- Ana... O Highlander deverá estar em condições de navegação dentro de cinco dias. Estou pensando em levá-la para a Inglaterra o mais breve possível. – afirmou pensativo.
- O quê? O que está dizendo? Depois de tudo que houve e dissemos?
- Vou cumprir a minha promessa de levá-la de volta ao seu tio, mas antes preciso que me diga uma coisa – Parecia indiferente à onda de agonia que se abatia sobre Ana.
Ela o olhava como se o desconhecesse. Por acaso enlouquecera? O que tentava dizer com aquilo? Afastou-se dele, fugindo dos braços que ainda a seguravam amorosamente. Levantou e colocou as mãos na cintura. Olhou incrédula a face de Crow, procurando algum sinal que desmentisse o que ouvira. Desesperada, passou as mãos na cabeça e passou a andar de um lado a outro diante dele. Estava tão indignada que tinha vontade de bater naquele cabeça dura.
- O que quer que eu diga? Será que não entende que quero ficar com você, aqui ou em seu navio? Não me importo de sair por aí a pilhar ou matar, se for preciso. Não me importo com o lugar ou o que terei de fazer... Só quero ficar ao seu lado, Nigel. Eu amo você, seu idiota! – A voz elevou-se, quase aos gritos, e já se preparava para cair em prantos quando ele a interrompeu, levantando de onde estava a observá-la aparentemente insensível com seu discurso.
Aproximou-se e a cercou com os braços, moldando-a ao seu corpo.
- O que quero saber é se... Estaria disposta a casar comigo depois que resolvesse a sua situação na Inglaterra? Não posso garantir que não se torne viúva logo após a cerimônia. Talvez eu seja preso ou condenado à morte... O que sei é que não posso continuar sendo um pirata se quiser formar uma família... – dizia tudo com a maior naturalidade, como se conversasse consigo mesmo, olhando para algum ponto acima e além de Ana, deixando-a boquiaberta, mal acreditando no que ouvia.
Por fim, prendeu-a no verde de seus olhos, que agora eram possuídos por um brilho especial e acabou por afirmar com doçura extrema – Também a amo, Ana. Só eu sei o quanto lutei contra esse sentimento, mas acabei por ser derrotado...
A voz de Ana desapareceu, suas pernas tremeram e um calor delicioso espalhou-se por seu corpo. Lançou os braços em torno do pescoço de seu Nigel e com algum esforço conseguiu exclamar timidamente o seu nome.
- Ainda não ouvi sua resposta... – ele sussurrou junto ao seu ouvido.
- Sim!... – a resposta explodiu do fundo de sua garganta – Oh, meu Deus! Claro que sim... – por um momento parou para pensar nos riscos que ele citara para que selassem seu compromisso. E continuou em tom confessional – Não precisamos voltar à Inglaterra, Nigel. Não vou permitir que ...
- É minha única condição, Ana... – interrompeu-a determinado.
- Está bem, está bem... – retrocedeu – Depois falamos sobre isso... Agora eu só quero ouvir de novo uma única coisa.
- Que vamos para a Inglaterra? – perguntou irônico.
- Não! – castigou-o com as mãos, batendo no peito rijo – O que falou depois... – Fitou-o ansiosa, irritada com a explícita provocação.
- Deixe me lembrar... – semicerrou os olhos, juntou as sobrancelhas, como se estivesse fazendo grande esforço para lembrar o que ela queria ouvir.
Quando voltou a sentir as mãos baterem sobre seu peito, cobrando as reais palavras que desejava ouvir, aprofundou seu olhar sobre os olhos de mel que o espreitavam e declarou afetuoso – Eu a amo... Debruçou-se sobre ela e passou a beijá-la na face, de um lado e de outro. Beijos demorados e sensuais, tocando e saboreando a pele aveludada de seu rosto. Ao vê-la de olhos fechados, o prazer estampado nas linhas delicadas de seu rosto, totalmente indefesa, abandonada às suas carícias, tomou seus lábios cheios e febris que já o aguardavam trêmulos. O desejo urgente os acorrentou e, sem importarem-se com o lugar onde estavam, amaram-se mais uma vez, com loucura e paixão, agora sem cuidados ou dor.
