recados de Crow... Brat, não? – com a intenção de troçar de Brett, chamando-o pejorativamente de fedelho em inglês.
Logo atrás de Brett, entraram Crow e Ana, a tempo de evitar que o primeiro saltasse sobre o castelhano.
- Não dê ouvidos a ele, Brett. Calma! – disse Crow em tom baixo, segurando-o no braço.
No momento em que Ana apareceu o homem vestido como um nobre espanhol empalideceu como se tivesse visto um fantasma e chegou a perder o equilíbrio, sendo obrigado a segurar-se no ombro do imediato de Castilhos.
- Eleanor! – Deixou escapar num fio de voz.
Só então ele chamou a atenção de Ana, que deu um passo atrás e colocou-se sob a proteção de Crow.
- É ele... – acabou por dizer aterrorizada, segurando firmemente o braço de Crow.
Castilhos ficou sério momentaneamente e lançou um olhar para Villardompardo e depois para Ana. Sorriu e continuou a falar.
- Seu nome é Eleanor?
- Não pode ser... A semelhança é assustadora... Mas ela é muito jovem para ser a minha Eleanor.
- Sua Eleanor? Como ousa falar assim de minha mãe?! – saltou Ana indignada pela forma com que o tio referiu-se a sua mãe, sendo segura por Crow.
- Ana, você é a pequena Ana... Minha amada sobrinha...
Ela o olhava num misto de terror e ódio pela falsidade contida em suas palavras.
- Brett, leve-a para o quarto enquanto eu converso com esses senhores.
- Não! Agora eu quero ouvir que outras mentiras ele vai contar. – contrariou-o exasperada, apontando para o tio.
- Não acho que seja uma boa ideia  - tentou convencê-la inutilmente.
- Bem, temos aqui um encontro familiar muito esperado – intrometeu-se Castilhos de forma sarcástica. – Gostaria de ser breve e explicar o motivo de nossa visita, já que o meu caro Duque de Villardompardo parece muito emocionado com a descoberta de sua sobrinha perdida.
- Vamos acabar com essa palhaçada de uma vez por todas, Castilhos. Que o Duque fale o que deseja e volte o quanto antes para sua terra natal.
- Isto não é uma palhaçada, señor. – intercedeu Cristóbal. – Por um equívoco do passado, perdi meu único irmão, minha cunhada e minha sobrinha. Minhas esperanças de reencontrá-los avivaram-se quando um amigo me contou como encontrara uma mulher muito parecida com Eleanor na cidade de La Rochelle. Desde então tenho tentado encontrá-la por todos os meios.
- Para acabar com qualquer resquício da existência de seu irmão... – vociferou Ana. Era difícil de conter-se diante de tamanha hipocrisia.
- Seus pais estão vivos? – perguntou com ar inocente.
- Talvez estivessem vivos se não tivessem fugido de suas tentativas de assassinar meu pai.

- Você era apenas uma criança quando meu irmão e eu nos desentendemos. Não podia entender o que realmente se passava. Eu quero levá-la de volta à nossa terra e devolver-lhe o que lhe é de direito.
- Ele está mentindo! Vá embora daqui! Não quero nada que venha dos Villardompardo!
- Não fale assim comigo, chica maleducada! Os anos passados longe do sangue de seu sangue a deixaram um pouco confusa, niña... – disse em tom irritado, quase mostrando sua verdadeira índole.
- Crow, não acredite nele! Ele quer me levar para me matar!
Sem dizer palavra alguma, ele a abraçou protetoramente.
Villardompardo começou a gargalhar.
- Vejo que realmente estás muito confusa. Deixe-me mostrar que estás enganada. Venha comigo para a Espanha e terás a corte aos seus pés.
- Vocês já ouviram a resposta de Dona Ana, portanto essa visita acaba aqui. A saída é por ali, senhores. – disse Crow indicando a porta da rua.
- É uma pena, meu amigo. – Castilhos voltou a falar – Saiba que com essa recusa perdes uma excelente recompensa por colaborar com a volta de uma duquesa perdida ao seio de sua família.
- Como eu disse, a resposta já foi dada e ela é não! Sumam de minha casa!
- O senhor vai se arrepender de tratar um Villardompardo dessa maneira! – ameaçou Cristóbal, lançando um último olhar irado para o casal a sua frente, antes de sair visivelmente transtornado da sala.
- Espero encontrá-la um dia em outras circunstâncias, minha cara... – disse Castilhos fazendo uma reverência na direção de Tina antes de sair acompanhando os outros dois. – Tenham um bom dia, senhores!
-Então você é mesmo da nobreza e rica... – surpreendeu Didier manifestando-se pela primeira vez.  Até então permanecera calado ouvindo a tudo atentamente. – Como pode renunciar a tudo o que ele lhe ofereceu? Você é estúpida ou louca?
- Cale-se, Didier! Você não sabe nada sobre o que aconteceu com a família dela. – ralhou Crow defendendo Ana, que começava a soluçar de encontro ao seu peito.
- Ah! E você que acabou de conhecê-la já sabe de tudo! Que injustiça, Marie! Por que nunca contou sobre esse tio? Ficou vivendo como uma ladra todos esses anos, deixando-me na miséria, quando poderia ter me dado algum conforto pelo fato de eu a ter salvado de um destino pior.
- Crow, leve-a daqui que eu vou tentar explicar para esse mentecapto o que está acontecendo.
- Você também já sabia sobre o parentesco dela com esse nobre? Só eu que não? Quanta ingratidão... – queixou-se colocando as mãos na cabeça, para demonstrar seu desespero.
Crow retirou-se com Ana da sala. Ela não precisava ouvir as baboseiras de Didier naquele momento. Era de esperar uma reação daquelas vindas do velho ladrão ao saber do passado de Ana. Ela tivera razão ao calar-se, mantendo o anonimato por tantos anos. Agora que Villardompardo se certificara pessoalmente que Ana era de fato sua sobrinha e anunciara claramente o seu interesse em levá-la dali, tinha certeza que ele tentaria concluir seu objetivo de alguma forma. Talvez sua decisão de partir para a Inglaterra devesse ser tomada mais cedo do que imaginara. Ana estava em risco enquanto continuasse em Eleuthera. Já na Inglaterra, sob a proteção de Boyle e, muito provavelmente da rainha, levando em conta a guerra contra a Espanha, Castilhos e Cristóbal não teriam chance alguma.  

