Apesar de ainda sentir-se um pouco fraco, devido ao ferimento e a perda de sangue, e do desejo de permanecer ao lado de Ana, que se mostrara tão cuidadosa e afável com ele, Crow voltou ao convés acompanhando Brett a fim de verificar os estragos feitos pela tempestade. Graças aos marujos experientes e ao comando de Brett, o Highlander conseguira contornar o ciclone e sair sem maiores danos, além do mastro secundário, conforme ele pode observar após sua avaliação. Os reparos necessários poderiam ser feitos durante a navegação, que continuaria rumo a Eleuthera.
- Crow, agora que já fez a sua vistoria, espero que crie um pouco de juízo, volte para a cabine e vá descansar.
- Eu estou bem, Brett. Além disso, você sabe que essa região é propensa a mudanças climáticas bruscas. Nada garante que estamos livres de outro ciclone ou de uma tempestade.
- Por isso mesmo. Quero que esteja bem saudável caso tenhamos que enfrentar outro probleminha como esse que passou. Principalmente tendo a sua disposição uma bela moça para cuidar de seu ferimento.
- Ela apenas ficou agradecida pelo que fiz hoje.
- Você realmente está gostando dela...
- Não seja ridículo. - Que outro motivo teria para inventar tantas desculpas para fugir dela?
- Tenho mais com o que me preocupar do que fugir de uma mulher, Brett.
- Meu amigo... Não é de uma mulher qualquer. É dessa mulher.
- Me deixe em paz, Brett.
Virou-se bruscamente, para evitar as argumentações de seu imediato e reconhecer que ele não estava muito longe da verdade, e sentiu a dor aguda voltar ao ombro, o que provocou uma imprecação quase inaudível.
Naquela noite ele continuou se recusando a dormir na cabine e compartilhar o mesmo espaço com Ana. Apesar de Brett lembrar que os homens já sabiam que ela estava bem, Crow disse que não queria impor sua presença a ela e criar-lhe alguma situação constrangedora. Contudo, no início da madrugada, Crow começou a gemer, chamando a atenção de Brett que dormia em outra rede próxima, no espaço que dividiam no porão do navio. Ardia em febre, o que podia ser um mau sinal, que demonstrava que o ferimento não estava cicatrizando adequadamente. Ele não podia continuar ali naquele ambiente insalubre e deitado numa rede. Precisava de uma cama e de cuidados.
Acordou sobressaltada ao ouvir a batida forte. Didier fez um muxoxo e virou-se em seu leito improvisado no chão. Havia bebido todo o rum que sobrara do tratamento de Crow. Ana pegou uma faca que ficara na bandeja do jantar e caminhou cautelosamente até a porta.
- Ana! Por favor, abra a porta! É o Brett!
- O que quer? – perguntou intrigada com a causa de uma visita àquela hora da noite.
- É o Crow. Ele não está bem.
Imediatamente a porta se abriu e o rosto atônito de Ana apareceu na penumbra. A aflição só surgiu quando colocou os olhos sobre o homem que tinha sido trazido numa espécie de maca por outros dois marujos.
- Entrem! – mandou, afastando-se do caminho.
Quando eles fizeram menção de deixá-lo no chão, ela imediatamente interferiu.
- Levem-no para a cama!
- Ele está com febre... – explicou Brett.
- O que é que está acontecendo por aqui? – reclamou Didier, recém acordado, com fala enrolada.
- Brett, consiga mais água para fazer compressas. – Ignorou a interrogação e continuou a falar com o imediato – Uma vez eu vi uma parteira fazer isso numa mulher que estava febril. Sabe se há alguma erva naquele armário que possa ser usada para baixar a febre? – perguntou após elevar a luz da lamparina para poder avaliar melhor seu "paciente".
Surpreso com a desenvoltura e preocupação da garota, Brett lembrou que Crow costumava usar uma infusão de casca do salgueiro para tratar as febres que por ventura ocorriam entre a tripulação ou no abrigo em Eleuthera. Correu até o armário e lá descobriu o frasco de vidro que continha a preciosa erva.
- Vá até o Liam e diga que prepare uma infusão com um pouco disso. – ordenou a um dos homens que o acompanhara até ali. – Diga que o capitão está com febre. Vá... Rápido!
