Tensa com a companhia de Tina, Ana começou a duvidar de suas desconfianças em relação à filha de Hawk. A moça mostrava-se simpática e tentava de todas as maneiras deixá-la à vontade. Finalmente relaxou diante de uma confissão, quando essa terminava de colocar a última terrina com água fumegante dentro de uma grande bacia de madeira.
- Acho que vamos nos dar muito bem, Ana. Depois que o Crow me disse que vocês estavam juntos, um peso foi tirado do meu peito. Jamais pensei que ele fosse se apaixonar por alguém. Quando a vi, pensei que tinha vindo pelas mãos do Brett. Quase morri. Deu para notar?
Ana mostrou-se claramente surpresa e aliviada com o que acabara de ouvir.
- Você gosta do... Brett??
- Não deu para perceber?
- Me pareceu que você tinha ficado com ciúmes do Nigel – revelou.
- Não brinque! – E desatou a rir. – Sei que ele é um bonitão, mas não consigo me imaginar com ele... Argh! – Fez uma careta – Eu o conheço desde os meus doze anos e nunca me passou pela cabeça enxergá-lo como... – Nova careta – Nada além de um irmão mais velho.
- Então, você gosta é do Brett... – Ana sorriu melancolicamente, lembrando que ela também conhecera Nigel quando era criança e agora...
- Eu não gosto... Sou louca por ele. – continuou Tina suspirosa.
- E ele?...
- Não me dá a mínima. Às vezes eu acho que ele gosta de mim, mas depois ele desconversa e foge.
- Ele não me pareceu muito indiferente a você hoje lá no cais.
- Ele não quer compromisso... Já o ouvi dizer isso ao Crow uma vez.
- Complicado...
- Ah! Deixa prá lá. Conte de você. Como conheceu o Crow?
Durante o banho, Ana contou de forma resumida sua história como filha adotiva de Didier, sua vida nas ruas de La Rochelle, o encontro com Crow, como ele a salvara da morte e o acidente no Highlander que acabara por aproximá-los. Ocultou apenas tudo que pudesse se relacionar à sua origem espanhola e como se dera o primeiro e real encontro entre Crow e ela no Enterprise.
Valentina tinha vinte e dois anos e era uma morena exuberante, de uma beleza exótica, apaixonada pela vida e... por Brett.
- E vocês já...?
- Já o quê?
- Bem... Ele disse que você é mulher dele...
Ana ruborizou quando entendeu sobre o quê Tina estava falando.
- Ehhr... É que essa era a história que ele contou para me proteger dos marujos no navio... – explicou desviando o olhar para a cama onde Tina deixara algumas roupas limpas para que vestisse depois do banho. – A água está ficando fria... É melhor eu sair.
- É... Nem vi o tempo passar... – Levantou-se da cadeira onde estava sentada para pegar uma toalha e oferecê-la à Ana.
- Obrigada... – disse timidamente, ficando de pé na banheira e enrolando-se no tecido macio que fora oferecido.
- Mas você gosta dele, não? – continuou para esclarecer sua curiosidade.
- Gosto... Ele salvou a minha vida por duas vezes... – Esta sua afirmação a fez imaginar que o distanciamento de Nigel nos últimos dias talvez não se devesse apenas ao ferimento que ainda o incomodava, mas por já se sentir quite com ela e a sua suposta dívida do passado.
- Vocês já se... beijaram?
Após nova onda de rubor, Ana assentiu com a cabeça. Nunca se sentira tão envergonhada. E não era apenas pelo fato de estar despida diante de uma praticamente desconhecida. Já vira muita coisa na sua vida, mas nunca alguém lhe tinha feito perguntas tão íntimas que a confrontassem com os sentimentos que efervesciam dentro dela nas últimas semanas.
- E como foi? – continuou o interrogatório.
- Tina! Não acho que deva responder isso.
- Por que não? Somo amigas agora. Se não quer contar, eu conto o que senti na primeira vez que o Brett me beijou.
- Por favor... Não precisa...
- Foi uma vez... – insistiu, como se não percebesse o constrangimento da outra. – Mas foi inesquecível... Pena que depois ele pediu perdão e saiu fugindo como se estivesse vendo o próprio demônio. Acho que se arrependeu ou não gostou – O brilho da paixão cedeu à tristeza da rejeição em seu olhar e em seu sorriso.
- Talvez ele seja tímido... – Ana partiu em defesa do imediato, por quem nutria grande simpatia adquirida durante sua viagem.
- Crow é tímido também?
A pergunta de Tina remeteu Ana aos beijos trocados na cabine do Highlander e uma expressão de regozijo aflorou em sua face quando olhou de esguelha para a nova amiga, que começou a rir.
- Acho que não, mas...
- Mas... ?
- Tenho notado ele distante... Parece que não quer se envolver...
- Então ele está fazendo o que o Brett faz comigo. – afirmou resoluta batendo a palma da mão sobre a coxa. – Esses homens...
Mal terminou de comentar, o rosto de Tina iluminou-se.
- Acho que tive uma ideia para fazer com que eles se decidam.
Pelo olhar matreiro de Tina, Ana ficou temerosa do que viria a ouvir, mas não fez objeção. Ouviu tudo que a outra tinha a dizer enquanto era auxiliada a colocar uma charmosa saia branca bordada com flores coloridas e uma blusa de babados, cujo decote deixava entrever a curva entre seus seios. Nunca vestira nada semelhante durante sua vida em La Rochelle e nunca se sentira tão deslocada ou tão feminina dentro de uma roupa...
Quando Crow colocou os olhos sobre Ana, engoliu em seco e sentiu como se a descarga de um raio percorresse seu corpo. Fora daquelas roupas masculinas em que a conhecera e em que fora obrigada a permanecer durante toda a viagem de vinda para Eleuthera, ela estava deslumbrante, mesmo com uma roupa simples doada por Tina. Seus cabelos ruivos estavam presos, permanecendo apenas alguns poucos fios soltos caindo inocentemente displicentes, emoldurando seu rosto e emprestando-lhe um ar de extrema sensualidade. Brett que estava na sala também não ficou indiferente à beleza da jovem.
- Puxa, Ana... Você está linda! Quem diria...
Esse simples comentário fez com que Crow tivesse vontade de voar no pescoço do amigo, tal o ciúme que quase o cegou, principalmente quando foi prontamente bem recebido pela detentora do elogio.