Já era final da tarde quando Crow e Ana retornaram para casa. O sol iniciava sua saída triunfal entre as nuvens densas manchadas por tons que iam do alaranjado vivo ao cinza pálido, levando a prever precipitações durante a noite. Entretanto a primeira precipitação que os aguardava foi a de Brett, que afobado correu até eles com ares de extrema preocupação.
- Por onde vocês andavam? Tina e eu já pensávamos em organizar um grupo de busca.
- Calma, Brett! – estranhou a apreensão exagerada do amigo. – O que está acontecendo por aqui? Algum problema? – perguntou com cautela.
- Castilhos foi visto na taberna da Aldeia hoje.
- O quê? Castilhos? – exclamou esperando não ter ouvido direito – Quem o viu?
Ana afundou os dedos em seu braço como um garrote.
- Ele apareceu por lá, no início da tarde acompanhado de um de seus comparsas e, com a maior naturalidade do mundo, sentou e pediu vinho.
Crow cerrou as sobrancelhas e abraçou Ana.
- Calma... Pode não ser nada. A Aldeia do Falcão é conhecida pelos piratas e o acesso é permitido a todos aqueles que não estejam à procura de confusão Além disso, você está segura aqui comigo.
- Crow, você sabe que...
Crow interrompeu o discurso de Brett fulminando-o com o olhar e fazendo um quase imperceptível meneio de cabeça que apontou para Ana, proibindo-o de prosseguir e deixá-la ainda mais assustada. Teria uma conversa em particular com ele tão logo conseguisse afastá-la daquela sala.
- Ah! Aí estão vocês! – gritou Tina que chegava esbaforida vinda dos fundos da casa.
- Está tudo bem, Tina. Por favor, leve a Ana para descansar antes do jantar.
- Não pense que me engana com essa aparente displicência depois de ouvir que aquele bastardo espanhol está aqui. Quero participar da conversa que terá com Brett.
- Conversa? Quem falou em conversa?
-Não sou nenhuma idiota, Capitão Crow.
- Sei que não, meu anjo, e esse é um dos motivos pelos quais a pedi em casamento. – disse compreensivamente segurando seu queixo com delicadeza.
- Não brinca! – exclamou Tina imediatamente ao ouvir a palavra casamento – Eu ouvi direito?
Ana esboçou um sorriso desajeitado, percebendo que ele tocara propositalmente naquele assunto para se livrar de sua presença e poder dividir seus receios apenas com Brett. Teriam que conversar seriamente a respeito disso mais tarde. Tina certamente não lhe daria descanso enquanto não soubesse todos os detalhes de seu passeio.
- Vá com a Tina e tire essa ruguinha da testa e este olhar de quem gostaria de me dar uma daquelas joelhadas em minhas partes mais sensíveis. Logo nos encontraremos para jantar.
- Não me escondam nada, ouviram? – impôs antes de aceitar o beijo depositado em seus lábios por Crow. - Venha! Vai me contar direitinho essa história de casamento – suplicou Tina, que no fundo também estava preocupada com a presença indesejada em seus domínios, mas que entendera a mensagem de Crow para afastar Ana da sala enquanto conversava com seu imediato.
Mal elas desapareceram em direção aos quartos, Crow virou-se tenso para Brett e começou a questioná-lo a respeito de Castilhos.
- O que esse sujeito está fazendo em Eleuthera? Não acredito que uma recompensa por capturar uma ladra de mercado possa tê-lo trazido até aqui.
-Também penso assim. Acho que há alguma coisa maior aí por trás.
- Brett, me conte exatamente o que viram.
- Parece que ele entrou na taberna, acompanhado por um sujeito estranho. Segundo meus informantes, não parecia ser nenhum dos facínoras que sempre o acompanham, apesar de se vestir como um deles. Disseram que ele parecia deslocado.