Enquanto isso, Ana já havia retirado as botas de Crow e tentava deixá-lo o mais confortável possível sobre a cama. Sem se dar conta que passara a ser observada, usou o que sobrara do lençol rasgado à tarde para fazer compressas. Umedeceu uma delas com água e colocou sobre a testa de Crow, como vira fazer antes, conforme explicara para Brett.
- Ei! O que ele está fazendo deitado aí? – perguntou Didier indignado, que acabara de levantar e foi verificar o que estava ocorrendo por conta própria.
- Venha, meu velho. Tenho um local ótimo para você curar a sua bebedeira.
- É?... Onde?
- Lá no convés. Nada como a brisa marinha para deixá-lo mais alerta.
- Não vou a lugar algum com você, seu lambe-botas.
- É melhor sair daqui, Didier. O capitão não está bem... – disse Ana.
- E desde quando você virou ama-seca de pirata?
- Leve-o daqui, Brett, por favor.
- Volto assim que possível... Vamos lá, homens. Vamos deixar a moça cuidar do capitão.
Quando se viu sozinha com Crow, passou-lhe pela cabeça que deveria verificar como estava o ferimento. Ele não fizera o descanso recomendado por Liam. Teimoso, pensou. Com algum esforço, conseguiu deitá-lo sobre o lado direito e baixar a camisa para expor o ombro ferido, o que provocou um gemido gutural. Tirou a atadura que tinha colocado horas antes e viu com apreensão uma área de pele avermelhada em torno do trabalho de costura de Liam. Não sabia o que fazer diante aquilo. Devia ser a tal infecção da qual o cozinheiro havia falado. Talvez devesse lavar com água novamente, fechar o curativo e... Rezar. Nunca mais tinha feito isso... Rezar. A última vez em que se lembrava de ter orado a Deus foi quando estava naquele bote horrível, no meio do nada, perdida no mar, junto a sua mãe. Depois de sua morte, a revolta por ter perdido toda sua família praticamente de uma vez só foi grande demais para voltar a pensar em Deus como um consolo. Agora, ali estava a sós com aquele homem, a quem devia temer, mas por quem nutria admiração e ...ternura. Nunca mais, depois de perder seus pais, tinha sido protegida por alguém. Didier não era o que se podia chamar de protetor. No entanto, Crow a salvara naquela tarde sem titubear e agora poderia morrer por sua causa. Seus pensamentos foram interrompidos quando Brett entrou trazendo uma caneca com chá, uma nova jarra com água fria e uma espécie de pasta quente envolvida em um tecido poroso.
- Como ele está?
- Na mesma... – Ela notou a estranheza no olhar de Brett ao verificar a posição de Crow na cama. – Estava olhando o ferimento e acho que não está com bom aspecto. Vou limpar e refazer o curativo.
- Talvez tenha razão. Deve ser isso que está provocando a febre. Liam mandou uma espécie de emplastro aquecido para colocar sobre a ferida. Acho que ele já esperava alguma reação desse tipo.
Ana passou à ação. Com delicadeza executou a limpeza do corte, colocou o emplastro e voltou a fechar com ataduras limpas. Logo após terminar, quase sem perceber, passou os dedos sobre as cicatrizes nas costas de Crow como se as estudasse com o tato. Só então o acomodou sobre o leito e trocou as compressas de água fria. Ele passou a tremer e bater o queixo. Brett buscou uma coberta e jogou-a sobre o amigo.
- Ele está piorando...
- Vou tentar fazê-lo beber o chá... – Colocou a infusão em uma caneca, enquanto Brett elevava a cabeça de Crow acima do travesseiro.
Certificou-se que o líquido não estava quente demais e levou a caneca aos seus lábios. Um pouco escorreu pela barba e ele abriu os olhos por alguns instantes. Como se mergulhasse em mar aberto, Ana teve vontade de beijá-lo. Engoliu em seco e lutou para encontrar sua voz.
- Beba, Nigel... Vai lhe fazer bem... – insistiu, tocando com a beirada da caneca em seus lábios trêmulos. Conseguiu que ele ingerisse um pouco do chá. - Tente beber mais um pouquinho...
Ele bebeu, mas logo em seguida fechou os olhos e continuou com os calafrios. Aparentemente a febre continuava subindo. Ele voltara a ficar inconsciente.
- Talvez devessemos colocar mais compressas pelo corpo. – sugeriu Brett.