- Obrigada, Brett. Você é muito gentil... – agradeceu baixando os olhos encabulada.
Crow fechou os punhos, colocou-os para as costas e pigarreou.
- Realmente... Está muito bonita nessa roupa, Ana.
Lutando contra a vontade de agradecer a ele mais efusivamente do que a Brett, lembrou dos conselhos de Tina e não falou nada. Fez apenas um meneio de cabeça. Ele também lhe parecia irresistível em seu traje de calças pretas justas, camisa branca de mangas largas sob um gibão de couro negro, ajustado ao corpo que o cobria até o quadril. O cabelo ainda úmido, mostrando que ele também se banhara, estava preso à nuca por uma tira de couro. E o rosto... Ele tinha raspado a barba, deixando a mostra os traços elegantes e a desconhecida, até então, covinha marcada que dividia seu queixo quadrado.
- Estou morrendo de fome. – conseguiu dizer com a voz entrecortada pela dificuldade em respirar, sentindo-se nua sob o olhar de Crow. Como se permitira vestir uma blusa escandalosa como aquela, deixando os seios à mostra?, condenava-se. Brett mais que depressa puxou uma cadeira ao seu lado em torno da mesa posta para o almoço, elevando mais uma vez a ira silenciosa de Crow.
Tina entrou na sala, seguida por uma afável mulher de meia idade, carregando e servindo travessas de quitutes, entre frutos do mar, legumes, pães e frutas, que liberavam um aroma delicioso no ar. A partir daí, deram por iniciada a refeição.
- Vamos sentar? Crow, quero que sente ao meu lado. Estou com saudades de meu irmãozinho. A Ana não vai se incomodar se eu roubá-lo um pouquinho, não?
- De maneira alguma. O Brett pode sentar ao meu lado. – disse Ana, olhando de viés para Crow que ameaçava soltar faíscas pelos olhos, para seu contentamento. Afinal a ideia de Tina parecia estar dando resultado. Ao menos para ela.
Mal o almoço fora iniciado, a insatisfação de Tina com o comportamento de Brett era evidente, pois ele parecia estar por demais interessado em Ana. E isso estava fora de seus planos de conquista. Por seu lado, Brett estava resolvido a ignorar Tina, vingando-se por sua atitude da manhã. Ao lado dessa disposição, temia que seu amigo e capitão o espancasse a qualquer momento, o que estava implícito na cara tensa do homem naquele instante.
- E Didier? Onde está? – perguntou Ana, tentando quebrar a tensão que se irradiava no ambiente.
- Foi com Sam para a taverna da vila. Estava querendo conhecer o lugar onde pretende passar a maior parte de seu tempo durante sua estadia aqui. – respondeu Crow carrancudo, sentando-se ao lado de Tina do outro lado da mesa. Sentia o ombro latejar o que só piorava seu humor. Mesmo sabendo que estava brincando com o perigo, Brett acabou por fazer uma proposta à Ana.
- O Crow vai ter que dar uma olhada nas plantações agora à tarde e não vai poder sair com você. Que tal se eu fosse mostrar as belezas de Eleuthera?
- Eu posso dar um passeio com ela, Brett. Você não tem mais nada para fazer? – interferiu Tina rispidamente, não resistindo mais ao flerte descarado de Brett para cima de Ana e notando Crow cortar uma porção de peixe como se fosse a garganta de certa pessoa.
- Tina, você deve ter muitos afazeres aqui na casa e com as crianças. Não se preocupem que a Ana estará em boas mãos. – acabou por dizer sorridente. – Ele vai me matar..., pensou. Por outro lado estava gostando de ver a reação de Tina. Sempre achou que ela fosse apaixonada por Crow. Mais de uma vez sentiu-se usado por ela para fazer ciúmes ao capitão. Hoje tinha sido a gota d’água. Ela não respeitara nem a Ana, que tinha sido apresentada como mulher do homem. Contudo, o pior de tudo era que ele adorava cada insinuação feita por ela, mesmo sabendo que era para chamar a atenção do outro. O beijo recebido horas antes o deixara inebriado e, não fosse o publico que os rodeava, teria correspondido vigorosamente, cobrindo-a de beijos, que não seriam, com certeza, só na face.
- Muito obrigada, Brett, pelo seu oferecimento, mas acho que vou esperar que o Nigel esteja livre para me mostrar a ilha.
Com essas palavras o ar ambiente ficou menos carregado imediatamente, como se uma onda de alívio passasse entre Tina e Crow. Quanto a Brett, não pareceu muito decepcionado com sua negativa. Ana não estava acostumada a esse tipo de jogo de ciúme/sedução proposto por Tina, mas estava curiosa com a atitude descaradamente insinuante de Brett. Ele nunca demonstrara qualquer interesse por ela durante a viagem. Pelo contrário, sempre defendera Crow, facilitando a aproximação dos dois. Algo lhe dizia que Brett e Tina tinham mais em comum do que pensavam. Num lampejo, decidiu fazer o que seu coração mandava.
- Nigel, será que não posso acompanhá-lo a essa visita às plantações?
- Err... Se você acha que não vai ficar entediada... – respondeu Crow desmanchando a carranca.
- Ótimo, então! – vibrou e continuou a divisão de tarefas – Brett, por que você não ajuda a Tina com as crianças. Acho que ela vai precisar, não é, Tina?
- Na verdade... – seus olhos negros voltaram a iluminar-se – Estou com uns problemas no cercado do curral e seria bem vinda uma ajuda masculina para consertá-lo.
Apenas aparentemente frustrado e entediado com o trabalho que tinha pela frente, o imediato do Highlander acabou por aceitar o "fardo" imposto, escondendo a satisfação que esperava encontrar naquela tarde.
A charrete sacolejava pela estrada de terra durante o trajeto às plantações de milho, cana de açúcar e algodão que compartilhavam uma grande extensão de terra no interior da ilha. A medida que iam passando pelos locais de plantio, os homens e mulheres que ali trabalhavam juntos acenavam e exibiam nos rostos suados a satisfação de verem o seu proprietário. Ana imaginava onde estariam os escravos de que tanto ouvira, horrorizada, falar pelas tavernas em La Rochelle. Tinha ideia de que esse tipo de trabalho era feito tão somente por prisioneiros. No entanto, ali, via pessoas aparentemente satisfeitas com o que faziam, apesar da dureza de trabalhar sob o sol quente, cortando e colhendo.