- Seria Menotté?
- Também pensei nisso, mas eles não o reconheceram.
- Falaram com alguém?
- Perguntou ao taberneiro por você e se tinha chegado bem. Comentou sobre a tempestade dizendo que também o tinha pegado de surpresa.
- Cínico miserável! Como ninguém viu o El Tiburón atracado nas praias próximas? Temos que dar um jeito de descobrir onde eles estão e saber o que querem.
- Já designei dois homens para isso. Eles vão percorrer as enseadas próximas. Tão logo tenham alguma novidade, virão nos avisar.
-Agiu bem, Brett... Ele está tramando alguma coisa. O que me deixa preocupado é qual o motivo para ele ter aparecido na frente de todos, anunciando sua presença.
- Para aparentar inocência antes do bote, para zombar de você... Com esse cretino tudo é possível.
- Onde está o Didier? – perguntou repentinamente alerta sobre o perigo de um encontro entre os dois. Certo era que Castilhos não o conhecia, mas nunca se sabe... E se o sujeito estranho fosse Menotté? Maus pensamentos o assombravam agora. Tinha que tratar de proteger Ana e, por conseguinte, manter Didier longe daquele espanhol. Não sabia o que esperar se lhe oferecessem dinheiro para entregar a "filha adotiva". Não sabia até onde Castilhos tinha conhecimentos a respeito do parentesco entre Ana e Villardompardo. Se soubesse quem ela era realmente, poderia querer levá-la de volta à Espanha e pedir um resgate ao duque. E se o estranho que o acompanhava fosse Menotté? Estariam trabalhando para o miserável de seu tio? Em qualquer situação havia perigo para Ana e ele não permitiria que nada de mal lhe acontecesse.
- Didier estava na taberna durante a visita do nosso amigo, mas não se conheceram. Disseram que ele estava tão bêbado que não conseguiu levantar os olhos do tampo da mesa onde descansava a cabeça. Ele agora está aqui, descansando num dos quartos de hóspedes – tranquilizou-o, pelo menos nesse quesito.
- De nada vai adiantar ficar nesse estado. Acho que ela estará mais que segura aqui... Aliás, que história foi essa que ouvi de casamento? – perguntou alegremente tentando amenizar a ansiedade de Crow. – Finalmente vou vê-lo desencalhar?
- Não brinque... – respondeu com um sorriso emerso em meio à tensão do rosto. – Foi algo inesperado e... inevitável.... E não ouse ficar com essa cara de "eu sabia" ou vou tomar satisfações suas com respeito à Tina. Qualquer traço de jovialidade desapareceu do rosto de Brett ao ouvir o apelido de Valentina.
- Não mude de assunto...
- Está bem, Brett. – pelo tom e pela expressão do amigo, percebeu que a tarde com Tina não tinha sido tão satisfatória quanto a dele com Ana. – Vou me lavar para o jantar. Claro que está convidado para a ceia. – disse batendo em seu ombro amigavelmente.
- Claro... – confirmou aceitando o convite, mas imaginando que talvez fosse melhor ir para a sua própria casa e não ser obrigado a ficar perto de Valentina, principalmente depois do que acontecera à tarde.
- Se quiser conversar comigo sobre... Qualquer coisa que o incomode – disse claramente referindo-se aos seus sentimentos em relação à Tina – Não faça cerimônia...
Despediu-se com um tapa amigável em suas costas e foi lavar-se.
Quando Sam viu Castilhos saindo da taberna com seu acompanhante, olhou para Didier e soube que não extrairia nada daquele infeliz. Não podia perder a chance de conseguir sua passagem de ida para a Espanha. Uma oportunidade como aquela não surgiria novamente. Seguiu-os até a praia onde outro homem os esperava com um bote. Suas dúvidas sobre aproximar-se e falar diretamente com o castelhano foram dissipadas quando sentiu a ponta de uma faca em suas costas e o braço seguro entre dedos calejados e fortes.