- Acho que sim... Ana correu a preparar novas bandagens umedecidas na água fria, enquanto Brett terminava de tirar a camisa de Crow. Colocaram-nas sob suas axilas e no abdômen, além da testa. Os tremores ainda duraram vários minutos. Quando Crow pareceu estar mais relaxado, Brett sentou em uma cadeira com expressão cansada.
- Acho que você devia descansar. Precisará continuar no comando do Highlander até ele se recuperar e, por isso tem que estar alerta. Pode deixar que eu cuido dele. – disse enquanto tentava fazer Crow bebericar mais um pouco da infusão.
- Vou esperar mais um pouco e depois seguirei o seu conselho. – esboçou um sorriso abatido e esticou as pernas adiante.
Brett acabou por cochilar alguns minutos, enquanto Ana tentava baixar a febre de Crow. Foi então que o navio começou mais uma vez a balançar sobre a agitação das ondas. A luminosidade dos raios passou a sobrepor-se à luz fraca da lamparina e o rugido dos trovões começou a ficar cada vez mais próximo. A porta foi aberta repentinamente e Bald entrou em passos rápidos. Nem parecia que acabara de beber metade de uma garrafa, pois sua expressão era bastante lúcida e as palavras saíram de sua boca claramente.
- Brett, parece que vamos ter problemas de novo!
Antes que Ana precisasse chamá-lo ele já estava de pé, pronto para sair atrás de Bald.
- Estarei no convés, caso precise de algo.
- Só preciso que mantenha esse navio sobre a água. – pediu Ana nervosa.
- É o que faremos, milady – deu um sorrisinho desanimado e foi em direção à saída. – Vamos lá, Bald! Depois do ciclone de hoje à tarde, não vai ser uma chuvinha à toa que vai nos derrubar.
- E o Crow?... – Bald perguntou evidentemente preocupado. A porta se fechou e restou apenas o murmúrio de suas vozes subindo as escadas em direção ao convés.
(continua...)
Meus queridos leitores, hoje acabei postando só a metade do capítulo 8, pois tive alguns problemas pessoais essa semana e não tive a inspiração necessária para escrever tudo que desejava. Assim, deixo aqui a primeira metade, promentendo muito breve espero postar o restante. Também aproveito para apresentar a nova capa do ERIK, que pode ser vista lá no alto da página. Considerem como uma segunda edição. Espero que gostem. Quero agradecer mais uma vez às comentaristas Brih, Aline, Vanessa ( muito bom te ver de novo por aqui, querida!) e Léia. À Denise, que ainda não conheço, mas que deixou um recado querendo saber onde poderia comprar o livro do Corsário, minhas boas vindas ao blog.
Agora uma sessão de atualização sobre o Erik, além da capa nova. O Booktour realizado pelo Blog Doce Encanto, da minha amiga Raphaela já gerou mais duas resenhas. Deixo aqui o link para que possam ler. Inclusive, vocês entenderão o porque da troca da capa. http://www.skoob.com.br/livro/resenhas/153071
Aqui me despeço. Até muito breve com a segunda parte desse capítulo.
Beijos carinhosos!
Oi Rô!!!
ResponderExcluirAi amiga, tão terno o cuidado da Ana com o Nigel, que bom que as coisas estão se arranjando e os sentimentos ficando à flor da pele, rsrrsr, tenho a impressão de que vai ser emocionante quando toda a verdade for exposta, tantos anos de sofrimento e solidão dos dois vão, enfim, se transformar em felicidade.
Espero que os problemas pessoais tenham sido passageiros Rô e que esteja tudo em ordem agora, querida.
A nova da capa de "ERIK" ficou linda, depois vou acessar o link pra saber os motivos da mudança.
Beijos amiga e um maravilhoso fim de semana!!!!
Delícia de leitura... nos deixa presa na história! Estou amando! Espero que esteja bem que seus problemas tenham se resolvido da melhora maneira! Beijosss e saudades...
ResponderExcluirAmiga primeiramente espero que seus problemas pessoais esteje ameno... pois No final, tudo passa, restando sempre as experiências e o saber de cada problema.
ResponderExcluirBom agora até eu estou preocupada com o estado de Crow, que essa febre ñ deixe seguelas negativas.
Aprovadissímo a capa do livro Erik e anciosa pela publicação.