- Eles são escravos?
- Não temos escravos aqui. Hawk, assim como eu, não concordava com esse tipo de mão de obra. Aqui todos trabalham para o seu próprio sustento. Nós arrendamos essa terra e somos pagos com alimentos. Os valores que conseguimos através de nossas, digamos... contribuições recebidas em alto mar, servem para melhorias e distribuição entre os que moram aqui.
- E é você que dirige tudo isso...
- De certa forma, sim.
- E quando você está viajando por longos períodos, como ficou até agora? Quem fica no comando?
- A própria comunidade escolheu alguns líderes e são eles que tomam conta de tudo. Eu não me considero o governante daqui. Apenas forneço os meios para que se continue a existir sem dificuldades e tiro proveito disso como qualquer outro morador, mas com alguns privilégios por ser o sucessor do homem que iniciou tudo isso e proprietário das terras.
- Você admirava muito esse capitão Hawk, não?... Como ele era?
Ele puxou as rédeas e disse algumas palavras para que o cavalo parasse o trotar. Desceu e contornou a charrete diante do animal, afagando seu focinho, como se agradecesse seu bom comportamento, até postar-se ao lado de Ana.
- Que tal descer e caminhar um pouco? – Com a boca curvando-se num sorriso, ergueu os braços para ajudá-la a descer.
Prontamente, Ana jogou os braços em sua direção, mas na hora de descer, atrapalhou-se com a barra da saia, por não estar acostumada a tais vestimentas, e, não fossem os braços seguros e fortes de Crow, teria caído de frente no chão de terra e pedregulhos. Agarrada a ele, ainda se recuperando do susto, estremeceu ao elevar a vista e deparar-se com o já conhecido e envolvente olhar de verde profundo, no momento, cheio de preocupação por ela.
- Você está bem? – perguntou com a voz enrouquecida.
- Sim... Não estou acostumada a usar vestidos... – desculpou-se, mas instintivamente, ao invés de afastar-se dele, chegou ainda mais perto, oferecendo os lábios para um beijo. De olhos fechados, na ponta dos pés, apoiada sobre o largo peito, podia sentir igual desejo emanar dele. No entanto, acabou por ser delicadamente afastada. Abriu os olhos. Sentindo-se como uma mulher vulgar e estúpida, aceitou a rejeição. - É melhor irmos andando. – disse visivelmente desconcertado, separando-se dela rapidamente. – Ainda quero lhe mostrar a praia...
Ana não sabia o que pensar das reações de Crow. Depois de tudo o que acontecera no navio, não entendia por que ele se comportava dessa maneira, como se nada houvesse acontecido entre eles.
- Você me perguntou sobre o Capitão Hawk... – lembrou Crow para cortar o clima tenso que se estabelecera entre eles. – Ele era um homem admirável e que me ajudou numa hora em que eu estava perdido.
- Como foi isso? – perguntou com real interesse, pois Crow nunca havia falado nada pessoal a seu respeito até então.
- Foi logo depois de voltarmos a Inglaterra depois do que aconteceu com sua família e você... Eu não poderia mais servir uma marinha que tinha no comando um homem como Drake. Por isso, desertei e fugi. Consegui embarcar em um navio mercante que me trouxe até essa ilha, em sua extremidade norte. Lá existe um vilarejo um pouco maior que o nosso. Foi em uma de suas tavernas que conheci o Capitão Hawk.
- Foi então que se tornou pirata... O que você fazia antes disso tudo acontecer? Quem era você?
Um ar nostálgico permeou no rosto viril.
- Nada que mereça ser lembrado.
Caminhavam agora entre os pés de algodão. Era como se houvesse nevado em pleno trópico. Os arbustos que não ultrapassavam a cintura de Ana estavam repletos de pequenas nuvens brancas, aderidas aos galhos tortuosos e praticamente secos. Aguardavam a coleta que deveria ocorrer em muito breve. Segundo Crow, depois de colhidos os pequenos chumaços iam para as fiandeiras que os convertiam em fios, que eram levados para teares e transformados em tecidos.
- Então você se tornou pirata por causa do que aconteceu com minha família... – ela insistiu no assunto anterior, pois ansiava em conhecê-lo melhor e descobrir o que o afastava dela.
Diante do silêncio dele, ela continuou seu raciocínio.
- É por isso que não me quer mais? Descobriu que não pode gostar de alguém que destruiu a sua vida?
Ao ouvir tal disparate, ele virou-se e a pegou pelos ombros, assustando-a.
- Não diga uma bobagem dessas! Eu, e exclusivamente eu, sou responsável por tudo que aconteceu na minha vida. – gritou como se quisesse convencer a si mesmo desta afirmação.
Logo, diante do olhar assustado de Ana, diminuiu a força das mãos que a apertavam como torniquetes e falou em tom mais suave
- E não pense que eu não gosto de você. Apenas não posso permitir que fique ao meu lado. Cada minuto que passamos juntos torna mais difícil a minha tarefa de levá-la de volta a vida que Drake lhe roubou. Eu não tenho nada para lhe oferecer, a não ser essa vida desregrada, cercada de ladrões e assassinos, o que inclui a mim mesmo.
- Nigel... Eu não quero nenhuma outra vida que não seja ao seu lado. – disse afagando os braços que a seguravam.
- Você não sabe o que diz. Não conhece nada além das ruas de La Rochelle. Vai mudar de ideia quando estiver vestida como a duquesa que é. Quando estiver cercada por servos que a servirão a um simples toque de sineta. Quando viver em meio a pessoas bem vestidas e educadas, participando de festas e bailes. Quando for cortejada por homens decentes e nobres, que vão querer cobri-la de jóias, pagas por eles mesmos, e andar com você pelas ruas de qualquer lugar no mundo de cabeça erguida, sem medo de serem presos a qualquer momento... – as últimas palavras quase foram inaudíveis e seu rosto se contraía em angústia.
- Nigel... – sussurrou, libertando os braços e segurando o rosto transtornado dele em suas mãos. – Eu só quero ficar com você... Não me importa nenhuma riqueza, festas ou outros homens... – forçou-o a olhar diretamente para ela e rogou – Eu só quero você, Nigel...