(continua...)

Gente, finalmente consegui postar esse capítulo. Espero que tenham gostado. Se encontrarem algum erro ou falta de continuidade, por favor comentem. Não cheguei a falar aqui, mas numa de minhas releituras do texto encontrei um erro no nome do navio onde Nigel serviu a Drake. Ao invés de Enterprise, eu escrevi Golden Hind. Esse último foi o navio com o qual Francis Drake deu a volta ao mundo, feito que levou a rainha Elizabeth a condecorá-lo e a colocar o dito navio em exposição permanente. Portanto, na época em que Nigel serviu à Drake como imediato,o Golden Hind já estava aposentado. Assim como esse erro, é possível que tenham outros, já que nem sempre tenho tempo de ler todos os capítulos anteriores para dar a continuidade ideal. Portanto se surgir qualquer dúvida, falem. Estarão me ajudando a deixar o texto mais coerente.
Não posso deixar de agradecer aos meus comentaristas desta semana que foram a Nadja, a Aline, o Denir (Milena Liebe), o Everson Russo, o Júnior Menezes e o Luiz Fernando. Muito obrigada pela presença sempre carinhosa de vocês.  
Antes de me despedir, quero falar sobre a divulgação do meu último romance publicado. Saiu uma resenha do livro Um Amor no Deserto no blog Viaje na LeituraSe puderem, deem uma passadinha por lá.  
 Até a próxima postagem, meus queridos, e um maravilhoso domingo para todos!!



5 comentários:

  1. Mais um capítulo e não consigo ler... E não é falta de tempo, as vezes fico perdido, angustiado por estar sem nada para fazer, acabo atacando a geladeira...
    Na verdade, pago o preço por ficar o dia todo na frete de um computador: minha costas estão me matando! rsss.

    Parabéns!

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  2. Rosane: essa estória anda ganhando substância... está cada vez mais intensa... Adoro! Parabéns pela sua criatividade e força de vontade, porque eu nunca consigo terminar os escritos que começo... Bjão, amiga.

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  3. Boa tarde!!

    Parabéns seu blog e ótimo!

    Quero apresentar meu blog se puder venha!

    Uma ótima tarde!

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  4. Adorei a Ana perguntar: “posso tocá-lo?” E a resposta: “faça o quiser...” Rô, que perigo!!!! kkkkkkkkkkkkk
    Ai, eu adoooooooooro esses momentos de paixão, sou muito romântica e fico toda boba, sonhando acordada com esses arrebatamentos...
    Agora, porém, a coisa se tornou mais séria, já que o Cristóbal e Castilhos resolveram se mostrar. Imagino que chegou mesmo a hora da Ana ter que enfrentar seus medos, mas ao lado do Nigel será mais fácil, pois ela sabe que pode contar com alguém para lhe ajudar. E ainda tem a Tina e o Brett também, que são pessoas muito generosas tb!
    Amiga, agora a porca torcei o rabo, como se diz. Fiquei aflita com esse capítulo. Sabia que uma hora a corda iria arrebentar, mas já deu para sentir que esses elementos tentarão furtar a felicidade da Ana.
    Rô, eu passei lá no blog Viaje na Leitura e postei um comentário, mas ainda não foi baixado, pois falta a aprovação.
    Parabéns pelo seu sucesso, amiga, vc merece!!!
    ♥Beijinhos♥

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  5. Pelo jeito os impecilios estão só no começo, temo os próximos que virão, pensamento positivo agora.

    Beijão

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Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!