* * *Super beijo* * *
Querida: espero que tudo tenha se resolvido em relação ao seus problemas, ou, pelo menos, se encaminhado... Nem preciso dizer que estou adorando esse Corsário! Aguardo ansiosa os outros capítulos...mas sinto pena em pensar que a estória vai acabar. Estranho, né?! Estou com pouco tempo e sem nenhuma inspiração para continuar escrevendo, por isso só estou lendo. E vc tem colaborado com nosso lindo corsário! Bjão
ResponderExcluirNossa, tô querendo dar umas bofetadas nesse Didier... Mas que inconveniente!!!
ResponderExcluirCredo, oh cruz pra coitada da Ana carregar nesses anos!!!
E o pior é que tem gente assim mesmo, que não sabe nem ficar calado nem nessas horas.
Numa situação tão delicada dessas, acho que deve ser até comum a febre. E isso é muito difícil estando em alto-mar, sem alguém que realmente tenha competência para dar o atendimento médico necessário. Coitada da Ana, imaginando que o amor de sua vida está tão enfermo por ‘culpa’ dela, já que a livrou do acidente. E, para piorar, o mau tempo ainda resolve se manifestar de novo... Oh dureza!!!
Amiga, vc nos deixou com os nervos em frangalhos, torcendo pelo Nigel vencer logo essa infecção e ficar novamente com sua saúde perfeita. E torcendo muito também para que o casal consiga conversar, se entender e se amar muito, porque nessa vida, só mesmo o que tem valor é o amor!
Rô, espero que as coisas já estejam melhores contigo. Tem momentos na nossa vida muito difíceis mesmo, que até para levantar da cama é complicado, pois sabemos o que nos espera.
Mas o importante é que tudo passa, temos que acreditar nisso.
Se precisar desabafar, conte comigo. Sei que quase nunca apareço no MSN, mas é só me escrever, que eu entro lá sem problema algum. Quando eu puder fazer algo a vc, fique certa de que será uma honra!
Por hora, vou ficar aqui no meu cantinho rezando muito para que os Anjos a amparem e te ajudem a resolver todos os seus problemas.
PS Quanto ao livro, confesso que eu gosto das duas capas. Eu entendi o seu motivo, mas não achei que o primeiro ficou tão escuro assim, até porque como se trata do Erik, dava aquele ar especial de mistério, sofrimento. Mas, sem dúvida, a nova capa revela vários elementos que retratam bem o contexto do romance. Eu amei tb!
Aliás, as capas de todos os seus livros são tão mas tão lindas!!!
Deus abençoe você e sua família e que nossa amada Mãe Maria os cubra com o Seu sagrado manto de luz, cura e proteção!
♥Beijinhos♥
Rosane como está?
ResponderExcluirEspero que seus problemas já estejam passados e que possa sempre nos alegrar com cada linha de seu romance...
Sobre o capitulo, coitado do Crow hein, e a moça louca para beijá-lo... rsrsrsrs
Quem sabe já no próximo capitulo esse beijo não saia...
Beijos e força pra você
Beijoss e força pra voce
óiah eu aquitrá vex!
ResponderExcluirnossa mais que coisa, quando não é a ana fazendo cena é o ciclone, um machucado! que coisa. quando estes dois vão se acertar?
to louca pra ver a reação de Ana ao desembarcar na ilha do Crow!! vai ser um máximo!!
Cada vez mais me apaixono por este livro!!
Beijos enormes!
Brih
PS: com relação ao problemas pessoais, espero do fundo do coração que já tenham passado.
caso você precise conversar, mesmo eu morando tão longe é só você berrar que eu apareço por email** e a gnt conversa!
Você é uma pessoa forte e muito boa Rose, não deixe os problemas de abalarem, se você tiver que chorar e desabar ao chão, faça isso. Os grandes Heróis da humanidade também tiveram seus momentos ruins, mais no final eles triunfaram. Beijos enormes e fé!
Brih
Meu Livro Rosa Pink
Dica de leitura, se vc não leu o livro A dois mil anos 'escrito' por Chico Xavier, leia. Tenho absoluta certeza de que você vai amar este livro.
Rosane!!!
ResponderExcluirUm blog literalmente literário...
Obrigada por seguir o clube dos novos autores! Seja bem vinda e participe de nossa promoção, comentando-nos apenas!
Estamos te seguindo!
Um abraço.
Adriana
Clube dos novos autores