Quando ele terminou de ouvir tal declaração e se fixou àqueles cintilantes olhos castanho-aveludados, seu coração tornou-se prisioneiro definitivamente e a vontade de beijá-la e mantê-la em seus braços para sempre venceram todos os argumentos que ele se impusera até então. Jogando toda a razão de lado, cobriu a boca tremula, que entreaberta o esperava, e perdeu-se no prazer daquele beijo. Sedento, arrepiou-se ao sentir a maciez dos lábios carnudos, exultou com o doce sabor da saliva quando invadiu a boca quente e úmida e a dança de suas línguas a fez gemer.
- Ana... Isso é uma loucura...
- Uma loucura maravilhosa... – chiou enquanto sentia o calor invadi-la, descer por seu corpo, espalhando-se por seu peito e entre suas pernas.
Tomado por deliciosa insanidade, Crow acariciava o corpo de Ana sobre as roupas, contornando suas formas suaves com as mãos até chegar aos seus seios. Tão firmes e arredondados... Podia sentir os mamilos túrgidos sob o fino tecido de algodão... Os lábios agora desciam pelo pescoço tenro e suavemente perfumado fazendo-a gemer, pedindo mais. Sentia o afago ansioso dela em seus ombros e costas. Até a dor em seu ferimento se tornava aprazível sob aquelas mãos. Sentiu-a arquear o corpo quando sua boca alcançou o lugar onde seus dedos a acariciavam com intensidade. O decote terminou por ser alargado e um dos seios foi descoberto. Extasiado diante daquela visão, não resistiu e o possuiu entre os lábios, para surpresa e deleite de Ana. Sugou e lambeu até procurar por seu par e dar-lhe igual tratamento. Totalmente perdida em meio às carícias íntimas, sentia uma necessidade de fundir-se a ele, pele com pele. Foi então que gemeu mais alto ao sentir uma das mãos de Crow levantar sua saia, percorrendo sua perna, alcançando a coxa e apertando suas nádegas. Movida pelo instinto, elevou a perna, enganchando-a na coxa de Crow. Uma contração dolente, aliada a uma sensação de prazer intenso começou a tomar conta de seu centro. A mão de Crow mudou a direção e foi direto para entre suas coxas, movendo os dedos na umidade que emanava de seu interior, excitando-a além de qualquer limite. Num instante, ouviu sua própria voz a gritar o nome de Nigel enquanto seu corpo convulsionava em ondas de prazer nos braços dele. Não se passaram mais que poucos segundos e ela o queria novamente, próximo, pujante e... dentro dela.
Da mesma forma, ainda exultante com a forma que Ana reagia ao seu simples toque, Crow deitou-a entre os flocos de algodão. Embora tudo nele exigisse uma posse completa, não queria machucá-la. Por isso, tirou a parte de baixo de sua roupa e, lentamente elevou a saia que a cobria parcialmente. Gemeu ao vê-la exposta, nua e tão bela. Um pouco de temor surgiu em meio ao desejo de Ana ao ve-lo desnudo, mas logo foi apaziguado pelas palavras carinhosas de Crow.
- Eu prometo que terei cuidado...
- Vai doer? – perguntou com a voz quase inaudível.
Comovido e, por outro lado, receoso por ter confirmada sua suspeita, tranquilizou-a.
- Pode doer um pouco no início... Se quiser... eu posso parar... – disse, apesar de não saber como explicaria isso para o seu próprio corpo.
- Não! Por favor, não pare... Eu quero... você.
Diante de tal chamado, não suportando esperar mais, introduziu-se com cuidado e aos poucos, num ir e vir, enquanto a ouvia gemer e jogar-se contra o seu quadril. Quando finalmente a penetrou completamente, sentiu as nádegas apertadas pelas mãos de Ana, que apesar da dor o queria manter exatamente ali. Isso só serviu para aumentar o ímpeto de prosseguir e dar vazão a sua ânsia. Os movimentos foram tornando-se mais potentes e frequentes. A dor que Ana sentira antes se esvanecera e agora havia só o prazer que Crow lhe transmitia com a sua presença vigorosa. Mais uma vez sentiu se aproximar do auge, mas dessa vez não seguia sozinha. Seu olhar cruzou com o de Crow e ela soube que ele sentia o mesmo que ela. E isso apenas somou felicidade ao êxtase que acabaram por alcançar juntos.
(continua...)
Olá!
Para quem torcia para que o nosso casal se resolvesse logo, acho que esse capítulo satisfez. Parece que outro casal foi criado e eles também estão merecendo se acertar. Talvez mais tarde, não? Agora, vamos deixar o nosso corsário curtir um pouco a sua paixão, pois em breve ele poderá perder a sua Ana.
Até lá, espero que estejam curtindo o romance e aos menos desavisados, espero que não tenham ficado chocados com a cena descrita acima. Creio que serei obrigada a recolocar o aviso de conteúdo adulto no início do blog...
Meus amores, muito obrigada pelos comentários e pelo carinho de sempre.
Uma boa noite prá todos!
Beijos!
- Acho que vamos nos dar muito bem, Ana. Depois que o Crow me disse que vocês estavam juntos, um peso foi tirado do meu peito. Jamais pensei que ele fosse se apaixonar por alguém. Quando a vi, pensei que tinha vindo pelas mãos do Brett. Quase morri. Deu para notar?
Ana mostrou-se claramente surpresa e aliviada com o que acabara de ouvir.
- Você gosta do... Brett??
- Não deu para perceber?
- Me pareceu que você tinha ficado com ciúmes do Nigel – revelou.
- Não brinque! – E desatou a rir. – Sei que ele é um bonitão, mas não consigo me imaginar com ele... Argh! – Fez uma careta – Eu o conheço desde os meus doze anos e nunca me passou pela cabeça enxergá-lo como... – Nova careta – Nada além de um irmão mais velho.
- Então, você gosta é do Brett... – Ana sorriu melancolicamente, lembrando que ela também conhecera Nigel quando era criança e agora...
- Eu não gosto... Sou louca por ele. – continuou Tina suspirosa.
- E ele?...
- Não me dá a mínima. Às vezes eu acho que ele gosta de mim, mas depois ele desconversa e foge.
- Ele não me pareceu muito indiferente a você hoje lá no cais.
- Ele não quer compromisso... Já o ouvi dizer isso ao Crow uma vez.
- Complicado...
- Ah! Deixa prá lá. Conte de você. Como conheceu o Crow?