- Espiões como você costumam morrer cedo, meu amigo – ameaçou uma voz com carregado acento espanhol.
- Não... Não sou espião. Apenas quero falar com seu capitão.
- Sobre o quê exatamente? - Sobre uma proposta que tenho a lhe fazer. O brutamonte o rodopiou de forma a colocá-lo de frente, com a lâmina da faca rente aos seus olhos, mantendo-o ainda seguro pelo braço.
- Que proposta?
- Só direi a ele. – arriscou apontando com a cabeça para Castilhos, que os observava curioso, de braços cruzados, junto ao bote.
(continua...)
Olá! Como prometi, aqui está a segunda parte do capítulo. Gostaram da surpresa que o Crow fez para a Ana? Finalmente ele se livrou de suas culpas e resolveu enfrentar o passado, voltando para a Inglaterra. Agora vou trabalhar nas próximas emoções que estão por vir.
Agradeço a Nadja pelo comentário :) e a todos os que, mesmo sem deixar comentários, passaram os olhos pelo blog e pelo meu romance.
Um grande beijo!
Poxa Rô... que hora de terminar o capítulo!!! Eu estava tão empolgada correndo os olhos pelas linhas e de repente... acabou! Isso é coisa que se faça amiga???? rsrsrsr.
ResponderExcluirFalando sério, estou super ansiosa pelos próximos capítulos, esse Sam encontrou outro facínora igual (ou pior?) do que ele, fico imagiando os problemas que Nigel vai ter pra defender Ana nessa situação.
Espero que essa "emoções que estão por vir" não demore muito, rsrsrs.
Beijossss querida!!!
Nadja! Esta era a segunda parte do capítulo XII por isso foi mais curta. Desculpe te deixar mais aflita que o Nigel...rsrsrs
ResponderExcluirVou tentar escrever o próximo capítulo até o final de semana se não acontecer nenhum imprevisto. Obrigada por tua presença linda aqui no blog, comentando e me dando força.
Beijão, querida!
PS: Pelo menos estou conseguindo comentar agora. Viu que tive que colocar o meu comentário no teu painel de recados? Pois é. Só hoje consegui ajuda para voltar a comentar nos blogs.Nem aqui eu estava conseguindo.
Querida! Estou adorando esse romance!!! Parabéns! Bjos!!!
ResponderExcluirObrigada, Aline! Estava com saudades dos teus comentários.
ResponderExcluirBeijos, amiga!
Um pirata casando! Tá ficando interessante!
ResponderExcluirTenho quer ler do começo!
Bjos.
Puxa... A história da Ana e do Negel está cada vez mais emocionante hein?! Eu havia lido a primeira parte todinha e no final fiquei com aquele gostinho de quero mais... Agora ao ler a segunda parte estou com a mesma sensação!!! Excelênte narrativa, dinâmica e criativa!!! Aguardo a continuação anciosamente...
ResponderExcluirUma semana repleta de paz e muita poesia pra ti minha amiga...beijos.
ResponderExcluirOiee...Tudo bem com vc?
ResponderExcluirCada capitulo uma nova emoção hein...=)
Ah tudo bem Rosane isso acontece mesmo ainda mais se tratando de internet né sempre tem algum problema, e obrigado pelo comentário no blog, espero que minha semana seja boa mesmo.
Beijos e tudo de bom!!
Adorei a surpresa!
ResponderExcluirNigel está certo em tentar fazer as coisas direitinho para poder viver uma vida livre de receios ao lado da Ana.
E sempre tem uma peste com olhos invejosos para trazer escuridão à felicidade alheia. Esse Sam é mais um safado tentando se dar à custa dos outros. É como diz o ditado: na vida não basta orar, é preciso orar e vigiar... (ficar com os dois olhos muito bem abertos!!!)
♥Beijinhos♥
Enfim nosso Nigel saiu do casulo, agora é seguir rumo a felicidade, que no qual está com cheiro de aramadilhas perigosas no ar. Só espero que não tenha fim trágico.
ResponderExcluirsuper beijos!!!