Durante o banho, Ana contou de forma resumida sua história como filha adotiva de Didier, sua vida nas ruas de La Rochelle, o encontro com Crow, como ele a salvara da morte e o acidente no Highlander que acabara por aproximá-los. Ocultou apenas tudo que pudesse se relacionar à sua origem espanhola e como se dera o primeiro e real encontro entre Crow e ela no Enterprise.
Valentina tinha vinte e dois anos e era uma morena exuberante, de uma beleza exótica, apaixonada pela vida e... por Brett.
- E vocês já...?
- Já o quê?
- Bem... Ele disse que você é mulher dele...
Ana ruborizou quando entendeu sobre o quê Tina estava falando.
- Ehhr... É que essa era a história que ele contou para me proteger dos marujos no navio... – explicou desviando o olhar para a cama onde Tina deixara algumas roupas limpas para que vestisse depois do banho. – A água está ficando fria... É melhor eu sair.
- É... Nem vi o tempo passar... – Levantou-se da cadeira onde estava sentada para pegar uma toalha e oferecê-la à Ana.
- Obrigada... – disse timidamente, ficando de pé na banheira e enrolando-se no tecido macio que fora oferecido.
- Mas você gosta dele, não? – continuou para esclarecer sua curiosidade.
- Gosto... Ele salvou a minha vida por duas vezes... – Esta sua afirmação a fez imaginar que o distanciamento de Nigel nos últimos dias talvez não se devesse apenas ao ferimento que ainda o incomodava, mas por já se sentir quite com ela e a sua suposta dívida do passado.
- Vocês já se... beijaram?
Após nova onda de rubor, Ana assentiu com a cabeça. Nunca se sentira tão envergonhada. E não era apenas pelo fato de estar despida diante de uma praticamente desconhecida. Já vira muita coisa na sua vida, mas nunca alguém lhe tinha feito perguntas tão íntimas que a confrontassem com os sentimentos que efervesciam dentro dela nas últimas semanas.
- E como foi? – continuou o interrogatório.
- Tina! Não acho que deva responder isso.
- Por que não? Somo amigas agora. Se não quer contar, eu conto o que senti na primeira vez que o Brett me beijou.
- Por favor... Não precisa...
- Foi uma vez... – insistiu, como se não percebesse o constrangimento da outra. – Mas foi inesquecível... Pena que depois ele pediu perdão e saiu fugindo como se estivesse vendo o próprio demônio. Acho que se arrependeu ou não gostou – O brilho da paixão cedeu à tristeza da rejeição em seu olhar e em seu sorriso.
- Talvez ele seja tímido... – Ana partiu em defesa do imediato, por quem nutria grande simpatia adquirida durante sua viagem.
- Crow é tímido também?
A pergunta de Tina remeteu Ana aos beijos trocados na cabine do Highlander e uma expressão de regozijo aflorou em sua face quando olhou de esguelha para a nova amiga, que começou a rir.
- Acho que não, mas...
- Mas... ?
- Tenho notado ele distante... Parece que não quer se envolver...
- Então ele está fazendo o que o Brett faz comigo. – afirmou resoluta batendo a palma da mão sobre a coxa. – Esses homens...
Mal terminou de comentar, o rosto de Tina iluminou-se.
- Acho que tive uma ideia para fazer com que eles se decidam.
Pelo olhar matreiro de Tina, Ana ficou temerosa do que viria a ouvir, mas não fez objeção. Ouviu tudo que a outra tinha a dizer enquanto era auxiliada a colocar uma charmosa saia branca bordada com flores coloridas e uma blusa de babados, cujo decote deixava entrever a curva entre seus seios. Nunca vestira nada semelhante durante sua vida em La Rochelle e nunca se sentira tão deslocada ou tão feminina dentro de uma roupa...
Quando Crow colocou os olhos sobre Ana, engoliu em seco e sentiu como se a descarga de um raio percorresse seu corpo. Fora daquelas roupas masculinas em que a conhecera e em que fora obrigada a permanecer durante toda a viagem de vinda para Eleuthera, ela estava deslumbrante, mesmo com uma roupa simples doada por Tina. Seus cabelos ruivos estavam presos, permanecendo apenas alguns poucos fios soltos caindo inocentemente displicentes, emoldurando seu rosto e emprestando-lhe um ar de extrema sensualidade. Brett que estava na sala também não ficou indiferente à beleza da jovem.
- Puxa, Ana... Você está linda! Quem diria...
Esse simples comentário fez com que Crow tivesse vontade de voar no pescoço do amigo, tal o ciúme que quase o cegou, principalmente quando foi prontamente bem recebido pela detentora do elogio.
- Obrigada, Brett. Você é muito gentil... – agradeceu baixando os olhos encabulada.
Crow fechou os punhos, colocou-os para as costas e pigarreou.
- Realmente... Está muito bonita nessa roupa, Ana.
Lutando contra a vontade de agradecer a ele mais efusivamente do que a Brett, lembrou dos conselhos de Tina e não falou nada. Fez apenas um meneio de cabeça. Ele também lhe parecia irresistível em seu traje de calças pretas justas, camisa branca de mangas largas sob um gibão de couro negro, ajustado ao corpo que o cobria até o quadril. O cabelo ainda úmido, mostrando que ele também se banhara, estava preso à nuca por uma tira de couro. E o rosto... Ele tinha raspado a barba, deixando a mostra os traços elegantes e a desconhecida, até então, covinha marcada que dividia seu queixo quadrado.
- Estou morrendo de fome. – conseguiu dizer com a voz entrecortada pela dificuldade em respirar, sentindo-se nua sob o olhar de Crow. Como se permitira vestir uma blusa escandalosa como aquela, deixando os seios à mostra?, condenava-se. Brett mais que depressa puxou uma cadeira ao seu lado em torno da mesa posta para o almoço, elevando mais uma vez a ira silenciosa de Crow.
Tina entrou na sala, seguida por uma afável mulher de meia idade, carregando e servindo travessas de quitutes, entre frutos do mar, legumes, pães e frutas, que liberavam um aroma delicioso no ar. A partir daí, deram por iniciada a refeição.
- Vamos sentar? Crow, quero que sente ao meu lado. Estou com saudades de meu irmãozinho. A Ana não vai se incomodar se eu roubá-lo um pouquinho, não?
- De maneira alguma. O Brett pode sentar ao meu lado. – disse Ana, olhando de viés para Crow que ameaçava soltar faíscas pelos olhos, para seu contentamento. Afinal a ideia de Tina parecia estar dando resultado. Ao menos para ela.
Mal o almoço fora iniciado, a insatisfação de Tina com o comportamento de Brett era evidente, pois ele parecia estar por demais interessado em Ana. E isso estava fora de seus planos de conquista. Por seu lado, Brett estava resolvido a ignorar Tina, vingando-se por sua atitude da manhã. Ao lado dessa disposição, temia que seu amigo e capitão o espancasse a qualquer momento, o que estava implícito na cara tensa do homem naquele instante.
- E Didier? Onde está? – perguntou Ana, tentando quebrar a tensão que se irradiava no ambiente.
- Foi com Sam para a taverna da vila. Estava querendo conhecer o lugar onde pretende passar a maior parte de seu tempo durante sua estadia aqui. – respondeu Crow carrancudo, sentando-se ao lado de Tina do outro lado da mesa. Sentia o ombro latejar o que só piorava seu humor. Mesmo sabendo que estava brincando com o perigo, Brett acabou por fazer uma proposta à Ana.
- O Crow vai ter que dar uma olhada nas plantações agora à tarde e não vai poder sair com você. Que tal se eu fosse mostrar as belezas de Eleuthera?
- Eu posso dar um passeio com ela, Brett. Você não tem mais nada para fazer? – interferiu Tina rispidamente, não resistindo mais ao flerte descarado de Brett para cima de Ana e notando Crow cortar uma porção de peixe como se fosse a garganta de certa pessoa.
- Tina, você deve ter muitos afazeres aqui na casa e com as crianças. Não se preocupem que a Ana estará em boas mãos. – acabou por dizer sorridente. – Ele vai me matar..., pensou. Por outro lado estava gostando de ver a reação de Tina. Sempre achou que ela fosse apaixonada por Crow. Mais de uma vez sentiu-se usado por ela para fazer ciúmes ao capitão. Hoje tinha sido a gota d’água. Ela não respeitara nem a Ana, que tinha sido apresentada como mulher do homem. Contudo, o pior de tudo era que ele adorava cada insinuação feita por ela, mesmo sabendo que era para chamar a atenção do outro. O beijo recebido horas antes o deixara inebriado e, não fosse o publico que os rodeava, teria correspondido vigorosamente, cobrindo-a de beijos, que não seriam, com certeza, só na face.
- Muito obrigada, Brett, pelo seu oferecimento, mas acho que vou esperar que o Nigel esteja livre para me mostrar a ilha.
Com essas palavras o ar ambiente ficou menos carregado imediatamente, como se uma onda de alívio passasse entre Tina e Crow. Quanto a Brett, não pareceu muito decepcionado com sua negativa. Ana não estava acostumada a esse tipo de jogo de ciúme/sedução proposto por Tina, mas estava curiosa com a atitude descaradamente insinuante de Brett. Ele nunca demonstrara qualquer interesse por ela durante a viagem. Pelo contrário, sempre defendera Crow, facilitando a aproximação dos dois. Algo lhe dizia que Brett e Tina tinham mais em comum do que pensavam. Num lampejo, decidiu fazer o que seu coração mandava.
- Nigel, será que não posso acompanhá-lo a essa visita às plantações?
- Err... Se você acha que não vai ficar entediada... – respondeu Crow desmanchando a carranca.
- Ótimo, então! – vibrou e continuou a divisão de tarefas – Brett, por que você não ajuda a Tina com as crianças. Acho que ela vai precisar, não é, Tina?
- Na verdade... – seus olhos negros voltaram a iluminar-se – Estou com uns problemas no cercado do curral e seria bem vinda uma ajuda masculina para consertá-lo.
Apenas aparentemente frustrado e entediado com o trabalho que tinha pela frente, o imediato do Highlander acabou por aceitar o "fardo" imposto, escondendo a satisfação que esperava encontrar naquela tarde.
A charrete sacolejava pela estrada de terra durante o trajeto às plantações de milho, cana de açúcar e algodão que compartilhavam uma grande extensão de terra no interior da ilha. A medida que iam passando pelos locais de plantio, os homens e mulheres que ali trabalhavam juntos acenavam e exibiam nos rostos suados a satisfação de verem o seu proprietário. Ana imaginava onde estariam os escravos de que tanto ouvira, horrorizada, falar pelas tavernas em La Rochelle. Tinha ideia de que esse tipo de trabalho era feito tão somente por prisioneiros. No entanto, ali, via pessoas aparentemente satisfeitas com o que faziam, apesar da dureza de trabalhar sob o sol quente, cortando e colhendo.
- Eles são escravos?
- Não temos escravos aqui. Hawk, assim como eu, não concordava com esse tipo de mão de obra. Aqui todos trabalham para o seu próprio sustento. Nós arrendamos essa terra e somos pagos com alimentos. Os valores que conseguimos através de nossas, digamos... contribuições recebidas em alto mar, servem para melhorias e distribuição entre os que moram aqui.
- E é você que dirige tudo isso...
- De certa forma, sim.
- E quando você está viajando por longos períodos, como ficou até agora? Quem fica no comando?
- A própria comunidade escolheu alguns líderes e são eles que tomam conta de tudo. Eu não me considero o governante daqui. Apenas forneço os meios para que se continue a existir sem dificuldades e tiro proveito disso como qualquer outro morador, mas com alguns privilégios por ser o sucessor do homem que iniciou tudo isso e proprietário das terras.
- Você admirava muito esse capitão Hawk, não?... Como ele era?
Ele puxou as rédeas e disse algumas palavras para que o cavalo parasse o trotar. Desceu e contornou a charrete diante do animal, afagando seu focinho, como se agradecesse seu bom comportamento, até postar-se ao lado de Ana.
- Que tal descer e caminhar um pouco? – Com a boca curvando-se num sorriso, ergueu os braços para ajudá-la a descer.
Prontamente, Ana jogou os braços em sua direção, mas na hora de descer, atrapalhou-se com a barra da saia, por não estar acostumada a tais vestimentas, e, não fossem os braços seguros e fortes de Crow, teria caído de frente no chão de terra e pedregulhos. Agarrada a ele, ainda se recuperando do susto, estremeceu ao elevar a vista e deparar-se com o já conhecido e envolvente olhar de verde profundo, no momento, cheio de preocupação por ela.
- Você está bem? – perguntou com a voz enrouquecida.
- Sim... Não estou acostumada a usar vestidos... – desculpou-se, mas instintivamente, ao invés de afastar-se dele, chegou ainda mais perto, oferecendo os lábios para um beijo. De olhos fechados, na ponta dos pés, apoiada sobre o largo peito, podia sentir igual desejo emanar dele. No entanto, acabou por ser delicadamente afastada. Abriu os olhos. Sentindo-se como uma mulher vulgar e estúpida, aceitou a rejeição. - É melhor irmos andando. – disse visivelmente desconcertado, separando-se dela rapidamente. – Ainda quero lhe mostrar a praia...
Ana não sabia o que pensar das reações de Crow. Depois de tudo o que acontecera no navio, não entendia por que ele se comportava dessa maneira, como se nada houvesse acontecido entre eles.
- Você me perguntou sobre o Capitão Hawk... – lembrou Crow para cortar o clima tenso que se estabelecera entre eles. – Ele era um homem admirável e que me ajudou numa hora em que eu estava perdido.
- Como foi isso? – perguntou com real interesse, pois Crow nunca havia falado nada pessoal a seu respeito até então.
- Foi logo depois de voltarmos a Inglaterra depois do que aconteceu com sua família e você... Eu não poderia mais servir uma marinha que tinha no comando um homem como Drake. Por isso, desertei e fugi. Consegui embarcar em um navio mercante que me trouxe até essa ilha, em sua extremidade norte. Lá existe um vilarejo um pouco maior que o nosso. Foi em uma de suas tavernas que conheci o Capitão Hawk.
- Foi então que se tornou pirata... O que você fazia antes disso tudo acontecer? Quem era você?
Um ar nostálgico permeou no rosto viril.
- Nada que mereça ser lembrado.
Caminhavam agora entre os pés de algodão. Era como se houvesse nevado em pleno trópico. Os arbustos que não ultrapassavam a cintura de Ana estavam repletos de pequenas nuvens brancas, aderidas aos galhos tortuosos e praticamente secos. Aguardavam a coleta que deveria ocorrer em muito breve. Segundo Crow, depois de colhidos os pequenos chumaços iam para as fiandeiras que os convertiam em fios, que eram levados para teares e transformados em tecidos.
- Então você se tornou pirata por causa do que aconteceu com minha família... – ela insistiu no assunto anterior, pois ansiava em conhecê-lo melhor e descobrir o que o afastava dela.
Diante do silêncio dele, ela continuou seu raciocínio.
- É por isso que não me quer mais? Descobriu que não pode gostar de alguém que destruiu a sua vida?
Ao ouvir tal disparate, ele virou-se e a pegou pelos ombros, assustando-a.
- Não diga uma bobagem dessas! Eu, e exclusivamente eu, sou responsável por tudo que aconteceu na minha vida. – gritou como se quisesse convencer a si mesmo desta afirmação.
Logo, diante do olhar assustado de Ana, diminuiu a força das mãos que a apertavam como torniquetes e falou em tom mais suave
- E não pense que eu não gosto de você. Apenas não posso permitir que fique ao meu lado. Cada minuto que passamos juntos torna mais difícil a minha tarefa de levá-la de volta a vida que Drake lhe roubou. Eu não tenho nada para lhe oferecer, a não ser essa vida desregrada, cercada de ladrões e assassinos, o que inclui a mim mesmo.
- Nigel... Eu não quero nenhuma outra vida que não seja ao seu lado. – disse afagando os braços que a seguravam.
- Você não sabe o que diz. Não conhece nada além das ruas de La Rochelle. Vai mudar de ideia quando estiver vestida como a duquesa que é. Quando estiver cercada por servos que a servirão a um simples toque de sineta. Quando viver em meio a pessoas bem vestidas e educadas, participando de festas e bailes. Quando for cortejada por homens decentes e nobres, que vão querer cobri-la de jóias, pagas por eles mesmos, e andar com você pelas ruas de qualquer lugar no mundo de cabeça erguida, sem medo de serem presos a qualquer momento... – as últimas palavras quase foram inaudíveis e seu rosto se contraía em angústia.
- Nigel... – sussurrou, libertando os braços e segurando o rosto transtornado dele em suas mãos. – Eu só quero ficar com você... Não me importa nenhuma riqueza, festas ou outros homens... – forçou-o a olhar diretamente para ela e rogou – Eu só quero você, Nigel...
Quando ele terminou de ouvir tal declaração e se fixou àqueles cintilantes olhos castanho-aveludados, seu coração tornou-se prisioneiro definitivamente e a vontade de beijá-la e mantê-la em seus braços para sempre venceram todos os argumentos que ele se impusera até então. Jogando toda a razão de lado, cobriu a boca tremula, que entreaberta o esperava, e perdeu-se no prazer daquele beijo. Sedento, arrepiou-se ao sentir a maciez dos lábios carnudos, exultou com o doce sabor da saliva quando invadiu a boca quente e úmida e a dança de suas línguas a fez gemer.
- Ana... Isso é uma loucura...
- Uma loucura maravilhosa... – chiou enquanto sentia o calor invadi-la, descer por seu corpo, espalhando-se por seu peito e entre suas pernas.
Tomado por deliciosa insanidade, Crow acariciava o corpo de Ana sobre as roupas, contornando suas formas suaves com as mãos até chegar aos seus seios. Tão firmes e arredondados... Podia sentir os mamilos túrgidos sob o fino tecido de algodão... Os lábios agora desciam pelo pescoço tenro e suavemente perfumado fazendo-a gemer, pedindo mais. Sentia o afago ansioso dela em seus ombros e costas. Até a dor em seu ferimento se tornava aprazível sob aquelas mãos. Sentiu-a arquear o corpo quando sua boca alcançou o lugar onde seus dedos a acariciavam com intensidade. O decote terminou por ser alargado e um dos seios foi descoberto. Extasiado diante daquela visão, não resistiu e o possuiu entre os lábios, para surpresa e deleite de Ana. Sugou e lambeu até procurar por seu par e dar-lhe igual tratamento. Totalmente perdida em meio às carícias íntimas, sentia uma necessidade de fundir-se a ele, pele com pele. Foi então que gemeu mais alto ao sentir uma das mãos de Crow levantar sua saia, percorrendo sua perna, alcançando a coxa e apertando suas nádegas. Movida pelo instinto, elevou a perna, enganchando-a na coxa de Crow. Uma contração dolente, aliada a uma sensação de prazer intenso começou a tomar conta de seu centro. A mão de Crow mudou a direção e foi direto para entre suas coxas, movendo os dedos na umidade que emanava de seu interior, excitando-a além de qualquer limite. Num instante, ouviu sua própria voz a gritar o nome de Nigel enquanto seu corpo convulsionava em ondas de prazer nos braços dele. Não se passaram mais que poucos segundos e ela o queria novamente, próximo, pujante e... dentro dela.
Da mesma forma, ainda exultante com a forma que Ana reagia ao seu simples toque, Crow deitou-a entre os flocos de algodão. Embora tudo nele exigisse uma posse completa, não queria machucá-la. Por isso, tirou a parte de baixo de sua roupa e, lentamente elevou a saia que a cobria parcialmente. Gemeu ao vê-la exposta, nua e tão bela. Um pouco de temor surgiu em meio ao desejo de Ana ao ve-lo desnudo, mas logo foi apaziguado pelas palavras carinhosas de Crow.
- Eu prometo que terei cuidado...
- Vai doer? – perguntou com a voz quase inaudível.
Comovido e, por outro lado, receoso por ter confirmada sua suspeita, tranquilizou-a.
- Pode doer um pouco no início... Se quiser... eu posso parar... – disse, apesar de não saber como explicaria isso para o seu próprio corpo.
- Não! Por favor, não pare... Eu quero... você.
Diante de tal chamado, não suportando esperar mais, introduziu-se com cuidado e aos poucos, num ir e vir, enquanto a ouvia gemer e jogar-se contra o seu quadril. Quando finalmente a penetrou completamente, sentiu as nádegas apertadas pelas mãos de Ana, que apesar da dor o queria manter exatamente ali. Isso só serviu para aumentar o ímpeto de prosseguir e dar vazão a sua ânsia. Os movimentos foram tornando-se mais potentes e frequentes. A dor que Ana sentira antes se esvanecera e agora havia só o prazer que Crow lhe transmitia com a sua presença vigorosa. Mais uma vez sentiu se aproximar do auge, mas dessa vez não seguia sozinha. Seu olhar cruzou com o de Crow e ela soube que ele sentia o mesmo que ela. E isso apenas somou felicidade ao êxtase que acabaram por alcançar juntos.
(continua...)
Olá!
Para quem torcia para que o nosso casal se resolvesse logo, acho que esse capítulo satisfez. Parece que outro casal foi criado e eles também estão merecendo se acertar. Talvez mais tarde, não? Agora, vamos deixar o nosso corsário curtir um pouco a sua paixão, pois em breve ele poderá perder a sua Ana.
Até lá, espero que estejam curtindo o romance e aos menos desavisados, espero que não tenham ficado chocados com a cena descrita acima. Creio que serei obrigada a recolocar o aviso de conteúdo adulto no início do blog...
Meus amores, muito obrigada pelos comentários e pelo carinho de sempre.
Uma boa noite prá todos!
Beijos!
êlele,
ResponderExcluirAh, o clube é um máximo. (:Gosto muito, tu gostas?
to seguindo aqui.
Beijo, Blanc
Oi, Blanc! Obrigada pela visita. Volte sempre!
ResponderExcluirBeijo!
Poxa Rô, parece que agora eles se acertaram mesmo, rsrsrs.
ResponderExcluirO romance continua maravilhoso amiga, mas já to com dó deles novamente com essa informação de que irão se afastar.... já imagino as palavras e lágrimas, mas depois....
No capítulo anterior eu já estava ficando com raiva da Tina, achei que ela gostasse do Nigel (o que não seria nada estranho, diga-se de passagem!) e iria complicar a vida, já tão complicada, da Ana, ainda bem que me enganei.
E esse complexo do Nigel acaba comigo, será que vai haver alguma mudança de rumo nessa situação do nosso querido corsário???
Tô numa correria só amiga mas, mesmo se deixo de comentar algum capítulo, leio todos eles e adoro cada um!
Beijosss!!!
Gostei demais da sua escrita, sempre deparo lendo e aprendendo com os autores, parabens mesmo
ResponderExcluirPhilip Rangel- Entrando Numa Fria
Awn, gostei! haha
ResponderExcluirVou acompanhar \o/
:*
Mi
Inteiramente Diva
Um dia de muita paz, carinho e poesia pra ti minha amiga querida,,,beijos e beijos.
ResponderExcluirUm belo dia pra ti minha amiga querida, muito carinho e muitos versos pra ti...beijos e beijos.
ResponderExcluirAchei espetacular, estarei acompanhando.Bjs!
ResponderExcluirSmareis
Essa Tina é uma grande mulher mesmo! Adorei o jeito descontraído e tão verdadeiramente amigo dela.
ResponderExcluirAmiga, mas o Brett tb é fogo, combina com o jeito da Tina! Convidar a Ana para um passeio na frente do Crow, que perigo!!! hehehe
Nós, os seres humanos, complicamos tanto as coisas. Veja, já era para a Tina e o Brett estarem juntos, pois se gostam. E, se não estão, certamente é devido aos fantasmas que eles mesmos criam e deixam atormentar as suas mentes. Não vejo a hora desses dois tb se acertarem, eles são muito bacanas, merecem ser felizes tb.
Ai... Ai... Rô, tô aqui suspirando tanto, mas tanto com esse encontro tão maravilhoso!!! Amei a forma como você abordou esse primeiro contato entre os dois, os receios da Ana, o carinho do Nigel. Que coisa mais linda isso, amiga!
A Ana já sofreu tanto nessa vida, desde novinha, mas Deus lhe reservou um homem espetacular e um primeiro contato íntimo do jeito como tem que ser: com muito carinho e amor.
Achei divino, tô de boca aberta!
Rô, nunca pare de escrever, vc nos envolve com os seus escritos, trazendo magia à nossa vida!
♥Beijinhos♥
Oii! Estou de volta depois de alguns contra tempos, e me surpreendo com esse climãoo envolvendo tantos detalhes, fantasias, amassos torniquetes adorei... o Pior de tudo isso, que eu consegui uma folguinha pra vir ao Blog bem no horário de trabalho imagina minha situação tentar manter a postura depois de ler esse extase todo na plantação de algoodão... Help me... kkk! Só vc Rô pra atingir nossas pobres mentes. Beijãoo
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